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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
16ª VARA CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/Nº 8º ANDAR, São Paulo - SP - CEP 01501-
900
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1083343-62.2023.8.26.0100 e código 11067ECB.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1083343-62.2023.8.26.0100


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Direito de Imagem
Requerente: Otávio Oscar Fakhoury
Requerido: Jean Wyllys de Matos Santos e outro

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Felipe Poyares Miranda

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FELIPE POYARES MIRANDA, liberado nos autos em 08/11/2023 às 15:48 .
Vistos.

OTÁVIO OSCAR FAKHOURY, qualificado nos autos, ajuizou a


presente ação de indenização por danos morais com pedido de tutela de urgência em face de
JEAN WYLLYS DE MATOS SANTOS, também qualificado, alegando, em síntese que é
notável empresário, com carreira consolidada, dentro e fora do Brasil, altivo pai de família e
exemplar cidadão. Aduz que tomou conhecimento de postagem realizada pelo réu no Twitter, no
qual teria sido caluniado, injuriado e difamado injustamente. A manifestação do réu excede os
limites da liberdade de expressão e manifestação do pensamento. Pugna pela concessão de tutela
antecipada para que o réu exclua as postagens objeto destes autos, e no mérito, pela confirmação
da liminar, com a condenação do réu no pagamento de indenização por danos morais.

Com a inicial, vieram documentos (fls. 10/20).

Indeferida a tutela antecipada e determinada a emenda à inicial (fls.


21/33).

Interposto agravo de instrumento, foi concedido efeito ativo ao recurso


para determinar a remoção do conteúdo das publicações feitas pelo requerido em suas redes
sociais, conforme v. decisão de fls. 44/46, cumprida a fl. 47.

Inicial emendada a fl. 50, recebida a fl. 53.

À fl. 64 e 77 foi determinada a intimação do Twitter para cumprimento da


tutela.

O réu foi regularmente citado às fls. 86, tendo deixado transcorrer in albis

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o prazo para oferecimento de contestação.

Manifestação do Twitter às fls. 112/121 pugnando pela reconsideração da


decisão.

Às fls. 142 foi noticiado o cumprimento da tutela.

Às fls. 148 a parte autora noticiou o julgamento de mérito do agravo de


instrumento, que deu provimento ao recurso para determinar que o conteúdo das publicações seja

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removido, conforme v. acórdão de fls. 149/155, pugnando pelo julgamento antecipado do feito.

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

Reputo válida a citação de fls. 86, tendo em vista o disposto no art. 248,
§4º do CPC.
Isto porque, tratando-se de condomínio edilício, é valido o recebimento da
carta de citação pelo funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência,
sendo que, caberia ao requerido comprovar cabalmente que o condomínio efetivamente tivesse
conhecimento de que ele não reside naquela unidade, ou que seu único imóvel pertence a outro
endereço.
Neste sentido:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO CITAÇÃO PELO CORREIO


CONDOMÍNIO CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA PELO
PORTEIRO OU ZELADOR VALIDADE. 1 Considera-se hígida
a citação pelo correio, com o recebimento da carta por porteiro do
condomínio, sem se exigir poder de representação. RECURSO
IMPROVIDO. (TJSP; Agravo de Instrumento
2131234-18.2016.8.26.0000; Relator (a): Maria Lúcia Pizzotti; Órgão
Julgador: 30ª Câmara de Direito Privado; Foro de Araçatuba - 4ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 05/10/2016; Data de Registro: 11/10/2016)”

“APELAÇÃO IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

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CITAÇÃO PELOS CORREIOS RECEBIDA PELO PORTEIRO
VALIDADE AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE QUE O
CONDOMÍNIO TIVESSE CONHECIMENTO DE QUE OS
CITANDOS NÃO RESIDIAM NO LOCAL. - É válida a citação
recebida por porteiro de condomínio residencial, o que se adequa à
realidade social. - Na esteira da decisão do STJ no julgamento REsp
1.345.331/RS, realizado nos termos do art. 543-C do CPC/73, não

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FELIPE POYARES MIRANDA, liberado nos autos em 08/11/2023 às 15:48 .
residindo mais no local, os impugnantes deveriam dar ciência
inequívoca ao condomínio, indicando-lhe endereço atual. RECURSO
DESPROVIDO. (TJSP; Apelação 1005317-55.2014.8.26.0071; Relator
(a): Maria Lúcia Pizzotti; Órgão Julgador: 30ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Bauru - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 22/03/2017; Data de
Registro: 23/03/2017)”

Impõe-se o julgamento conforme o estado do processo, como determina o


artigo 355, inciso II, do Código de Processo Civil, pois a ré, apesar de devida e regularmente
citada, não contestou o feito no prazo legal, marcando-se revel.
Trata-se de ação de indenização por danos morais em que a parte autora
alega ter sido ofendida através de publicação do réu no seu perfil do Twitter.
Por força do disposto no artigo 344 do Código de Processo Civil, hão de
ser reputados como incontroversos os fatos afirmados na petição inicial, por não incidir, in casu,
qualquer das hipóteses elencadas no artigo 345 do mesmo Codex.

