Você está na página 1de 17

Renascimento: Características e

Contexto Histórico
Juliana Bezerra
Professora de História

O Renascimento foi um movimento cultural, econômico e político, surgido na Itália no


século XIV e se estendeu até o século XVII por toda a Europa.
Inspirado nos valores da Antiguidade Clássica e gerado pelas modificações
econômicas, o Renascimento reformulou a vida medieval, e deu início à Idade
Moderna.

Origem do Renascimento
O termo Renascimento foi criado no séc. XVI para descrever o movimento artístico que
surgiu um século antes. Posteriormente acabou designando as mudanças econômicas
e políticas do período também e é muito contestado hoje em dia.

Afinal, as cidades nunca desapareceram totalmente e os povos não deixaram de


comercializar entre si, nem de usar moeda. Houve, sim, uma diminuição dessas
atividades durante a Idade Média.

Observamos, porém, que na Península Itálica várias cidades como Veneza, Gênova,
Florença, Roma, dentre outras, se beneficiaram do comércio com o Oriente.

Estas regiões se enriqueceram com o desenvolvimento do comércio no Mar


Mediterrâneo dando origem a uma rica burguesia mercantil. A fim de se afirmarem
socialmente, estes comerciantes patrocinavam artistas e escritores, que inauguraram
uma nova forma de fazer arte.

A Igreja e nobreza também foram mecenas de artistas como Michelangelo, Domenico


Ghirlandaio, Pietro della Francesa, entre muitos outros.

Cultura renascentista
Destacamos cinco características marcantes da cultura renascentista:

 Racionalismo - a razão era o único caminho para se chegar ao conhecimento, e que


tudo podia ser explicado pela razão e pela ciência.
 Cientificismo - para eles, todo conhecimento deveria ser demonstrado através da
experiência científica.
 Individualismo – o ser humano buscava afirmar a sua própria personalidade, mostrar
seus talentos, atingir a fama e satisfazer suas ambições, através da concepção de que
o direito individual estava acima do direito coletivo.
 Antropocentrismo - colocando o homem como a suprema criação de Deus e como
centro do universo.
 Classicismo – os artistas buscam sua inspiração na Antiguidade Clássica greco-
romana para fazer suas obras.
O Humanismo renascentista
O humanismo foi um movimento de glorificação do homem e da natureza humana, que
surgiu na nas cidades da Península Itálica em meados do século XIV.

O homem, a obra mais perfeita do Criador, era capaz de compreender, modificar e até
dominar a natureza. Por isso, os humanistas buscavam interpretar o cristianismo,
utilizando escritos de autores da Antiguidade, como Platão.

A religião não perdeu importância, mas foi questionada e daí surgiram novas correntes
cristãs como o protestantismo.

O estudo dos textos antigos, igualmente, despertou o gosto pela pesquisa histórica e
pelo conhecimento das línguas clássicas como o latim e o grego.

Desta forma, o humanismo se tornou referência para muitos pensadores nos séculos
seguintes, como os filósofos iluministas do século XVII.

Renascimento literário
O Renascimento deu origem a grandes gênios da literatura, entre eles:

 Dante Alighieri: escritor italiano autor do grande poema "Divina Comédia".


 Maquiavel: autor de "O Príncipe", obra precursora da ciência política onde o autor dá
conselhos aos governadores da época.
 Shakespeare: considerado um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. Abordou
em sua obra os conflitos humanos nas mais diversas dimensões: pessoais, sociais,
políticas. Escreveu comédias e tragédias, como "Romeu e Julieta", "Macbeth", "A
Megera Domada", "Otelo" e várias outras.
 Miguel de Cervantes: autor espanhol da obra "Dom Quixote", uma crítica contundente
da cavalaria medieval.
 Luís de Camões: teve destaque na literatura renascentista em Portugal, sendo autor
do grande poema épico "Os Lusíadas".
Renascimento artístico
Os principais artistas do renascimento foram:

Leonardo da Vinci: Matemático, físico, anatomista, inventor, arquiteto, escultor e pintor,


ele foi o esteriótipo do homem renascentista que domina várias ciências. Por isso, é
considerado um gênio absoluto. A Mona Lisa e A Última Ceia são suas obras primas.
Mona Lisa
Rafael Sanzio: foi um mestre da pintura e famoso por saber transmitir sentimentos
delicados através de suas imagens de Nossa Senhora. Uma de suas obras mais
perfeitas é a Madona do Prado.

Michelangelo: artista italiano cuja obra foi marcada pelo humanismo. Além de pintor foi
um dos maiores escultores do Renascimento. Entre suas obras destacam-se
a Pietá, David, A Criação de Adão e O Juízo Final. Também foi o responsável por
pintar o teto da Capela Sistina.

