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PROF.

PATRÍCIA CERQUEIRA AMMIRABILE

DIREITO EMRESARIAL II -
UNIDADE IV

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SUMÁRIO

1.RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL....................................................... ............................3


1.1 Reforma da Lei n.14.112/2020..........................................................................................4
2 RECUPERAÇÃO JUDICIAL................................................................................................6
2.1 Mudanças na Legislação Tributária...................................................................................9
2.2 Procedimento da Recuperação Judicial.......................................................................... 10
3 FALÊNCIA X INSOLVÊNCIA CIVIL...................................................................................11
3.1 Fases da Falência............................................................................................................13
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................15

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1 RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Ocorre sem interferência direta do Judiciário, por meio de um acordo entre as


partes (devedores e credores), mas que mesmo assim deve ser homologada pelo
Judiciário. É o acordo preferível, pois é o mais amigável possível.

Quando do surgimento da Lei n. 11.101/2005 (Lei de Recuperação Judicial,


Extrajudicial e Falência – “LRF”) que a instituiu, foi muito menos utilizada do que a
Recuperação Judicial.

Portanto, é muito importante conhecer, no proximo tópico as mudanças trazidas


pela Lei n. 14.112/2020 que de certa forma renovou o sistema de insolvência no
Brasil.

Assim, a recuperação extrajudicial deve ser a tentativa inicial, realizada entre


devedor e credores, para sanar problemas de fluxo de caixa do devedor. Não se
chegando a um acordo, passa-se à recuperação judicial ou, até, à falência.

Contudo, para acontecer a falência de uma empresa, não é requisito obrigatório


percorrer os outros dois processos, tampouco a recuperação extrajudicial tem que
anteceder a judicial, trata-se de alternativas para o empresário.

Resume-se na tentativa do devedor ema resolver problemas de liquidez, propor


a seus credores, na maioria dos casos, remissão parcial do débito ou dilação do prazo
de pagamento.

Trata-se de procedimento simples que objetivar transparência e segurança às


negociações, desde que seja garantido aos credores de mesma classe, tenham ou
não aderido ao contrato, as mesmas condições de prorrogação de prazo de
vencimento ou redução percentual do passivo.

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1.1 Reforma da Lei n.14.112/2020

Possibilidade de inclusão de créditos trabalhistas e de acidentes de


trabalho, mas exige a negociação coletiva com o sindicato aplicável.
Na recuperação extrajudicial facultativa não existe a referida exigência.

Redução do quórum para homologação do plano da Recuperação


extrajudicial impositiva bastando hoje que haja a subscrição de titulares de
mais da metade dos créditos inseridos no plano de Recuperação
extrajudicial. Faculta-se ainda ao devedor ingressar com a recuperação
extrajudicial com 1/3 do quórum, a fim de buscar o restante durante o
trâmite da RE.

Período de Suspensão das Execuções logo após a admissão de seu pedido


de RE. Desta forma, o devedor se verá livre das constrições de bens
eventualmente realizadas pelos credores sujeitados ao seu plano de RE.

Desburocratização do procedimento com a facilitação da publicação do


edital de convocação dos credores.

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Proteção do Negócio Jurídico realizado com boa-fé.
novo art. 66-A da LRF, resguarda o adquirente ou financiador de boa-fé, nos
seguintes termos:

“A alienação de bens ou a garantia outorgada pelo devedor a adquirente ou


a financiador de boa-fé, desde que realizada mediante autorização judicial
expressa ou prevista em plano de recuperação judicial ou extrajudicial
aprovado, não poderá ser anulada ou tornada ineficaz após a consumação do
negócio jurídico com o recebimento dos recursos correspondentes pelo
devedor.”

Possibilidade de adoção de conciliação e mediação sendo uma forma de se


obter o consenso necessário para que a RE seja requerida e finalmente
homologada.

Há segurança jurídica para que o acordo extrajudicial possa tratar de dação


em pagamento, constituição de direito real em garantia, ou pagamento de
dívidas vencidas por qualquer forma distinta da prevista no contrato, cujos
atos estarão protegidos de eventual declaração de ineficácia em relação à
massa falida.

