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Gestão dos conflitos de terra: “caso Milhulamete” no bairro Cumbeza, distrito de Marracuene
(2014-2019)
Gestão dos conflitos de terra: “caso Milhulamete” no bairro Cumbeza, distrito de Marracuene
(2014-2019).
Acrónimos
ACs------------------------Autoridades Comunitárias
DUAT --------------------Direito de Uso e Aproveitamento de Terra
FAO -----------------------Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
FO -------------------------Projecto Florestal
FO2------------------------Projecto Florestal implementado em Marracuene (Maputo)
FO4------------------------Projecto Florestal implementado em Dondo (Sofala)
FO3----------------------- Projecto Florestal implementado em Nampula
FRELIMO---------------Frente de Libertação Nacional
GDM ----------------------Governo do Distrito de Marracuene
HIPOGEP----------------História Política e Gestão Pública
IFLOMA -----------------Projecto Florestal de Manica
MINAG ------------------Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Rural
MONAP ------------------Mozambique Nordic Agricultural Programam
OMR----------------------Observatório do Meio Rural
SDPI ----------------------Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas
vi
Declaração
Declaro que esta Monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações
do meu supervisor. O seu conteúdo é original e todas fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
______________________________________
viii
Dedicatória
Dedico este trabalho à minha mãe.
ix
Agradecimentos
Resumo
Palavras-chave: Acesso à terra, Posse de terra, conflitos de terra, mitigação dos conflitos de
terra.
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0. Introdução
A presente monografia é intitulada Gestão dos conflitos de terras: caso Milhulamete, no
bairro Cumbeza, distrito de Marracuene (2014-2019). Partindo da experiência de convivência da
população local (nativos) com a empresa Milhulamete, esta é uma pesquisa impulsionada pela
necessidade de analisar o poder interventivo das autoridades governamentais do distrito de
Marracuene (Autoridades Comunitárias, Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas e
Tribunal Judicial) na gestão dos conflitos de terra. Este estudo enquadra-se na temática Gestão
Terra da linha de pesquisa de Gestão Pública em Moçambique e na África Austral, tendo como
aspecto em estudo a invasão de terras na propriedade da empresa Milhulamete no bairro
Cumbeza no período 2014-2019.
0.1. Problematização
situação de miséria e dependiam dos grandes proprietários de terra. Este quadro todo gerou o
aumento de insatisfação da população local que se revoltou contra os latifundiários e a elite
política, reivindicando uma justa distribuição de terras através da reforma agrária (Rodrigues et
al., 2009 apud Uate, 2017, p.13).
Em África, os conflitos de terra nascem no período da agressão imperialista, com a
instalação das artificiais fronteiras impostas pela Conferência de Berlim na partilha de África em
1884-1885.Como explica Negrão (s/d, p.3):
“As terras dos africanos foram confiscadas sob o pretexto de um eminente direito adquirido pela
conquista, e entre os vários Poderes estas, injustamente conseguidas, terras foram concedidas e
subarrendadas às plantações onde os trabalhadores nativos sofreram todas as espécies de
desumanidades”.
A maioria dos países africanos e com destaque para os da África Austral, antes das suas
independências do domínio colonial e pós-independência, o sistema de posse da terra continua
dual, isto é, sistema legal e consuetudinário ou costumeiro (Vicente, 2014, p.1).
De acordo com Mwesigye e Tomaya (2016) apud (Uate, 2017, p.14-15), os conflitos de
terra estão a aumentar em muitos países da África Subsaariana, pelo facto da terra constituir um
recurso fundamental dado que, a maior parte da população é empregada na agricultura e
largamente depende da terra para a sua sobrevivência. Alguns factores tais como: a pressão
populacional, comercialização da terra e a urbanização, têm contribuído para o aumento do
número de conflitos de terra.
Grande parte da população da África Subsaariana, está totalmente dependente da terra,
que constitui a base da sua existência. Alguns autores como Berry (1989) apud Uate (2017,
p.10), reconhecem que a posse de terra não é um sério constrangimento da produção agrícola e
nem o causador da crise alimentar que afecta esta parte do continente, porque estes autores, a
terra existe em abundância em África, faltando somente à aplicação de tecnologia apropriada
para a sua utilização eficiente, existem outros que defendem que o problema reside nos factores
que influenciam a crise alimentar das populações e o seu bem-estar social (Vicente, 2014, p.3).
Birgergard (1993) e Hesseling (1995) apud Uate (2017, p.10) argumentam que para se
por sua vez, argumentam que para promover um desenvolvimento sustentável nestas sociedades
predominantemente agrícolas, será preciso encontrar a cada realidade uma forma adequada de
segurar a terra, eliminando as desigualdades, a estagnação social e a diferença de oportunidades
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de acesso, uso e controlo da terra e dos seus recursos. Desta forma, alocar a terra aos camponeses
seria o inicio ao combate pelas desigualdades (Vicente, 2014, p.3).
O problema de uso, aproveitamento da terra e de gestão de recursos tem sido a causa de
grandes conflitos entre o Estado, entidades privadas e a população. Em Moçambique, o sistema
de posse de terra esteve dividido em dois, nomeadamente: legal e costumeiro. Significa que
durante o período colonial os direitos das populações eram legalmente reconhecidos pelo
governo colonial português, mas de uma forma mais ou menos controlada, reflectindo os
interesses prevalecentes da época. Após a independência, as normas e práticas consuetudinárias
continuaram a ser reconhecidos pela Lei (capítulo I), prevalecendo assim, o sistema dual de
acesso de terra (Vicente, 2014, p.4).
No distrito de Marracuene, os conflitos de terra são uma realidade, constituem um
fenómeno social que ocorre sempre, acima de tudo, constituem um problema social. Nos órgãos
de informação, são reportados problemas de conflitos de terra que têm vindo aumentar devido ao
aumento de número de pessoas que procuram a terra no distrito (Uate, 2017, p.21).
As obras de construção da estrada circular de Maputo, a ponte sobre o Rio Incomati
vulgarmente conhecida por ponte de Macaneta que dá acesso à famosa zona de praias de águas
limpas de Macaneta, o estabelecimento da empresa 2M, incrementaram os interesses pela terra
nos bairros do distrito de Marracuene, com a finalidade de habitação e investimentos em
diversas, comércio, agricultura, turismo e outras (Uate, 2017, p.21).
Esses interesses na maior parte das vezes, desaguam em problemas de conflitos de terra.
Assim, o Governo do Distrito de Marracuene (GDM) ciente do problema, criou uma comissão de
resolução de conflitos de terra no distrito, que funciona na vila ao lado dos Serviços Distritais de
Planeamento e Infra-estruturas (SDPI). A comissão, normalmente resolve problemas de conflitos
de terra entre camponeses e empresas privadas, mas também resolve conflitos que não são
conseguidos a nível dos bairros (Uate, 2017, p.22).
A terra é o recurso básico de qualquer país e em particular na África Subsaariana. É um
elemento fundamental para a estabilidade social e para a soberania do país. Como explica
Negrão (s/d, p.3), a terra é um bem da família, da linhagem e da comunidade, cuja habilidade
para suster as intervenções exógenas reside a sustentabilidade do seu uso na luta contra a pobreza
e pelo aumento da riqueza. Como meio universal de criação de riqueza e do bem-estar social, o
uso e aproveitamento da terra é direito de todo o povo moçambicano” (Lei n.º 19/97 de 1 de
14
Outubro: Aprova a Lei de Terras, BR, serie I, n.º 40, de 7 de Outubro de 1997). Antes da
independência a população também se encontrava nas zonas rurais, porém, após independência,
as guerras que assolaram o País e a falta de oportunidades e perspectivas de futuro no campo,
provocaram um enorme êxodo das populações para as grandes cidades, em particular para as de
Maputo, Beira e Nampula, facto que, aliado a outros factores, originou um aumento na procura
de madeiras (para venda de lenha e produção de carvão vegetal), contribuindo para a rápida
devastação das florestas nativas existentes nas áreas circundantes das cidades (Serra e Cunha,
2008, p.363).
