Você está na página 1de 46

ÓSCAR ZUMBIRE

SÍNTESE DA HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE DESDE AS COMUNIDADES DE CAÇADORES


E RECOLECTORES ATÉ A IMPLANTAÇÃO DO ESTADO NOVO

UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA

QUELIMANE

2013

INTRODUÇÃO

A presente sebenta versa sobre os conteúdos que serão leccionados na Cadeiras de Historia de
Moçambique do século XVI ate século XVIII do Curso de Licenciatura em Ensino de Historia com
Habilitações em Geografia, ministrado na Universidade Pedagógica Delegação de Quelimane. A
disciplina tem como objectivo geral, compreender as principais transformações económicas, politicas,
sociais e culturais ocorridas no contacto entre Moçambicanos e outros povos em particular os árabes e os
portugueses, também visa desenvolver, o espírito de pesquisa e de interdisciplinaridade em Historia de
Moçambique, bem como a valorização da investigação cientifica tendo como base, o estudo da Historia.

A cadeira e fundamental para o curso de Historia visto que, um dos objectivos e a compreensão da nossa
própria Historia, ou seja perceber a evolução da sociedade Moçambicana a nível politico, económico,
social, cultural, etc desde a sociedade de caçadores e recolectores, as primeiras sociedades sedentárias e
o surgimento dos primeiros estados, a sociedade Moçambicana durante o período colonial. Os principais
temas a serem abordados nesta cadeira são basicamente três. O comércio de Ouro, de Marfim e de
Escravos.

De referir que a comercialização dos produtos acima mencionados contribuiu para o desenvolvimento
politico, económico, social e cultural das instituições politicas Moçambicanas embora em períodos
diferentes.

1 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
O comércio de Ouro contribuiu para a fortificação e a decadência da aristocracia shona caranga da
dinastia dos Mwenemutapas; o comércio de marfim foi crucial para o desenvolvimento e a eclosão de
conflitos dentro da aristocracia Phiri-caronga dos Estados Marave (Undi, Caronga, Lundu, Kapwit e
Biwi), enquanto o comércio de escravos foi fundamental para a transformação dos reinos Yao (Mataca,
Mtalica, Jalasi, Mponda, Kawinga) e os reinos afro-islamicos da costa (Sultanato de Angoxe, Xeicados
de Kitangonha, Sancul e Sangage), em Estados fortemente centralizados quer a nível político, militar
assim como económico.

LOCALIZAÇÃO GEOGRAFICA DE MOÇAMBIQUE

A Republica de Moçambique esta situada na costa sul-oriental da África entre os paralelos 10º 27΄ e 26º
52΄ de latitude sul e entre os meridianos 30º 12΄ e 40º51΄ de latitude Este. A superfície de Moçambique e
de 799.380km/2 (786 380mk/2 terra firme e 13000 km/2 de superfície das aguas interiores), tendo a
fronteira terrestre uma extensão de 4330 km/2. As fronteiras: a norte temos a Tanzânia, a oeste o
Malawi, a Zâmbia, o Zimbabwe, a África do Sul e com a Suazilândia. A sul Moçambique faz fronteira
com a África do Sul e a Este e banhado pelo Oceano Indico (Guia do Terceiro Mundo, 1986:213).

O RELEVO
Cerca de 44% do território Moçambicano e ocupado pela planície litoral, que tem seu maior
desenvolvimento no sul do pais.
No norte e centro do País predomina a zona de planaltos. Os montes mais elevados são: Binga em
Manica com 2436m, o Chimanimani com 2000m, os montes Mirange na serra da Gorongosa e o maciço
de Espungabera com 1050 m, os montes Domue em Angonia com 2096m, Chirobue com 2021m e
Tsangano com 1834m. Também temos as montanhas Morrumbala com 1172m as montanhas Chiperane
com 2054m, os montes Namuli com 2419m (Guia do Terceiro Mundo, 1986:213).

HIDROGRAFIA

Devido a disposição do relevo, inclinado para o Oceano Indico, os rios Moçambicanos correm quase
todos no sentido Oeste-Este. Dada a sua importância e extensão, os principais são: Rovuma que separa

2 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Mocambique e Tanzania, Messalo em Cabo Delgado, Lurio que limita as Provincias de Cabo Delgado,
Nampula e Niassa, Ligonha que separa Zambezia e Nampula, Zambeze que nasce na Zambia próximo a
fronteira com a RDCongo e com Angola, entra no território Moçambicano onde percorre 850 km e
desagua em forma de delta a sul do Chinde. O Pungue nasce no Zimbabwe e desagua na cidade da
Beira, o rio Buzi nasce no Zimbabwe e desagua perto do Pungue tendo como principal afluente, o Revue
onde se localiza a barragem de Chicamba. O rio Save também nasce no Zimbabwe e limita as províncias
de Manica e Sofala ao norte de Gaza e Inhambane, o Limpopo nasce na África do Sul próximo de
Johanesburgo e desagua na barra de Inhampura a 15km da Cidade de Xai-Xai, o rio Incomati nasce na
Provincia Sul-africana do Transvaal atravessa a Swazilandia e desagua na baia de Maputo. O rio Maputo
nasce na Suazilândia e desagua na baia de Maputo. A bacia do Zambeze e a maior de todas com
14000km2 (Guia do Terceiro Mundo, 1986:213).

No tocante aos lagos, existem em Moçambique para além de pequenas lagoas litorais, os lagos Niassa,
Chiuta e Chirua. O Lago Niassa e o maior de todos e é partilhado por três países nomeadamente
Moçambique, Malawi e a Tanzânia. A Barragem de Cahora Bassa e o maior lago artificial de
Moçambique, possui uma altura de 160metros e um potencial para gerar 4000 megawatts de energia
eléctrica (Rocha, 2006:9).

O CLIMA

O clima Moçambicano e influenciado por 2 factores: a corrente quente do canal de Moçambique e a


altitude do planalto Moçambicano. O clima de Moçambique e tropical e quente com uma estacão seco
e fresca de Abril a Setembro e um estacão quente húmida com temperaturas médias a rondar 28ºc de
Outubro a Marco. A temperatura e a pluviosidade variam ao longo do pais. Na costa e no vale do
Zambeze localizam se as zonas mais quentes e húmidas, enquanto as mais frias se encontram nas terras
altas das províncias de Niassa, Manica e Nampula. As zonas de maior pluviosidade são as terras altas e o
nordeste e o centro de Moçambique. O sul e geralmente mais seco (Rocha, 2006:11).

3 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
A FLORA

Existe em Moçambique, 3 tipos principais de formação vegetal; a floresta densa, a floresta aberta e a
savana. A floresta aberta e a savana ocupam 2/3 de todo o território. O mangal aparece em áreas
restritas (Guia do Terceiro Mundo, 1986:213).

Existe em Moçambique, 4 parques nacionais e 6 reservas de caca bem identificados. Os parques


nacionais são: da Gorongosa em Sofala, Chimanimani em Manica, Zinave-Banhine, a sul do rio Save na
Provinciaa de Gaza e o Bazaruto, o único parque marinho em Mocambique. E o parque que possui todas
condicoes turísticas e facilidades de acesso. Também existem reservas com destaque para a do Rovuma/
Lugenda, junto afronteira com a Tanzania, a do Gile, na Zambézia, a do Marromeu, próximo do delta do
rio Zambeze, a do Buzi, a Pomene, entre Vilanculos e Inhambane e a reserva de elefantes da Cidade de
Maputo. As reservas de Gorongosa e de Maputo são as que possuem mais facilidades turísticas, com
acesso mais ou menos facilitados. (Rocha, 2006:12).

Em Moçambique a maior parte dos destinos turísticos esta localizada ao longo da costa com destaque
para as Ilhas Inhaca e o arquipélago do Bazaruto e o complexo de lagoas (Bilene, Quissico/Zavala,
Inharrime), que são apenas algumas das mais emblemáticas praias e instancias turísticas que
Moçambique possui. A norte o destaque vai para a Ilha de Moçambique, as praias de Pemba e das Ilhas
Querimbas. No interior destacam-se as zonas montanhosas, de parques e reservas em Niassa,
Gorongosa, Pafuri e Banhine, a reserva de elefantes de Maputo e as zonas altas de Lichinga, Gurue,
Chimoio/Manica e Namacha (Rocha, 2006:13).

A SITUAÇÃO DE MOÇAMBIQUE ANTES DA PRESENCA DOS BANTU

Objectivo Geral

 Compreender quem é que habitava Moçambique antes da chegada dos povos falantes de línguas
bantu;

Objectivos específicos

 Descrever o modo de vida das comunidades de caçadores e recolectores;


4 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
 Analisar as características económicas, politicas, sociais e culturais das comunidades de
caçadores e recoletores;

 Identificar as causas que contribuiram para o desaparecimento da comunidade de cacadores e


recolectores.

Primeiros habitantes de Moçambique

Os primeiros habitantes de Moçambique foram provavelmente os Khoisan, que eram caçadores-


recolectores. Há cerca de 10.000 anos a costa de Moçambique já tinha o perfil aproximado do que
apresenta hoje em dia: uma costa baixa, cortada por planícies de aluvião e parcialmente separada do
Oceano Índico por um cordão de dunas. Esta configuração confere à região uma grande fertilidade,
ostentando ainda hoje grandes extensões de savana onde pululam muitos animais indígenas. Havia
portanto condições para a fixação de povos caçadores-recolectores e até de agricultores.
Pouco se conhece das comunidades primivas que habitavam Moçambique actual e as zonas limítrofes
dos mesmos. A semelhança de muitas outras comunidades primitivas, possuíam uma economia onde
predominavam actividades de caca, pesca e recolecção (Guia do Terceiro Mundo, 1986:217).

