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ATIVIDADE INDIVIDUAL

Disciplina: Recuperação Judicial e Falência

Aluno: Carolina dos Santos Silva

Tarefa: Estudo a respeito do endividamento da Companhia VFC Comércio e Indústria de


Material Esportivo LTDA., a fim de estabelecer uma estratégia para a sua recuperação
patrimonial.

EMENTA

A sociedade empresária VFC Comércio e Indústria de Material Esportivo LTDA., indústria do ramo
esportivo, encontra-se em uma severa crise econômico-financeira, cujas dívidas, até o momento, totalizam
um passivo no importe de R$ 12.600.000,00 (doze milhões e seiscentos reais), correspondente aos seguintes
débitos:

• R$ 1.000.000,00 de débitos trabalhistas;

• R$ 3.500.000,00 de débitos para fornecedores – não garantidos;

• R$ 6.500.000,00 de débitos bancários, garantidos por hipoteca;

• R$ 1.500.000,00 de débitos para fornecedores ME ou EPP – não garantidos – e

• R$ 100.000,00 de débitos perante a operadora de prestação de serviço de energia elétrica.

Ciente do severo risco de encerramento de suas atividades, a Companhia contratou este escritório
para proposição de uma estratégia jurídica a fim de preservar seus interesses e recuperar a sua situação
financeira.

Desse modo, o presente parecer terá por objeto: (I) explanar de forma breve acerca das principais
medidas de recuperação empresarial previstas em lei; (II) propor a medida mais adequada à situação da
empesa; e (III) analisar detalhadamente a natureza de seus passivos a fim de propor a ordem adequada de
quitação das dívidas.

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I – DAS MODALIDADES DE RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL PREVSTAS EM LEI

I.I. Da Falência X Recuperação

Inicialmente, é importante tecer de forma breve sobre o instituto da falência e Recuperação Judicial,
e suas principais diferenças. Ambos são institutos ela lei n.º 11.101/2005, reformada pela recente Lei nº
4.112/2020, que visam a constituição de um plano para a satisfação dos créditos devidos por uma empresa,
no entanto, a principal distinção entre eles reside no intuito da continuidade ou não do empreendimento.

A recuperação é pautada pelo princípio jurídico da preservação da empresa, já que seu principal objeto
é a constituição de um plano que possibilite a recuperação de sua solvência e manutenção de suas
atividades.

Assim nos ensina o artigo 47 da lei n.º 11.101/2005:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do
emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Já o instituto da falência tem como princípio basilar a satisfação e pagamento dos credores e tem
como escopo principal o cumprimento do par condicio creditorum, isto é, perpetrar situação igualitária entre
os credores presentes no rol, trazendo satisfação coletiva, uma vez que nesta ocasião não haverá intenção
de manter as atividades da empresa, conforme prescrevem os incisos primeiro e segundo do artigo 75 da
lei n.º 11.101/2005:

Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades,


visa a:

I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa;

II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação


eficiente de recursos na economia (...).

A falência pode ser requisitada pelo próprio devedor/empresário individual; pelos cônjuges ou herdeiros e
inventariante do empresário individual falecido; pela própria sociedade empresária, por meio de seus
quotistas, hipóteses denominadas por autofalência; ou por qualquer credor da empresa.

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Todavia, para que seja realizado o pedido de autofalência, importante analisar se a crise que passa a
empresa não preenche os quesitos de uma recuperação judicial, quesitos esses que trataremos mais à
frente.

As principais vantagens da autofalência estão pontuadas no artigo 159 da lei de Falência 11.101/2005,
o qual estabelece que o falido fica livre de suas dívidas, tornando-se reabilitado, ainda que não salde seus
débitos, caso não tenha cometido nenhum crime falimentar, após cinco anos do fim do processo de falência;
e, caso tenha cometido, o prazo será de dez anos.