O Programa Nacional de Gestão Ambiental de 1996, entretanto, referiu que à volta das
cidades verificou-se já um acentuado desflorestamento. As causas principais consistiam na
abertura das machambas, recolha de lenha, limpeza de terrenos para construção e outras
actividades económicas. As iniciativas tomadas pelo Governo para travar o problema do
deflorestamento nas cidades de Maputo, Beira, e Nampula, foram através dos projectos de
reflorestamento FO-2, FO-4 e FO-5 (Micoa, 1996 apud Serra e Cunha, 2008, p.363).
necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre a questão da titularidade dos DUATs
(OMR, 2016, p.1).
0.2. Hipótese
As autoridades (Comunitárias, Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas)
intervêm como terceiro elemento, imparcial, negociador e mediador, usando a técnica “ganha-
perde”, buscando contudo, a conciliação entre as partes, recorrendo a Constituição da República,
à Lei de terras e os demais instrumentos legais sobre a terra e às testemunhas.
0.3. Objectivos
0.4. Metodologia
0.4.1. Métodos
Esta pesquisa descritiva e analítica. Tem como método de abordagem, o método
hipotético dedutivo. O uso do método hipotético-dedutivo tem início com um problema ou
uma lacuna no conhecimento científico, passando pela formulação de hipótese e por um
processo de inferência dedutiva, o qual testa a predição da ocorrência de fenómeno
abrangidos pela referida hipótese (Lundin, 2016, p.133). Neste caso, esta pesquisa iniciou
com a identificação do problema: que mecanismos as autoridades usam para mitigar os
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0.5. Justificativa
0.8. Relevância
Com esta monografia espera-se contribuir no debate académico na de reflexão sobre
conflitos de gestão de recursos naturais (terra). Os mecanismos de mitigação implementados
pelas autoridades face aos conflitos de terra entre empresa e comunidade podem servir de
estratégias de mitigação de conflitos entre empresas e comunidade, numa dimensão maior e em
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“A estruturação conflituosa da sociedade humana resultara das alterações nas relações económicas
que originaram a propriedade privada e as classes antagónicas nos estertores das comunidades
primitivas; e que o próprio desenvolvimento contraditório entre as relações de produção e as
22
Segundo Uate (2017, p.15) e Birnbaum (1995) apud Cibele et al., (2019, p.4), a
perspectiva marxista do conflito, está mais próxima do “patológico” que do “normal”. Na
formulação teórica de Marx, o comunismo é a solução dos antagonismos e desta forma o conflito
é para ele uma anormalidade histórica ocasionada pela propriedade privada e as classes
antagónicas, caracterizando uma fase intermediária da história humana a ser superada pelo
comunismo. Desta forma Durkheim apud Silva (2001, p.6), afirma que:
“…a coesão é a base social. O conflito surge como uma anormalidade no momento em que se
rompe essa coesão baseada na solidariedade mecânica das sociedades simples ou primitivas, em
direcção à divisão do trabalho”.
“Tais mecanismos são desenvolvidos no decurso da estabilização da sociedade, e são cruciais para
o desenvolvimento harmónico das funções sociais. Na ausência de regras, ou seja, na anomia, a
solidariedade se desfaz e a sociedade se desmantela” (Cibele et al., 2019, p.5).
“ [...] a luta é uma relação social na medida em que a actividade é orientada pela intenção de fazer
triunfar sua própria vontade contra a resistência do ou dos parceiros. Esta luta pelo poder implica
uma concorrência quando é conduzida no sentido de uma procura formalmente pacífica de um
poder próprio para dispor de oportunidades que outros também solicitam” (Weber apud
Passos, 2010, p.5).
Segundo Simmel (1983) apud Uate (2017, p. 16) toda interacção entre homens é um
fenómeno social e o conflito é uma das mais vividas interacções, e além disso não pode ser
exercida por um indivíduo apenas, deve certamente ser considerada como uma sociação e as suas
causas são: ódio, inveja, necessidade e desejo. O conflito está destinado a resolver dualismos
divergentes e é uma forma de conseguir algum tipo de unidade, ainda que através da aniquilação
de uma das partes conflituantes. Ele vê o conflito não apenas a unidade entre os adversários, mas
o mérito de introduzir no jogo o papel do terceiro que em geral é um mediador (Uate, 2017,
p.17).
24
Em outro trabalho “conflito como uma sociação”, Simmel situa os conflitos enquanto
factores de progresso e desenvolvimento, na medida em que obrigam a sociedade à superação de
situações de contingência, produzindo realizações consideráveis, não verificáveis em
circunstâncias de aparente harmonia colectiva. Nesse prisma, o autor afirma:
“Assim como o universo precisa de amor e ódio, isto é, de forças atractivas e repulsivas a fim de
dispor de qualquer forma, do mesmo modo a sociedade também, para atingir uma forma
determinada, precisa de alguma razão quantitativa de harmonia e desarmonia, de associação e de
concorrência, de tendências favoráveis e desfavoráveis. Mas estas discórdias não são meros
instrumentos sociológicos passivos, ou instâncias negativas. Definitivamente, a sociedade não
resulta apenas de forças sociais que lhe são positivas e apenas na medida em que factores
negativos não as impeçam. Esta concepção comum é bastante superficial: a sociedade, tal como a
conhecemos, é o resultado de ambas as categorias de interacção, que assim se manifestam como
inteiramente positivas” (Simmel, 2011, p.570-571).
Simmel retoma o conceito tradicional de Weber sobre o conflito, para elaborar uma
tipologia de resolução dos conflitos, em que afirma: sempre que uma crise eclode em uma
empresa, um terceiro “mediador” pode ser instado para auxiliar a resolvê-la. Com esse auxílio
às partes envolvidas na situação conflituosa pode-se chegar a um acordo ou um compromisso
que preserve os interesses de cada um (Passos, 2010, p.6).
Segundo Binrbaum (2005) apud Passos (2010, p.8), Dahrendorf propõe uma perspectiva
de mitigação dos conflitos depois de constatar, que há emergência de instituições de regulação
dos conflitos, em que os parceiros se acertam cada vez mais sobre as regras do jogo e aceitam
recorrer às mediações, arbitragens ou ainda a múltiplas formas de conciliação, que limitam sua
expressão concreta para o acentuado declínio da intensidade dos conflitos. Para sustentar,
Dahrendorf (1981) apud Uate (2017, p. 18) explica que:
“a mediação é a forma mais suave da instância e ocorre quando há acordo das partes litigantes
em escutar em cada caso concreto, a opinião de um terceiro e estudar suas propostas de solução .
Na arbitragem, a intervenção de um terceiro deve ser cumprida a sua decisão, é obrigatória a
aceitação da sua decisão pelas partes litigantes. Isto quer dizer que a decisão do terceiro deve ser
cumprida independentemente da vontade das partes litigantes”.
negativo, isto é, como um fenómeno que cria anarquia na ordem social, porém, esta visão tem a
fraqueza de não reconhecer o conflito como um fenómeno que resulta da interacção humana.
