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DEFESA ADMINISTRATIVA
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1. DA TEMPESTIVIDADE
A Autuada foi cientificada da lavratura do auto de infração ambiental em
epígrafe, no dia 20 de fevereiro de 2020, através do envio de carta com aviso de
recebimento, de modo que, nos termos do art. 71, I, da Lei Federal 9.605/1998 e art. 113 do
Decreto 6.514/2008, o prazo para apresentar defesa prévia é de 20 dias contados da ciência
da autuação, e, portanto, indiscutível a tempestividade da presente defesa.
2. DA COMPETÊNCIA
A Lei Complementar 639, de 30 de outubro de 2019, deu nova redação ao
art. 96 da LC 38, para incluir o Corpo de Bombeiros como autoridades competentes para
lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo, como se vê:
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auto de infração ambiental em epígrafe nos artigos 41 e 70 da Lei Federal 9.605/98 e artigos
58 e 60 do Decreto Federal 6.514/08.
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Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a
um ano, e multa.
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão
que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do
meio ambiente.
Do Decreto 6.514/2008
Art. 58. Fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autorização do órgão
competente ou em desacordo com a obtida:
Multa de R$ 1.000,00 (mil reais), por hectare ou fração.
Art. 60. As sanções administrativas previstas nesta Subseção serão
aumentadas pela metade quando:
I - ressalvados os casos previstos nos arts. 46 e 58, a infração for consumada
mediante uso de fogo ou provocação de incêndio; e
II - a vegetação destruída, danificada, utilizada ou explorada contiver espécies
ameaçadas de extinção, constantes de lista oficial.
A propriedade teria autorização para queima controlada, mas que deixou passar
o período permitido causando assim crime ambiental por uso de fogo em
período proibitivo.
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7. CONCLUSÃO [...]
Foi analisada a forma de propagação, associada a recursos remotos de focos de
calor, imagens de satélites e dados metrológicos, as evidências nas áreas de
origem e adjacentes, e concluiu que o fogo teve origem no dia 04.01.2021, tendo
o primeiro foco captado pelo sensor térmico do satélite NPP do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais - INPE na Fazenda ao lado. Dinâmica subsidiada pelas
imagens do satélite Sentinela hub, cicatriz da queimada disponibilizada pelo
satélite Landsat-8 no dia 02.01.2021.
Evidentemente, não há como inferir que o fogo foi causado pela Autuada
em sua propriedade a partir de duas meras imagens fotográficas tiradas um dia depois após
o início do fogo, desprezando o fato de que a propriedade fica às margens da rodovia.
5. DA VERDADE FÁTICA
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Não há dúvidas que a supressão de vegetação foi legalmente autorizada
pela SEMA, assim como, a expedição de Autorização para Queimada Controlada, a qual
observou e respeitou o período proibitivo para uso de fogo. É dizer, não foi realizado
nenhum fogo durante o período proibitivo. A origem e autoria do fogo são desconhecidas.
Ora. Não há como impor uma sanção por dedução de que o fogo tenha
sido provocado pela Autuada, quando esta foi a própria prejudicada pelo fogo que devastou
a pastagem de anos de cultivo, enorme quantidade de materiais de construção e
benfeitorias, além de cercas e área de reserva legal.
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teve origem no dia 04.01.2021, em local diverso, data em que a cicatriz de queima teria sido
constada pelo satélite, quando as próprias imagens do Satélite Landsat 8 que juntaram aos
autos comprovam que o fogo efetivamente teve início no dia 02.01.2021, data da cicatriz de
queima.
Outro ponto que chama a atenção, é que o auto de infração foi lavrado por
desmatar 4.200 ha de vegetação nativa, objeto de especial preservação, sendo consumada
mediante uso de fogo, sem autorização do órgão competente, o que é totalmente
contraditório. Primeiro, porque os dispositivos legais indicados pela equipe técnica do Corpo
de Bombeiros como supostamente infringidos, são todos relacionados ao uso irregular de
fogo. Segundo, é que não há qualquer evidência de “desmatamento sem autorização”. E,
terceiro, não há como imputar à Autuada uma degradação de 4.200 ha a partir de uma
vetorização genérica indicando apenas focos iniciais de fogo vistos por satélite, mas não
comprovados.
