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DIREITO EMPRESARIAL
Pontos atualizados: nº 11 (Info 656); nº 14 (Info 657); nº 05 (Info 658); nº 14 (Info 658); nº 11
(Info 659); nº 05 (Info 660); nº 14 (Info 660); nº 11 (Info 661); nº 11 (Info 676 - julgados)
1. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
1.1. SOCIEDADE ANÔNIMA: A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade
empresária contra ex-administradores (art. 159 da Lei das SA), depende de autorização da
assembleia geral, podendo esta autorização ser comprovada após o ajuizamento da ação – (Info
653)
A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade empresária contra
administradores ou ex-administradores, na forma do art. 159 da Lei 6.404/76, depende de
autorização da assembleia geral ordinária ou extraordinária.
A redação do art. 159 da LSA afirma que esta autorização é prévia, ou seja, a autorização
deveria ser obtida antes do ajuizamento da ação, sendo juntada com a petição inicial da
demanda.
Vale ressaltar, contudo, que a jurisprudência admite que essa autorização assemblear seja
obtida mesmo após a propositura da ação social.
Assim, ainda que a ação social tenha sido proposta sem a autorização, é possível que este vício
seja sanado e que a assembleia-geral confira a autorização durante a tramitação.
Isso se justifica porque essa autorização está relacionada com a capacidade da companhia de
estar em juízo (legitimatio ad processum). Logo, eventual irregularidade pode vir a ser sanada
após o ajuizamento da ação, devendo o juiz designar prazo para que a sociedade anônima faça
a regularização na forma do art. 76 do CPC/2015 (Art. 76. Verificada a incapacidade processual
ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo
razoável para que seja sanado o vício).
Art. 159. Compete à companhia, mediante prévia deliberação da assembleia-geral, a ação de
responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos causados ao seu patrimônio.
STJ. 3ª T. REsp 1778629-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 6/8/19 (Info 653).
1.2. SOCIEDADE LIMITADA: A sucessão civil e processual dos sócios de sociedade limitada,
extinta por meio do distrato, poderá ser efetivada por meio do procedimento de habilitação, mas
não pela via da desconsideração da personalidade jurídica – (Info 646)
A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110 do CPC/2015),
atraindo a sucessão material e processual com os temperamentos próprios do tipo societário e
da gradação da responsabilidade pessoal dos sócios.
Em sociedades de responsabilidade limitada, após integralizado o capital social, os sócios não
respondem com seu patrimônio pessoal pelas dívidas titularizadas pela sociedade, de modo
que o deferimento da sucessão dependerá intrinsecamente da demonstração de existência de
patrimônio líquido positivo e de sua efetiva distribuição entre seus sócios.
A demonstração da existência de fundamento jurídico para a sucessão da empresa extinta pelos
seus sócios poderá ser objeto de controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação,
que é previsto no art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no curso
de processo judicial.
A desconsideração da personalidade jurídica não é, portanto, via cabível para promover a
inclusão dos sócios em demanda judicial, da qual a sociedade era parte legítima, sendo medida
excepcional para os casos em que verificada a utilização abusiva da pessoa jurídica.
STJ. 3ª T. REsp 1.784.032-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/4/19 (Info 646).
OBS:
Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu
espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º.
Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os
interessados houverem de suceder-lhe no processo.
1.4. A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde
pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa – (Info
632)
1.5. Legitimidade passiva da Telebrás, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras
destas), para a ação de complementação de ações – (Info 630)
Legitimidade passiva da Telebrás (antiga empresa estatal), bem como das companhias
cindendas (ou sucessoras destas), para a ação de complementação de ações, na hipótese em que
as ações originárias tenham sido emitidas pela Telebrás.
A legitimidade passiva para a demanda por complementação de ações é definida de acordo
com as seguintes hipóteses:
1) Contrato de participação financeira celebrado com companhia independente não controlada
pela TELEBRÁS (ex.: CRT S/A): legitimidade passiva da companhia independente, ou da
sucessora desta (ex.: OI S/A);
2) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela
TELEBRÁS (ex.: TELESC S/A), e emissão originária de ações pela controlada: legitimidade
passiva da TELEBRÁS, bem como das companhias cindendas (ou sucessoras destas);
3) Contrato de participação financeira celebrado com companhia local controlada pela
TELEBRÁS, e emissão de ações pela TELEBRÁS: legitimidade passiva da TELEBRÁS, bem
como das companhias cindendas (ou sucessoras destas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.801-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 23/5/18 (recurso
repetitivo) (Info 630).
1.6. SOCIEDADE ANÔNIMA: Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento de
dividendos e outros rendimentos – (Info 627)
João poderá pedir a prestação de contas dos últimos 6 anos? NÃO. Somente dos últimos 3 anos.
Existe a previsão expressa de um prazo para a ação de exigir contas? Não. Não há um prazo
prescricional específico para o ajuizamento da ação de exigir contas, o que atrai, de modo geral, a
aplicação do prazo residual de 10 anos, constante do art. 205 do CC/02:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo
menor.
Desse modo, em princípio, o indivíduo que confiou a administração de seus bens a um terceiro
goza do prazo de 10 anos para exigir que o gestor de seus bens preste as respectivas contas.
Depois que o réu apresentar as contas, se ficar constatado que havia saldo em favor do autor, será
possível pedir o pagamento desta quantia no bojo da mesma ação. Veja-se que as pretensões de
exigir contas e a de obter o ressarcimento, na eventualidade de se apurar a existência de crédito
a favor do demandante, embora não se confundam, são umbilicalmente ligadas e
instrumentalizadas no bojo da mesma ação. Em razão disso, o prazo para se exigir contas deve
ser o mesmo prazo para se pedir o pagamento dos valores residuais que eventualmente existam.
Logo, não havendo na lei um prazo específico para a satisfação (“cobrança”) desse crédito,
oriundo da administração/gestão de bens alheios, o exercício dessa pretensão observa,
naturalmente, o mesmo prazo prescricional da ação de exigir as contas em que veiculada, que é de
10 anos.
Prazo para cobrança de dividendos é de 3 anos e, portanto, interfere no prazo para exigir contas :
O titular ações de uma sociedade anônima possui o prazo prescricional de 3 anos para exigir o
pagamento dos dividendos. Isso está previsto no art. 287, II, da Lei 6.404/76 (Lei das SA):
Art. 287. Prescreve: (...)
II - em 3 (três) anos:
a) a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido
postos à disposição do acionista;
Esse dispositivo legal dispõe sobre a ação de cobrança de dividendos. Não trata expressamente a
respeito da pretensão de exigir contas. Porém, como visto, não se pode deixar de reconhecer que
a pretensão do acionista de exigir contas da companhia não se exaure na sua simples prestação,
pois se destina, em última análise, à apuração do saldo de dividendos e, caso existente, também à
sua satisfação.
Em outras palavras, sendo de 3 anos o prazo prescricional de cobrança dos dividendos, também
deve ser de 3 anos o prazo prescricional para o ajuizamento da ação de exigir contas . Isso
porque o objetivo final do autor é o de receber o saldo que ele entende que pode existir.
1.7. Ação de regresso proposta pela empresa cindida contra a empresa resultante da cisão –
(Info 619)
No tocante à primeira classe, nos termos do art. 229, § 1º, da Lei das Sociedades Anônimas (LSA),
verifica-se que haverá indiscutível sucessão de direitos e obrigações relacionados no protocolo de
cisão:
Lei n. 6.404/76, Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere
parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim
ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o
seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do
patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações
relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que
absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na
proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não
relacionados.
Com efeito, com a cisão ocorrerá o aumento de capital da empresa destinatária , que absorverá a
parcela do patrimônio líquido cindido a título de integralização das ações subscritas em
benefício dos sócios da empresa cindida. Assim, há um completo entrelaçamento do quadro
societário das empresas em negociação. A atribuição de participação societária na empresa
receptora aos sócios da empresa cindida, na medida em que configura elemento essencial do
instituto jurídico, não pode ser afastada por mera disposição contratual, sob pena de absoluto
desvirtuamento do instituto jurídico.
1.8. SOCIEDADE LIMITADA: Quórum para exclusão judicial do sócio majoritário não inclui
as suas quotas – (Info 616) – Atenção! Juiz de Direito!
A exclusão judicial do sócio majoritário nas sociedades limitadas é disciplinada pelo art. 1.030
do Código Civil:
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído
judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no
cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
O que significa essa expressão “mediante iniciativa da maioria dos demais sócios” prevista no
art. 1.030 do CC? No cálculo dessa maioria deve-se incluir as quotas do sócio “acusado”?
Não. A lei é explícita ao falar em maioria dos demais sócios. Consideram-se apenas as quotas
dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir. Isso
porque o art. 1.030 é a oportunidade que a legislação confere aos sócios minoritários de
excluírem o sócio majoritário.
Assim, o quórum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no
cumprimento de suas obrigações deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade
limitada, excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1653421-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/10/17 (Info 616).
Segundo o art. 619, I, do CPC, o inventariante somente poderá fazer a alienação de bens de
qualquer espécie se ouvir previamente os interessados e desde que haja autorização judicial. O
inventariante, ao participar da assembleia geral, tinha o objetivo de alterar o estatuto social da
companhia para permitir a conversão de ações preferenciais em ordinárias, atendendo seu
interesse pessoal e de alguns outros herdeiros. Com a alteração realizada, os herdeiros detentores
de ações preferenciais, que não têm direito a voto, passariam a ter esse direito, o que poderia
modificar o controle acionário da companhia. Trata-se, portanto, de ato que extrapola a simples
administração.
Nesse contexto, não há como entender que o voto do inventariante para modificar a natureza
das ações e a própria estrutura de poder da sociedade anônima esteja dentro dos limites
estabelecidos pelo art. 618, II, do CPC.
1.11. SOCIEDADE ANÔNIMA: Definição do “valor justo de mercado” como critério a ser
utilizado para o cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante – (Info
611)
A definição do valor justo de mercado como critério a ser utilizado para o cálculo do valor de
reembolso das ações do acionista dissidente retirante, por ocasião da incorporação da
companhia controlada, não infringe o disposto no art. 45, § 1º, da Lei nº 6.404/1976 (Lei das
Sociedades por Ações).
A utilização do valor justo de mercado como parâmetro para indenizar as ações de acionista
retirante em caso de incorporação de companhias não fere a Lei das Sociedades Anônimas, e é
possível nos casos em que o valor do patrimônio líquido contábil da empresa incorporada não
reflita fielmente o valor daquelas ações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.572.648-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17 (Info 611).
1.12. SOCIEDADE LIMITADA: O herdeiro necessário não possui legitimidade para ação de
dissolução parcial de sociedade, salvo se for em defesa de interesse do espólio – (Info 611)
O herdeiro necessário não possui legitimidade ativa para propositura de ação de dissolução
parcial de sociedade em que se busca o pagamento de quotas sociais integrantes do acervo
hereditário quando não for em defesa de interesse do espólio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.672-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/8/17 (Info 611).
OBS: A jurisprudência do STJ até admite que, enquanto não for realizada a partilha, o herdeiro
necessário ingresse em juízo pedindo a dissolução parcial da sociedade empresária e a apuração
de haveres. No entanto, isso somente é admitido se o pedido for feito na defesa do interesse do
espólio. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.505.428-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe
27/6/2016.
No caso concreto, contudo, o herdeiro necessário não estava tutelando os interesses do espólio,
mas sim seus interesses individuais.
Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o
exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação
de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício.
Fundamento jurídico: art. 205 da Lei nº 6.404/76.
Ex: o indivíduo possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima. Em fev/2015, ele vendeu
suas ações. Em abril/2015, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou pagar aos
acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2014). Este indivíduo não
terá direito ao pagamento porque na data do ato de declaração do dividendo (data da
Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/8/17 (Info 610).
OBS:
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações nominativas à pessoa que, na
data do ato de declaração do dividendo, estiver inscrita como proprietária ou
usufrutuária da ação.
O autor vendeu suas ações em fevereiro de 2015. O ato de declaração do dividendo ocorreu em
abril de 2015 (data em que foi realizada a Assembleia Geral Ordinária). Neste momento, o autor já
não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. Logo, ele realmente não tinha mais
direito aos dividendos. O simples fato de o autor possuir as ações no período do exercício a que
correspondem os dividendos, não faz com que ele tenha direito aos dividendos considerando que
existe regra expressa no art. 205 exigindo que a pessoa esteja inscrita como proprietária ou
usufrutuária na data do ato de declaração do dividendo.
1.14. SOCIEDADE LIMITADA: Se parte das quotas do sócio retirante estão empenhadas
(penhor), a apuração dos haveres ficará limitada às quotas livres do ônus real – (Info 608)
A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio societatis pode ser requerida
pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres às suas quotas livres de ônus reais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/6/17 (Info 608).
Na hipótese em que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo indeterminado exerce
o direito de retirada por meio de inequívoca e incontroversa notificação aos demais sócios, a
data-base para apuração de haveres é o termo final do prazo de 60 dias, estabelecido pelo art.
1.029 do CC/02.
STJ. 3ª T. REsp 1.602.240-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/12/16 (Info 595).
1.16. SOCIEDADE ANÔNIMA: Dissolução parcial da sociedade anônima que não está
gerando lucros – (Info 595) – IMPORTANTE!!! – (MPRO-2010) (TRF3-2012) (TJSP-2018) (Aud.
Cont. Interno-CGE/CE-2019)
É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por grupos
familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir seu fim –
consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de dividendos aos acionistas –,
restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da companhia.
STJ. 3ª T. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 6/12/16 (Info 595).
(TRF4-2012): Segundo a jurisprudência prevalente, é possível a dissolução parcial de
sociedade anônima com a retirada dos sócios dissidentes, após a apuração de seus haveres.
(MPRO-2010-CESPE): É possível a dissolução parcial da sociedade anônima familiar fechada
quando houver quebra da affectio societatis, ainda que tal requisito não esteja necessariamente
conjugado com a perda de lucratividade e a ausência de distribuição de dividendos.
Morte de um dos sócios: Quando um dos sócios morre, haverá também, pelo menos a princípio,
a dissolução parcial da sociedade. Isso porque pode acontecer de os demais sócios quererem
continuar a sociedade. Veja o que estabelece a regra do art. 1.028 do CC, válida para as sociedades
simples, mas que pode ser aplicada supletivamente às sociedades limitadas (art. 1.053):
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:
I — se o contrato dispuser diferentemente;
II — se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; (obs.: aqui se
está falando da dissolução total)
III — se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
Apuração de haveres: O sócio que deixa uma sociedade tem direito de receber a sua parte no
patrimônio da sociedade. O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por
meio de um procedimento denominado de apuração de haveres, que está previsto no art. 1.031
do CC e no art. 599 do CPC/15. Da mesma forma, se um dos sócios morre, haverá, como vimos, a
dissolução parcial da sociedade, e os herdeiros do sócio falecido terão direito de receber a parte
que ele tinha na sociedade. Isso é feito por meio da apuração de haveres. Vejamos os dispositivos
citados:
Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor
da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á,
salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da
sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.
§ 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios
suprirem o valor da quota.
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da
liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.
Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto:
I — a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio
falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e
II — a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de
retirada ou recesso; ou
III — somente a resolução ou a apuração de haveres.
No art. 600 do CPC/15 estão listadas as pessoas que têm legitimidade para ingressar com a ação
de dissolução parcial de sociedade.
"Nessa fase, a sociedade ainda existe, ainda mantém a personalidade jurídica, mas
apenas para finalizar as negociações pendentes e realizar os negócios necessários à
realização da liquidação, tanto que deve operar com o nome seguido da cláusula em
liquidação, para que terceiros não se envolvam em novos negócios com a
sociedade." (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 5ª ed., São Paulo:
Atlas, 2013, p. 389).
Liquidante da sociedade: Como vimos, na dissolução total é necessária a fase de liquidação. Para
realizar este processo, deverá ser designada uma pessoa que irá exercer o papel de liquidante. O
liquidante é como se fosse um "administrador" da sociedade que foi dissolvida e será o
responsável pelas últimas providências necessárias ao encerramento da sociedade. Dentre as
atribuições do liquidante, compete a ele representar a sociedade e praticar todos os atos
necessários à sua liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar
quitação (art. 1.105 do CC).
1.20. Certidões negativas que podem ser exigidas na transformação de sociedade simples em
empresarial – (Info 574)
João era sócio em mais de 20 sociedades limitadas de grande porte. Determinado dia, João
morre. Foi instaurado um processo judicial de inventário e partilha dos bens de João, sendo
nomeada como inventariante a sua mulher sobrevivente. A inventariante deseja ingressar com
"ação de dissolução parcial da sociedade com apuração dos haveres" a fim de que seja
calculado o valor que seu marido falecido tinha direito em relação a cada uma das empresas.
O advogado da inventariante ficou, no entanto, com uma dúvida: o juízo competente para
julgar essa ação será a vara cível ou a vara de sucessões (onde já tramita o inventário do sócio
falecido)?
Compete ao juízo cível - e não ao juízo de sucessões no qual tramita o inventário - julgar, com
consequente apuração de haveres do de cujus, dissolução parcial de sociedade limitada que
demande extensa dilação probatória. No caso concreto, o juízo competente será a vara cível
porque eram muitas sociedades, exigindo ampla dilação probatória, o que é inviável no juízo
do inventário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.192-CE, Rel. originário Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão
João Otávio de Noronha, j. 23/6/2015 (Info 566).
1.22. SOCIEDADE LIMITADA: Legitimidade ativa para ação social – (Info 563)
Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios saem da
sociedade, mas ela é preservada e continua suas atividades.
Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso,
direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não
quer mais fazer parte daquela sociedade.
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social,
continuando a sociedade em relação aos demais sócios.
O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento
denominado de APURAÇÃO DE HAVERES.
Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante?
O mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606 do CPC 2015, que irá ser
bastante cobrado nas provas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para
acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/15 (Info 558).
1.25. SOCIEDADE ANÔNIMA: Prazo prescricional para cobrança de debêntures – (Info 526)
Quando um sócio deixa a sociedade (dissolução parcial de sociedade), deve-se calcular a parte
que lhe cabe no patrimônio social. A isso se chama “apuração de haveres”.
A possível repercussão econômica do renome de um dos sócios não integra o cálculo na
apuração de haveres em dissolução parcial de sociedade simples composta por profissionais
liberais. Isso porque o renome é atributo personalíssimo, intransferível, fora do comércio, e
não é passível de indenização a título de fundo de comércio.
STJ. 4ª Turma. REsp 958116-PR, Rel. originário Min. João Otávio de Noronha, Rel. para o acórdão
Min. Raul Araújo (art. 52, IV, b, do RISTJ), julgado em 22/5/2012.
2. TRESPASSE
2.1. A cláusula de não concorrência fixada por prazo indeterminado é abusiva – (Info 554) –
IMPORTANTE!!! – (TRF3-2018)
3. CONTRATO DE FRANQUIA
3.1. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o
art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 – (Info 591) – IMPORTANTE!!!
A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um
contrato de adesão.
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só
terá eficácia se o aderente:
tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou
em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo,
como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96.
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que
observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
CONTRATO DE FRANQUIA: A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa
(franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de
comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos
do franqueador para o franqueado. O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que
conceitua esse pacto nos seguintes termos:
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao
franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de
distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente,
também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio
ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante
remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo
empregatício.
Mas o contrato de franquia não é um contrato de consumo... Não importa. Essa confusão é um
erro comum em muitos estudantes. Nem todo contrato de adesão é um contrato de consumo e
nem todo contrato de consumo é de adesão. São conceitos diferentes. Portanto, o contrato de
franquia não é um contrato de consumo, mas, mesmo assim, é um contrato de adesão.
Regulamentação: A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei 9.307/96, havendo também alguns
dispositivos no CPC versando sobre o tema.
Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação
ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei
nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas
subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem)."
Desse modo, aplica-se ao contrato de franquia a regra prevista no § 2º do art. 4º da Lei 9.307/96:
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o
aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente,
com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito,
com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo,
como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.
3.2. Validade de notificação por e-mail para o exercício de direito de preferência (Info 570)
Em um contrato de franquia, havia uma cláusula segundo a qual a franqueadora teria direito
de preferência caso a fraqueada decidisse vender o estabelecimento comercial. Para isso,
quando a franqueada recebesse alguma proposta pelo imóvel, deveria notificar a franqueadora
para que esta decidisse se desejaria pagar o mesmo valor e, assim, ficar com o bem.
A franqueada recebeu uma proposta para vender o estabelecimento comercial e notificou a
franqueadora, por e-mail, para que esta exercesse seu direito de preferência.
O STJ entendeu que essa notificação por e-mail é válida.
No caso concreto, o Tribunal entendeu que a notificação realizada foi idônea porque: o
contrato não previa forma específica para a notificação; o correio eletrônico era o meio usual de
comunicação entre franqueadora e franqueado; houve ciência inequívoca da franqueadora
quanto à data do envio e do recebimento da mensagem; havia segurança da franqueadora
quanto à legitimidade do remetente já que ela sempre recebia e-mails do franqueado; e quanto
ao conteúdo, foram respeitados os requisitos estabelecidos na cláusula contratual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.545.965-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/9/2015
(Info 570).
4. FACTORING
4.1. Empresa de factoring que recebeu cessão dos créditos de contrato tem legitimidade para
figurar no polo passivo da ação que pede a revisão do pacto – (Info 608)
A empresa de factoring, que figura como cessionária dos direitos e obrigações estabelecidos
em contrato de compra e venda em prestações, de cuja cessão foi regularmente cientificado o
devedor, tem legitimidade para figurar no polo passivo de demandas que visem à revisão das
condições contratuais.
Ex: Pedro comprou da loja uma moto parcelada. No mesmo instrumento contratual, a loja
cedeu esse crédito para uma factoring. Assim, no próprio contrato de compra e venda havia
uma cláusula dizendo que a loja estava cedendo o crédito para a factoring, a quem o devedor
deveria pagar as parcelas e que, em caso de inadimplemento, a factoring iria pleitear a
restituição do bem vendido. Se Pedro desejar propor ação pedindo a revisão deste contrato,
poderá ajuizá-la diretamente contra a factoring.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.343.313-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Antônio
Carlos Ferreira, j. 1/6/17 (Info 608).
É desnecessária a notificação de emitente de cheque com cláusula "à ordem", para que o
faturizador que tenha recebido a cártula por meio de endosso possa cobrar o crédito decorrente
de operação de factoring.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.701-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/11/15 (Info 573).
4.3. Faturizada responde caso o título cedido à faturizadora seja inexistente – (Info 535) –
(TRF5-2015)
A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de factoring
vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. 20/2/2014 (Info 535).