Por outro lado, a perspectiva interacionista, olha o conflito como resultante da interacção
humana e das diferenças que existem entre eles, entretanto, tem a fraqueza de olhar o conflito
como um fenómeno positivo, como se fosse impulsionadora do desenvolvimento. Neste caso, a
minha abordagem é determinista estrutural-interacionista, que consiste na mistura das duas
perspectivas teóricas. Esta é a linha orientadora desta monografia, desenvolvendo o conflito
como um fenómeno negativo resultante da interacção humana, que constitui na diferenciação de
realidades económicas, culturais, étnicas, religiosas que começam ao conviver nos mesmos
espaços. Neste caso, temos como partes deste conflito, a empresa Milhulamete, Lda e a
comunidade, que são grupos completamente heterogéneos com valores e princípios diferentes.
Desta forma, Geoge Simmel e Ralp Dahrendorf invocam o envolvimento do terceiro elemento
“mediador - neutro” (AC’s, SDPI e o Tribunal Judicial) para auxiliar na mitigação deste conflito.
O trabalho do mediador é lembrar às partes sobre as leis pertinentes, ajudar as partes a se
comunicarem, encontrar num acordo e identificar soluções desejadas. O objectivo do mediador é
de ajudar ambas as partes a chegar a uma resolução ou acordo que beneficie ambos os lados, e
não apenas um.
face a quem fica a perder e com a parte menor do “bolo” (Raiffa et al., 2002 apud Mendes, 2020,
p.12).
Como o estudo de Walton e McKersie (1965) apud Mendes (2020, p.12) demonstra em
situações negociais puramente distributivas, os interesses das partes correlacionam-se
negativamente. Isto é, o aumento de utilidade e benefícios dos resultados de uma das partes está
ligado à diminuição da utilidade e de benefícios do resultado da outra parte. Aqui, as partes
jogam um jogo competitivo de percepções individuais sobre os outputs ideais a atingir e os
resultados mínimos aceitáveis face à divisão do “bolo”.
“A negociação do tipo integrativa caracteriza-se por ambas as partes assumirem que existe um
problema comum, no qual as partes se concentram colaborativamente para tentar encontrar uma
solução conjunta. Na negociação integrativa, existem importantes elementos cooperativos na
relação negocial uma vez que se assume que ambas as partes podem ganhar se conseguirem
alcançar uma boa decisão conjunta sobre o problema”.
Negrão (s/d) no seu artigo “A indispensável terra africana para o aumento da riqueza
dos pobres”explica que a pobreza não só os níveis de rendimento por dia por pessoa, mas
também a pobreza como ausência de poder nas relações intra-familiares, entre estas e os demais
actores e entre a sociedade no seu todo e os recursos naturais de que se dispõe no Continente
Africano. Ademais, a redução da pobreza não deve constituir-se num objectivo em si, mas sim
consequência do aumento sustentável dos rendimentos e na melhoria progressiva das condições
de vida do cidadão, em suma a produção e a distribuição da riqueza. É de revelo importância
analisar em Negrão o uso e aproveitamento da terra para à redução da pobreza em África.
Vicente (2014) na sua obra “Direitos de Propriedade, Terra e Território nos Impérios
Ultramarinos Europeus”, explica que em Moçambique, os conflitos decorrentes da legislação e
das práticas no acesso e no uso da terra pelas comunidades rurais no período colonial e
actualmente, resultam de factores que datam do período dos impérios europeus, à semelhança de
factores também vividos nalguns países da África Austral, com realce para a África do Sul e
Zimbabué.
Eusébio (2019) na sua obra intitulada “os direitos sobre os territórios: ‘comunidades
locais’ e os projectos de desenvolvimento em Moçambique” estabelece um recuo histórico para
compreender os direitos territoriais das comunidades locais vem sendo tratado no ordenamento
jurídico moçambicano desde o tempo colonial e analisa as implicações as mudanças jurídicas
implementadas em diferentes fases do período pós-colonial têm na segurança jurídica do
território das comunidades locais directamente afectadas actualmente pelos projectos
desenvolvimentistas em Moçambique.
Valá (2003) na sua obra intitulada “A problemática da posse de terra na região agrária
de Chokwé (1954-1995) ”argumenta que os conflitos de terra podem ser agudos, generalizados e
notórios se: (i) organismo (ou organismos) que distribui terras não foi legítimo; (ii) forem usados
critérios parciais e discriminatórios, beneficiando ou prejudicando certas categorias de
produtores; (iii) não houver um espaço de contemplar, na distribuição, todos os grupos que
necessitam de terra; e (iv) quantidade da terra for menor que o número de indivíduos que
necessitam de terra, ou ainda se houver na zona muita terra não propícia ao desenvolvimento da
agricultura (qualidade das terras). Esta obra é de interesse neste trabalho na medida em que fala
da posse da terra e dos possíveis pressupostos ou fenómenos causadores dos conflitos de terra,
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ajudando dessa forma a entender as formas acesso e posse de terra em Marracuene, bairro
Cumbeza.
Manhicane (2007), no seu estudo intitulado “economia da Terra e redução da pobreza”,
procura destacar os principais aspectos que marcam o percurso socioeconómico que teve em
relação ao capital fundiário (Terra). Analisa também as simulações e projecções da interacção
entre cinco macro-variáveis definidas a luz da política de Lei de terras 19/97. Interessa neste
estudo analisar o valor de mercado da para diferentes fins, como habitação, investimentos.
Zandamela (2015), no seu trabalho intitulado “Análise das Causas dos Conflitos de Terra
nas Zonas de Tchumene I e II e a Intervenção do Conselho Municipal da Matola (2010-2014) ”,
analisa as causas que estão por detrás dos conflitos de terra nas zonas de Tchumene I e II e a
eficácia dos mecanismos levados a cabo pelo Conselho Municipal da Matola com vista a resolve-
los. Além da análise das causas e os mecanismos para resolução dos conflitos de terra, interessa
no estudo de Zandamela o processo evolutivo (fases) da posse de terra em Moçambique, que é o
fenómeno desenvolvido no segundo capítulo.
Mandamule (2016) no seu artigo “os conflitos sobre a ocupação da Terra em
Moçambique”, descreve de forma explicita os tipos de conflitos existentes em Moçambique,
onde concluiu que os conflitos extracomunitários são os mais comuns e preocupantes, pois
envolvem, actores com diferentes posições sociais e/ou económicas. Importa neste artigo a
análise dos tipos de conflitos existentes em Moçambique, servindo no concreto na questão das
invasões de propriedade perpetuadas pela comunidade nativa (grupos invisíveis) no bairro
Cumbeza.
Uate (2017) em seu trabalho “Mecanismos e Papel das Autoridades Comunitárias na
Resolução de Conflitos de Terra: Uma análise a partir do Bairro Mali, distrito de Marracuene”,
analisa como autoridades comunitárias contribuem na resolução dos conflitos. Ademais, os
conflitos estão relacionados com as formas de acesso à terra, que são mediados pelo dinheiro e
pelos efeitos da guerra civil. O trabalho de Uate é de estremo relevo para esta pesquisa na
medida que faz uma análise dos mecanismos e o papel das autoridades locais na resolução dos
conflitos de terra, em particular nuns dos bairros do distrito de Marracuene (Mali).
Os autores supracitados, bem como os que não foram citados como Magalhães (2014),
Furniel (2017) por exemplo, empreenderam estudos e análises com diversos objectivos,
analisaram factores determinantes dos conflitos de terras, tipos e suas causas. Nesse processo,
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analisaram o processo evolutivo do acesso e posse de terra em Moçambique. Ademais, uns citam
autoridades tradicionais, outras autoridades distritais para a resolução dos conflitos de terra.
