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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL D E JUSTIÇA D E SÃO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°
200
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Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Apelação n° 992.06.022258-0, da Comarca de Sorocaba,
em que é apelante EUROSOROCABA EDIÇÕES CULTURAIS LTDA
sendo apelado DENILDO PEREIRA DE SOUZA.

ACORDAM, em 34 a Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos


Desembargadores NESTOR DUARTE (Presidente) e ANTÔNIO
NASCIMENTO.

São Paulo. e 2010.


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
a
34 CÂMARA - SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO

APELAÇÃO SEM REVISÃO N° 992.06.022258-0

VOTO N° 11028

Apelante: EUROSOROCABA EDIÇÕES CULTURAIS LTDA


Apelados: DENILDO PEREIRA DE SOUZA
Comarca: Sorocaba - Ia Vara Cível (Processo n.° 2281/04)

EMENTA:

LOCAÇÃO DE IMÓVEIS - DESPEJO - RETOMADA


IMOTIVADA - ESCOLA DE INFORMÁTICA - CURSO
LIVRE QUE NÃO SE BENEFICIA DA PROTEÇÃO DO
ART. 53 DA LEI 8.245/91 - DESPEJO DECRETADO COM
FUNDAMENTO NO ART. 8o, "CAPAUT", DA LEI DO
INQUILINATO - SENTENÇA MANTIDA.

Apelação improvida.

Trata-se de apelação (fls. 110/125, com preparo às fls. 126/128),


interposta contra a r. sentença de fls. 102/105, cujo relatório se adota, proferida
pelo MM. Juiz Fausto José Martins Seabra, que julgou procedente ação de despejo
%..)para decretar o despejo da ré, assinalando o prazo de 30 (trinta) dias para a
desocupação voluntária. Pagará também a vencida as custas processuais e os
honorários do advogado da parte contrária, fixados em 10% sobre o valor
corrigido da causa. No caso de execução provisória do despejo, a caução fica
estimada no valor atualizado de doze aluguéis previstos no primitivo contrato (fls.
10/15)"

Alega a ré-apelante, em síntese, que: 1) embora o inciso V, do art.


58, da Lei 8.245/91, discipline que o recurso de apelação será recebido no efeito

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devolutivo, em casos excepcionais, como o dos autos, poderá ser recebido também
com o efeito suspensivo, por ser a apelante escola de informática, cuja interrupção
poderá prejudicar alunos e funcionários; 2) a citação é nula, porque a carta
citatória foi retirada e encaminhada à apelante pelos próprios apelados; 3) o
processo deverá ser extinto por falta de possibilidade jurídica do pedido, tendo em
vista que o pedido foi fundamentado no "caput" do art. 8o, da Lei n° 8.245/91, o
que não pode ser admitido, porque a hipótese se enquadra no art. 53 da mesma lei;
4) a verdadeira intenção dos apelados não era a de denunciar o contrato de
locação, mas sim a de majorar o valor atual do aluguel de R$ 3.500,00 para R$
5.161,94, o que não está em conformidade com a cláusula 20a do contrato, razão
pela qual, valendo-se da faculdade do art. 890 do CPC, consignou o aluguel
devido junto à Caixa Econômica Federal, porém o depósito foi recusado pelos
apelados; 5) o MM. Juízo "a quo" infringiu a alínea LV, do art. 5o, da CF, e o art.
130 do CPC, por não permitir a produção das provas requeridas, bem como
deixou de aplicar o art. 53 da Lei 8.245/91 e art. 267, VI, do CPC. Requer o
provimento do recurso, prequestionando os mencionados artigos.

O recurso foi recebido no efeito devolutivo (fls. 129 e 140).

Petição dos autores às fls. 130/133 e 141/143, ofertando caução e


requerendo a execução provisória do julgado.

Contrarrazões às fls. 134/139.

Os embargos de declaração opostos pela ré (fls. 152/155) contra a r.


decisão de fls. 129, não foram recebidos (fl. 156).

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É o relatório.

O recurso é tempestivo (fls. 106 e 110), foi regularmente


processado e não merece provimento.

Inicialmente pretende a apelante que seja o presente apelo recebido


no efeito suspensivo, sob a alegação de prejuízos irreparáveis por se tratar de
escola de informática.

Destaco que a regra do art. 58, V da Lei 8.245/91 é clara ao


determinar que os recursos interpostos contra as sentenças proferidas sob sua
égide terão efeito meramente devolutivo.

A exceção a esta regra foi estabelecida através da jurisprudência de


nossos Tribunais partindo-se da premissa de que o Direito é uma ciência dinâmica,
cabendo ao poder judiciário manter-se atento de forma a proceder às adequações
que se fizerem necessárias.

Ocorre que, examinada a questão, não vejo como aplicar ao caso


concreto a exceção à regra do art. 58, V da Lei 8.245/91.

Assim, ausente o direito líquido e certo a servir de suporte ao


acolhimento do pedido da apelante.

Noutro ponto, não se vislumbra a alegada nulidade da citação,


tendo em vista que, embora certificado pela serventia que a carta citatória foi
indevidamente retirada pelo patrono do autor (fls. 37), não há a menor dúvida de
que o ato alcançou sua finalidade e produziu seus efeitos, demonstrando o autor,
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inequivocamente, que a carta foi entregue no endereço da ré (fl. 41/42) e, além
disso, o comparecimento da ré respondendo aos termos da ação supre quaisquer
irregularidades (art. 214, § Io, do CPC).

