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Historiografia do Renascimento

Renascimento: foi um movimento intelectual e de renovação cultural que surgiu na Itália


nos séculos XIV-XV, com uma nova visão do Homem e do Mundo. Este período prolonga-
se até ao século XVIII. É uma época relacionada com o turbulento florescimento da arte e
da ciência, com o despertar do interesse pela cultura da antiguidade clássica Greco-romana,
em que o homem era o centro de reflexão do mundo.

Contexto histórico do renascimento


Este período é considerado período de estagnação económica, científica e cultural, não só
para a Europa, como também para o resto do mundo, pelo menos aquelas regiões que
estavam em contacto com a Europa. O que acontece é que tanto a destituição de um sistema
que tende a extinguir-se como a estruturação de um sistema que tende a subsistir o anterior
são fenómenos lentos e irregulares.

Na Europa, é um período de transição do antigo regime, do feudalismo, ao capitalismo. O


feudalismo e o capitalismo coexistiram como formas de oposição entre as classes que
defendiam as estruturas feudais e com eles de identificavam e as classes que de
posicionavam de forma idêntica perante as estruturas capitalistas.

Na área política assiste-se ao desmoronamento do absolutismo. Na economia há uma


crescente procura de metais preciosos (ouro e prata) termómetros que definiam o poderio
de um estado, que veio a dar origem a primeira expansão europeia. No aspecto social e
científico, desenvolve-se a imprensa com o alemão Gutemberg bem como a estimulação do
desenvolvimento da cultura pelos mecenas. No campo religioso temos a reforma e contra-
reforma.

Enquanto a Historiografia Cristã Medieval era essencialmente uma historiografia


teocêntrica, isto é, uma historiografia em que Deus figurava como o centro do processo
histórico, a Historiografia do renascimento irá deslocar esse centro para o homem.

Foi assim que no século XV na Europa assiste-se a primeira expansão europeia, dinamizada
pela Espanha e Portugal, com maior procura de metais preciosos para acumulação primitiva
do capital, como foi o caso do ouro e da prata. Ainda foi na época do renascimento que a
Europa ficou dividida em Europa católica e Europa reformista. Verifica-se a passagem de
uma historiografia palaciana para uma historiografia antropocêntrica.

Características da Historiografia renascentista


A mentalidade dominante é vincadamente humanista e individualista, racional e crítica,
enciclopedista e prática. Exalta-se o livre árbitro, o valor da experiência, o desejo da glória
individual, foi um fenómeno tipicamente urbano que atingiu a elite economicamente
dominante;

 Alarga-se a temática da história;


 Houve maior defesa dos valores clássicos;
 O valor da História traduz-se no papel educativo

Causas do renascimento
O Renascimento, como movimento cultural que rompeu com os padrões medievais, deveu-
se ao conjunto de transformações vividas pela Europa Ocidental durante a Baixa Idade
Média. Tais transformações afetaram com maior ou menor intensidade as várias regiões da
Europa, concentrando-se, sobretudo, na Itália. Dessa forma, a Itália, especialmente algumas
de suas cidades, emerge como centro irradiador da cultura renascentista que atinge todo o
continente europeu. Entre os fatores que favoreceram a ocorrência do Renascimento
destacamos:

 A Revolução Comercial: a reabertura do Mediterrâneo ao comércio oriental, a


partir do movimento cruzadista, propiciou a intensificação das relações mercantis na
Europa, gerando enorme prosperidade económica. Muitos burgueses, enriquecidos
com a actividade comercial, mas segregados socialmente, buscavam prestígio
patrocinando artistas e intelectuais que produzissem uma cultura comprometida com
os novos valores da burguesia: eram os mecenas. O restabelecimento de contatos
com o Oriente (Bizâncio, sobretudo) favoreceu ainda o afluxo de artistas e
intelectuais para a Europa que conservavam parte da cultura clássica greco-latina,
fonte de inspiração renascentista, como veremos;
 O renascimento urbano: o desenvolvimento das actividades mercantis promoveu o
crescimento das cidades, que se converteram em pólos produtores e irradiadores da
nova cultura renascentista. Nas cidades, surgiram academias de artes e ciências e
universidades, em sua maioria, dedicadas a reflectir sobre novas concepções
estéticas e éticas, rompendo com a visão medieval de mundo e propondo uma
mentalidade mais especulativa e crítica;

 A invenção da imprensa: graças a esse invento, os novos valores podiam ser


divulgados de maneira mais rápida, a um maior número de indivíduos que no
passado. Certamente, era ainda bastante reduzido o número daqueles que tinham
acesso à cultura, mas, comparada à Época Medieval, a cultura renascentista era
muito mais acessível.

