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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO AMBIENTAL

Atualizado em 29/09/20: novos julgados.

Pontos atualizados: nº 01 (Info 643); nº 05 (Info 643); nº 04 (Info 650); nº 02 (Info 658); nº 02
(Info 659)

1. COMPETÊNCIA
1.1. CÓDIGO FLORESTAL: A legislação municipal não pode reduzir a proteção conferida às
áreas de preservação permanente previstas pelo Código Florestal – (Info 643)

A legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal dos cursos
d'água, em toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal.
No caso em tela, o STJ entendeu que o Tribunal de origem equivocou-se ao se utilizar de
interpretação restritiva da disposição legal do antigo Código Florestal (Lei 4.771/65), ou seja,
considerou que o diploma legal estabeleceu limites máximos de proteção ambiental, podendo a
legislação municipal reduzir o patamar protetivo.
Entretanto, para o STJ, a norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação
municipal apenas intensificar o grau de proteção às margens dos cursos d'água, ou quando
muito, manter o patamar de proteção (jamais reduzir a proteção ambiental).
STJ. 2ª Turma. AREsp 1312435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 7/2/19 (Info 643).

1.2. Possibilidade de os estados-membros disporem sobre fontes de abastecimento de água –


(Info 524)

É possível que o Estado-membro, por meio de decreto e portaria, determine que os usuários dos
serviços de água tenham em suas casas, obrigatoriamente, uma conexão com a rede pública de
água.
O decreto e a portaria estaduais também poderão proibir o abastecimento de água para as casas
por meio de poço artesiano, ressalvada a hipótese de inexistência de rede pública de
saneamento básico.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.306.093-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 28/5/13 (Info 524).

2. INFRAÇÃO AMBIENTAL
2.1. Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental não é
necessário que se comprove que o bem era utilizado de forma reiterada ou rotineiramente na
prática de ilícitos ambientais – (Info 659) – IMPORTANTE!!!
2.2. As autoridades ambientais podem apreender veículo utilizado para a prática de infração
ambiental mesmo que este bem seja alugado e quem tenha cometido o ilícito tenha sido o
locatário – (Info 659) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)
2.3. O locador (proprietário) do bem apreendido tem o direito de se defender
administrativamente – (Info 659) – IMPORTANTE!!!

Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental não é
necessário que se comprove que o bem era utilizado de forma reiterada ou rotineiramente na
prática de ilícitos ambientais.
Exigir que a autoridade ambiental comprove que o veículo era utilizado específica, exclusiva,
reiterada ou rotineiramente para a prática de delito ambiental caracteriza verdadeira prova
diabólica, o que tornaria letra morta a legislação que ampara a atividade fiscalizatória.

As autoridades ambientais podem apreender veículo utilizado para a prática de infração


ambiental mesmo que este bem seja alugado e quem tenha cometido o ilícito tenha sido o
locatário.
Ainda que se trate de bem locado ao real infrator, a apreensão do bem é possível. Não se pode
dizer que houve uma injusta restrição ao proprietário (que não deu causa à infração ambiental).
Ao alugar o veículo, o locador assume o risco decorrente da exploração da atividade econômica
por ele exercida.
Além disso, seja em razão do conceito legal de poluidor, seja em função do princípio da
solidariedade que rege o direito ambiental, a responsabilidade administrativa pelo ilícito recai
sobre quem, de qualquer forma, contribuiu para a prática da infração ambiental, por ação ou
omissão.
Ademais, aquele que realiza a atividade de locação de veículos deve adotar garantias para a
prevenção e o ressarcimento dos danos causados pelo locatário. Não é possível admitir que o
Judiciário comprometa a eficácia da legislação ambiental e impeça a apreensão do veículo tão
somente porque o instrumento utilizado no ilícito originou-se de um contrato de locação,
cessão ou de qualquer outro meio juridicamente previsto.

O locador (proprietário) do bem apreendido tem o direito de se defender administrativamente.


Após a medida de apreensão, a autoridade administrativa deverá notificar o proprietário do
veículo locado para dar a ele a oportunidade de comprovar a sua boa-fé antes de decidir sobre a
destinação do bem apreendido pela prática de infração ambiental.
Cabe ao proprietário do veículo comprovar sua boa-fé, demonstrando que, pelas circunstâncias
da prática envolvida e apesar de ter tomado as precauções necessárias, não tinha condições de
prever a utilização do bem no ilícito ambiental.
A autoridade administrativa deve notificar o proprietário do veículo locado para oportunizar
que comprove a sua boa-fé antes de decidir sobre a destinação do bem apreendido pela prática
de infração ambiental.
STJ. 2ª T. AREsp 1084396-RO, Rel. Min. Og Fernandes, j. 19/09/19 (Info 659).

2.4. O transporte em quantidade excessiva de madeira, não acobertada pela respectiva guia de
autorização, legitima a apreensão de toda a mercadoria – (Info 658) – IMPORTANTE!!!