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2 RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A recuperação judicial é uma ferramenta (processo judicial) que pode ser


utilizada por empresas ou empresários individuais, desde que registrados por pelo
menos dois anos, e que se encontrem em situação de dificuldade financeira e a nova
lei trouxe a possibilidade de os produtores rurais requererem a recuperação judicial,
estes, desde que o plano especial do produtor não envolva crédito superior a R$ 4,8
milhões (art. 70 –A).

Seu principal objetivo é evitar a falência empresarial contribuindo para


manutenção das atividades econômicas da empresa e de sua função social, sendo
regulamentada pela Lei n. 11.101/05 e atualizada por meio da Lei 14.112/20.

Importante saber que a eficácia da recuperação judicial depende da aceitação


das condições pelos credores e, sobretudo, do cumprimento do plano de recuperação
por parte da empresa.

Quanto a quem pode requerer a recuperação judicial tem-se que pessoas físicas
detentoras de registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) podem

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entrar com pedido de recuperação judicial desde que tenham registro de atividade há
pelo menos dois anos.

Importante salientar que algumas empresas não podem pedir a recuperação


judicial: Sociedades de economia mista, instituições financeiras, empresas públicas,
ONGs e cooperativas.

Outro ponto importante é saber que a recuperação judicial não precisa


necessariamente ser solicitada pelo devedor, sendo possível. que o cônjuge
sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariantes ou sócios remanescentes acionem
o instrumento.

Quanto às pessoas físicas há apenas uma circunstância em que a recuperação


judicial é aplicável: quando a pessoa atua como produtor rural. Essa determinação é
recente, tendo sido incluída pela Lei 14.112/20.

Em regra, deve-se sempre observar o disposto no art. 48 da Lei 11.101/05:

• não ter tido a falência decretada, ou em caso de falência anterior, que a


sentença tenha transitada em julgado, extinguindo as responsabilidades daí
decorrentes;
• não ter obtido concessão de recuperação judicial há menos de cinco anos;
• não ter sido anteriormente condenado pelos crimes previstos na Lei de
Recuperação e Falências, seja como sócio controlador, seja como
administrador.

Sendo assim, atualmente há a possibilidade da recuperação judicial e


extrajudicial e cabe ao advogado escolher qual o melhor caminho para seu cliente,
conforme se verá adiante traçando brevemente as diferenças, relembrando desde já
que na recuperação judicial haverá a participação do poder judiciário:

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• Na recuperação judicial, a empresa devedora aciona diretamente o Juízo de
Falência e Recuperação Judicial e apresentará um plano de recuperação que,
em regra, não foi acordado previamente com os credores.

• Na recuperação extrajudicial, o devedor discute, negocia e aprova junto aos


credores uma proposta ou plano de recuperação e, só depois ao acordo entre
devedores e credores é que ocorre a apresentação ao judiciário. Porém, tem-
se que a recuperação extrajudicial só terá validade jurídica e efeitos legais se
homologada pelo juízo.

Quanto aos credores há diferentes classes de acordo com o Art. 26 da Lei


11.101/05:

• classe de credores trabalhistas: aqueles que têm vínculo


• classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais;
• classe de credores quirografários e com privilégios gerais;
• classe de credores representantes de microempresas e empresas de pequeno
porte (incluída pela Lei 14.112/20)

No que se refere à ordem de pagamento dos créditos tem-se:

• Créditos trabalhistas até 150 salários-mínimos ou de acidentes de trabalho;


• Créditos garantidos por direitos reais;
• Créditos tributários, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias;
• Créditos quirografários;
• Demais crédito

Importante saber que os créditos trabalhistas ou decorrentes de trabalho não


podem ser pagos em prazo superior a um ano e, os créditos salariais vencidos nos
três meses anteriores ao pedido de recuperação, no limite de 5 salários-mínimos,
deverão ser pagos no prazo de até 30 dias.