Saiba mais sobre os Artistas do Renascimento

Renascimento científico
O Renascimento foi marcado por importantes descobertas científicas, notadamente nos
campos da astronomia, da física, da medicina, da matemática e da geografia.

O polonês Nicolau Copérnico, que negou a teoria geocêntrica defendida pela Igreja, ao


afirmar que "a Terra não é o centro do universo, mas simplesmente um planeta que
gira em torno do Sol".

Galileu Galilei descobriu os anéis de Saturno, as manchas solares, os satélites de


Júpiter. Perseguido e ameaçado pela Igreja, Galileu foi obrigado a negar publicamente
suas ideias e descobertas.

Na medicina os conhecimentos avançaram com trabalhos e experiências sobre


circulação sanguínea, métodos de cauterização e princípios gerais de anatomia.

Renascimento comercial
Todas essas inovações só foram possíveis graças ao crescimento comercial que houve
na Idade Média.

Quando as colheitas eram boas e sobravam alimentos estes eram vendidos em feiras
itinerantes. Com o incremento comercial, os vendedores passaram a se fixar em
determinados locais que ficou conhecido como burgo. Assim, quem morava no burgo
foi chamado de burguês.

Nas feiras era mais fácil usar moedas do que o sistema de trocas. No entanto, como
cada feudo tinha sua própria moeda ficava difícil saber qual seria o valor correto. Dessa
forma, surgiram pessoas especializadas na troca de moeda (câmbio), outras em fazer
empréstimos e garantir pagamentos e que é a origem dos bancos.

O dinheiro, então, passou a ser mais valorizado do que a terra e isso inaugurou uma
nova forma de pensar e se relacionar em sociedade onde tudo seria medido pela
quantidade de dinheiro que custava.
RTIGOS

Muito além da Revolução


os aspectos políticos e sociais da maior revolução da idade
moderna

Francisco Renato Silva Collyer


Publicado em 08/2014. Elaborado em 07/2014.
 2 Curtidas

 TEORIA DO DIREITO
 DIREITO DO TRABALHO
 TEORIA DO ESTADO
 MODELOS DE ESTADO

Página 1 de 2»
O presente estudo pretende analisar o cenário sócio-político da Revolução Industrial
bem como suas implicações para a sociedade pós-moderna.
Resumo: Antes de representar uma mudança no processo de produção de mercadorias e,
posteriormente, na industrialização deste processo, a Revolução Industrial trouxe uma
verdadeira mudança nas relações sociais e no modo de se viver na Europa Ocidental a partir
do século XVIII. O trabalho, antes feito de modo artesanal, praticamente familiar, em que o
patrão mais se assemelhava a um pai do que propriamente um patrão, ganhou ares totalmente
adversos. Agora, a jornada de trabalho se fixava no tempo e o relógio passou a ser utilizado de
forma quase que escravista. As antigas corporações de ofício perderam a vez para as grandes
fábricas e os trabalhadores, que antes tinham a noção de todo o processo de produção e que,
até certo ponto, tinham um modo de produção bastante flexível, passaram a ficar alienados e
escravos da produtividade. Se antes os indivíduos trabalhavam de acordo com sua
disponibilidade, com a Revolução Industrial a vida social ficaria em segundo plano, e a vida
laboral dava lugar a uma grande massa de trabalhadores cada vez mais dependentes dos
capitalistas, os donos dos meios de produção. O presente estudo analisa o contexto histórico-
social da Revolução Industrial e os impactos que ela trouxe para a vida da coletividade da
época. A História é a ciência do presente, pois parte da análise e da compreensão do passado
para que possamos entender melhor nosso agora e, a partir disso, construir um futuro melhor.
Palavras-chave: Revolução Industrial, Política, Sociedade, Luta de Classes

INTRODUÇÃO
Entre meados do século XVIII e a segunda metade do século XIX, a Europa
Ocidental passou por um processo de grandes transformações econômicas,
tecnológicas e, principalmente, sociais. Iniciadas na Inglaterra, essas transformações
assumiram um caráter revolucionário, embora tenham ocorrido sem derramamento de
sangue e sem a derrubada de governos.

O conjunto dessas mudanças ficou conhecido como Revolução Industrial e seu


impacto foi tão grande na Europa e no mundo que transfigurou não somente a
sociedade inglesa, mas também a face do planeta, alterando até mesmo as relações
entre o ser humano e a natureza.