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6. PRELIMINARMENTE
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Portanto, a majorante prevista no art. 60, incisos I e II, deve ser afastada,
porquanto inaplicável por expressa previsão legal e por atipicidade da conduta.
Logo, o valor correto que deveria ter sido indicado no auto de infração a
título de multa ambiental era R$ 6.300.000,00, mas como já dito quase que de forma
exaustiva, o art. 60 é inaplicável ao caso concreto.
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Portanto, há erro grosseiro no cálculo do valor da multa ambiental, que
considerou valores diversos daqueles descritos aos tipos supostamente infringidos.
Como se vê, as imagens juntadas aos autos apenas monstram fogo nas
leiras, as quais realizadas com autorização da SEMA e, portanto, aguardava-se o fim do
período proibitivo para o uso de fogo, de acordo com AQC, não havendo qualquer prova de
efetivo dano em 4.200 ha, de modo que deve ser declarado nulo o auto de infração por
violação ao princípio da motivação e ao 16, § 1º e art. 97 do Decreto 6.514/08.
7. DO MÉRITO
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No caso concreto, o auto de infração ambiental, o auto de inspeção e o
relatório técnico são paupérrimos ao descrever a conduta considerada violadora da
legislação ambiental.
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administrativas constatadas e a indicação dos respectivos dispositivos legais e
regulamentares infringidos, não devendo conter emendas ou rasuras que
comprometam sua validade.
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perfunctória, tais elementos, limitando-se a inserir área de 4.200 ha como degradada pela
Autuada, sem revelar como esta concorreu para o fogo.
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critérios mencionados no parágrafo único do art. 2º da Lei no 9.784, de 29 de
janeiro de 1999.
6. DOS REQUERIMENTOS
Ante o exposto, requer:
a) Preliminarmente, seja reconhecida (i) a inaplicabilidade do art. 60 do Decreto 6.514/08;
(ii) o erro grosseiro no cálculo do valor da multa; e, (iii) a inexistência de 4.200 hectares
de área atingida, a fim de declarar o auto de infração insubsistente;
b) No mérito, seja o auto de infração ambiental declarado nulo, (i) ante a ausência de
descrição clara e objetiva da infração; e, (ii) pela ausência de designação da audiência de
conciliação ambiental;
c) requer a intimação pessoal ou por via postal com aviso de recebimento, para a audiência
de instrução e oitiva de testemunhas, bem como, para apresentar alegações finais, nos
termos do parágrafo único do art. 122 do Decreto 6.514/08, e, no caso de ser mantido o
auto de infração hostilizado, requer a notificação da decisão para interposição de recurso
administrativo por via pessoal ou postal com aviso de recebimento, consoante art. 126 do
Decreto 6.514/08, sempre observado o endereço mencionado no preâmbulo, sob pena
de nulidade. Em caso de a intimação/notificação pessoal ou por carta com aviso de
recebimento restar inexitosa, requer o esgotamento dos meios hábeis para localização do
endereço da Autuada, vez que a intimação/notificação por edital é medida excepcional
que somente pode ser realizada após exauridas todas as tentativas de localizar o
autuado, sob pena de nulidade;
d) por fim, requer, nos termos do art. 115 do Decreto 6.514/08, a produção de todos os
meios de prova em direito admitidos, especificamente, estudos e laudo técnico
elaboradores por profissional habilitado a serem realizados na fase de saneamento, a fim
de comprovar que a Autuada não deu causa ao fogo, muito menos provocou danos em
4.200 ha, bem como, a oitiva das testemunhas abaixo arroladas para serem ouvidas na
fase de instrução, as quais comprovarão que a Autuada não provocou o fogo, nem se
beneficiou com ele, que teve prejuízos e envidou esforções para tentar apaga-lo.
Requer e espera deferimento.
Local e data.
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ADVOGADO
OAB/SC
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