De referir que estes povos mais antigos que habitavam na África austral-oriental (os Khoisan) foram
mais tarde assimilados pelos novos povoadores ou simplesmente empurrados para as imediações das
zonas desérticas e semi-desérticas, pelas sucessivas vagas de imigrantes bantu, durante quase todo o
primeiro milénio d. C.

Como testemunho da presença destes povos primitivos, existem na região austral e em Moçambique em
particular, vários locais de pinturas rupestres atribuídas aos bosquimanos, hotetontes, pigmeus, estando
os mais conhecidos, localizados nas Províncias de Manica (pinturas rupestres de Chinhamapere), Tete,
Niassa e Nampula (Rocha, 2006:14).

De um modo geral pode se afirmar/concluir que antes da fixação dos povos falantes da língua bantu,
extensas áreas do território Moçambicano estavam ocupadas/ habitadas pelos Khoisan, povos com,
características primitivas.

5 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Características dos Khoisan (primeiros habitantes em Moçambique)
Sob ponto de vista económico
Estes grupos populacionais que habitavam Moçambique antes da presença dos bantu caracterizavam-se:
a) A sua base económica dependia essencialmente da caca, pesca e recolecção;
b) Utilizavam instrumentos rudimentar como pedra lascada/ polida, ossos de animais para o fabrico
de instrumentos para a caca e a pesca;
c) Desconheciam a pratica da agricultura e da pastorícia, bem como o uso da tecnologia do ferro;
Sob ponto de vista social
Este grupo populacional tinha as seguintes características:
a) Os khoisan eram povos primitivos e nomados;
b) Viviam em bandos, geralmente nas grutas das montanhas;
c) A organização do trabalho era por sexo e idade;
d) Eram imediatistas (produção/consumo)

Sob ponto de vista político


a) Os khoisan viviam numa sociedade onde não havia a exploração de homem pelo homem visto
que não existiam classes sociais;
b) não havia nesta sociedade o conceito de estado, reino ou império;
c) Não tinham fronteiras habitacionais porque dependiam essencialmente da natureza para a sua
alimentação por isso o nomadismo.
Obs: De salientar que este grupo populacional desapareceu com o surgimento na África Austral de
populações bantu, que assimilou os khoisan com as suas técnicas, hábitos, e alguns foram empurrados
par as régios desérticas e semi-deserticas do deserto de Kalahari.

As migrações e a fixação dos povos bantu


A expansão Bantu em Moçambique ocorreu como consequência do conhecimento da agro-pecuária e do
processo do fabrico de ferro. Enquanto que a população Bantu da África Austral teria resultado de um
processo de expansão, provocado na orla noroeste das grandes florestas congolesas, e de migração
relativamente rápida para o sul.

6 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Bantu - são quase 300 línguas que usam a expressão Muntu para designar os homens, segundo Black
(1862).
Linhagem = grupo de parentes que descende de um antepassado comum através de uma filiação
materna ou de uma filiação paterna.

Grupos Linguísticos

Norte: Cabo Delgado (Maconde, Macua), Niassa (Ajaua, Cheua, Nyanja, Macua), Nampula
(Macua, Koti);
 Centro: Tete (Nsenga, Tauara, Zimba, Tonga, Sena), Zambézia (Chuabo, Lómuè, Macua),
Sofala ( Sena, Ndau, Teve), Manica (Chona, Báruè, Teve, Sena, Ndau);
 Sul: Inhambane (Tsonga, Shangana), Gaza (Tsua, Chopi), Maputo (Ronga, Changana).
Grupos Etno-Linguísticos
Norte - Cheua
Centro - Chona
Sul - Tsonga

Nos séculos I a IV, a região começou a ser invadida pelos Bantu, que eram agricultores e já conheciam a
metalurgia do ferro. A base da economia dos Bantu era a agricultura, principalmente de cereais locais,
como a mapira (sorgo) e a mexoeira; a olaria, tecelagem e metalurgia encontravam-se também
desenvolvidas, mas naquela época a manufactura destinava-se a suprir as necessidades familiares e o
comércio era efectuado por troca directa. Por essa razão, a estrutura social era bastante simples - baseada
na "família alargada" (ou linhagem) à qual era reconhecido um chefe. Os nomes destas linhagens nas
línguas locais são, entre outros: em eMakua, o Nlocko, em ciYao, Liwele, em ci-Chewa, Pfuko e em
chiTsonga, Ndangu.

Apesar da sociedade moçambicana se ter tornado muito mais complexa, muitas das regras tradicionais
de organização ainda se encontram baseadas na "linhagem".

Penetração Persa (estrangeira)

7 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Entre os séculos IX e XIII começaram a fixar-se na costa oriental de África populações oriundas da
região do Golfo Pérsico, que era naquele tempo um importante centro comercial. Estes povos fundaram
entrepostos na costa africana e muitos geógrafos daquela época referiram-se a um activo comércio com
as "terras de Sofala", incluindo a troca de tecidos da Índia por ferro, ouro e outros metais.

De facto, o ferro era tão importante que se pensa que as "aspas" de ferro - em forma de X, com cerca de
30 cm de comprimento, que formam abundantes achados arqueológicos nesta região - eram utilizadas
como moeda. Mais tarde, aparentemente esta "moeda" foi substituída por outra: tubos de penas de aves
cheias de ouro em pó - os meticais cujo nome deu origem à actual moeda de Moçambique. Com o
crescimento demográfico, novas invasões e principalmente com a chegada dos mercadores, a estrutura
política tornou-se mais complexa, com linhagens dominando outras e finalmente, formando-se
verdadeiros estados na região. Um dos mais importantes foi o primeiro estado do Zimbabwe.

FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS ESTADOS EM MOÇAMBIQUE


ESTADO DO ZIMBABWÉ (1250-1450)
A formação do Estado do Zimbabwe dá-se no ano 1250. A palavra Zimbabwe provém de mazimbabwe,
para significar amuralhados de pedras. Estes eram para o domínio de uma classe e também protecção
militar.
Embora os povos que falavam a língua chi-Shona - ainda hoje a principal língua do Zimbabwe, com
cerca de sete milhões de falantes, em vários dialectos - se tenham instalado na região cerca do ano 500,
o primeiro estado do Zimbabwe existiu aproximadamente entre 1250 e 1450 aproximadamente na região
da actual República do Zimbabwe.
O seu nome deriva dos amuralhados de pedra que a aristocracia fazia construir à volta das suas
habitações e que se chamavam madzimbabwe.
O que parece ter sido a capital deste estado - o actual monumento do Grande Zimbabwe - cobria uma
superfície considerável (incluindo não só a área dentro dos amuralhados, mas também uma grande
"cidade" de caniço, à volta daqueles), levando a pensar que tinha uma população de várias centenas,
talvez milhares de habitantes, e uma grande actividade comercial.

8 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Em Moçambique conhecem-se também ruínas de madzimbabwe, a mais importante das quais chamada
Manyikeni, a cerca de 50 km de Vilankulo, na província de Inhambane, e a cerca de 450 km do Grande
Zimbabwe.
Para além da grande fertilidade da região onde este estado se estabeleceu, o apogeu do primeiro estado
do Zimbabwe deve estar ligado à mineração e metalurgia e o ouro, muito procurado pelos mercadores
originários da zona do Golfo Pérsico que já demandavam as "terras de Sofala", pelo menos desde o
século XII.
Cerca de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado, não se conhecendo as razões desse abandono mas,
pela mesma altura, verificou-se uma grande invasão de povos também de língua chiShona que deu
origem ao Império dos Mwenemutapas.
Estes invasores submeteram os povos duma região que se estendeu até ao Oceano Índico, desde o rio
Zambeze até a actual cidade de Inhambane, pelo que não é claro o abandono do Grande Zimbabwe.

MANYIKENI (1200-1500)

O estado de Manyikeni forma-se no ano de 1200 n.e. Ocupava a actual província de Inhambane
(Vilanculos especialmente).

O seu povo vivia da agricultura, caça e de fabrico de instrumentos de trabalho de ferro e fiação do
algodão para vestuário. Também a população praticava, apesar de em pequena proporção, comércio com
os árabes vindos da Península arábica através do Oceano Índico. Os de Manyikeni levavam ouro e
marfim para a costa e, em troca, recebiam missangas, tecidos e loiça fina. A decadência do Manyikeni
dá-se no ano de 1500, quando os árabes passaram a utilizar o porto de Sofala.

Manyikeni é considerado o primeiro museu arqueológico de Moçambique. No séc. XIII, fazia parte do
território Sedanda. Manyikeni é abandonado nos séculos XVI-XVII devido à fragmentação do
Zimbabwe em 1450, implantação da autoridade político-militar portuguesa em Sofala (1505) e na Ilha
de Moçambique (1507).

9 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
A penetração Mercantil Portuguesa e o comércio de Ouro

Os portugueses chegam a Moçambique nos finais do séc. XV (1498), chefiados por Vasco da Gama,
interessados no nosso ouro e marfim. Embarcam pela primeira vez no rio Inharime (Inhambane),
Quelimane e Ilha de Moçambique, e começam a fundar feitorias quer locais de comércio quer de defesa
contra os ataques árabes e dos chefes locais rebeldes.

Surgem assim Sena – 1530, Tete - 1537 e Quelimane - 1544. No séc. XVI tiveram contactos com chefes
dos impérios de Mutapa e Marave. No séc. XVIII, alguns portugueses e indianos foram enviados para a
região do Zambeze. Os comerciantes portugueses tinham de pagar um imposto anual conhecido por
curva que podia ser em tecidos ou outros artigos.

