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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE ASSIS
FORO DE ASSIS
1ª VARA CÍVEL
RUA DR. LÍCIO BRANDÃO DE CAMARGO, 50, Assis - SP - CEP
19802-300
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1007602-20.2019.8.26.0047 e código 4EB7DF8.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1007602-20.2019.8.26.0047


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Cancelamento de vôo
Requerente: Edinilson Fernando Rodrigues
Requerido: Azul Linhas Aéreas Brasileiras S.a.

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Marcela Papa Paes

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELA PAPA PAES, liberado nos autos em 31/01/2020 às 17:22 .
Vistos.

Trata-se de AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, ajuizada por


EDINILSON FERNANDO RODRIGUES em face de AZUL LINHAS AÉREAS
BRASILEIRAS S/A, qualificados.

Constou na petição inicial que o autor adquiriu passagens aéreas da ré para o voo n.
4478, com origem em Porto Velho e destino à Marília, na data de 10.10.2019, com previsão de
saída às 00h30min e chegada às 15h20min.

Arguiu que após realizar o check-in no aeroporto na cidade de Campinas, foi


informado de que seu vôo estaria atrasado e que não teria previsão para decolagem em razão de
problemas mecânicos na aeronave, sendo necessária a permanência de todos os passageiros no
local de embarque.

Aduziu que passou das 15h sem mais informações, e neste horário, era para o avião
ter pousado em seu destino, Marília. O horário para embarque foi definido para as 16h e ao se
dirigir ao guichê para obter maiores esclarecimento sobre o motivo do atraso, juntamente com os
outros passageiros recebeu um voucher de alimentação no valor de R$37,00.

Asseverou que o voucher foi fornecido às 15h20 e que todos deveriam retornar às 16h
para que o avião pudesse decolar. Foi mencionado pelo autor que teria duas reuniões, uma na
cidade de Marília e outra em Assis, contudo, ambas foram desmarcadas em decorrência do atraso,

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de acordo com o que se extrai às fls. 29/30 e 31/32.

Arguiu que às 17h30 a ré determinou que as pessoas procedessem ao embarque,


colocando os passageiros na aeronave para o início do voo, entretanto, antes de decolarem, o
piloto informou que o avião não poderia sair por problemas operacionais e mais uma vez os
passageiros tiveram que descer e retornar ao aeroporto.

Argumentou que cinco horas após o horário para embarque, a companhia aérea

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELA PAPA PAES, liberado nos autos em 31/01/2020 às 17:22 .
informou que o voo teria sido cancelado e que todos deveriam embarcar em um ônibus para
chegarem até Marília.

Narrou que foi impossibilitado de participar da festa de dia das crianças realizada no
período noturno devido aos atrasos e cancelamento do voo. Ainda, enfatizou que a ré negou
hospedagem, reembolso e acomodação dos passageiros em outro horário de voo.

Alegou que as condições no ônibus eram sub-humanas e que a ré não forneceu


alimentação aos passageiros.

Ainda, ao sair da rodoviária o ônibus teria sofrido uma pane e percorreu todo o
caminho de Campinas à Marília na velocidade de 60km/h, sem ar-condicionado e com os vidros
fechados, chegando em seu destino às 00h11, onze horas após o horário previsto para decolagem.
Ao final, pleiteou a condenação da ré ao pagamento de no mínimo R$25.000,00 a título de danos
morais.

Com a petição inicial vieram aos autos as documentações às fls. 24/33.

A ré deixou transcorrer in albis o prazo para apresentar contestação (fls. 54).

É o relatório.

Fundamento e decido.

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Julgo o processo no estado em que se encontra, não havendo necessidade de dilação
probatória (artigo 355, inciso I e II, do Código de Processo Civil).

Acrescento que "a necessidade da produção de prova há de ficar evidenciada para


que o julgamento antecipado da lide implique em cerceamento de defesa. A antecipação é legítima
se os aspectos decisivos estão suficientemente líquidos para embasar o convencimento do
Magistrado" (STF - RE 101.171-8-SP).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELA PAPA PAES, liberado nos autos em 31/01/2020 às 17:22 .
No mérito, o pedido de rigor, é PROCEDENTE.

Inicialmente, ante a ausência de contestação pela ré (fls. 54), reconheço a sua revelia
(art. 344 do Código de Processo Civil), aplicando-se seus efeitos, dentre os quais, a presunção de
veracidade dos fatos alegados na inicial, circunstância, em tese, suficiente à procedência do
pedido.

No entanto, observo que a aplicação dos efeitos da revelia não impõe necessariamente
a procedência, mas apenas o reconhecimento como verdadeiro dos fatos narrados, devendo o
magistrado proceder a análise em conjunto com os elementos nos autos.

Com efeito, não pode a sentença deixar de ilustrar e se refletir sobre a existência de
documentos, bem como se debruçar sobre os conteúdos neles existentes.

