Você está na página 1de 9

Excelentíssimo Senhor Juiz Presidente do Tribunal Regional do

Trabalho da Terceira Região.

LAPIDAÇÃO AMSTERDAM S/A, empresa


estabelecida à Rua México, nº 41, 11º andar, Rio de
Janeiro/RJ, CEP: 20.008-900, inscrita no CNPJ............,
por seus procuradores ao final assinados, consoante
instrumento de mandato em anexo, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, com fulcro no estabelecido pela
Lei nº 1.533, de 31 de dezembro de 1.951, no artigo 5º,
inciso LXIX, da Carta Constitucional da República e ainda no
artigo 678, inciso I, alínea “b”, item “3”, impetrar o
presente

MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS,

contra ato da Excelentíssimo Juiz Titular da 2ª Vara do


Trabalho de Governador Valadares/MG, Dr. Hudson Teixeira
Pinto, pelos fatos e fundamentos seguintes:

I. DOS FATOS

Ajuizada, perante a Junta de Conciliação


e Julgamento de Governador Valadares, ação trabalhista movida
por JUVENAL DOS SANTOS CARVALHO, foi a mesma julgada
procedente, conforme se infere dos documentos inclusos, e,
após o trânsito em julgado da sentença condenatória, iniciou-
se a execução de título judicial, donde se apurou o valor de
liquidação equivalente a R$47.458,22 (quarenta e sete mil,
quatrocentos e cinqüenta e oito reais e vinte e dois
centavos).

De se dizer que à época, instalou-se nova


Junta na cidade de Guanhães que passaria ser a competente
para dirimir os conflitos oriundos de Sabinópolis/MG, como no
caso em questão.

Expedido o mandado executivo, após


diligência de citação, procedeu o sr. Oficial de Justiça na
penhora de bens do executado, ora impetrante, impondo o ônus
e constrição sobre um imóvel situado à Praça Monsenhor
Amantino, nº 85, Centro, Sabinópolis, registrado no
competente cartório sob o nº 04, matrícula nº 09, livro nº
02, às fls. 768.

Curiosamente, este imóvel é o mesmo que


reside o impetrante, e tal fato fora alegado ao sr. Meirinho,
a fim de se impedir a realização de ato processual nulo de
pleno direito, à luz da lei nº 8.009/90.

Qual não foi o seu espanto, o sr. Oficial


lavrou o auto de penhora, certificando todavia que o
impetrante recusou-se a firmar o termo de depósito (documento
incluso), devolvendo o mandado à secretaria para que se
tomassem as diligências de direito.

Apesar da nulidade gritante, que aquele


momento se evidenciava, o processo teve seu trâmite regular,
restando ao impetrante argüir judicialmente a nulidade do
ato, que não repousava à época somente à impenhorabilidade do
bem, mas também à ausência de depositário fiel, e a não
realização de intimação para fins de embargos.

Com efeito, a súplica do mesmo foi


recebida e processada como se Embargos à Execução fosse,
mesmo não tendo este sido intimado para tal.

Muito embora as fortes alegações do


impetrante, houve por bem, o ilustre juiz, de julgar os
“Embargos” improcedentes sob o fundamento de que não existiu
provas suficientes sobre o alegado (impenhorabilidade dos
bens penhorados), dando prosseguimento ao andamento do feito,
determinando a realização de praça, para alienação pública do
imóvel já discriminado que se realizará em primeiro pregão no
dia de hoje (18.06.97).
Irresignado com a determinação daquele
julgador, requereu o impetrante a retratação do despacho,
noticiando mais uma vez o incidente causado pela nulidade que
se impunha cristalina, anexando, sobretudo, certidão do
cartório de registro de imóveis competente.

A retratação não foi concedida, ao


entendimento do juiz, de que a questão encontrava-se superada
com o trânsito em julgado da decisão dos “Embargos do
Devedor”.

Desta decisão, interpôs-se o recurso de


Agravo de Petição, o qual, recebido, foi intimada à parte
contrária para apresentação de contra-razões, porém sem que
se suspendesse os efeitos da execução que se prosseguia, e
sem que se determinasse a não realização da praça que, salvo
por acolhimento deste writt, procederá no dia de hoje.

Em apertada síntese, estes são os fatos


originários, que desencadearam, venia permissa, a prática de
ato ilegal por parte da MM. JCJ.