É de salientar que a colonização do nosso país foi feita em três períodos:

Período do Ouro: XIV-XVII

A actividade mercantil swahil e árabe em Moçambique data antes do séc. XI da nossa era. No início
do séc. XVI existiam alguns “mouros” no Império do Muenemutapa. O ouro era o principal artigo de
comércio. Foi o ouro que trouxe os portugueses a Moçambiqe, pois o ouro permitia-lhes comprar as
especiarias asiáticas com as quais Portugal entrava no mercado europeu de produtos exóticos. Daí que
Moçambique passou a constituir uma espécie de reserva de meios de pagamento das especiarias -
razão pela qual os portugueses se fixaram no nosso país, primeiro como mercadores e só depois como
colonizadores efectivos. A fixação fez-se primeiro no litoral: Sofala-1505, Ilha de Moçambique.-
1507. Em Sofala os portugueses esperavam controlar as vias de escoamento do ouro e do marfim do
interior que tinha em Sofala o seu terminus. Assim lutam contra os árabes-swahil. Em 1530 e 1537 os
portugueses penetram no vale do Zambeze e fundam Sena e Tete respectivamente e em 1544 fundam
Quelimane, isto não só para controlar as vias de escoamento, mas também do próprio acesso às zonas
produtoras do ouro. Em 1607, através de Gatsi Lucere, muenemutapa reinante, os portugueses
obtiveram a concessão de todas as minas do Estado. Em 1596, os mambos de Manica se revoltam
contra Gatsi Lucere, traidor da resistência dos moçambicanos permitindo a entrada e fixação dos
comerciantes e militares portugueses no seu Império. Caprazine, filho de G. Lucere, derrotado seu

10 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
irmão Filipe, torna-se Mwenemutapa e expulsa todos os portugueses do Império recuperando todas as
terras e minas que estavam em poder destes. Mavura baptizou-se e declarou-se vassalo de Portugal.

A penetração mercantil fez-se acompanhar de tecidos adquiridos na Índia e missangas compradas


em Veneza - isso só para a classe dominante dos muenemutapas. Estes produtos eram vistos como
bens de prestígio - suportes de lealdade política e submissão - razão pela qual o muenemutapa faz
concessões crescentes aos mercadores portugueses, e aliena o território: vende as terras ricas em ouro
fluvial. Como conseqüências disto, no séc. XVII, os camponeses deixam a agricultura e passam à
mineração para os portugueses: a sua produção estava virada para o comércio e não mais para o uso
próprio. Assim, em 1693, após muita tentativa, o muenemutapa reinante, C. Dombo, preside uma
guerra e em dois anos expulsou os portugueses do planalto do Zimbabwe - assim chegava o fim do
período áureo.

O COMERCIO DE OURO (Sec. XV-XVII) E O ESTADO DO MWENEMUTAPA

Objectivo Geral:

-Compreender a importância do comércio do Ouro para o desenvolvimento do Estado do Mwenemutapa.

Objectivos Específicos:

-Descrever o Processo de Formação e a localização geográfica do Estado do Mwenemutapa;

-Analisar a organização político-administrativa;

-Identificar as principais actividades económicas;

-Analisar o aparato ideológico;

-Apontar as causas da decadência.

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESTADO DO MWENEMUTAPA

De acordo com Abraham citado por Fagan (1972:124) os primeiros Carangas / Shonas entraram na
Rodésia do Sul (actual Zimbabwe) cerca de 850 d. C. Aponta se a região do lago Tanganhica como o

11 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
local das suas origens mais remotas. Chegado na Rodésia, este povo entrou em contacto com grupos de
bosquimanos e com povos indígenas da idade do ferro. Por volta de 1440, o rei rozwi Mutota lançou
uma poderosa campanha militar com vista a acrescentar os seus domínios pelos rios Limpopo, Zambeze
e pelo deserto de Kalahari (Fagan, 1972:129).

Para Costa (1982:22), o Estado do Mwenemutapa surge na sequência da invasão e conquista do norte do
planalto do Zimbabwe pelos exércitos de Mutota ocorrida por volta de 1440/50.

LOCALIZAÇÃO GEOGRAFICA

O Estado do Mwenemutapa localizava-se nos actuais territórios de Moçambique (em particular as


actuais Províncias de Manica, Sofala, Gaza, Tete e Inhambane) e parte da Rodésia do Sul- Zimbabwe,
com os seguintes limites:

Norte- Rio Zambeze; Sul- Rio Limpopo; Este –Oceano Indico e Oeste Deserto do Kalahari

O Estado de Mwenemutapa tinha como vassalos/ satelites os seguintes Estados: Sedanda, Manica,
Quiteve, Barue, Quissanga e Maungwe.

ORGANIZAÇÃO POLITICO-ADMINISTRATIVO

A estrutura do poder no Estado do Mwenemutapa era constituída pelos seguintes elementos: mambo,
fumo, encosses, mutumes, infices, as 3 principais esposas do rei e a comunidade aldeã.

No tocante aos estatutos e atribuições, importa nos apresentar as funções de cada elemento a cima
mencionado. Assim temos:

1. O Mambo, que era o chefe supremo /imperador;


2. Infices- eram os guardas do mambo;
3. Os Mutumes- exerciam a função de mensageiros do imperador. O rei também era auxiliado pelas
suas 3 principais esposas e 9 funcionários.
4. A nível das Províncias encontramos como dirigentes supremos os fumos ou encosses;
5. O Mwenemucha era o responsável pela comunidade aldeã ou seja era o dirigente da aldeia.

12 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Para Costa (1982:23), no processo de articulação aristocracia-comunidades, o tributo simbolizava as
relações de subordinação e constituía um mecanismo de dominação do que de exploração
propriamente dita, inserido essencialmente a nível ideológico.

A RELIGIÃO
Quanto a religião, no Estado do Mwenemutapa praticava-se o culto do Muari, que era uma
essencialmente uma religião do povo. Também se veneravam os espíritos familiares designados por
“vadzimu”, enquanto os espíritos tribais denominavam-se “mondoro”. A comunicação com estes
espíritos era feita por intermediários chamados “swikiros”.
Tudo indica que o poder dos chefes shonas se tinha baseado nas suas faculdades como intermediários ou
no seu controlo dos hospedeiros dos poderosos mondoro, de cujas mensagens ao muari dependia a sorte
da comunidade (Fagan, 1972:126).

ACTIVIDADES ECONOMICAS
No tocante as actividades económicas no Estado do Mwenemutapa, importa referir que as mesmas iam
em função das exigências e das necessidades da aristocracia dominante, bem como das relações
comerciais com os comerciantes estrangeiros em particular os árabes e portugueses.

Segundo Fagan (1972:125), os primeiros comerciantes estrangeiros foram os árabes da costa oriental
que atraídos pelos rumores da existência no interior de um poderoso reino, penetraram no território
caranga pelos vales dos rios Buzi e Save e trocaram com os principais chefes, panos e contas por ouro
em pó e marfim.

Para Costa (1982:23), a agricultura ocupava o lugar central e constituía a actividade dominante enquanto
a pecuária, a caca, a pesca, bem como outras actividades artesanais surgem como apêndices
complementares da agricultura.
O incremento da penetração mercantil, intensificou as actividades de mineração e em menor escala, a
caca ao elefante para a obtenção do marfim (Costa, 1982:24).

13 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Ao entrarem no Estado do Mwenemutapa, os comerciantes estrangeiros estavam sujeitos ao pagamento
de uma taxa pela circulação e pela comercialização. Esta taxa chamava-se “curva” e o não pagamento
desta taxa tinha como consequências o confisco dos bens dos comerciantes estrangeiros pela aristocracia
dominante ou seja decretava-se a “empata”.
A intensificação da penetração mercantil foi fundamental para o desenvolvimento do comércio a longa
distância, bem como a multiplicação dos locais de mineração do ouro. O comercio a longa distancia
permitia a obtenção de bens de prestigio e para o melhor controlo destes bens por parte da aristocracia
dominante, esta optou em concentrar as trocas comerciais em espaços geográficos limitados, as
chamadas “feiras comerciais”. Exemplos: Massapa, Luanze e Bocuto.

Aristocracia dominante tinha no comércio a longa distancia, a sua principal fonte para a aquisição de
bens de prestígio (panos, missangas) trazidos pelos comerciantes estrangeiros cuja circulação estava
sujeita a relação de poder e de parentesco. Os panos e as missangas eram redistribuídos no seio da
aristocracia dominante com a função básica de criar e reproduzir uma hierarquia de lealdade no seio da
aristocracia e reforçar o seu poder de exploração sobre as comunidades (Costa, 1982:25).
As trocas comerciais a longa distancia constituíam ao mesmo tempo, uma fonte de reforço e de
enfraquecimento da classe dominante, um factor de estruturação e de dissolução do poder instituído
visto que estas geravam o aparecimento no seio da classe dominante, de facções rivais e em luta pela
conquista de posições de privilegio no acesso aos bens de prestigio trazidos pelos mercadores
estrangeiros (Costa, 1982:25).
E no contexto desses conflitos e outros factores associados como a erosão das comunidades aldeãs
devido a mineração do ouro em larga escala em detrimento da produção alimentar, que surgem conflitos
pelo controlo do comercio a longa distancia e vão contribuir para a decadência do Estado do
Mwenemutapa.