De outro lado, caso o empresário tenha a intenção de se estabelecer no mundo empresarial por meio
da constituição de uma nova empresa, terá a desvantagem do lapso temporal, já que conforme dito acima,
o período de reabilitação do empresário será de 05 (cinco) a 10 (dez) anos, calculados a partir da finalização
da falência, o qual se diferencia com base na existência, ou não, de crime falimentar por parte da empresa
falida ou seus representantes.

Durante esse período, caso o empresário possua uma rentabilidade mensal que seja superior a um
salário-mínimo nacional, parte de seus recebimentos serão penhorados pelo juízo para a amortização de
parte de seus débitos.

Além disso, caso o empresário possua bens em seu nome, ele deverá entregar os seus bens, seja
móvel ou imóvel, isto é, qualquer bem que possam ser vendidos para adimplir os valores em questão.

Feita tais considerações, passaremos ao estudo breve das espécies de recuperação empresarial.

I.II. Das modalidades de Recuperação Empresarial.

O instituto da recuperação, consiste em um instrumento jurídico que visa a reestruturação financeira


e administrativa de uma empresa, por via judicial, para evitar a falência, garantindo possibilidades e benefícios
para que a empresa em crise possa voltar a operar de forma solvente.

A recuperação pode ser classificada em recuperação judicial e recuperação extrajudicial, sendo a


recuperação judicial subdividida em recuperação judicial ordinária e recuperação judicial especial.

a) Recuperação Judicial Ordinária:

A Recuperação Judicial Ordinária está prevista nos artigos 47 e 69 da lei 11.101/2005 e seu processo consiste
basicamente em três fases: a postulatória, a deliberativa e a execução, sendo esta última abarcada pela a)
a apresentação do pedido com uma proposta de plano de recuperação; b) verificação e validação do plano;
e c) deferimento do pedido e plano colocado em prática.

Costumeiramente, essa modalidade se distingue das demais em função de sua complexidade e alto custo
financeiro, de modo que não é indicada às empresas que estejam com seu fluxo de caixa e ativos financeiros
drasticamente negativados.
b) Recuperação Especial

A recuperação especial é voltada às microempresas e empresas de pequeno porte, conforme


determinado no artigo 70 da Lei 11.101 de 2005 e diferencia-se da ordinária, especialmente nos seguintes
pontos: a) a sua solicitação deve prever expressamente tratar-se de recuperação especial conforme §.1º do
artigo 70; b) após a aprovação do plano, as ações da empresa serão suspensas por 180 dias; c) dispensa
da formação de assembleia geral para constituição do plano de recuperação; d) o pagamento dos credores
pode ser feito em até 36 meses, ressaltando que a parcela do primeiro pagamento deve ser efetuada em
até 180 dias contados da distribuição da recuperação judicial.

c) Recuperação Extrajudicial

A recuperação extrajudicial é compreendida como uma ferramenta alternativa a recuperação judicial,


pois admite-se por um acordo privado, que pode ser proposta a um ou mais credores, fora da esfera judicial,
em qualquer condição, a qualquer credor, desde que não haja impedimento legal, posteriormente submetido
à homologação judicial.

Conforme Ricardo Negrão, p.237, a recuperação extrajudicial é: “a modalidade de ação integrante do


sistema legal destinado ao saneamento de empresas regulares, que tem por objetivo constituir título
executivo a partir da sentença homologatória de acordo, individual ou por classes de credores, firmado pelo
autor com seus credores”.

A grande vantagem do instituto consiste no fato de que, preenchidos os requisitos legais, o acordo
aceito pela maioria dos credores de uma determinada categoria ou classe (acima de 50%) vinculará a todos
os credores pertencentes à mesma categoria ou classe, conforme artigo. 163 da Lei 11.101/2005.

Por outro lado, existe a limitação de quais créditos podem participar do plano, como demonstra o §
1.º do artigo 161 da Lei 11.101/2005:

Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar
com credores plano de recuperação extrajudicial.

§ 1º Estão sujeitos à recuperação extrajudicial todos os créditos existentes na data do pedido,


exceto os créditos de natureza tributária e aqueles previstos no § 3º do art. 49 e no
inciso II do caput do art. 86 desta Lei, e a sujeição dos créditos de natureza
trabalhista e por acidentes de trabalho exige negociação coletiva com o sindicato
da respectiva categoria profissional. (...)