A empresa “Alta Vista Ltda.” estava transportando toras de madeira quando foi parada em uma
fiscalização do IBAMA. Os servidores da autarquia ambiental constataram que a empresa
estava transportando madeiras serradas em desacordo com a nota fiscal e com a licença de
transporte que possuía. A empresa estava transportando 4.000 m3 de madeira a mais do que
estava autorizada. Isso significa que ela estava transportando cerca de 10% a mais da carga que
poderia. A legislação ambiental prevê a lavratura de auto de infração e a apreensão da carga.
Indaga-se: deverá ser apreendida a carga toda (todas as madeiras) ou apenas aquelas que
excederam a autorização prevista na guia de transporte?
A carga inteira. A gravidade da conduta de quem transporta madeira em descompasso com a
respectiva guia de autorização não se calcula com base apenas no quantitativo em excesso. Essa
infração compromete a eficácia de todo o sistema de proteção ambiental. Logo, a medida de
apreensão deve compreender a totalidade da mercadoria transportada.
STJ. 2ª T. REsp 1784755-MT, Rel. Min. Og Fernandes, j. 17/9/19 (Info 658).

2.5. Apreensão de veículo utilizado no carregamento de madeira sem autorização – (Info 625)

O art. 2º, § 6º, inc. VIII, do Decreto 3.179/99 (redação original), quando permite a liberação de
veículos e embarcações mediante pagamento de multa, não é compatível com o que dispõe o
art. 25, § 4º, da Lei 9.605/98; entretanto, não há ilegalidade quando o referido dispositivo
regulamentar admite a instituição do depositário fiel na figura do proprietário do bem
apreendido por ocasião de infração nos casos em que é apresentada defesa administrativa -
anote-se que não se está defendendo a simplória liberação do veículo, mas a devolução com a
instituição de depósito (e os consectários legais que daí advêm), observado, entretanto, que a
liberação só poderá ocorrer caso o veículo ou a embarcação estejam regulares na forma das
legislações de regência (Código de Trânsito Brasileiro, p. ex.).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.133.965-BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 25/4/18 (Info 625).
OBS:
Infração ambiental e apreensão dos produtos e instrumentos utilizados: A Lei 9.605/98 trata
sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente O art. 25 prevê a apreensão dos produtos e instrumentos utilizados em caso de infração
administrativa ou crime ambiental:
Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos,
lavrando-se os respectivos autos.

O que acontece com os animais e com os produtos da infração ambiental?


 Animais: serão prioritariamente libertados em seu habitat ou, sendo tal medida
inviável ou não recomendável por questões sanitárias, entregues a jardins zoológicos,
fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados sob a responsabilidade
de técnicos habilitados. Até que os animais sejam entregues às instituições mencionadas,
o órgão autuante zelará para que eles sejam mantidos em condições adequadas de
acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar físico.
 Produtos perecíveis ou madeiras: serão avaliados e doados a instituições científicas,
hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.
 Produtos e subprodutos da fauna não perecíveis: serão destruídos ou doados a
instituições científicas, culturais ou educacionais.

O que acontece com os instrumentos utilizados na infração ambiental? A regra para isso está
prevista no § 5º do art. 25:
Art. 25 (...) § 5º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos,
garantida a sua descaracterização por meio da reciclagem.

Decreto 3.179/99: A fim de regulamentar esse perdimento, o Presidente da República editou o


Decreto 3.179/99. Veja o que estabeleceu o art. 2º, § 6º, VIII do Decreto:
Art. 2º As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções: (...)
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos,
petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto; (...)
§ 6º A apreensão, destruição ou inutilização, referidas nos incisos IV e V do caput
deste artigo, obedecerão ao seguinte: (...)
VIII - os veículos e as embarcações utilizados na prática da infração, apreendidos
pela autoridade competente, somente serão liberados mediante o pagamento da
multa, oferecimento de defesa ou impugnação, podendo ser os bens confiados a fiel
depositário na forma dos arts. 1.265 a 1.282 da Lei nº 3.071, de 1916, até
implementação dos termos antes mencionados, a critério da autoridade competente;

O STJ analisou a legalidade desse dispositivo. O que decidiu o Tribunal? O art. 2º, § 6º, VIII,
primeira parte (pagamento de multa), do Decreto: constitui verdadeira inovação no
ordenamento jurídico, destituída de qualquer base legal. Isso porque o art. 25, § 4º da Lei não
prevê a possibilidade de liberação dos veículos e embarcações mediante multa. O art. 25, § 4º da
Lei afirma simplesmente que “os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos”.
Assim, o art. 2º, § 6º, VIII, do Decreto nº 3.179/99 (redação original), quando permite a liberação
de veículos e embarcações mediante pagamento de multa, não é compatível com o que dispõe o
art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/98. Entretanto, não há ilegalidade quando o referido dispositivo
regulamentar admite a instituição do depositário fiel na figura do proprietário do bem
apreendido por ocasião de infração nos casos em que é apresentada defesa administrativa -
anote-se que não se está defendendo a simplória liberação do veículo, mas a devolução com a
instituição de depósito (e os consectários legais que daí advêm), observado, entretanto, que a
liberação só poderá ocorrer caso o veículo ou a embarcação estejam regulares na forma das
legislações de regência (Código de Trânsito Brasileiro, p. ex.). STJ. 1ª Seção. REsp 1.133.965-BA,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 625).