4.4. As empresas de factoring não são instituições financeiras (não há relação de consumo no
contrato entre uma sociedade empresária e a factoring)
As empresas de factoring NÃO são instituições financeiras, visto que suas atividades regulares
de fomento mercantil não se amoldam ao conceito legal, tampouco efetuam operação de mútuo
ou captação de recursos de terceiros.
Uma sociedade empresária que contrata os serviços de uma factoring não pode ser considerada
consumidora porque não é destinatária final do serviço e, tampouco se insere em situação de
vulnerabilidade, já que não se apresenta como sujeito mais fraco, com necessidade de proteção
estatal.
Logo, não há relação de consumo no contrato entre uma sociedade empresária e a factoring.
STJ. 4ª Turma. REsp 938.979-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/6/2012.
5. TÍTULOS DE CRÉDITO
5.1. DUPLICATA: A aposição de número incorreto da fatura na duplicata invalida o título de
crédito, retirando-lhe a exigibilidade executiva extrajudicial – (Info 660) – Atenção! Juiz de
Direito!
O § 1º do art. 2º da Lei 5.474/68 prevê as informações que deverão constar em uma duplicata.
Uma das informações que deve obrigatoriamente constar na duplicata é o número da fatura
(inciso II).
Se na duplicata constou o número errado da fatura, isso invalida o título, tornando-o
inexigível. Isso porque o número da fatura é requisito legal da duplicata.
Assim, em observância ao princípio da literalidade, a aposição de número incorreto da fatura
na duplicata invalida o título de crédito, retirando-lhe a exigibilidade executiva extrajudicial.
STJ. 3ª T. REsp 1601552-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 05/11/19 (Info 660).
5.3. NOÇÕES GERAIS: A impenhorabilidade dos bens vinculados à Cédula de Produto Rural
(CPR) é absoluta, não podendo ser afastada para satisfação de crédito trabalhista – (Info 653)
O art. 18 da Lei nº 8.929/94 prevê que os bens vinculados à CPR são impenhoráveis:
Art. 18. Os bens vinculados à CPR não serão penhorados ou sequestrados por outras dívidas do
emitente ou do terceiro prestador da garantia real, cumprindo a qualquer deles denunciar a
existência da cédula às autoridades incumbidas da diligência, ou a quem a determinou, sob
pena de responderem pelos prejuízos resultantes de sua omissão.
Essa impenhorabilidade é considerada absoluta porque existe em virtude da lei e do interesse
público de estimular o crédito agrícola. Por essa razão, tal impenhorabilidade prevalece
mesmo se estivermos diante da execução de créditos de natureza trabalhista.
STJ. 4ª T. REsp 1327643-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/05/2019 (Info 653).
5.6. DUPLICATA: Não é possível a oposição de exceções pessoais à empresa de factoring que
comprou duplicata mercantil com aceite – (Info 640) – IMPORTANTE!!! Mudança de
Entendimento!!!
Genuinamente brasileiro: A duplicata foi criada pelo direito brasileiro, sendo considerada um
título genuinamente brasileiro.
Regulamentação: A duplicata é regida pela Lei 5.474/68 e, agora, também pela Lei 13.775/18.
Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura é o documento que descreve a compra e
venda mercantil ou a prestação de serviços. Na fatura constam a descrição e os preços dos
produtos vendidos ou do serviço prestado. A fatura não é título de crédito. O título é a duplicata,
que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência do contrato. Todas as
vezes que for celebrado um contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no
Brasil, com prazo não inferior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias,
o vendedor é obrigado a extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº
5.474/68). No caso de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda inferior a 30
dias, a emissão de fatura é facultativa.
Exemplo de emissão de duplicata: O distribuidor “SILVA & SOUZA Ltda.” vendeu para a loja
“Bompé” 70 pares de sapatos. O distribuidor (vendedor) extrai uma fatura dos produtos e emite
uma duplicata mercantil dando uma ordem à loja (compradora) para que pague a ele (vendedor)
o preço dos pares de sapato e eventuais encargos contratuais.
Espécies de duplicata:
Duplicata mercantil: emitida por causa da compra e venda mercantil;
Características da duplicata:
a) Título causal: a duplicata só pode ser emitida para documentar o crédito
decorrente de dois negócios jurídicos: a compra e venda mercantil ou a prestação
de serviços. Essa causa da duplicata é mencionada no próprio título. Por conta dessa
característica, alguns autores afirmam que se trata de um título impróprio. Obs: o
contrário dos títulos causais são os “não causais” ou “abstratos”, como o caso da
nota promissória.
b) Ordem de pagamento.
Remessa da duplicata para ACEITE: Aceite é o ato por meio do qual o sacado (comprador ou
tomador dos serviços) assina o título se obrigando a pagar o crédito ali descrito, na data do
vencimento. Assim, emitida a duplicata, nos 30 dias seguintes, o sacador (quem emitiu o título)
deve remeter o título ao sacado (comprador ou tomador dos serviços) para que ele assine a
duplicata no campo próprio para o aceite, restituindo-a ao sacador no prazo de 10 dias.
Recusa do aceite: Como vimos, o aceite é, em regra, obrigatório. As hipóteses previstas na lei em
que o aceite pode ser recusado estão relacionadas com situações em que o sacador (vendedor ou
prestador dos serviços) não cumpriu corretamente suas obrigações contratuais ou em que há
divergência entre aquilo que foi combinado no contrato e o que consta da duplicata. Vejamos:
Tipos de aceite:
a) aceite ordinário (expresso): ocorre quando o sacado (comprador ou tomador dos
serviços), não encontra nenhum problema em aceitar e, por isso, assina em um
campo próprio localizado na frente (anverso) do título, devolvendo-o em seguida.
b) aceite presumido: ocorre quando o sacado resolve não assinar ou não devolver a
duplicata assinada, no entanto, ao receber as mercadorias compradas, ele assinou
o comprovante de recebimento, sem fazer qualquer ressalva quanto aos bens
adquiridos. Ora, se ele recebeu normalmente as mercadorias é porque se presume
que o vendedor cumpriu sua obrigação contratual. Logo, esse comprador deveria ter
feito o aceite da duplicata. Nesses casos, o sacador deverá fazer o protesto do
sacado por falta de aceite ou por falta de pagamento. Diante disso, é admitido
como aceite presumido da duplicata: o comprovante de entrega das mercadorias
assinado pelo sacado acompanhado do instrumento do protesto do título por falta
de aceite ou falta de pagamento.
Protesto: Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião de protesto,
com a finalidade de provar:
i) a inadimplência do devedor;
ii) o descumprimento de obrigação constante de título de crédito; ou
iii) qualquer outro ato importante relacionado com o título (ex: falta de aceite).
No caso da duplicata, para que serve o protesto? O protesto poderá servir para provar três
situações distintas:
i) a falta de pagamento;
ii) a falta de aceite da duplicata;
iii) a falta de devolução da duplicata;
Vale ressaltar que João, sem conhecer muito bem as regras de direito cambiário, deu aceite nas
cinco duplicatas, ou seja, assinou-as na frente do título comprometendo-se a pagá-las mesmo sem
ter ainda recebido os móveis comprados.
Venda das duplicatas para a factoring: A empresa, precisando de dinheiro imediatamente para
ter capital de giro, procurou uma factoring e “vendeu” essas duplicatas (contrato de conventional
factoring). Em outras palavras, a empresa de modulados cedeu o crédito estampado nas
duplicatas para a factoring e, quando ocorresse o dia do vencimento de cada uma delas, quem
receberia o valor pago pelo cliente seria a própria factoring (e não mais a movelaria). Importante
registrar também que João foi notificado de que a empresa estava vendendo as duplicatas para a
factoring e contra isso não se opôs.
Abrindo um parêntese para explicar esse serviço da factoring: Factoring tradicional (conventional
factoring): nesta atividade, o empresário cede à factoring os títulos de crédito que recebeu em sua
atividade empresária e que somente irão vencer em uma data futura, e a empresa de factoring
antecipa esse pagamento, recebendo, como contraprestação, um percentual desses créditos.
Trata-se de uma forma de o empresário obter capital de giro nas vendas a prazo. Ex.: uma loja
recebe um cheque “pré-datado” (pós-datado) para 90 dias no valor de R$ 10 mil. Ocorre que a loja
precisa de dinheiro logo. Então, ela cede o cheque para a empresa de factoring, que irá pagar à
vista para a loja R$ 9.700,00 e, daqui a 90 dias, irá descontar o cheque, ficando com os R$ 10 mil. A
loja recebeu o crédito à vista e teve que pagar um percentual à factoring. É como se o cliente
tivesse “vendido” o título para a factoring, que irá cobrar do devedor no momento do
vencimento da dívida.
As exceções pessoais podem ser invocadas (alegadas) pelo emitente para deixar de pagar o
beneficiário do título. No entanto, em regra, as exceções pessoais não podem ser utilizadas
contra pessoas de boa-fé que receberam o título. Isso está previsto no art. 916 do Código Civil:
Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores
precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o
título, tiver agido de má-fé.
Assim, se Mário já havia passado a nota promissória para Juliana, uma terceira pessoa, e ela estava
de boa-fé, Juliana poderá executar o título cobrando o valor de Pedro. Este, coitado, ficará com o
celular quebrado e terá que pagar o valor do título para Juliana. Obviamente que, depois, Pedro
poderá tentar cobrar de Mário aquilo que foi pago. No entanto, repito, não poderá invocar contra
Juliana sua exceção pessoal porque o título circulou e agora encontra-se com alguém
considerado terceiro de boa-fé.
Voltando ao exemplo da factoring: A factoring (faturizadora) está cobrando de João o valor das
três duplicatas não pagas. João não quer pagar porque a mercadoria não foi entregue. João
(sacado) poderá invocar isso como exceção pessoal para não pagar à factoring? NÃO.
Alguém poderia falar: mas a duplicata é um título causal, ou seja, ela está relacionada com um
negócio jurídico. Se este negócio jurídico não foi cumprido, mesmo assim, a duplicata terá que ser
paga? A duplicata é um título causal no momento da sua emissão. No entanto, ela conserva essa
característica apenas até a emissão do aceite, expresso ou ficto, quando adquire feição e
qualidades próprias dos demais títulos de crédito, tanto que se admite a sua circulação, por
cessão ou endosso. Isso porque o aceite confere ao adquirente da duplicata uma segurança
jurídica de que o negócio que justificou a emissão do título foi cumprido. A certeza é transmitida
pelo próprio devedor (sacado) que, podendo recusar, aceitou o título. Assim, depois do aceite, a
duplicata perde o caráter causal, ou seja, desvincula-se do negócio jurídico que lhe deu causa.
Além disso, com a circulação (que ocorre com o endosso do título para terceiros), a duplicata
passa a ter duas outras características muito relevantes para o direito cambiário: autonomia e
abstração.
a) Autonomia: o possuidor de boa-fé (possuidor do título de crédito), ao cobrar esse
título, está exigindo um direito próprio (direito seu), que não pode ser atrapalhado
por conta de relações jurídicas anteriores entre o devedor e antigos possuidores do
título. Assim, o possuidor de boa-fé do título de crédito não tem nada a ver com o
fato de o título ter vícios ou defeitos anteriores. Se ele é o atual possuidor e está de
boa-fé, tem direito ao crédito (obs.: existem algumas exceções ao princípio da
autonomia, que não interessam no momento).
Esses dois princípios acima elencados têm por objetivo conferir segurança jurídica ao tráfego
comercial e à circulação do crédito. Se a pessoa que recebeu um título de crédito (aparentemente
válido) pudesse ficar sem o dinheiro por força de vícios anteriores ou por conta de uma quitação
que não consta na cártula, isso geraria um enorme risco ao portador, o que desestimularia as
pessoas a aceitarem títulos de crédito.
“A duplicata, título causal, pois nascido sempre de uma compra e venda a prazo,
com a assinatura do comprador desprende-se da causa que lhe deu origem já que o
comprador não apenas reconheceu a exatidão da mesma como a obrigação de
pagá-la na época do vencimento. A obrigação torna-se desse modo líquida, o que dá
maior segurança de recebimento não apenas ao sacador-vendedor como a qualquer
outra pessoa a quem o título seja transferido.” (MARTINS, Fran. Títulos de Crédito.
Vol. II. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 165).
A ausência de entrega da mercadoria não vicia a duplicata que já foi aceita. Assim, uma vez
aceita a duplicata, o sacado (aceitante) fica vinculado ao título como devedor principal e a
ausência de entrega da mercadoria não pode ser oponível ao endossatário de boa-fé (empresa de
factoring). Vale ressaltar que o aceitante (João) terá direito de regresso contra a endossante
(empresa de móveis), diante do descumprimento do negócio jurídico subjacente.
A empresa de factoring, mesmo trabalhando com isso, pode ser considerada como terceiro de boa-
fé? Em regra, sim. Não se pode presumir que a empresa de factoring, que celebrou mero contrato
de factoring tradicional (conventional factoring), tenha conhecimento se a empresa endossante está
ou não entregando as mercadorias ou prestando os serviços de forma pontual. Obviamente, seria
possível que o aceitante demonstrasse que tal situação é do conhecimento da empresa de
factoring, o que excluiria a sua boa-fé. Essa prova seria mais fácil caso o contrato que a factoring
tivesse com a empresa de móveis fosse mais amplo e abrangesse não apenas a “compra” de títulos
de crédito, prevendo também que a factoring desempenharia atividades de gerência financeira,
gestão de crédito e seleção de riscos em favor da empresa, o que não era o caso.
5.7. Não é necessária prévia autorização do cônjuge para que a pessoa preste aval em títulos
de créditos típicos – (Info 604) – NOVIDADE!!!
O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente pode prestar
aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de bens for da separação
absoluta).
Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob pena de descaracterizar o aval
como instituto cambiário.
Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para os títulos de
créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código Civil.
Por outro lado, os títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis especiais,
não precisam obedecer essa regra do art. 1.647, III, do CC.
Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de outorga uxória
ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória, cheque,
duplicata, cédulas e notas de crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 16/3/17 (Info 604).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.633.399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/11/2016.
OBS:
No que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem uma aplicação apenas
subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da regulamentação dos
títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a criação dos denominados títulos
atípicos ou inominados.
Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta regra é
incompatível com as características dos títulos de crédito típicos.
O aval consiste em uma declaração unilateral de vontade inserida no próprio título por meio da
qual o avalista declara garantir o pagamento do valor inscrito no título. É, portanto, um instituto
comercial muito mais ágil e informal do que a fiança, que é feita por intermédio de contrato.
A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o aval que, como
dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em regra, não tem contato
algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento de identificação deste por meio do
qual possa descobrir seu estado civil.
5.8. CHEQUE: Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque
– (Info 587) – IMPORTANTE!!! – (PCPA-2016) (PGM-BH/MG-2017)
Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção monetária
incide a partir da data de emissão estampada na cártula, e os juros de mora a contar da primeira
apresentação à instituição financeira sacada ou câmara de compensação.
STJ. 2ª S. REsp 1.556.834-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/6/16 (recurso repetitivo) (Info
587).
(PCPA-2016-FUNCAB): No tocante a crédito oriundo de cheque, o termo inicial para a
incidência de correção monetária e o dies a quo para a contagem de juros de mora são:
respectivamente, a data de emissão estampada na cártula e a data da primeira apresentação à
instituição financeira sacada ou câmara de compensação. BL: Info 587, STJ.
Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque com a
indicação do emitente como devedor.
STJ. 2ª S. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 (recurso repetitivo) (Info
584).
OBS:
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a
finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de
crédito ou de outros documentos de dívida.
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de
apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo
de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.
Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de
apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no
lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.”
E agora? O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de
expirado o prazo de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito
contra os coobrigados, para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do
título.
Em outras palavras, o art. 48 da Lei nº 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança dos
eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente).
O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o
cheque ainda não esteja prescrito.
Relembrando:
Prazo de apresentação do cheque : 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60
dias, se for de praça diferente.
Prazo prescricional para a execução do cheque : 6 meses, contados a partir do momento
em que termina o prazo de apresentação do cheque.
Resumindo:
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do direito de
regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação (art. 48 da Lei
7.357/85). Trata-se do chamado protesto necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo depois do
prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional. Esse é o
protesto facultativo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de
Noronha, j. 24/2/15 (Info 556).
5.10. DUPLICATA: Emissão de duplicata com base em mais de uma nota fiscal – (Info 581)
A tese da empresa foi acolhida pelo STJ? Houve irregularidade no fato de a duplicata se referir a
mais de uma nota fiscal? NÃO.
O que é uma nota fiscal? É um "Documento fiscal a ser obrigatoriamente emitido por
comerciantes e industriais, sempre que promoverem a saída de mercadorias ou a transmissão de
sua propriedade." (LOPES DE SÁ, Antônio; LOPES DE SÁ, Ana Maria. Dicionário de
Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1994). A nota fiscal prova que houve a realização de um negócio
jurídico sujeito à fiscalização tributária. Faz prova da entrada e saída de mercadorias de
estabelecimentos empresariais, acompanhando a sua entrega aos destinatários.
O que é a fatura? É um documento emitido pelo vendedor ou prestador de serviços no qual são
discriminadas as mercadorias que foram vendidas ou os serviços prestados. Na fatura constam a
descrição e os preços dos produtos vendidos ou do serviço prestado. Todas as vezes que for
celebrado um contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no Brasil, com
prazo não inferior a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor
é obrigado a extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº 5.474/68). No caso
de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda inferior a 30 dias, a emissão de
fatura é facultativa.
Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura não é título de crédito. O título é a
duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência do contrato.
Fatura pode abranger mais de uma nota: A duplicata só poder espelhar uma fatura, ou seja, para
cada fatura, uma duplicata. No entanto, a fatura pode corresponder à soma de diversas notas
parciais. A nota parcial é o documento representativo de uma venda parcial ou de venda
realizada dentro do lapso de um mês, que poderá ser agrupada a outras vendas efetivadas nesse
período pelo mesmo comprador. Não há proibição legal para que se somem vendas parceladas
procedidas no curso de um determinado período (ex: um mês), e do montante se formule uma
fatura única ao seu final.
5.11. DUPLICATA: Na duplicata mercantil o aceite não pode ser lançado em separado – (Info
580) – IMPORTANTE!!!
O aceite lançado em separado da duplicata mercantil não imprime eficácia cambiária ao título.
O aceite é ato formal e deve se aperfeiçoar na própria cártula (assinatura do sacado no próprio
título), incidindo o princípio da literalidade (art. 25 da LUG). Não pode, portanto, ser dado
verbalmente ou em documento em separado.
O aceite lançado em separado à duplicata não possui nenhuma eficácia cambiária, mas o
documento que o contém poderá servir como prova da existência do vínculo contratual
subjacente ao título, amparando eventual ação monitória ou ordinária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.334.464-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/3/2016
(Info 580).
OBS:
Art. 25. O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra 'aceite' ou
qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo sacado. Vale como
aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra.
Logo, o aceite lançado em documento que não seja a própria duplicata não possui nenhuma
eficácia cambiária.
O sacador ficará, então, no prejuízo? Não necessariamente. O sacador poderá utilizar este
documento no qual o sacado deu o aceite para ajuizar uma ação monitória ou ação ordinária de
cobrança (art. 16 da Lei 5.474/68). Assim, o aceite realizado fora da duplicata faz com que esta não
tenha força de título cambial. No entanto, este documento no qual foi aposto o aceite pode servir
como prova da obrigação, instrumentalizando ação monitória ou ordinária.
Título executivo extrajudicial: A nota promissória é um título executivo extrajudicial (art. 585, I,
do CPC). Assim, se não for paga, poderá ser ajuizada ação de execução cobrando o valor.
Qual é o prazo prescricional para a execução da nota promissória contra o emitente e o avalista?
Esse prazo é de 3 anos (art. 70 da Lei Uniforme de Genebra - Decreto nº 57.663/66).
Mesmo que tenha transcorrido esse prazo e a nota promissória tenha perdido sua força executiva
(esteja prescrita), ainda assim será possível a sua cobrança? SIM. O beneficiário terá duas opções
para cobrar o valor contido na nota promissória:
1) Poderá ajuizar ação monitória.
Súmula 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente
de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao
vencimento do título.
2) Poderá propor ação de locupletamento, com base no art. 48 do Decreto nº
2.044/1908:
Art. 48. Sem embargo da desoneração da responsabilidade cambial, o sacador ou o
aceitante fica obrigado a restituir ao portador, com os juros legais, a soma com a
qual se locupletou à custa deste.
Dica: pelo fato de o art. 48 do Dec. 2044/08 prever uma ação específica para cobrar o valor do
título, não deve o autor ingressar com ação de enriquecimento sem causa baseada no art. 884 do
Código Civil. Isso porque a ação de enriquecimento sem causa amparada no Código Civil não tem
cabimento caso a lei já preveja outro meio especificamente estabelecido para o ressarcimento do
prejuízo. Veja a redação do art. 884: "Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir
ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido".
O autor da ação de locupletamento deverá provar a causa debendi, ou seja, a causa que deu
origem a emissão do título? Ex: a nota promissória foi emitida por João pelo fato de ele ter
comprado um celular de Pedro. Esse negócio jurídico que deu origem à emissão da nota
promissória precisa ser provado pelo autor da ação de locupletamento? NÃO. Apesar de existir
controvérsia na doutrina acerca da natureza dessa ação de locupletamento do art. 48, prevalece
que se trata de uma "ação de natureza cambiária" (ação cambial), na medida em que amparada
no título de crédito que perdeu sua força executiva (e não na relação jurídica que deu origem à sua
emissão), além de estar prevista na legislação de regência de tais títulos. Desse modo, nas ações
cambiais não é necessário comprovar a causa debendi. Repare também que o aludido art. 48 fala
que a ação de locupletamento pode ser proposta pelo "portador" do título de crédito. Ora, se o
referido Decreto (que tem força de lei) faculta essa possibilidade ao portador, significa dizer que
ele não se importa com a relação jurídica que deu causa a este título, uma vez que, se pensarmos
na hipótese de título que tenha circulado, o portador não teria como fazer prova da relação
jurídica subjacente. Dessa maneira, a posse, pelo portador, da nota promissória não paga e
prescrita gera a presunção juris tantum de veracidade do locupletamento ilícito havido pelo não
pagamento (em contrapartida ao empobrecimento do portador do título), nada obstante seja
assegurada a amplitude de defesa ao réu.
Qual é o prazo prescricional de que dispõe o autor para ajuizar essa ação de locupletamento da
nota promissória prescrita? 3 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da ação
executiva.