Os fatos descritos na inicial, corroborados pelos documentos acostados


aos autos pelo autor, não foram impugnados pela ré em sua contestação, aplicando-se ao caso os
arts.341 e 374, III do CPC.

Cito trecho do v. acórdão proferido nos autos do agravo de instrumento nº


2165941-65.2023.8.26.0000, que deu provimento ao recurso do autor para determinar a remoção
da publicação ofensiva, e que uso como razão de decidir:

“Não se pode excluir o fato de que o conteúdo das publicações feitas pelo
agravado pode causar momentosos efeitos contra a imagem, a honra e a
dignidade do agravante, e está aí configurada a situação de risco

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concreto e atual, que é necessário controlar, havendo também por se
reconhecer, como dito, a relevância no que aduz o agravante quanto a
uma proteção àqueles valores constitucionais (imagem, honra e
dignidade), considerando-se que o agravado acoima a pessoa do
agravante, dizendo tratar-se de um “mentiroso sórdido”, além de lhe
atribuir a prática da conduta de integrar uma “peça da engrenagem
bolsonarista de fabricação e disseminação de mentiras”, levando ao

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conhecimento de um grande público que acompanha as publicações
feitas pelo agravado, pessoa pública, em suas redes sociais, o que
evidentemente potencializa os dados que o agravante pode suportar.”
(fls. 153/154 grifos nossos)

Há nítido nexo causal entre a conduta do réu e os danos verificados à


honra, imagem e dignidade da parte autora.

Assim sendo, inequívoco o dolo da parte requerida em ofender


textualmente a parte autora através das redes sociais, tendo excedido do seu direito à liberdade de
expressão e pensamento, situação esta que enseja o reconhecimento de danos morais na espécie.

Presentes, pois, todos os requisitos do art.186 do CC, deve a requerida


responder pelos atos ofensivos praticados, que ofenderam a honra subjetiva da parte autora.

Além disso, o artigo 927 do Código Civil dispõe que todo aquele que
causar a outrem dano, fica obrigado a repará-lo, dispositivo que tem inteira aplicação no caso em
comento. A postura da ré, ao ofender a dignidade da autora, com cópia do e-mail para várias
pessoas, é inadmissível e reprovável, fazendo imperiosa a inibição de práticas reiteradas, coibição
esta contundente, de modo a impedir que outros cidadãos comuns se sujeitem a tal ordem de
constrangimento e dissabor.

O que caracteriza o dano moral é a consequência de algum ato que cause


dor, angústia, aflição física ou espiritual, ou qualquer padecimento infligido à vitima em razão de
algum evento danoso. É, pois, o menoscabo a qualquer direito inerente à pessoa como à vida, à
integridade física, à liberdade, honra, vida privada e vida de relação. A indenização aqui
perseguida refere-se à tutela do direito personalíssimo do autor, sua identidade pessoal e

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tranquilidade espiritual. Neste panorama fático-jurídico apresentado, inadmissível que alguém
cause mal a outrem e não sofra nenhum tipo de sanção, deixando de reparar o dano inferido.

Por tais considerações a pretensão indenizatória perseguida na inicial é de


ser acolhida, não, contudo, na extensão almejada.

O valor da indenização pelo dano moral experimentado deve adotar


critérios de razoabilidade pautados em duas funções distintas, quais sejam, a compensatória e a

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inibitória, assumindo esta última maior relevo, posto que práticas abusivas e prejudiciais devem
ser desestimuladas.

Nestes termos, para o fim de compensar a vítima, como forma de atenuar


a lesão e com o fito de inibir o réu a prática de atos como os aqui retratados, reputo conveniente e
adequada a indenização no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), apto a satisfazer o dano
experimentado pela parte autora e coibir a ré na incidência do mesmo procedimento.

Por tudo o que foi aduzido, sempre respeitado entendimento diverso, de


rigor a procedência dos pedidos.

Diante do quanto exposto e considerando o mais que dos autos consta,


JULGO PROCEDENTE a ação promovida, extinguindo o feito com resolução de mérito, nos
termos do art. 487, I, do CPC, para confirmar a tutela antecipada para remoção do conteúdo das
postagens nas redes sociais do réu, bem como condena-lo ao pagamento à parte autora da quantia
de R$10.000,00 (dez mil reais) a título de indenização por danos morais, devidamente corrigida
pela T.P.T.J., desde a data desta sentença (Súmula nº 362 do CSTJ) e acrescida de juros de mora
de 1% ao mês devidos desde o evento danoso (art. 398 e Súmula nº 54 do CSTJ).

Em razão da sucumbência experimentada e o disposto na Súmula nº 326


do CSTJ, o réu arcará com o pagamento das custas, despesas processuais e honorários
advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação (art. 85, §2º do CPC).

P.R.I.C.

São Paulo, 08 de novembro de 2023.

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DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,
CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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