Revogação do Decreto: Vale ressaltar que o presente tema perdeu quase toda a importância tendo
em vista que o Decreto 3.179/99 foi, posteriormente, alterado pelo Decreto nº 5.523/2005 e depois
revogado pelo Decreto nº 6.514/2008. Assim, desde 2005 esta regra questionada não mais existe.

2.6. Não é razoável a conduta do órgão ambiental que apreende um papagaio que era criado
há 15 anos como animal doméstico, sem qualquer indício de maus-tratos ou risco de extinção –
(Sem Info) – IMPORTANTE!!! – (TJMS-2020)

Não é razoável a conduta do órgão ambiental que apreende uma ave (ex: papagaio) que já
estava sendo criada por longo período de tempo em ambiente doméstico, sem qualquer indício
de maus-tratos ou risco de extinção.
Em casos como esse, não se mostra plausível que a apreensão do animal ocorra exclusivamente
sobre a ótica da estrita legalidade. É preciso se examinar as peculiaridades do caso sob a luz da
finalidade da Lei Ambiental que, sabidamente, é voltada à melhor proteção do animal.
Desse modo, com base nas peculiaridades do caso concreto, e em atenção ao princípio da
razoabilidade, é possível autorizar que a ave permaneça no ambiente doméstico do qual jamais
se afastou por longos anos.
STJ. 1ª T. AgRg no REsp 1457447/CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 16/12/14.
STJ. 2ª T. AgInt no REsp 1389418/PB, Rel. Min. Og Fernandes, j. 21/09/17.
(TJMS-2020-FCC): Em mandado de segurança impetrado contra ato de fiscal ambiental que
apreendeu animal silvestre (papagaio-verdadeiro) adquirido irregularmente, o impetrante
confessa a origem ilícita da ave, mas alega que a adquiriu para sua filha pequena há 01 ano,
sendo a ave um verdadeiro membro da família. Alega, por fim, que a menina sente muita falta
do papagaio. A ordem deverá ser negada, diante da origem ilícita do animal silvestre. BL:
Entend. STJ.
##Atenção: A jurisprudência do STJ entende que a apreensão não é razoável quando o animal
já estava sendo criado por longo período de tempo em ambiente doméstico, sem qualquer
indício de maus-tratos ou risco de extinção. Ocorre que, no caso em tela, o papagaio havia sido
adquirido há apenas um ano.

2.7. Infração ambiental grave e aplicação de multa independentemente de prévia advertência


– (Info 561)

Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a


necessidade de prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/98).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.318.051-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 17/3/15 (Info 561).

2.8. Posse irregular de animais silvestres por longo período de tempo – (Info 550) –
IMPORTANTE!!! - (TJMS-2020)

O particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício de maus-tratos,
duas aves silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer na posse dos animais.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.425.943-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 2/9/14 (Info 550).

3. ÁREA DE RESERVA LEGAL


3.1. Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião – (Info 561)

João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se
tornar o proprietário do terreno.
A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.
Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de
Imóveis para que nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em
seu favor a sentença de usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de
usucapião no Cartório de Registro de Imóveis para ser considerado proprietário.
Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no
Cartório do Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental
Rural). Em outras palavras, o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o
autor inscrevesse a Área de Reserva Legal no CAR.
Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?
SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no
Cadastro Ambiental Rural (CAR).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 28/4/15 (Info 561).

4. RESPONSABILIDADE CIVIL/ADMINISTRATIVA E CRIMINAL


4.1. A responsabilidade administrativa ambiental é de natureza subjetiva – (Info 650) –
IMPORTANTE!!! – (TJRO-2019)

A aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva


da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria
da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com
demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e
o dano.
Assim, a responsabilidade CIVIL ambiental é objetiva; porém, tratando-se de responsabilidade
administrativa ambiental, a responsabilidade é SUBJETIVA.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 8/5/19 (Info 650).
(TJRO-2019-VUNESP): Segundo o art. 225, § 3°, da CF/88, as condutas e atividades
consideradas lesivas ao Meio Ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados. Acerca da tríplice responsabilidade ambiental, assinale a alternativa correta: A
Primeira Seção do STJ consolidou o entendimento de que a responsabilidade administrativa
ambiental é subjetiva. BL: Info 650, STJ.

OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A Ipiranga Produtos de Petróleo S/A contratou uma
empresa (Ferrovia Centro Atlântica) para transportar, por meio de vagões-tanque, sessenta mil
litros de óleo diesel. Ocorre que, durante o transporte, um dos vagões descarrilhou, derramando
óleo na Baía de Guanabara e na Área de Proteção Ambiental de Guapimirim. O órgão de proteção
ambiental lavrou um auto de infração impondo à Ipiranga (dona da carga) uma multa (penalidade
administrativa) em virtude da infração ambiental. A Ipiranga ingressou com ação judicial
questionando a multa aplicada sob o argumento de que não foi ela a causadora direta do acidente,
tendo este sido ocasionado pela transportadora do produto. Alegou que o proprietário da carga
transportada é considerado “terceiro”, por não ser o efetivo causador do dano ambiental, e que a
sua responsabilidade pela infração administrativa é de natureza subjetiva, ou seja, depende da
demonstração de que agiu com dolo ou culpa, o que não foi demonstrado pelo órgão ambiental.

Os argumentos da empresa autuada são acolhidos pela jurisprudência do STJ? A


responsabilidade administrativa ambiental tem caráter objetivo ou subjetivo? SIM. A
responsabilidade administrativa ambiental é de natureza SUBJETIVA.

Tríplice responsabilização ambiental: O art. 225, § 3º, da CF prevê a tríplice responsabilização


ambiental, estando, portanto, o causador de danos ambientais sujeito à responsabilização
administrativa, cível e penal, de modo independente e simultâneo:
Art. 225 (...)
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

A responsabilidade civil por dano ambiental é OBJETIVA. Por outro lado, as responsabilidades
penal e administrativa são de natureza SUBJETIVA.

Responsabilidade civil x responsabilidade administrativa: A responsabilidade por danos


ambientais na esfera cível é objetiva. Isso significa, por exemplo, que, se o MP propuser uma ação
contra determinado poluidor, ele não precisará provar a culpa ou dolo do réu. Por outro lado,
para a aplicação de penalidades administrativas, não se obedece a essa mesma lógica.
A responsabilidade administrativa ambiental apresenta caráter subjetivo, exigindo dolo ou
culpa para sua configuração. Assim, adota-se a sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja,
deverá ser comprovado o elemento subjetivo do agressor, além da demonstração do nexo causal
entre a conduta e o dano. A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências fica
bem estampada da leitura do art. 14, caput e § 1º, da Lei nº 6.938/81. No § 1º do art. 14 está
prevista a responsabilidade na esfera cível. Lá ele fala que esta é independente da existência de
culpa:
Art. 14 (...)
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Já o caput do art. 14, que trata sobre a responsabilidade administrativa, não dispensa a
existência de culpa. Logo, interpreta-se que ele exige dolo ou culpa:
Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção
dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental
sujeitará os transgressores:
I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e,
no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs,
agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento,
vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito
Federal, Territórios ou pelos Municípios;
II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder
Público;
III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito;
IV - à suspensão de sua atividade.

A aplicação e a execução das penas (responsabilidade administrativa) limitam-se aos


transgressores (somente podem ser aplicadas a quem efetivamente praticou a infração). Por outro
lado, a reparação ambiental, de cunho civil, pode atingir todos os poluidores, a quem a própria
legislação define como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (art. 3º, V, da Lei nº
6.938/81).

Assim, o uso do vocábulo “transgressores” no caput do art. 14, comparado à utilização da


palavra “poluidor” no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que já se podia inferir
da vigência do princípio da intranscendência das penas: a responsabilidade civil por dano
ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as responsabilidades administrativa e
penal, não admitindo estas últimas que terceiros respondam a título objetivo por ofensas
ambientais praticadas por outrem.

Em suma:
RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS
Responsabilidade CIVIL Responsabilidade Responsabilidade PENAL
ADMINISTRATIVA
Objetiva Subjetiva Subjetiva
§ 1º do art. 14 da Lei 6.938/81. Caput do art. 14 da Lei É vedada a responsabilidade
6.938/81. penal objetiva.
 

4.2. Análise do acidente com o navio Vicuña – (Info 615) – IMPORTANTE!!! – (TJRS-2018)

As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicuña no momento de sua


explosão, no Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/04, não respondem pela reparação dos danos
alegadamente suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo
causal a ligar tais prejuízos (proibição temporária da pesca) à conduta por elas perpetrada (mera
aquisição pretérita do metanol transportado).
Situação concreta: três indústrias químicas adquiriam uma grande quantidade de “metanol”,
substância utilizada como matéria-prima para a produção de alguns medicamentos. Elas
adquiriram o metanol da METHANEX CHILE LIMITED, empresa chilena que ficou
responsável tanto pela contratação quanto pelo pagamento do frete marítimo. O navio
contratado pela empresa chilena para o transporte foi o “BTG Vicuña”, de bandeira do Chile.
Ocorre que quando já estava atracado no porto de Paranaguá/PR, o navio explodiu. Isso
provocou uma tragédia ambiental porque houve o vazamento de milhões de litros de óleo e de
metanol. Em
razão do derramamento, a pesca na região ficou temporariamente proibida.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/10/17 (Info 615).