II. PRELIMINARMENTE - DO CABIMENTO DO MANDAMUS

Tendo em vista que os recursos obreiros


em sua maioria possuem efeito apenas devolutivo, plenamente
possível a impetração deste remédio heróico, para a concessão
do efeito suspensivo, mormente pelo fato de que a suspensão
da praça, não implicará, de imediato, qualquer prejuízo para
o exequente.

Contudo, se realizada a praça antes de


que possam ser saneadas as irregularidades apontadas, o que
espera ocorrer quando do conhecimento do Agravo de Petição,
os prejuízos que podem vir a ser acarretados ao impetrante
tornar-se-ão irreparáveis, posto que está prestes a ver
tomado imóvel onde coabita com sua família, passando a
integrar as filas dos inúmeros Movimentos dos Sem Tetos.

Tal fato, entretanto, poderá ser evitado


por V.Exa. se deferida a liminar deste mandamus concedendo o
efeito suspensivo ao recurso, suspendendo-se por conseqüência
a realização da hasta pública.

Por estas simples linhas, concessa venia,


sobressai a possibilidade jurídica de utilização do mandado
de segurança, na hipótese, aliado ao fato de que presentes os
requisitos processuais do seu cabimento, quais sejam, fumus
boni iuris e periculum in mora.

III. DO FUMUS BONI IURIS

Ilustre Julgador, o ato praticado pela


Autoridade Judicial, in casu, o Juiz Presidente da Junta de
Conciliação e Julgamento de Guanhães, data maxima venia, está
revestido de ilegalidade.

É que, confirmando-se a decisão de 1º


grau, estará o impetrante sendo privado de imóvel de sua
titularidade, tido como impenhorável, sem que seja obedecido
o devido processo legal (art. 5º, inc. LIV da CF/88):

LIV - “ninguém será privado da liberdade ou de seus


bens sem o devido processo legal”;

Não obstante, tem-se que a matéria em


questão está pendente de recurso, ou seja, todavia não
transitou em julgado, e o efeito suspensivo deve ser
concedido para que ao impetrante seja deferido o legítimo
exercício do direito de defesa (art. 5º, inc. LV da CF/88):

LV - “aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;”

Não obstante a isto, a interposição de


recursos é exercício regular de direito da parte - artigo
897, da CLT - e a decisão não poderá ser definitiva enquanto
não ocorrer o trânsito em julgado.

O fumus boni iuris no entanto, não se


esgota do acima alegado.

Com efeito, do que se depreende da


documentação acostada à presente, verifica-se da certidão
expedida pelo Cartório de Registro de Imóveis de Sabinópolis
que o imóvel penhorado é residencial em sua essência, além de
ser o único imóvel registrado em propriedade do impetrante.

Verdadeiramente, aquele imóvel é


constituído de 02 (dois) pavimentos, onde, além de residir o
impetrante, também opera um pequeno comércio, não
desmembrado, no entanto, para fins de unidade residencial,
sendo que tal fato não o descaracteriza como residencial e
impenhorável, à luz do art. 1º da lei nº 8.009/90:

art. 1º - “O imóvel residencial próprio do casal ou


da entidade familiar é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra
natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou
filhos que sejam seus proprietários e nela residam,
salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único: A impenhorabilidade compreende o
imóvel sobre o qual se assentam a construção, as
plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e
todos os equipamentos, inclusive os de uso
profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde
que quitados.”

As nulidades que albergam o pretendido


pelo impetrante são tantas que maculam todo o processo havido
até o presente momento, a partir da efetivação da penhora.

O auto de penhora não contém depositário


fiel, e por si só anularia o ato ou o tornaria ineficaz para
fins de direito, pois, reportando-se ao art. 664 do Cód.
Proc. Civil, somente “considerar-se-á feita a penhora
mediante a apreensão e depósito dos bens, lavrando-se um só
auto...” que conterá, sob pena de nulidade, à luz do art. 665
do mesmo diploma legal, “a nomeação do depositário...”.

Inexiste no auto em cotejo nomeação


válida e depósito efetuado, pois, houve recusa do impetrante
em firmar tal compromisso. Recusa esta não injustificada,
pois, é corrente em todos os níveis da população que o
direito brasileiro congratulou a residência familiar.

As nulidades não param por aí; não há no


auto de penhora intimação para oposição de Embargos do
Devedor. E nem poderia haver, pois o oficial de justiça
devolveu o mandado à secretaria para que se tomassem as
medidas judiciais cabíveis.

