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Foi assim que no século XV na Europa assiste-se a primeira expansão europeia, dinamizada
pela Espanha e Portugal, com maior procura de metais preciosos para acumulação primitiva
do capital, como foi o caso do ouro e da prata. Ainda foi na época do renascimento que a
Europa ficou dividida em Europa católica e Europa reformista. Verifica-se a passagem de
uma historiografia palaciana para uma historiografia antropocêntrica.
Causas do renascimento
O Renascimento, como movimento cultural que rompeu com os padrões medievais, deveu-
se ao conjunto de transformações vividas pela Europa Ocidental durante a Baixa Idade
Média. Tais transformações afetaram com maior ou menor intensidade as várias regiões da
Europa, concentrando-se, sobretudo, na Itália. Dessa forma, a Itália, especialmente algumas
de suas cidades, emerge como centro irradiador da cultura renascentista que atinge todo o
continente europeu. Entre os fatores que favoreceram a ocorrência do Renascimento
destacamos:
Quando se estuda a transição da Idade Média, especificamente a Baixa Idade Média, para a
Idade Moderna, percebe-se que ainda vigora em muitos livros didáticos de história, revistas
e blogs de educação uma certa perspectiva reducionista que compreende o Renascimento
Cultural dos séculos XIV, XV e XVI como um fenômeno de ruptura radical e definitiva
com a Idade Média. Essa visão supõe ser a Idade Média um período decadente e obscuro
que nada ofereceu de significativo ao universo cultural que sobreveio com o
Renascimento.
Mas muito pelo contrário, no período compreendido como Renascimento confluíram vários
elementos da cultura cristã florescida na Idade Média, como elementos da cultura clássica
(greco-latina), que passou a ter uma dimensão maior na Europa Ocidental, sobretudo em
regiões de intenso comércio marítimo, como a Itália (ao sul) e a Holanda e os Países Baixos
(ao norte), que também tiveram um intenso desenvolvimento urbano ainda no período
medieval.
Para o historiador Thomas Woods, o Renascimento, mais do que uma ruptura total com o
passado medieval, pode ser considerado o auge da Idade Média. Diz ele que “os medievais,
tal como uma das figuras exponenciais do Renascimento, tinham um profundo respeito pela
herança da antiguidade clássica, ainda que não a aceitassem de modo tão acrítico como o
fizeram alguns humanistas: e é na Idade Média que encontramos as origens das técnicas
artísticas que viriam a ser aperfeiçoadas no período seguinte.” (WOODS, Thomas. Como a
Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008. p. 119)
A confluência entre a cultura clássica e a cultura cristã viu-se expressa na obra de vários
autores do Renascimento, desde artistas como Michelângelo e Leonardo da Vinci até
escritores como Erasmo de Rotterdan, Nicolau de Cusa e Thomas Morus. Uma
característica que se tornou, sim, uma identidade renascentista no âmbito dos estudos
intelectuais foi a redescoberta dos textos clássicos originais, sobretudo os gregos. Filósofos
como Aristóteles e Platão eram lidos na Idade Média por meio de traduções latinas com
pouca precisão. Eruditos do Renascimento, como Leonardo Bruni – tradutor da Política e
da Ética a Nicômaco, de Aristóteles –, foram responsáveis por esse resgate das fontes
primárias dos textos gregos e pela feitura de traduções criteriosas e comentadas.
Além disso, outras características também contribuíram para compor uma identidade
própria ao Renascimento. A concepção antropocêntrica do mundo, que aos poucos se
impôs, divergiu da perspectiva teocêntrica medieval, ainda que vários elementos doutrinais
tenham sido preservados. O humanismo, isto é, a valorização das potencialidades humanas,
da faculdade racional, da capacidade de criação artística, de observação, registro e cálculo
dos fenômenos naturais e de organização política, também contribuiu para definir essa
época que antecedeu o século XVII – século da Revolução Científica operada por Galileu
Galilei. As grandes navegações e a descoberta do “novo mundo” (o continente americano)
e das civilizações e culturas que nele se desenvolveram também foram decisivas para
configurar o Renascimento como uma época de experiências novas e enriquecimento
cultural. Somou-se a isso a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, que também passou a
ajustar-se ao antropocentrismo e à capacidade do homem de descobrir os mistérios da
“harmonia do mundo”, isto é, os mistérios cosmológicos.
