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Por isso, e até mesmo para não se incrementar uma industrialização do instituto
da recuperação judicial, prevê a Lei 11.101/05 que, além do pretendente ao benefício
ser, para os efeitos do seu artigo 1º, devedor (empresário ou sociedade empresária),
deve ele, além dos requisitos que analisaremos logo a seguir, ter cumprido o do
exercício regular de pelo menos 2 (dois) anos da atividade no exato momento em que
ele utilizar-se do Poder Judiciário, quando do peticionamento da impetração do
benefício legal da recuperação judicial. Entretanto, essa prova – exercício regular da
atividade durante pelo menos 2 (dois) anos -, é de capital importância para a
admissibilidade e consequente deferimento do processamento. Passada essa fase pelo
pretendente a adquirir o benefício legal da recuperação judicial, ou seja, a efetiva
comprovação do exercício da atividade por no mínimo 2 (dois) anos, por meio de
certidão de inscrição na Junta Comercial do respectivo Estado, o artigo 48 da mesma
Lei prevê ainda a exigência do cumprimento de mais 4 (quatro) requisitos que deverão
ser preenchidos/cumpridos cumulativamente, isto é, todos deverão estar devidamente
comprovados no mesmo momento do pedido, não significando isto, ainda, que o pedido
estará apto a receber o deferimento. Como diz a Lei, “poderá requerer a recuperação
judicial o devedor que (…)”. São estes, portanto, os demais requisitos que o art. 48
prevê: “I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;” “II – não ter, há menos
de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial.” O mesmo princípio
aplicado no caput do artigo 48 – inabilidade, incompetência ou má gestão do
empresário ou sociedade empresária que requeira recuperação judicial antes de dois
anos de efetivo exercício da atividade –, também se aplica aqui, pois aquele devedor,
que há menos de 5 (cinco) anos, obteve a concessão dos benefícios da Lei e dele esteja
necessitando novamente, presume-se a mesma falta de habilidade, a mesma falta de
competência no comando da atividade, e daí, a Lei proibir nesse período – 5 anos – a
concessão de uma segunda recuperação judicial.
“IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.” A Lei,
dentro do seus rigores, proíbe que qualquer empresário ou sociedade empresária pleiteie
e tenha deferido o benefício da recuperação judicial, se qualquer dos seus
administradores ou mesmo o sócio controlador, tenha sido condenado por qualquer dos
crimes que prevê a Lei 11.101/05 – os denominados crimes falimentares. Ora, o
controle ou a administração do devedor em situação de crise econômico-financeira por
quem responde por crimes falimentares é, para a Lei, a possibilidade de que o
impetrante poderá se valer da recuperação judicial para fins diversos. Havendo a
reabilitação penal do condenado, este motivo impeditivo, por lógico, desaparecerá.
DA JURISPRUDÊNCIA
6. Não por outra razão que a própria Lei 11.101/2005 prevê, em seu artigo 61,
§2°, que caso decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e
garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores
eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da
recuperação judicial.
9. Não por outra razão que, mesmo no Tribunal de Justiça de São Paulo, hoje
temos interpretações divergentes àquela exposta por ocasião da negativa recursal,
conforme se observa do voto do Desembargador Souza Lopes, nos autos da apelação
de n.° 013038-10.2012.8.26.0568:
E não é só. O credor que celebra contrato neste moldes, tendo como garante os
sócios da pesoa jurídica, sabe que, em caso de quebra, eles também estarão falidos,
logo, exigir que, na recuperação judicial, a execução prossiga contra os sócios
garantidores da dívida, não se mostra coreto, pois, estar-se-ia, de forma indireta, os
levando ao desespero e à falência já que sobrevivem, como já afirmado, daquilo que
produzem na sociedade recuperanda e, se esta se encontra "doente", com certeza a
"doença" também contamina e abate os sócios.
São estas as razões porque, sob minha ótica, sendo os devedores solidários
sócios da recuperanda, a suspensão que a lei confere também os agasalha, o que não se
confunde com garantidor alheio ao quadro societário, este sim, não é atingido pelos
efeitos da "doença" da sociedade comercial.