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QUESTÃO 2.

Não é qualquer pessoa, física ou jurídica, que tem o privilégio de poder


requerer e, por consequência, ter deferido o processamento de uma recuperação judicial
e posteriormente a sua concessão. Como prescreve o artigo 48, caput, da LFRE, de
número 11.101/05, o legitimado para requerer esse benefício legal é o devedor. E que,
para os efeitos dessa Lei, segundo os termos do artigo 1º, da mesma Lei, devedor é o
empresário ou a sociedade empresária que se encontrem em um determinado momento
sujeito ou sujeitos aos efeitos dessa Lei, seja em um processo de falência, de
recuperação judicial ou mesmo de recuperação extrajudicial. Tampouco, não basta de
um instante para outro, ou seja, num momento primeiro se adquire o status de
empresário ou de sociedade empresária e logo a seguir, só por essa condição, se pode
requerer ou pleitear um dos benefícios previstos no artigo 1º da Lei. Seria esse
empresário ou essa sociedade empresária que assim procedesse, na presunção da Lei, o
mais incompetente administrador de qualquer atividade, vez que mal entrara no negócio
e já estaria necessitando dos benefícios legais e, por isto mesmo, não mereceria a
contemplação da Lei.

Por isso, e até mesmo para não se incrementar uma industrialização do instituto
da recuperação judicial, prevê a Lei 11.101/05 que, além do pretendente ao benefício
ser, para os efeitos do seu artigo 1º, devedor (empresário ou sociedade empresária),
deve ele, além dos requisitos que analisaremos logo a seguir, ter cumprido o do
exercício regular de pelo menos 2 (dois) anos da atividade no exato momento em que
ele utilizar-se do Poder Judiciário, quando do peticionamento da impetração do
benefício legal da recuperação judicial. Entretanto, essa prova – exercício regular da
atividade durante pelo menos 2 (dois) anos -, é de capital importância para a
admissibilidade e consequente deferimento do processamento. Passada essa fase pelo
pretendente a adquirir o benefício legal da recuperação judicial, ou seja, a efetiva
comprovação do exercício da atividade por no mínimo 2 (dois) anos, por meio de
certidão de inscrição na Junta Comercial do respectivo Estado, o artigo 48 da mesma
Lei prevê ainda a exigência do cumprimento de mais 4 (quatro) requisitos que deverão
ser preenchidos/cumpridos cumulativamente, isto é, todos deverão estar devidamente
comprovados no mesmo momento do pedido, não significando isto, ainda, que o pedido
estará apto a receber o deferimento. Como diz a Lei, “poderá requerer a recuperação
judicial o devedor que (…)”. São estes, portanto, os demais requisitos que o art. 48
prevê: “I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;” “II – não ter, há menos
de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial.” O mesmo princípio
aplicado no caput do artigo 48 – inabilidade, incompetência ou má gestão do
empresário ou sociedade empresária que requeira recuperação judicial antes de dois
anos de efetivo exercício da atividade –, também se aplica aqui, pois aquele devedor,
que há menos de 5 (cinco) anos, obteve a concessão dos benefícios da Lei e dele esteja
necessitando novamente, presume-se a mesma falta de habilidade, a mesma falta de
competência no comando da atividade, e daí, a Lei proibir nesse período – 5 anos – a
concessão de uma segunda recuperação judicial.

III – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de


recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V
deste Capítulo”.
A Lei Complementar no 147, de 07 de agosto de 2014, ao dar nova redação ao
inciso III do artigo 48, beneficiou o segmento das microempresas e empresas de
pequeno porte, vez que diminuiu o prazo de 8 anos para 5 anos para que possa pedir
uma segunda recuperação judicial com base no plano especial previsto nos artigos 70/72
da Lei 11.101/05, igualando-o às demais atividades empresárias (médias e grandes).
Estas não podem fazer uso do chamado Plano Especial.

“IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.” A Lei,
dentro do seus rigores, proíbe que qualquer empresário ou sociedade empresária pleiteie
e tenha deferido o benefício da recuperação judicial, se qualquer dos seus
administradores ou mesmo o sócio controlador, tenha sido condenado por qualquer dos
crimes que prevê a Lei 11.101/05 – os denominados crimes falimentares. Ora, o
controle ou a administração do devedor em situação de crise econômico-financeira por
quem responde por crimes falimentares é, para a Lei, a possibilidade de que o
impetrante poderá se valer da recuperação judicial para fins diversos. Havendo a
reabilitação penal do condenado, este motivo impeditivo, por lógico, desaparecerá.

Embora os largos benefícios que a concessão de uma recuperação judicial


causa aos seus beneficiários, observa-se, na prática, que ultrapassadas as exigências
legais para o seu requerimento, e, cremos nós, por uma questão cultural, muitos
devedores preferem dar continuidade à sua atividade no estado em que se encontram, do
que se beneficiarem dos privilégios da lei de regência.

