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Poder Judiciário da Paraíba

8ª Vara Cível da Capital

DESPEJO N. 0833867-12.2016.8.15.2001
AUTOR: SILVANA NEVES DOS SANTOS
REU: LUCIENE MARIA GONCALVES

SENTENÇA

AÇÃO DE DESPEJO C/C COBRANÇA DE DÉBITOS E


PEDIDO LIMINAR - PRELIMINAR. INÉPCIA DA INICIAL.
R EJEIÇÃO. MÉRITO. INADIM PLEMENTO D OS
ALUGUERES. CONFIGURAÇÃO. PROVAS
SUFICIENTES. PAGAMENTO DEVIDO ACRESCIDO
DE ENCARGOS CONTRATUAIS DE MORA.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

Vistos, etc.

SILVANA NEVES DOS SANTOS, devidamente qualificada nos autos,


ingressou com a presente AÇÃO DE DESPEJO C/C COBRANÇA DE DÉBITOS E PEDIDO
LIMINAR em face de LUCIENE MARIA GONÇALVES, igualmente qualificada, aduzindo, em
síntese, que pactuou contrato de locação de imóvel com a promovida (locatária), tendo seu início
no dia 05/03/2016 e término previsto para o dia 05/03/2019, no qual foram pactuadas cláusulas
referentes ao dia do pagamento, bem como multa em virtude de atrasos e outras obrigações.

Dessa maneira, considerando que a parte ré não pagou os débitos e não


devolveu a unidade residencial, ingressou com a presente demanda, requerendo, em sede de
liminar, a determinação para que a promovida desocupe o imóvel. No mérito, requer a ratificação
do pedido liminar e a condenação da ré ao pagamento das prestações locatícias vencidas e as
vicendas no decurso da lide, acrescidas dos encargos contratuais de mora, quais sejam, multa de
mora de 10% e juros legais de 0,33% ao dia.

Instruiu a inicial com documentos.

Custas processuais iniciais recolhidas pela autora.

Liminar deferida (ID 10400900).

Certidão do oficial informando o cumprimento da ordem de desocupação do


imóvel em 17/01/2018 (ID12124215).

Citada, a promovida apresentou contestação, suscitando, preliminarmente, a


inépcia da inicial e requerendo a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária. No mérito,
sustentou que alugou o bem imóvel para fins comerciais, mas não conseguiu abrir o restaurante
desejado no local, uma vez que a promovente não providenciou documentos para liberação de
alvarás de funcionamento junto aos órgãos públicos. Com isso, informa que suspendeu os
pagamentos dos aluguéis, até que a situação fosse resolvida. Informa que pagou apenas o
primeiro mês e que os outros cheques que deu como caução não foram descontados, mas
devolvidos por falta de fundos em sua conta bancária. Por fim, considerando que a rescisão se
deu por culpa da promovente, pugnou pela improcedência da demanda.

Juntou documentos.
Impugnação à contestação.

Audiência de instrução realizada.

Alegações finais apresentadas por ambas as partes.

Assim, vieram-me os autos conclusos com anotação para sentença.

É O BREVE RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR

I. DAS PRELIMINARES

I.1 - DO JULGAMENTO ANTECIPADO

Entendo que a hipótese dos autos é de conhecimento direto do pedido, uma vez que o feito se
encontra satisfatoriamente instruído

Ademais, a questão de mérito é unicamente de direito, de modo a incidir o disposto no art. 355,
inc. I, do CPC:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença


com resolução de mérito, quando:

I - não houver necessidade de produção de outras provas;

Ressalte-se que, encontram-se nos autos documentos necessários à formação do convencimento


desse juízo, não havendo questões de fato a serem discutidas.

Portanto, ante a necessidade de se impor celeridade ao feito e a aplicação do art. 355 do


CPC, passo ao julgamento da causa.

I.2 - DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL

A promovida sustentou que a peça inicial não atendeu aos requisitos do art.
330, inc. I do CPC, por não apresentar documento que comprovasse a propriedade do imóvel.

Para fins de caracterização da inépcia da petição inicial, necessário se faz


observar os requisitos elencados pela legislação processual constantes no art. 330, parágrafo
primeiro do CPC.

Vejamos:

Art. 330 [...]

§1º Considera-se inepta a petição inicial quando:

I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;

II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em


que se permite o pedido genérico;

III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.


Na análise efetuada sobre a petição inicial, observa-se que esta cumpre
todos os requisitos necessários à propositura da ação, pois não vislumbro a inépcia desta dentro
dos requisitos necessários.

Importante salientar que eventual ausência de comprovação da propriedade


do imóvel será analisada no mérito da demanda.

Assim, não há qualquer dúvida acerca da aptidão da peça vestibular para


inaugurar o processo, notadamente quando não verificado qualquer prejuízo à defesa.

Sendo assim, rejeito a alegação de inépcia da inicial, com base no art. 330,
parágrafo primeiro do CPC.

II. DO MÉRITO
Primeiramente, ao se constatar a existência de contrato celebrado entre as
partes, observa-se que há, entre os litigantes, liame necessário para comprovar a obrigação de
efetuar pagamentos relativos aos alugueres em atraso do imóvel locado, bem como dos encargos
contratuais de mora, quais sejam, multa de mora de 10% e juros legais de 0,33% ao dia.