Leituras obrigatórias
-COSTA, Nogueira da. Penetração e impacto do capital mercantil Português em Moçambique, séculos
XVI-XVII, O caso do Mwenemutapa. Maputo: UEM/Departamento de Historia, 1982.
-FAGAN, Brian. Africa Austral. Lisboa: Editorial Verbo, 1972.

14 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
EXERCICIOS PRÁTICOS
1. De acordo com Nogueira da Costa, responda as questões que se seguem:
a) Identifique os níveis de comércio no Estado do Mwenemutapa.
b) Como se processavam as relações de exploração e de subordinação no Estado do
mwenemutapa?
c) Qual era a importância do tributo?
d) Como era feito o controlo da circulação dos bens de prestígio?
e) Indique as principais feiras comerciais.
f) Qual foi a importância e o impacto do comercio do ouro para o Estado do Mwenemutapa?

PERÍODO DO MARFIM: XVII-XIX

Com o levante de 1693, que constituiu a primeira forma de resistência em Moç., a produção e
comercialização do ouro diminuiu e o marfim passou a ser o produto mais procurado pelos
mercadores.

Este levante teve como consequência: procura do ouro no norte do rio Zambeze. Os produtos de
troca, missangas e tecidos, vinham de Veneza e não de Lisboa. Nos territórios situados entre o rio
Luanga-Quelimane fazia-se bastante comércio de marfim.

Este representava para os Phiri uma das suas principais fontes de reprodução em troca de tecidos e
missangas. Em 1687, o comércio passou a ser com os Ajaua (melhores produtores de marfim),
vindos do Lago Niassa, trazendo marfim, azagaias, tabaco.

Os reinos mais poderosos, cujo os territórios se estendiam para além dos sultanatos e xeicados
afro-islâmicos eram Manica e Morimuno - séc. XVII - os Ajaua surgiam como perigosos rivais no
tráfico do marfim.

Morimuno recebe ataques portugueses porque interferia no trânsito dos Ajaua que traziam marfim
do interior. Neste comércio, também entrou a Baía da Lagoa (Baía do Maputo) vendendo marfim,
âmbar, oiro, cobre e cornos de rinocerontes. O comércio de marfim conhece o princípio do seu fim
nos finais do séc. XVIII e princípios do séc. XIX.

15 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
OS ESTADOS MARAVE E O COMRCIO DO MARFIM

Objectivo Geral

-Compreender a importância do comércio de marfim para o desenvolvimento dos Estados Marave.

Objectivos específicos

- Descrever o processo de formação dos Estados Marave;

- Analisar a estrutura política administrativa;

-Identificar as principais actividades económicas;

- Analisar os factores que contribuíram a decadência dos Estados Marave.

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS ESTADOS MARAVE

O processo de formação dos Estados Marave difere um pouco do processo de formação do Estado do
Mwenemutapa. Enquanto a formação do Estado Mwenemutapa foi através da via violenta ou seja
através de conquistas militares, a formação dos Estados Marave foi através da via pacífica. Estes
Estados formam-se entre 1200-1400 com a chegada dos povos provenientes da região de Luba na
Republica Democrática do Congo, liderados pelo Cla Phiri e ocupavam a região situada a norte do rio
Zambeze e entre o rio Chire e Luanga.

Apesar de a sua formação ter sido por via pacífica, e tendo como principal Estado Marave o Caronga,
estes viriam a se fragmentar em outros Estados como Undi, Lundu, Biwi e Kapiwiti, isto devido a
conflitos dinásticos que surgiram no seio da aristocracia Marave provocado ou causado pelo crescente
comércio de marfim (Serra, 2000:47).

Em Moçambique, o Undi, chefe Phiri, fixou-se inicialmente na actual Província de Tete, entre-os-rios
Luia e Kapoche, enquanto Kapwiti e Lundo dominavam a zona de Morrumbala e Milange, o Caranga a
parte do território da Província do Niassa.

16 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
ORGANIZAÇÃO POLITICA E ADMINISTRATIVA DOS ESTADOS MARAVE

Nos Estados Marave, o poder era hereditário e a sucessão ao trono era feita por via matrilinear, isto e,
passava do tio para o sobrinho, filho da irmã. O chefe do Estado tinha como titulo, o nome do fundador
da dinastia. No caso Undi, ele como chefe do Estado, era considerado como dono do solo, subsolo,
fauna, rios, e tudo quanto lá existisse.

A organização política administrativa obedecia os seguintes escalões:

- O Undi que era o chefe maximo ou imperador, caso especifico para o Estado Undi;

-As províncias era dirigidas por mambo;

-O chefe territorial chamava-se Mwini-Dzico;

- Os responsáveis das povoações/ aldeias eram designados fumos ou Mweni- Mudzi. (História de
Moçambique, 2000:49).

De referir que cada chefe era servido por um conjunto de conselheiros os Mbili e um corpo de
funcionários menores como mensageiros, a guarda dos chefes sucessivamente.

O APARATO IDEOLOGICO

Nos Estados Marave praticavam alguns cultos ligados a fertilidade das terras, a invocação das chuvas e
o controlo das cheias. Os cultos eram dedicados a entidades supremas (culto do Muari ou Muali) ou para
a veneração de espíritos naturais e a veneração dos espíritos dos antepassados (Makewana e Mbona). De
salientar que os mais importantes desses cultos possuía oficiantes geralmente mulheres conhecidas por
“sarima.” (História de Moçambique, 2000:51).

ACTIVIDADES ECONOMICAS

A principal fonte da economia para a aristocracia Marave era o comércio a longa distância de marfim.
Fabricavam instrumentos de ferro com destaque para as enxadas de ferro que passaram a ser o produto
mais exportado através do porto de Quelimane. A produção e comercialização da “machira”, tecido de
algodão era outra actividade económica destinada ao comércio a longa distancia.
17 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
A agricultura estava destinada para a produção de bens de subsistência e era reservada para as mulheres
que usavam a enxada de cabo curto. As principais culturas eram: o milho, a mapira, a mexoeira, o
algodão, o amendoim e as leguminosas.

A criação de gado era outra componente na vida económica, sobretudo de bovinos, caprino e ovinos. Tal
como o Ouro nos Mwenemutapas, o marfim representava para os Phiri, uma das principais fontes de
reprodução por isso a divisão social do trabalho nos Estados Marave em particular nos Estados Caranga
e Lundu, contemplava a organização da caca ao elefante. A caça ao elefante, a mineração do ouro, o
artesanato era actividades complementares da agricultura.

Para além do controlo que exerciam sobre o comércio a longa distancia, a aristocracia Marave recebia
diversos tributos com destaque para os seguintes: tributos regulares (marfim, tabaco, esteiras, panos,
etc); rituais (premissas das colheitas e as taxas pagas aos chefes por orientarem as cerimonias
religiosas); taxas pela resolução de disputas na qual os vencedores pagavam para serem
reconhecidos e também tínhamos o “”chupeta ou mororo”” pago pelos comerciantes que transitavam
pelo território e variava de acordo com o nível dos chefes (Newit, 1997).

Para além dos tributos regulares e tributos rituais, a aristocracia dominante também recebia tributos de
vassalagem que incluíam penas vermelhas de certos pássaros, peles de leão e de leopardo, marfim,
partes comestíveis de outros animais, direitos de trânsito pelas terras e as primícias das colheitas
(História de Moçambique, 2000:49).

A DECADÊNCIA DOS ESTADOS MARAVE

A decadência dos Estados Marave iniciou nos meados do século XVII mas foi intensificada pela
penetração de uma nova geração de mercadores no fim do século XVIII- os prazeiros.

As lutas inter-phiri para assegurar o controlo completo do comércio de marfim; o aparecimento do\s
Nguni oriundos do Mfecane que chegaram a Moçambique (Províncias de Tete e Niassa). No Estado
Undi, os Nguni chegaram por volta de 1835 (História de Moçambique, 2000:52).

Leituras obrigatórias

18 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
História de Moçambique Volume I. Maputo: Livraria Universitária, 2000

A PENETRACAO MERCANTIL PORTUGUESA E OS PRAZOS DO VALE DO ZAMBEZE

Objectivo Geral:
- Compreender a penetração mercantil Portuguesa e sua contribuiu para a formação dos Prazos do Vale
do Zambeze.

Objectivos Específicos:
- Descrever em que contexto do surgimento dos prazos do Vale do Zambeze;
-Identificar o tipo e as razoes da aculturação a que se sujeitaram os prazos;
- Apresentar a organização política e administrativa dos prazos;
-identificar as actividades económicas;
- Avaliar a relação entre os prazeiros e a Coroa Portuguesa;
- Analisar o aparato ideológico dos prazos;
-identificar as causas da decadência dos prazos do Vale do Zambeze.

A FORMACAO DOS PRAZOS DO VALE DO ZAMBEZE


Definição de conceitos:
Prazo – era um pedaço de terra cedido pela coroa Portuguesa por um período de três gerações.
Prazeiro – era aquele que recebia a porção de terra da coroa Portuguesa por um período de três
gerações.
Prazeiro – e o termo atribuído aos mercadores, ex-soldados desertores, fugitivos que cumpriam penas
de degredo que vinham a Moçambique oriundos de Portugal.
Achicunda era o termo usado para designar exércitos de cativos guerreiros.

ORIGEM
Os prazos foram inicialmente, terras conquistadas por prazeiros a testa de exércitos de cativos, terras
cedidas pelos chefes locais a troca de saguate ou ajuda militar contra chefes rivais. Pode sustentar-se que
os prazos nasceram com a penetração Portuguesa no Vale do Zambeze a partir de 1530. Foi a parti\\r

19 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
desse processo que surgiram no século XVII, os senhores de terras, promotores de guerras sem fim
(História de Moçambique, 2000:251).