Porém, não estudaram os mecanismos de mitigação dos conflitos entre empresas e membros das
comunidades, muito menos em Marracuene. É portanto, esta lacuna que o presente trabalho tem
a pretensão de preencher.
afrochineses ou sino-africanos etc, ocupavam as terras mais pobres e de difícil acesso, com
dimensões pequenas onde geralmente praticavam a agricultura familiar e de
sequeiro. Essa dicotomia é corolário de um longo processo de espoliação das melhores terras,
que reflecte a violência e o dualismo que caracterizou a situação colonial em África. Esse
dualismo esse, que colocou as diversas populações negras africanas numa posição de “resíduos
de homens”, ou ainda como representantes de uma forma “mórbida e degenerada do homem”,
“corpos obscuros, inferiores, bárbaros e selvagens” à espera do auxílio de “homens derradeiros”,
brancos europeus detentores da lei, do direito e da civilização (Eusébio, 2019, p. 157).
Assim, as diferenciações de regimes fundiários, a distribuição étnica e apropriação racial
da terra e dos recursos naturais constituíram as marcas características da organização de espaços
rurais dos países africanos no tempo colonial. Seguindo essa lógica, em vários países africanos se
observou a expropriação de terras mais favoráveis a agricultura para benefício dos brancos. Esse
facto pode ser comprovado com as palavras de Valdemir Zamparon citadas pelo Eusébio (2019,
p.157) ao dizer que “paulatinamente expulsando a população rural das áreas mais férteis e
superpopulando as áreas circundantes, práticas que, associadas as crises ecológicas
acabaram por contribuir para uma crescente desestruturação da produção camponesa e, por
acelerar a criação e expansão de uma força de trabalho para mercado”. Em 1901 houve uma
tentativa de organizar a legislação relativa à propriedade da terra em todo no então território
português do ultramar numa carta-lei, que declarava:
“nulos todos os contratos e acordos feitos com chefes “indígenas” (negros africanos) por
particulares sem conhecimento ou confirmação da autoridade administrativa [...]. Havia também
um capítulo dedicado a propriedade indígena, pelo que o estado reconhecia o direito indígena de
propriedade dos terrenos habitualmente cultivados ou ocupados como residência” (Albert Farre
apud Eusébio, 2019, 157).
Nesta carta, torna-se claro e evidente que o governo Português reconhecia o direito de
uso e aproveitamento de terra ao indígena através das normas e praticas consuetudinários,
confirmando assim o sistema dual de acesso de terra.
Para a atribuição do título de propriedade era imperioso a comprovação de 20 anos de
cultivo e residência. As imensas dificuldades técnicas de provar 20 anos de ocupação e cultivo
continuado, tornavam a obtenção de título de propriedade, uma pretensão impossível, ou seja, a
lei dissimulava uma preocupação com os indígenas, porém a cultura cartorial foi montada para
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seguir os interesses coloniais que passavam por criar condições de possibilidade de expropriação
das terras das populações negras africanas. Entretanto, a implantação da República Portuguesa
(revolução de 05 de Outubro de 1910) acabou com a ambiguidade em relação à condição do
indígena e seus direitos de propriedades (Eusébio, 2019, p.158). Em outro pronunciamento
Albert Farre apud Eusébio (2019, p.158) explica que:
“A terra era dada a possibilidade de ocupação somente dentro de territórios classificados como de
uso exclusivo das populações indígenas e em nenhum caso lhe poderiam ser conferidos direitos
individuais de propriedade da parcela da terra que ocupar. As relações entre indígenas passaram a
estar reguladas por um direito comunitário denominado pela administração portuguesa de “uso e
costume [...]. Ao contrário dos direitos de qualquer cidadão, que se sustentavam na igualdade
perante a lei, os direitos do indivíduo indígena derivavam sempre do seu enquadramento na
hierarquia do parentesco ou dos usos e costumes”
Como explica Alfredo (2009) apud Zandamela (2015, p.23), durante o período colonial
os direitos das populações eram legalmente reconhecidos pelo Governo Colonial Português, mas
de uma forma mais ou menos controlada, reflectindo os interesses da época A exclusão das
famílias rurais das melhores áreas de cultivo reflectia-se, contudo, no seu modo de vida. O
mesmo acontece no Moçambique actual, em que as melhores parcelas de terra são atribuídas as
elites empresariais e familiares (nepotismo), o que mostra em parte a fragilidade das instituições
que superintende à gestão de terra (SDPI).
A partir de 1920 além da expropriação das terras férteis e trabalho forçado, as populações
negras camponesas moçambicanas passaram a conviver com a imposição do cultivo de culturas
forçadas com destaque para a produção de algodão (Eusébio, 2019, p.158). O projecto de
colonatos priorizava a migração de populações camponesas portuguesas para as colónias. O
processo passava pela expulsão das famílias negras africanas que eventualmente ocupassem as
áreas para dar lugar à ocupação de famílias brancas portuguesas. Embora os colonatos não
tenham dado certo eles são o reflexo que justificava a expropriação das populações negras
camponesas das terras férteis no tempo colonial. Expropriação essa que tinha também a função
de criar condições para a constituição de força de trabalho para o trabalho forçado (Eusébio,
2019, p.159).
Segundo Negrão apud Vicente (2014, p. 293) a diminuição das áreas de cultivo pelas
famílias contribuía para o aumento da dependência do mercado de trabalho como forma de obter
rendimento em numerário indispensável para a sobrevivência e reprodução da família rural.
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Desta forma, ocorre uma dispersão das famílias rurais atraídas pela oferta de empregos e
obrigadas a vender a sua oferta de força de trabalho a unidades de agricultura empresarial. Essas
famílias foram obrigadas a instalar as suas residências e os seus campos de cultivo familiares no
espaço circundante das grandes unidades agrícolas, no entanto, segundo uma organização
territorial dispersa e irregular (Muanamoha, 1995 apud Vicente, 2014, p. 294-296).
Neste contexto, o período compreendido entre 1885 e 1930 foi considerado como o da
mudança de estruturação do espaço em Moçambique, dado que a emergência da economia
colonial durante esse período, permitiu a introdução da agricultura comercial no espaço rural,
ocasionando uma redistribuição da população (Muanamoha, 1995 apud Vicente, 2014, p.297).
As zonas urbanas e as zonas destinadas a ser trabalhadas por colonos europeus, os
regimes coloniais introduziram os tipos de direitos à terra que existiam na Europa: propriedade,
arrendamento, hipoteca, etc. Às vezes, o governo colonial atribuía aos colonos a propriedade
privada de terra mas, em vez disso, era frequente mantê-la como propriedade do Estado e dar aos
colonos apenas concessões ou arrendamentos a longo prazo. Foi este o caso de Moçambique
(Bruce, 1992 apud Zandamela, 2015, p.24). A visão colonial da posse de terra no período era
baseada em dois sistemas, nomeadamente consuetudinário e legal, o que se verifica no
Moçambique actual, em que a terra é propriedade do Estado, não pode ser vendida, hipotecada
ou alienada, porém, reconhece o direito de uso e aproveitamento de terra à todo cidadão
moçambicano. Obviamente, a situação da dualidade dos sistemas de posse de terra introduzida
no período colonial manteve-se até a proclamação da independência de Moçambique, em 1975.
nos 1960, os governos africanos tentaram fazer alterações básicas aos seus sistemas de posse de
terra. Os sistemas consuetudinários de posse de terra foram frequentemente considerados
demasiado “tradicionais” no Estado moderno para poderem fornecer uma base adequada para o
desenvolvimento agrícola (Brunce, 1992 apud Zandamela, 2015, p.24). A explicação para tal
atitude é a de que as novas elites governamentais (FRELIMO) não estavam inclinadas para estas
formas, porque constituíam uma importante base de poder das autoridades tradicionais, que
elas procuravam substituir. Por outro lado, havia também o desejo de ter um único sistema de
posse da terra, eliminando-se a dualidade que havia sido introduzida durante o período colonial
(Bruce 1992, Zandamela, 2015, p.25), como se pode verificar na Lei n.º 6/97 sobre a Lei terra de
3 Julho de 1979 que durante o processo de edificação da nova sociedade nas zonas libertadas,
tornou-se claro que a independência política não teria um sentido real para o Povo, não seria
uma verdadeira independência, se a terra continuasse nas mãos de um punhado de
latifundiários estrangeiros ou nacionais (…)”. É evidente neste trecho da lei de terra de 1979 a
tendência de nacionalização da terra, tirando-a das mãos privadas à uma gestão estatal, a
tendente às necessidades gerais.
os estrangeiros que mantiveram o seu domicílio no país, puderam continuar titulares dos
imóveis que habitavam.