Neste sentido, inclusive:

STJ - "A presunção de veracidade dos fatos afirmados na inicial, em caso de revelia,
é relativa, devendo o juiz atentar para a presença ou não das condições da ação e
dos pressupostos processuais e para a prova de existência dos fatos da causa”.
(STJ, RESP 211851/SP).

Como se infere, por meio de todo o conjunto probatório que se produziu nos autos, e
ainda, pela incontroversa dos fatos (art. 344 do CPC), o autor nitidamente sofreu danos em
decorrência do atraso e cancelamento do voo, fato que lhe constitui o direito de ser indenizado.

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A priori¸ faz-se necessário destacar que sendo a relação travada entre as partes é de
consumo, sendo a ré responsável pelos prejuízos ocasionados ao consumidor.

Do mesmo modo, considerando-se a natureza objetiva da responsabilidade civil dos


fornecedores, estes somente se isentam do dever de indenizar quando fica comprovada hipótese de
força maior, caso fortuito ou culpa exclusiva de terceiro, porque tais causas rompem o nexo
etiológico entre a conduta e o resultado danoso.

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Sobre atraso no tráfego aéreo e responsabilidade civil das companhias áreas, oportuna
as lições de Yussef Cahali, transcritas por Rui Stoco:

“Tratado de Responsabilidade Civil Doutrina e Jurisprudência” 7ª


ed., ed. RT, p. 351:“A respeito do tema Yussef Cahali observa que,
embora a questão pertinente aos danos resultantes de atraso na partida
e chegada dos voos deva ser resolvida mediante juízo valorativo das
circunstâncias do fato, mas tendo em vista certa antinomia verificada na
jurisprudência, a questão comporta composição de entendimentos
desarmônicos, propondo os seguintes enunciados. a) no pressuposto de
que as companhias áreas são obrigadas a operar com o 'risco zero',
qualquer atraso da aeronave determinado em respeito às normas de
segurança, inclusive com obrigatoriedade de mudança de aeroporto de
pouso, exclui a empresa de responsabilidade civil do direito comum; b)
ainda que se aceite que a responsabilidade do transporte aéreo, por
atraso no vôo, seja de cunho legal, independente de culpa ou de dolo da
empresa, a pretendida 'presunção de culpa da empresa' não tem caráter
absoluto (jure et de jure), podendo assim ser elidida sempre que o atraso
não tenha como causa um fato imputável à transportadora identificado
com 'falhado serviço'; c) o atraso do vôo pode, em tese, provocar danos
patrimoniais e excepcionalmente danos de natureza moral; o bom senso,
porém, recomenda que para tanto que o atraso seja dilargado e
anormal, com omissão da empresa em evitar-lhe as conseqüências;
ainda que o dano moral se projete, no direito vigente com maior
extensão do que aquela que se pretendeu no acórdão a que se refere a
nota 98, 'transtornos, aborrecimentos ou contratempos' que afligem o
passageiro podem eventualmente induzir a existência de um dano moral
reparável, desde que verificados em circunstâncias absolutamente
anormais” (Yussef Said Cahali. Dano Moral. 2. ed. São Paulo: ed.
RT,1998, p. 516-517).

No caso concreto, analisando os autos, a partir da leitura da inicial e dos documentos


acostados, é verossímil a alegação do autor de que o voo atrasou por mais de cinco horas e, mesmo

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tendo a ré informado aos passageiros sobre os problemas mecânicos e operacionais, isto não
possibilita o rompimento do nexo etiológico (conduta dano causado), vez que não constituem
caso fortuito ou força maior.

Assim, é cabível a indenização por danos morais.

Considerando-se a capacidade econômica das partes, o grau de responsabilidade da


conduta, a ausência de contestação com justificativa plausível para o atraso, o conteúdo

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELA PAPA PAES, liberado nos autos em 31/01/2020 às 17:22 .
fático/probatório trazido na presente demanda, bem como os patamares fixados pelos precedentes
do E. TJSP fixo a indenização por danos morais em R$10.000,00 (dez mil reais).

É importante registrar que não haverá a compensação de honorários, especialmente


em razão da súmula 326 do STJ, que determina que “na ação de indenização por dano moral, a
condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.

Ante o exposto e do que mais dos autos consta, JULGO PROCEDENTE o pedido
formulado por EDINILSON FERNANDO RODRIGUES em face de AZUL LINHAS AÉREAS
BRASILEIRAS S/A, resolvendo o mérito, com fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de
Processo Civil, a fim de:

a) CONDENAR a ré ao pagamento de R$10.000,00 (dez mil reais) a título de danos


morais com correção monetária pela tabela prática do TJ/SP, a partir desta decisão (súmula 362 do
STJ), e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir do evento danoso (súmula 54 do STJ).

Sucumbente, condeno a ré ao pagamento das custas e despesas processuais, bem


como aos honorários advocatícios que fixo em 20% do valor da condenação, nos moldes do art.
85, § 2º do CPC.

Publique-se e Intimem-se.

Assis, 31 de janeiro de 2020.

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DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,
CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELA PAPA PAES, liberado nos autos em 31/01/2020 às 17:22 .

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