Do ponto de vista econômico, a Revolução foi, sobretudo, a passagem de um


sistema de produção marcadamente agrário e artesanal para outro de cunho industrial,
dominado pela fábrica e pela maquinaria. Uma de suas características básicas foram
as sucessivas inovações tecnológicas verificadas nesse período, dentre elas, o
aparecimento de máquinas modernas rápidas, regulares e precisas, que substituíram o
trabalho de milhares de homens e mulheres, antes realizado à mão; utilização do vapor
como fonte de energia para acionar as máquinas, em substituição à energia hidráulica,
eólica, humana e animal; novas formas de se utilizar as matérias-primas de origem
mineral, que deram impulso à metalurgia e à indústria química.

Essas inovações tiveram lugar inicialmente na Inglaterra, devido a uma série de


condições favoráveis ligadas ao processo do feudalismo ocorrido na Europa Medieval.
Foi durante a fase do capitalismo mercantil, nos séculos XV ao XVIII, que tais
condições se concentraram e aceleraram, com a Revolução Comercial, a conquista da
América, a formação de um mercado mundial e a exploração de ouro e prata em
grande quantidade nas terras americanas.

Esse novo cenário permitiu à burguesia acumular riquezas e aplicá-las na


produção manufatureira. Ao mesmo tempo, ocorreu na Inglaterra o processo de
cercamentos, levando à liberação de mão-de-obra de origem rural e sua concentração
nas cidades cada vez em crescimento. Isso faria surgir a maior parte da classe
trabalhadora fabril, fundamental para a formação do chamado capitalismo industrial.
Reunindo os capitais proporcionados pela expansão comercial dos séculos anteriores,
a burguesia pôde mobilizar a mão-de-obra disponível para lançar-se ao
empreendimento industrial de grande escala a partir do século XVIII.

Uma das características da Revolução Industrial foi a substituição em grande


escala do trabalho humano pelas máquinas. Como reação a isso e às relações sociais
baseadas exclusivamente no dinheiro, surgiu na Europa o Romantismo, um movimento
estético que propunha a liberdade de expressão, o predomínio da emoção sobre a
razão e o retorno a formas comunitárias de vida, semelhante às da aldeia medieval. Em
pouco tempo, a nova tendência empolgou artistas e escritores. Alguns deles
idealizavam a Idade Média e a monarquia, contrapondo-as à sociedade burguesa e à
República. Outros se tornaram críticos ferozes do capitalismo e das desigualdades
sociais.

O CONTEXTO HISTÓRICO DA REVOLUÇÃO


O desenvolvimento agrícola ocorrido a partir do século XVI, com os
cercamentos dos campos deu a esse setor da economia inglesa características
diferentes do sistema até então em vigor, que era baseado na produção autossuficiente
e de baixo nível técnico nas pequenas propriedades independentes de cultivo familiar.

Os cercamentos, na maioria dos casos, eram destinados para criação de


ovelhas para a obtenção de lã, que, por sua vez, era utilizada como matéria-prima na
manufatura dos tecidos. O surgimento desse processo levou à diminuição das áreas
cultivadas para dar mais espaço às pastagens. A partir de 1688, após a Revolução
Gloriosa, os cercamentos foram legalizados pelo Parlamento, o que deu ainda mais
força aos senhores de terras.

Enquanto isso, nas áreas cultivadas, os grandes proprietários começaram a


investir em métodos novos e mais eficazeis de plantio. A partir daí foram pouco a
pouco introduzindo algumas melhorias técnicas, que levariam à substituição do
trabalho braçal pela energia mecânica, empregando as máquinas no processo.

Com esse processo, os trabalhadores rurais foram duplamente pressionados a


abandonar os campos. Sem ter para onde ir, esses homens e suas famílias migraram
em massa para áreas urbanas. Uma vez nas cidades, ficavam à disposição de
empresários capitalistas, sujeitando-se a baixos salários e a condições sub-humanas
de vida.

Ao mesmo tempo, a pecuária também se desenvolveu, pois o cultivo de


forrageiras evitou que, por falta de áreas de pastagens, grande parte do rebanho fosse
abatida durante o inverno. Isso garantiu a melhora qualitativa da alimentação da
população em geral, possibilitando o crescimento demográfico pela queda da tava de
mortalidade.

Dessa forma, a agricultura estava em condições de cumprir duas funções


fundamentais para a industrialização: aumentar a produção e a produtividade para
baratear o preço dos alimentos, suprindo a crescente demanda das áreas urbanas e
fornecer mão-de-obra abundante e barata para o trabalho industrial.
Nos primeiros anos da Era Moderna as atividades agrícolas eram
complementadas pela produção doméstica de tecidos de lã por meio de uma longa
cadeia de operações. A lã era escolhida, depois limpa e, por último, fiava-se. Essas
tarefas, muitas vezes, eram feitas por mulheres e crianças. Os demais serviços, como
penteação, tecelagem, tingimento, pisoagem, estiragem, desbaste e corte eram tarefas
destinadas aos homens.