Nem todos os prédios de rendimento reverteram a favor do Estado, aqueles que se
mantiveram ocupados pelos respectivos proprietários, continuaram sob a sua titularidade. Como
se pode verificar no n.º 2 do artigo 6 do Decreto-lei nº 5/76 de 5 de Fevereiro que todos os
edifícios que destinados à habitação ou outros fins, designadamente comércio, industria ou
agricultura, não sejam ocupados pelos proprietários ou usufrutuários. Também não reverteram
a favor do Estado os prédios de rendimento, ou parte deles, pertencentes a pessoas colectivas ou
sociedades estrangeiros tendo em consideração o seu objecto social e as suas necessidades (n.º 2
do artigo 6 do Decreto-lei nº 5/76 de 5 de Fevereiro).
A nacionalização não significou a redistribuição da terra, mas a transformação da
propriedade privada para estatal e a perda efectiva dos seus direitos costumeiros e históricos de
uma vez pela população rural (Tanner, 1993 apud Manhicane, 2014, p.53).
Negrão (1992) apud Zandamela (2015, p.25) defende que apesar da nacionalização, não
houve uma redistribuição de terras, mas apenas a transformação das propriedades agrícolas
privadas em Machambas Estatais. As famílias rurais continuaram a trabalhar as terras onde se
encontravam. Apesar de legalmente não se assumir, a posse de terra obedeceu o sistema de dupla
acesso, isto é, o sistema consuetudinário e legal em paralelo. Zandamela (2015, p.26) sustenta
este argumento citando o discurso de Samora Machel em 1975:
“Nas zonas libertadas, nós lutamos para libertar a terra, lutamos para libertar o povo
moçambicano, não faz sentido que a terra continue nas mãos de um pequeno grupo de pessoas.
Morreu-se a favor de um punhado de pessoas? Onde está a libertação da terra? Não faz sentido a
nossa independência enquanto a nossa terra continuar nas mãos de um punhado de gente. Significa
que não estamos independentes, que o povo ainda não está liberto. É o povo que trabalha a terra,
portanto, a terra pertence ao povo”.
O discurso de Machel reflecte o que até hoje acontece, em que o povo (nativo) é
instrumentalizado para aquisição da terra em troca de responsabilidade social de uma minoria
elitista. A terra é propriedade do Estado, mas em contrapartida, são os representantes do Estado
que a negoceiam em benefícios individuais. A terra pertence ao povo na letra, mas não no
espírito. Concordando com Mosca (2011) apud Bunguele (2015, p.92), os camponeses, apesar de
terem sido o principal suporte sociológico da luta de libertação, onde se revelaram como um
sector não conservador e muito menos individualista e reaccionário, o discurso pós
39
“…a marginalização dos camponeses, cognominados reaccionários, não era consensual na Frelimo
e Samora… Esta constatação alinha-se à tese samoriana de desenvolvimento descrita no início do
capítulo, favorável à elevação dos camponeses a produtores comerciais, mas como as aldeias e
outros projectos que entusiasmaram a ala populista de guerrilheiros, não receberam apoio do
plano, gerido pela ala crioula de marxistas ortodoxos”.
A transição socialista para capitalista é acompanhada por uma série de reformas que
Mosca (2011) apud Bunguele (2015, p. 102) chama de Pré-Pré é caracterizada por ocorrência de
guerras, instabilidade política e económica, a crise internacional (crise do petróleo e deterioração
dos termos de troca), grave fome, devido a queda sistemática da produção aliada à seca
prolongada (1982/3), a crise dos países socialistas, o avanço da guerra e negociações não oficiais
com a África do sul.
Ausência de título não prejudica o direito do uso e aproveitamento da terra adquirida por
ocupação nos termos das alíneas a) e b) do artigo 12. O processo de titulação do direito do uso e
aproveitamento da terra inclui o parecer das autoridades administrativas locais, precedido de
consulta às comunidades, para efeitos de confirmação de que a área está livre e não tem
ocupantes (n.º 2 do artigo 13 e n.º 2 do artigo 14 da Lei nº 19/97 de 1 de Outubro: aprova a Lei
de terras, BR: I Série, no. 40, de 7 de Outubro de 1997).
Comparado às primeiras políticas pós-independência, estas mudanças tinham como
objectivo reconhecer e assegurar direitos existentes e não abordar a equidade por mecanismos
redistributivos. A terra era e ainda é um recurso relativamente abundante e tornou-se importante
assegurar, se mantendo assim a posse de terra, enquanto se procurava novos investimentos para
tornar a terra mais produtiva. Após a aprovação da lei de terras, muitos estudiosos empenharam-
se na produção de várias brochuras e manuais explicando com detalhes os contornos da nova lei.
Apesar de não haver grandes divergências, importa analisar algumas das interpretações
efectuadas e sua implicações no acesso, segurança e posse de terra para os camponeses e
comunidades rurais (Magalhães, 2014, p.56).
Calengo (2005) apud Magalhães (2014, p.56) resume as formas de acesso a terra
legalmente reconhecida em duas. A aquisição do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra por
ocupação e por concessão do direito de uso e aproveitamento da terra por uma autoridade
competente do Estado. Considera ainda que a consagração destas duas vias na nova lei de terras
representa, finalmente, o reconhecimento de uma realidade social que com respeito a Terra,
sempre foi dominada por dois processos de acesso a Terra.
1
Chefe de Repatriação de Obras Publicas Infra-estrutura e Equipamento em representação do Serviço Distrital de
Planeamento e Infra-estruturas. Entrevista feita no dia 20 de Setembro de 2021 no SDPI pelas 12:24:02.
2
Um dos bairros da localidade de Matalane
44
Esta política de alocação de terras, de acesso e posse de terra legal, tem recebido várias
críticas pelos cidadãos de marracuene, tal como lamenta Joana Mabjaia3 de 36 anos dizendo que
a forma de atribuição de terrenos adaptada pelo Governo visa atribuir mais parcelas de terras as
suas famílias e seus amigos. Repudiando o sistema, deixou claro que os apurados são muito
poucos cidadãos nativos e jovens do distrito de Marracuene, entretanto, são apuradas pessoas
acima de 45 anos de idade, com muitas parcelas em outros lugares, e os jovens, não têm
privilégio. Esta atribuição é uma farsa, e beneficia seus conhecidos. Os critérios de selecção e
atribuição de terrenos não são justos. Já submetemos documentos mais três vezes, mas nenhum
de nós foi seleccionado, é por isso que as pessoas preferem comprar terrenos por aí, porque
estes do Estado, não ajudam em nada.