Resta presente nos autos o contrato de locação entre a locadora autora e a


locatária promovida, com vigência do dia 05/03/2016 e término previsto para o dia 05/03/2019,
pelo valor mensal de R$ 3.000,00 (IDs 4353846 e 4353413). Ademais, resta comprovado que a
ré apenas devolveu o imóvel em 17/01/2018, conforme certidão do oficial de justiça informando o
cumprimento da ordem de desocupação do bem (ID12124215), restando demonstrado que a
promovida passou todo esse tempo no imóvel e apenas pagou o primeiro aluguel estipulado no
contrato (ID 51596908, tendo em vista que os outros cheques entregues pela ré, na ocasião do
contrato, foram devolvidos por falta de suficiência de fundos em sua conta, conforme a mesma
relatou em contestação.

Primeiramente, tem-se que, ante o inadimplemento do locatário poderá


ocorrer a retomada do imóvel, em conformidade do inc. I, art. 47 da Lei de Locações.

Em seu art. 59, §1º, inc. IX, a lei de locações prevê a possibilidade de
concessão de liminar para desocupação do imóvel locado, em caso de inadimplemento do
locatário. Transcreve-se o dispositivo legal em comento:

Art. 59. Com as modificações constantes deste capítulo, as ações de


despejo terão o rito ordinário.

§1º Conceder-se-á liminar para desocupação em quinze dias, independentemente da


audiência da parte contrária e desde que prestada a caução no valor equivalente a três
meses de aluguel, nas ações que tiverem por fundamento exclusivo;

IX – a falta de pagamento de aluguel e acessórios da locação no vencimento, estando o


contrato desprovido de qualquer das garantias previstas no art. 37, por não ter sido
contratada ou em caso de extinção ou pedido de exoneração dela, independentemente
de motivo.

Neste sentido, os tribunais pátrios vêm admitindo, a título de tutela de


urgência, a concessão liminar de despejo, quando demonstrado o risco de dano à parte, quando
houver perigo de demora no provimento de mérito e, ainda, quando não houver risco de
irreversibilidade da medida, nos termos do art. 300, do CPC. É o que leciona o julgado do STJ,
que ora passo a transcrever:
LOCAÇÃO. DESPEJO. CONCESSÃO DE LIMINAR. POSSIBILIDADE. ART. 59, §1º, DA
LEI Nº 8.245/94. ROL NÃO-EXAURIENTE. SUPERVENIÊNCIA DE ALTERAÇÃO
LEGISLATIVA. NORMA PROCESSUAL. INCIDÊNCIA IMEDIATA. DETERMINAÇÃO DE
PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO. APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE.
1. O rol previsto no art. 59, §1º, da Lei n. 8.245/94, não é taxativo, podendo o magistrado
acionar o disposto no art. 273 do CPC para a concessão da antecipação de tutela em
ação de despejo, desde que preenchidos os requisitos para a medida.
2. Ainda que se verifique a evidência do direito do autor, para a concessão da tutela
antecipada com base no inciso I, do art. 273 do CPC não se dispensa a comprovação da
urgência da medido, tudo devidamente fundamentado pela decisão concessiva, nos
termos do +1} do mencionado dispositivo. A ausência de fundamentação acerca de todas
as exigências legais conduz à nulidade da decisão.
3. Embora o acórdão recorrido careça de fundamentação adequada para a aplicação do
art. 273, inciso I, do CPC, a Lei nº 12.112/09 acrescentou ao art. 59, §1º, da Lei do
Inquilinato, a possibilidade de concessão de liminar em despejo por falta de pagamento
de aluguel e acessórios da locação, desde que prestada caução no valor equivalente a
três meses de aluguel. Assim, cuidando-se de norma processual, sua incidência é
imediata, sendo de rigor a aplicação do direito à espécie, para determinar ao autor a
prestação de caução - sob pena de a liminar perder operância.

4. Recurso especial improvido. (STJ, REsp. 1207161/AL, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 08/02/2011, DJe 18/02/2011).

Dessa maneira, correta foi a decisão liminar que determinou o despejo,


devendo esta ser confirmada nesta sentença.

No tocante aos débitos da locatária com a locadora promovente, tem-se que


estes restam demonstrados, devendo a promovida ser condenada a pagar os alugueres de abril
de 2016 a janeiro de 2018, acrescidos dos encargos contratuais de mora, quais sejam, multa de
mora de 10% e juros legais de 0,33% ao dia.

Dessa maneira, como a promovente comprovou fato constitutivo de seu


direito e a promovida não demonstrou fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor,
conforme ônus probatório presente no art. 373, inciso I e II do CPC, impõe-se a procedência da
presente demanda.

ISTO POSTO e mais que dos autos constam, rejeito as preliminares


processuais levantadas pelo réu e ratifico a liminar anteriormente concedida (ID 10400900) e,
no mérito, JULGO PROCEDENTE o pedido, para condenar a promovida ao pagamento dos
alugueres do imóvel descrito na inicial de abril de 2016 a janeiro de 2018, acrescidos dos
encargos contratuais de mora, quais sejam, multa de mora de 10% e juros legais de 0,33%
ao dia, todos esses valores acrescidos de correção monetária, pelo INPC, a partir da data
do vencimento de cada prestação (Art. 397, CC) e juros legais de 1% a.m., estes contados
da data da citação.

Condeno o promovido ao pagamento de custas processuais e honorários


advocatícios de sucumbência, os quais fixo de 10% sobre o valor da condenação, conforme art.
85, parágrafo 2º do CPC, observada a gratuidade que ora defiro.

P. R. I.

CERTIFICADO o trânsito em julgado, ALTERE-SE a classe processual do


feito para “Cumprimento de Sentença”, através da ferramenta eletrônica EVOLUIR, presente no
PJE.
João Pessoa, 17 de maio de 2023.

Renata da Câmara Pires Belmont

Juíza de Direito

Assinado eletronicamente por: RENATA DA CAMARA PIRES BELMONT


17/05/2023 13:59:52
http://pje.tjpb.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 73442417

230517135951845000000069132182

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