4.3. Dano Ambiental e Correção Monetária – (SEM INFO) – (MPMG-2017)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.


RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. INDENIZAÇÃO POR DANO AMBIENTAL.
TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA. SÚMULA 43 DO STJ. 1. A indenização por
dano material oriunda de responsabilidade civil objetiva extracontratual, tem, como termo
inicial da correção monetária, a data do evento danoso, nos termos da Súmula 43 do STJ.
STJ. Corte Especial. AgInt nos EDcl nos EREsp 1312355/MS. Min. Luis Felipe Salomão. Corte
Especial. j. 05/10/2016.
(MPMG-2017): No caso de dano ambiental, é CORRETO afirmar: Incide a correção monetária a
partir do ato ilícito.
4.4. Construção de hidrelétrica e prejuízo aos pescadores artesanais do local – (Info 574) –
IMPORTANTE!!!

João é pescador artesanal e vive da pesca que realiza no rio Paranapanema, que faz a divisa dos
Estados de São Paulo e Paraná. A empresa "XXX", após vencer a licitação, iniciou a construção
de uma usina hidrelétrica neste rio. Ocorre que, após a construção da usina, houve uma grande
redução na quantidade de alguns peixes existentes no rio, em especial "pintados", "jaú" e
"dourados". Vale ressaltar que estes peixes eram os mais procurados pela população e os que
davam maior renda aos pescadores do local. Diante deste fato, João ajuizou ação de indenização
por danos morais e materiais contra a empresa (concessionária de serviço público) sustentando
que a construção da usina lhe causou negativo impacto econômico e sofrimento moral, já que
ele não mais poderia exercer sua profissão de pescador. O pescador terá direito à indenização
em decorrência deste fato?
Danos materiais: SIM.
Danos morais: NÃO.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.371.834-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 5/11/15 (Info 574).

4.5. Responsabilidade civil por dano ambiental: Empresa de mineração que deixou vazar
resíduos de lama tóxica – (Info 545) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017) (TJMT-2018) (TJRS-2018)
(TJBA-2019)

Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material
que atingiu quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e
de Minas Gerais, deixando inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens móveis e imóveis.
O STJ, ao julgar a responsabilidade civil decorrente desses danos ambientais, fixou as
seguintes teses em sede de recurso repetitivo:
a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral,
sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade
do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de
excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar;
b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados
e
c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso
a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do
autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina
e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à
realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja
enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação
pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado.
STJ. 2ª S. REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/8/14 (Info 545).
(TJBA-2019-CESPE): Por equívoco de um de seus empregados, uma empresa alimentícia
deixou vazar acidentalmente parte de seu insumo em um rio, o que causou a morte de 5 t de
peixes. Nessa situação hipotética, relativamente à responsabilidade civil ambiental, a empresa
responderá pelo dano, porque a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria
do risco integral. BL: Info 545, STJ.
(TJRS-2018-VUNESP):  Supondo-se que um grande navio com cargas explodiu em um porto
brasileiro, despejando milhões de litros de óleo e metanol que causou a degradação do meio
ambiente marinho, inviabilizando a pesca pelos moradores próximos ao local, pois o Poder
Público estabeleceu uma proibição temporária da pesca em razão da poluição ambiental. Em
razão disso, os pescadores prejudicados ingressaram com ação judicial, calcado em
responsabilidade civil. De acordo com a jurisprudência dominante do STJ, assinale a alternativa
correta: A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco
integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na
unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental,
de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar. BL: Info 545,
STJ.

4.6. Particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno – (Info 544) – IMPORTANTE!!! –
(TJDFT-2015)
O particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local
onde, apesar da existência de cerca e de placas de sinalização informando a presença de
material orgânico, o acesso de outros particulares seja fácil, consentido e costumeiro, responde
objetivamente pelos danos sofridos por pessoa que, por conduta não dolosa, tenha sofrido, ao
entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes de contato com os resíduos.
A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente
dito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado),
é objetiva, fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 1º, da Lei
6.938/81, que consagra o princípio do poluidor-pagador. A teoria do risco integral constitui uma
modalidade extremada da teoria do risco em que o nexo causal é fortalecido de modo a não ser
rompido pelo implemento das causas que normalmente o abalariam (v.g. culpa da vítima; fato
de terceiro, força maior). Essa modalidade é excepcional, sendo fundamento para hipóteses
legais em que o risco ensejado pela atividade econômica também é extremado, como ocorre com
o dano nuclear (art. 21, XXIII, "c", da CF e Lei 6.453/77).
STJ. 3ª T. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 6/5/14 (Info 544).
(TJDFT-2015-CESPE):  Antônio depositou, a céu aberto, resíduos tóxicos em terreno de sua
propriedade. Embora a área fosse cercada e houvesse placas de sinalização informando a
presença de material tóxico, o acesso ao terreno era fácil, consentido e costumeiro. Joaquim, um
morador que não conhecia bem a vizinhança, passou pelo local e sofreu, por conduta não
dolosa, graves queimaduras decorrentes do contato com os resíduos tóxicos, pois, ao ver esse
material, ficou curioso, se aproximou e o tocou. A conduta de Antônio enquadra-se no conceito
de dano ambiental e a ela devem ser aplicados o princípio do poluidor-pagador e a
responsabilidade objetiva por risco integral. BL: art. 225, §3º e Info 544, STJ