É evidente que a ideia de uma recuperação de natureza extrajudicial remete a um procedimento mais
simples, no entanto, a lei elimina, nessa modalidade de recuperação extrajudicial, quase todos os

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mecanismos que, na recuperação judicial, foram desenvolvidos para evitar abusos pelos devedores, o que
pode importar em certos casos a perda de segurança, possibilidade de manipulações e fraudes ou injusto
prejuízo aos credores.

Feita as considerações acima, passar-se-á à propositura da medida mais adequada ao cenário da VFC.

II. Do Plano de Recuperação proposto à Companhia VFC Comércio

Inicialmente, importa destacar que mesmo diante da expressividade das dívidas da VFC Comércio, a
doção de um procedimento falimentar não seria a estratégia mais viável à empresa, uma vez que ao analisar
as suas informações financeiras é possível concluir que se trata de negócio viável que se encontra em crise
econômico-financeira e não em crise de gestão ou patrimonial, já que possui bens e direitos superiores às
dívidas contraídas.

Analisando o caso, poder-se-ia cogitar a utilização da Recuperação Especial ou Extrajudicial, já que são
evidentemente mais céleres e menos custosas, todavia, levando-se em conta a natureza das dívidas
apresentadas pela empresa VFC Comércio, a indicação mais segura seria a adoção de um plano de
Recuperação Judicial Ordinário, pois apesar de ser mais custoso, conseguirá englobar todas as dívidas
dispostas, bem como dar maior flexibilidade na realização do plano.

Desse modo, por se tratar de uma medida ordinária, a sua requisição pressupõe a propositura de uma
Ação Judicial, hipótese em que a VFC terá de atender aos seguintes pressupostos: a) exercer atividade há
mais de 2 anos, b) não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado,
as responsabilidades daí decorrentes; c) não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de
recuperação judicial ordinária ou especial; d) não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

Pela análise previa da documentação enviada, a empresa se encaixa nos termos da lei existindo a
possibilidade da utilização do instituto.

Principais desvantagens dessa medida:

A principal desvantagem da adoção dessa medida, conforme já dito, consiste no fato de ser um
procedimento custoso, já que as custas judiciais as quais a empresa terá que arcar, muitas vezes atingem o
teto do judiciário, além dos custos com publicações de editais, remuneração do administrador Judicial que
podem chegar a 5% do valor do passivo, advogados e consultores financeiros.

Além disso, uma vez pleiteada a recuperação judicial, não há mais a possibilidade de renunciar ao
pedido, ou aprova-se o plano ou decreta-se a falência, período em que a reputação da empresa se tornará
comprometida no mercado de crédito.
Outro fator a considerar é que embora mitigado, há risco de que a recuperação judicial se converta
em falência, caso o plano não seja bem elaborado ou contemplado pela aprovação do quórum necessário de
credores, por isso a importância da elaboração de um plano extremamente estruturado.

E por fim, é importante considerar que a Recuperação Judicial não suspenderá o curso das ações de
execuções propostas contra aos coobrigados da empresa, que na grande maioria das vezes, são os próprios
sócios da empresa.

Principais Vantagens da adoção da Recuperação Judicial Ordinária:

A Recuperação judicial suspenderá o curso de todas as execuções em face da empresa, exceto as de


natureza tributária ou garantidas por instrumentos fiduciários, o que não se aplica ao presente caso.

Em consequência disso, a partir do deferimento do pedido, os credores exequentes tornam-se


impossibilitados de arrematar bens essenciais à continuidade da companhia, permitindo assim que os
administradores da empresa foquem nas medidas sobrevivência do negócio.

Outro fator considerável é que existe ampla possibilidade de proposta de pagamento aos credores,
como a concessão de prazos mais elásticos, deságio, venda de ativos, conversão da dívida em ações, cisão,
fusão entre outras.