O negócio de tecidos de lã era bastante lucrativo para os comerciantes. Em


pouco tempo, eles passaram a investir parte de seus lucros nos equipamentos e
instalações, passando a concentrar os principais processos de produção.

Além de estimular a produção de mercadorias, o capital mercantil acumulado


durante a etapa do capitalismo comercial acelerou o processo de divisão social do
trabalho, gerando maior especialização. Assim, a partir de certo momento, cada
trabalhador passou a realizar apenas uma etapa na elaboração do produto. Essa
especialização levou à ampliação do sistema produtivo.

O desenvolvimento do setor têxtil acelerou-se após o surgimento da indústria


do algodão, que suplantou em importância a manufatura de lá durante a Revolução
Industrial. De fato, depois dos Atos de Navegação de 1651, o comércio ganhou
impulso, enquanto o mercado se expandia com a conquista, pela Inglaterra, de novas
áreas coloniais. Uma dessas áreas era a Índia, região produtora de algodão e
altamente consumidora dos tecidos fabricados com essa matéria-prima.

Em decorrência disso, os empresários do setor têxtil começaram a investir mais


na indústria algodoeira do que na produção de tecidos de lá. Mais leves e mais baratos,
os panos de algodão tinham ampla aceitação nas regiões de clima tropical e eram
utilizados como parte do pagamento na compra de escravos africanos.

Para aumentar a produção, os fabricantes passaram a estimular o


desenvolvimento tecnológico, utilizando máquinas cada vez mais rápidas e complexas.
Isso acabou por transformar a estrutura da indústria. Não apenas a indústria têxtil, mas
também a de máquinas e equipamentos.

Além da indústria têxtil. Dois outros setores da economia se destacaram no


processo da Revolução Industrial na Inglaterra: o da extração de minerais, como ferro e
carvão e o da fundição de ferro.

No início do século XVIII, surgiu a primeira tentativa vitoriosa de obter ferro


fundido em grande escala, com a utilização do carvão-de-pedra, riqueza natural do solo
inglês. Em 1783, a invenção da pudlagem e da laminação possibilitou a fabricação de
ferro quase sem impurezas. Até essa data, o metal era fabricado com o uso de carvão
vegetal e as máquinas ainda eram quase todas de madeira.

A obtenção de ferro com grau mínimo de impurezas foi um dos pré-requisitos


para a expansão da metalurgia. Obtido por pudlagem, o metal foi pouco a pouco
aperfeiçoado, até se chegar ao aço em uma etapa posterior. No curso desse processo,
ele passou a ser utilizado de forma crescente na construção de pontes e na fabricação
dos mais diferentes objetos, o que contribuiu para a melhoria das estradas e dos meios
de transporte.

CONDIÇÕES POLÍTICAS DA REVOLUÇÃO


No início do século XVIII, a Inglaterra possuía certa estabilidade política e havia
se tornado Reino Unido da Grã-Bretanha, com a incorporação da Escócia, no ano de
1707. Nesse período, o governo inglês reforçou suas ligações com as colônias
americanas, o que garantiu a obtenção de matérias-primas e a exportação de produtos
manufaturados, segundo o princípio de comprar barato e vender caro. Ao mesmo
tempo, as guerras contra a França possibilitaram a expansão do império britânico e dos
mercados ultramarinos na Índia e no Canadá.

A existência de interesses comuns entre a nobreza rural e os empresários do


comércio e da indústria representou uma das condições para essa política. Essa união
de interesses foi favorecida pela monarquia parlamentar, que estabilizou a moeda,
protegeu as indústrias da concorrência estrangeira e estabeleceu medias especiais
para desenvolver a navegação e o comércio ultramarino, bem como a indústria têxtil.

A burguesia, classe dominante no Parlamento, órgão responsável pelas


questões tributárias, além de todos os benefícios que já tinha, não era cobrada por
impostos muito pesados. Em função dessa cobrança bastante branda, teve condições
de acumular capitais mais rapidamente, permitindo-lhe investir de forma maciça em
inovações técnicas, possibilitando a eclosão da Revolução Industrial.

