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PODER JUDICIÁRIO TRF/fls.

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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO
Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro
APELAÇÃO CÍVEL (AC) Nº 538560/PE (0001483-29.2011.4.05.8302)
APTE : EMGEA - EMPRESA GESTORA DE ATIVOS E OUTRO
ADV/PROC : CONCEIÇÃO KEANE GOMES CHAVES E OUTROS
APDO : JOAO EDISON PATRIOTA
ADV/PROC : ANTIOGENES CARLOS RODRIGUES DE LIRA E OUTRO
ORIGEM : 16ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (COMPETENTE P/
EXECUçõES PENAIS) - PE
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO

RELATÓRIO

O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO


NAVARRO: Trata-se de recurso de apelação interposto pela EMGEA –
Empresa Gestora de Ativos contra sentença que julgou parcialmente
procedente a pretensão do Autor, João Edison Patriota, nos termos que abaixo
transcrevo:
“Posto isso, julgo PROCEDENTE EM PARTE os pedidos autorais, nos
termos do art. 269, I, do CPC, para (I) anular o leilão extrajudicial do
imóvel residencial sito à Rua Projetada, n.º 23, Loteamento Jardim Boa
Vista –Caruaru/PE, registrado no Ofício de Registro de Imóveis dessa
cidade, matrícula nº. 31.623; e (2) condenar a ré em se abster da
prática de quaisquer atos lesivos à posse do autor, determinando a
manutenção desse no imóvel objeto da presente demanda. Determino
também a reintegração do autor na posse, caso já tenha ocorrido a
eventual imissão por parte da ré.
Julgo IMPROCEDENTE os pedidos de declaração de nulidade da
Cláusula 28 do contrato celebrado e de reconhecimento de existência
de modificações objetivas em suas condições financeiras e o pedido
consistente em obrigar a CAIXA a aceitar a quitação do contrato pelo
mesmo preço do lanço obtido no leilão.
A EMGEA sustenta, em suma, que: preliminarmente, a sentença
seja declarada nula ante a ausência de citação da APEAL –Crédito Imobiliário
S/A, agente fiduciário, na condição de litisconsorte passivo necessário; a
nulidade da sentença seja reconhecida em virtude da ausência de citação do
atual proprietário do imóvel objeto da execução extrajudicial anulada. No
mérito, alega que promoveu a notificação da Apelada para que esta purgasse
a mora, de modo que a execução extrajudicial não padeceria de qualquer
vício.
Com contrarrazões, subiram os autos.
Determinei a sua inclusão em pauta para julgamento.
É o relatório.

AC nº 538560-PE 1 AFRDC
PODER JUDICIÁRIO TRF/fls. ____
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO
Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro
APELAÇÃO CÍVEL (AC) Nº 538560/PE (0001483-29.2011.4.05.8302)
APTE : EMGEA - EMPRESA GESTORA DE ATIVOS E OUTRO
ADV/PROC : CONCEIÇÃO KEANE GOMES CHAVES E OUTROS
APDO : JOAO EDISON PATRIOTA
ADV/PROC : ANTIOGENES CARLOS RODRIGUES DE LIRA E OUTRO
ORIGEM : 16ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (COMPETENTE P/
EXECUçõES PENAIS) - PE
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO

VOTO

O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO


NAVARRO: Egrégia Turma.
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.
De início, não merece prosperar a alegação de litisconsórcio
passivo necessário do agente fiduciário. Em verdade, não há qualquer relação
de ordem jurídico-material entre o mutuário e o agente fiduciário que corrobore
a sua inclusão na presente demanda que visa à anulação de leilão
extrajudicial. Nesse sentido, cito os seguintes julgados:
PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE EXECUÇÃO
EXTRAJUDICIAL. DECRETO-LEI 70/66, ART. 31. NOTIFICAÇÃO
EDITALÍCIA PROCEDIDA DE FORMA REGULAR. PROCEDIMENTO
MANTIDO.
1. O colendo Supremo Tribunal Federal já afirmou que há plena
compatibilidade entre o Decreto-Lei 70/66 e as normas constitucionais
vigentes. Precedente: RE 223.075-DF.
2. A validade da execução extrajudicial em razão da inadimplência do
contrato de financiamento habitacional (SFH) impõe a observância
estrita dos tramites previstos no Decreto-lei 70/66. No caso, tendo o
oficial de Cartório de Títulos e Documentos certificado que não foi
possível notificar pessoalmente a devedora acerca da instauração da
execução extrajudicial, bem como da realização do leilão, uma vez que
não foi localizada no imóvel financiado, encontrando-se em local
incerto ou não sabido, é legítima a notificação por edital (art. 31, §§ 1º
e 2º, do Decreto-lei 70/66).
3. Tendo sido cumpridas todas as formalidades legais necessárias para
a informação da execução extrajudicial, não deve ser anulado o
procedimento.
4. O agente fiduciário não possui legitimidade para figurar no pólo
passivo nas causas que visam a anulação de execução extrajudicial
regida pelo Decreto-Lei 70/66, porquanto não há qualquer relação de
ordem jurídico-material entre ele e os apelados que justifique a sua
inclusão na demanda.