OBS:
No caso de dano ambiental aplica-se a teoria do risco de forma extremada? SIM. No caso de
danos ambientais, aplica-se a teoria do risco INTEGRAL. A teoria do risco INTEGRAL constitui
uma MODALIDADE EXTREMADA da teoria do risco em que o nexo causal é fortalecido. Assim,
o nexo causal não se rompe mesmo que se verifique alguma causa que normalmente seria
excludente da responsabilidade (ex: culpa da vítima; fato de terceiro, força maior). Essa
modalidade (risco integral) é EXCEPCIONAL, sendo fundamento para hipóteses legais em que o
risco ensejado pela atividade econômica também é extremado, como ocorre com o dano nuclear
(art. 21, XXIII, “c”, da CF e Lei 6.453/77). O mesmo ocorre com o dano ambiental (art. 225, caput e
§ 3º, da CF e art. 14, § 1º da Lei 6.938/81), em face da crescente preocupação com o meio ambiente.

4.7. Empresa que deixou vazar amônia em rio e danos aos pescadores profissionais – (Info
538) – IMPORTANTE!!! – (TJMA-2013) (TJPR-2017) (TJMT-2018) (TJRS-2018) (TJBA-2019)

A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO


INTEGRAL. Não são admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a
força maior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima.
O registro de pescador profissional e o comprovante do recebimento do seguro-defeso são
documentos idôneos para demonstrar que a pessoa exerce a atividade de pescador. Logo, com
tais documentos é possível ajuizar a ação de indenização por danos ambientais que
impossibilitaram a pesca na região.
Se uma empresa causou dano ambiental e, em decorrência de tal fato, fez com que determinada
pessoa ficasse privada de pescar durante um tempo, isso configura dano moral.
O valor a ser arbitrado como dano moral não deverá incluir um caráter punitivo. É inadequado
pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a
punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo. Assim, não há que se falar em
danos punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais.
STJ. 2ª S. REsp 1.354.536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 26/3/14 (recurso repetitivo)
(Info 538).
(TJBA-2019-CESPE): Por equívoco de um de seus empregados, uma empresa alimentícia
deixou vazar acidentalmente parte de seu insumo em um rio, o que causou a morte de 5 t de
peixes. Nessa situação hipotética, relativamente à responsabilidade civil ambiental, a empresa
responderá pelo dano, porque a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria
do risco integral. BL: Infos 538 e 545, STJ.
4.8. Negativa de autorização de queimada por órgão ambiental não gera dano moral – (Info
531)

Não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos concedendo autorizações para
desmatamento e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar o solo para
atividade agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o referido terreno integra área de
preservação ambiental.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.287.068-RR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 10/9/13 (Info 531).

4.9. Dano moral coletivo no direito ambiental – (Info 526) – (Anal. Gest. Educ./SEDF-2017)
(TJMT-2018)

Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível que a
sentença condenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as obrigações de recompor o
meio ambiente degradado e de pagar quantia em dinheiro a título de compensação por dano
moral coletivo.
STJ. 2ª T. REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 28/5/13 (Info 526).
(Anal. Gestão Educ./SEDF-2017-CESPE): Situação hipotética: A defensoria pública ingressou
em juízo com uma ação civil pública contra empresa privada que praticava ato lesivo ao meio
ambiente e à ordem urbanística de determinado ente federativo. Assertiva: Nesse caso, a
defensoria pública poderia requerer a condenação da empresa requerida ao pagamento em
dinheiro em função dos danos provocados, e cumular a esse pedido a cessação dos atos lesivos,
bem como o cumprimento de recuperação dos danos causados ao meio ambiente e à ordem
urbanística. BL: art. 3º e 5º, inciso II, LACP e STJ (REsp 1.145.083/MG e REsp 1328753/MG).

5. OUTROS TEMAS
5.1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA: Suspensão da ações individuais que tratem do caso de chumbo
da mineradora Plumbum, em Adrianópolis (PR) – (Info 643) – RECURSO REPETITIVO!!!

Até o trânsito em julgado das Ações Civis Públicas n. 5004891-93.2011.4004.7000 e n.