 DA JURISPRUDÊNCIA

RECUPERAÇÃO JUDICIAL. HOMOLOGAÇÃO DO PLANO. NOVAÇÃO


DAS DÍVIDAS. CONDIÇÃO RESOLUTIVA. A

homologação do plano de recuperação judicial autoriza a retirada do


nome da recuperanda e dos seus respectivos sócios dos cadastros de
inadimplentes, bem como a baixa de eventuais protestos existentes em nome
destes; pois, diferentemente do regime existente sob a vigência do DL n.
7.661/1945, cujo art. 148 previa expressamente que a concordata não produzia
novação, a primeira parte do art. 59 da Lei n. 11.101/2005 estabelece que o plano
de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido. Essa
nova regra é consentânea com o princípio da preservação da empresa e revela a
nova forma de tratamento dispensada às empresas em dificuldade financeira,
contudo a novação operada pelo plano de recuperação fica sujeita a uma
condição resolutiva. Sendo assim, o descumprimento de qualquer obrigação
prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, com o que
os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições
originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e
ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial.
(STJ REsp

1.00.000 OAB/UF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2012) . -


grifos e destaque nossos.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. HOMOLOGAÇÃO DO PLANO. NOVAÇÃO
DAS DÍVIDAS. CONDIÇÃO RESOLUTIVA. A homologação do plano de
recuperação judicial autoriza a retirada do nome da recuperanda e dos seus respectivos
sócios dos cadastros de inadimplentes, bem como a baixa de eventuais protestos
existentes em nome destes; pois, diferentemente do regime existente sob a vigência do
DL n. 7.661/1945, cujo art. 148 previa expressamente que a concordata não produzia
novação, a primeira parte do art. 59 da Lei n. 11.101/2005 estabelece que o plano de
recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido. Essa nova
regra é consentânea com o princípio da preservação da empresa e revela a nova forma
de tratamento dispensada às empresas em dificuldade financeira, contudo a novação
operada pelo plano de recuperação fica sujeita a uma condição resolutiva. Sendo
assim, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a
convolação da recuperação em falência, com o que os credores terão reconstituídos
seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os
valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito
da recuperação judicial. (STJ REsp 1.260.301-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 14/08/2012).

5. Trata-se, pois, do reconhecimento pela Egrégia Corte que a Lei 11.101/2005


não admite interpretação restrita, não podendo ser ignorados os efeitos da
Recuperação Judicial em face dos garantidores das obrigações, notadamente quando
sócios da empresa, haja vista que não contraíram a dívida em proveito pessoal.

6. Não por outra razão que a própria Lei 11.101/2005 prevê, em seu artigo 61,
§2°, que caso decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e
garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores
eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da
recuperação judicial.

7. Ora, ao considerarmos que as obrigações dos sócios podem ser executadas


de forma concomitante ao ajuizamento da Recuperação Judicial, teríamos no artigo
supra verdadeira letra morta da Lei, já que não há de se reconstituir direito que jamais
foi impedido de ser exercido.

8. Ou seja, a interpretação sistemática da legislação falimentar admite, sim, a


suspensão também em favor dos sócios, sob pena de completo esvaziamento do
beneplácito legal.

9. Não por outra razão que, mesmo no Tribunal de Justiça de São Paulo, hoje
temos interpretações divergentes àquela exposta por ocasião da negativa recursal,
conforme se observa do voto do Desembargador Souza Lopes, nos autos da apelação
de n.° 013038-10.2012.8.26.0568:

Com o devido respeito, ouso divergir da Douta Maioria. Quanto à suspensão


atingir também os avalistas, tenho posição firmada no sentido de que, sendo os
garantes sócios da devedora, a suspensão os atingirá. Assim afirmo porque se os
sócios sobrevivem da renda que obtém da empresa, por certo que se

a pesoa jurídica está em dificuldades econômicas, os sócios estão na mesma


situação.

E não é só. O credor que celebra contrato neste moldes, tendo como garante os
sócios da pesoa jurídica, sabe que, em caso de quebra, eles também estarão falidos,
logo, exigir que, na recuperação judicial, a execução prossiga contra os sócios
garantidores da dívida, não se mostra coreto, pois, estar-se-ia, de forma indireta, os
levando ao desespero e à falência já que sobrevivem, como já afirmado, daquilo que
produzem na sociedade recuperanda e, se esta se encontra "doente", com certeza a
"doença" também contamina e abate os sócios.

São estas as razões porque, sob minha ótica, sendo os devedores solidários
sócios da recuperanda, a suspensão que a lei confere também os agasalha, o que não se
confunde com garantidor alheio ao quadro societário, este sim, não é atingido pelos
efeitos da "doença" da sociedade comercial.

Sendo assim, meu voto reconhece a possibilidade de suspensão da execução


também em relação aos sócios avalistas, e, por consequência, dá provimento ao
recurso. (Apelação n.° (00)00000-0000.8.26.0568 - 17a Câmara de Direito Privado -
Julgamento em 02/07/2014 - Voto Vista n° 24579).
10. Nesse contexto e ainda que por um sopro de esperança , a minuta
recursal deve ser levada a julgamento pelo colegiado, haja vista que a interpretação
sistemática da Lei admite que a suspensão decorrente da Recuperação Judicial
seja

interpretada em favor dos sócios.

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