Noutra esteira, os argumentos da apelante padecem de força para


que se evite o despejo, pois a hipótese é de denúncia imotivada relativamente à
locação de imóvel para fins não residenciais, submetida ao regime jurídico do
artigo 8o da Lei n° 8.245/91l, diante do que foi manifestada a oposição dos
proprietários à permanência da inquilina no imóvel, por meio de notificação
extrajudicial, concedendo a ela o prazo de 90 (noventa) dias para a desocupação
(fls. 21/23), nos termos do § 2o, do referido artigo. Assim, perfeita, válida e eficaz
a notificação premonitória efetuada.

Aqui, o contrato de locação expirou em 16 de julho de 2003


(cláusula A - fl. 10), sendo que a locação passou a viger por prazo indeterminado.

Inaplicável à espécie o art. 53 da Lei 8.245/91, pois a empresa


apelante, Eurosorocaba Edições Culturais Ltda, conforme se depreende do
contrato social de fls. 73/79, foi constituída com o objetivo social de
"comercialização em geral, de livro, publicações, tratados e cursos
especializados em temas de informática e em geral de quaisquer materiais de
interesse culturar (fl. 74), ou seja, é escola de informática, mas não pode ser
considerada estabelecimento de ensino propriamente dito preservado da denúncia
vazia pela Lei do Inquilinato.

1 Art. 56. Parágrafo único. "Findo o prazo estipulado, se o locatário permanecer no imóvel por mais de 30 (trinta) dias sem
oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação nas condições ajustadas, mas sem prazo determinado^

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Isto porque, doutrina e jurisprudência vêm entendendo que a norma
inserta no artigo 53 da Lei 8.245/91 tem por escopo proteger estabelecimento de
ensino autorizado efiscalizadopelo Poder Público, em virtude de nele se ministrar
curso de primeiro e/ou segundo graus. Nesse sentido:

"Despejo - Locação comercial - Retomada do imóvel - Escolas de informática por se


caracterizarem como sendo de ensino livre, não gozam das regalias do art. 53, da Lei
n° 8.245/91."2

Destarte, não há que se falar em impossibilidade jurídica do pedido,


pois, tratando-se de contrato por prazo indeterminado e tendo os apelantes
adquirido o imóvel no curso da locação, presentes estão os requisitos previstos no
"caput" do art. 8o da Lei do Inquilinato, que deferem aos novos proprietários o
direito de pleitear o término da locação pactuada entre a ré e a ex-proprietária do
imóvel (fls. 10/17), sendo irrelevante, para a hipótese dos autos, se a intenção dos
proprietários era majorar o valor do aluguel.

Ressalto que, no contrato de locação (fls. 10/17), não há cláusula de


vigência da locação em caso de alienação do imóvel.

No caso, é certo que os autores, atuais proprietários do imóvel,


como titulares do interesse em conflito, têm legitimidade para propor ação de
despejo contra a locatária, ora apelante.

2
Ap.s/Rev. n° 1.034.889-0/0, TJ/SP, 29" Câm. Rei. Des. SILVIA ROCHA GOUVEA - j . 13/06/2007.

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Por fim, não houve cerceamento de defesa. É cediço que, em


decorrência do princípio da livre persuasão racional, o Juiz detém a prerrogativa
de indeferir, motivadamente, a produção de provas que se lhe apresentem
desnecessárias ou inúteis, sem que isso represente ofensa aos princípios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa, consagrados no art. 5o, inciso
LV, da Constituição Federal.

O art. 330, inciso I, do Código de Processo Civil, autoriza o juiz


conhecer diretamente do pedido, proferindo sentença, quando a questão de mérito
for exclusivamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver
necessidade de produzir prova.

No presente caso, conforme se depreende dos autos, o MM. Juiz "a


quo", após a apresentação de impugnação, proferiu sentença, julgando procedente
a ação de despejo, por entender presentes os pressupostos legais para a rescisão do
contrato de locação.

Ora, diante desses elementos e da análise minuciosa do feito, tem-


se que o julgamento antecipado da lide não importou em cerceamento de defesa,
na medida em que os documentos acostados aos autos (contrato de locação - fls.
10/17; escritura de permuta de imóveis - fls. 18/19; e notificação extrajudicial -
fls. 21/23), foram suficientes para formar o convencimento do julgador para a
solução da lide.

De qualquer modo, pertinente lembrar que o ajuste verbal não


admite comprovação, pois, tratando-se de contrato escrito, a prova de sua

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alteração ou prorrogação deve obedecer à mesma forma. Isto porque se o contrato


primitivo aperfeiçoou-se por meio literal, a sua renovação, que importa em
distrato ao menos parcial, exige equivalente instrumentação (art. 472 do Código
Civil).

Por qualquer ângulo que se veja a questão, portanto, não procede a


argumentação da apelante, até porque provados o término do prazo contratual
pactuado (cláusula 3 a - fls. 16) e demonstrada a falta de interesse dos locadores na
continuidade do vínculo, tendo a locatária sido tempestivamente notificada da
intenção de retomada do imóvel pela denúncia vazia (fl. 29/30), impõe-se à
ocupante a retomada imotivada, pois não lhe cabe discutir as razões subjetivas da
pretensão, dando-se a retomada em casos tais pela simples conveniência dos
proprietários, até porque não dispunha a locatária de direito subjetivo à renovação
compulsória.

Dessa maneira, não tendo a requerida, ora apelante, demonstrado o


desacerto da r. sentença, de rigor a sua manutenção.

Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso.

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