AC nº 538560-PE 2 AFRDC
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5. No Superior Tribunal de Justiça e nesta Corte vem prevalecendo o
entendimento de que se aplicam as regras do Código de Defesa do
Consumidor aos contratos de mútuo habitacional.
6. Apelação da CEF provida. Apelação da Mutual Apetrim Crédito
Imobiliário S/A improvida.”
(TRF1ª, AC 1998.35.00.008352-0/GO, Rel. Juiz Federal Moacir Ferreira
Ramos (conv), Sexta Turma,DJ p.89 de 27/08/2007) (Grifei).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. SFH. CONTRATO DE MÚTUO.


HIPOTECA. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. DECRETO-LEI Nº 70/66.
VÍCIOS NO PROCEDIMENTO. EMENDA DA INICIAL. CITAÇÃO DO
AGENTE FIDUCIÁRIO. LITISCONSORTE NECESSÁRIO.
DESCABIMENTO.
1. O agente fiduciário, embora conduza a execução extrajudicial da
hipoteca, é mero executor dos atos que lhe foram atribuídos pelo
agente financeiro, de sorte que eventual responsabilidade pelo
descumprimento de formalidades no curso do procedimento não
interfere na relação jurídica firmada entre mutuante e mutuário.2.
Somente a Caixa Econômica Federal possui legitimidade para figurar
no polo passivo da ação, em virtude da disciplina legal do Sistema
Financeiro da Habitação estabelecida pelo Governo Federal.3. A
integração do agente fiduciário na relação processual acarretaria ao
mutuário dificuldades processuais em defesa do réu, e não do autor.4.
Agravo de instrumento provido. (TRF3ª, 1342 SP 0001342-
12.2009.4.03.0000, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL VESNA
KOLMAR, Data de Julgamento: 10/07/2012, PRIMEIRA TURMA)
(Grifei)
No tocante à preliminar de nulidade da sentença em razão da não
citação do arrematante do imóvel, cumpre destacar que a demanda em
questão gira em torno da validade da execução extrajudicial e do consequente
leilão extrajudicial do imóvel. A partir da constatação que tais procedimentos
estão eivados de nulidade, pode-se afirmar que o objeto da lide entre a
EMGEA e o Sr. João Edison Patriota foi apreciado a contento. Assim sendo,
eventuais insatisfações ou prejuízos suportados por terceiros, em decorrência
da conduta da EMGEA em não ter diligenciado a regular notificação do
mutuário, devem ser objeto de ação autônoma, movida pelo prejudicado em
face da EMGEA. Admitir o contrário, de modo a acolher a preliminar, trataria
apenas de tumultuar a marcha processual e procrastinar a tutela jurisdicional.
No mérito, percebo que a Apelante dedicou algumas folhas de
seu recurso a defender a constitucionalidade da execução extrajudicial,
baseado no Decreto Lei nº 70/66, apesar de em nenhum momento o Autor ter
se postado em sentido contrário. Em verdade, o que se discute é se houve o
perfazimento da notificação pessoal do devedor para a instauração da
execução extrajudicial, conforme dispõe o artigo 31, §1º, do Decreto Lei nº
70/66. Em que pese à alegação da Apelante de ter promovido a notificação, da

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análise dos documentos juntados aos autos, notadamente dos avisos de
recebimento às fls. 86/87 e 90/91, percebe-se que o Apelado, de fato, não foi
devidamente notificado para purgação da mora. Desta feita, andou bem o juízo
a quo ao entender que: “ o leilão já nasceu nulo, ante a ausência de intimação
pessoal do demandante pelo Cartório de Registro de Títulos, a qual, caso
ocorresse, possibilitaria ao demandante a tentativa de purgação da mora” .
Diante do exposto, nego provimento à apelação.
É como voto.
Recife, 11 de julho de 2013.

Desembargador Federal MARCELO NAVARRO


RELAT O R

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EXECUçõES PENAIS) - PE
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. MÚTUO DO SFH. EXECUÇÃO
EXTRAJUDICIAL. LEILÃO. DEVEDOR. INTIMAÇÃO PESSOAL.
INOCORRÊNCCIA. NULIDADE. AGENTE FIDUCIÁRIO.
ARREMATANTE. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. NÃO
EXISTÊNCIA.
1. Não há qualquer relação de ordem jurídico-material entre o
mutuário e o agente fiduciário que corrobore a inclusão deste na
demanda que visa à anulação de leilão extrajudicial.
2. A discussão quanto à nulidade da execução e leilão
extrajudiciais é objeto de demanda restrita ao mutuante e ao
mutuário, de modo que eventuais insatisfações ou prejuízos
suportados por terceiros, em decorrência da nulidade do leilão
extrajudicial, devem ser objeto de ação autônoma, movida pelo
prejudicado em face do mutuante responsável pela regular
promoção da execução extrajudicial.
3. É necessária a notificação do mutuário sobre a realização do
leilão, tendo em vista a possibilidade do devedor, a qualquer
momento, até a assinatura do auto de arrematação, purgar o
débito.
4. Apelação improvida.
ACÓRDÃO
Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª
Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do voto do
relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos autos, que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Recife, 11 de julho de 2013.

Desembargador Federal MARCELO NAVARRO


RELAT O R

AC nº 538560-PE 5 AFRDC

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