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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária de Santa Catarina
4ª Vara Federal de Florianópolis
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PROCEDIMENTO COMUM Nº 5000340-37.2020.4.04.7200/SC


AUTOR: MARCIA REGINA MACHADO RECH
RÉU: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF

SENTENÇA

I – RELATÓRIO

MARCIA REGINA MACHADO RECH, em causa


própria, exercendo o "jus postulandi",  ajuizou  ação de rito do juizado
especial federal  em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL -
CEF pedindo, em resumo, anulação do leilão extrajudicial do imóvel.

Afirma a autora ter firmado contrato de financiamento


habitacional, com prazo de 25 anos, e parcela mensal de R$ 600,00.
Todavia, em 2015 passou por dificuldades financeiras e não pode honrar
com o compromisso. Refere ter procurado a ré para renegociar o
financiamento diversas vezes, mas a Caixa alegou não ser obrigada a
aceitar acordos nem reduzir parcelas do financiamento e acabou por
protestar a dívida em cartório. Posteriormente a autora recebeu diversas
notificações para pagamento da dívida, sendo, por fim, o imóvel levado
à leilão. Aduz a nulidade do ato expropriatório, uma vez que a parte não
foi cientificada do mesmo. Ademais, teria sido concedida liminar no
processo de imissão de posse nº 0301359-50.2019.8.24.0082,
determinando o despejo da demandante. Requer a renegociação do
débito junto à instituição bancária ré, pois pretende permanecer no
imóvel.

Indeferida a liminar (evento 3). 

Resposta  da  CAIXA ECONÔMICA FEDERAL -


CEF  (evento 12), suscitando a preliminar de litisconsórcio passivo
necessário e, no mérito, a legalidade do ato diante da inadimplência da
devedora fiduciária e da regularidade do procedimento extrajudicial.

Inexitosa a tentativa de conciliação (evento 24).

Réplica pela autora (evento 27).


Determinada a retificação do valor da causa e adequação
do rito para o comum ordinário, com redistribuição do feito para as
varas cíveis (eventos 28 e 37).

A DPU assumiu a representação processual da parte autora


e ratificou todos os atos até então praticados (evento 43).

Vieram-me conclusos.

Relatado, decido.

II – FUNDAMENTAÇÃO

A rigor,  a demanda, tal como formulada, não teria  como


prosseguir.

Diz o CPC/2015:

Art. 330.  A petição inicial será indeferida quando:

I - for inepta; [...]

§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando:

I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;

II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em


que se permite o pedido genérico;

III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

A inicial não contém pedido que não seja a anulação do


procedimento extrajudicial para obstar liminar deferida em ação judicial
que, aparentemente, se trata de ação possessória. 

Não há narração clara dos fatos e nem juntada dos


documentos indispensáveis que pudessem aferir a natureza da referida
ordem judicial, a qual implicaria ou defesa mediante embargos de
terceiro (que não é o caso destes autos) ou emenda da inicial para que
houvesse o litisconsórcio passivo, dada a natureza unitária do resultado
da demanda pretendida (que não foi requerida quando da réplica). Aliás,
quem trouxe aos autos a natureza daquela demanda foi a própria Ré
(evento 12, DOC2), permitindo-se verificar que, de fato, a autora destes
autos é ré naquela possessória tramitando na via estadual. Vale apontar
que, convertido o rito e assumida a representação pela DPU, cabia a
esta, se fosse o caso, requerer aquelas diligências no primeiro momento,
sob pena de preclusão.
De qualquer sorte, passo imediatamente ao exame do
mérito, superando as preliminares, dada a adoção do princípio da
primazia do julgamento do mérito pelo CPC/2015.

De fato,  o CPC de 2015  orienta que o juiz tente, tanto


quanto possível, superar as preliminares e decidir os pedidos.

