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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2018.0000171309

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


0000657-10.2012.8.26.0005, da Comarca de São Paulo, em que é
apelante INSTITUTO DE PAGAMENTOS ESPECIAIS DO ESTADO
DE SÃO PAULO - IPESP, é apelado CONJUNTO HABITACIONAL
AMARALINAS.

ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram
provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator,
que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente) e J.B.
PAULA LIMA.

São Paulo, 13 de março de 2018

CESAR CIAMPOLINI
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Apelação nº 0000657-10.2012.8.26.0005
Comarca: São Paulo 1ª Vara Cível do Foro Regional de São
Miguel Paulista
MM. Juíza de Direito Dra. Vanessa Carolina Fernandes
Ferrari
Apelante: Instituto de Previdência do Estado de São Paulo IPESP
Apelado: Condomínio Habitacional Amaralinas

VOTO Nº 18.285

Embargos de terceiro, rejeitados na origem,


opostos por autarquia estadual (IPESP),
visando ao levantamento de penhora que
recaiu sobre imóvel de sua propriedade,
prometido à venda. Execução de despesas
condominiais. Alegação de
impenhorabilidade. Obrigação “propter
rem”, que acompanha o imóvel, em que
pese o descumprimento do dever contratual
da adquirente de com ela arcar. Sentença
de rejeição dos embargos mantida (art. 252
do RITJSP). Apelação desprovida.

RELATÓRIO.

Adoto o relatório da r. sentença de fls.


115/118, lançado nos seguintes termos:

“INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DE SÃO

Apelação nº 0000657-10.2012.8.26.0005 - São Paulo - VOTO Nº 18285_FVF- 2/8


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PAULO IPESP propôs embargos de terceiro em face de


CONDOMÍNIO HABITACIONAL AMARALINAS, alegando
ser legítimo proprietário do bem descrito na exordial, tendo firmado
contrato de compromisso de compra e venda não registrado, e
narrando que o imóvel foi penhorado em razão de débitos de
despesas condominiais dos compromissários compradores. Foram
trazidos documentos (fls. 08/70).

A embargada apresentou contestação (fls. 83/86), alegando, em


preliminar, coisa julgada. Defendeu litigância de má-fé e a
improcedência dos embargos, tendo em vista a natureza propter rem da
dívida. Pugnou pela improcedência dos embargos. Foram trazidos
documentos (fls. 87/101).

Réplica (fls. 108/109).

É um breve relatório.” (fl. 115).

Os embargos foram rejeitados, mantendo-se


a penhora efetivada nos autos da execução promovida pelo
condomínio contra Maria Olímpia Mariano, promissária compradora
do imóvel sub judice.

As verbas da sucumbência foram impostas


ao embargante, com honorários advocatícios dos patronos do
embargado, arbitrados em “15% sobre o valor atribuído à causa, que
deverá ser corrigido pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça
desde a data de sua propositura, com fundamento no artigo 20,
parágrafo 4º do Código de Processo Civil, levando-se em conta a
natureza da lide e o tempo que o processo se desenvolve” (fl. 117).

Apelação nº 0000657-10.2012.8.26.0005 - São Paulo - VOTO Nº 18285_FVF- 3/8


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Apela o Instituto (fls. 125/130), pela


impenhorabilidade do apartamento que, apesar de alienado a terceiro
por compromisso de venda e compra não levado a registro, continua
sendo de sua propriedade.

Insurge-se, também, quanto à sua


condenação nas verbas de sucumbência e, ainda, quanto ao percentual
dos honorários advocatícios fixados em prol dos patronos do
embargante percentual do valor da causa; segundo entende, de se
aplicar ao caso o § 4º do art. 20 do CPC/73.

Contrarrazões às fls. 160/163.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO.

Procede-se ao julgamento, em que pese o


disposto nos arts. 14 e 1.046 do NCPC, consoante as normas do
Código Buzaid, posto que a r. sentença recorrida foi prolatada em sua
vigência. Trata-se do princípio do isolamento dos atos processuais,
que regula “direitos adquiridos ao longo do processo que não podem
ser atingidos pela nova legislação” (JOSÉ MIGUEL GARCIA
MEDINA, CPC Comentado, 3a ed., págs. 71/72). Nesse sentido, STJ-
Corte Especial, ED no REsp 600.874, JOSÉ DELGADO, cit. por

Apelação nº 0000657-10.2012.8.26.0005 - São Paulo - VOTO Nº 18285_FVF- 4/8


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THEOTONIO NEGRÃO e continuadores, CPC, 47a ed., pág. 988.

Posto isso, adoto, consoante autoriza o art.


252 do Regimento Interno desta Corte, a fundamentação da r.
sentença, da lavra da MM. Juíza de Direito Dra. VANESSA
CAROLINA FERNANDES FERRARI, verbis:

“Não assiste razão ao embargante.