Os Prazos nasceram com a penetração portuguesa no vale do Zambeze a partir de 1530. O termo Prazo
só surge no séc. XVII, quando a concessão de terra era concedida mediante uma renda anual durante
duas ou três gerações; findo o prazo a terra voltava à coroa. Era o vice-rei português da Índia quem
concedia as terras em nome do rei e confirmado em Lisboa.

Portugal, querendo garantir e defender as rotas comerciais e uma livre circulação dos produtos de troca
(ouro e marfim, tecidos, colares de missangas, armas de fogo, munições e bebidas alcoólicas para o
interior),e para ocupar a nossa terra duma maneira mais organizada (para melhor explorar as nossas
riquezas), enviou para Moçambique grupos de portugueses e cristãos de Goa, que se fixaram no Vale do
Zambeze. Assim surgiram os prazos - 1600. Eles recebiam grandes extensões de terras ao longo do
Zambeze concedidas pelo rei de Portugal por um prazo de tempo (de três em três gerações). Portanto, os
prazos eram terras doadas, compradas ou simplesmente conquistadas no vale Zambeze. Os seus donos
eram chamados prazeiros e normalmente eram mercadores, ex-soldados, desertados, fugitivos,
assassinos, prisioneiros (que cumpriam penas de decreto), revolucionários ou opositores políticos
exilados.

Para Isacman (1991:6), o interesse dos Portugueses pelo Vale do Zambeze surge em 1505 com a
fundação da feitoria de Sofala e vinte anos seguintes grupos de comerciantes e aventureiros viriam para
o Vale do Zambeze a procura das bíblicas minas de Ouro da rainha Sabah, e na esperança de desalojar
os comerciantes árabes que controlavam o comércio no interior e na costa.

A intenção de Portugal ao introduzir o sistema de prazos em Moçambique era de dar as terras do Vale
do Zambeze o estatuto feudos e a natureza feudal que a sociedade Portuguesa nesse período. O certo e
que os senhores de terras do Vale do Zambeze raramente pagavam os foros ou se sentiam vassalos da
coroa Portuguesa pois cada um era rei de si próprio e eventualmente inimigos dos dirigentes
Portugueses.

20 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
No século XVII, Portugal nacionalizou a região do Vale do Zambeze com a finalidade de usar a terra
nacionalizada para atrair uma imigração em larga escala e para assegurar a perpetuação de uma
comunidade portuguesa no vale do Zambeze. Também foram oferecidas terras exclusivamente a
mulheres Europeias, bem como a transmissão das propriedades por via feminina (Isacman, 1991:9).

RAZOES DA ACULTURAÇÃO DOS PRAZEIROS

O processo de formação do prazeiro significou uma aculturação híbrida, isto e, há uma inter-relação de
culturas quer dos hóspedes/visitantes (prazeiros) e a população local, eles adaptaram-se a cultura local
ou seja dos Africanos.

De acordo com Isacman (1991:6), estes indivíduos adoptaram as culturas africanas devido ao número
relativamente reduzido, a falta de mulheres metropolitanas com idade para procriar e o seu total
isolamento relativamente a instituições europeias de sociabilidade. A adopção estendeu-se a apropriação
de artefactos, técnicas e línguas locais. A aculturação foi mais substitutiva que aditiva, diferindo assim
do processo de hibridação que caracterizou mutas sociedades de fronteira.

QUAL ERA A IDENTIDADE DO PRAZEIRO?

No século XVI, prazeiros eram indivíduos Portugueses residentes em Portugal (desertores, prisioneiros,
etc);

No século XVII, prazeiros eram Portugueses residentes em Goa que foram lá para ajudar a expansão
Portuguesa, comerciantes bem sucedidos, missionários ligados ao governo;

No século XVIII. Prazeiros eram Goeses e pessoas ligadas aos Portugueses e que tinham ligações com a
África Oriental Portuguesa (Moçambique, Mombaça, Quénia);

No século XIX, prazeiros incluíam Portugueses, Africanos que directa ou indirectamente descenderam
de Portugueses ou de outras misturas.

21 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
ORGANIZAÇÃO POLITICA E ADMINISTRATIVA
Quanto a organização politica administrativa de referir que a mesma era composta por:
 Prazeiro, que era o chefe máximo e dirigente do prazo;
 Os achicundas- garantiam a captura de milhares de cativos e assegurava militarmente os prazos;
 Os chuangas funcionavam como uma espécie de fiscais e todos os trabalhos e tinha a seu cargo, a
chefia dos fumos;
 Mucazambos e muanamambos, comandavam o exército, controlavam o funcionamento do prazo
e da sua segurança;
 Mussambazes, eram mercadores negros especializados que se dedicavam ao comércio.

ACTIVIDADES ECONOMICAS

Segundo Historia de Moçambique (1988:84), o comércio de ouro e marfim confirmava a base


económica dos prazos ate século XVIII e estava ligada acumulação primitiva do capital. Os prazeiros
também viviam do trabalho dos camponeses que eram obrigados a pagarem boa parte da sua colheita, o
mussoco. Entretanto, no final do século XVIII, o comércio de escravos tornou-se a principal fonte de
receitas e riqueza dos prazeiros. Para além do comércio de escravos, os prazeiros também praticavam a
agricultura, a mineração.

A DECADÊNCIA DOS PRAZOS

A intensificação do comércio de escravos na segunda metade do século XVIII, no Vale do Zambeze


obrigou os prazeiros a exportarem os camponeses, os responsáveis pela produção de víveres, mais tarde
passaram a exportar os próprios achicundas, aqueles que protegiam militarmente os prazos e os
caçadores de escravos. Assim, os achicundas em fuga organizaram bandos predatórios que atacavam os
prazos e destruíam as redes comerciais do sertão;

 As invasões Nguni que culminaram com a captura de mulheres, a queima de povoações e a


cobrança de tributos contribuíram para o despovoamento em todo o vale;
22 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
 Os ataques regulares dos Baruitas aos prazos em busca de alimentos;
 Ataques do Mwenemutapa por volta de 1820-1835;
 A ocupação de 28 dos 46 prazos existentes pelo exercito dos Gaza Nguni por volta de 1840.
 (História de Moçambique, 2000:256).
Leituras obrigatórias

História de Moçambique Volume I. Maputo: Imprensa Universitária, 2000.

ISACMAN, Alan, Barbara. Os prazos como trans-raiano: um estudo sobre transformação cultural e
social. Maputo, 1991.

Exercícios práticos

1.De acordo com Isacman (1991) responda:

a) Porque e que Lisboa nacionalizou o vale do Zambeze no século XVII?


b) Que tipo de aculturação significa o processo de formação do prazeiro?
c) Qual e a identidade do prazeiro?
d) Quais foram as razoes que levaram a aculturação dos prazeiros?
e) Qual era o interesse dos Portugueses no vale do Zambeze?
f) Indique as actividades económicas dos prazos.
g) Aponte as causas do declínio do sistema de prazos

OS ESTADOS AJAUAS E O COMERCIO DE ESCRAVOS


Objectivo geral:
-Compreender a importância do comércio de escravos para o surgimento dos Estados Ajauas.
Objectivos específicos:
- Analisar o processo da formação dos estados ajauas;
-Identificar os principais Estados Ajauas;
-Apresentar a estrutura política e administrativa;
-Mencionar as actividades económicas;
-As causas do declínio.
23 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Localização geográfica
O grupo etnolinguístico yao era predominante na zona planaltica e montanhosa do Niassa entre os rios
Messinge e Ligonha, prolongando-se o povoamento ate Mponda e nas proximidades do lago Niassa a
nordeste a sudesste. Limites:
Norte: rio Rovuma;
Sul: rio Luambala, afluente do rio Lugenda;
Este: rio Lugenda;
Oeste: rio Lucheringo, afluente do Rovuma.
Os Yao têm esta designação porque se consideram originários dos montes Yao, palavra que significa
monte sem capim (Medeiros, 1997:81).

O PROCESSO DE FORMACAO DOS ESTADOS AJAUAS


Os Estados Ajauas começaram a se formar no século XVI. Durante este período ate ao século XVIII,
estes Estados ainda eram reinos ou chefacturas, eles se tornaram Estados centralizados no século XIX, (a
partir de 1840’/50).
Antecedentes políticos:
 A dispersão de comunidades inteiras e de pequenos grupos,
 Os ataques dos angoni-maseko a partir de 1850;
 Ataques dos macua-lolo, dos macua- meto;
 Guerras entre Che-Nyambi e o seu cunhado Malingalile.
Antecedentes económicos:
Antes de se tornarem em Estados, os ajauas praticavam a caca, a pesca, agricultura, a metalurgia do
ferro, o comércio de marfim no século XVIII e o comércio de escravos no século XIX. A metalurgia era
muito fundamental porque fabricavam instrumentos de caca e de guerra.
Antecedentes sociais:
 Povoação dos núcleos;
 Existência da bipolarização de classes sociais e;
 A existência de unidades familiares.

24 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Antecedentes geo-fisico:
Seca e fome que contribuíram para a dispersão de alguns grupos ayao (Medeiros, 1997:81). Todavia, o
aparecimento de um Estado centralizado e o fortalecimento do poder dos chefes deveu-se ao
desenvolvimento do comércio de marfim no século XVIII, e sobretudo de escravos no século XIX.
Assim, a partir de 1840/50, os grandes Estados Yao das dinastias Mataca, Makangila, Mtalica, Jalasi,
Mponda e Matipuir e Cauinga, tinham na exportação de escravos, reforçado pelo marfim, tabaco e a
importação de tecidos, pólvora e armas de fogo, o pilar da sua economia e a base da dominação de
classes (História de Moçambique, 2000:108).