No mais, foi no início do século XVI, já no auge do Renascimento, que ocorreram dois
acontecimentos decisivos no âmbito intelectual, religioso, moral e político da Europa:
invenção da imprensa, por Joannes Gutenberg, e a Reforma Protestante, desencadeada por
Martinho Lutero. Esses dois acontecimentos combinados mudaram, aos poucos, a relação
dos homens com o conhecimento intelectual antes restrito ao domínio da língua latina.
Matinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, enquanto a invenção de Gutenberg
facilitou a reprodução e a leitura de livros (como a Bíblia) pelo público leigo
A historiografia racionalista
Tendo como fundo o iluminismo, desenvolveu-se a partir do século XVII uma História
racionalista.
A nível metodológico, a História do século XVIII evoluiu rumo ä critica minuciosa para o
apuramento da autenticidade, veracidade e exactidão das fontes. A curiosidade e a dúvida
passavam então a ser os maiores impulsionadores da busca do conhecimento histórico.
Pretendia-se uma narrativa histórica racional e objectiva, que recusasse o secundário e o
supérfluo.
A evolução da historiografia
A evolução dos séculos XV e XVI favoreceu o surgimento de um pensamento humanista,
que defendendo o livre arbítrio, o valor da experiência e o desejo de glória individual,
conduziu à História humanista, reduzindo o papel de Deus. O Homem ir-se-ia, assim,
sentindo cada vez mais o construtor e responsável do processo histórico.
Nesta altura, escrever História já não era trabalho dos monges, mas sim dos poetas,
literatos, diplomatas, que abordavam criticamente o passado nacional ou urbano.
A temática histórica alargou-se, embora os aspectos políticos continuassem com maior
expressão.
Para além de mudar o objecto, os humanistas substituíram a crónica medieval pelos anais,
destacando-se a biografia como principal forma de exposição histórica.
Nessa época ocorreram eventos de grande repercussão: a renovação da Vida urbana, apos
um longo período de Vida rural, girando em torno dos castelos e mosteiros; o movimento
das Cruzadas, a restauração do comércio, a emergência de um novo grupo social (os
burgueses) e, sobretudo, o renascimento cultural com um forte matiz cientifico-filosófico,
que preparou o caminho para o renascimento italiano, eminentemente literário e artístico.
A nível metodológico, a Historia renascentista deu inicio à ordenação metódica das fontes,
graças a Flávio Biondo (1392-1463) que começou a reunir e a comparar as fontes com
algum sentido critico, a Calchi, pioneiro no uso de documentos e inscrições, a Lorenzo
Valla (1407-1457), o primeiro a defender a critica filológica das fontes, e a Vincenzo
Giustiniani (1516 -1582) que introduziu a critica histórica objectiva submetendo todos os
dados da tradição à critica da sua possibilidade de aplicação prática.
Nicolau Maqiavel
Nas suas obras Discorsi sopra la prima deca de Tito Lívio e II Príncipe Maquiavel adopta já
uma atitude científica, procurando explicar os fenómenos sociais que descrevem pela
intervenção de factores naturais como o clima, a natureza humana, etc.
Jean Bodin (1530-1569): defendeu que a História deve ser uma espécie de tábua da verdade
e dos acontecimentos; e que quem a ela se dedica não deve começar pela História de Deus,
mas pela dos Homens. Defendia, igualmente, a influência do clima sobre a natureza física e
psíquica dos Homens.
Fernão Lopes (1380-1459): escreveu A crónica de D. João I, na qual está patente a defesa
da independência do historiador perante as autoridades e o sentido da sua responsabilidade
perante o povo. Segundo Fernão Lopes, o motor da História é a sociedade no seu conjunto
ou, mais propriamente, o povo.
Nalguns casos, principalmente quando os reis tratavam a nação com equidistância entre os
burgueses e a nobreza, o historiador, reflectindo em certa medida a ideologia oficial,
esforçava-se por analisar os problemas e os homens com isenção e objectividade.
Portanto, uma das maiores conquistas da História do século XV foi a formulação da regra
de ouro da História, a de que aquele que escreve História de acontecimentos deve conhecer
e encadear os factos, as datas, os projectos e os resultados.
Conclusão
Chegado este ponto terminamos com o trabalho acima supracitado que esteve abordar
temas relacionados com historiografia do renascimento
Bibliografia
SUMBANE, Salvador Agostinho. H11 - História 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores,
Maputo, 2017.