Como o Dec. 2044/08 não prevê prazo prescricional específico para o exercício dessa pretensão,
utiliza-se o prazo previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC, de acordo com o qual prescreve em "três
anos" "a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa".
Cuidado:
Ação de locupletamento envolvendo NOTA PROMISSÓRIA (art. 48 do Decreto nº
2.044/1908): prazo prescricional de 3 anos.
Ação de locupletamento envolvendo CHEQUE (art. 62 da Lei n.º 7.357/85) : prazo
prescricional de 2 anos.
6. PROTESTO
6.1. Credor que havia protestado o título tem o dever de fornecer carta de anuência para
cancelamento do protesto, mas para isso precisa haver um pedido do devedor – (Info 638) –
IMPORTANTE!!!
Não há como impor tacitamente ao credor o dever de enviar, sem provocação, o documento
hábil ao cancelamento do legítimo protesto.
O credor tem o inequívoco dever de fornecer o documento hábil ao cancelamento do protesto,
mas para isso precisa ser previamente provocado.
Assim, se o devedor paga ao banco um título de crédito que estava protestado, o banco deverá
fornecer uma carta de anuência com a qual o devedor poderá cancelar o protesto. No entanto, o
credor não tem o dever de fornecer este documento automaticamente. É necessário que haja um
requerimento (um pedido) daquele que pagou.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.584-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 9/10/18 (Info 638).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE O PROTESTO
O que é um protesto de título? Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo
tabelião, com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação
constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.
Regulamentação: O protesto é regulado pela Lei nº 9.492/97.
Quem é o responsável pelo protesto? O tabelião de protesto. "O particular não pratica o protesto,
mas solicita ao Tabelião que o pratique. Este pode, depois de analisar os requisitos formais do
documento, negar-se a tal lavratura, caso encontre vício que justifique a negativa. (...) O protesto
é, pois, ato do tabelião de Protesto, que o pratica por provocação do interessado, depois de
respeitado o procedimento legal." (BUENO, Sérgio Luiz. O protesto de títulos e outros documentos de
dívida. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2011, p. 20 e 21)
Quais são as vantagens de o credor realizar o protesto? Existem inúmeros efeitos que decorrem
do protesto; no entanto, as duas principais vantagens para o credor são as seguintes:
a) serve como meio de provar que o devedor está inadimplente;
b) funciona como uma forma de coerção para que o devedor cumpra sua obrigação
sem que seja necessária uma ação judicial (como o protesto lavrado gera um abalo
no crédito do devedor, que é inscrito nos cadastros de inadimplentes, a doutrina
afirma que o receio de ter um título protestado serve como um meio de cobrança
extrajudicial do débito; ao ser intimado do protesto, o devedor encontra uma forma
de quitar seu débito).
Qual é o objeto do protesto? O que pode ser protestado? Segundo o art. 1º da Lei 9.492/97:
Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a
inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos
e outros documentos de dívida.
Assim, conclui-se que podem ser levados a protesto:
a) títulos de crédito e
b) outros documentos de dívida.
O que é um documento de dívida? Documento de dívida é todo e qualquer meio de prova escrita
que comprove a existência de uma obrigação líquida, certa e exigível.
RESPONSABILIDADE PELA BAIXA DO PROTESTO APÓS O PAGAMENTO
Procedimento até ser registrado o protesto do título:
1) o credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo
que se proceda ao protesto e informando os dados e endereço do devedor;
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto
devedor no endereço apresentado pelo credor (art. 14);
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague
ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado;
Após a intimação, poderão ocorrer quatro situações:
4.1) o devedor pagar (art. 19);
4.2) o apresentante desistir do protesto e retirar o título (art. 16);
4.3) o protesto ser sustado judicialmente (art. 17);
4.4) o devedor ficar inerte ou não conseguir sustar o protesto.
5) se ocorrer as situações 4.1, 4.2 ou 4.3: o título não será protestado;
6) se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o
protesto).
Imaginemos que o devedor foi intimado (etapa 4), mas não pagou nem conseguiu sustar o
protesto. O que aconteceu então? O título foi protestado.
Após um tempo, esse devedor quis comprar um carro financiado, no entanto, não conseguiu
porque o banco constatou a existência desse título protestado e, por essa razão, não liberou o
crédito. O devedor decidiu, então, pagar o título protestado. Com o pagamento do débito, será
possível retirar a anotação desse título protestado? SIM.
Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade de retirar o
protesto lavrado? NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR providenciar o
cancelamento do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor. Segundo o
STJ, a Lei nº 9.492/97 não impõe ao credor o dever de retirar o protesto. Veja:
Art. 26. O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no
Tabelionato de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação
do documento protestado, cuja cópia ficará arquivada.
Desse modo, quando o art. 26 da Lei 9.492/97 fala que o cancelamento do registro de protesto
pode ser solicitado por qualquer interessado, a melhor interpretação é a de que o principal
interessado é o devedor, de forma que a ele cabe, em regra, o ônus do cancelamento. O tema foi
pacificado em recurso especial repetitivo:
Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o cancelamento
do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor. No regime
próprio da Lei nº 9.492/97, legitimamente protestado o título de crédito ou outro
documento de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao
devedor, após a quitação da dívida, providenciar o cancelamento do protesto. STJ. 2ª
Seção. REsp 1339436-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/9/2014
(recurso repetitivo) (Info 549).
Esse entendimento vale mesmo que se trate de uma relação de consumo, ou seja, que o devedor
seja um consumidor e o credor um fornecedor? SIM. Cabe ao devedor que paga posteriormente a
dívida o ônus de providenciar a baixa do protesto em cartório, sendo irrelevante se a relação era
de consumo (STJ. 4ª Turma. REsp 1.195.668/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 11/9/2012).
A solução jurídica acima aplica-se também no caso de inscrição em cadastros de inadimplentes
(exs: SERASA/SPC)? NÃO. A posição acima explicada vale apenas para os casos de
cancelamento de título protestado. Na hipótese de devedor inserido em cadastro de
inadimplentes (ex: SERASA, SPC), a solução é diferente. Veja:
CADASTRO DE INADIMPLENTES REGISTRO DE PROTESTO
Se a dívida é paga, quem tem o dever de retirar Se o título é pago, quem tem o dever de retirar o
o nome do devedor do cadastro (ex: SERASA)? protesto que foi lavrado?
O CREDOR (no prazo máximo de 5 dias). O próprio DEVEDOR.
Fundamento: art. 43, § 3º do CDC (por Fundamento: art. 26 da Lei nº 9.492/1997.
analogia).
CREDOR TEM O DEVER DE ENVIAR AUTOMATICAMENTE O DOCUMENTO NECESSÁRIO
PARA QUE CREDOR POSSA DAR BAIXA NO PROTESTO?
Imagine a seguinte situação hipotética: Cláudia tinha uma dívida com o banco, materializada em
uma nota promissória, cujo vencimento era janeiro de 2016. Como ela não pagou, o banco
apresentou o título a protesto, o que foi efetivado em março de 2016. Em abril de 2016, Cláudia
conseguiu receber uma rescisão trabalhista e, aproveitando o dinheiro, imprimiu novo boleto do
banco na internet e pagou a dívida principal, com juros e multa (quitação integral). Em agosto de
2016, Cláudia tentou comprar uma televisão a prazo, mas não conseguiu crédito porque foi
informada pela loja, que seu nome constava no SERASA em razão de um protesto do banco.
Chateada, Cláudia procurou um advogado querendo processar o banco por não ter feito o
cancelamento do protesto depois de ela ter pagado. O advogado que atendeu Cláudia sempre
acompanhava a jurisprudência e explicou para a cliente que, infelizmente, ela, enquanto
devedora, é quem tinha o ônus de providenciar o cancelamento do protesto, conforme decidiu o
STJ no REsp 1339436-SP. Cláudia perguntou do advogado como ela poderia fazer esse
cancelamento e o profissional explicou que ela deve levar até o cartório a “carta de anuência” do
banco. Carta de anuência é um documento no qual o credor declara que o título de crédito que
havia sido protestado já foi pago e que, portanto, ele não se opõe ao cancelamento do protesto.
Cláudia, então, disse: quando eu paguei o débito, o banco deveria ter me enviado por correio essa
carta de anuência. Eles falharam comigo. Quero processar. Diante disso, Cláudia ajuizou ação de
indenização por danos morais contra o banco argumentando que houve negligência do banco em
não lhe enviar automaticamente o documento que ela necessitava (“carta de anuência”) para dar
baixa no protesto.
O STJ concordou com o pedido de Cláudia? NÃO. Não há como impor tacitamente ao credor o
dever de enviar, sem provocação, o documento hábil ao cancelamento do legítimo protesto. O
credor tem o inequívoco dever de fornecer o documento hábil ao cancelamento do protesto, mas
para isso precisa ser previamente provocado. STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.584-PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 9/10/18 (Info 638).
Situação diferente seria se o banco, mesmo após o pagamento, recusasse ou dificultasse o
fornecimento da declaração. Aí haveria ato ilícito passível de indenização.
6.2. Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito, mas cuja dívida ainda
poderia ser cobrada por outros meios – (Info 616) – Atenção! Juiz de Direito!
O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a ensejar danos
morais ao devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas para a cobrança da dívida
consubstanciada no título.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.772-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/11/17 (Info 616).
OBS:
O que é o cheque? O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela instituição
financeira.
“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete
efetuar pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse
pagamento. Esse terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque deverá
ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco efetuará o pagamento das
ordens que lhe forem sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível
sempre no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento sempre à
vista).” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo:
Atlas, 2011, p. 218).
Personagens:
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
Título executivo: O cheque é título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC 2015). Assim, se não
for pago, o portador do cheque poderá ajuizar ação de execução contra o emitente e eventuais
codevedores (endossantes, avalistas). Essa ação de execução é conhecida como “ação cambial”.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento dentro
do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o direito de executar os
codevedores. Poderá continuar executando o emitente do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que
não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação
cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de
pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis
durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável
(art. 47, § 3º, da Lei n. 7.357/85).
Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque? 6 meses, contados do fim do prazo de
apresentação do cheque. Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o
prazo de apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado. Logo, os seis meses
iniciam-se com o fim do prazo de 30 dias (mesma praça) ou com o término do prazo de 60 dias
(se de praças diferentes).
Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança? SIM. Com o fim do
prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque. Diz-se que o cheque
perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim o beneficiário poderá cobrar o valor desse
cheque por outros meios, quais sejam:
1) Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no art. 61 da Lei do
Cheque (Lei 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos, contados do dia em que se consumar a
prescrição da ação executiva.
2) Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo é de 5 anos, nos
termos do art. 206, § 5º, I, CC.
3) Ação monitória.
Desse modo, estando o cheque prescrito (sem força executiva), ele poderá ser cobrado do emitente
por meio de ação monitória? SIM. O beneficiário do cheque poderá ajuizar uma ação monitória
para cobrar do emitente o valor consignado na cártula. Existe até uma súmula que menciona isso:
Súmula 299-STJ: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João emitiu um cheque em
favor da empresa “ABC”. A empresa tentou efetuar o saque da quantia, mas não havia fundos
disponíveis. 1 ano depois, ou seja, quando o cheque já estava prescrito, a empresa “ABC” levou
este título para protesto. João ingressou, então, com ação declaratória de nulidade de protesto de
título c/c pedido de indenização por danos morais contra a empresa “ABC” alegando que ela
levou a protesto um cheque prescrito.
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a
finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de
crédito ou de outros documentos de dívida.
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de
apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo
de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de
execução.
Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o prazo de
apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no
lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação.”
E agora? O STJ afirma que a exigência imposta no art. 48 de que o protesto ocorra antes de
expirado o prazo de apresentação do cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele
feito contra os coobrigados, para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente
do título. Em outras palavras, o art. 48 da Lei 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança
dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal (emitente). O
protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação, desde que o
cheque ainda não esteja prescrito.
Relembrando:
Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do pagamento ou 60
dias, se for de praça diferente.
Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do momento
em que termina o prazo de apresentação do cheque.
6.3. Intimação por edital e necessidade de esgotamento dos meios de localização do devedor –
(Info 579) – IMPORTANTE!!! - (Cartórios/TJRJ-2017)
O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve esgotar os meios de localização,
notadamente por meio do envio de intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele
que procedeu ao apontamento do protesto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso repetitivo) (Info 579).
OBS:
Procedimento até ser registrado o protesto do título:
1) o credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que se proceda
ao protesto e informando os dados e endereço do devedor;
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no
endereço apresentado pelo credor (art. 14 da Lei nº 9.492/97);
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou providencie
a sustação do protesto antes de ele ser lavrado;
Intimação: Como vimos acima, o tabelião irá determinar a intimação do devedor para que, no
prazo de 3 dias, pague ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado. As regras
da intimação estão previstas nos arts. 14 e 15 da Lei nº 9.492/97.
Hipóteses de intimação por edital: A intimação será feita por edital se a pessoa indicada para
aceitar ou pagar (devedor) for:
a) desconhecida;
b) tiver sua localização incerta ou ignorada;
c) for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato; ou
d) caso ninguém se disponha a receber a intimação no endereço fornecido.
Esgotar todos os meios: Segundo a jurisprudência do STJ, a intimação do protesto por edital
somente pode ser considerada meio hábil para a caracterização da mora se tiverem sido esgotadas
todas as possibilidades de se localizar o devedor. Assim, se o apresentante tiver fornecido algum
endereço do devedor, o tabelião só poderá intimá-lo por edital se primeiro tentar enviar a
intimação para este endereço e não conseguir que ninguém o receba.
Cédula de Crédito Bancário (CCB) com garantia: É um título de crédito extremamente comum na
atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004. Quando uma
pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que este
mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o
emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel
(CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida
no prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo
extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em
caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando
a CCB, que é, como vimos, título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições
exigem que o mutuário, além de emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem
imóvel, cessão fiduciária de bens móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia.
Diante desta diversidade de locais, indaga-se: onde deverá ser lavrado este protesto? Em São
Paulo (capital) ou em Campinas. Foi a tese fixada pelo STJ em recurso repetitivo.
A determinação para que o protesto seja feito no local indicado pelo título como praça de
pagamento está prevista no art. 28, parágrafo único, do Decreto 2.044/1908:
Art. 28. A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de pagamento
deve ser entregue ao oficial competente, no primeiro dia útil que se seguir ao da
recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respectivo protesto, tirado dentro de três
dias úteis.
Parágrafo único. O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra para o aceite
ou para o pagamento. Sacada ou aceita a letra para ser paga em outro domicílio que
não o do sacado, naquele domicílio deve ser tirado o protesto.
Também pode ser admitido que o protesto ocorra no domicílio do devedor porque isso se mostra
mais vantajoso para ele, de forma que não poderá invocar qualquer nulidade no ato.
6.5. Não cancelamento do protesto pela prescrição do título cambial – (Info 562) - (TJPB-2015)
(PCPA-2016)
João não pagou uma nota promissória que emitiu em favor da empresa “XX”. Diante disso, a
empresa levou a nota promissória a protesto no Tabelionato de Protesto. Quatro anos depois, a
empresa ajuizou execução de título extrajudicial contra João cobrando o valor estampado na
nota promissória. A execução, contudo, foi extinta porque o juiz constatou que houve
prescrição da ação executiva. João ajuizou ação de cancelamento do protesto, alegando que,
como houve a prescrição da execução, deveria automaticamente ocorrer o cancelamento do
protesto realizado. A tese de João está correta?
NÃO. A prescrição da pretensão executória de título cambial não enseja o cancelamento
automático de anterior protesto regularmente lavrado e registrado. A validade do protesto não
está diretamente relacionada com a exequibilidade do título ou de outro documento de dívida,
mas sim com a inadimplência e o descumprimento da obrigação representada nestes papéis.
A inadimplência e o descumprimento não desaparecem com a mera prescrição do título
executivo não quitado. Em outras palavras, o devedor continua sendo inadimplente, apesar de
o título não poder mais ser cobrado mediante execução. Então, não pode o protesto ser
cancelado simplesmente pelo fato de ele não poder ser mais executado.
Vale lembrar que, mesmo havendo a prescrição da ação executiva, o credor ainda poderá cobrar
o valor da nota promissória por meio da ação monitória.
STJ. 4ª Turma. REsp 813.381-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/11/2014 (Info 562).
Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade de retirar o
protesto lavrado?
NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o cancelamento do
protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor.
No regime próprio da Lei 9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito ou outro
documento de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor,
após a quitação da dívida, providenciar o cancelamento do protesto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.339.436-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/9/14 (recurso repetitivo)
(Info 549).
6.7. Simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que de forma
indevida, não gera dano moral
O simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que de forma
indevida, é incapaz de gerar dano moral a quem quer que seja.
O dano moral somente ocorrerá se o protesto indevido for efetivado, ou seja, se, após 3 dias da
intimação, não houver pagamento ou sustação, ocasião em que o protesto será lavrado.
Apenas com a efetivação do protesto, este é registrado e se torna público, trazendo efeitos
negativos à pessoa protestada, que será, inclusive, incluída nos cadastros negativos de crédito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.005.752-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/6/2012.
7. CHEQUE
7.1. CHEQUE: Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento – (Info 584) –
IMPORTANTE!!! – VIDE INFO 528 DO STJ!
O banco sacado não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação ajuizada com o
objetivo de reparar os prejuízos decorrentes da devolução de cheque sem provisão de fundos
emitido por correntista.
Ex: João emitiu um cheque em favor de Paulo. Este foi até o banco tentar sacar a quantia, mas o
cheque foi recusado por falta de fundos. Paulo ajuizou ação de indenização contra o banco
alegando que houve má prestação do serviço bancário. Isso porque a instituição financeira
deveria ser mais cautelosa e diligente ao fornecer talonário de cheques aos seus clientes,
verificando se são bons pagadores, se possuem renda suficiente, se já têm conta há muito
tempo etc. Tal pedido não encontra amparo na jurisprudência do STJ.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.509.178-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/10/2015 (Info
574).
Resumindo...
Não há defeito na prestação do serviço bancário quando ocorre devolução de cheque desprovido
de fundos, sendo o emitente do cheque o único responsável pelo pagamento da dívida.
7.3. Ausência de responsabilidade do banco por cheque cancelado que não é pago – (Info 564)
O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Ex: o cheque foi emitido dia 01/07, mas
ficou combinado que ele só seria apresentado dia 01/09. Em suma, no caso de cheque pós-
datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?
NÃO. A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de
prescrição do título.
Assim, mesmo em caso de cheque pós-datado, o prazo para apresentação deve ser contado a
partir da data da emissão, não importando o dia futuro combinado com o beneficiário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013 (Info
528).
É cabível a indenização por danos morais pela instituição financeira quando o cheque
apresentado fora do prazo legal e já prescrito é devolvido sob o argumento de insuficiência de
fundos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.353-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 16/10/2012.
8. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
8.1. Prazo prescricional da repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de crédito
rural – (Info 592)
8.2. Invasão do MST e exigibilidade de cédula de crédito rural hipotecária – (Info 589)
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não é fato
suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser analisada,
concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto (necessariedade e
inevitabilidade – art. 393, parágrafo único, do Código Civil).
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da propriedade
rural pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da obrigação. Deverá também
provar que não havia meios de evitar ou impedir os seus efeitos.
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o MST
invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão constitui óbice
intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios de evitar ou impedir os
efeitos dessa ocupação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/8/16 (Info 589).
O contrato de abertura de crédito rotativo, ainda que acompanhado dos extratos relativos à
movimentação bancária do cliente, não constitui título executivo.
Aplica-se a Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de
extrato da conta-corrente, não é título executivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.022.034-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 12/3/2013.
Adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC) é um serviço por meio do qual o banco faz a
antecipação de recursos para o exportador, em moeda nacional (Reais), enquanto ele não recebe
o dinheiro da exportação.
Os encargos derivados de adiantamento de contratos de câmbio se submetem aos efeitos da
recuperação judicial da devedora.
O exportador que celebrou um ACC terá que, depois de um tempo que for combinado,
devolver ao banco os recursos que a ele foram adiantados. Ocorre que, além da quantia
principal adiantada, o exportador também terá que pagar outros valores acessórios, como juros,
multa, taxas etc.
• Os valores relacionados com adiantamento a contrato de câmbio não se sujeitam aos efeitos
da falência, por força do § 4º do art. 49 da Lei 11.101/05. São considerados créditos
extraconcursais.
• Por outro lado, os ENCARGOS derivados de adiantamento de contratos de câmbio:
submetem-se aos efeitos da recuperação judicial da empresa devedora. Isso significa que o
banco, para receber os encargos, terá que sujeitar esse crédito às regras de pagamento da
recuperação judicial.
STJ. 3ª T. REsp 1810447-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/11/19 (Info 661).
A empresa “J” tomou dinheiro emprestado junto a um banco e a empresa “E” foi avalista .
Antes do vencimento, a empresa “E” entrou em recuperação judicial.
Esse crédito do banco deverá ser habilitado na recuperação judicial e poderá ser cobrado da
empresa “E” (avalista)?
Depende. O art. 5º, I, da Lei nº 11.101/2005 preconiza:
Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
I – as obrigações a título gratuito;
Esse art. 5º, I, tem como objetivo impedir que o devedor, já com dificuldades para adimplir
dívidas decorrentes de obrigações de natureza onerosa, seja também compelido a satisfazer
aquelas pelas quais não recebera qualquer contrapartida, circunstância que implicaria quebra
de isonomia e prejuízo a quem se tornou credor e cumpriu, a contento, a contraprestação
respectiva.
Assim, será necessário verificar se esse aval prestado pela empresa teve natureza onerosa ou
gratuita, para que se determine se a garantia se sujeita ou não ao processo de recuperação
judicial.
STJ. 3ª T. REsp 1829790-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/11/19 (Info 661).
11.4. FALÊNCIA: Empresa 1 deu bens em garantia de um contrato celebrado com a Empresa 2;
Empresa 1 está em processo de falência e a Empresa 2 está em recuperação judicial; compete ao
juízo da falência decidir sobre esses bens do falido que foram dados em garantia – (Info 659)
Compete ao Juízo falimentar decidir sobre os bens do falido dados em garantia em favor de
sociedade empresária em recuperação judicial ainda que pendente decisão no juízo arbitral
sobre eventual descumprimento de obrigações entre as partes.
STJ. 2ª Seção. CC 166591-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 23/10/19 (Info 659).