Apesar de se tratar de um procedimento judicial, a negociação da RJ não terá a interferência do


judiciário e uma vez aprovado o plano pela maioria dos credores, o plano será aplicado também a todos os
demais credores que embora não tenham participado das negociações, contemplem créditos sujeitos à Lei da
Recuperação Judicial.

Há também a possibilidade de venda de bens da empresa descritos no plano de recuperação judicial


sem sucessão do novo proprietário nas dívidas do devedor, até mesmo as dívidas de natureza fiscal e
trabalhista

E por fim, importante considerar que embora a VFC seja devedora de crédito bancário, tais créditos
não possuem natureza fiduciária (não enquadrado na RJ), pois encontram-se respaldados por meio de
garantia real (hipoteca), a qual se enquadra plenamente no plano de recuperação judicial.

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III. Análise detalhada da natureza das dívidas da VFC Comércio e eleição da ordem adequada
de quitação das dívidas

Inicialmente, antes mesmo de adentrar à análise da ordem de quitação das dívidas da VFC, é
importante tecer acerca da classificação dos créditos sujeitos à Recuperação Judicial.

A Lei classifica os créditos entre concursais e extraconcursais, sendo os créditos extraconcursais


aqueles que decorrerem de negócios celebrados com a empresa já em processo de recuperação judicial

Nesse sentido, o artigo 84 da lei 11.101/2005 assim prescreve:

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre
os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
(…)
V – Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação
judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos
relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem
estabelecida no art. 83 desta Lei.

Em acórdão publicado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Ministra Nancy Andrighi estabeleceu
entendimento sobre o t classificando como extraconcursais ema os créditos de obrigações que se originaram
após o deferimento do processamento da recuperação. Confira-se:

DIREITO EMPRESARIAL. CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS E DEFERIMENTO DO


PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
São extraconcursais os créditos originários de negócios jurídicos realizados após a data em que
foi deferido o pedido de processamento de recuperação judicial. Inicialmente, impõe-se assentar
como premissa que o ato deflagrador da propagação dos principais efeitos da recuperação
judicial é a decisão que defere o pedido de seu processamento. Importa ressaltar, ainda, que o
ato que defere o pedido de processamento da recuperação é responsável por conferir
publicidade à situação de crise econômico-financeira da sociedade, a qual, sob a perspectiva de
fornecedores e de clientes, potencializa o risco de se manter relações jurídicas com a pessoa em
recuperação. Esse incremento de risco associa-se aos negócios a serem realizados com o
devedor em crise, fragilizando a atividade produtiva em razão da elevação dos custos e do
afastamento de fornecedores, ocasionando, assim, perda de competitividade. Por vislumbrar a
formação desse quadro e com o escopo de assegurar mecanismos de proteção àqueles que
negociarem com a sociedade em crise durante o período de recuperação judicial, o art. 67 da
Lei 11.101/2005 estatuiu que “os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor
durante a recuperação judicial […] serão considerados extraconcursais […] em caso de
decretação de falência”. Em semelhante perspectiva, o art. 84, V, do mesmo diploma legal dispõe
que “serão considerados créditos extraconcursais […] os relativos a […] obrigações resultantes
de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial”. Desse modo, afigura-se
razoável concluir que conferir precedência na ordem de pagamentos na hipótese de quebra do
devedor foi a maneira encontrada pelo legislador para compensar aqueles que participem
ativamente do processo de soerguimento da empresa. Não se pode perder de vista que viabilizar
a superação da situação de crise econômico-financeira da sociedade devedora – objetivo do
instituto da recuperação judicial – é pré-condição necessária para promoção do princípio maior
da Lei 11.101/2005 consagrado em seu art. 47: o de preservação da empresa e de sua função
social. Nessa medida, a interpretação sistemática das normas insertas na Lei 11.101/2005 (arts.
52, 47, 67 e 84) autorizam a conclusão de que a sociedade empresária deve ser considerada
“em recuperação judicial” a partir do momento em que obtém o deferimento do pedido de seu
processamento. REsp 1.398.092-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/5/2014.