ORGANIZACAO POLITICA E ADMINISTRATIVA


Para analisarmos a organização politica dos Estados Ajauas optamos por apresentar a organização
politica administrativa de apenas um Estado neste caso concreto o Estado Mataca.
No Estado de Mataca I (cerca de 1806-1876) havia uma organização estatal composta pelos seguintes
elementos: o soberano Mataca, juízes, um ministro do comércio, um comandante para a aquisição de
escravos, mwenye (chefe do distrito), mwenemusi (chefe da povoação), chefes das aldeias. A
Islamização da aristocracia Yao fortaleceu ainda mais o poder teocrático dos soberanos, que passaram a
ser considerados xeiques.
As linhagens estavam organizadas localmente na base de um grupo de irmãs, suas filhas casadas e
restantes filhos solteiros, todos chefiados por um tio materno chamado “”asyene mbumba””, o mesmo
que “guardião da família”.
Todo o poder estava concentrado nos dignitários da capital. Não havia chefes subordinados no território
e nenhum tributo era aparentemente cobrado dentro do Estado (História de Moçambique, 2000:110).

ACTIVIDADES ECONOMICAS
De referir que antes dos séculos XVIII-XIX, a principal actividade económica era a agricultura praticada
geralmente pelas mulheres e filhos solteiros, enquanto os homens adultos dedicavam-se a caca em
grande escala em especial a caca ao elefante para a extracção do marfim, isto com o desenvolvimento do
comércio de marfim.

25 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Para além das actividades acima mencionadas, também fabricavam instrumento de ferro, tecnologia
difundida pelo clã Chisi. Os principais produtos exportados pelos Estados Ajauas eram: tabaco,
artefactos de ferro (enxadas, machados, e armas), pele, marfim, e mais tarde escravos (História de
Moçambique, 2000:107).
Os Estados Ajauas também importavam certos produtos como: sal, tecidos, missangas, gado, etc. o
comercio a longa distancia era praticado pelos mercadores ajauas incluindo os ferreiros a-chisi. O chefe
do território era responsável pela organização de todo o processo comercial.
O comercio a longa distancia permitia a aquisição de bens de prestigio que serviam para consolidar o
poder dos chefes dentro das suas respectivas linhagens. A nível interno, os chefes distribuíam os bens de
prestigio aos membros da linhagem, enquanto a nível regional, os chefes caravaneiros distribuíam os
bens de prestigio aos novos aderentes das linhagens, o que permitiu o controlo de unidades politicas
vastas, do que as simples unidades domésticas (História de Moçambique, 2000:108).

A DECADENCIA DOS ESTADOS AJAUAS


Os Estados Ajaua fortificam-se e tornam-se em Estados centralizados com a intensificação do comércio
de escravos mesmo após a primeira abolição internacional em 1836. Foi o comércio de escravos que
tornou-se estes Estados mais poderosos militarmente, assim como mais famosos pela dimensão da
escravatura praticada por estes Estados.
Com a abolição do tráfico de escravos em 1836 decretada pela Inglaterra e em 1869 nas colónias
Portuguesas, estes Estados passaram a praticar o tráfico clandestino. A Conferencia de Berlim realizada
entre 1884-85 definiu o principio de “”ocupação efectiva””, isto e, cada potencia colonial deveria ocupar
e explorar totalmente as suas colonias e acabar com os direitos históricos defendidos por algumas
potencias como e o caso de Portugal.
Neste âmbito o governo colonial Português desenhou um plano militar com a finalidade de acabar com
os reinos e estados/ impérios Moçambicanos. Após várias resistências, o Estado Mataca chegava ao fim
quando a 8 de Outubro de 1912, as milícias da companhia do Niassa e do exército colonial Português
comandadas pelo capitão Pottier de Lima invadiram Mwembe, queimando e saqueando a povoação, e a
fuga do che-Chisonga para Tanganhica, bem como a fuga de milhares de wayao para o Nyassalandia e
para Tanganhica (Medeiros, 1997:91).

26 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Leituras obrigatórias:
MEDEIROS, Eduardo da Conceição. História de Cabo Delgado e Niassa (C.1936-1929). Maputo, 1997.
História de Moçambique Volume 2. Maputo: Imprensa Universitária, 2000.
EXERCICIOS PRATICOS
1. Sobre os Estados Ajauas/ Yao, responda as seguintes questões:
a) Identifique os principais Estados Ajauas.
b) Descreva o processo da sua formação.
c) Qual era a principal fonte económica destes Estados durante a segunda metade do
Século XIX?
d) Para alem dos escravos quais eram os outros produtos de exportação?
e) Os Estados Yao também importavam alguns produtos. Indique-os
f) Explique o circuito de circulação dos bens de prestígio a nível interno e regional?

Período dos Escravos: XVII-XIX

Na segunda metade do séc. XVIII, a procura de escravos ultrapassou a procura do ouro e de


marfim. Agora quer-se aquele que tira o ouro e marfim. Assim o homem passa a ser matéria-prima
procurada.

Numa primeira fase eram adquiridos pelos franceses para as suas plantações de açúcar e café nas
Ilhas Mascarenhas no Índico; numa segunda fase começa a se enviarem para as plantações da
América do Sul (Brasil: plantações de açúcar, cacau, minas de ouro, etc.), vai até o séc. XIX. A
terceira fase é após a abolição oficial do tráfico (1836) quando a saída clandestina de escravos se
fazia através dos Xeicados de Quitangonha, Sancul, Sangage e do Sultanato de Angoche e também
dos Prazos.

 Áreas de caça: Vale do Zambeze e a faixa litoral. É de salientar que as populações de origem
macua foram as mais sacrificadas e lavadas para as Ilhas Mascarenhas, Madagáscar, Zanzibar,
Golfo Pérsico, Brasil e Cuba.

27 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
 Consequência da escravatura: (1) despojamento de sua força de trabalho dando a estagnação
das sociedades; (2) paralisação do desenvolvimento da população moçambicana, com o
abandono das terras de cultivo; (3) provoca fuga das populações originando zonas despovoadas;
(4) provoca insegurança permanente; (5) destituições humanas e de bens, semeando assim fome
e miséria; (6) decréscimo demográfico; (7) algumas zonas (nos prazos e na sociedade Ajaua
principalmente) são económico-politicamente restruturadas para a empresa de caça e captura de
escravos - uma total instabilidade política generalizada, portanto; (8) degradação dos valores
sociais e morais; mas, no entanto, (9) a escravatura levou ao enriquecimento da Europa e de
uma minoria de chefes locais.
Para se obter os escravos, os chefes das várias tribos envolviam-se em guerras e o que saia
derrotado era feito (o chefe e o seu povo) refém e consequentemente escravo.

Os escravos capturados em Moçambique eram enviados para Brasil, Cuba, América do Norte e
para as Ilhas do Oceano Índico (Mascarenhas, Comores e Madagascar) para as plantações de café,
algodão, açúcar e nas minas de metais preciosos.

Para além de Moçambique, eram zonas de captura de escravos: Senegal, Gâmbia, Costa do Ouro
(Gana), Costa dos Escravos (Togo, Benin e Nigéria), Delta do rio Níger, Congo e Angola.

Algumas Considerações
1. O período do ouro vai de século XIV-1693 - data da primeira grande resistência em
Moçambique encabeçada por Changamira Dombo.
2. O período de marfim vai desde o século XVII-1750/60, quando começa o tráfico maciço de
escravos.
3. O período dos escravos vai desde 1750-60 até 1836, ano em que foi abolida formalmente a
escravatura, pois na prática a escravatura termina no nosso século.
4. O período das oleaginosas vai de Século XIX quando os indianos começam a comprar gergelim,
amendoim para as companhias e feitorias de Quelimane.

28 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Consequências da Penetração Portuguesa

A penetração portuguesa teve como consequência a (1) difusão de plantas, animais, (2)
intercâmbio de culturas, (3) formação de comunidades mistas, (4) acumulação de capitais
(capitalismo). Para os nativos, a colonização significou (5) pilhagem de suas riquezas, (6)
destruição dos seus bens e culturas, (7) destruição de sua unidade administrativa, e, em alguns
casos (8) eliminação física quase total.

A penetração mercantil Arabe-Persa e os Estados Afro- Islâmicos da Costa Norte de Moçambique

Os árabes chegam a Moçambique nos sécs. IX-XIV e fixam-se primeiramente no vale da costa
moçambicana concretamente na Ilha de Moç. e Quelimane. Os mercadores asiáticos, provenientes do
Golfo Pérsico, fizeram uma fixação lenta e progressiva; na costa oriental africana, foi só no século XIII
que se fixou maior número dos emigrantes em entrepostos comerciais. Teve como impacto árabo-swahil
não só (1) as actividades comerciais, (2) as migrações por mar, (3) os casamentos e contactos entre os
grupos locais e os árabes, mas também (4) deram origem às diferenciações regionais a nível cultural
(“línguas costeiras”: Muani - na costa de Cabo Delgado, Nahara na Ilha de Moçambique, Koti - em
Angoche e regiões litorais do continente vizinho) e político (surgimento das chefaturas e reinos afro-
islâmicos da costa: Sultanatos e Xeicados); dá-se também (5) misturas de raças com núcleos lingüísticos
diversos.