11.5. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL: FUNDO DE INVESTIMENTO: Fundo encerrado
possui legitimidade para ser réu em ação de reparação de danos proposta por credor do Fundo que
alega que a liquidação não foi correta considerando que, antes de haver a partilha do saldo entre
os cotistas, deveria lhe ter sido paga uma dívida – (Info 656)
11.6. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Não é necessário que o contrato de compra e venda com
reserva de domínio tenha sido registrado no cartório para que ele fique excluído da recuperação
judicial, conforme previsto no § 3º do art. 49 da Lei 11.101/2005 – (Info 654)
Os créditos concernentes a contrato de compra e venda com reserva de domínio não estão
sujeitos aos efeitos da recuperação judicial da compradora, independentemente de registro da
avença em cartório.
STJ. 3ª T. REsp 1725609-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/8/19 (Info 654).
O art. 48 da Lei 11.101/2005 elenca requisitos que deverão ser cumpridos pelo devedor para que
ele possa requerer recuperação judicial.
O primeiro requisito é a previsão de que o devedor deverá estar exercendo regulamente suas
atividades há, no mínimo, 2 anos no momento do pedido.
As sociedades empresárias integrantes de grupo econômico devem demonstrar
individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos (art. 48 da Lei
11.101/05) de exercício regular de suas atividades para postular a recuperação judicial em
litisconsórcio ativo.
STJ. 3ª T. REsp 1665042-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/06/19 (Info 652).
Crédito em moeda estrangeira que deveria ter sido ou foi habilitado em concordata preventiva
(Decreto-Lei 7.661/45) que posteriormente vem a migrar para a recuperação judicial (Lei
11.101/05) deve ser convertido em moeda nacional pelo câmbio do dia em que foi processada a
concordata preventiva.
STJ. 4ª T. REsp 1319085-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/5/19 (Info 651).
11.11. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: O prazo do stay period, previsto no art. 6º, § 4º da Lei
11.101/05, deve ser computado em dias corridos – (Info 649)
11.12. RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Agravo de instrumento interposto contra decisão que julga
impugnação de crédito pode se submeter à técnica da ampliação do colegiado (art. 942, § 3º, II, do
CPC/2015) – (Info 649)
A reserva de 40% dos honorários do administrador judicial, prevista no art. 24, § 2º, da Lei
11.101/05, não se aplica no âmbito da recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1700700-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/2/19 (Info 642).
OBS:
Art. 24. (...)
§ 2º Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao administrador
judicial para pagamento após atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei.
O art. 25, §4º da LRF determina que 40% da remuneração do administrador judicial deve ser
reservado para pagamento posterior, após atendidas as previsões dos arts. 154 e 155:
• O art. 154 prevê que, após a realização do ativo e de ser distribuído o produto
entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo
de 30 dias.
• O art. 155 afirma que, depois de o magistrado julgar as contas do administrador
judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de 10 dias.
Os arts. 154 e 155 estão localizados topograficamente na seção XII do capítulo V, ou seja, na parte
da lei que trata especificamente do “Encerramento da Falência e da Extinção das Obrigações do
Falido”. Uma vez que o art. 24, § 2º, da LRF diz que o pagamento dos honorários somente pode
ser feito após a realização de procedimentos que estão relacionados diretamente com a falência ,
o que se conclui é que este dispositivo não se aplica para os processos de recuperação judicial.
Isso significa que se o legislador quisesse que a reserva de 40% da remuneração devida ao
administrador fosse regra aplicável também aos processos de recuperação judicial, ele teria
mencionado no art. 24, § 2º expressamente o art. 63 da Lei. No entanto, ele não fez isso, e o art. 24,
§ 2º fala apenas nos arts. 154 e 155 (que se aplicam apenas à falência).
11.18.Conceito de bem de capital para os fins do § 3º do art. 49 da Lei nº 11.101/2005 – (Info 634)
– IMPORTANTE!!!
A Lei 11.101/05, embora tenha excluído expressamente dos efeitos da recuperação judicial o
crédito de titular da posição de proprietário fiduciário de bens imóveis ou móveis, acentuou
que os “bens de capital”, objeto de garantia fiduciária, essenciais ao desenvolvimento da
atividade empresarial, permanecem na posse da recuperanda durante o stay period.
A conceituação de “bem de capital”, referido na parte final do § 3º do art. 49 da LRF, há de ser
objetiva. Assim, “bem de capital” é o bem corpóreo (móvel ou imóvel) utilizado no processo
produtivo da empresa recuperanda e que não seja perecível nem consumível.
STJ. 3ª Turma. REsp 1758746-GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25/9/18 (Info 634).
OBS:
Créditos que estão sujeitos à recuperação judicial: Na recuperação judicial, a empresa devedora,
que está “sufocada” por dívidas, irá pagar os seus credores de uma forma mais “suave”, a fim de
que consiga quitar todos os débitos e se manter funcionando. Assim, os credores da empresa em
recuperação judicial são inscritos no “quadro geral de credores”, e cada um receberá seu crédito
de acordo com o que for definido no plano de recuperação. Um dos temas importantes sobre esse
assunto é saber quais créditos estão sujeitos à recuperação judicial, ou seja, quais credores irão ter
que receber seus créditos conforme o plano de recuperação.
Regra: Em regra, estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do
pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput, da Lei 11.101/05). Ex: a
empresa tem que pagar uma dívida com um fornecedor daqui a 9 meses; se o pedido de
recuperação foi feito hoje, esse crédito já será incluído nas regras da recuperação judicial, mesmo
que ainda não tenha chegado a data do vencimento.
Consequência dessa regra: Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação judicial, os
credores irão receber conforme o plano. Como consequência disso, em regra, as ações e execuções
que tramitam contra a empresa em recuperação são suspensas para poder não atrapalhar a
execução do plano. Veja:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação
judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...)
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em
hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias
contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após
o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e
execuções, independentemente de pronunciamento judicial.
Esse prazo em que haverá a pausa momentânea das ações e execuções é chamado de stay period
e tem por objetivo permitir que o devedor em crise consiga negociar, de forma conjunta com
todos os credores (plano de recuperação) e, ao mesmo tempo, preservar o patrimônio do
empreendimento, que ficará livre, por um determinado período de respiro, de eventuais
constrições (ex: penhora) de bens necessários à continuidade da atividade empresarial. Com isso,
minimiza-se o risco de haver uma falência.
Exceções à regra: A regra acima exposta (caput do art. 49) possui exceções que estão elencadas
nos §§ 3º e 4º. Dessa feita, nesses parágrafos estão previstos determinados créditos que NÃO se
sujeitam aos efeitos da recuperação judicial. Veja o § 3º, que interessa para explicar o julgado:
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens
móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente
vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se
submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de
propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se
refere o § 4º do art. 6º (chamado de “stay period”) desta Lei, a venda ou a retirada
do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade
empresarial.
Créditos decorrentes de alienação fiduciária enquadram-se no § 3º: Se a empresa em recuperação
tinha um contrato de alienação fiduciária com o credor “X” e este credor tinha, como garantia da
dívida, a propriedade fiduciária de um bem que está na posse da empresa, esse crédito”
enquadra-se no § 3º. Ex: a empresa tinha feito uma alienação fiduciária para adquirir um
caminhão “XYZ”; como não tinha dinheiro para pagar à vista, fez um financiamento e o veículo
ficou na propriedade fiduciária do banco “ABC”, sendo usado pela empresa (tinha a posse direta
do bem). Se a empresa entra com pedido de recuperação judicial, esse crédito do banco não está
submetido aos efeitos do plano de credores. Em outras palavras, a empresa terá que continuar
pagando as prestações da mesma forma que já estava ajustada no contrato e, se atrasar, o banco
poderá propor a ação de busca e apreensão.
Ressalva da parte final do § 3º: O § 3º traz uma ressalva: mesmo que o crédito se enquadre nas
situações descritas no § 3º, a empresa não poderá perder o estabelecimento onde está situada,
assim como também não poderá ser privada dos bens de capital essenciais a sua atividade
empresarial. Ex: se o caminhão “XYZ” (acima mencionado) é o único utilizado pela empresa,
sendo essencial para a sua atividade empresarial, o banco “ABC” não poderá ajuizar a ação de
busca e apreensão. Ele terá que se submeter às regras da recuperação judicial. Essa situação dura,
no máximo, 180 dias, conforme prevê o § 4º do art. 6º.
Resumindo:
1) REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido
de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Devem obedecer ao plano de
recuperação e as ações ficam suspensas.
11.19. Ação de indenização por danos morais contra empresa em recuperação judicial – (Info
627) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)
A ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial não
deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de
soerguimento.
STJ. 3ª T. REsp 1710750-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/18 (Info 627).
(TJPA-2019-CESPE): Considerando o recente entendimento do STJ a respeito da suspensão do
curso da prescrição e das ações e execuções ajuizadas contra o devedor quando do
deferimento do processamento da recuperação judicial pelo prazo de cento e oitenta dias,
assinale a opção correta: Ação de compensação por danos morais movida contra empresa em
recuperação judicial não deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final
proferida no processo de soerguimento. BL: Info 627, STJ.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi ofendido e maltratado pelo motorista da empresa
de ônibus “Viplan”. Em razão disso, ajuizou ação de indenização por danos morais que foi
julgada procedente, condenando a pagar R$ 5 mil. O credor requereu o cumprimento de sentença,
o que estava tramitando na 6ª Vara Cível. Ocorre que a Viplan ingressou com pedido de
recuperação judicial. O juiz da Vara de Falência deferiu o pedido de recuperação judicial. Diante
disso, o juiz da 6ª Vara Cível decidiu suspender o processo de cumprimento de sentença, nos
termos do art. 6º, § 4º da Lei 11.101/05:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação
judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. (...)
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese
nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do
deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do
prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções,
independentemente de pronunciamento judicial.
Depois de alguns anos de tramitação, o Juiz da Vara de Falência entendeu que estavam cumpridas
as obrigações e decretou, por sentença, o encerramento da recuperação judicial (art. 63 da Lei
11.101/05). Um dos credores, contudo, não concordou e apelou contra a sentença. Foi o tempo que
o advogado de João lembrou do processo e pediu ao Juiz da 6ª Vara Cível que retomasse o
cumprimento de sentença, pedido que foi acolhido pelo magistrado. A Viplan, porém, recorreu
contra a decisão do Juiz da 6ª Vara Cível alegando que não se mostra plausível a retomada das
execuções individuais após o mero decurso do prazo de 180 dias, sob pena de violação ao
princípio da continuidade da empresa. Argumentou que o cumprimento de sentença deverá
permanecer suspenso até a conclusão final da recuperação judicial.
Agiu corretamente o juiz da 6ª Vara Cível? SIM. O STJ possui precedentes nos quais já admitiu
que os processos permaneçam suspensos mesmo depois do decurso do prazo de 180 dias
previsto no art. 6º, § 4º da Lei nº 11.101/2005: Nesse sentido:
(...) 2. De acordo com o entendimento deste Tribunal Superior, admite-se a
prorrogação do prazo suspensivo das ações e execuções ajuizadas em face da
sociedade em crise econômico-financeira, previsto no art. 6º, § 4º, da Lei n.
11.101/05. (...) STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
12/06/2013.
11.20.
Crédito derivado de fato ocorrido antes da recuperação judicial – (Info 626) –
IMPORTANTE!!! Concurso Juiz de Direito!
JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a
recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de
empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre
processadas e julgadas na Justiça estadual.
Habilitação dos créditos: Depois que a recuperação judicial é decretada ocorre a habilitação dos
créditos que deverão ser pagos pela empresa recuperanda. Assim, as pessoas que tiverem
créditos para receber da empresa em recuperação deverão apresentá-los ao administrador judicial,
na forma do art. 9º da Lei 11.101/05. A verificação dos créditos será realizada, então, primeiro pelo
administrador judicial, com base nos livros contábeis e nos documentos comerciais e fiscais do
devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores. A partir desse trabalho
inicial, confecciona-se um edital cujo teor pode ser alterado por novas habilitações ou divergências
quanto aos créditos ali relacionados.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: Em janeiro de 2017, Lucas consumiu leite estragado
comprado no Supermercado BR. Em fevereiro de 2017, ele ajuizou ação de indenização por danos
morais contra o Supermercado. Ocorre que a referida empresa vinha enfrentando realmente sérias
dificuldades econômicas e, em setembro de 2017, ingressou com pedido de recuperação judicial,
que foi aceito. Em outubro de 2017, o juiz julgou o pedido de Lucas procedente e condenou a
empresa a pagar R$ 50 mil ao consumidor. Houve o trânsito em julgado. Diante disso, Lucas
ingressou com pedido de habilitação de seu crédito no processo de recuperação judicial . No
entanto, o juiz da recuperação judicial não aceitou o pedido sob a alegação de que o crédito do
consumidor se constituiu com a sentença, o que ocorreu em data posterior ao ajuizamento da
recuperação judicial. Assim, para o magistrado, o crédito de Lucas não está sujeito à
recuperação judicial, conforme prevê o art. 49 da Lei 11.101/05:
Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do
pedido, ainda que não vencidos.
Agiu corretamente o magistrado? NÃO. Realmente, por força do art. 49 da Lei 11.101/2005, os
créditos posteriores ao pedido de recuperação judicial não se submetem aos seus efeitos. Nesse
sentido: STJ. 4ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1494870/DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
06/09/2016. Assim, o juiz está certo quando afirma isso.
Qual foi, no entanto, o equívoco do magistrado? Considerar que o crédito de Lucas surgiu
apenas com a sentença. Isso não é verdade. O crédito de Lucas decorreu do ato ilícito praticado
pelo Supermercado, fato ocorrido antes do pedido de recuperação judicial. A constituição de um
crédito pressupõe a existência de um vínculo jurídico entre as partes e não se encontra
condicionada a uma decisão judicial. Em outras palavras, o crédito surge antes da sentença, que
apenas declara a existência do crédito. Assim, tratando-se de vínculo jurídico decorrente de
evento que causou dano ao consumidor, a constituição do crédito correspondente não se dá com a
prolação da decisão judicial que o reconhece e o quantifica, mas com a própria ocorrência daquele
evento. O sujeito prejudicado (em nosso exemplo, Lucas) assume a posição de credor da
reparação civil derivada de ato lesivo contra ele intentado desde sua prática, e não com a
declaração judicial de sua ocorrência. Tanto é assim que, nas hipóteses de responsabilidade civil
extracontratual, o marco inicial de fluência dos juros decorrentes da mora do devedor são
contados da data do evento danoso (Súmula 54/STJ).
Não se aplica, no caso, a suspensão de que trata o art. 6º, § 4º da Lei 11.101/05 (Na recuperação
judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo
improrrogável de 180 dias contado do deferimento do processamento da recuperação,
restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas
ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial)? NÃO. Não se aplica o art. 6º,
§ 4º, da Lei de Falências como óbice à homologação da sentença arbitral, uma vez que se está em
fase antecedente à execução, apenas emprestando eficácia jurídica ao provimento homologando.
Logo, o pedido de homologação não se enquadra no conceito de “ações” ou “execuções” de que
trata o art. 6º, § 4º.
11.22. A habilitação de crédito deverá limitar a incidência de juros de mora e correção monetária
até a data do pedido de recuperação judicial mesmo que a sentença diga de forma diversa – (Info
610)
JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a
recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de
empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas
e julgadas na Justiça estadual.
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral
de credores.
Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções: Após o devedor apresentar o
plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o
recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação de eventuais objeções. Os credores
serão chamados a analisar esse plano e, se não concordarem com algo, poderão apresentar
objeção. O prazo para os credores apresentarem objeções é de 30 dias.
Se não houver objeção dos credores: Caso nenhum credor apresente objeção ao plano no prazo
fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será necessária a convocação
de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano.
Se houver objeção por parte dos credores: Havendo objeção de algum credor, o juiz deverá
convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de recuperação
apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos pertinentes, poderá:
a) aprovar o plano sem ressalvas;
b) aprovar o plano com alterações;
c) não aprovar o plano.
Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, § 1º).
Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação judicial, iniciando-
se a fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores
e apenas homologado pelo juiz.
“BONDHOLDERS”
Noções gerais: Tem sido cada vez mais comum que empresas brasileiras emitam títulos (ou papeis
representativos de dívida) no mercado internacional como uma forma de captar recursos.
Assim, é como se fosse um “empréstimo” que a empresa obtém no exterior emitindo títulos em
favor dos investidores estrangeiros. Esses títulos de dívida são conhecidos como bonds
(“obrigação”) e os investidores que adquirem esses títulos são chamados de bondholders
(“obrigacionistas”). Assim, os bondholders são investidores que adquiriram títulos de dívida
(bonds) emitidos por companhias brasileiras que buscaram financiar suas atividades no exterior.
A emissão desses bonds é instrumentalizada (formalizada) por meio de uma escritura (indenture),
que deve indicar o nome do agente fiduciário (indenture trustee) responsável por atuar em favor
dos investidores finais. Essa escritura (indenture) deverá estabelecer os direitos e deveres dos
titulares (bondholders), quais são emissores e os garantidores dos títulos e também quem é o agente
fiduciário (indenture trustee) que funciona como representante dos interesses dos bondholders.
Os bondholders são credores da empresa. Caso a empresa que emitiu os títulos requeira a
recuperação judicial, os bondholders poderão participar da Assembleia Geral de Credores? SIM.
Os bondholders, diretamente ou por meio do agente fiduciário, poderão participar da Assembleia
Geral de Credores, possuindo direito de voz e voto. Em regra, no processo de recuperação
judicial, consta apenas o nome do agente fiduciário na lista de credores.
Ocorre que, na realidade, os verdadeiros titulares do interesse econômico-financeiro, que sofrerão
diretamente os efeitos da reorganização empresarial, são os investidores finais (bondholders), pois
são eles os reais credores das recuperandas. Por esse motivo, é possível conferir a possibilidade de
os bondholders votarem diretamente nas assembleias de credores, a fim de que possam deliberar
acerca de questões que guardam relação direta com seus interesses.
11.24. O crédito trabalhista decorrente de serviço prestado pelo empregado antes da recuperação
judicial a ela estará sujeito – (Info 604)
11.25. O juízo da recuperação judicial é o competente para decidir sobre os bens da empresa
devedora mesmo que tramite em outro juízo execução cobrando crédito decorrente de relação de
consumo – (Info 598) – (TJPB-2015)
Depois de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial, todas as ações e
execuções contra o devedor que está em recuperação judicial ficam suspensas, excetuadas as
que demandarem quantia ilíquida (§ 1º do art. 6º da Lei nº 11.101/2005) e as execuções fiscais
(§ 7º).
Além de as ações e execuções contra o devedor em recuperação ficarem suspensas, o destino do
patrimônio da sociedade em processo de recuperação judicial não poderá ser atingido por
decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob
pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial. Em outras
palavras, qualquer decisão que afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada
pelo juízo onde tramita a recuperação.
O juízo onde tramita o processo de recuperação judicial é o competente para decidir sobre o
destino dos bens e valores objeto de execuções singulares movidas contra a recuperanda, ainda
que se trate de crédito decorrente de relação de consumo.
Ex: João comprou uma geladeira em uma loja. O produto apresentou vício e o consumidor
propôs, no Juizado Especial, ação de indenização contra o fornecedor. O juiz julgou o pedido
procedente, condenando a empresa a pagar R$ 10 mil. Como não houve pagamento
espontâneo, o magistrado determinou a penhora on line da quantia. Ocorre que, em março de
2017, antes que o dinheiro penhorado fosse transferido para João, o Juízo da Vara Cível deferiu
a recuperação judicial da referida loja. Como já foi deferida a recuperação judicial, a
competência para decidir sobre o patrimônio do devedor passa a ser do juízo da recuperação
judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.702-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/02/17 (Info 598).
(PGM Goiânia-2015-UFG): O Município de Goiânia ajuizou execução fiscal em face de
empresa prestadora de serviços que acumulava débitos relativos a tributos municipais. No
curso da execução fiscal houve a falência da empresa devedora. Nesse contexto, o produto da
alienação dos bens penhorados deve ser repassado ao Juízo universal da falência, para
apuração das preferências do crédito.
OBS:
Decisões sobre o patrimônio da empresa que está em recuperação deverão ser tomadas pelo juízo
onde tramita a recuperação: Além de as ações e execuções contra o devedor em recuperação
ficarem suspensas, o STJ afirma também que o destino do patrimônio da sociedade em processo
de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele
onde tramita o processo de reerguimento, sob pena de violação ao princípio maior da preservação
da atividade empresarial, insculpido no art. 47 da LFRE. Em outras palavras, qualquer decisão
que afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita a
recuperação. Nesse sentido:
(...) o destino do patrimônio da empresa em processo de soerguimento judicial ou
falimentar, como no presente caso, não pode ser atingido por decisões prolatadas
por juízo diverso daquele da recuperação ou da falência. STJ. 2ª Seção. CC
137.178/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 28/09/16.
Vale ressaltar que, mesmo em processos de execução fiscal – hipóteses nas quais a lei
expressamente prevê a continuidade de tramitação (art. 6º, § 7º), o STJ tem entendido que, embora
as ações não se suspendam, compete ao juízo universal da recuperação dar seguimento a atos que
envolvam a expropriação de bens do acervo patrimonial do devedor. Dito de outro modo, depois
de deferida a recuperação judicial, as execuções fiscais prosseguem, mas os atos de expropriação
deverão ser decididos pelo juízo onde tramita a recuperação judicial. Confira:
(...) A execução fiscal não se suspende com o deferimento da recuperação judicial;
todavia, fica definida a competência do Juízo universal para dar seguimento aos atos
constritivos ou de alienação. STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 140.021/MT, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, j. 10/08/2016.
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João comprou uma geladeira
em uma loja de departamentos ("Atacadão dos Eletros"). O produto apresentou vício e o
consumidor, como não conseguiu resolver a questão, foi obrigado a propor, em abril de 2016, ação
de indenização por danos morais e materiais contra a loja. A ação proposta por João tramita no
Juizado Especial. O juiz julgou o pedido procedente, condenando a empresa a pagar R$ 10 mil em
favor do autor. Como não houve pagamento espontâneo, o magistrado determinou a penhora on
line da quantia, tendo a medida tido sucesso, ou seja, foi localizado e penhorado esse valor em
uma das contas bancárias da loja. Ocorre que, em março de 2017, antes que o dinheiro penhorado
fosse transferido para João, o Juízo da Vara Cível deferiu a recuperação judicial da "Atacadão dos
Eletros".
Neste caso, o juiz do Juizado Especial poderá determinar a transferência do valor para João?
NÃO. Como já foi deferida a recuperação judicial, a competência para decidir sobre o patrimônio
do devedor passa a ser do juízo da recuperação judicial. Foi o decidido no Info 598 do STJ.