Desta forma, serão considerados extraconcursais todos os créditos decorrentes de negócios realizados
a partir do processamento da recuperação judicial e independentemente da aprovação do plano.

No caso da empresa VFC, todos os créditos por ela apresentados possuem natureza concursal, portanto,
são estes que merecem atenção especial e que terão de ser pagos em observância às regras do artigo 83 da
lei n º11.101/2005.

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:


I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-
mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho;
II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado;
III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de
constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias;
VI - os créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens
vinculados ao seu pagamento; e
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o
limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, incluídas as multas tributárias;
VIII - os créditos subordinados, a saber:

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a) os previstos em lei ou em contrato; e
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja
contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas e as
práticas de mercado;
IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art.
124 desta Lei.
§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor
do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua
venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem
individualmente considerado.
§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao
recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as
obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
§ 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer título
manterão sua natureza e classificação.
§ 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de privilégio
especial ou geral em outras normas integrarão a classe dos créditos
quirografários.

Observada as regras acima, o plano ideal de pagamento aos créditos poderia ser proposto da
seguinte forma:

I. Em primeiro lugar o créditos trabalhistas, os quais serão s pagos em 24 (vinte e quatro) vezes, uma
vez que o ativo fixo é suficiente para a extensão de prazo disposta no §.º 2 do artigo 53 da referida
lei. Ademais pode-se propor um deságio para esse pagamento, essa possibilidade se faz possível
conforme decisão do Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA Nº 2778 - RJ (2020/0139805-2) RELATOR : MINISTRO


RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA REQUERENTE : ARETÉ EDITORIAL S/A - EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL REQUERENTE : LANCE IMOBILIARIA LTDA. - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
REQUERENTE : LANCE MIDIA DIGITAL LTDA. – EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL ADVOGADOS :
LUCIANA ABREU DOS SANTOS - RJ124353 BRUNO LUIZ DE MEDEIROS GAMEIRO - RJ135639
JULIANA DA ROCHA RODRIGUES - RJ226517 REQUERIDO : MARCIO CLEBER DE AZEVEDO
MINGUTA ADVOGADOS : CELSO BRAGA GONÇALVES ROMA - RJ041069 GUILHERME
CARLOS MACHADO CHAGAS E OUTRO (S) - RJ127652 DECISÃO Trata-se de pedido de tutela
provisória apresentado por ARETE EDITORIAL S.A. ? Em Recuperação Judicial ? e Outras visando
à atribuição de efeito suspensivo a recurso especial, ainda pendente de admissibilidade,
interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, assim ementado:
"Agravo de Instrumento. Recuperação Judicial. Decisão que homologou o plano recuperacional,
após aprovação parcial da Assembleia Geral de Credores, com fundamento no § 1º do art. 58
da Lei nº 11.101/05, aplicando o instituto do Cram Down". O julgador está autorizado a realizar
o controle de legalidade do plano de recuperação judicial, sem adentrar no aspecto da sua
viabilidade econômica, a qual constitui mérito da soberana vontade da assembleia geral de
credores. O quórum obtido na votação do Plano de Recuperação Judicial atendeu ao previsto no
§ 1º do art. 58, aprovado por ampla maioria dos credores presentes. Instituto do Cram Down
que deve prestigiar a preservação da empresa e a vontade da maioria em detrimento dos
credores dissidentes. Restou observado o limite específico do art. 54 da Lei nº 11.101/05, que
estabelece o prazo de até 1 ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do
trabalho, pois a carência de 60 dias e pagamento em 10 parcelas mensais e sucessivas atende
ao prazo de 1 (um) ano estabelecido em lei. O valor do passivo trabalhista não pode ser alterado,
pois escapa à competência do juízo recuperacional, devendo ser pago em conformidade com o
valor apurado pela
Justiça do Trabalho. O art. 50, VIII, da Lei nº 11.101/2005 dispõe que constituem meios de
recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentro outros, a redução
salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva,
não havendo demonstração de participação do sindicato dos trabalhadores. Por tais razões,
impõe-se declarar a nulidade do deságio dos créditos derivados da legislação do trabalho, tal
qual previsto na cláusula 6.2. do plano aprovado. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO"(fl. 136,
e-STJ). As requerentes alegam, em síntese, que a probabilidade do seu direito estaria
evidenciada na plausibilidade jurídica das alegações postas no recurso especial que veicula, além
de dissídio jurisprudencial, contrariedade aos artigos 35, I, a, 45, § 2º, 50, 53, II, e 58 da Lei nº
11.101/2005. Sustentam que a Lei nº 11.101/2005 não veda o deságio dos créditos trabalhistas,
somente exigindo que sejam pagos no prazo máximo de 1 (um) ano e que, aqueles vencidos
nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação, até o limite de 5 (cinco) salários
mínimos por trabalhador, sejam satisfeitos em até 30 (trinta) dias (artigo 54 da LRF). Defendem
a legalidade da cláusula que prevê a incidência de deságio de 60% (sessenta por cento) para os
créditos trabalhistas, aprovada pela Assembleia de Credores. Ressaltam que a anulação dessa
cláusula desfigura toda a lógica econômica sobre a qual o plano foi elaborado, constituindo os
créditos trabalhistas 54,5% (cinquenta e quatro e cinquenta décimos por cento) do passivo
concursal. Quanto ao perigo de dano, o relaciona com a impossibilidade de pagamento dos
créditos trabalhistas de forma diferente daquela estabelecida no plano, o que pode inviabilizar o
seu soerguimento. Esclarecem que requereram a concessão de efeito suspensivo ao recurso
especial perante o Tribunal de origem, mas o pedido foi negado sob o fundamento de que o
tema ainda não está consolidado. A decisão foi publicada em 24.4.2020 e, desde então,
aguardam o juízo de admissibilidade, que vem ficando prejudicado diante da suspensão dos