Para aquisição do DUAT, o requerente faz o pedido obedecendo os seguintes requisitos:
Requerimento ou formulário
Fotocópia do Bilhete de Identidade
Declaração do bairro;
Impostos Autárquicos e
Plano de exploração
Aníbal Bechel de 40 anos, explicou ainda que quando o cidadão tiver os requisitos
supracitados submete o processo do pedido do terreno ao SDPI. Por sua vez, o SDPI vai
cadastrar, formar e atribuir um número a esse processo. De seguida é solicitado o proprietário
desse processo, de seguida o Técnico do SDPI vai ao terreno, procede com o reconhecimento do
terreno e o processo é levado à Matola. Na Matola faz-se o cadastro do terreno, de seguida, o
processo regressa ao distrito de Marracuene para realização da consulta comunitária. Feita a
consulta comunitária, o processo é fixado no período de 30 a 45 dias para se averiguar a
existência ou não de alguém a reclamar do espaço, depois disso, o processo recebe o parecer do
administrador. Recebido o despacho e parecer do administrador, o processo é reenviando para
Geografia e Cadastro, por sua vez, a Geografia e Cadastro faz um parecer ao Governador da
província para emitir o DUAT. Por isso que esse processo acaba levando este tempo de 1 ano a 2
anos
3
Cidadã residente no distrito Marracuene, bairro Cumbeza, professora de profissão. Entrevista feita no dia 21 de
Setembro de 2021 na sua residência pelas 14:42:39.
45
4
Cidadão residente no distrito Marracuene, bairro de Cumbeza desde a sua nascença, Estudante. Entrevista feita no
dia 22 de Setembro de 2021 na sua residência pelas 12:01:23.
5
Cidadã residente no distrito de Marracuene, bairro de Cumbeza desde a sua nascença, Estudante. Entrevista feita
no dia 23 de Setembro de 2021 na sua residência pelas 14:12:47.
6
Entrevista feita no 21 de Setembro de 2021 com o Vice-secretário do bairro Cumbeza, no circulo de Cumbeza
pelas 11:52:12.
46
sobre a terra como propriedade do Estado, ela não pode ser vendida, hipotecada ou alienada, as
pessoas dizem que estão a vender uma casa ou estão a ceder aos seus amigos, e sendo assim, as
autoridades locais (secretariado doo bairro Cumbeza) não têm muito a fazer além de tratar a
declaração do pedido do DUAT.
Em seu torno, Zito Felisberto Nhatave de 42 anos 7, com uma visão mais crítica explicou
que o Estado reconhece além da aquisição de terra através do direito do uso e aproveitamento via
direito legal ou político, o direito consuetudinário. Sendo que o direito legal ou político é muito
burocrático, as pessoas optam pela aquisição da terra informalmente. As pessoas, como sabem
que a terra não pode ser vendida, hipotecada ou alienada, procuram estratégias para contornar
esse processo burocrático, procurando terrenos nos nativos. Os nativos, construem uma casinha
com materiais precárias, assim vão justificar que estão a vender benfeitoria e não a terra, depois
disso, lobola-se8 o espaço na presença dos líderes locais.
Reconhece-se o acesso de terra a nível local por meio de ocupação por boa fé e oferta,
como explicou dona Rosália Cuna de 75 anos 9 vinda de Chibuto que quando chegou em
Cumbeza, a zona era mata e estavam lá poucas famílias. Entretanto, o espaço em que se encontra
a residir pediu na época para pôr a cabeça e praticar agricultura, mas com o passar do tempo o
dono lhe atribui definitivamente o espaço por ser uma pessoa idónea.
Verificou-se também a aquisição por meio de compra, apesar da Lei de terra e a
Constituição da República repudiarem esta prática. Entretanto, a negociação é feita directamente
entre o proprietário e o comprador. Os critérios de venda são discutidos entre as partes
evolventes, havendo assim, uma espécie de troca, como explica Paulino Nhomone de 30 anos:
Adquiri o meu terreno na altura, a dois mil meticais, numa velhinha que possuía terrenos por
aqui. Esse valor era de agradecimento por ter cedido o terreno e para realizarem as cerimónias
de Kuphahla, informando aos antepassados sobre o novo proprietário do terreno. O
proprietário sugeriu que aumentasse quinhentos meticais para aumentar as dimensões do
espaço, mas achava o meu espaço muito grande.
7
Entrevista feita no dia 14 de Setembro de 2021 com Juiz de Direito B, no Tribunal Judicial de Marracuene pelas
12: 45:12.
8
É uma prática local que consiste no pagamento dum valor simbólico, bebida tradicional, galinhas, farinha, rapé para
“phalhar”- serve de linha intermédia de comunicação com os antepassados da existência de um novo proprietário o
espaço, para que o mesmo não tenha problemas no local (falta de sono...).
9
Cidadã residente no distrito de Marracuene, bairro de Cumbeza a mais de 35 anos. É uma camponesa. Entrevista
feita no dia 24 de Setembro de 2021 na sua residência pelas 13:54:22.
47
Esta prática de compra e venda de terra foi sustentada por Ana Nhabanga de 28 anos,
quando explicou que com a morte dos seus avós, os terrenos ficaram na gestão dos filhos, em
particular os filhos homens, seus tios. No princípio, vendiam terrenos a preços muito razoáveis e
simbólicos, cinco mil meticais há dez mil meticais, isso até por aí os anos 2010 a 2015, mas com
a procura desenfreada de terrenos para habitação e para negócios, os seus tios começaram a olhar
a venda de terrenos como um negócio. Agora não é qualquer um que pode comprar terreno aqui
porque os preços são “gordos”. As pessoas que querem terrenos negoceiam directamente com
eles, discutem os preços e entram em consenso.
Neste estudo foram consideradas duas categorias de acesso a terra, sendo a primeira
formal e a segunda informal. A segunda categoria de acesso a terra no distrito de Marracuene,
bairro de Cumbeza engloba as práticas e normas consuetudinárias, boa fé, oferta, venda e
compra, como mostra o gráfico resumo de acesso a terra em Marracuene, bairro Cumbeza
abaixo:
Gráfico 1: Formas de acesso à terra em Cumbeza
Acess
Formas de acesso à terra o
for-
mal
17%
Acesso Informal
83%
conclui-se que o acesso formal é menos usado, em relação ao informal, tendo o registo 16.7 %.
Em suma, a população desse distrito sente-se mais aconchegada ter acesso o a terra
informalmente, devido as nuances burocráticas e viciadas do acesso formal da terra.
49
Concordando com Bechel (40 anos), Zito Felisberto Nhatave (42 anos) explicou que o
caso milhulamete é cabeludo e a mídia está ser um instrumento da desinformação. Nesse caso
ainda não tem nenhuma sentença por isso legalmente não podia falar dele, mas que podia fazer
algum comentário como um cidadão simples e não Juiz. Explicou que aquele espaço pertence à
empresa Milhulamete, mas o que acontece é que há pessoas que têm interesses obscuros e olham
aquele espaço como oportunidade de negócio, aliciado à essa procura massiva de terrenos. Essas
pessoas que não se conhece ao certo a sua origem, invadem aquele recinto e fazem das suas.
Graças a desonestidade de algumas pessoas que não citaria nomes, esse fenómeno frequente.
Segundo a colocação do Zito Nhatave, percebe-se que as invasões à propriedade de Milhulamete
são seguradas por algumas entidades estatais ou empresarias mas que se camuflagem nos ditos
nativos.