Surgimento da Historiografiado Renascimento


O renascimento compreendeu um período de retomada de elementos da cultura clássica e
sua confluência com a cultura cristã herdada da Idade Média.

Quando se estuda a transição da Idade Média, especificamente a Baixa Idade Média, para a
Idade Moderna, percebe-se que ainda vigora em muitos livros didáticos de história, revistas
e blogs de educação uma certa perspectiva reducionista que compreende o Renascimento
Cultural dos séculos XIV, XV e XVI como um fenômeno de ruptura radical e definitiva
com a Idade Média. Essa visão supõe ser a Idade Média um período decadente e obscuro
que nada ofereceu de significativo ao universo cultural que sobreveio com o
Renascimento.

Mas muito pelo contrário, no período compreendido como Renascimento confluíram vários
elementos da cultura cristã florescida na Idade Média, como elementos da cultura clássica
(greco-latina), que passou a ter uma dimensão maior na Europa Ocidental, sobretudo em
regiões de intenso comércio marítimo, como a Itália (ao sul) e a Holanda e os Países Baixos
(ao norte), que também tiveram um intenso desenvolvimento urbano ainda no período
medieval.

Para o historiador Thomas Woods, o Renascimento, mais do que uma ruptura total com o
passado medieval, pode ser considerado o auge da Idade Média. Diz ele que “os medievais,
tal como uma das figuras exponenciais do Renascimento, tinham um profundo respeito pela
herança da antiguidade clássica, ainda que não a aceitassem de modo tão acrítico como o
fizeram alguns humanistas: e é na Idade Média que encontramos as origens das técnicas
artísticas que viriam a ser aperfeiçoadas no período seguinte.” (WOODS, Thomas. Como a
Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008. p. 119)

A confluência entre a cultura clássica e a cultura cristã viu-se expressa na obra de vários
autores do Renascimento, desde artistas como Michelângelo e Leonardo da Vinci até
escritores como Erasmo de Rotterdan, Nicolau de Cusa e Thomas Morus. Uma
característica que se tornou, sim, uma identidade renascentista no âmbito dos estudos
intelectuais foi a redescoberta dos textos clássicos originais, sobretudo os gregos. Filósofos
como Aristóteles e Platão eram lidos na Idade Média por meio de traduções latinas com
pouca precisão. Eruditos do Renascimento, como Leonardo Bruni – tradutor da Política e
da Ética a Nicômaco, de Aristóteles –, foram responsáveis por esse resgate das fontes
primárias dos textos gregos e pela feitura de traduções criteriosas e comentadas.

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Além disso, outras características também contribuíram para compor uma identidade
própria ao Renascimento. A concepção antropocêntrica do mundo, que aos poucos se
impôs, divergiu da perspectiva teocêntrica medieval, ainda que vários elementos doutrinais
tenham sido preservados. O humanismo, isto é, a valorização das potencialidades humanas,
da faculdade racional, da capacidade de criação artística, de observação, registro e cálculo
dos fenômenos naturais e de organização política, também contribuiu para definir essa
época que antecedeu o século XVII – século da Revolução Científica operada por Galileu
Galilei. As grandes navegações e a descoberta do “novo mundo” (o continente americano)
e das civilizações e culturas que nele se desenvolveram também foram decisivas para
configurar o Renascimento como uma época de experiências novas e enriquecimento
cultural. Somou-se a isso a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, que também passou a
ajustar-se ao antropocentrismo e à capacidade do homem de descobrir os mistérios da
“harmonia do mundo”, isto é, os mistérios cosmológicos.