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prazos no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em virtude da pandemia. Afirmam
que não podem mais aguardar, tendo em vista que já se encontra o plano de recuperação na
fase de pagamento. Asseverando estarem presentes os pressupostos necessários à concessão
do pedido de tutela provisória, requerem a atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial a
fim de impedir que sejam" instadas a realizar os pagamentos da classe I nos termos do v.
acórdão, o que em valores atualizados superam mais de cinco milhões de reais, o que pode
inviabilizar a continuidade das operações das Requerentes "(fl. 19, e-STJ). É o relatório. DECIDO.
Consoante o disposto no artigo 1.029, § 5º, inciso I, do Código de Processo Civil de 2015, com
a redação dada pela Lei nº 13.256/2016,"o pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso
extraordinário ou a recurso especial poderá ser formulado por requerimento dirigido ao tribunal
superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do
recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-
lo"(grifou-se). No caso dos autos encontra-se pendente o juízo prévio de admissibilidade do
recurso especial, não restando aberta a competência desta Corte para análise do pedido de
efeito suspensivo. De todo modo, a jurisprudência desta Casa admite a atribuição de efeito
suspensivo a recurso especial ainda não submetido ao juízo de admissibilidade pela instância de
origem, desde que presentes, cumulativamente, os requisitos do perigo de dano e da
probabilidade do direito, aliados à teratologia
ou manifesta ilegalidade da decisão. No caso em apreço, da narrativa da inicial e dos demais
elementos colacionados aos autos é possível visualizar referida situação excepcional. Com efeito,
a Lei nº 11.101/2005 prevê em seu artigo 54 os requisitos que devem constar do plano de
recuperação judicial para o pagamento do crédito trabalhista: Art. 54. O plano de recuperação
judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados
da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho
vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. Parágrafo único. O plano não poderá,
ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco)
salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3
(três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial. Como se vê do dispositivo transcrito,
não existe, a princípio, óbice para o pagamento do crédito trabalhista com deságio, tampouco
se exige a presença do Sindicato dos Trabalhadores para validade da votação implementada
pela Assembleia Geral de Credores. Ademais, no caso dos autos, o requisito exigido no artigo 54
da LRF para o pagamento dos créditos trabalhista no prazo de 1 (um) ano foi atendido, conforme
se verifica do seguinte trecho do acórdão:"(...) Restou observado o limite específico do art. 54
da Lei nº 11.101/05, que estabelece o prazo de 1 ano para pagamento dos créditos derivados
da legislação do trabalho, pois a carência de 60 dias e pagamento em 10 parcelas mensais e
sucessivas atende ao prazo de 1 (um) ano estabelecido em lei"(fl. 150, e-STJ) Nesse contexto,
a tese central do recurso especial, relacionada com a
possibilidade de pagamento do crédito trabalhista com deságio sem a participação do sindicato
da categoria na assembleia de credores parece estar de acordo com a Lei nº 11.101/2005,
questão, porém, que merecerá melhor análise na apreciação do recurso. Assim, em um exame
perfunctório, próprio das liminares, se constata a plausibilidade jurídica da insurgência das
requerentes. Ademais, o perigo da demora está caracterizado diante da necessidade de
complementação do pagamento dos créditos trabalhistas nos moldes determinados no
julgamento do agravo de instrumento. Nesse contexto, presentes os requisitos autorizadores da
concessão da medida urgente, que devem estar conjugados, mostram-se necessário o
deferimento do pedido. Ante o exposto, defiro o pedido para suspender os efeitos do acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro no julgamento do AI nº 0006461-22.2019.8.19.0000 até ulterior deliberação.
Oficie-se ao Tribunal de origem com urgência com cópia da presente decisão. Publique-se.
Intimem-se. Brasília, 23 de junho de 2020. Ministr RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Relator (STJ
- TP: 2778 RJ 2020/0139805-2, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de
Publicação: DJ 24/06/2020).