Os Reinos Afro-Islâmicos: Xeicados e Sultanatos


a) Sultanato de Angoche

Fala-se que Quelimane e a Ilha de Moç. teriam sido fundadas por refugiados vindos de Quiloa
antes da chegada dos portugueses (1498). Os dirigentes da expedição (Mussa e Hassane) fixaram-
se na Ilha de Moç. e Quelimane, respectivamente. Falecido Hassane, Mussa, reconhecendo que
Angoche reunia melhores condições sócio-económicas e comerciais do que Quelimane, instalou
Xosa, filho de Hassani, como Sultão.

29 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Daí que Angoche passou a ser lugar ideal para tráfico de ouro e marfim, visto que a capital dos
Muenemutapas mudara para próximo do Zambeze e a abertura de novas rotas comerciais seguindo
o rio.
Em 1511 os portugueses atacaram Angoche e incendiaram a povoação. Prenderam o sultão e
tentaram, por vias indirectas, minar as influências do sultanato, o que não conseguiram pois os
afro-islãmicos continuaram a comercializar com Melinde, Mombaça e Quiloa. O fim do primeiro
período de prosperidade de Angoche data a quanto a fixação dos portugueses no vale Zambeze -
séc. XVIII.

b) Xeicado de Sancul

Forma-se no séc. XVI; os seus fundadores são vindos da Ilha de Moçambique. Os seus povos
tinham um considerável intercâmbio com o exterior. O xeque de Sancul foi assassinado em 1753
pelo comandante de uma força portuguesa. Em 1880, foi capturado Makusi Omar, capitão-mor de
Sancul e o mais activo e importante negociante de escravos. No seu lugar entra Hassan Molidi -
1880. Suali Bin Ibrahimo (Marave), capitão-mor de Sancul derrotou os portugueses em Magenga
em 1896 e foi xeique de Sancul.

C) Xeicado de Quitangonha

Forma-se no séc. XVI. Os seus fundadores partiram da Ilha de Moçambique. (1515-1585). Em


1755 chegam os franceses a busca de escravos para as sua plantações; estes perturbaram a aliança
entre os chefes e as autoridades portuguesas. Morto o xeique de Quitangonha, Amadi Abdulah, em
1884, Mahmud Amde (seu filho) passou a ser xeique. O último acto de revolta dos xeiques de
Quit. Verificou-se em 1903-1904 quando a política portuguesa de “ocupação efectiva” decorria
tendo o xeique atacado Mossuril.

30 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
d) Xeicado de Sangage

Desde a sua formação esteve sujeito ao sultanato de Angoche, e só estabelece a sua autonomia no
primeiro quartel do séc. XIX. Para se livrar desta dependência, o xeque fez alianças com a
administração portuguesa, dirigentes de Sancul, mercadores baneanes da Ilha de Moç. A sucessão
em Sangage era matrilinear o que relacionou os dirigentes daqui e um grupo determinado de
mulheres macua. Em 1912, desencadeou-se uma luta contra os portugueses numa aliança com os
dirigentes de Sangage, chefes macuas da região: Ibamela e Kubala-Muno.

Algumas Considerações
O impacto árabo-suahil (com as suas trocas comerciais, migrações e guerras) fez surgir
diferenciações regionais a nível cultural, político (chefaturas e reinos), linguístico e de costumes,
etc., especialmente entre os macuas na costa e os Ajaua.

AL-MASUDI, refere, em 943 n.e., que Bilad as Sufalas (terra de Sofala=terras baixas) estava
dependente de Sayuna (foz do rio Zambeze); afirma também que Zanga (negros islamizados da
África Oriental) controlavam o Hinterland a partir das cidades costeiras.

As crenças na feitiçaria e nos curandeiros exprimiam os conflitos sociais, dependências


familiares, coesões sociais.

MPONDORO - culto territorial frequente nos Chonas; MWÁRI - culto assistido por especialistas.

A partir do século X, os mercadores árabes que demandavam as costas de "Sofala" foram


difundindo o islão entre as populações costeiras, mas foi apenas após a instalação em Zanzibar
dum xeicado dependente do sultanato de Oman, no século XVII, que começaram a organizar-se
pequenos estados de organização islâmica.

O Império de Gaza

O Estado de Gaza foi fundado por Sochangane (também conhecido por Manicusse, 1821-1858) como
resultado do Mfecane, um grande conflito despoletado entre os Zulu por consequência do assassinato de
Chaca (ou Shaka) em 1828, que culminou com a invasão de grandes áreas da África Austral por
31 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
exércitos Nguni. O Império de Gaza, no seu apogeu, abrangia toda a área costeira entre os rios Zambeze
e Maputo e tinha a sua capital em Manjacaze, na actual província moçambicana de Gaza.

O rei de Gaza dominou os reis Tonga (possivelmente o mesmo que Tsonga, da língua chiTsonga, a
língua actualmente dominante na região sul de Moçambique) através dos membros da sua linhagem, os
Nguni, comerciando marfim, que recebia como tributo, com os portugueses, estabelecidos na costa
(principalmente em Lourenço Marques e Inhambane).

Aparentemente, Sochangane não fazia comércio de escravos - os seus guerreiros eram principalmente da
sua linhagem -, nem devolvia aos portugueses os escravos que fugiam para a sua guarda.

Com a sua morte, sucedeu-lhe o seu filho Mawewe que decidiu, em 1859, atacar os seus irmãos para
ganhar mais poder. Apenas um irmão, Mzila (ou Muzila) conseguiu fugir para o Transvaal, onde
organizou um exército para atacar o seu irmão. A guerra durou até 1864 e, entretanto, a capital do reino
mudou-se do vale do rio Limpopo para Mossurize, a norte do rio Save, na actual província moçambicana
de Manica.

Foi em Mossurize que, em 1884, ascendeu ao trono Nguni, Gungunhana, filho de Muzila. Gungunhana
regressa a Manjacaze em 1889, aparentemente pressionado pelos exploradores de ouro de Manica e falta
de apoios locais. Em Gaza, Gungunhana prosseguiu a política de seu pai de assimilação dos reinos
locais, os "Tonga" e de resistência à dominação portuguesa, mas essa resistência não durou mais de seis
anos. Gungunhana foi preso e Gaza finalmente submetida à administração colonial.

Estados Militares do Vale do Zambeze

Os estados militares do vale do Zambeze surgem em 1820 e 1835, em conseqüência de:

 o exército do decadente Estado dos Muenemutapas lançou vários ataques aos prazos da margem
esquerda do Zambeze, provocando o abandono dos prazeiros com seus A-chicunda e
populações em geral;

32 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
 cerca de 1840, os Nguni tinham ocupado 28 dos 48 prazos ainda existentes, como algumas
chefaturas independentes;
 o tráfico de escravos no vale do Zambeze, o qual dependia do mercado brasileiro - milhares de
camponeses inclusive os próprios A-chicunda foram exportados. Os últimos fugiram para reinos
e estados vizinhos.
 A dominação de classes nos Estados Militares é produto da penetração mercantil portuguesa e,
para tal, eles adoptaram os ritos de investidura dos reis Cheua, assegurando existência de um local
sagrado no qual se apaziguava os espíritos (mudzimu). Também os chefes conseguiam assegurar a
reprodução das relações de produção através da política de aliança matrimonial com principais reis
locais. O primeiro Estado a surgir foi o de Macanga a norte de Tete, por Gonçalo Caetano Pereira
(Dombo Dombo = terror). O Estado de Makololo foi fundado em 1856; Massingire, Massangano,
Maganja da Costa, Gorongosa, Matequenha, Barue, etc

 Tarefas dos A-chicunda:


 proteger as fronteiras dos Estados (prazos) contra ameaças externas;
 sufocar revoltas internas;
 atacar os estados vizinhos para obter escravos;
 capturar escravos para a venda.
Muzimu - Espíritos dos ancestrais praticados nos Estados militares do Zimbabwe, e também em
Moçambique, sobretudo em toda a região centro.

Factores que levaram a colonização de África:


 divisão e atraso tecnológico de África;
 busca de matérias-primas para as indústrias europeias;
 competição entre as potências (luta pela supremacia na Europa);
 alianças com os chefes africanos;
 Conferência de Berlim.

33 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Conferência de Berlim (1884-1885)
A Conferência de Berlim realiza-se na Alemanha, por iniciativa da Alemanha. A Alemanha tinha
ambições expansionistas e, como tal, pretendia criar um império colonial. Portanto a Alemanha,
aproveitando a questão do Congo (disputada pela França e Bélgica), promoveu a Conferência
Internacional de Berlim e, com ela, a Partilha da África.

A Conferência de Berlim tinha como objectivos: (1) regular a liberdade de comércio na bácia do
Congo-Níger, bem como nas novas ocupações de territórios na África Ocidental. Era preciso,
portanto, (2) definir as modalidades do acesso às áreas de interesse comum de navegação e de
comércio, visto que as tentativas de monopolizar as principais vias de acesso ao interior do
continente (bácia do Congo, Níger e Zammbéze) e os mercados privilegiados junto aos rios,
ameaçavam o equilíbrio das forças ocidentais.

Nesta Conferência participaram 14 potências (Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Espanha,


Portugal, Noruega, Turquia, EUA, Inglaterra, Itália, Holanda, Dinamarca e Suécia). É de salientar
que algumas delas (Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Itália e Turquia) já tinham colónias ou
interesses territoriais em África, e outros (como Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Noruega,
EUA e Holanda) estavam interessados apenas no livre comércio com África. Não é menos verdade
que a Conferência, ao abordar sobre a delimitação das fronteiras das colônias, quis evitar conflitos
armados.

Em 26 de Fevereiro de 1885, o Acto Geral da Conferência contemplava (1) liberdade de comércio


na região do Zaire, e (2) navegação no Zaire e no Níger, (3) abolição do tráfico de escravos e as
regras sobre uma Ocupação Efectiva. O termo Ocupação Efectiva foi a novidade trazida pela
Conferência de Berlim, e que consistia em a potência garantir não só a ocupação mas também
assegurar a exploração dos territórios ocupados.