Concordando com Nhatave e Bechel, Ernesto Jaime (44 anos) explicou que as pessoas
que invadiram mulhulamete, a antiga FAO, são pessoas de Agostinho Neto, Guava, Ricatla,
Mateque, e os de Cumbeza são poucas se existirem. Existem histórias que até agora não se
percebe o que está acontecer. Os invasores construíram suas residências até onde termina o
murro de novo cemitério até a torre de FIPAG. De outro lado, fazendo fronteira com Guava, são
limitados pela cova da areia vermelha. Esses têm um líder que fez o mapeamento da zona e fez
demarcações. Dizem que são nativos, mas não são, são malfeitores esses, e vêem de Mateque,
Agostinho Neto, Ricatla, Guava, Magoanine C…
Ernesto (44 anos) explicou ainda que nos anos 80, todos esses que se chamam de nativos
foram reassentados para dar espaço ao projecto FAO, uns para Agostinho Neto e outros para
Malhazine. Quando a FO2 caiu, apareceu a empresa Milhulamete. É nesta contexto que voltaram
e muitos deles eram trabalhadores da FAO. Foram reassentados de novo. Nos anos 2010
voltaram a ocupar mas nesse período as casas foram queimadas. No ano 2014, voltam a ocupar
aquela zona, construindo casinhas com material precário (caniço) que até hoje estão ali. Como
mostra a figura:
52
Os entrevistados concordam servindo de suporto um ao outro. Não foi diferente com Ana
Nhabanga de 28 anos ao explicar que as pessoas daquele bairro, venderam terrenos que nem lhes
pertenciam. Invadiram o espaço do Seminário, na escola de padres e tentaram vender uma parte
do instituto agrónomo, mas sem sucesso e depois atacaram a FAO (Milhulamete), por não terem
mais espaços pessoais para vender.
Segundo Ana Nhanga (28 anos), os invasores são protegidos pelas autoridades locais. O
falecido secretário (Carlos Zacarias Zavala) do bairro Ricatla estava envolvido nesse assunto,
mas com a morte deste, o seu tio ocupou o cargo, mas porque também pautava pelas mesmas
práticas, foi substituído. São várias pessoas que estão envolvidas na venda de terras de
Seminário, do instituto e da empresa milhuamete. Outros são donos de grandes barres com
dinheiro de terrenos de dono.
Paulino Nhomone de 30 anos, explicou que esse assunto de terrenos é como um filme, e
ele não entendia como as pessoas são enganadas e pagam por um espaço que é notável que tem
dono. Explicou ainda que as pessoas que compraram no FAO não são daquela zona, porque é
53
espaço da empresa Milhuamete e é notável porque as casas estão em volta dos eucaliptos e o
Governo sempre destrói as casas que lá constroem.
Dona Rosália Cuna de 75 anos critica a acção dos autores dessas invasões dizendo: meu
filho, o mundo está acabar, as pessoas não são mais as mesmas. Este espaço em que me
encontro, me cederam por ser boa pessoa, mas agora, hi, é complicado, há um grupo de pessoas
que vende terrenos de dono, agora estão atacar a empresa milhulamete. Naquele espaço nós
íamos tirar lenha, mas agora, por causa desses ladrões aqui, não nos deixam tirar mais lenha…
11% 11%
Conflitos intra-familiares
22% Invasões de propriedades
Conflitos entre compradores
Conflitos entre vendedores e
compradores
56%
Com o estudo feito revela que no bairro Cumbeza ocorrem com maior frequência os de
conflitos terra que tem como origem as invasões de propriedades numa percentagem de 55.6. A
seguir das invasões de propriedade, ocorrem os conflitos de terra entre os compradores com uma
percentagem 22.2. Por último, são classificados os conflitos entre vendedores e compradores e os
intra-familiares com uma percentagem de 11.1.
região para outra fez surgir um outro problema que ocorre principalmente no momento de
regresso e reassentamento da população deslocada, o que também provocou a eclosão dos
conflitos de terra (Alfredo, 2009 apud Zandamela, 2015, p.42). Esta causa não foi verificada no
bairro Cumbeza.
legais inerentes à aplicação da legislação sobre a terra, criam principalmente no seio dos
camponeses, a camada social desprovida de meios financeiros e de conhecimentos, condições
para que estas se sintam cada vez mais desmotivadas a legalizar a titulação das áreas ocupadas.
(Zandamela, 2015, p.44).
As instituições que superintendem a atribuição e titularização de terras demonstram
muitas fragilidades na gestão de terras a nível distrital, como explicou Zito Felisberto Nhatave,
42 anos10 que a principal causa dos conflitos de terra em Marracuene e em qualquer outro canto
do país é a desonestidade. Os líderes locais e os técnicos do SDPI não são honestos. As
declarações de confirmação de residência são assinadas pelas mesmas entidades, os líderes
locais, confirmando que a residência pertence ao “senhor X”. Em troca de algum valor, assinam
uma outra declaração confirmando a titularização da residência ao “senhor y”. O nível da
desonestidade resulta na dupla atribuição, em que se cede ou se vende o mesmo terreno a mais de
uma pessoa, apesar da Constituição da República, Política Nacional de Terras e Lei de Terras
assegurarem que a terra não se vende.
Neste caso, a titularização falha no cadastro da terra na administração por falta de
mecanismos de controlo. O chefe do quarteirão emite uma declaração que confirma que a
residência é do “senhor X”, e a localidade confiando nessa declaração do chefe do quarteirão não
faz a verificação, dá o Parecer passando assim para o posto administrativo, por sua vez, submete
ao SDPI. O SDPI indica técnicos para a consulta comunitária, mas estes nem chegam ao terreno
em troca de algum valor, dá-se o parecer, assina-se e manda-se para província, assim se emite o
DUAT. O “senhor Y” segue o mesmo processo, e emite DUAT do mesmo terreno e no final, os
dois passam a ter DUAT do mesmo lugar. Isso acontece devido a falta de honestidade dos
gestores de terra (Zito Nhatave de 42 anos).
Por outro lado, existem algumas irregularidades denunciadas pelos camponeses, como
por exemplo, procedimentos pouco claros em matéria de atribuição de terrenos, o que leva em
alguns casos a classificarem-se de corrupção (Zandamela, 2015, p.44), como explicou Pedro
Chilaule, 31 anos11: se a distribuição de terrenos fosse imparcial e justa, a maior parte dos
jovens deste distrito teria terreno para habitação no mínimo. Que distrito é esse que não ajuda
10
Entrevista feita no dia 14 de Setembro de 2021 com Juiz de Direito B, no Tribunal Judicial de Marracuene pelas
12: 45:12.
11
Cidadão residente no Distrito de Marracuene, bairro de Agostinho Neto desde a nascença. Entrevista feita no dia
27 de Setembro de 2021 na sua residência, pelas 12:03:51.
58
pelo menos os funcionários públicos a terem terrenos para erguerem uma casinha? Esses
pedidos de terrenos são uma fantochada, você deve molhar a mão das pessoas que trabalham no
SDPI, ou ser amigo ou familiar.
Segundo Valá (2003, p.5), os conflitos de terra podem ser agudos, generalizados e
notórios se:
i) O organismo (ou organismos) que distribui terras não foi legítimo;
ii) Forem usados critérios parciais e discriminatórios, beneficiando ou prejudicando
certas categorias de produtores;
iii) Não houver um espaço de contemplar, na distribuição, todos os grupos que
necessitam de terra; e
iv) A quantidade da terra for menor que o número de indivíduos que necessitam de
terra, ou ainda se houver na zona muita terra não propícia ao desenvolvimento da
agricultura (qualidade das terras).
Para Mandamule (2016, p.4), são as causas dos conflitos de terra as seguintes:
Crescimento demográfico;
Expansão das cidades e à procura de terra para habitação que a acompanham;
Questões culturais ligadas à herança e à tradição;
Fraco conhecimento da legislação de terras;
Deficiências na implementação da Lei de Terras e outros instrumentos legais.