II. Em segundo lugar opta-se pagar os valores de R$ 6.500.000,00 de débitos bancários, garantidos
por hipoteca, conforme o inciso II do artigo 83 da referida lei. Em 48 (quarenta e oito) vezes com o deságio
de 60%.

Ressalta-se aqui que o credor com garantia real não pode mais perseguir o bem e utilizá-lo para o
adimplemento de sua dívida, uma vez que nos termos dos artigos 41, II, e 83, II, da Lei 11.101/2005, o credor
com garantia real está sujeito aos procedimentos da recuperação judicial. O credor com garantia real, assim
como qualquer outro credor sujeito à recuperação judicial, não pode tentar receber o seu crédito de forma
independente dos demais credores.

Já os demais créditos não possuem benefício de ordem, tratando-se de créditos quirografários. Desta
forma propõe-se o seguinte:

III. Em terceiro lugar os débitos perante a prestadora de energia elétrica em 10 (dez) parcelas com
deságio de 60%.

IV. Em quatro os débitos tanto dos fornecedores não garantidos e dos ME e EPP em 48 parcelas com
deságio de 60%.

Diante de todas as considerações e levando-se em conta o nível do endividamento crescente da


empresa VFC, a propositura da recuperação judicial dará a oportunidade para a reorganização do negócio,
observado o cuidado na adoção dessa medida, vez que se não feita de maneira adequada, pode significar o
fim da empresa, caso o plano de recuperação não seja aprovado, resultando na falência da empresa.

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Bibliografia:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14112.htm - Acesso 08 de outubro de 2021.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm - Acesso 08 de outubro de 2021.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial de empresa. São Paulo: Saraiva2003 2004. – Vol.1.
p.21/p.237

https://jus.com.br/artigos/73696/principio-da-par-condictio-creditorum – Acesso 08 de outubro de 2021.

https://www.migalhas.com.br/coluna/novos-horizontes-do-direito-privado/340134/as-garantias-reais-
efidejussorias-na-recuperacao-judicial - Acesso 08 de outubro de 2021.

FAZZIO JR, Waldo, Manual De Direito Comercial, 7ª. Ed, Atlas, 2006, São Paulo.

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