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AO SENHOR DIRETOR DA SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO

AMBIENTE DE JUÍNA – MATO GROSSO

Auto de Infração nº 107067/2010

MARIA APARECIDA SOARES DOS SANTOS, brasileira,

casada, com documento de identificação RG nº 492.888 SSP/MT e CPF nº

666.962.751-34, residente e domiciliada na Rua Antônio Jose De Oliveira, nº

298-E, Bairro Padre Duílio, Juína-MT, por suas advogadas que esta

subscrevem em com o devido respeito e acatamento diante de Vossa

Senhoria com fundamento no artigo 5º, LV da Constituição Federal artigo 71,

I da Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, bem como nos demais

dispositivos legais aplicáveis, apresentar:

DEFESA ADMINISTRATIVA

pelos motivos de fato e de direito que se seguem:

PRELIMINARMENTE

PEDIDO DE REABERTURA DO PRAZO PARA DEFESA

PRELIMINAR
Preliminarmente, requer a reabertura do prazo para

apresentação da defesa preliminar, considerando o PRINCÍPIO DA AMPLA

DEFESA, com fulcro no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988:

“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla

defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Além disso, vale lembrar, o posicionamento doutrinário, onde

sustenta que a DEFESA PRELIMINAR séria imprescindível, mesmo que a

interessada tenha sido citada por edital.

O Doutrinador Helly Lopes, Direito Administrativo Brasileiro

– São Paulo: Editora Malheiros, 1999, pág. 145: “considera que para que

ocorra a aplicação da multa é necessário que ocorra o processo

administrativo e que seja garantido o contraditório e a ampla defesa para

que depois a multa seja mensurada e aplicada”.

A interessada reside no Bairro Palmiteira na Cidade de Juína-

MT, e as duas tentativas de citações foram efetuadas via correspondência

(folhas 10 e 15), e não tiveram a finalidade atingida, tendo em vista que na

época dos fatos o referido bairro não era atendido pelos correios. Logo a

tentativa de citação realizada por intermédio dos correios não pode ser

considerada válida, gerando assim prejuízo a interessada, que teve cerceado

seu direito ao contraditório e a ampla defesa.

Em 28/03/2016, em atendimento as portarias nº 556 e 557 do

Ministério das Comunicações, o município de Juína se adequou ao sistema

de endereçamento postal, que tem como objetivo organizar, agilizar e

facilitar a postagem, localização e distribuição das correspondências de


forma lógica, e atualmente os Correios atendem todos os bairros da zona

urbana do município.

SINTESE DOS FATOS

Em 23/09/2010, a interessada recebeu em sua residência a

equipe técnica da Sema, o agente ambiental Reginaldo Ademir Burgi e a

analista de meio ambiente Silvana Inês Fuhr, que estavam realizando uma

fiscalização ambiental. Na época foi informada que houve uma queimada

em sua suposta propriedade situada na Rodovia 170, km 20, Vale do Juinão,

Município de Juína-MT, denominada Sítio Bom Jesus. Sem saber ao certo do

que se tratava, em um momento de nervosismo, entregou seus documentos

pessoais para a equipe técnica, no qual foi elaborado um Auto de Inspeção

nº 107016 e um Auto de Infração nº 107067 com todos seus dados, porem a

interessada não assinou, conforme fl. 01/02.

Ainda consta no Auto de Inspeção 107016 que sua atividade

na época dos fatos era agricultura familiar, fato que não é verídico, pois

desde 25/06/2007 trabalha com seu marido Sr. Paulo Horn, na Mercearia

Para Todos, conforme extrato do CNPJ em anexo.

No item 7 do Relatório Técnico nº 137/10/DUD/JUINA/SEMA,

afirma que a propriedade pertencia a senhora MARIA APARECIDA

SOARES DOS SANTOS, mas na época dos fatos, a mesma ainda estava em

negociando a possível aquisição da propriedade, porem não finalizou a

compra, vale salientar também que não existe qualquer contrato de compra e

venda ou outro documento da referida área em nome da interessada,

Ainda no item 7 do Relatório Técnico nº

137/10/DUD/JUINA/SEMA, a equipe técnica afirma que estiveram “in loco”


no Sítio Bom Jesus e que foram recebidos pela senhora Maria Aparecida

Soares dos Santos, ocorre que a fiscalização ocorreu na Mercearia Para

Todos, anexa a sua residência, situado no Bairro Palmiteira, na cidade de

Juína-MT.