A SUBSTITUIÇÃO DO HOMEM PELA MÁQUINA E A


DIVISÃO DO TRABALHO
A introdução de máquinas do processo produtivo foi responsável pelo
aprimoramento técnico dos demais equipamentos. Como exemplo, podemos citar a
invenção da lançadeira volante, em 1733, ao qual sua implantação na indústria têxtil
aumentou a capacidade de tecelagem, levando ao desenvolvimento da máquinas que
aceleraram a produção de um maior número de fios.

Com essas inovações, a ferramenta e a própria energia humana foram


substituídas pela máquina e a energia mecânica. Assim, a partir de melhorias
sucessivas na etapa de fiação, que culminaram na obtenção de grande número de fios
finos e resistentes, foi necessário um novo estímulo na etapa de tecelagem, levando à
invenção do tear mecânico.

Para agilizar o processo e baratear os custos de produção, os empresários


começaram a concentrar os equipamentos e as atividades especializadas, como o
tingimento e a tecelagem em unidades fabris, onde podiam racionalizar a produção.

Na oficina artesanal, o trabalhador se encarregava de todas as etapas da


produção. Com o surgimento da fábrica, a produção tornou-se cada vez mais
parcelada, passando cada trabalhador a realizar apenas uma parte do processo. O
patrão e seus representantes mais próximos articulavam racionalmente a produção,
visando a uma maior produção, com custos mais baixos. Dessa forma, assumiram o
controle sobre o processo de trabalho e eliminaram os antigos núcleos domésticos de
produção.

Com o tempo, as inovações tecnológicas da industria têxtil, especialmente do


algodão, e das indústrias siderúrgicas possibilitaram melhorias nos transportes e nas
comunicações, fatores importantes para a integração dos mercados.

A REVOLUÇÃO SOCIAL
Uma das consequências da Revolução Industrial foi a integração, em escala
internacional, dos vários factores de produção, ou seja, capital, matérias-primas,
recursos naturais e mão-de-obra. Essa integração favoreceu a expansão do mercado
mundial, pela crescente necessidade de escoamento dos excedentes da produção e de
acesso a fontes de matérias-primas. Surgiu, assim, uma nova articulação econômica
entre os países industrializados e as regiões menos desenvolvidas do planeta,
conhecida como divisão internacional do trabalho.

De acordo com essa divisão, as colônias tenderam a se concentrar na


exploração de seus recursos naturais, especializando-se no cultivo e extração de
produtos primários. Dessa forma, elas foram integradas ao sistema capitalista de um
modo peculiar. Sem condições para industrializar-se no mesmo ritmo dos países mais
desenvolvidos, fixaram-se como produtoras de matérias-primas e mercados
consumidores de produtos manufaturados.

Ao mesmo tempo, nos países engajados na revolução, o capital se concentrava


cada vez mais nas mãos da minoria burguesa, enquanto cresciam a miséria e a
pobreza entre os trabalhadores. Destituídos dos meios de produção, estes últimos
sobreviviam apenas com a venda de sua força de trabalho, sujeitando-se a salários
degradantes, a condições de vida sub-humanas e às severas normas de disciplina
impostas pelos contramestres nas fábricas.
Entretanto, os trabalhadores não se contentaram em assistir passivamente à
degradação de suas condições de vida e de trabalho. Na Inglaterra, essa situação
provocou inúmeras manifestações de revolta entre a classe trabalhadora, como a
quebra de máquinas e a depredação de instalações industriais pelo movimento ludita.

Entre os anos de 1811 a 1813, o movimento ludita responsabilizava as


máquinas pelas condições de miserabilidade e desemprego dos trabalhadores. Em
função disso, semeavam o terror nos distritos industriais do centro da Inglaterra,
destruindo máquinas indepdentemente do lugar onde estivessem. Os luditas foram
ferozmente reprimidos pelo governo, com julgamentos sumários que terminaram em
enforcamentos e deportações.

A Revolução Industrial permitiu que o capitalismo, com base na transformação


técnica, atingisse seu processo específico de produção, caracterizado pela produção
em larga escala, realizada nas fábricas. Nesse modo de produção, consolidado com a
revolução industrial, há uma radical separação entre o trabalho e o capital. O
trabalhador dispõe apenas da força de trabalho, enquanto o capitalista detém
a propriedade dos meios de produção.

A MORAL DA BURGUESIA
A moral da classe burguesa, no que diz respeito à sexualidade, nos séculos
XVIII e XIX, apresentou um comportamento duplo, bem próximo ao que ainda pode ser
percebido em algumas sociedades atualmente, é dizer, as mulheres solteiras tinham
que permanecer sob o manto da castidade e as casadas, fiéis aos seus maridos. Em
contrapartida, para os jovens burgueses solteiros era permitido ter muitas mulheres e o
adultério era tolerável para os casados. Entretanto nada poderia colocar em risco a
estabilidade da família ou da propriedade burguesa.