2001.70.00.019188-2, em tramitação na Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de Curitiba,
atinentes à macrolide geradora de processos multitudinários em razão de suposta exposição à
contaminação ambiental decorrente da exploração de jazida de chumbo no Município de
Adrianópolis/PR, deverão ficar suspensas as ações individuais.
STJ. 2ª Seção. REsp 1525327-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 12/12/18 (recurso repetitivo)
(Info 643).
OBS:
O caso concreto, com algumas adaptações, foi o seguinte: A mineradora Plumbum explorou,
durante anos, uma jazida de chumbo no Município de Adrianópolis/PR, que fica na Região
Metropolitana de Curitiba. Jazida mineral é um local que contenha grande concentração de um
determinado minério ou outra substância natural de valor econômico, que se encontra na
superfície ou no interior da terra. Em 1995, as reservas de chumbo esgotaram-se no local e a
mineradora decidiu encerrar as suas atividades. Ocorre que, segundo alega o MP, toneladas de
rejeitos de minérios (com elevado teor de chumbo) foram deixadas no local, à céu aberto, sem a
menor proteção. Esses rejeitos foram carregados pelas chuvas até o leito do Rio Ribeira, causando
graves danos ambientais. Além disso, a poeira tóxica foi levada pelo vento e aspirada pela
população da cidade e dos arredores, gerando danos para a saúde da população local. Diversos
moradores da região se contaminaram com chumbo, conforme apontam estudos científicos
realizados com amostras de sangue coletadas.

Ações civis públicas: Diante do cenário acima descrito, em 2001, foram propostas duas ações civis
públicas contra a Plumbum pedindo a condenação da ré:
a) a uma série de obrigações de fazer e não fazer para reparação in natura do meio
ambiente;
b) ao pagamento de indenização por danos materiais e morais, difusos e também
individuais homogêneos.

Onde essas ações foram propostas? Na Justiça Federal, mais especificamente na 11ª Vara Federal
de Curitiba (vara federal especializada em matéria ambiental e agrária).
Ações individuais: As ações coletivas ganharam grande destaque na imprensa e os moradores
passaram a ter consciência do risco e dos danos que estiveram submetidos. Assim, além das ações
coletivas, os moradores do local passaram a ingressar com ações individuais pedindo indenização
por danos morais. Tais ações individuais foram propostas na Justiça Estadual.

O que fizeram os Juízes de Direito que receberam essas ações individuais? Determinaram o
sobrestamento das ações individuais até que as ações civis públicas ajuizadas na Vara Federal
Ambiental, Agrária e Residual de Curitiba transitem em julgado.

Agiram corretamente os Juízes estaduais? SIM.

Condenação genérica: Em caso de procedência do pedido formulado nas ações civis públicas, a
condenação da empresa será genérica, fixando a responsabilidade da ré pelos danos causados,
nos termos do art. 95 do CDC:
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados.

Obs: o art. 95 do CDC aplica-se, indiscutivelmente, ao presente caso considerando que os artigos
presentes no Capítulo II do Título III do CDC (onde está o art. 95) e a Lei de Ação Civil Pública
(Lei 7.347/85) formam, em conjunto, um microssistema próprio do processo coletivo, devendo ser,
portanto, interpretados sistematicamente. É o que prevê o art. 21 da LACP:
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais,
no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de
Defesa do Consumidor.

Suspensão das ações individuais: O STJ, no recurso repetitivo REsp 1.110.549/RS, leading case
sobre o tema, consolidou o entendimento no sentido de que:
Ajuizada ação coletiva atinente à macrolide geradora de processos multitudinários,
suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva. STJ.
2ª Seção. REsp 1110549/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 28/10/09.

Assim, é possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o


julgamento, no âmbito das ações coletivas, da responsabilidade da empresa. Deve-se considerar
que as ações coletivas implicam redução de atos processuais, configurando-se, assim, um meio
de concretização dos princípios da celeridade e economia processual. A coletivização da
demanda, seja no polo ativo, seja no polo passivo, é um dos meios mais eficazes para o acesso à
justiça, porquanto, além de reduzir os custos, consubstancia-se em instrumento para a
concentração de litigantes em um polo, evitando-se, assim, os problemas decorrentes de
inúmeras causas semelhantes. Assim, o mais prudente é o sobrestamento dos feitos individuais
até a solução definitiva do litígio coletivo.

Assistência: Vale ressaltar que, em tese, seria possível que os lesados ingressassem nas ações
coletivas como litisconsortes, conforme prevê o art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla
divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

Essa possibilidade de litisconsórcio, contudo, é excepcional, e deverá ser examinada com


temperamento, uma vez que existem peculiaridades processuais que deverão ser adequadas à
respectiva tutela coletiva, pois, apesar de assumir a condição de litisconsorte (facultativo e
unitário - em que a decisão deverá ser uniforme com relação a todos), não poderá apresentar
novas demandas, ampliando o objeto litigioso da ação coletiva à consideração de seus direitos
pessoais, o que contrariaria todo o espírito de “molecularização” da causa.