Neste estudo foram consideradas cinco factores que causam os conflitos de terra em
Moçambique, mas só dois verificados no local. O primeiro factor geográfico, este condicionado
pela falta de espaço em diferentes cantos da província, principalmente pessoas vindas da cidade
de Maputo e Matola. O segundo, terceiro e quarto não foram observados no campo, apesar de
serem mencionados noutros bairros. O quinto factor, o institucional resume-se fraca capacidade
institucional na titularização da terra, que culmina na dupla atribuição da terra, como mostra o
gráfico resumo das causas dos conflitos de terra em Marracuene, bairro Cumbeza abaixo:
59
Causas de Causas de
origem insti- origem
tucional geográfica
50% 50%
3.1.1. Arbitragem
A palavra “arbitragem” tem origem do latim “arbiter”, e é recorrente sua utilização na
linguagem jurídica para significar procedimento na solução de litígios. Tem como definição o
instituto pelo qual as partes confiam em árbitros para solucionarem seus litígios. Portanto, a
arbitragem é uma solução alternativa de conflitos mais simples e objectiva, por vezes acordados
entre as partes e outra imposta obrigatoriamente pela lei, visa uma resolução das controvérsias
mais célere e eficaz do que o processo judicial, e tem como requisitos a escolha de um árbitro
pelas partes, sem interferência do Estado, sendo que sua sentença assumiria a mesma eficácia de
uma sentença judicial (Furniel, 2017, p.3).
3.1.2. Mediação
A mediação, além de integrar parte do processo também pode ser definida como uma arte
e técnica de resolução de conflitos intermediária, consequentemente, tal instituto é um método de
pacificação social, em que pode ser utilizado nas relações humanas que estão em conflitos, no
qual actuam um terceiro mediador, um agente público ou privado (Furniel, 2017, p.3).
3.1.3. Conciliação
A Conciliação é um processo técnico em que terceiro imparcial actua de forma a auxiliar
as partes a encontrar soluções que atendem seus interesses, dessa forma extinguindo o conflito
que ali existia (Furniel, 2017, p.4).
61
Continuou a explicar Bechel (40 anos) que a resolução dos conflitos de terra, o caso
milhulamete por exemplo, o tribunal é que era o responsável pela sua resolução, recorrendo a Lei
de terra, Constituição da República e outros instrumentos legais. Esses, são os instrumentos que
mais usam para resolução dos conflitos desse género.
Como se pode observar, o SDPI na qualidade de ser a instituição mãe da gestão de terra
em Marracuene, actua como instrumento de mitigação dos conflitos de terra localmente,
difundindo os instrumentos legais às autoridades locais e sensibilizando à população a não pautar
em formas consideradas informais na aquisição da terra, de modo que evite os conflitos de terra
futuramente. O SDPI apesar de não intervir directamente na arbitragem dos conflitos de terra
(com os conflituantes), exerce um papel muito importante na elaboração e execução de políticas
de alocação da terra, evitando por exemplo a dupla atribuição.
4. CONCLUSÃO
acesso à terra. O trabalho do mediador é de lembrar às partes sobre as leis pertinentes, ajudar as
partes a se comunicarem, encontrando num consenso e identificar soluções desejadas.
As autoridades locais, o SDPI e o Tribunal Judicial de Marracuene são enunciados por
Geoge Semmil e Ralp Dahrendorf como terceiro elemento “mediador - neutro”, para auxiliar na
mitigação de conflitos, baseado no modelo teórico de negociação distributiva ganha-perde
associado à perspectiva determinista estrutural-interaccionista resultado da simbiótica da
perspectiva sociativa de Semmil, Dahrendorf e Uate e determinista de Durkheim, Max e Comte.
Esta perspectiva vê o conflito em estudo como um fenómeno negativo, retardando o
desenvolvimento e criando anarquia na ordem social.
Este estudo constitui um “rito de iniciação”. O caso Milhulamete constitui um
“paradoxo”, isto é, um labirinto que carece de mais investigação. As estruturas que superintende
à área da gestão de terra, parecem ter “uma mão invisível” como mediadores ou facilitadores
nesse processo. Contudo, será que a “população nativa” está reivindicando o direito de uso e
aproveitamento de Terra ou é uma manifestação camuflada sobre o desvio na implementação do
projecto de reflorescimento do cinturão verde para dar lugar à minas de extracção de areia ilegal?
A sua manifestação é legítima?
67
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CIBELE, Cheron et alli. Ética, Alteridade e Autonomia: um referencial de Manejo dos conflitos
em prol da emancipação dos indivíduos. Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle
Social: Brasil, 2019.
CORVO, J. Estados e Autoridades Tradicionais em Moçambique nos contextos pré-colonial e
colonial: para uma visão crítica global. Maputo, 1884
EUSÉBIO, Albino José. Os direitos sobre os territórios: ‘comunidades locais’ e os projectos de
desenvolvimento em Moçambique. Revista da Associação Brasileira de Estudos Africanos,
v.03, Outubro de 2019
FURNIEL, Kairon Bruno. Arbitragem, mediação e conciliação: métodos alternativos de solução
de conflitos.ISSN-2675-0104 -v.2, n.2, dez. 2017.
JEREISSATI, Lucas Campos. Lei de Terras: do contexto histórico às consequências. Revista
Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina: Brasil, 2020.
LUDERMIR, R ; ALVARADO M, L. Conflitos por terra urbana na América Latina e Caribe.
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de
Pernambuco, Brasil, 2017
LUNDIN, Iraê Baptista. Metodologia de Pesquisa em Ciências Sociais. Escolar Editora: Maputo,
Moçambique, 2016.
MAGALHÃES, Félix Augusto. Delimitação de Terras Comunitárias (DTC). Sua contribuição
na segurança de posse de Terras e no rendimento agrícola “por capita” das famílias rurais
em Nicoadala – Zambézia, Maputo, 2014.
MANDAMULE, Uacitissa António. Os conflitos sobre a ocupação da Terra em Moçambique.
In: Observatório do Meio Rural (OMR): Maputo, Moçambique, 2016.
MANHICANE, Tomas Jr. Economia da terra e Redução da pobreza. In: Desafios para a
Investigação social e económica em Moçambique, IESE: Maputo, 2007.
68
6. APÊNDICES E ANEXOS
5 Anos
P1 A quanto tempo mora no bairro? 5 – 10 Anos
Mais de 10 anos
Desde o tempo colonial vivo aqui
Casa dos meus pais
P2 Como obteve este terreno onde vive? Herança
Comprei
Outros
Especifique:
Não
P3 Você tem algum documento de propriedade do Sim
terreno onde mora? Não sei
Especifique:
Habitação
P4 Como tem gerenciado a terra? Prática da agricultura
Prática das actividades económicas
Conservação das espécies florestais
Especifique:
Sim
P5 Tem havido conflitos de terras neste bairro? Não
Não sei
Especifique:
Especifique:
Intrafamiliar
Intracomunitário
P7 Que tipos de conflitos de terra ocorrem neste Intercomunitário
bairro?
Extracomunitários
Invasões comunitárias
Outros
Especifique:
R8:
P8 Quem são os autores desses conflitos
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5 anos
P1 A quanto tempo trabalha nesta instituição? 5 – 10 Anos
Mais de 10 anos
Existe uma política distrital de alocação de Sim
P2 terras? Não
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Especifique:
Não
P4 O distrito tem recebido pedidos de terra/
terreno? Sim
Habitação
P5 Os pedidos de terra/terreno, são destinados Prática da agricultura
para fins? Prática das actividades económicas
Conservação das espécies florestais
Especifique:
Sim
P6 O distrito tem vivenciado situações de Não
conflitos de terras? Não sei
Especifique:
Intrafamiliar
Intracomunitário
P8 Que tipos de conflitos de terra ocorrem Intercomunitário
com frequência? Extracomunitários
Invasões comunitárias
Outros
Especifique:
Guião de entrevistas
I. Dados pessoais:
Nome:
Sexo:
Idade: