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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE BARRETOS
FORO DE BARRETOS
3ª VARA CÍVEL
AVENIDA CENTENÁRIO DA ABOLIÇÃO, 1500, Barretos - SP - CEP
14783-195
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1006709-35.2020.8.26.0066 e código 6E747C3.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1006709-35.2020.8.26.0066


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Práticas Abusivas
Requerente: Oiliruam de Souza Simeao
Requerido: Claro S.A.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por DOUGLAS BORGES DA SILVA, liberado nos autos em 25/06/2021 às 17:26 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Douglas Borges da Silva

Vistos.

OILIRUAM DE SOUZA SIMEÃO ajuizou a presente AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO E OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL em face da CLARO S/A.

Alegou, em síntese, que em 10.05.2020 recebeu mensagem de pessoa se


identificando como agente da ré lhe propondo a troca de aparelho das duas linhas mantidas
mediante desconto. O autor indagou a agente acerca da existência de multa contratual por
fidelização já que havia feito a troca de aparelho há pouco tempo. A agente da ré lhe informou
que nada seria devido pois seria feito nova fidelização. Diante disso, o autor procurou a loja da
requerida nesta cidade e efetuou a troca dos aparelhos. Contudo, na fatura do mês seguinte recebeu
a cobrança de valor referente a multa de fidelização por quebra do contratado. Além disso, a ré
efetuou o corte do funcionamento de suas linhas. Tentou solucionar administrativamente, mas não
conseguiu. Requereu a concessão da tutela de urgência para determinar à ré que restabeleça o
funcionamento das linhas telefônicas em nome do autor e, no mérito, a declaração de
inexigibilidade do valor cobrado a título de multa e a condenação da ré em danos morais. Juntou
documentos.

Recolhidas as custas, indeferi a tutela de urgência (pp. 94/95).

Citada, a requerida apresentou contestação (pp. 99/113). Sustentou, em resumo, a


regularidade da cobrança da multa de fidelização em razão da troca de aparelho realizada pelo
autor antes do prazo estipulado na troca anterior, bem como da suspensão do serviço de telefonia
nas duas linhas em razão do não pagamento do valor referente à cobrança da multa. Combateu o
pedido de indenização por danos morais. Espera a improcedência dos pedidos. Juntou documentos.

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Colheu-se réplica (pp. 159/171).

É o relatório.

DECIDO.

O processo comporta julgamento antecipado do mérito, nos exatos termos do art.


355, inciso I, do Código de Processo Civil, eis que, diante da documentação juntada nos

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por DOUGLAS BORGES DA SILVA, liberado nos autos em 25/06/2021 às 17:26 .
respectivos autos, os pontos controvertidos podem ser solucionados, sem mais demora, mediante
simples aplicação do direito à espécie.

As pretensões são procedentes.

A relação jurídica que envolve as partes é de consumo e a parte autora é


hipossuficiente, diante da parte ré, não apenas do ponto de vista financeiro, como também do
técnico e no acesso à informação.

Em decorrência da aplicação do Código do Consumidor, a parte autora tem direito


à informação clara e adequada sobre os produtos e serviços colocado à disposição no mercado de
consumo e também à facilitação da defesa de seus direitos em juízo, com a possibilidade de
inversão do ônus da prova (artigo 6º, III e VIII).

O Código do Consumidor estabelece que “os contratos que regulam as relações


de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar
conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo
a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance” (artigo 46), que “as cláusulas que
implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo
sua imediata e fácil compreensão” (artigo 54, § 4º), e que “as cláusulas contratuais serão
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor” (artigo 47).

Prevê, ainda, que “são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) IV - estabeleçam
obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade” (artigo 51).

No caso em exame, contudo, a ré não provou ter pactuado e informado a parte

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autora, de forma clara e adequada, como o Código do Consumidor a ela impunha, que havia prazo
mínimo para realização da troca de aparelhos e que, na hipótese de rescisão antecipada, dela seria
exigido o pagamento de multa.

O contrato juntado pela parte ré (pp. 151/156) no qual consta o período de


fidelização e a previsão de multa, se refere a troca feita pelo autor para utilização dos atuais
aparelhos, realizada em maio, cuja fidelização passou a valer a partir da data da contratação

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(16.05.2020), nada tendo comprovado com relação à fidelização anterior, a qual seria, em tese, o
motivo para a cobrança das multas.

Como a ré não provou a contratação de cláusula de fidelidade, da respectiva multa


e do seu valor, é certo afirmar que o débito é inexigível e irregular a cobrança na fatura, bem
como a suspensão do serviço das linhas telefônicas em nome do autor.

Quanto ao pedido condenatório, reputo que a conduta ilícita da requerida,


configurou dano moral à parte requerente, eis que os transtornos a esta causados pela indevida
cobrança de valores e a suspensão do serviços de telefonia não se limitaram a meros dissabores e
aborrecimentos.

Com efeito, sendo aplicável à espécie o CDC, a responsabilidade do fornecedor do


serviço é objetiva, somente excluída nas hipóteses taxativamente elencadas no art. 14, § 3º, do
diploma consumerista, das quais nenhuma se verificou.

Relativamente ao quantum, levando-se em conta a condição econômica das partes,


o período da angústia e a natureza da lesão, entendo por prudente fixar a indenização em R$
5.000,00. Quanto aos consectários, a correção monetária do valor da indenização do dano moral
incide desde a data do arbitramento (Súmula 362, STJ); os juros de mora incidem a partir do
evento danoso (Súmula 54, STJ).

Observo, por oportuno, que “na ação de indenização por dano moral, a
condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”, ex
vi da Súmula 326 do STJ.

Posto isso, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos, assim


resolvendo o mérito com fundamento no art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para:

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1) declarar a inexigibilidade do débito cobrado pela parte ré a título de multa
contratual por quebra da fidelização;

2) determinar o restabelecimento dos serviços de telefonia junto às linhas celulares


de titularidade do autor;

3) condenar a parte ré a pagar à parte autora indenização por dano moral no valor
de R$ 5.000,00, atualizado monetariamente a partir desta sentença pela Tabela Prática do Tribunal

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por DOUGLAS BORGES DA SILVA, liberado nos autos em 25/06/2021 às 17:26 .
de Justiça de São Paulo, com incidência de juros de mora simples de 1% ao mês, contados desde
junho/2020.

Sucumbente, arcará a ré com o pagamento das custas e despesas processuais, bem


como honorários advocatícios, que fixo em 18% sobre o valor da condenação, nos termos do art.
85, § 2º do CPC.

Publique-se. Intimem-se. Dispensado o registro (Prov. CG n. 27/2016).


Interposto recurso de apelação, deverá a serventia proceder nos termos do art. 1.093 das NSCGJ.
Após trânsito, arquivem-se os autos, observadas as formalidades legais e o fundamento desta
sentença, dando-se baixa definitiva no presente feito junto ao sistema SAJ.

Barretos, 25 de junho de 2021.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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