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2.1 Mudanças na Legislação Tributária

Ampliação do financiamento a empresas em recuperação judicial, melhoria no


parcelamento e no desconto para pagamento de dívidas tributárias e
possibilidade dos credores para apresentar plano de recuperação da empresa

Os devedores em recuperação judicial terão possibilidades de parcelamento e


transação especiais, conforme se depreende:

• Parcelamento de débitos inscritos ou não em dívida ativa, constituídos ou não,


ainda que não vencidos (art. 10-A, inc. V, da lei 10.522/2002) em até 120 prestações
(em lugar das 84 parcelas anteriormente previstas), com aplicação dos percentuais
mínimos do valor da dívida consolidada: a) da 1ª à 12ª prestação: 0,5%; b) da 13ª à
24ª prestação: 0,6%; e c) 25ª prestação em diante: percentual deve corresponder ao
saldo remanescente, em até 96 prestações mensais e sucessivas.

• Parcelamento de débitos inscritos ou não em dívida ativa, constituídos ou não,


ainda que não vencidos (art. 10-A, inc. V, da lei 10.522/2002) até 120 prestações (em
lugar das 84 parcelas anteriormente previstas), com aplicação dos seguintes
percentuais mínimos do valor da dívida consolidada: Liquidação de 30% com Prejuízo
Fiscal ou outros créditos próprios e parcelamento do restante em até 84 prestações.
Para microempresas e empresas de pequeno porte esse prazo é 20% superior,
chegando a 144 parcelas, porém não há redução de multa e juros.

• Parcelamento de débitos inscritos ou não inscritos em dívida ativa, relativos a


tributos passíveis de retenção na fonte, de desconto de terceiros ou de sub-rogação,
ou relativos a IOF retido e não recolhido (art. 10-B, da lei 10.522/2002): como regra,
o parcelamento deste tipo de dívida (tributos sujeitos à retenção na fonte e IOF retido
e não recolhido) não é permitido pela legislação. O novo texto legal estabelece a
possibilidade de parcelamento até 24 prestações, mediante aplicação dos seguintes
percentuais mínimos do valor da dívida consolidada: a) da 1ª à 6ª prestação: 3%; b)
da 7ª à 12ª prestação: 6%; e c) 13ª prestação em diante: percentual deve
corresponder ao saldo remanescente, em até 12 prestações mensais e sucessivas.

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• Proposta de Transação - Débitos inscritos em dívida ativa da União nos termos
da lei 13.988/2020 (art. 10-C, da lei 10.522/2002) - casos de Transação Tributária de
Débitos Inscritos em Dívida Ativa: em alternativa aos parcelamentos, o devedor em
RJ poderá submeter à apreciação da PGFN proposta de transação tributária: (i) Até
120 prestações (em lugar dos 84 meses anteriores); e (ii) redução máxima de 70%
da dívida (em lugar dos 50% anteriores). A Proposta de Transação será sujeita à
conveniência e oportunidade da PGFN, que deverá considerar interesse público e
princípios tributários, bem como recuperabilidade do crédito, proporção da dívida
fiscal em relação ao restante das dívidas e quantidade de empregados, dentre outros.

2.2 Procedimento da recuperação judicial

Fase postulatória

É a primeira fase do processo de recuperação judicial e representa o pedido


inicial de recuperação judicial. A empresa devedora ingressa na Justiça com
o seu pedido e faz uma espécie de autocrítica, listando os motivos que a
levaram a entrar em crise em primeiro lugar. O objetivo é ajudar a entender
quais são as ações que podem ajudar a empresa a se recuperar. Nesta fase a
empresa tem de apresentar resultados contábeis dos últimos 3 anos, suas
dívidas em aberto e a relação de bens dos seus proprietários e sócios, caso
o patrimônio deles seja juridicamente relevante para a quitação das dívidas.