Recentemente, em abril de 2018 a autuada tomou ciência do

auto de infração e da multa originaria de DECISÃO ADMINISTRATIVA Nº

1568/SUNOR/SEMA/2015, as fls. 24 e v°.

DO DIREITO

DA IMPROCEDENCIA DO AUTO DE INFRAÇÃO

A equipe técnica enquadrou a conduta da autuada nos artigos

41 e 70 da Lei Federal n.º 9.605/98. Para melhor análise, cumpre transcrever o

dispositivo:

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena - reclusão, de dois a

quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses

a um ano, e multa.

Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou

omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e

recuperação do meio ambiente.

Também constou como norma aplicável ao caso os artigos 51 e

60 do Decreto Federal n.º 6.514/2008:

Art. 51. Destruir, desmatar, danificar ou explorar floresta ou qualquer

tipo de vegetação nativa ou de espécies nativas plantadas, em área de

reserva legal ou servidão florestal, de domínio público ou privado, sem


autorização prévia do órgão ambiental competente ou em desacordo com a

concedida: Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por hectare ou fração.

Art. 60. As sanções administrativas previstas nesta Subseção serão

aumentadas pela metade quando: I - ressalvados os casos previstos nos

arts. 46 e 58, a infração for consumada mediante uso de fogo ou

provocação de incêndio; e II - a vegetação destruída, danificada, utilizada

ou explorada contiver espécies ameaçadas de extinção, constantes de lista

oficial.

Ainda constou como norma aplicável ao caso o artigo 1º do

Decreto Federal 2.661/2008:

Art 1º É vedado o emprego do fogo: I - nas florestas e demais formas de

vegetação;

A simples analise dos dispositivos acima não vislumbra

o nexo de causalidade entre a conduta da autuada e o resultado

(ilícito administrativo). Considerando que ainda nunca foi

proprietária e nunca residiu na referida área em que foi constatada a

queimada, e que não há provas que foi autora da queimada que

originou multa em cobrança.

Como podemos ver, não há certeza quanto à origem do

fogo que produziu o dano ambiental. Nem há elementos suficientes

que permitam concluir que, de fato, autuada tenha a ateado fogo na

propriedade, conforme os seguintes entendimentos:

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AUTO DE INFRAÇÃO.

QUEIMADA. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. NÃO CONFIRMAÇÃO


EM JUÍZO. Os atos administrativos gozam de presunção de legitimidade e

legalidade, cabendo ao autor produzir prova capaz de afastar essa presunção.

Existindo elementos de prova suficientes para corroborar a assertiva de que a

autora não foi responsável pela queimada em áreas de sua propriedade rural,

deve ser afastada a presunção de veracidade do auto de infração, com o

reconhecimento da nulidade de sua autuação. (TRF4, APELAÇÃO/REEXAME

NECESSÁRIO Nº 5009850-64.2012.404.7100, 4ª TURMA, Des. Federal

VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, POR UNANIMIDADE,

JUNTADO AOS AUTOS EM 09/12/2013)

ADMINISTRATIVO. IBAMA. MULTA. INCÊNDIO. DEGRADAÇÃO

AMBIENTAL. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS DA AUTORIA. Embora os

fatos estejam devidamente apurados em processo administrativo, cabia ao

executado produzir prova a seu favor (de que não deu causa, por ação ou

omissão, ao incêndio e aos danos ambientais). No entanto, as provas foram

dispensadas, mas eram necessárias para se ter certeza a respeito da origem do

incêndio. Diante da insuficiência de provas, deve ser anulada a sentença

proferida (TRF4, APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 5002058-

94.2010.404.7208, 4ª TURMA, Des. Federal CÂNDIDO ALFREDO SILVA

LEAL JÚNIOR, POR UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM

19/06/2015)

ADMINISTRATIVO. IBAMA. INCÊNDIO EM PROPRIEDADE

AGROPASTORIL. INTENÇÃO DE REALIZAÇÃO DE QUEIMADA. NÃO

COMPROVAÇÃO. 1. Não se conhece do agravo retido quando não reiterada a

sua apreciação nas razões de apelação ou contrarrazões, consoante disposição do

artigo 523, § 1º, do CPC. 2. Demonstrado por prova testemunhal e fotografias

que o incêndio teve início fora da propriedade da autora e, não tendo atingido

toda a extensão desta, não há de ser mantido o auto de infração com fundamento

em realização de queimada sem autorização de órgão ambiental competente.