 Durante o século XIX, a classe média, que era constituída pelos profissionais
liberais, homens de negócios e funcionários públicos, cresceu e prosperou. A classe
burguesa se abriu para aqueles que possuíam escolaridade e talento para os negócios.
Suas casas não eram somente o lugar que abrigava o núcleo familiar; eram também “o
repouso do guerreiro” e o local de onde o empreendedor operava, sob o olhar de
admiração da mulher e dos filhos, embevecidos pela sua capacidade de produzir
riquezas e conforto.

Para a massa expropriada os bairros pobres, desprovidos de saneamento


básico, iluminação e outros serviços públicos era o que lhes restava. Esse contexto de
miserabilidade contribuiu para o surgimento de críticas à condição degradante do
trabalhador e de movimentos operários de intensidades diferentes.
O TRABALHO NA ERA INDUSTRIAL
A industrialização na Inglaterra foi muito mais do que o fruto de uma revolução
técnica e científica. Ela representou uma mudança social profunda na medida em que
transformou a vida dos indivíduos, implicando elevados custos sociais e, até mesmo,
ambientais.

Uma das transformações sociais mais notáveis se refere ao próprio significado


da palavra trabalho. O que antes significava o castigo divino pelo pecado original de
Adão e Eva, apregoada pela Igreja Católica Medieval, implicando dor e humilhação,
passou a designar uma condição básica para a salvação diante de Deus, que poderia
propiciar riqueza e dignidade. O trabalho passou a dignificar o homem e a qualificá-lo,
tornando-se um indicador de posição social.

Outro ponto que merece destaque é o controle técnico do processo de


produção, que passou a se concentrar nas mãos do capitalista, no momento em que se
instituiu a divisão do trabalho. O resultado foi uma verdadeira alienação do trabalhador
em relação ao seu trabalho, cada vez mais afastado do produto final do seu esforço.
Ou seja, o trabalhador perdeu totalmente a visão do processo de produção como um
todo, tendo conhecimento apenas do seu serviço individualizado.

A revolução também deu origem a uma espécie de “robotização do


trabalhador”. O operário passou a servir a uma máquina, se transformando num
operário que desempenhava atividades cotidianas totalmente cansativas. Também se
transformou num trabalhador mais vulnerável a acidentes de trabalho devido à própria
condição de suas atividades.

Para baratear os custos da produção, os industriais passaram a buscar o


trabalho feminino e infantil. A industrialização rapidamente passou a englobar todos
membros da família, submetendo-os ao poder do empresário capitalista. Certas
funções femininas, como as tarefas domésticas, o aleitamento e a educação das
crianças, foram quase totalmente suprimidas, causando um considerável descontrole
familiar. Sem contar que os salários das mulheres e das crianças eram bem menores
do que os dos homens.

A cidade também mudou de fisionomia, em virtude da concentração de grandes


multidões nas áreas fabris. Até o início da industrialização, eram centros comerciais de
dimensões relativamente reduzidas, voltadas para a administração, o comércio e todo
tipo de prestação de serviços. Nelas viviam funcionários públicos, artesãos,
mercadores e etc.

A indústria modificou os núcleos urbanos, em que pobres habitavam bairros


populosos com péssimas condições de habitação. A burguesia morava nos bulevares,
alamedas largas, com suas suntuosas e caras habitações, porém funcionais, na
medida em que o mundo burguês procurava basear-se na praticidade e na beleza.
S

Muito além da Revolução


os aspectos políticos e sociais da maior revolução da idade
moderna

Francisco Renato Silva Collyer


Publicado em 08/2014. Elaborado em 07/2014.
 2 Curtidas

 TEORIA DO DIREITO
 DIREITO DO TRABALHO
 TEORIA DO ESTADO
 MODELOS DE ESTADO

«Página 2 de 2

A PROPAGAÇÃO DA REVOLUÇÃO
De 1760 a 1830, a Revolução se limitou praticamente somente à Inglaterra. Era
proibido exportar máquinas e técnicas de produção industrial. Mas não foi possível
conter por muito tempo os interesses dos fabricantes de equipamentos industriais,
desejosos em exportas as máquinas para terem ainda mais lucro.

No ano de 1807, dois ingleses criaram uma fábrica de tecidos em Liège, na


Bélgica. Seu desenvolvimento foi bastante rápido, facilitado pela existência de carvão e
de ferro nessa região. A França que estivera mergulhada na Revolução Francesa
desde 1789, em função disso, teve seu desenvolvimento retardado. Mais tarde, sua
tradição de pequena indústria e de produção de artigos de luxo dificultou a
concentração industrial e a acumulação de capitais que permitissem a continuidade do
desenvolvimento.