Uma vez deferido o pedido de recuperação judicial, fica obstada (proibida) a prática de atos
expropriatórios por juízo distinto daquele onde está tramitando o processo recuperacional. Isso
vale mesmo para créditos decorrentes de relação de consumo, como no caso do exemplo acima
dado.
Mesmo já tendo havido penhora, como no exemplo? SIM. Mesmo que a penhora já tenha sido
realizada em data anterior ao deferimento do pedido de recuperação judicial, ainda assim os
próximos atos de expropriação somente poderão ser decididos pelo juízo da recuperação judicial:
A jurisprudência desta Corte assentou-se no sentido de que, decretada a falência ou
deferido o processamento da recuperação judicial, as execuções contra o devedor
não podem prosseguir, ainda que exista prévia penhora. Na hipótese de adjudicação
posterior levada a efeito em juízo diverso, o ato deve ser desfeito, em razão da
competência do juízo universal e da observância do princípio da preservação da
empresa. STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/6/13.
O juízo da recuperação é o que está mais próximo da realidade das empresas em dificuldades,
tendo, por isso, maiores condições de definir se as medidas constritivas incidentes sobre seus
acervos patrimoniais podem ou não comprometer o sucesso do plano de reerguimento.
Admitir a não sujeição de valores objeto de execuções singulares à vis attractiva do foro
recuperacional representaria clara afronta aos princípios da universalidade e unidade do juízo e
da preservação da empresa.
Indaga-se: a Assembleia Geral de Credores poderá dispensar as garantias que haviam sido
prestadas por terceiros? SIM. Na deliberação do plano de recuperação os credores negociam com
a empresa devedora e decidem a extensão de esforços e renúncias que estão dispostos a suportar,
no intento de reduzir os prejuízos que se avizinham. Apesar disso não ser exigido pela lei, os
credores poderão decidir dispensar as garantias real e fidejussórias se assim entenderem
pertinente.
Esta decisão da Assembleia vincula também os credores que não estavam presentes? SIM. Essa
deliberação atinge a todos os credores, inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os
que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo.
Todos eles, indistintamente, estarão vinculados a essa determinação. Nesse sentido é também a
opinião da doutrina:
"Em princípio, todos os credores anteriores ao pedido de recuperação judicial estão
sujeitos aos efeitos do plano de recuperação aprovado em juízo. Mesmo os que
haviam se oposto ao plano e votado por sua rejeição devem se curvar à decisão
judicial respaldada na maioria dos credores. Não tem outra alternativa. Se no plano
aprovado em juízo é prevista a substituição de determinada garantia real por outra
de menor valor, o credor atingido simplesmente não tem meios para se opor ao
mérito dessa medida, por mais que considere seus interesses injustamente
sacrificados." (COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de
Recuperação de Empresas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 236)
É possível, em tese, que o Poder Judiciário faça o controle de legalidade do plano de recuperação
judicial aprovado pela assembleia geral de credores? SIM.
Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem imiscuir-se na
análise da viabilidade econômica da empresa em crise, promova controle de
legalidade do plano de recuperação judicial. Esse controle de legalidade do plano de
recuperação não significa a desconsideração da soberania da assembleia geral de
credores. À assembleia geral de credores compete analisar, a um só tempo, a
viabilidade econômica da empresa, assim como da consecução da proposta
apresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pela validade das
manifestações expendidas, e, naturalmente, preservar os efeitos legais das normas
que se revelarem cogentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591).
11.27. Submissão de credor dissidente a novo plano de recuperação judicial aprovado pela
assembleia geral de credores – (Info 580)
Se, após o biênio de supervisão judicial e desde que ainda não tenha ocorrido o encerramento
da recuperação judicial, houver aprovação de novo plano de recuperação judicial, o credor que
discordar do novo acordo não tem direito a receber o seu crédito com base em plano anterior
aprovado pelo mesmo órgão.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.735-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2016 (Info
580).
11.28. Não sujeição à recuperação judicial de direitos de crédito cedidos fiduciariamente – (Info
578)
Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de crédito cedidos
fiduciariamente por ele em garantia de obrigação representada por Cédula de Crédito Bancário
existentes na data do pedido de recuperação, independentemente de a cessão ter ou não sido
registrada no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor.
Ex: determinada empresa recebeu um empréstimo de um banco. Como garantia de que iria
pagar este empréstimo, ela cedeu fiduciariamente uma CCB. Posteriormente, esta empresa
entrou em recuperação judicial. O banco possui, portanto, um crédito a ser pago pela empresa
representado por meio da CCB. Este crédito do banco não entrará na recuperação judicial.
A situação enquadra-se no art. 49, § 3º da Lei nº 11.101/2005.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2015 (Info 578).
OBS:
Imagine agora a seguinte situação adaptada: A empresa "LWS" recebeu mútuo bancário de R$ 2
milhões e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de Crédito Bancário (CCB). Além
disso, como garantia, fez a cessão fiduciária para o banco de títulos e direitos que ela possuía para
receber. Em outras palavras, a empresa tinha valores para receber no futuro (daqui a alguns dias,
meses ou anos) de alguns devedores e cedeu fiduciariamente tais créditos para o banco. Se ele
pagasse o empréstimo, o banco "devolveria" os créditos; caso se tornasse inadimplente, o banco se
tornaria, em definitivo, proprietário dos valores.
Cédula de Crédito Bancário com garantia (CCB): É um título de crédito extremamente comum na
atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº 10.931/2004. Quando uma
pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário, a instituição financeira exige que este
mutuário emita, em favor do banco, uma cédula de crédito bancário, que é um papel no qual o
emitente se compromete a pagar para o beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel
(CCB) fica em poder do credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida
no prazo, o credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo
extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº 10.931/2004). Em
caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente não exigem garantia, bastando
a CCB, que é título executivo. No entanto, se a quantia for grande, as instituições exigem que o
mutuário, além de emitir a cédula, forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão
fiduciária de bens móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia.
Voltando ao exemplo: Após alguns meses, a referida empresa "LWS" entrou em recuperação
judicial. Diante disso, os demais credores da empresa queriam que este título e os créditos que
foram cedidos para o banco fossem trazidos para a recuperação judicial a fim de que servissem
para pagar as dívidas.
O pedido dos credores deverá ser aceito? Estes créditos cedidos fiduciariamente pela empresa
para o banco deverão se submeter às regras da recuperação judicial? NÃO. Estes créditos cedidos
ao banco fiduciariamente como garantia da dívida não deverão entrar na recuperação judicial, ou
seja, estarão excluídos das regras da recuperação judicial porque se tratam de uma exceção à regra
do caput do art. 49, nos termos do § 3º do mesmo artigo. Veja:
§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens
móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente
vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se
submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de
propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação
respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se
refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do
devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.
Os credores argumentaram que esta cessão fiduciária dos créditos não teria validade porque não
foi registrada no cartório do Registro de Títulos e Documentos. Esta tese foi acolhida pelo STJ?
NÃO. Não é necessário que a cessão de crédito realizada tenha sido registrada em cartório.
Mesmo sem registro no RTD, esta cessão feita pela sociedade empresária ao banco é válida. Foi o
que decidiu o STJ. A alienação fiduciária de bens móveis fungíveis, quando o credor fiduciário for
instituição financeira, é regida pelo art. 66-B da Lei nº 4.728/65. Esta Lei não exige o registro para
que haja a constituição da propriedade fiduciária.
O único efeito extra no caso de as partes decidirem fazer o registro do contrato é que, com essa
providência, ele passará a produzir efeitos em relação a terceiros, ampliando a sua publicidade.
No entanto, o contrato já é válido mesmo que celebrado apenas entre as partes e sem registro.
Vale ressaltar, ainda, que o art. 42 da Lei nº 10.931/2004 prevê que "a validade e eficácia da
Cédula de Crédito Bancário não dependem de registro, mas as garantias reais, por ela
constituídas, ficam sujeitas, para valer contra terceiros, aos registros ou averbações previstos na
legislação aplicável, com as alterações introduzidas por esta Lei."
No caso, a garantia dada não foi real, mas sim de bens móveis (títulos e direitos creditícios). Logo,
não era necessário registro ou averbação.
Ainda que o plano de recuperação judicial já tenha sido homologado, é possível a retificação
do quadro geral de credores fundada em julgamento de impugnação.
STJ. 3ª T. REsp 1.371.427-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/8/2015 (Info 567).
Tendo sido decretada a recuperação judicial, as ações e execuções que tramitavam contra a
empresa em recuperação serão suspensas. A dúvida que surge é a seguinte: além da suspensão
das ações e execuções, o deferimento da recuperação judicial acarreta também a retirada do
nome da empresa do SPC, SERASA e demais cadastros negativos? A empresa em recuperação
judicial tem direito tirar seu nome dos serviços de restrição de crédito e tabelionatos de
protesto? NÃO. O deferimento do processamento de recuperação judicial, por si só, não enseja
a suspensão ou o cancelamento da negativação do nome do devedor nos cadastros de restrição
ao crédito e nos tabelionatos de protestos.
O deferimento do processamento de recuperação judicial suspende o curso das ações e
execuções propostas em face do devedor. Como vimos acima, isso está expressamente previsto
no art. 6º, caput e § 4º, da Lei nº 11.101/2005. Contudo, essa providência (suspensão das ações e
execuções) não significa que o direito dos credores (direito creditório propriamente dito) tenha
sido extinto. A dívida continua existindo.
Assim, se a dívida continua existindo (e apenas a execução é que está suspensa), não se pode
aceitar a retirada do nome da empresa em recuperação dos serviços de proteção ao crédito e
tabelionato de protesto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.259-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info
564).
11.31. Extinção das execuções individuais propostas contra devedor em recuperação judicial –
(Info 564)
11.32. Mudança de domicílio da sociedade em recuperação judicial e prova da má-fé – (Info 564)
– (Advogado/Telebras-2015)
Os créditos que surgiram após o pedido de recuperação judicial não estão sujeitas ao plano de
recuperação judicial aprovado, independentemente da natureza do crédito. Em outras palavras,
o plano de recuperação abrange apenas as dívidas da empresa que foram contraídas antes do
pedido de recuperação. As dívidas posteriores estão fora do plano.
Assim, se, após a empresa ter feito um pedido de recuperação judicial, surgiu contra si um
novo débito de honorários advocatícios sucumbenciais, o advogado que for credor dessa
dívida, para receber a quantia, não precisará habilitar esse crédito no juízo universal da
recuperação judicial. O credor poderá executar esses honorários no juízo comum, não ficando a
execução suspensa por força da recuperação judicial.
No entanto, apesar disso, o juízo universal da recuperação judicial deverá exercer o controle
sobre os atos de constrição ou expropriação patrimonial do devedor. O juízo universal da
recuperação pode decidir, por exemplo, que determinado bem da empresa não deverá ser
penhorado porque é essencial à atividade empresarial e, se fosse expropriado, isso prejudicaria
a sobrevivência da sociedade empresária que está em recuperação. Ex: no juízo comum o
credor pediu a penhora da principal máquina da indústria que está em recuperação judicial; o
juízo universal da recuperação pode obstar que essa coisa seja penhorada porque se trata de
bem de capital essencial à atividade empresarial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.298.670-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/5/2015 (Info
564).
11.34. Despesas feitas após o deferimento do processamento da recuperação judicial são créditos
extraconcursais – (Info 543 e 557)
Créditos extraconcursais consistem em dívidas contraídas pela massa falida, ou seja, após ter
ocorrido a quebra. Os créditos extraconcursais são pagos antes dos concursais porque são
dívidas que surgem depois de ter sido decretada a falência e em decorrência dela. Em regra,
são débitos que nascem para que o processo de falência possa ser realizado. Caso fossem pagos
após os demais créditos, a massa falida teria muita dificuldade de conseguir levar em frente o
procedimento da falência, já que ninguém iria querer prestar serviços para uma sociedade
empresária que está quase falindo com a promessa de receber somente após todos os demais
credores.
O STJ tem decidido que, em caso de decretação de falência, serão considerados extraconcursais
os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor entre a data em que se defere o
processamento da recuperação judicial e a data da decretação da falência, inclusive aqueles
relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo. Assim, são
extraconcursais os créditos originários de negócios jurídicos realizados após a data em que foi
deferido o pedido de processamento de recuperação judicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.399.853-SC, Rel. originária Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão
Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 10/2/2015 (Info 557).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.398.092-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/5/2014 (Info 543).
11.35. Inaplicabilidade do prazo em dobro para recorrer aos credores na recuperação judicial –
(Info 557)
O CPC prevê que, quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou
passivo (dois ou mais réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos
serão contados em dobro (art. 191 do CPC 1973 / art. 229 do CPC 2015).
Na recuperação judicial existe a possibilidade de litisconsórcio ativo. Ex: três sociedades
empresárias, integrantes do mesmo grupo econômico, estão em situação de extrema
dificuldade econômica e decidem pedir a recuperação judicial. Em caso de litisconsórcio ativo,
é possível aplicar o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015).
Por outro lado, na recuperação judicial não existe a possibilidade de litisconsórcio passivo. O
motivo é muito simples: no processo de recuperação judicial não existem réus. Os credores não
são réus. Ocupam a posição de interessados. Portanto, não havendo réus, não se pode falar que
exista litisconsórcio passivo entre os credores da recuperanda.
Assim, se no processo de recuperação judicial uma decisão desagradar aos credores e eles
decidirem recorrer, não terão prazo em dobro, mesmo que possuam advogados diferentes . Em
outras palavras, é inaplicável aos credores da sociedade recuperanda o prazo em dobro para
recorrer previsto no art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015).
STJ. 3ª T. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
11.36. Prosseguimento das execuções e demais ações contra terceiros devedores solidários ou
coobrigados – (Info 554) – IMPORTANTE!!! - (PGEPA-2015) (TRF4-2016) (PGM-Campinas/SP-
2016) (TRF5-2017) (TRT/Unificado-2017) (TJMG-2018) (TJAL-2019)
A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem
induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou
coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a
suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59,
caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei 11.101/2005.
STJ. 2ª S. REsp 1.333.349-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/11/14 (recurso repetitivo) (Info
554).
(TJMG-2018-Consulplan): A respeito do deferimento do processamento da recuperação
judicial e seus efeitos em relação ao devedor principal, a terceiros devedores solidários e
coobrigados em geral, assinale a afirmativa correta: Embora o plano de recuperação judicial
opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias são
preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros
garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores,
avalistas ou coobrigados em geral. BL: Info 554, STJ.
(PGM-Campinas/SP-2016-FCC): Empresa X firmou contrato de adiantamento de crédito
com o Banco Y e emitiu, em garantia, títulos de crédito avalizados por seus sócios.
Posteriormente, firmou com o Banco Y contrato de financiamento que foi afiançado por seus
sócios, os quais se obrigaram solidariamente pelo pagamento do empréstimo, renunciando
ao benefício de ordem. Inadimplidos ambos os negócios, o Banco Y ajuizou duas ações de
execução contra os sócios da Empresa X, uma tendo como objeto o aval dos títulos de crédito,
outra tendo como objeto a fiança prestada ao contrato de financiamento. Posteriormente, foi
deferida a recuperação judicial da Empresa X. De acordo com jurisprudência consolidada do
STJ, a recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento nem induz a
extinção das execuções ajuizadas contra os devedores solidários coobrigados por garantia
cambial ou fidejussória. BL: Info 554, STJ.
(PGEPA-2015-UEPA): Sobre a falência e recuperação judicial, julgue a afirmativa abaixo e
assinale a alternativa correta: A recuperação judicial do devedor principal não impede o
prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra
terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou
fidejussória. BL: Info 554, STJ.
11.37. Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial – (Info 551) – (TJDFT-2016)
Em ação de despejo movida pelo proprietário locador, a retomada da posse direta do imóvel
locado à sociedade empresária em recuperação judicial, com base na Lei do Inquilinato (Lei
8.245⁄91), não se submete à competência do Juízo universal da recuperação.
O credor proprietário de imóvel, quanto à retomada do bem, não está sujeito aos efeitos da
recuperação judicial (Lei 11.101⁄2005, art. 49, § 3º).
Em suma: a ação de despejo não se submete ao juízo universal da falência, podendo continuar
a tramitar normalmente, inclusive com a retomada do bem pelo locador (proprietário).
STJ. 2ª Seção. CC 123.116-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/8/2014 (Info 551).
11.38. Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial – (Info 550) – (TJSP-2017)
Situação 1 – REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data
do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Devem obedecer ao
plano de recuperação e as ações ficam suspensas.
Situação 2 – EXCEÇÃO: os créditos de alienação fiduciária não estão sujeitos à recuperação
judicial e as ações relacionadas com tais créditos podem continuar ou ser propostas (§ 3º do art.
49).
Situação 3 – EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO (volta para regra): se a garantia da alienação fiduciária
for o imóvel que funciona o estabelecimento do devedor ou forem bens móveis essenciais à
atividade empresarial da empresa em recuperação judicial, nesse caso, mesmo sendo crédito de
alienação fiduciária, deverá ficar sujeita aos efeitos da recuperação judicial.
Assim, conforme decidiu o STJ: não se submetem aos efeitos da recuperação judicial os
créditos garantidos por alienação fiduciária de bem não essencial à atividade empresarial . Isso
porque tal crédito se enquadrará na situação 2 acima explicada (exceção à regra).
STJ. 2ª Seção. CC 131.656-PE, Rel. Min. Maria Isabel Galloti, julgado em 8/10/2014 (Info 550).
11.39. Magistrado não pode fazer análise da viabilidade econômica do plano de recuperação
judicial – (Info 549) – IMPORTANTE!!!
O juiz pode recusar-se a homologar o plano de recuperação judicial alegando que ele não tem
viabilidade econômica, mesmo já tendo sido aprovado em assembleia e estando formalmente
perfeito?
NÃO. Se o plano cumpriu as exigências legais e foi aprovado em assembleia, o juiz deve
homologá-lo e conceder a recuperação judicial do devedor, não sendo permitido ao magistrado
se imiscuir (intrometer) no aspecto da viabilidade econômica da empresa.
O magistrado não é a pessoa mais indicada para aferir a viabilidade econômica do plano de
recuperação judicial.
O juiz deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação, analisando se há fraude
ou abuso de direito. No entanto, não cabe a ele fazer controle sobre a viabilidade econômica do
plano.
No mesmo sentido são os enunciados 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial do CJF/STJ.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.319.311-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/9/2014 (Info 549).
11.40. Novação de dívidas por força de recuperação judicial não extingue as garantias prestadas
– (Info 540) – (TJMG-2018)
A novação prevista no Código Civil extingue os acessórios e as garantias da dívida, sempre que
não houver estipulação em contrário (art. 364). No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei
11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias são mantidas, sobretudo as
garantias reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação expressa do
credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).
Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele
submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que
possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção
das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 8/4/14 (Info 540).
12. FALÊNCIA
12.1. FALÊNCIA: A decretação da falência não importa, por si, na extinção da personalidade
jurídica da sociedade – (Info 653)
12.2. Em caso de falência do banco, os titulares de CDB deverão tentar receber seus créditos
habilitando-os na falência, não sendo possível mero pedido de restituição – (Info 652)
12.3. Na fila de pagamentos da falência, o encargo do DL 1.025/69, apesar de não ter natureza de
crédito tributário, ocupa a mesma posição dos créditos tributários (art. 83, III, da LFR) – (Info 644)
– IMPORTANTE!!! RECURSO REPETITIVO!!!
O encargo do DL 1.025/69 tem as mesmas preferências do crédito tributário devendo, por isso,
ser classificado, na falência, na ordem estabelecida pelo art. 83, III, da Lei 11.101/05.
O encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 possui natureza jurídica de “crédito não tributário”.
Em outras palavras, o encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 não é crédito tributário (não é
tributo).
Apesar disso, o § 4º do art. 4º da Lei nº 6.830/80 estendeu ao crédito não tributário inscrito em
dívida ativa (como é o caso do encargo do DL 1.025/69) a mesma preferência que é dada ao
crédito tributário.
STJ. 1ª S. REsp 1521999-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, j. 28/11/18
(recurso repetitivo) (Info 644).
OBS:
ORDEM DE PAGAMENTO DA FALÊNCIA E ENQUADRAMENTO DO ENCARGO DO DL
1.025/69
Falência: Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade
empresária cuja recuperação mostra-se inviável.
Finalidade: A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos
do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser
pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.
Procedimento:
I – PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR II – PROCESSO FALIMENTAR
O procedimento pré-falimentar vai do pedido de O processo falimentar vai da sentença
falência até a sentença do juiz. declaratória de falência até a sentença de
Engloba, resumidamente, três atos principais: encerramento.
1) Pedido de falência;
2) Resposta do devedor; É no processo falimentar propriamente dito que
3) Sentença. ocorre a verificação e habilitação dos créditos e o
Ao final desta fase, a sentença pode ser: pagamento dos credores.
• Denegatória: o processo se extingue sem a
instauração da falência.
• Declaratória: hipótese em que se iniciará o
processo falimentar propriamente dito.
Classificação dos créditos da falência: Como vimos, o objetivo da falência é arrecadar valores
para efetuar o pagamento dos credores, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na
lei. O art. 83 da Lei 11.101/05 estabelece a ordem em que os créditos concursais devem ser
organizados para que sejam pagos.
Qual é a posição dos créditos tributários na ordem dos pagamentos na falência? Na “fila” de
pagamentos da falência, os créditos tributários ocupam qual posição? O art. 83 da Lei 11.101/05
prevê os créditos tributários no inciso III:
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e
cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de
constituição, excetuadas as multas tributárias; (...)
No entanto, para se ter a ordem exata de pagamento não se pode analisar apenas o art. 83,
devendo este dispositivo ser conjugado com outros artigos da Lei 11.101/05, como é o caso dos
arts. 84 e 85. Assim, fazendo essa interpretação sistemática, a doutrina aponta a ordem exata dos
pagamentos na falência. No caso dos créditos tributários, a ordem de pagamento irá variar de
acordo com o momento em que ocorreu o fato gerador desse crédito tributário. Se o fato gerador
do crédito tributário surgiu antes da decretação da falência, ele ocupará determinada posição. Se
surgiu depois, a sua ordem de pagamento será outra. Veja o quadro abaixo para entender:
Créditos tributários decorrentes de fatos geradores ocorridos...
DEPOIS da decretação da falência
ANTES da decretação da falência
(ou seja, surgiu o FG ocorreu durante a falência)
São pagos na 7ª posição: Os créditos tributários surgidos no curso do
1) Créditos trabalhistas de natureza processo falimentar são considerados créditos
estritamente salarial vencidos nos 3 meses extraconcursais, ou seja, estão fora do concurso de
anteriores à decretação da falência, até o limite credores, sendo, pagos, portanto, com prioridade.
de 5 salários-mínimos por trabalhador (art. Assim determina o art. 188 do CTN:
151). Art. 188. São extraconcursais os créditos
2) Despesas cujo pagamento antecipado seja tributários decorrentes de fatos geradores
indispensável à administração da falência, ocorridos no curso do processo de falência.
inclusive na hipótese de continuação
provisória das atividades (art. 150). No mesmo sentido é a redação da Lei nº
3) Importâncias passíveis de restituição (art. 11.101/2005:
85). Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais
4) Créditos extraconcursais (art. 84). e serão pagos com precedência sobre os
5) Créditos derivados da legislação do mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir,
trabalho, limitados a 150 salários-mínimos por os relativos a: (...)
credor, e os decorrentes de acidentes de V – (...) tributos relativos a fatos geradores
trabalho (art. 83, I). ocorridos após a decretação da falência, respeitada
6) Créditos com garantia real até o limite do a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
valor do bem gravado.
7) Créditos tributários, independentemente da
sua natureza e tempo de constituição,
excetuadas as multas tributárias.
Na “fila” de pagamentos da falência, o encargo do DL 1.025/69 ocupa a mesma posição dos
“créditos tributários”? SIM. O encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 possui natureza jurídica
de crédito não tributário. Em outras palavras, o encargo de 20% do art. 1º do DL 1.025/69 não é
crédito tributário (não é tributo). Apesar disso, o § 4º do art. 4º da Lei nº 6.830/80 estendeu ao
crédito não tributário inscrito em dívida ativa (como é o caso do encargo do DL 1.025/69) a
mesma preferência que é dada ao crédito tributário:
Art. 4º (...)
§ 4º - Aplica-se à Dívida Ativa da Fazenda Pública de natureza não tributária o
disposto nos artigos 186 e 188 a 192 do Código Tributário Nacional.
Logo, por força do § 4º do art. 4º da Lei nº 6.830/80:
O encargo do DL 1.025/69 tem as mesmas preferências do crédito tributário
devendo, por isso, ser classificado, na falência, na ordem estabelecida pelo art. 83,
III, da Lei nº 11.101/2005. STJ. 1ª S. REsp 1.521.999-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel.
Acd. Min. Gurgel de Faria, j. 28/11/18 (recurso repetitivo) (Info 644).
Por opção do legislador, foi estendida expressamente ao crédito não tributário inscrito em
dívida ativa a preferência dada ao crédito tributário. Assim, se o encargo do mencionado
decreto-lei tem natureza não tributária (Lei nº 7.711/88), compõe a dívida ativa da Fazenda
Nacional (art. 2º, §§ 2º, 5º, II, da Lei nº 6.830/1980) e tem as mesmas preferências do crédito
tributário, por força da autorização contida no art. 4º, § 4º, da Lei nº 6.830/80, pode-se concluir
pelo seu enquadramento, por equiparação, no inciso III do art. 83 da Lei nº 11.101/2005.
Não possuem natureza de honorários advocatícios: Vale ressaltar que o STJ entendeu que, mesmo
com a previsão do art. 30, II, da Lei nº 13.327/2016, o encargo legal do DL 1.025/69 não se
qualifica como honorários advocatícios de sucumbência, “mas sim como mero benefício
remuneratório”. Isso é muito importante porque se o STJ tivesse considerado que o encargo do
DL 1.025/69 eram honorários advocatícios, ele seria cobrado como se fosse (equiparado) um
crédito trabalhista e, portanto, estaria enquadrado no inciso I do art. 83 da Lei nº 11.101/2005.
12.4. Se a parte já tem um título executivo, não precisa ir para a arbitragem mesmo que o
contrato contenha cláusula compromissória – (Info 637)
12.6. O edital com a relação dos credores do falido (art. 7º, § 2º da Lei 11.101/05) deve ser
obrigatoriamente publicado na imprensa oficial – (Info 633)
É imprescindível a publicação na imprensa oficial do edital previsto no art. 7º, § 2º, da Lei nº
11.101/2005.
Assim, a Lei não permite que a publicação seja feita exclusivamente no jornal.
Fundamento: art. 191 da Lei de Falência.
A leitura do caput do art. 191 revela que as publicações devem ser sempre feitas na imprensa
oficial, devendo ser, preferencialmente, feitas também mediante publicação em jornal ou
revista de circulação se as possibilidades financeiras do devedor ou da massa falida assim
comportarem.
Obs: o art. 7º, § 2º trata sobre o edital contendo a relação feita pelo administrador judicial dos
credores do falido.
STJ. 3ª T. REsp 1758777-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11/9/18 (Info 633).
OBS:
Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com
base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos
documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o
auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º, ou no parágrafo único do art. 99 desta
Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador
judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados.
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na
forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de
credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1º
deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas
indicadas no art. 8º desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a
elaboração dessa relação.
12.7. Valores depositados em banco por conta de contrato de trust podem ser arrecadados no
caso de falência da instituição financeira – (Info 631)
12.8. Contribuição previdenciária reconhecida por juiz trabalhista pode ser habilitada na
falência sem CDA – (Infos 530 e 618)
Desse modo, como as contribuições previdenciárias já foram reconhecidas na sentença pelo juiz
trabalhista, já houve a constituição do crédito tributário, sendo desnecessário que haja um
procedimento administrativo de lançamento tributário. Isso já é suprido pela sentença
trabalhista. Logo, é indevida a exigência feita pelo juízo falimentar, sendo possível que o INSS
habilite o crédito tributário decorrente das contribuições previdenciárias apenas com a sentença
trabalhista.
12.9. Competência para julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida –
(Info 617)
A competência para processar e julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa
falida, quando em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito público, é do juízo
cível no qual for proposta a ação de conhecimento, competente para julgar ações contra a
Fazenda Pública, de acordo as respectivas normas de organização judiciária.
STJ. 1ª S. REsp 1643856-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/12/17 (recurso repetitivo) (Info 617).
OBS:
Massa falida: A expressão “massa falida” possui duas acepções:
a) Massa falida SUBJETIVA (massa passiva): É o conjunto dos credores do falido. Trata-se de
um ente despersonalizado (não possui personalidade jurídica). Apesar disso, é sujeito de direito,
podendo praticar atos, inclusive processuais, para a defesa dos interesses dos credores. A massa
falida pode atuar a “favor” ou “contra” a sociedade empresária falida.
Ex1: a massa falida pode ajuizar ação de cobrança contra um devedor da sociedade falida exigindo
o pagamento da dívida. Nesse caso, é como se a massa falida estivesse agindo “em favor” do
falido. Na verdade, a massa falida aqui atua como sucessora da sociedade empresária falida.
Ex2: a massa falida pode ajuizar ação revocatória contra o falido caso este tenha praticado atos
com a intenção de prejudicar os credores.
b) Massa falida OBJETIVA (massa ativa): é o conjunto dos bens do falido que foram
arrecadados no processo falimentar.
Essa distinção acima é feita pela doutrina, não havendo tal diferenciação na lei.
12.10. A incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados deve ocorrer até a
data em que a sentença é prolatada – (Info 609)
A Lei de Falências afirma que o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros e
correção monetária que são calculados até a “data da decretação da falência”.
Quando a lei fala em “decretação da falência” deve-se considerar a data em ela foi prolatada
(não importando quando ocorreu a sua publicação).
Assim, no processo de falência, a incidência de juros e correção monetária sobre os créditos
habilitados deve ocorrer até a decretação da quebra, entendida como a data da prolação da
sentença (e não sua publicação).
STJ. 3ª T. REsp 1.660.198-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3/8/17 (Info 609).
OBS: Assim, o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros e correção monetária
que são calculados, contudo, até a data da decretação da falência. Após a decretação, em regra,
não correm mais juros e correção monetária mesmo que o pagamento efetivo ainda demore para
ser realizado.
A lei falimentar não condicionou os efeitos da falência à publicação da sentença de quebra. Sérgio
Campinho ensina que “os seus efeitos materiais são de imediato produzidos, a partir, portanto, da
assinatura pelo juiz, dadas as consequências que de logo acarreta. A sua publicação no órgão
oficial, além de servir à sua publicidade, tem por fim a produção de efeitos de ordem processual,
como a contagem do prazo recursal e do prazo de habilitação dos credores.” (Falência e
Recuperação de Empresa. 7ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2015, p. 311).
12.11. A extinção das obrigações do falido não aproveita os codevedores – (Info 605)
A extinção das obrigações do falido, em decorrência da aplicação do art. 135, III, do Decreto-Lei
nº 7.661/45 (art. 158, III, da Lei 11.101/05), não extingue nem impede o prosseguimento de
execução ajuizada contra avalista e devedor solidário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.104.632-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 20/4/17 (Info 605).
OBS:
Art. 158. Extingue as obrigações do falido: (...)
III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o
falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;
A causa extintiva da obrigação prevista no art. 135, III, do Decreto-Lei nº 7.661/45 (art. 158, III, da
Lei nº 11.101/2005) constitui-se em direito pessoal do falido, tratando-se, deste modo, de exceção
(exceção = meio de defesa) que não pode ser aproveitada pelos demais codevedores, nos termos
da parte final do art. 281 do CC/2002:
Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem
pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-
devedor.
12.12. A extinção das obrigações do falido depende da quitação dos tributos? – (Info 601)
Existe divergência se, na vigência da Lei nº 11.101/2005, a quitação dos tributos é condição para a
extinção das obrigações do falido. A Min. Nancy Andrighi sustenta que sim.
Em provas objetivas, fique atento porque pode ser cobrada a redação literal do art. 191 do CTN,
devendo essa alternativa ser assinalada como correta: “Art. 191. A extinção das obrigações do
falido requer prova de quitação de todos os tributos.”
12.13. Autor do pedido de falência não precisa provar insolvência patrimonial do devedor –
(Info 596) – IMPORTANTE!!! – (Aud. Fiscal/MA-2016)
12.14. Credor trabalhista possui legitimidade ativa para pedir falência de devedor – (Info 589)
A natureza trabalhista do crédito não impede que o credor requeira a falência do devedor.
Assim, o credor trabalhista tem legitimidade ativa para ingressar com pedido de falência,
considerando que o art. 97, IV, da Lei 11.101/05 não faz distinção entre credores.
STJ. 3ª T. REsp 1.544.267-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 23/8/16 (Info 589).
OBS:
Conceito: Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade
empresária cuja recuperação mostra-se inviável.
Finalidade: Tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a
fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos,
obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.
Quem pode requerer a falência do empresário ou da sociedade empresária? A pessoa que requer a
falência é chamada de “sujeito ativo” da falência (deve-se lembrar que a falência acarreta um
processo judicial).
IV — qualquer credor.
(Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.)
Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência: O art. 94 da Lei 11.101/05 prevê que a falência
poderá ser requerida em três hipóteses.
I — Impontualidade injustificada
Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40
salários-mínimos na data do pedido de falência.
Adotou-se neste inciso o critério da impontualidade injustificada.
II — Execução frustrada
Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não
nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta,
demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja,
um ato de quem está em falência. Adotou-se neste inciso o chamado critério da enumeração legal.
Feitas as considerações acima, imagine a seguinte situação hipotética: João era empregado da
empresa “XX”. Ele foi demitido sem justa causa e não recebeu as verbas rescisórias a que teria
direito. João ajuizou reclamação trabalhista, julgada procedente pelo Juiz do Trabalho,
condenando a empresa a pagar um valor equivalente a 50 salários-mínimos. Ocorre que o ex-
empregado não conseguiu receber o valor da condenação, considerando que a empresa não pagou
nem foram localizados bens penhoráveis que pudessem satisfazer o crédito. Diante disso, João
requereu, na Justiça comum estadual, a falência da empresa “XX”, fundamentando seu pedido no
art. 94, II, da Lei nº 11.101/2005:
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
A empresa contestou o pedido alegando que o autor não tem legitimidade ativa nem interesse de
agir para requerer a falência, considerando que se trata de credor trabalhista. Segundo a ré, o
credor trabalhista dispõe de inúmeros instrumentos processuais céleres e eficientes para a
cobrança de seu crédito, de forma que não é razoável que peça a falência da empresa, o que
ocasionaria prejuízos à atividade econômica, gerando desemprego e queda na arrecadação do
país.
A tese da empresa foi aceita pelo STJ? O credor trabalhista é impedido de requerer a falência da
empresa por dispor de meios mais eficientes de cobrança do crédito? NÃO. O fato de o crédito ser
trabalhista não afasta o direito do autor de requerer falência, uma vez que o inciso IV, do art. 97 da
Lei de Falências afirma que qualquer credor poderá formular o pedido, não havendo
diferenciação entre os “tipos” de credores. Confira:
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:
IV – qualquer credor.
O legislador foi enfático e utilizou a palavra “qualquer” como forma de deixar claro que todas as
espécies de credores podem requerer a falência do devedor, não importando se titulares de
créditos civis, comerciais ou trabalhistas.
No caso do inciso II do art. 94, o principal requisito para requerer a decretação de falência do
devedor reside na caracterização de sua omissão ao ser devidamente citado em execução. Tal
omissão deve ser demonstrada mediante a juntada aos autos de certidão que descreva o processo
de execução frustrado, bem como as infrutíferas tentativas de satisfação do crédito pelo credor e o
valor atualizado da dívida.
Situação correlata. A Fazenda Pública possui legitimidade para requerer a falência do devedor?
Prevalece que não. O STJ possui julgados antigos afirmando que não é possível o requerimento de
falência formulado pela Fazenda Pública considerando que ela dispõe de um instrumento
específico e eficiente para a cobrança do crédito tributário, qual seja, a execução fiscal. Nesse
sentido: STJ. REsp 287.824/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 20/10/05.
Caso a ação prossiga e sejam arrecadados bens suficientes para a remuneração do administrador,
a massa falida irá restituir o valor adiantado pelo credor, fazendo com que seja cumprido o art. 25
da Lei 11.101/05.
O reconhecimento da extinção das obrigações não tributárias do falido, nos termos do art. 158
da Lei nº 11.101/2005 não depende de prova da quitação de tributos.
STJ. 4ª Turma. REsp 834.932-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 25/8/2015 (Info 572).
12.18.
Capacidade processual do falido para a propositura de ação rescisória – (Info 558) –
IMPORTANTE!!!
O falido poderá propor ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou a falência?
SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença
transitada em julgado que decretou a sua falência.
Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui
personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem
mesmo em caráter extraordinário. Diz-se que ela sofre uma capitis diminutio (diminuição de
sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastada da
administração dos seus bens. Sendo assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a
venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia,
portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa.
No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é
diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da
decretação de falência. Realmente, o falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade
deste para propor a rescisão do decreto falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido,
ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal.
Desse modo, o STJ entende que o falido mantém a legitimidade para a propositura de ações
pessoais, podendo, inclusive, ajuizar ação rescisória para tentar reverter o decreto falimentar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2015 (Info 558).
Depois que os bens da massa falida forem arrecadados, ou seja, listados e organizados
formalmente, eles serão vendidos a fim de arrecadar dinheiro para pagar os credores. Essa
venda é chamada pela lei de “realização do ativo”.
No art. 142 da Lei estão previstas as modalidades ordinárias de realização do ativo (leilão,
propostas fechadas e pregão). No caso da alienação ordinária, a Lei exige que haja prévia
publicação de um anúncio em jornal de ampla circulação (§ 1º do art. 142). Além das
modalidades ordinárias de alienação, a Lei prevê formas extraordinárias de venda, que estão
disciplinadas nos arts. 144 e 145 para casos em que se exige uma maior celeridade e
informalidade.
O STJ decidiu que, em caso de alienação extraordinária, NÃO é necessária a prévia publicação
do anúncio em jornal de grande circulação de que trata o § 1º do art. 142.
STJ. 3ª T. REsp 1.356.809-GO, Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, j. 10/2/2015 (Info 555).
12.21. Pedido feito com base no art. 94, I, não pode ser considerado abusivo mesmo que a
devedora possua grande capacidade econômica – (Info 550)
Incorporadora foi a falência sem terminar o edifício de apartamentos que estava construindo.
Os adquirentes se reuniram e, com recursos próprios, terminaram o prédio. Obtiveram na
justiça sentença transitada em julgado determinando que a incorporadora reembolse esse valor
a eles. Ocorre que a incorporadora está em processo de falência, de forma que esse crédito
deverá ser habilitado no concurso de credores, sendo classificado como crédito quirografário.
Em suma, quando o adquirente de unidade imobiliária, em razão da falência da incorporadora,
tenha assumido as despesas necessárias à conclusão do prédio residencial, os gastos
desembolsados pelo adquirente devem ser inscritos no processo de falência da referida
incorporadora como créditos quirografários.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.336-RS, Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/9/2014 (Info 548).
A falência do devedor poderá ser decretada quando ele, sem relevante razão de direito, não
pagar, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de
falência (art. 94, I, da Lei 11.101/2005).
Para pedir a falência com base neste inciso não é necessário que o requerente tenha tentado
executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra a execução prévia.
Assim, é desnecessário o prévio ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com
fundamento na impontualidade do devedor.
A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de
falência com base na impontualidade do devedor. Logo, se o devedor não pagar uma duplicata
virtual em valor superior a 40 salários-mínimos é possível que seja decretada a sua falência
STJ. 3ª T. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/8/2014 (Info 547).
Mesmo que já tenha sido decretada a indisponibilidade de bens, nos termos do art. 36 da Lei
6.024/74, o MP continua tendo interesse de agir para pedir o arrolamento de bens do
administrador da instituição financeira em liquidação extrajudicial. Isso porque tais institutos
possuem finalidades, limites e efeitos distintos.
O arrolamento tem por finalidade conservar bens ameaçados de dissipação e, assim, garantir a
responsabilidade do administrador de instituição financeira.
A prévia indisponibilidade visa salvaguardar o interesse público, em caso de fraude ou ilícito
no curso da liquidação extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.375.540-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/10/16 (Info 592).
13.2. Análise do art. 18, “a” da Lei 6.024/74 – (Info 562) – IMPORTANTE!!! – (TRF1-2015)
João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra o plano de saúde “XXX”,
que está em processo de liquidação extrajudicial. O juiz extinguiu o processo sem resolução do
mérito afirmando que havia impossibilidade jurídica do pedido, já que o art. 18, “a”, da Lei
6.024/74 proibiria a propositura de novas ações após o início da liquidação:
Art. 18. A decretação da liquidação extrajudicial produzirá, de imediato, os seguintes efeitos:
a) suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses relativos ao acervo da
entidade liquidanda, não podendo ser intentadas quaisquer outras, enquanto durar a liquidação;
(...)
Agiu corretamente o juiz?
NÃO. A suspensão das ações e execuções ajuizadas em desfavor de instituições financeiras sob
regime de liquidação extrajudicial e a proibição da propositura de novas demandas após o
decreto de liquidação (art. 18, “a”, da Lei 6.024/74) não alcançam as ações de conhecimento
voltadas à obtenção de provimento judicial relativo à certeza e liquidez do crédito.
Em outras palavras, esse dispositivo não suspende nem impede a propositura de ações que
tenham como objetivo conseguir ainda um título executivo, ou seja, conseguir a certeza e
liquidez de um crédito que o autor alega possuir contra a entidade.
Se o autor ainda não tem uma declaração judicial acerca do pretenso crédito (não tem um título
executivo), ele não poderá habilitar esse crédito no procedimento administrativo de liquidação
extrajudicial. Logo, se essa proibição do art. 18, “a” o alcançasse, ele não teria como habilitar o
crédito nem teria como conseguir o título. Ficaria, portanto, sem alternativa.
STJ. 3ª T. REsp 1.298.237-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 19/5/15 (Info 562).
1
Art. 229 (...) Parágrafo único. Aos pedidos relativos a produtos farmacêuticos e produtos químicos para a
agricultura, que tenham sido depositados entre 1o de janeiro de 1995 e 14 de maio de 1997, aplicam-se os
critérios de patenteabilidade desta Lei, na data efetiva do depósito do pedido no Brasil ou da prioridade,
se houver, assegurando-se a proteção a partir da data da concessão da patente, pelo prazo remanescente a
contar do dia do depósito no Brasil, limitado ao prazo previsto no caput do art. 40. (Incluído pela Lei nº
10.196/2001)
2
Art. 40. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo de utilidade pelo
prazo 15 (quinze) anos contados da data de depósito. (....)
14.2. PATENTE: Os “privilégios do agricultor”, previstos no art. 10 da Lei 9.456/97, não se
aplicam para o caso de processo de inserção do gene na semente da soja – (Info 658)
14.3. MARCA: O registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não afasta a
possibilidade de utilizá-la no nome de um empreendimento imobiliário – (Info 657)
O registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não impede que essa
mesma expressão seja utilizada como nome de um edifício. Dar nome a um edifício não é uma
atividade empresarial, mas sim um ato da vida civil.
A exclusividade conferida pelo direito marcário se limita às atividades empresariais, sem
atingir os atos da vida civil.
Caso concreto: foi lançado um empreendimento imobiliário denominado de “Natura Recreio”.
Apesar de a Natura, marca de cosméticos, ser considerada uma marca de alto renome, ela não
conseguiu impedir o uso dessa expressão no nome deste condomínio.
STJ. 3ª T. REsp 1804960-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 24/9/19 (Info 657).
14.4. MARCA: Mesmo que exista autorização para que um nome civil seja registrado como
marca, para que esse nome seja registrado como nova marca não abrangida pela primeira, será
necessária nova autorização do titular – (Info 654)
Cada novo registro de signo distintivo como marca, ainda que de mesma titularidade, deve
atender todos os requisitos de registrabilidade, inclusive quanto à autorização do titular do
nome civil eventualmente utilizado.
Caso concreto: Hospital Albert Einstein, mesmo tendo autorização para utilizar o nome civil
“Albert Einstein” no hospital, só pode registrar uma nova marca denominada “Unidade
Diagnóstica Einstein Jardins” se tiver nova autorização específica do detentor dos direitos
autorais e de imagem do falecido físico alemão.
STJ. 3ª T. REsp 1715806-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 20/8/19 (Info 654).
O art. 174 da Lei nº 9.279/96 preconiza que: “prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a
nulidade do registro, contados da data da sua concessão”.
Mesmo que se alegue que o registro feito pelo INPI é nulo de pleno direito (e não apenas
anulável), ainda assim os efeitos decorrentes desse registro não poderão ser afastados se , entre
a data de sua prática e o ajuizamento da ação, já houver se passado mais de 5 anos, salvo
flagrante inconstitucionalidade.