(TRF4, APELAÇÃO CÍVEL Nº 2006.71.03.000519-5, 3ª TURMA, Des.


Federal FERNANDO QUADROS DA SILVA, POR UNANIMIDADE, D.E.

12/07/2011, PUBLICAÇÃO EM 13/07/2011)

Verifica-se que a área queimada não foi submetida à

perícia ou qualquer outro método de avaliação técnica, de forma que

não foi constatado o local onde se iniciou o fogo, nem as

circunstancias. Vale salientar também que a referida propriedade tem

como limite uma rodovia estadual, por onde circulam inúmeras

pessoas diariamente.

Também se pode observar a nulidade do ato

administrativo, inexiste nos autos, explicação para a forma da

formalização do ato, a fim de justificar a lavratura do auto fora do

local da inspeção, o que por si o torna nulo, por violação aos

requisitos de qualquer ato administrativo, notada e especificamente

vício de forma, que, uma vez mais, é requisito vinculante do ato

administrativo.

AUTO DE INFRAÇÃO. LAVRATURA FORA DO LOCAL DE

INSPEÇÃO. NULIDADE - A lavratura dos autos de infração deve,

necessariamente, ocorrer no local da inspeção, Não tendo sido observado

esse requisito, o auto de infração é nulo.¨ (Processo Nº AP-2286-

39.2011.5.03.0039 - Processo Nº AP-2286/2011-039-03-00.1 - 3ª Reg. -

3ª Turma - Relator Juiz Convocado Marcio Jose Zebende - DEJT-MG

07.12.2012, pag. 47).

Observa-se que o Auto de Infração, tenha havido a fiscalização “in

loco”, conforme descrito nos autos, foi realizada no Bairro Palmiteira, na


residência da autuada, e não no local da queimada, denominado Sítio Bom

Jesus, Vale do Juinão, Rodovia MT 170, KM 20, Município de Juína-MT,

que na época era um local de mata fechada, onde não havia morador

algum.

Também se contradições nas datas constantes nos autos de

inspeção/infração e no relatório técnico. No auto de inspeção/infração nº

1070106 com o objetivo de fiscalização ambiental, estão datados em

23/09/2010, já no relatório técnico consta como data de realização de

fiscalização “in loco” no dia 23/10/2010, ou seja, 30 dias de diferença, não

dando certeza ao certo, qual a data da fiscalização “in loco”.

DA MULTA

Não se pode julgar alguém, por mera presunção,

inclusive aplicando pena de multa, e posteriormente lançando como

débito fiscal a ser inscrito em dívida ativa para execução, sem ao

menos dar as condições elementares para que se processe a

elucidação dos fatos e assim a mais Ampla Defesa.

A referida multa foi inscrita em dívida ativa em

09/08/2017, conforme CDA (certidão de dívida ativa) em anexo.

DOS PEDIDOS

ISTO POSTO, requer, seja por Vossa Senhoria, reconhecida a

preliminar e declarada a nulidade em razão do vício formal na lavratura do

Auto de Infração.

Outrossim, sendo superada a preliminar REABERTURA DE

PRAZO PARA DEFESA PREMILINAR, espera a autuada que seja apreciada


a presente defesa, considerando as condições e motivos aqui expostos, em

especial a condição de inocência, depois de processada, integralmente

acolhida, para o fim de que V.Sa., se digne determinar que o Auto de

Infração seja considerado totalmente INSUBSISTENTE não se impondo,

assim, qualquer pena pecuniária, requer ainda a anulação da multa já

imposta a autuada pela SEMA – Secretaria de Estado e Meio Ambiente;

Por fim, em não sendo possível o pedido principal, enseja,

então, que a multa provinda do auto de infração seja transformada em

ADVERTÊNCIA, observando-se assim a proporção e razoabilidade para a

aplicação da penalidade, sendo a menos gravosa em detrimento aos fatos a

advertência, aliado ao fato da ausência de provas quanto a autoria, como

medida de Justiça!!!.

Diante o exposto, pede e espera deferimento.

Juína-MT, 21 de maio de 2018.

Selma Pinto de Arruda Guimarães Heloiza Rodrigues Tiepo

OAB/MT 3.479 OAB/MT 24.427/O

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