Ou seja, não havendo depósito, a penhora


não se perfez, evidentemente, e portanto, não se completou
com a intimação do devedor para oposição de defesa
(Embargos).

Portanto, como considerar que a questão


em discussão encontra-se superada com o trânsito em julgado
da decisão de fls. 296 (sentença de embargos)?

Tal mácula prejudica todo o processo de


Embargos que se formou, após a primeira manifestação do
impetrante. Isto porque, de acordo com alegação do mesmo, e
amparado pelo princípio de que para se declarar a nulidade de
penhora basta simples petição dirigida ao juízo da execução,
havendo desnecessidade de oposição de Embargos.

Até porque, não poderia opor Embargos sem


que fosse intimado para tal.

Diante de todas as alegações acima, nasce


o fumus boni iuris suficientemente apto a ensejar o
deferimento liminar deste mandado de segurança, para que seja
recebido o Agravo de Petição em seu efeito suspensivo,
evitando-se por fim a realização de ato revestido de
ilegalidade desde o seu nascedouro.

Acresça-se a isto o fato de que o


impetrante não é na verdade mal pagador de suas obrigações,
pois do valor executado, já quitou metade das parcelas,
restando inadimplidos aproximados R$23.992,45 (vinte e três
mil, novecentos e noventa e dois reais e quarenta e cinco
reais) por absoluta falta de condições financeiras, e cujo
acordo para minorar as prestações devidas tornou-se frustrado
por objeção do próprio exequente que só admite a quitação
integral do débito, mesmo em dias de crise como o que vivemos
atualmente.

Fato este corrobora e atesta uma boa


vontade do impetrante em honrar toda sua dívida, ciente que
se encontra de suas obrigações; não se tratando de pessoa
inadimplente contumaz, mas de cidadão que busca sobreviver à
duras penas, às custas do pequeno comércio familiar que
procura manter intacto ao arrocho e pressão do quadro
econômico pintado pela política de estabilização financeira
do país.

IV. DO PERICULUM IN MORA

O risco iminente, que autoriza a


concessão da liminar, já ficou claramente evidenciado, pois a
realização da praça se dará no dia de hoje, 18.06.97 às
14:05hs.

Tal fato somente é merecedor de


acautelamento por V.Exa., na análise imediata da quaestio,
esperando o impetrante, seja concedida a liminar em tempo
hábil, todavia, para suspender a realização de hasta pública
que pode se realizar, eivada de vícios que poderão inclusive
desmitificar a seriedade desta justiça especializada.

V. DOS PEDIDOS

Face a todo o exposto e em razão da


ofensa literal a diversos dispositivos de lei, requer a
impetrante se digne Vossa Excelência de
LIMINARMENTE

conceder efeito suspensivo ao Agravo de Petição manejado,


suspendendo-se por lógica conseqüência, até final decisão, ,
a realização da praça que realizar-se-á neste dia (18.06.97)
às 14:05hs; expedindo-se para tanto informe da liminar (no
caso de deferimento), à Junta de Conciliação e Julgamento de
Guanhães/MG, via fac-símile, telefone, telex, telegrama, ou
qualquer outro meio urgente de comunicação não vislumbrado
nesta ocasião.

Requer outrossim, que V.Exa. expeça-se


ofício à ilustre Autoridade Coatora para que preste as
informações que entenda devidas, e por fim a citação do Sr.
JUVENAL DOS SANTOS CARVALHO para vir aos autos, na condição
de litisconsorte necessário, em seu endereço, sito à Fazenda
Gameleira, Sabinópolis, Minas Gerais.

Por derradeiro, requer o prosseguimento


do feito até final decisão, quando se espera venha a ser
definitivamente concedida a SEGURANÇA, eximindo o impetrante
e sua família, da constrangedora situação de se tornar
alijada de sua residência, largada às ruas da cidade,
engrossando as filas dos diversos movimentos do sem teto,
antes de regular trâmite processual trabalhista.

Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 (hum


mil reais).

Termos em que pede o seu deferimento.


Belo Horizonte, 18 de junho de 1.997.

Peter de Moraes Rossi


OAB/MG 42.337

Gustavo Oliveira de Siqueira


OAB/MG 56.963
Roger Sejas Guzman Junior
OAB/MG 63.386

Você também pode gostar