Como esse tema já foi cobrado em concursos:


 (Assessor Jurídico - DPE-PR - PUCPR - 2014) Segundo jurisprudência firmada pelo STJ,
pela via dos recursos repetitivos, ajuizada ação coletiva atinente à macrolide geradora de
processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, no aguardo do julgamento
da ação coletiva (CERTO).
 (Titular de Serviços de Notas e de Registros - TJ-SE - CESPE - 2014) De acordo com a
jurisprudência do STJ, caso seja ajuizada ação coletiva atinente a macrolide geradora de
processos multitudinários, o juiz poderá suspender o trâmite de todas as ações
individuais, mas, para isso, dependerá de requerimento da parte interessada (ERRADO).

DOD Plus: JUSTIÇA MULTIPORTAS: Um tema que não constou no informativo original, mas
foi mencionado no voto do Min. Luis Felipe Salomão diz respeito à chamada “Justiça
Multiportas”. Você já ouviu falar nesta expressão?

Conciliação, mediação e arbitragem: A conciliação, mediação e arbitragem eram tradicionalmente


chamadas de métodos alternativos de solução dos conflitos. Com o advento do CPC/2015,
contudo, a doutrina afirma que elas não devem mais ser consideradas uma “alternativa”, como
se fosse acessório a algo principal (ou oficial). Segundo a concepção atual, a conciliação, a
mediação e a arbitragem integram, em conjunto com a jurisdição, um novo modelo que é
chamado de “Justiça Multiportas”.

Conceito: A ideia geral da Justiça Multiportas é, portanto, a de que a atividade jurisdicional


estatal não é a única nem a principal opção das partes para colocarem fim ao litígio, existindo
outras possibilidades de pacificação social. Assim, para cada tipo de litígio existe uma forma
mais adequada de solução. A jurisdição estatal é apenas mais uma dessas opções. Como o
CPC/2015 prevê expressamente a possibilidade da arbitragem (art. 3, §1º) e a obrigatoriedade,
como regra geral, de ser designada audiência de mediação ou conciliação (art. 334, caput), vários
doutrinadores afirmam que o novo Código teria adotado o modelo ou sistema multiportas de
solução de litígios (multi-door system). Vejamos como Leonardo Cunha, com seu costumeiro
brilhantismo, explica o tema:
“Costumam-se chamar de ‘meios alternativos de resolução de conflitos’ a mediação,
a conciliação e a arbitragem (Alternative Dispute Resolution - ADR).
Estudos mais recentes demonstram que tais meios não seriam ‘alternativos’: mas
sim integrados, formando um modelo de sistema de justiça multiportas. Para cada
tipo de controvérsia, seria adequada uma forma de solução, de modo que há casos
em que a melhor solução há de ser obtida pela mediação, enquanto outros, pela
conciliação, outros, pela arbitragem e, finalmente, os que se resolveriam pela decisão
do juiz estatal.
Há casos, então, em que o meio alternativo é que seria o da justiça estatal. A
expressão multiportas decorre de uma metáfora: seria como se houvesse, no átrio do
fórum, várias portas; a depender do problema apresentado, as partes seriam
encaminhadas para a porta da mediação, ou da conciliação, ou da arbitragem, ou da
própria justiça estatal.
O direito brasileiro, a partir da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de
Justiça e com o Código de Processo Civil de 2015, caminha para a construção de
um processo civil e sistema de justiça multiportas, com cada caso sendo indicado
para o método ou técnica mais adequada para a solução do conflito. O Judiciário
deixa de ser um lugar de julgamento apenas para ser um local de resolução de
disputas. Trata-se de uma importante mudança paradigmática. Não basta que o
caso seja julgado; é preciso que seja conferida uma solução adequada que faça com
que as partes saiam satisfeitas com o resultado.” (CUNHA, Leonardo Carneiro da. A
Fazenda Pública em Juízo. 13ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 637).

Vantagens: Marco Aurélio Peixoto e Renata Peixoto, citando a lição de Rafael Alves de Almeida,
Tânia Almeida e Mariana Hernandez Crespo apontam as vantagens do sistema multiportas:
a) o cidadão assumiria o protagonismo da solução de seu problema, com maior
comprometimento e responsabilização acerca dos resultados;
b) estimulo à autocomposição;
c) maior eficiência do Poder Judiciário, porquanto caberia à solução jurisdicional
apenas os casos mais complexos, quando inviável a solução por outros meios ou
quando as partes assim o desejassem;
d) transparência, ante o conhecimento prévio pelas partes acerca dos
procedimentos disponíveis para a solução do conflito.
(PEIXOTO, Marco Aurélio Ventura; PEIXOTO, Renata Cortez Vieira. Fazenda
Pública e Execução. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 118).

Origem da expressão: A origem dessa expressão “Justiça Multiportas” remonta os estudos do


Professor Frank Sander, da Faculdade de Direito de Harvard, que mencionava, já em 1976, a
necessidade de existir um Tribunal Multiportas, ou “centro abrangente de justiça”.

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