Fase deliberativa

Nessa fase, o Judiciário faz uma análise e uma deliberação para ver se a
empresa tem direito ao benefício da recuperação judicial. A empresa deve
preencher os pré-requisitos básicos do processo e, se for o caso, o juiz então
nomeará um administrador judicial, como uma empresa de consultoria ou
escritório de administração, para assumir a empresa. Todas as ações de
execução de cobranças contra a empresa são suspensas e os credores são
convocados para formar uma assembleia para analisar o plano de
recuperação apresentado pela empresa. O plano só pode seguir se for
aprovado por unanimidade por essa assembleia. Se acontecer, o juiz concede
a recuperação. Se não, a falência da empresa é decretada.

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Fase de execução

Caso a recuperação judicial seja aprovada, a última fase do projeto é a de


Execução e, assim, o plano elaborado no procedimento é executado e a
empresa devedora deve cumprir todos os prazos e obrigações descritos nele
onde qualquer descumprimento de qualquer ação no plano leva a empresa a
ter a sua falência decretada, portanto não há margem para erros.

3 FALÊNCIA X INSOLVÊNCIA CIVIL

A INSOLVÊNCIA CIVIL SIGNIFICA QUE O DEVEDOR TEM DÍVIDAS QUE


ULTRAPASSAM O VALOR DOS SEUS BENS.

A FALÊNCIA É TRATADA NA LEI Nº 11.101/2005, E GUARDA ESTRITA


RELAÇÃO COM A INSOLVÊNCIA JURÍDICA. É UM PROCESSO DE EXECUÇÃO
CONCURSAL PROMOVIDA PELOS CREDORES DO DEVEDOR EMPRESÁRIO
QUE ATINGIU O ESTADO DE INSOLVÊNCIA.

Aconselha-se analisar a matéria à luz da jurisprudência e, para tanto segue o


entendimento do STJ – Superior Tribunal de Justiça que merece que seja objeto de
estudo crítico por parte do aluno.

Na decisão a seguir percebe-se que para o relator, ao realizar o depósito elisivo


da falência, elimina-se o estado de insolvência presumida, de modo que a decretação
da falência fica afastada; todavia, explicou, o processo se converte em verdadeiro rito

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de cobrança, pois permanecem questões relativas à existência e à exigibilidade da
dívida cobrada:

Da mesma forma, merece que seja estudado criticamente outros entendimentos


dos Ministros do STJ, conforme a seguir se denota:

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Assim sendo, cita-se os Recursos Especiais a seguir como indicação e
complementação do material de estudo:

• REsp 1354776
• REsp 1433652
• REsp 1372243
• REsp 1265548
• REsp 1639940
• REsp 1126521
• REsp 1643856
• CC 166591
• REsp 1487042
• REsp 1526790
• REsp 1634048

3.1 Fases da Falência

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Para se requerer a falência, uma das pessoas deverá apresentar o fundamento
de insolvência, fundamento este que pode ser:

• O inadimplemento injustificado de títulos executivos que ultrapassem o valor


de 40 salários-mínimos;
• O não pagamento de uma execução judicial liquida;
• Prática de algum outro ato de falência, que demonstra violação a boa fé e a
segurança das relações jurídicas.

Continuando, quando uma empresa tem a falência decretada pela Justiça


surgem algumas consequências:

• O dono da empresa é afastado das atividades da empresa, sendo substituído


por um administrador judicial;
• É feito uma análise de quais são os bens da empresa e quais são suas dívidas;
• Ocorre a realização do ativo, que é a venda de todos os bens da empresa

Quanto à venda dos bens da empresa estes seguem uma ordem:

• Alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;


• Alienação da empresa, com a venda de filiais ou unidades produtivas
separadamente;
• Alienação de conjuntos de bens que integram os estabelecimentos; ou
• Alienação dos bens separadamente.

Por fim, a falência termina com a venda de todo o ativo e a distribuição dos
valores entre os credores, e o administrador deve apresentar suas contas ao juízo
falimentar para serem aprovados pelo Juiz e, se assim for, será elaborado o relatório
final da falência, e com a apresentação deste, será encerrada por sentença do juízo.

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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:


Saraiva Educação, 2019;

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, Volume 2: Direito de Empresa.


São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019;

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial: volume único. 10ª ed. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva Educação,


2019;

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