Com efeito, como determina o artigo 1046 do Código de Processo


Civil, os embargos de terceiro prestam-se aos interesses de quem não
sendo parte no processo, sofre turbação ou esbulho na posse de seus
bens por ato de apreensão judicial.

No caso dos autos, o embargante na condição de proprietário do


imóvel é responsável pelas despesas condominiais. O fato de
usufruírem ou não o imóvel não afasta a responsabilidade pelo
pagamento das despesas condominiais.

Neste sentido, destaco:

CONDOMÍNIO. Despesas condominiais. Ação de cobrança.


Legitimidade passiva ad causam do proprietário da unidade autônoma
em cujo nome o imóvel se encontra registrado. Irrelevância da
existência de instrumento particular de compromisso de compra e
venda entre o proprietário e o atual ocupante do imóvel. O
proprietário da unidade autônoma em cujo nome se encontra
registrado o imóvel também é parte legítima para figurar no polo
passivo das ações de cobrança de despesas condominiais, apesar do
instrumento particular de compromisso de compra e venda firmado
entre ele e o atual ocupante do imóvel. (RT 781/288-9).

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CONDOMÍNIO. Despesas condominiais. Compromisso de compra


e venda. Contrato não registrado. Fato que autoriza o condomínio a
cobrar do detentor do domínio ou real condômino. Inteligência do
art. 624 do CC e art. 12, § 4.º, da Lei 4.591/64. Possibilidade, no
entanto, de direito de regresso contra o compromissário comprador.
(RT 745/258).

Deste modo, em vista da natureza propter rem da obrigação,


improcedem os embargos opostos.

Por fim, diante dos esclarecimentos prestados a fls. 108/109,


considero que a hipótese dos autos consagra exercício regular do
direito de ação, não estando caracterizada situação de litigância de má-
fé.” (fls. 116/117).

Veja-se precedente do STJ, em caso idêntico,


em que era parte o próprio apelante:

“CIVIL E PROCESSUAL. EMBARGOS DE TERCEIRO.


IMÓVEL COMPROMISSADO À VENDA POR INSTITUTO DE
PREVIDÊNCIA. PENHORA. DÍVIDA CONDOMINIAL.
POSSIBILIDADE. DECRETO-LEI N. 7.379/45.
I. Inaplicável a vedação à penhora contida no art. 3º do Decreto-lei n.
7.379/45 relativamente à dívida condominial, ainda que o imóvel se
encontre compromissado à venda por instituto de previdência, em
plano habitacional, posto tratar-se de obrigação diretamente vinculada
ao bem e à sua própria manutenção, como integrante do todo, que
não pode ficar privado do recebimento da respectiva quota-parte.
(...).” (REsp 218.838, ALDIR PASSARINHO JÚNIOR).

E neste Tribunal, sendo sempre embargante

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o IPESP:

“Embargos de terceiro. Despesas condominiais. Penhora da unidade


condominial. Alegação de impenhorabilidade do bem público.
Inadmissibilidade. A natureza 'propter rem' da obrigação condominial
é suficiente para permitir a penhora sobre o próprio imóvel que gerou
a dívida, ainda que sobre ele recaia impenhorabilidade legal ou
voluntária. Recurso desprovido.” (Ap. 0077115-43.2013.8.26.0002,
PEDRO BACCARAT; grifei).

Posto isso, fica mantida a r. sentença.

Acrescento que a questão das custas e


despesas processuais foi resolvida quando, a fls. 157/159,
monocraticamente dei provimento a agravo de instrumento interposto
pelo IPESP, que versava sobre o preparo recursal. Ademais, a Lei
estadual 11.608/2003 (art. 6º) expressamente isenta as autarquias do
recolhimento de custas e despesas processuais.

O r. decisum fica mantido, ainda, no que


toca aos honorários advocatícios dos patronos do embargado, fixados
em 15% do valor da causa. A r. sentença está em consonância com as
letras do § 3º do art. 20 do CPC/73 e atende, também, à equidade (§ 4º
do mesmo artigo), invocada pela apelante.

DISPOSITIVO.

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Nego provimento ao recurso.

Consideram-se prequestionados todos os


dispositivos constitucionais e legais tratados, implícita ou
expressamente, no julgamento. Na hipótese, ainda assim, de
apresentação de embargos de declaração, ficam as partes intimadas a
se manifestar, no próprio recurso, a respeito de eventual oposição ao
julgamento virtual, nos termos do art. 1º da Resolução nº 549/2011
deste egrégio Tribunal, entendendo-se o silêncio como concordância.

CESAR CIAMPOLINI
Relator

Apelação nº 0000657-10.2012.8.26.0005 - São Paulo - VOTO Nº 18285_FVF- 8/8

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