Na Alemanha, o progresso veio apenas depois da unificação política, em 1870.


O progresso foi devido à existência de ferro e cartão no país. No final do século XIX, a
Alemanha superava a Inglaterra no tocante à produção de aço de produtos químicos.
Nesta mesma época se dava a industrialização na Rússia, em virtude de investimento
de capitais estrangeiros, principalmente franceses.

Na América, os Estados Unidos foram o único país que passaram pela


Revolução Industrial, no final do século XIX. Nesse período, os americanos já eram
grandes produtores de artigos manufaturados, superando até mesmo a pioneira
Inglaterra e a Rússia.

Concentrou-se no Japão a principal industrialização da Ásia, que num certo


período de tempo conseguiu implantar a revolução graças à exploração do baixo custo
dos salários e das medidas governamentais. Após a Revolução Meiji, em 1868, surgiu
um programa sistemático de industrialização do país, visando tornar o Japão uma
grande potência pela assimilação da técnica ocidental.

Como um todo, a Revolução Industrial deu condições para uma revolução


também nos transportes que, por sua vez, acentuaram ainda mais o processo de
industrialismo. Depois do surgimento da locomotiva a vapor, no ano de 1830, as
estradas de ferro se multiplicavam. As primeiras foram construídas nos Estados
Unidos, Inglaterra, Alemanha e Bélgica. Na França a primeira estrada de ferro foi
construída em 1831, mas somente após 1870 elas foram expandidas.

O comércio internacional fez surgir uma especialização mundial da produção,


em que os países mais avançados se especializaram na produção industrial e os mais
atrasados da Europa, América e Ásia concentraram seus esforços no setor primário,
fornecendo alimentos e matérias-primas para os países industrializados. A Europa
passou a ser o centro do capital, exigindo novos setores para investimentos, em que
foram canalizados para diversos países estrangeiros sob a forma de empréstimos, e
utilizados na implantação de vias férreas ou outros empreendimentos semelhantes.

Um outro importante fenômeno que surgiu com a Revolução foi o


desenvolvimento do imperialismo, em que o processo de industrialização criou para os
países capitalistas uma série de problemas cuja solução dependia da manutenção do
ritmo de desenvolvimento industrial.

As potências capitalistas necessitavam de mercados externos que servissem


de escoadouro para seu excedente de mercadorias. Precisavam também de minérios e
matérias-primas que, muitas vezes, não existiam em seu próprio território e que eram
extremamente necessários para produção de artigos industriais, além de mão-de-obra
barata e de áreas favoráveis ao investimento seguro e lucrativo de seus capitais.

Tais necessidades fizeram com que os países capitalistas desenvolvessem, na


segunda metade do século XIX, uma política de expansão externa que ficou conhecida
como imperialismo. A expansão imperialista atingiu, principalmente, a Ásia, África e
América Latina. Esses continentes foram divididos em colônias ou áreas de influência
das grandes potências industriais. Na passagem do século XIX para o XX a expansão
do imperialismo provocou uma série de rivalidades entre as grandes potências pela
divisão do mercado mundial, que desencadearam, em 1914, a I Guerra Mundial.

A expansão tecnológica não teve fim com a Revolução Industrial. Ao contrário,


na sociedade capitalista atual, ela ainda é vista como um dos fatores que dividem o
mundo entre os países chamados “desenvolvidos” e os “subdesenvolvidos”.

Se, por um lado, o desenvolvimento tecnológico trouxe inovações importantes


para a sociedade como os avanços na medicina, nas telecomunicações, nos
transportes e na produção de bens de consumo, por outro trouxe também o chamado
“desemprego estrutural”. Milhares de trabalhadores, no mundo inteiro, estão sendo
substituídos por máquinas ou por operários multifuncionais – isto é, por aqueles que
desempenham múltiplas funções no sistema produtivo. Mais uma vez, grupos sociais
inteiros vão sendo historicamente colocados à margem dos benefícios gerados pelo
desenvolvimento econômico.

A REVOLUÇÃO URBANA
A Europa ocidental já possuía uma antiga, porém, significativa, rede urbana,
mas boa parte das cidades ainda estava limitada por suas muralhas medievais. Com o
aumento da população e a expansão das indústrias, essa cidades cresceram e já na
metade do século XIX algumas se tornaram verdadeiras metrópoles, como Londres e
Paris.