No mais, foi no início do século XVI, já no auge do Renascimento, que ocorreram dois
acontecimentos decisivos no âmbito intelectual, religioso, moral e político da Europa:
invenção da imprensa, por Joannes Gutenberg, e a Reforma Protestante, desencadeada por
Martinho Lutero. Esses dois acontecimentos combinados mudaram, aos poucos, a relação
dos homens com o conhecimento intelectual antes restrito ao domínio da língua latina.
Matinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, enquanto a invenção de Gutenberg
facilitou a reprodução e a leitura de livros (como a Bíblia) pelo público leigo

A historiografia racionalista
Tendo como fundo o iluminismo, desenvolveu-se a partir do século XVII uma História
racionalista.

A História deixava de interpretar os fenómenos históricos apenas no seu aspecto


dogmático, admitindo a intervenção do Homem no processo histórico, embora continuasse
a defender a origem divina do poder. Por seu turno, os burgueses tentavam fazer uma
História dirigida contra a igreja e que defendesse a origem popular do poder.

No campo metodológico iniciou-se um tratamento mais cuidado e profundo das ciências


auxiliares, nomeadamente a diplomática e a paleografia. Com os franceses, a construção
histórica começaria com a investigação dos factos, sua classificação por épocas e temas, a
critica filológica e a organização em repertórios ou dicionários.

Já no século XVIII a temática histórica alargou-se, passando a abarcar as grandes linhas de


evolução da sociedade (política, económica, cultural, etc.), com o surgimento de uma
História da civilização material. A História deixava de ser limitada ao campo político-
militar.

A nível metodológico, a História do século XVIII evoluiu rumo ä critica minuciosa para o
apuramento da autenticidade, veracidade e exactidão das fontes. A curiosidade e a dúvida
passavam então a ser os maiores impulsionadores da busca do conhecimento histórico.
Pretendia-se uma narrativa histórica racional e objectiva, que recusasse o secundário e o
supérfluo.

A função da História também se alterou deixando a História de servir as pessoas


(importantes/poderosas) individualmente para passar a servir a burguesia, como classe, e os
seus ideais sociais e políticos.
Representantes da História racionalista
Charles-Louis de Secondat (conhecido por Montesquieu) (1689-1755): preocupou-se
com o estudo da Filosofia política que tentou explicar com base num determinismo
científico, prestando particular atenção as grandes correntes sociais. Uma das suas obras
mais importantes, O Espírito das Leis constituiu um grandioso contributo para o
desenvolvimento da ciência jurídica.

François-Marie Arouet (conhecido por Voltaire) (1694-1778): inaugurou uma História


verdadeiramente humana, debruçando-se sobre política, economia, finanças, religião,
aspectos demográficos, etc. Não obstante a sua narrativa, nem sempre é isenta, incluindo,
por vezes, aspectos secundários, mais pitorescos do que úteis. Por outro lado, tem uma
filosofia histórica determinista e pessimista.

M. J. Antoine Nicolas de Caritat (conhecido por Condorcet) (1743-1794): defendeu


uma História global e cosmopolita. Ele foi, com A.R. Jaques Turgot, um dos precursores do
Positivismo.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): é contra os valores tradicionais católico-feudais e


favorável à valorização da sensibilidade e da personalidade livre e natural do Homem,
contribuindo, assim, para uma compreensão profunda da realidade histórica.

A evolução da historiografia
A evolução dos séculos XV e XVI favoreceu o surgimento de um pensamento humanista,
que defendendo o livre arbítrio, o valor da experiência e o desejo de glória individual,
conduziu à História humanista, reduzindo o papel de Deus. O Homem ir-se-ia, assim,
sentindo cada vez mais o construtor e responsável do processo histórico.

O pensamento humanista deu também lugar à ideia da relatividade das coisas, e a


experiência passou a ser o critério de verdade.

Assim, desenvolveu-se uma nova consciência do mundo e da Vida, aliada å idealização da


Antiguidade, com tentativas de secularização da História.

Nesta altura, escrever História já não era trabalho dos monges, mas sim dos poetas,
literatos, diplomatas, que abordavam criticamente o passado nacional ou urbano.
A temática histórica alargou-se, embora os aspectos políticos continuassem com maior
expressão.