Trata-se do princípio da “primazia da decisão de mérito”


que a doutrina identifica nos artigos 4º (=“As partes têm o direito de
obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a
atividade satisfativa”). 6º (=“Todos os sujeitos do processo devem
cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de
mérito justa e efetiva”]; 282, §2º (= "Quando puder decidir o mérito a
favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a
pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta”, 317 (=
“Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá
conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício”], 488
(=“Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão
for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos
termos do art. 485”], 938, §§2º e 3º (=[“Constatada a ocorrência de
vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, o
relator determinará a realização ou a renovação do ato processual, no
próprio tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes.
[...] Cumprida a diligência de que trata o § 1º, o relator, sempre que
possível, prosseguirá no julgamento do recurso”) e 1013, §§ 3º e 4º [“§
3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o
tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença
fundada no art. 485 ; II - decretar a nulidade da sentença por não ser
ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III -
constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que
poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de
fundamentação. § 4º Quando reformar sentença que reconheça a
decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito,
examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo
ao juízo de primeiro grau”).

Passo, então, ao exame do mérito.

Razão cabe à ré.

Tendo em vista a existência de inadimplência, situação que


autoriza o início do procedimento de consolidação da propriedade, nos
termos da Lei nº 9.514/97, não há como vedar o aparelhamento de
execução extrajudicial ou manter os requerentes na posse do imóvel tão
somente pela mera propositura da presente ação.

A disciplina legal da contratualidade em enfoque é a


traçada pela Lei n. 9.514/1997, que, dispondo sobre o Sistema de
Financiamento Imobiliário, regra a alienação fiduciária de imóveis e, no
que particularmente interessa ao caso, o procedimento seguido em caso
de inadimplência do devedor:

Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e


constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos deste
artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu


representante legal ou procurador regularmente constituído, será
intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do competente
Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de quinze dias, a
prestação vencida e as que se vencerem até a data do pagamento, os
juros convencionais, as penalidades e os demais encargos
contratuais, os encargos legais, inclusive tributos, as contribuições
condominiais imputáveis ao imóvel, além das despesas de cobrança e
de intimação.

§ 2º O contrato definirá o prazo de carência após o qual será


expedida a intimação.

§ 3º A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu


representante legal ou ao procurador regularmente constituído,
podendo ser promovida, por solicitação do oficial do Registro de
Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca
da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou
pelo correio, com aviso de recebimento.

§ 4º Quando o fiduciante, ou seu representante legal ou procurador


regularmente constituído se encontrar em outro local, incerto e não
sabido, o oficial certificará o fato, cabendo, então, ao oficial do
competente Registro de Imóveis promover a intimação por edital,
publicado por três dias, pelo menos, em um dos jornais de maior
circulação local ou noutro de comarca de fácil acesso, se no local
não houver imprensa diária.

§ 5º Purgada a mora no Registro de Imóveis, convalescerá o


contrato de alienação fiduciária.

§ 6º O oficial do Registro de Imóveis, nos três dias seguintes à


purgação da mora, entregará ao fiduciário as importâncias
recebidas, deduzidas as despesas de cobrança e de intimação.

§ 7o Decorrido o prazo de que trata o § 1o sem a purgação da mora,


o oficial do competente Registro de Imóveis, certificando esse fato,
promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da
propriedade em nome do fiduciário, à vista da prova do pagamento
por este, do imposto de transmissão inter vivos e, se for o caso, do
laudêmio. (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004)

§ 8o O fiduciante pode, com a anuência do fiduciário, dar seu direito


eventual ao imóvel em pagamento da dívida, dispensados os
procedimentos previstos no art. 27. (Incluído pela Lei nº 10.931, de
2004)

Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o


fiduciário, no prazo de trinta dias, contados da data do registro de
que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para a
alienação do imóvel.
[...][Grifou-se]

A leitura do texto legal, em especial o caput do art. 26,


permite averiguar que os fatos constitutivos da consolidação da
propriedade em favor do credor fiduciário são, em si e unicamente, [1] o
inadimplemento de dívida contratual por período que extrapole a
carência contratualmente estipulada e [2] a ausência da purgação da
mora ao cabo do prazo de quinze dias para fazê-lo, a partir da intimação
por oficial cartorário.