Sem nenhum planejamento e organização, essas cidades ofereciam duras


condições de vida às pessoas por elas atraídas, geralmente originárias do campo. Sem
infra-estrutura de saneamento básico e higiene, tornavam-se também focos de
doenças e epidemias.

Nas cidades, o modo das pessoas verem o mundo, a natureza e os seres


humanos começou a mudar também. Lentamente, o distanciamento da natureza foi se
concretizando. O tempo diário passou a ser medido pelo relógio, que regrava o tempo
do trabalho e da vida. As atividades comerciais e culturais e as comodidades urbanas
se multiplicaram; o acúmulo de conhecimento e a rapidez das informações tendiam a
se concentrar nas cidades; estas começaram a mudar cada vez mais rápido.

A vida social fora das fábricas era difícil. Nos bairros populares dos centros
urbanos em crescimento, o preço da moradia era alto, não havia saneamento básico
nem higiene, muito menos lazer. Em condição social diferente, a burguesia, formada
pelos proprietários das fábricas, dos estabelecimentos comerciais e financeiros,
também ampliou sua presença na sociedade, ocupando lentamente o lugar político e
econômico da antiga nobreza.
A REVOLUÇÃO E AS NOVAS IDEOLOGIAS
O rápido processo de industrialização gerou uma grande repercussão em
vários aspectos da vida social, fazendo gerar um vívido debate sobre a Revolução
Industrial e suas consequências para a sociedade. No centro desse debate, estavam
trabalhadores e empresários, que tinham interesses totalmente divergentes. Os
operários estavam desejosos por condições dignas de trabalho, enquanto do lado
oposto a burguesia desejavam somente aumentar seus lucros e fazer crescer ainda
mais seus negócios.

A crescente polêmica deste conflito de interesses contribuiu para a elaboração


de várias teorias sociais. Algumas dessas teorias justificavam os novos rumos da nova
e crescente sociedade industrial capitalista, outras, que se identificavam com os
anseios dos operários, denunciavam a exploração do trabalho e pregavam uma
sociedade menos injusta e mais livre.

A situação de extrema exploração na qual se encontravam os trabalhadores,


além de resultar no nascimento do movimento operário, fez surgirem teorias que
condenavam o sistema capitalista e as desigualdades sociais trazidas por ele e
propunham novas formas de organização da sociedade. O conjunto dessas teorias
ficou conhecido como socialismo.

Entre os criadores das primeiras correntes socialistas modernas, destacaram-


se os teóricos franceses conde de Saint-Simon e Pierre-Joseph Proudhon e o britânico
Robert Owen.

Saint-Simon criticou o liberalismo econômico e a desumana exploração dos


trabalhadores pelos proprietários dos meios de produção. Defendia a extinção das
diferenças de classe e a construção de uma sociedade em que cada um ganhasse de
acordo com o real valor de seu trabalho. Proudhon afirmava que a propriedade privada
era um roubo. Pregava a igualdade e a liberdade para todos os indivíduos, que
passariam a viver numa sociedade harmônica, sem a força do Estado. Owen
acreditava na organização da sociedade em comunidades cooperativas compostas de
operários, em que cada um receberia de acordo com as suas horas de trabalho.

Já os pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels desenvolveram


posteriormente a corrente socialista do socialismo científico, também conhecida como
marxismo. De acordo com essa concepção, depois de tomar o poder, a classe operária
deveria por um fim na propriedade privada dos meios de produção e de troca e criar
uma sociedade baseada na associação autônoma dos trabalhadores e em formas
coletivas de propriedade. Essa doutrina atribuía ao proletariado a missão histórica de
destruir o capitalismo e conduzir a humanidade para uma sociedade igualitária.
REFERÊNCIAS
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral: Volume 2 – 1ª edição – São
Paulo, Saraiva, 2010.

KARNAL, Leandro. Estados Unidos: da Colônia à Independência. São Paulo,


Contexto, 1999.

JAGUARIBE, Hélio. Um Estudo Crítico da História – São Paulo, Paz e Terra,


2001.

HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.

THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras,


1998.

PETTA, Nicolina Luiza de. e OJEDA, Eduardo Aparício Baez. História, uma


abordagem integrada. São Paulo: Moderna, 2002.

ARRUDA, José Jobson de A. e PILETTI, Nelson. Toda a História. 4 ed. São


Paulo: Ática, 2000.

DA MATTA, Roberto. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia. Petrópolis:


Vozes, 1997.

CARDOSO, Ruth. A Aventura Antropológica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

DIVALTE, Garcia Figueira. História (volume único). São Paulo: Ática, 2006.

Você também pode gostar