Assim, não se aplica a teoria dualista das nulidades para o registro de marca pelo INPI.
Teoria dualista das nulidades: divide os atos administrativos defeituosos em nulos e anuláveis,
de sorte que os atos administrativos contaminados por vício de legalidade poderiam ser
invalidados a qualquer tempo pela Administração, em decorrência de seu poder de autotutela.
A ação de nulidade da marca não pode ser considerada como imprescritível sob pena de
esvaziar o conteúdo normativo do art. 174, além de gerar instabilidade, não somente aos
titulares de registro, mas também a todo o sistema de defesa da propriedade industrial.
A imprescritibilidade não constitui regra no direito brasileiro, sendo admitida somente em
hipóteses excepcionalíssimas que envolvem direitos da personalidade, estado das pessoas,
bens públicos. Os demais casos devem se sujeitar aos prazos prescricionais do Código Civil ou
das leis especiais.
STJ. 3ª T. REsp 1.782.024-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/5/19 (Info 648).
14.6. MARCA: A aquisição de distintividade de marca não gera como decorrência lógica, direta
e automática a exclusividade de seu uso – (Info 646) – (TRF4-2016)
Marcas “fracas”, evocativas, descritivas ou sugestivas: são aquelas que apresentam baixo grau
de distintividade, por se constituírem a partir de expressões que remetem à finalidade,
natureza ou características do produto ou serviço por elas identificado. São formadas, portanto,
por expressões de uso comum, de pouca originalidade. Ex: “American Airlines” (empresa de
serviços de transporte aéreo).
Em caso de marcas evocativas ou sugestivas, a exclusividade conferida ao titular do registro
comporta mitigação, devendo ele suportar o ônus da convivência com outras marcas
semelhantes. Ex: “American Airlines” teve que aceitar outra marca registrada como “America
Air” (empresa brasileira que atua como táxi aéreo). Isso porque no caso de uso de marcas
evocativas ou descritivas, a anterioridade do registro não justifica o uso exclusivo de uma
expressão dotada de baixo vigor inventivo.
A “American Airlines” buscou anular o registro da marca nominativa “America Air”
invocando a teoria da “distintividade adquirida” (significação secundária ou secondary
meaning). O fenômeno da distintividade adquirida ocorre quando um signo de caráter comum,
descritivo ou evocativo foi utilizado durante tanto tempo, alcançando tantas pessoas que
passou a adquirir eficácia distintiva suficiente, a ponto de possibilitar seu registro como marca.
O STJ não acolheu a tese. Diante do fato de as duas marcas serem evocativas e considerando
que as empresas prestam serviços distintos (não tendo sido constatada a possibilidade de
confusão junto ao público) inexiste qualquer razão jurídica que justifique a declaração de
nulidade do registro marcário da “America Air”.
STJ. 3ª T. REsp 1773244/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 02/04/19 (Info 646)
(TRF4-2016): Marcas fracas ou evocativas, constituídas por expressões comuns ou genéricas,
não possuem o atributo da exclusividade, podendo conviver com outras semelhantes.
14.7. MARCA: O INPI possui legitimidade para recorrer de decisão que extinguiu reconvenção
apresentada por litisconsorte passivo pedindo a nulidade de registro de marca – (Info 644)
O INPI possui legitimidade para recorrer de decisão que extinguiu, sem resolução de mérito,
reconvenção apresentada por litisconsorte passivo, na qual se veiculou pedido de nulidade de
registro de marca.
STJ. 3ª T. REsp 1775812-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/3/19 (Info 644).
OBS:
Segundo o art. 175 da Lei nº 9.279/96, o INPI deve intervir nas ações de anulação de registro:
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça federal e o
INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
Vale ressaltar que a participação do INPI no processo não é necessariamente para defender o ato
que concedeu o registro. Ao contrário, o interesse jurídico do INPI se distingue do interesse
individual de ambas as partes, considerando que o objetivo da Instituição é de proteger a
concorrência e o consumidor, direitos essencialmente transindividuais, o que atrai certo
temperamento das regras processuais tradicionais da defesa de direitos individuais.
O INPI desempenha função própria, mediante intervenção sui generis, nos processos de anulação
de registro de marca. Em face disso, nem sempre se comportará como litisconsorte passivo,
devendo a sua legitimidade e os consectários da sua atuação processual tomarem em
consideração a função efetivamente exercida no caso concreto. Assim, mesmo a reconvenção
pedindo a nulidade da marca tendo sido proposta por uma empresa, se o INPI entender que os
argumentos do reconvinte são pertinentes, ele (INPI) poderá assumir também o polo ativo dessa
reconvenção. Logo, ele tem sim legitimidade para recorrer contra a decisão que extinguiu a
reconvenção sem resolução do mérito.
14.8. TRADE DRESS: Para analisar se houve violação do trade dress, é indispensável a prova
pericial – (Info 641)
Ao contrário de outros países, no Brasil ainda não existe uma legislação que proteja, de forma
específica, as violações ao trade dress. Apesar disso, a jurisprudência tem protegido os titulares
das marcas copiadas. Nesse sentido:
(...) A despeito da ausência de expressa previsão no ordenamento jurídico pátrio
acerca da proteção ao trade dress, é inegável que o arcabouço legal brasileiro confere
amparo ao conjunto-imagem, sobretudo porque sua usurpação encontra óbice na
repressão da concorrência desleal. Incidência de normas de direito de propriedade
industrial, de direito do consumidor e do Código Civil. (...) STJ. 3ª Turma. REsp
1677787/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/9/17.
Trade dress: O denominado trade dress, não disciplinado na legislação nacional atual, tem por
finalidade proteger o conjunto visual global de um produto ou a forma de prestação de um
serviço. Materializa-se, portanto, pela associação de variados elementos que, conjugados,
traduzem uma forma peculiar e suficientemente distintiva de inserção do bem no mercado
consumidor, vinculando-se à identidade visual dos produtos ou serviços. Apesar de não haver
legislação específica, a proteção do trade dress é assegurada com fundamento no dever geral de
garantia de livre mercado, ou seja, no dever estatal de assegurar o funcionamento saudável do
mercado, de forma a expurgar condutas desleais tendentes a criar distorções de concorrência.
Violação ao trade dress: O trade dress é violado quando uma empresa imita sutilmente diversas
características da marca concorrente (normalmente a líder do mercado) com o objetivo de
confundir o público e angariar vendas com base na fama da marca copiada.
Exemplo de violação ao trade dress: Em um caso concreto, o TJSP entendeu que uma empresa cuja
marca era “Uai in box” teria violado a trade dress da “China in box”. Além do nome parecido, a
empresa “Uai in box” também oferecia comida em delivery com pacotes iguais ao da “China in
box”.
Voltando ao exemplo: No caso concreto, o juiz indeferiu o pedido de prova pericial formulado
pela ré e julgou procedente o pedido da autora reconhecendo que houve violação ao trade dress. O
magistrado decidiu que houve utilização indevida do conjunto-imagem unicamente com base
na comparação das fotografias das embalagens. O STJ não concordou com a decisão por
entender que esse tema exige discussão fática para a qual é indispensável a prova pericial:
A caracterização de concorrência desleal por confusão, apta a ensejar a proteção ao
conjunto-imagem (trade dress) de bens e produtos é questão fática a ser examinada
por meio de perícia técnica. STJ. 3ª Turma. REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, j. 19/09/2017 (Info 612).
Ainda que se esteja diante de uma notória semelhança entre os dois produtos, é indispensável
analisar se esta similitude é aceitável do ponto de vista legal ou se estamos diante de um ato
abusivo, usurpador de conjunto-imagem alheio e passível de confundir o consumidor. A
dificuldade existe no fato de que muitas das características que assemelham os produtos se situam
numa zona limítrofe entre o que se admite como concorrência saudável – e até desejável – e o que
se reputa concorrência desleal e parasitária.
Assim, a confusão que caracteriza concorrência desleal é questão fática, sujeita a exame técnico,
a fim de averiguar o mercado em que inserido o bem e serviço e o resultado da entrada de novo
produto na competição, de modo a se alcançar a imprevisibilidade da conduta anticompetitiva aos
olhos do mercado. Nesses casos, não é possível, portanto, que o magistrado consulte única e
exclusivamente o seu íntimo para concluir pela existência de confusão. Dessa forma, o
indeferimento de prova técnica, para utilizar-se de máximas da experiência como substitutivo de
prova, é conduta que cerceia o direito de ampla defesa das partes.
O uso indevido da marca acarreta dano material uma vez que a própria violação do direito
revela-se capaz de gerar lesão à atividade empresarial do titular. O uso indevido da marca
provoca desvio de clientela e confusão entre as empresas, acarretando indiscutivelmente dano
material.
Desse modo, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a existência
do dano (an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser apurado no âmbito da
liquidação pelo procedimento comum, haja vista a necessidade de comprovação de fatos
novos, nos termos do art. 210 da LPI.
Quanto ao prejuízo extrapatrimonial, prevalece que o uso indevido da marca gera dano moral
in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita
- contrafação -, revelando-se desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a
comprovação probatória do efetivo abalo moral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1327773-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/17 (Info 619).
OBS: Sendo assim, a própria Lei de Propriedade Industrial presume a existência dos danos
materiais, sendo decorrência natural da contrafação e da violação da concorrência do mercado.
A norma, inclusive, estabelece critérios específicos para se melhor alcançar o quantum debeatur.
Veja o que diz a Lei:
LPI, Art. 208. A indenização será determinada pelos benefícios que o prejudicado
teria auferido se a violação não tivesse ocorrido.
LPI, Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de haver perdas e danos em
ressarcimento de prejuízos causados por atos de violação de direitos de propriedade
industrial e atos de concorrência desleal não previstos nesta Lei, tendentes a
prejudicar a reputação ou os negócios alheios, a criar confusão entre
estabelecimentos comerciais, industriais ou prestadores de serviço, ou entre os
produtos e serviços postos no comércio.
§ 1º Poderá o juiz, nos autos da própria ação, para evitar dano irreparável ou de
difícil reparação, determinar liminarmente a sustação da violação ou de ato que a
enseje, antes da citação do réu, mediante, caso julgue necessário, caução em
dinheiro ou garantia fidejussória.
§ 2º Nos casos de reprodução ou de imitação flagrante de marca registrada, o juiz
poderá determinar a apreensão de todas as mercadorias, produtos, objetos,
embalagens, etiquetas e outros que contenham a marca falsificada ou imitada.
Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favorável ao
prejudicado, dentre os seguintes:
I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não tivesse ocorrido;
ou
II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da violação do direito; ou
III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular do direito violado
pela concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente explorar o bem.
E quanto ao dano moral? Vamos pelo início: a pessoa jurídica pode sofrer dano moral? SIM. A
pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227-STJ). A pessoa jurídica é possuidora de bens
extrapatrimoniais. Conforme previsto no art. 52 do CC, apesar de despida de direitos ligados à
personalidade humana (saúde, integridade física e psíquica), a pessoa jurídica é titular de
direitos da personalidade, tais como à tutela ao nome, à marca, à imagem, à reputação, à honra
(objetiva), à intimidade (como nos segredos industriais), à liberdade de ação etc.
No caso de uso indevido de marca, o dano moral precisa ser provado? NÃO. O tema ainda não é
pacífico no STJ, mas prevalece que o dano moral decorre automaticamente da constatação do
uso indevido da marca. Vejamos:
Os prejuízos causados pelo uso não autorizado de marca alheia prescindem de
comprovação, pois se consubstanciam na própria violação do direito do titular,
derivando da natureza da conduta perpetrada. A demonstração do dano se
confunde com a demonstração da existência do fato, cuja ocorrência é premissa
assentada pelo acórdão recorrido. STJ. 3ª T. REsp 1674375/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 07/11/17.
Por sua natureza de bem imaterial, é ínsito que haja prejuízo moral à pessoa jurídica quando se
constata o uso indevido da marca. Isso porque, obrigatoriamente, a reputação, a credibilidade e a
imagem da empresa acabam sendo atingidas perante todo o mercado (clientes, fornecedores,
sócios, acionistas e comunidade em geral), além de haver o comprometimento do prestígio e da
qualidade dos produtos ou serviços ofertados, caracterizando evidente violação de seus direitos,
bens e interesses extrapatrimoniais.
Assim, o dano moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração
decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita - contrafação -, revelando-se
desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do efetivo
abalo moral.
14.10. COMPETÊNCIA: Ações envolvendo trade dress e nulidade de registro de marca – (Info
618) – IMPORTANTE!!!
Conforme explica a doutrina, “(...) no Brasil, a proteção jurídica do 'trade dress' situa-se no âmbito
da Repressão à Concorrência Desleal, e insurge-se contra a prática de atos de natureza
fraudulenta que venham a desviar clientela de outrem, notadamente pela reprodução e/ou
imitação desautorizada de características distintivas de produtos, serviços e estabelecimentos
comerciais” (MANARA, Cecília. ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva; MORAES, Rodrigo. Propriedade
intelectual em perspectiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 10-11).
As disputas relacionadas com concorrência desleal não são dirimidas diretamente pelo INPI,
considerando que a sua constatação depende de procedimento a ser realizado no âmbito do
Poder Judiciário, com ampla possibilidade de produção de provas, inclusive pericial. Nesse
sentido é a lição de Denis Borges Barbosa:
“Em suma, não há competência para o INPI aplicar diretamente a regra de
concorrência desleal. Sempre tal competência recaiu no Poder Judiciário. (...)
Por isso, a apuração da concorrência desleal se faz num procedimento judicial
plenamente sujeito ao devido processo legal, com apuração de fatos, ampla perícia,
avaliação dilatada, tudo que inexiste no restrito, inespecífico e (no que toca à
concorrência desleal) incompetente procedimento registral do INPI.” (BARBOSA,
Denis Borges. Tratado da propriedade intelectual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.
516-518).
Desse modo, entende-se que não há interesse do INPI em figurar na demanda que se discute
violação do trade dress e concorrência desleal, sendo esta ação de competência da Justiça
Estadual.
Por outro lado, de quem é a competência para julgar ação na qual se requer a nulidade de uma
marca registrada no INPI, pedindo-se ainda a cessação de seu uso? Justiça Federal. Isso porque,
nesta situação, haverá interesse jurídico do INPI na demanda, considerando que foi a autarquia
que concedeu o registro, incidindo, portanto, na hipótese do art. 109, I, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
No mesmo sentido, prevê a Lei nº 9.279/96:
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça federal e o
INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
A discussão sobre a validade de um registro de marca, patente ou desenho industrial, nos termos
da LPI, tem de ser travada administrativamente ou, caso a parte opte por recorrer ao judiciário,
deve ser empreendida em ação proposta perante a Justiça Federal, com a participação do INPI na
causa. Sem essa discussão, os registros emitidos por esse órgão devem ser reputados válidos e
produtores de todos os efeitos de direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1281448/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 5/6/2014.
A alegação de que é inválido o registro, obtido pela titular de marca perante o INPI, deve ser
formulada em ação própria, para a qual é competente a Justiça Federal. Ao Juiz estadual não é
possível, incidentalmente, considerar inválido um registro vigente perante o INPI. STJ. 3ª Turma.
REsp 1322718/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/6/12.
Embora a Lei 9.279/96 preveja, em seu art. 56, § 1º, a possibilidade de alegação de nulidade do
registro como matéria de defesa, a melhor interpretação desse dispositivo indica que ele deve
estar inserido numa ação própria, na qual que discuta, na Justiça Federal, a nulidade do registro.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 254.141/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/6/12.
14.11. TRADE DRESS: Para analisar se houve violação do trade dress, é indispensável a prova
pericial – (Info 612)
14.12. PATENTES: Para que o pedido seja arquivado ou a patente extinta por falta de pagamento
da retribuição, exige-se notificação prévia do depositante ou titular – (Info 608)
15. MARCA
15.1. Termo inicial do prazo prescricional de ação de abstenção de uso de marca – (Info
593)
A pretensão de abstenção de uso de marca nasce para seu titular com a violação do direito
de utilização exclusiva.
No caso concreto, o titular da marca havia autorizado que terceiro a utilizasse até
determinada data. A pretensão inibitória nasceu a partir do momento em que este terceiro
desrespeitou a data assinalada como termo final de vigência da autorização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.874-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/10/16 (Info 593).
Requisitos: Para que um desenho possa ser registrado como "desenho industrial", ele deverá
preencher os seguintes requisitos:
Procedimento para registro: O autor de um desenho industrial, para solicitar seu registro no
INPI, deverá pagar uma taxa mediante guia de recolhimento da União (GRU), preencher um
formulário de depósito e apresentar as figuras do desenho. É possível fazer o pedido pela
internet ou em papel. Inicia-se, então, um procedimento interno no INPI, onde o pedido
passará por diversos setores. Pode ser que os técnicos da autarquia solicitem mais
documentos e esclarecimentos do autor a fim de verificar se estão presentes os requisitos
acima elencados. Vale ressaltar que o autor que faz o pedido de registro de um desenho
industrial possui apenas uma expectativa de direito. Isso quer dizer que ele ainda será
examinado e o INPI poderá conceder ou não o certificado de registro.
Desse modo, de cinco em cinco anos o autor deverá pagar esta taxa.
15.3. Caducidade de marca (art. 143 da LPI) – (Info 563) – ATENÇÃO! CONCURSOS
FEDERAIS! – (Advogado/Telebrás-2015)
A Lei 9.279/96 prevê a possibilidade de o registro da marca caducar se não for usada:
Art. 143. Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse
se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data do requerimento:
I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos consecutivos, ou se,
no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com modificação que implique alteração de seu
caráter distintivo original, tal como constante do certificado de registro.
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa começa a fabricá-lo aqui no
Brasil, mas ele só é vendido para o mercado externo, nunca sendo comercializado aqui. Há
risco de haver a caducidade da marca com base no inciso I?
NÃO. Se o titular da marca registrada no Brasil industrializa, fabrica, elabora o produto
em território nacional, claramente inicia e faz uso da marca no Brasil, merecendo toda
proteção legal, pois aqui empreende, gerando produção, empregos e riqueza, sendo
indiferente que a mercadoria aqui produzida seja destinada ao mercado interno ou
exclusivamente ao externo. Produzir no País o produto com a marca aqui registrada atende
suficientemente ao requisito legal de “uso da marca iniciado no Brasil”.
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa (de grande porte) começa a
fabricá-lo aqui no Brasil, mas depois de mais de 5 anos, somente produziu cerca de 70
pacotes do produto. Há risco de haver a caducidade da marca com base no inciso II?
SIM. É possível que se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em um
período de cinco anos, o valor e o volume de vendas do produto relacionado à marca
forem inexpressivos.
No caso analisado pelo STJ, o uso esporádico da marca, com escassas negociações no
mercado, foi considerado inexpressivo dentro da magnitude das operações bilionárias
realizadas pela empresa, portanto, insuficiente para configurar e comprovar o uso efetivo
da marca.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.218-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, j. 5/2/2015 (Info 563).
(Advogado/Telebrás-2015-CESPE): Passados cinco anos da concessão do registro de
marca, determinada pessoa, com legítimo interesse, solicitou ao INPI que fosse declarada
a caducidade do registro das marcas de duas sociedades empresárias, com base nos
seguintes fatos: o produto elaborado e fabricado no Brasil pela primeira sociedade era
destinado exclusivamente ao mercado externo; a marca da segunda sociedade era de uso
esporádico, com escassas negociações no mercado e rentabilidade ínfima nos cinco anos
anteriores. Com relação a essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo acerca do
registro das marcas, nos termos da jurisprudência do STJ. O INPI deverá denegar o
pedido de caducidade do registro de marca da primeira sociedade empresária, pois o
simples fato de o produto elaborado e fabricado no Brasil ser destinado ao mercado
externo não demonstra a caducidade do registro de marca por desuso. BL: Info 563, STJ.
O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não se exige
dele novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e 231 da
Lei de Propriedade Industrial e, uma vez concedida a patente “pipeline” por outra
jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência de um dos requisitos de
mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das patentes ordinárias (novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial).
Assim, uma patente pipeline concedida no exterior e revalidada no Brasil não pode ser
anulada ao fundamento de falta de um dos requisitos de mérito do art. 8º da Lei 9.279/96
(Lei de Propriedade Industrial – LPI), mas apenas por ausência de requisito
especificamente aplicável a ela (como, por exemplo, por falta de pagamento da anuidade
no Brasil) ou em razão de irregularidades formais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/10/14 (Info
550).
15.6. Direito exclusivo de uso de marca registrada – (Info 548) – ATENÇÃO! CONCURSOS
FEDERAIS!
15.7. Precedência de nome empresarial que não implica direito ao registro de marca – (Info
548) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!
Em ação de nulidade de registro de marca a que o INPI não deu causa nem ofereceu
resistência direta, não cabe condenação do instituto em honorários advocatícios
sucumbenciais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.699-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/6/16 (Info 585).
Na ação de nulidade de registro de marca em que o INPI foi indicado como réu ao lado de
sociedade empresária em virtude da concessão indevida do registro e do não
processamento do procedimento administrativo para anular o registro indevidamente
concedido, o Instituto responde solidariamente pelos honorários advocatícios
sucumbenciais, ainda que tenha reconhecido a procedência do pedido formulado na
Inicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/2/16 (Info 576).
Este julgado tratava sobre uma ação de nulidade de registro de marca proposta por uma
sociedade empresária ("A") contra o INPI e contra outra empresa concorrente ("B"), titular
da marca questionada na demanda. A ação foi julgada procedente e discutiu-se se o INPI
deveria pagar honorários advocatícios, custas e despesas processuais. Foram expostas três
conclusões:
I - Na ação de nulidade de registro de marca o INPI foi indicado como réu ao lado de
sociedade empresária porque concedeu indevidamente o registro para a empresa "B"
mesmo gerando confusão com a marca da empresa "A" e também porque não deu
andamento ao pedido administrativo formulado pela empresa "A" para anular o registro
indevidamente concedido. Assim, diante disso, o referido Instituto deve responder
solidariamente pelos honorários advocatícios sucumbenciais mesmo que, na ação
proposta, ele tenha reconhecido a procedência do pedido formulada na Inicial.
II - Em ação de nulidade de registro de marca, o INPI é isento de pagamento de custas.
III - Em ação de nulidade de registro de marca em que o INPI for sucumbente, cabe a ele
reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte autora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/2/2016
(Info 576).
Conquista de mercado: Além do mais, o fato de shopping center exercer posição relevante no
perímetro estabelecido pela "cláusula de raio" não significa que esteja infringindo os
princípios da ordem econômica estampados na CF/88, visto que inserções de "cláusulas de
raio" em determinados contratos de locação são realizadas com o propósito de servir à
logística do empreendimento. Aliás, a conquista de mercado resultante de processo natural
fundado na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não
caracteriza ilícito, tanto que prevista como excludente de infração da ordem econômica (§ 1º
do art. 36 da Lei nº 12.529/2011).
Pode-se dizer que a cláusula de raio é proibida pela Súmula 646 do STF ("Ofende o princípio
da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais
do mesmo ramo em determinada área")? NÃO. A Súmula 646 do STF não diz respeito às
cláusulas contratuais estabelecidas em pactos firmados entre locador e locatário. Ela se refere
apenas a leis municipais, ou seja, a situações em que o próprio poder público impede e
inviabiliza a implementação do princípio da livre concorrência. O enunciado não tem relação,
portanto, com contratos empresariais.
17.4. Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de boleto
bancário – (Info 578) – IMPORTANTE!!! – (Cartórios/TJRJ-2017)
O pedido do sindicato foi aceito? SIM. A tarifa bancária pela emissão de boletos é algo
cobrado pelos bancos com base em um contrato firmado exclusivamente entre a instituição
financeira e o cedente do título, no caso, o fornecedor, com a finalidade de remunerar pelo
fato de este fornecedor estar se utilizado da rede bancária como um mecanismo de
arrecadação pela venda de seus produtos. Logo, considerando-se que referida tarifa é fruto
de negociação entre o cedente (fornecedor/atacadista) e o banco, não se pode perder de vista
que a discussão aqui travada encontra-se no âmbito específico da atividade bancária, matéria
que, nos termos da Lei nº 4.595/64, rege-se pelas disposições do Conselho Monetário
Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil (BC). Nesse contexto, foi editada a Resolução
nº 3.919/2010, que estabeleceu o seguinte:
Art. 1º (...)
§ 2º É vedada a realização de cobranças na forma de tarifas ou de
ressarcimento de despesas:
(...)
II - do sacado, em decorrência da emissão de boletos ou faturas de
cobrança, carnês e assemelhados.
Dessa forma, o referido dispositivo proíbe que seja cobrado do sacado o ressarcimento das
despesas realizadas com a emissão de boletos. Nesse contexto, não se afigura razoável o
repasse da cobrança de tarifa que, por força de Resolução do CMN, é considerada ilegal e
cuja pactuação não foi negociada com o sacado. A proibição deste repasse ao sacado não fere
os princípios da liberdade de contratar, da probidade e da boa-fé. Isso porque a matéria não é
apenas contratual e está inserida também no âmbito do sistema financeiro, especialmente no
que tange à atividade de intermediação financeira, de modo que a liberdade de contratar
encontra limites que se operam em prol da higidez e da estabilidade de todo o sistema. Vale
ressaltar, por fim, que os bancos não podem mais cobrar tarifas pela emissão de boletos,
conforme expresso em entendimento sumulado do STJ:
17.5. TRESPASSE: Validade da cláusula de não concorrência, desde que limitada espacial
e temporalmente – (Info 561)
Vimos acima que, sob o ponto de vista patrimonial, o princípio societas distat a singulis é
aplicado de forma bem intensa. No entanto, sob a perspectiva do estabelecimento, há uma
mitigação do referido axioma latim. Quando falamos em estabelecimento empresarial, existe
uma absoluta sintonia de interesses da pessoa física com a jurídica, interesses que estão
diretamente ligados ao aviamento.
Aviamento é o conjunto de fatores pessoais, materiais e imateriais, que fazem com que um
estabelecimento dê certo e gere lucros.
O que se quer dizer com tudo isso é o seguinte: se a pretensão a ser defendida em juízo diz
respeito ao estabelecimento, neste caso, a ação poderá ser proposta não apenas pela
sociedade empresária (pessoa jurídica), mas também pelos seus sócios porque estes, como
também almejam os mesmos objetivos, possuem interesses juridicamente protegidos capazes
de habilitá-los como titulares de direito material, podendo, eventualmente, deduzi-los em
juízo.
Isso significa que o sócio não teria legitimidade ativa para defender em juízo um bem imóvel
da pessoa jurídica que não compusesse o conceito de estabelecimento. De igual forma, a
sociedade empresária só teria legitimidade para ajuizar ação defendendo um bem particular
do sócio se este estivesse sendo utilizado para o exercício da atividade empresarial.
No presente caso, a sociedade empresária tem legitimidade porque possui, assim como o
sócio, o interesse de resguardar todo o complexo de bens que compõe o estabelecimento.
Aplicação analógica da Lei 8.245/91: A fim de corroborar a tese adotada, é possível aplicar
ainda ao caso concreto o art. 51, §2º, da Lei 8.245/91, que trata sobre as ações renovatórias:
Não é abusiva a mera previsão contratual que estabelece a duplicação do valor do aluguel
no mês de dezembro em contrato de locação de espaço em shopping center.
Assim, é válida a chamada cláusula de "aluguel dúplice" (ou "13º aluguel") nos contratos
de locação de espaço em shopping center.
Fundamento: princípio da autonomia privada.
STJ. 3ª T. REsp 1.409.849-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/4/16 (Info 582).
(Anal. Judic./TRT7-2017-CESPE): Em contrato de locação de loja em determinado
shopping center consta cláusula que prevê o pagamento do décimo terceiro aluguel. Com
base na legislação pertinente a contratos de locação, é correto afirmar que a referida
cláusula é válida, por ser mera previsão contratual. BL: Info 582, STJ e art. 54 da Lei de
Locações.
OBS:
O que rege o contrato de locação de espaços em shopping center? É regido, primordialmente,
pelas condições fixadas entre as partes, aplicando-se apenas as disposições sobre
procedimento previstas na Lei de Locações. Nesse sentido, confira a redação do art. 54 da Lei
nº 8.245/91:
Art. 54. Nas relações entre lojistas e empreendedores de shopping center,
prevalecerão as condições livremente pactuadas nos contratos de locação
respectivos e as disposições procedimentais previstas nesta lei.
A empresa corretora de Bitcoin que celebra contrato de conta-corrente com o banco para o
exercício de suas atividades não pode ser considerada consumidora. Não se trata de uma
relação de consumo.
A empresa desenvolve a atividade econômica de intermediação de compra e venda de
Bitcoins. Para realizar essa atividade econômica, utiliza o serviço de conta-bancária
oferecido pela instituição financeira.
Desse modo, a utilização desse serviço bancário (abertura de conta-corrente) tem o
propósito de incrementar sua atividade produtiva de intermediação, não se caracterizando,
portanto, como relação jurídica de consumo, mas sim de insumo.
Em outras palavras, o serviço bancário de conta-corrente é utilizado como implemento de
sua atividade empresarial, não se destinando, pois, ao seu consumo final. Logo, não se
aplicam as normas protetivas do CDC.
Banco que, após notificar a corretora de Bitcoin, decide encerrar contrato de conta-corrente
com a empresa, não pratica ato que configure abuso de direito
O encerramento de conta-corrente usada na comercialização de criptomoedas, observada a
prévia e regular notificação, não configura prática comercial abusiva ou exercício abusivo
do direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1696214-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 9/10/18 (Info 636).
OBS:
Criptomoeda: Em palavras muito simples (sem tanto rigor técnico, para facilitar o
entendimento), criptomoedas (cryptocurrencies) são moedas “digitais” (também chamadas de
“moedas virtuais” ou “moedas criptografárias”). É como se fosse um “dinheiro” que não
existe fisicamente (só existe virtualmente), mas que, apesar disso, pode ser utilizado para
comprar mercadorias ou remunerar serviços. Em uma frase: é um dinheiro virtual. Existem
atualmente várias espécies de criptomoedas no mundo. Alguns exemplos: Bitcoin, Ether,
Cardano, Litecoin, Stellar etc.
Curiosidade: cripto é uma palavra originária do grego Kryptose significa algo que é oculto,
escondido. Daí vem a palavra criptografia, ou seja, que consiste na aplicação de técnicas
para tornar a escrita codificada. Ex: o Whatsapp, ao transmitir uma mensagem de um
usuário para outro, utiliza técnicas de criptografia, ou seja, durante a transmissão pela
internet, a mensagem vai de forma codificada, de modo que, mesmo se alguém conseguir
interceptá-la, irá ler apenas códigos (e não a mensagem propriamente). As criptomoedas
também se utilizam de técnicas de criptografia.
Bitcoin: Bitcoiné considerada a primeira criptomoeda criada no mundo, sendo a mais famosa
delas. Foi criada em 2008 por uma pessoa que utilizou o pseudônimo de Satoshi Nakamoto e
até hoje não se sabe a sua real identidade. Este é o símbolo do bitcoin: ₿. Sua abreviatura é:
BTC ou XBT. Veja a definição dada por André Luiz Santa Cruz Ramos:
“O bitcoin é uma criptomoeda que utiliza uma tecnologia ponto a
ponto (peer-to-peer) para criar um sistema de pagamentos on-line
que não depende de intermediários e não se submete a nenhuma
autoridade regulatória centralizadora. O código do bitcoin é
aberto, seu design é público, não há proprietários ou
controladores centrais e qualquer pessoa pode participar do seu
sistema de gerenciamento coletivo. Enfim, o bitcoin é uma
inovação revolucionária porque é o primeiro sistema de
pagamentos totalmente descentralizado.” (Ramos, André Luiz
Santa Cruz. Direito Empresarial. 8ª ed., São Paulo: Método, 2018, p.
529)
Vale ressaltar que os Bitcoins (e demais moedas virtuais) não são autorizados nem
regulamentados pelo Banco Central. Não fazem parte do sistema bancário oficial. De igual
forma, as empresas que negociam ou guardam moedas virtuais não são autorizadas nem
reguladas pelo BACEN.
Juridicamente, podemos dizer que Bitcoin é uma moeda eletrônica? NÃO. A legislação utiliza
a nomenclatura “moeda eletrônica” para outra situação. Segundo a Lei nº 12.865/2013,
“moeda eletrônica” são os “recursos armazenados em dispositivo ou sistema eletrônico
que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento” (art. 6º, VI). Assim, “moeda
eletrônica”, para a legislação brasileira, é o dinheiro, em Reais, mantido em meio
eletrônico que permita ao usuário realizar pagamentos. Desse modo, as “moedas virtuais”
(como é o caso do Bitcoin) não se confundem com a “moeda eletrônica” prevista na
legislação.
Quem controla e registra essas transações em bitcoin? Ex: João transfere 10 BTC para Pedro;
onde essa operação fica registrada? Onde o saldo de bitcoins das pessoas fica registrado? As
criptomoedas em geral e, especificamente o bitcoin, são consideradas moedas
descentralizadas. Isso porque adotam um controle descentralizado baseado em uma
tecnologia chamada de blockchain ou “protocolo da confiança”. Em uma definição muito
rudimentar e simplificada, o blockchain é como se fosse um arquivo virtual (um banco de
dados ou livro-registro virtual) onde são registradas todas as transações envolvendo os
bitcoins. Existem cópias deste banco de dados em milhares de computadores espalhados
pelo mundo, sendo isso distribuído por meio de uma rede virtual ponto-a-ponto (peer-to-
peer). Assim, todos possuem uma cópia igual de todo o histórico de transações. Com isso,
garante-se que as informações ali contidas não sejam perdidas nem adulteradas.
Características principais: A partir do que foi exposto, podemos apontar três importantes
características das moedas virtuais:
1) incorporeidade;
2) desnecessidade de um terceiro intermediário para realização de transações e
3) ausência de uma autoridade central emissora e controladora.
1) Incorporeidade
Trata-se de uma moeda “virtual” (incorpórea), ou seja, não existe lastro físico.
2) Desnecessidade de intermediário
Se a pessoa vai comprar um produto pela internet pagando com moeda tradicional (com
“Real”), ela precisará de uma instituição financeira intermediária, ou seja, um banco ou
operadora de cartão de crédito que irá intermediar essa transação entre o comprador e o
vendedor. Funciona assim: o comprador transfere o dinheiro para a instituição financeira e
esta repassa ao vendedor. Essa intermediação fica registrada e o intermediário recebe por
isso. Como essas operações ocorrem em frações de segundos, nós praticamente não
percebemos. Com o Bitcoin, não existe essa intermediação. O comprador transfere
diretamente o dinheiro virtual para o comprador. É como se o comprador tivesse
encontrado fisicamente o vendedor e tivesse entregado a ele o dinheiro, porém feito
virtualmente. Isso é chamado de “mercado P2P” (ou seja, entre pessoas, sem intermediários).
3) Ausência de autoridade central
O Bitcoin, e as demais criptomoedas, são chamadas de moedas descentralizadas, porque não
são controladas por um Banco Central ou por algum órgão governamental, como as moedas
tradicionais. O controle e o registro são feitos, em tese, por toda a comunidade, por intermédio
da tecnologia de blockchain.
Como comprar e vender moedas virtuais (ex: Bitcoins)? É possível comprar Bitcoins
diretamente de alguém que possua (em um marketplace), no entanto, a forma mais comum
é por meio de corretoras de Bitcoins (exchanges). Assim, existem corretoras, ou seja,
empresas que fazem a atividade de compra e venda de criptomoedas. A pessoa interessada
entra no site, faz uma conta gratuita e informa quantos Bitcoins deseja comprar. Depois disso,
faz a transferência bancária do correspondente valor em reais. Ela, então, irá ter uma
carteira digital de Bitcoins, que estará armazenada no blockchain e poderá utilizar livremente
esse dinheiro virtual. Desse modo, a corretora é como se fosse uma “casa de câmbio”, onde
você vai trocar seu dinheiro por uma moeda estrangeira. No caso, o Bitcoin (uma moeda
universal). Atualmente (janeiro de 2019), 1 Bitcoin está valendo, aproximadamente, R$
14.600,00. Vale ressaltar, no entanto, que é possível comprar menos que 1 Bitcoin.
Obviamente, assim como funciona nas casas de câmbio, o valor do Bitcoin na corretora é, em
geral, mais caro do que no livre comércio. Algumas pessoas ficaram ricas comprando
Bitcoins. Isso porque em 2011, por exemplo, 1 Bitcoin valia R$ 15,00. Se a pessoa acreditou e
comprou a moeda naquela época guardando até hoje, terá realizado o lucro de uma grande
valorização.
Bitcoins e criminalidade: As criptomoedas foram uma invenção espetacular e representarão,
sem dúvidas, o futuro das transações monetárias no mundo. Ocorre que tudo na vida pode
ser utilizado para o bem ou para o mal. Nos pagamentos feitos com Bitcoins, é possível que
o comprador permaneça anônimo. Com isso, em tese, a moeda pode ser utilizada para
pagamento de crimes e também para lavagem de dinheiro, tendo em vista seu potencial de
irrastreabilidade. Desse modo, em tese, seria possível, por exemplo, comprar armamentos,
drogas e outros produtos ilícitos por meio de operações feitas na deepweb e com pagamento
em Bitcoins. Também seria possível pagar propinas a agentes públicos por meio de Bitcoins.
Por essas razões, algumas pessoas, de forma injusta, associam as criptomoedas à
criminalidade. No entanto, conforme já explicado, o Bitcoin e as demais moedas não têm,
em si, nada de ilegal. A utilização irregular desses instrumentos é que pode vir a ser
criminosa. Alguns criminosos utilizam os Bitcoins para praticar delitos assim como utilizam
dinheiro real, computadores, celulares, carros etc.
Feita esta breve e rudimentar explicação, imagine a seguinte situação enfrentada pelo STJ
(com algumas adaptações): Mercado Bitcoin Serviços Digitais Ltda. é uma das principais
empresas que oferece o serviço de compra e venda de Bitcoins. Podemos dizer que ela é uma
corretora de criptomoedas. Isso porque ela é responsável por intermediar a comercialização
de Bitcoin. Conforme já explicado, a pessoa interessada em Bitcoins faz um depósito na conta
bancária da “Mercado Bitcoin” e esta vende o Bitcoin para o usuário. Ex: Felipe deseja
comprar 10 Bitcoins. Para tanto, deposita R$ 146.000,00 na conta da “Mercado Bitcoin”. Em
compensação, esta empresa irá depositar 10 Bitcoins na conta virtual de Felipe. Desse modo,
a empresa “Mercado Bitcoin” precisa, obrigatoriamente, de um conta bancária tradicional
para realizar sua atividade econômica, tendo em vista que recebe dinheiro em moeda
tradicional em troca de Bitcoins. Durante meses, a empresa utilizou para isso uma conta
bancária no Itaú. Ocorre que, determinado dia, o Banco Itaú enviou uma notificação
extrajudicial para a “Mercado Bitcoin” informando que sua conta bancária seria encerrada
dentro de 30 dias em razão de “desinteresse comercial”, ou seja, a instituição financeira
comunicou que não mais tinha interesse comercial em ter a empresa como cliente.
Ação de obrigação de fazer: Diante disso, a “Mercado Bitcoins” ingressou contra o Banco Itaú
S.A. com ação de obrigação de fazer pedindo para que o banco mantenha a conta-corrente
encerrada. A autora argumentou que o encerramento da conta configurou prática abusiva e
ato ilícito por parte do banco, violando o art. 39, IX, do CDC, além do configurar abuso de
direito (art. 187 do Código Civil):
CDC, Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,
dentre outras práticas abusivas: (...)
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,
diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto
pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em
leis especiais;
CC/02, Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Primeira pergunta: pode ser aplicado, no caso, o CDC para esta relação jurídica? NÃO. Foi um
dos pontos decididos pelo julgado veiculado no Info 636 do STJ.
19.2. A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo
devedor? – (Info 605) – IMPORTANTE!!!
Assim, a liquidação antecipada consiste na quitação, total ou parcial, de uma dívida antes do
seu vencimento, acarretando a redução proporcional dos juros e demais acréscimos.
Resolução CMN nº 3.516/2007: Antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 não havia proibição
para esta prática, de forma que o STJ considera que ela era permitida. No entanto, a
Resolução CMN nº 3.516/2007, em seu art. 1º, proibiu expressamente a cobrança. Veja:
Art. 1º Fica vedada às instituições financeiras e sociedades de
arrendamento mercantil a cobrança de tarifa em decorrência de
liquidação antecipada nos contratos de concessão de crédito e de
arrendamento mercantil financeiro, firmados a partir da data da
entrada em vigor desta resolução com pessoas físicas e com
microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei
Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
É válida cláusula contratual que prevê a cobrança da tarifa de renovação de cadastro (TRC)
em contrato bancário celebrado ainda no período de vigência da Circular 3.371/07 do
BACEN, considerando que ela autorizava que os bancos exigissem a TRC.
Posteriormente, com a edição da Circular 3.466/2009 do BACEN, que entrou em vigor no
dia 14/09/09, foi proibida a cobrança da referida tarifa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.646-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 10/5/16 (Info 584).
Não é devida a verba atinente ao aviso prévio – um terço das comissões auferidas pelo
representante comercial nos três meses anteriores à resolução do contrato (art. 34 da Lei
4.886/1965) –, quando o fim do contrato de representação comercial se der por justa causa.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.190.425-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/9/14 (Info 546).
OBS:
O art. 34 da Lei 4.886/65 estabelece a seguinte regra:
Essa regra, contudo, não se aplica quando o fim do contrato de representação comercial
ocorrer por justa causa. Reconhecida a existência de justa causa, não é necessário que se dê o
aviso prévio de 30 dias nem que seja paga a indenização de 1/3 das comissões.
Segundo explica Rubens Requião, “o aviso prévio é incompatível com a arguição de falta
grave cometida pela outra parte. Assim, se cometida falta grave, a denúncia do contrato, seja
de agência, seja de representação comercial, terá natureza abrupta, rompendo-se o contrato
tão logo a denúncia chegue ao conhecimento da parte faltosa” (REQUIÃO, Rubens
Edmundo. Nova regulamentação da representação comercial autônoma. São Paulo: Saraiva,
2007, p. 153).
Assim, o art. 34 da Lei 4.886⁄65 somente incide no caso de denúncia vazia (sem justa causa) do
contrato por qualquer das partes, não sendo aplicado nos casos em que uma das partes toma
a iniciativa de romper o contrato diante da existência de motivo justo, conforme previsto na
lei especial de regência.
A retenção de mercadoria importada até o pagamento dos direitos antidumping não viola
o enunciado da Súmula 323 do STF.
Súmula 323-STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para
pagamento de tributos.
A exigência do pagamento dos direitos antidumping como condição para a liberação das
mercadorias importadas não significa apreensão, mas tão somente a sua retenção
enquanto se aguarda o desembaraço aduaneiro.
A retenção das mercadorias trazidas para o Brasil e a exigência de recolhimento dos
tributos e multa é um procedimento que integra a operação de importação.
STJ. 1ª Turma. REsp 1728921-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 16/10/2018 (Info 636).
Não se pode aceitar as máquinas do importador como caução idônea (garantia) para
liberar as mercadorias importadas e que estão sujeitas a direitos antidumping provisórios.
Isso porque o art. 3º da Lei 9.019/95 prevê que a exigibilidade dos direitos provisórios
poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da CAMEX, desde que o
importador ofereça garantia mediante: depósito em dinheiro ou fiança bancária.
Essas hipóteses do art. 3º são taxativas e, portanto, não se admite como garantia o
oferecimento de maquinário.
A suspensão da exigibilidade do direito provisório é um benefício excepcional e, portanto,
não se pode permitir a interpretação extensiva do art. 3º para alcançar outras formas de
garantias nele não previstas, sob pena de o Poder Judiciário atuar como legislador
positivo e afrontar o princípio da separação dos poderes.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.614-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 10/5/16 (Info 584).
OBS:
Dumping: "O dumping consiste na conduta dos agentes econômicos que vendem os seus
produtos fora do país abaixo do custo de produção e também por preço inferior aos cobrados
no país de origem." (MASSO, Fabiano Del. Direito Econômico esquematizado. São Paulo:
Método, 2ª ed., p. 283).
Trata-se de uma prática comercial predatória por meio da qual uma empresa exporta seus
produtos por preços inferiores ao custo com o objetivo de fazer com que as indústrias do país
importador não consigam competir e, assim, quebrem. Durante um tempo, a empresa
exportadora fica suportando o prejuízo de vender suas mercadorias abaixo do custo. No
entanto, depois de não ter mais concorrentes no mercado (já que eles faliram por não
acompanharem os preços), a empresa que praticou o dumping aumenta absurdamente os
preços de seus produtos, considerando que o público consumidor não terá mais opções de
outras empresas. É uma forma, portanto, de eliminar a concorrência.