Por sua vez, a simples averbação do fenômeno jurídico de


tal consolidação, esta ensejada de per si pela só ocorrência dos fatos
eleitos pela lei para tanto, não se reveste de caráter de novo requisito
constitutivo seu, quanto mais sine qua non, mas tão só de índole
declarativa de status já previamente alcançado, para fins de sua simples
publicidade e oponibilidade a terceiros. Com efeito, eventual dilação
temporal na sua efetivação, própria às formalidades cartoriais, ou ainda
por mera decorrência de demora no recolhimento dos respectivos
tributos, não tem o condão de fazer a consolidação deixar de ser tomada
como materialmente realizada incontinenti ao decurso do prazo do § 1º,
como claramente se pode extrair do subseqüente § 7º.

Assim, o prazo peremptório dado ao devedor para que


evite tal desfecho, mediante a purgação da mora, é, por evidente, o
enunciado cristalinamente pelo §1º, não se estendendo, sob pena de do
contrário restar morta a letra de tal dispositivo, indefinidamente. Nem
porventura até a formalização da subsequente averbação ou a realização
do leilão, neste caso salientada a inaplicabilidade do art. 34 do Decreto-
Lei n. 70/1966, visto que na espécie se tem por objeto não o
praceamento extrajudicial de imóvel de propriedade do mutuário
gravado de hipoteca em favor do agente financeiro, mas sim,
diferentemente, a venda pública de imóvel de propriedade já deste por
força da consolidação de propriedade fiduciária. Nesse sentido: TRF3,
AC 00052724120094036110, Rel. Silva Neto, Segunda Turma, DJ
12/04/2012.

Não se desconhece que o Superior Tribunal de Justiça já


sinalizou a possibilidade de o devedor purgar a mora a qualquer
momento, até a assinatura do auto de arrematação, mediante a aplicação
subsidiária do Decreto-lei nº 70/1966 (art. 34) às operações de
financeiamento imobiliário a que se refere à Lei nº 9.514/66 (a exemplo,
o julgado extraído do AgInt no REsp 1567195/SP, em voto de relatoria
do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, publicado em 30/06/2017).

Todavia, a teor do disposto no artigo 39, II, da Lei nº


9.514/97, na redação dada pela Lei nº 13.465/2017, às operações de
crédito compreendidas no sistema de financiamento imobiliário, a que
se refere o referido diploma legal, aplicam-se as disposições dos artigos
29 a 41 do Decreto-Lei nº 70/66,  exclusivamente aos procedimentos
de créditos garantidos por hipoteca:
Art. 39.   Às operações de crédito compreendidas no sistema de
financiamento imobiliário, a que se refere esta Lei:    (Redação dada
pela  Lei nº 13.465, de 2017)

[...]

II - aplicam-se as disposições dos arts. 29 a 41 do Decreto-Lei nº 70,


de 21 de novembro de 1966, exclusivamente aos procedimentos de
execução de créditos garantidos por hipoteca.        (Redação dada
pela  Lei nº 13.465, de 2017) - Grifei e sublinhei.

Outrossim, na espécie - repita-se -, versa-se sobre contrato


de mútuo habitacional com alienação fiduciária de imóvel em garantia
firmado nos moldes do SFI, em que não há de se falar em aplicabilidade
do Decreto-lei n. 70/66, mas sim da Lei n. 9.514/07, de cuja sensível
diferenciação bem cuida a jurisprudência:

[...] Nesta, o devedor ou fiduciante, como garantia, contrata a


transferência ao credor ou fiduciário da propriedade resolúvel
da coisa imóvel (art. 22), ao passo que, naquela, o mútuo é
garantido por imóvel do devedor, que mantém a plena e
integral propriedade do bem (art. 1419, CC e art. 755, CC
rev.). Com o pagamento da dívida, a propriedade fiduciária do
imóvel resolve-se, assim como, vencida e não paga, consolida-
se a propriedade do imóvel em nome do fiduciário. Com a
hipoteca nada disso ocorre, pois, vencida e não paga a dívida,
a propriedade continua com o devedor até ser vendida em
hasta pública. O proprietário fiduciário promove a venda,
judicial ou extrajudicialmente, de bem seu, mas o credor
hipotecário busca satisfazer crédito com imóvel alheio. Em
conseqüência, o regime de satisfação da obrigação tem de ser
diverso. (TRF3, AG 200503000969493, Quinta Turma, Rel.
André Nabarrete, DJ 05/09/2006)

Nesse contexto, a cláusula de retomada do imóvel em


questão possui expressa previsão nos arts. 26, seus parágrafos, e 27,
caput, da Lei n. 9.514/97, já abordado.