Para além de mudar o objecto, os humanistas substituíram a crónica medieval pelos anais,
destacando-se a biografia como principal forma de exposição histórica.

Além da História humanista, desenvolveu-se também uma História chamada «exemplar»,


cuja principal preocupação era servir determinada ideologia (normalmente a do poder),
podendo até sacrificar a verdade para conseguir tal fim.

O Renascimento do século XII consistiu num conjunto de transformações culturais,


políticas, sociais e económicas ocorridas nos povos da Europa ocidental.

Nessa época ocorreram eventos de grande repercussão: a renovação da Vida urbana, apos
um longo período de Vida rural, girando em torno dos castelos e mosteiros; o movimento
das Cruzadas, a restauração do comércio, a emergência de um novo grupo social (os
burgueses) e, sobretudo, o renascimento cultural com um forte matiz cientifico-filosófico,
que preparou o caminho para o renascimento italiano, eminentemente literário e artístico.

A nível metodológico, a Historia renascentista deu inicio à ordenação metódica das fontes,
graças a Flávio Biondo (1392-1463) que começou a reunir e a comparar as fontes com
algum sentido critico, a Calchi, pioneiro no uso de documentos e inscrições, a Lorenzo
Valla (1407-1457), o primeiro a defender a critica filológica das fontes, e a Vincenzo
Giustiniani (1516 -1582) que introduziu a critica histórica objectiva submetendo todos os
dados da tradição à critica da sua possibilidade de aplicação prática.

Representantes da História humanista

Nicolau Maquiavel (1469-1527): defendeu uma nova concepção de Estado: o Estado


temporal, soberano, independente da igreja, centralizado e único.

Inspirado na sociedade quatrocentista, na qual a burguesia aspirava à formação de


mercados nacionais, política e economicamente integrados por forma a assegurar a livre
circulação dos seus produtos, Maquiavel defende que o regime republicano com eleição de
dirigentes é o ideal do Estado.

Nicolau Maqiavel
Nas suas obras Discorsi sopra la prima deca de Tito Lívio e II Príncipe Maquiavel adopta já
uma atitude científica, procurando explicar os fenómenos sociais que descrevem pela
intervenção de factores naturais como o clima, a natureza humana, etc.

Lorenzo Valla (1407-1457): escreveu De falso credita et emeritita Constantine, marcando o


surgimento de um dos maiores instrumentos de critica histórica: a filologia humanística
(comparação de estilos documentais, erros de tradução, etc.).

Francis Bacon (1561-1626): defendeu a superioridade dos tempos em que viveu, em


relação aos antigos, e a ciência experimental sobre as concepções teóricas do passado. Para
ele, as ciências devem ser renovadas e colocadas ao serviço do progresso da humanidade
através das leis da Natureza.

Jean Bodin (1530-1569): defendeu que a História deve ser uma espécie de tábua da verdade
e dos acontecimentos; e que quem a ela se dedica não deve começar pela História de Deus,
mas pela dos Homens. Defendia, igualmente, a influência do clima sobre a natureza física e
psíquica dos Homens.

Fernão Lopes (1380-1459): escreveu A crónica de D. João I, na qual está patente a defesa
da independência do historiador perante as autoridades e o sentido da sua responsabilidade
perante o povo. Segundo Fernão Lopes, o motor da História é a sociedade no seu conjunto
ou, mais propriamente, o povo.

Nalguns casos, principalmente quando os reis tratavam a nação com equidistância entre os
burgueses e a nobreza, o historiador, reflectindo em certa medida a ideologia oficial,
esforçava-se por analisar os problemas e os homens com isenção e objectividade.
Portanto, uma das maiores conquistas da História do século XV foi a formulação da regra
de ouro da História, a de que aquele que escreve História de acontecimentos deve conhecer
e encadear os factos, as datas, os projectos e os resultados.
Conclusão

Chegado este ponto terminamos com o trabalho acima supracitado que esteve abordar
temas relacionados com historiografia do renascimento
Bibliografia

SUMBANE, Salvador Agostinho. H11 - História 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores,
Maputo, 2017.

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