Outrossim, entendo pela plena constitucionalidade da Lei


n.  9.514/97, a exemplo da do Decreto-lei n. 70/66, instrumento que
permite a execução extrajudicial de hipoteca, de cuja
constitucionalidade não mais se discute, havendo a jurisprudência se
pacificado no sentido de que dita norma não ofende os princípios
constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa (STF: AI 678256 AgR, Relator(a): Min. Cezar Peluso, Segunda
Turma, julgado em 02/03/2010; AI 663578 AgR, Relator(a): Min. Ellen
Gracie, Segunda Turma, julgado em 04/08/2009).

Patenteada tal constitucionalidade, importa salientar que a


consolidação da propriedade do imóvel fiduciariamente alienado em
vinculação ao SFI, bem como sua subsequente alienação extrajudicial,
obrigatoriamente, deve ser precedida da notificação do devedor para
purgação da mora, certificada por oficial com fé pública, sob pena de
nulidade, a teor do que dispõe o aludido artigo 26, §§ 1º, 3º e 4º, Lei n.
9.514/97.

Na espécie, além de inexistir comprovação de purgação


integral da mora, senão restar mesmo incontroversa a inadimplência,
determinante da retomada pela CEF da propriedade em questão, verifico
tampouco haver nos autos qualquer cabal demonstração que evidencie a
inobservância da referida instituição financeira aos preceitos legais em
referência, notadamente dos §§ 1º, 3º e 7º do art. 26, que asseguram ao
autor plena observância das garantias constitucionais invocadas. Neste
sentido:

CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FINANCIAMENTO


IMOBILIÁRIO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CONSOLIDAÇÃO DA
PROPRIEDADE DO IMÓVEL EM NOME DO FIDUCIÁRIO. LEI Nº
9.514/87. 1. Agravo de instrumento interposto contra decisão que
indeferiu a tutela antecipada pleiteada nos autos de ação anulatória,
que indeferiu o pedido antecipação de tutela, em que se objetivava: a)
determinar que a ré se abstivesse de alienar o imóvel; b) suspensão
do procedimento de execução extrajudicial; c) autorizar o depósito
das parcelas vencidas e vincendas; d) declarar a nulidade dos atos
jurídicos embasados na constituição em mora. 2. O imóvel descrito
na petição inicial foi financiado pelo agravante no âmbito do SFI -
Sistema Financeiro Imobiliário, mediante constituição de alienação
fiduciária de coisa imóvel, na forma da Lei nº 9.514/97. 3. A
propriedade do imóvel descrito na matrícula nº 110.859, Livro nº 2 -
Registro Geral do 3º Cartório de Registro de Imóveis da Capital, se
consolidou, pelo valor de R$ R$99.532,95, em favor da fiduciária
Caixa Econômica Federal. A consolidação da propriedade em nome
do fiduciário é regulada pelo disposto no artigo 26, § 1º, da Lei nº
9.514/87. 4. Estando consolidado o registro não é possível que se
impeça a instituição de exercer o direito de dispor do bem, que é
conseqüência direta do direito de propriedade que lhe advém do
registro. 5. Não há que se falar em inconstitucionalidade do artigo 26
da Lei nº 9.514/97. Com efeito, nos termos do artigo 22 do referido
diploma legal, a alienação fiduciária "é o negócio jurídico pelo qual
o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a
transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de
coisa imóvel". 6. A garantia do devido processo legal, consagrada no
artigo 5º, LIV, da Constituição Federal de 1988, não deve ser
entendida como exigência de processo judicial. Por outro lado, o
devedor fiduciante não fica impedido de levar a questão ao
conhecimento do Judiciário, ainda que já concretizada a
consolidação da propriedade em mãos do credor fiduciário, caso em
que eventual procedência do alegado resolver-se-ia em perdas e
danos. Tal entendimento não exclui a possibilidade de medida
judicial que obste a consolidação da propriedade em nome do credor
fiduciário, desde que haja indicações precisas, acompanhadas de
suporte probatório, do descumprimento de cláusulas contratuais, ou
mesmo mediante contra-cautela, com o depósito à disposição do
Juízo do valor exigido, o que não ocorre no caso. 7. Agravo de
instrumento a que se nega provimento. (TRF3, AI 200803000353057,
Rel. Márcio Mesquita, Primeira Turma, DJ 02/03/2009).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO LEGAL. SISTEMA
FINANCEIRO IMOBILIÁRIO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. CONSTITUCIONALIDADE. O
contrato de mútuo e alienação fiduciária firmado entre as partes tem
natureza de título executivo extrajudicial e, assim, submete-se à Lei nº
9.514/97 e ao Decreto-lei nº 70/66 (artigo 39, II, da Lei nº 9.514/97),
cuja constitucionalidade foi reconhecida por ambas as Turmas do
Supremo Tribunal Federal (RE 287.483, rel. Min. Moreira Alves DJ
18.09.01 e RE 239.036, rel. Min. Nelson Jobim, DJ 10.08.00) bem
como por esta C. Corte. O mutuário, ao realizar o contrato de
financiamento, valendo-se das regras do Sistema Financeiro de
Habitação - SFH ou do Sistema Financeiro Imobiliário - SFI, assume
o risco de, em se tornando inadimplente, ter o imóvel objeto do
financiamento levado a  leilão,  razão pela qual está perfeitamente
ciente das conseqüências que o inadimplemento pode acarretar. O
risco de sofrer a execução judicial ou extrajudicial do contrato é
consectário lógico da inadimplência, não havendo qualquer
ilegalidade ou irregularidade na conduta do credor nesse sentido. E
meu entendimento se coaduna à explanação supramencionada,
possibilitando à credora executar a obrigação pactuada, pois não há
como desconhecer, nesse caso, o direito da CEF em promover a
execução extrajudicial prevista no Decreto-lei nº 70/66 ou a
consolidação da propriedade, consoante a Lei nº 9.514/97. Agravo
legal não provido. (TRF3, AI 200903000319753, 5ª Turma, Rel. Luiz
Stefanini, DJ 03/06/2011)

Foi juntada aos autos a matrícula do imóvel em referência


com a averbação da consolidação da propriedade em favor da CEF, em
que consta a  anotação da "CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE"
em 16/02/2018 (evento 12, DOC3).

Trata-se de anotação exarada por oficial de  Cartório de


Registro de Imóveis a respeito do respectivo ato, de maneira revestida
por  fé pública,  de modo a assegurar presunção jurídica de veracidade,
inclusive quanto ao procedimento de notificação anterior.

Nesse sentido, colaciono jurisprudência:

ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. SISTEMA FINANCEIRO


IMOBILIÁRIO - SFI. ALIENAÇÃO  FIDUCIÁRIA  EM GARANTIA.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ART. 30, LEI Nº 9.514/95.
BENFEITORIAS. DIREITO DE RETENÇÃO. INOCORRÊNCIA.
PURGA DA MORA. NOTIFICAÇÃO PESSOAL. Tratando-se de
contrato de alienação fiduciária em garantia, há o desdobramento da
posse, com a atribuição da posse direta ao devedor-fiduciante e da
posse indireta à instituição financeira credora-fiduciária, impondo-se
a aplicação da Lei nº 9.514/95, a qual, em seu art. 30,  permite ao
credor fiduciário justamente a reintegração na posse do imóvel,
desde que comprovada a consolidação da propriedade em seu nome,
o que restou comprovado nos presentes autos. Quanto ao direito de
retenção por benfeitorias, é impossível sustentar-se da boa-fé,  tendo
em vista que, ao realizar o negócio, o mutuário fica ciente de que o
imóvel permanece sob a propriedade da autora, que é a
proprietária  fiduciária  do imóvel adquirido. Ademais, há relevante
entendimento no sentido de que a construção em terreno alheio não
constitui benfeitoria - despesas feitas com a coisa com o fito de
conservá-la (necessária), aumentar ou facilitar o seu uso (útil) ou
embelezá-la (voluptuária) -, mas, sim acessão (obra que cria uma
coisa nova e que se adere à propriedade anteriormente existente). No
que tange à notificação dos apelantes para purgar a mora, o
registro da consolidação da propriedade na matrícula, dotado de fé
pública  (e, por isso, de presunção de veracidade), pressupõe a
regularidade do procedimento de execução extrajudicial. Não
obstante tratar-se de presunção relativa, caberia aos réus trazer ao
menos indícios de que o procedimento estaria eivado de vícios, o que
não restou configurado. Relativamente à ausência de notificação
pessoal acerca da realização dos leilões, os réus sequer alegaram
a  nulidade  do procedimento por tal motivo, razão pela qual não se
conhece do recurso no ponto, tendo em vista tratar-se de inovação
recursal. (TRF4, AC 5033784-12.2016.4.04.7100, QUARTA TURMA,
Relatora VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos
autos em 29/11/2018) [grifei]

SFH. ALIENAÇÃO  FIDUCIÁRIA. CONSOLIDAÇÃO DA


PROPRIEDADE. NOTIFICAÇÃO POR EDITAL. VALIDADE 1. A
tentativa de localizar a parte mutuária restou frustrada, de modo que
a CEF procedeu à sua notificação por edital, publicados em 17, 18 e
19 de novembro de 2015 (evento 24, NOT5). 2. A Certidão é dotada
de  fé pública, ao que a parte autora não apresentou documentos
capazes de rebater a veracidade das informações prestadas.  3. É
legítima a realização de notificação por edital nas hipóteses em que
frustrada a tentativa de notificação pessoal, eis que a
credora fiduciária não pode ver o exercício de seu direito creditício
ao alvedrio do devedor, o qual, inclusive, pode estar se ocultando
com o intuito de evitar a cobrança da dívida. (TRF4, AC 5003629-
89.2017.4.04.7100, TERCEIRA TURMA, Relatora MARGA INGE
BARTH TESSLER, juntado aos autos em 14/12/2017) [grifei]

Além de ser incontroversa a inadimplência, a CEF fez


prova do envio da Notificação Extrajudicial do Leilão do imóvel
(evento 22, DOC1), efetivada em 21/11/2017, inclusive com o prazo e
valor para purgação da mora, conforme documentos trazidos pela
própria autora (evento 13, DOC2 e evento 13, DOC3).

Assim, não restou demonstrada qualquer irregularidade no


procedimento de oportunização da purgação da mora, automática
consolidação da propriedade do imóvel em nome do fiduciário por não-
superveniência desta no prazo legal e posterior possibilidade de
alienação do mesmo em público leilão e subsequente venda direta.

III - DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo improcedentes os pedidos (2015,


art. 487, I).

Condeno a parte autora ao pagamento das custas e de


honorários advocatícios, que, em razão do trabalho efetivo pelos
advogados vencedores, arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor da
causa, suspensa a exigibilidade em relação ao autor diante do
deferimento da gratuidade de justiça no evento 3.

Custas na forma da lei.


Sentença publicada e registrada eletronicamente. Intimem-
se.

Interposto recurso voluntário, intime-se a parte apelada


para contrarrazões e, oportunamente, remetam-se os autos ao Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, independentemente de juízo de
admissibilidade, nos termos do art. 1.010, §§1º e 3º do CPC/2015.

Após o trânsito em julgado, dê-se baixa.

Documento eletrônico assinado por VILIAN BOLLMANN, Juiz Federal, na forma do artigo
1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de
26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no
endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o
preenchimento do código verificador 720007533139v5 e do código CRC 0e025c66.

Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a): VILIAN BOLLMANN

Data e Hora: 27/7/2021, às 14:54:27

 
5000340-37.2020.4.04.7200 720007533139
.V5

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