34 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
O estabelecimento das fronteiras de Moçambique e as rivalidades imperialistas

Centro

Em 1887 surge uma disputa entre o britânico Cécil Rhodes e o português Henrique Barros na
sequência de aquele (Rhodes) querer unir e fazer um corredor Cairo-Cabo (Norte e Sul de África) e
este (Barros) propôr o “Mapa Cor-de-Rosa” que ia contra as pretensões britânicas. Visto que
Inglaterra recusava o projacto “Mapa Cor-de-Rosa” (Moçambique-Angola), Portugal faz aliança
com Alemanha (1886) concedendo-lhe Namíbia. Alemanha não acedendo ao ‘pedido’, os ingleses,
em 1890, enviam a Portugal um ultimato (48 horas) para retirar os seus militares no Chire e na
Mashonalândia, com o perigo de intervensão militar e corte das relações diplomáticas, caso não o
fizesse. Portugal não o cedendo, Rhodes, com as suas tropas da B.S.A.C., prende Paiva de Andrade
e faz construir o forte de Salisbury, em 1891. Assim se estabelece a fronteira com a Zâmbia,
Malawi e Zimbábwe e Natal que mantém até hoje. E para evitar que os britânicos viesse a ocupar
novas regiões, os potuguêses encentaram “campanhas de pacificação” para dominar os povos e
estabelecer uma ocupação efectiva dos territórios.

Portanto, foi entre conflitos, arbitrariedades e tratados que se definiu o traçado das actuais
fronteiras do nosso país. Enfim, podemos afirmar que a sua delimitação começou com o despertar
do interesse dos Britânicos em relação à baía de Maputo, pois viam nela uma excelente saída dos
produtos do Cabo para o mar e facilidades na aquisição de mão-de-obra.

Norte

O conflito é com a Alemanha que tinha ocupado o Tanganhica (Tanzania) e hasteado a sua
bandeira em ambas as margens do Rovuma. Em 1894, penetrou na margem sul, expulsando os
portugueses. Portugal reclama, mas a Alemanha alarga a sua ocupação ate Quionga, área que só
voltaria a Portugal após a IGM (1914-1918). Por essa região transitou uma força alemã no decorrer
da Guerra, que chegou até Namacurra, atacando uma fabrica da Companhia do Boror, destruíndo
vidas, casas e haveres do campesinato.

35 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Portanto, o estabelecimento das fronteiras de Moçambique, não foi do século XV ou XVI, mas
sim, da “corrida imperialista”; não foi um processo pacífico, mas exprimiu a tensão e as
contradições das principais potências capitalistas europeias. Será definida no Tratado de Versalhes
(28 de Junho de 1919-1920). Em 1919, a Companhia do Niassa organizou uma expedição contra os
Macondes último foco de resistência armada à ocupação colonial nessa época.

Tradado de Windsor
Realizado em 1899 entre Portugal e Inglaterra no qual Inglaterra tinha obrigação de proteger a
integridade territorial portuguesa contra todos os inimigos presentes e futuros, enquanto que os
portugueses se comprometeram a permanecer neutrais em caso de conflito na Áfrcia do Sul e
proibir qualquer tráfico de armas pelo Porto de lourenço Marques.

Os dois bancos então existentes na Beira, Standard Bank Of South Africa e o Bank Of Africa,
funcionavam com capitais ingleses.

Sul

Foi entre conflitos, arbitragens e tratados que se traçou a fronteira Sul de Moç., ora vejamos: os
ingleses queriam anexar a Baía do Maputo porque: (1) com a colonização britânica no Natal, havia
necessidade de mão-de-obra na área de Maputo; (2) os britânicos queriam controlar todas as vias
de comunicação, especialmente de Maputo, por onde os Zulu importavam armas de fogo; (3)
desejo inglês de anexar a República do Transvaal e Maputo que, para eles, era estratégicos para
operações.

Frente a esta situação os portugueses fizeram um tratado (1869) com Transvaal reconhecendo-lhe
os direitos territoriais até 26º30’ Sul e sendo montes Libombos como a fronteira de Moçambique
com Suazilândia e com a parte oriental do Transvaal. Mas o tratado poucos resultados práticos
trouxe o que suscitou, em 1875, a arbitragem internacional do Presidente francês, Marechal MAC-
MAHON, que reconheceu a soberania plena de Portugal em Lourenço Marques e nas áreas
adjacentes.

36 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
As resistências a ocupação efectiva

a) Sul de Moçambique

Matibjane, chefe de Zixaxa e Munguduane, chefe de Moamba, negaram a aliança feita pelos
portugueses e juntaram-se aos guerreiros de Mahazul. Face aos ataques destes, Portugal envia mais
exércitos chefiados por António Enes ao governador de Lourenço Marques, Mouzinho de
Albuquerque.

Ngungunyane, imperador de Gaza, foi prezo a 28 de Dezembro de 1895, e juntamente com


Matibjane, foi deportado para a Ilha dos Açores onde morre. Assim os portugueses começam a
vencer a partida. São tidas como causa das derrotas: (1) superioridade dos portugueses em termos
de armamento, (2) falta de unidade entre os moçambicanos, e também (3) traição de alguns chefes
nativos.

Como personagens da resistência no Sul de Moçambique temos: Ngungunyane, Mahazul,


Nuamantibjana, Maguiguane, Ncuanaze.

b) Centro de Moçambique

Esta zona tinha um elevado grau de militarização das formações políticas da região herdado do
período de caça e do tráfico de escravos. Daí que Portugal para vencer esta região tinha que pedir
muita ajuda quer interna, quer externa, ter grande mobilização de recursos (1897/9). Báruè (fruto
da desagregação de Mutapa) criou muitos problemas aos portugueses, e o recurso aos
recrutamentos de tropas em Angola, Lourenço Marques, Nguni, e o auxílio militar das Rodésias e
da Niassalândia, fez com que Báruè fosse dominado (em 1902) pelos portugueses. Temos como
chefes da resistência de Báruè: Cambuemba que reúne seus guerreiros com os A-chicundas dos
prazos, e empreende as fortificações Aringas (espécie de Zimbabwe), Mocombe, Hunga, Mafunda
e Cadendere.

37 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
c)Norte de Moçambique

São notórios os Namarrais (Monapo, Ilha de Moçambique.) com os chefes Mucutu-Muno e


Ibraímo. Outros chefes a distinguir: Farlahi de Angoche, Mataca no Niassa e Mussa-Quanto em
Nampula. O ataque a Parapato 1905 levou a destruição de vários armazéns e quartéis. Farlahi foi
prezo em 1910 e deportado para Guiné onde veio a morrer em 1912. Por vias fluviais (e só por
estas), os portugueses conseguem dominar Nampula (1896/7), Cabo Delgado (1890) e Niassa
(1920).

POLÍTICA COLONIAL PORTUGUÊSA NA OCUPAÇÃO DE MOÇAMBIQUE - SÉC.


XIX

A penetração colonial, na maior parte do nosso País, foi feita através de Companhias as quais
ocupavam cerca de 2/3 de Moçambique. Portugal, país colonizador de fraco poder, não conseguiu
sozinho ocupar, dominar e administrar um território tão vasto como Moçambique. Por isso, deu aos
capitalistas estrangeiros: ingleses, franceses, alemães e belgas a autonomia de criarem companhias
monopolistas - sociedades que detinham o monopólio de certos produtos. Daí que em 1891 deu a
capitalistas portugueses e estrangeiros (franceses, ingleses,) as regiões compreendidas entre o rio
Zambeze e o rio Save, o que deu a Companhia de Moçambique. Em 1892, deu a outros capitalistas
portugueses e britânicos as regiões do Niassa e Cabo Delgado, o que deu a Companhia do Niassa;
e em 1892 funda-se a Companhia da Zambézia que compreende os prazos da Zambézia e Tete.
Assim temos as companhias do Niassa e de Moçambique (majestáticas), e as da Zambézia, Boror
Société du Madal, Luabo, Sena Sugar Estates, etc. (concessionárias).

Ficava sob controlo directo de Portugal somente Nampula e Sul do Save, regiões que constituíam
quase que uma espécie de reserva de mão-de-obra para as minas da África do Sul (Transval), sob o
contrato de algumas rendas e salários deferidos dos mineiros. Também Portugal beneficiava-se
uma parte do produto (ouro) produzido pelos “seus” homens.

38 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
AS COMPANHIAS
1. MAGESTÁTICAS

São as grandes companhias que recebiam permissão de sua majestade: eram autorizados
directamente pelo rei de Portugal a explorar as terras do seu domínio e a conceder terras a
pequenas companhias (concessionárias). Aqui a presença da burguesia portuguesa não se fazia
sentir pois elas tinham muito poder.

a) Companhia de Moçambique

Compreendia uma área de 134822 km2 limitada entre o rio Zambeze (norte e noroeste) e o paralelo
22º (sul) e entre o Índico (este), e a Rodésia do Sul (oeste); compreendia portanto as actuais
províncias de Sofala e Manica. Durou quase 45 anos (1897-1942), quando o decreto de Maio de
1897 fixou definitivamente o prazo da sua validade jurídica como Companhia Soberana, indicando
para o termo do contrato a ano de 1942. São ditas como causas de sua implantação: a criação da
British South Africa Company (B.S.A.C.) na Rodésia do Sul, a qual sentia necessidade de manter
uma companhia com idênticas características (privilégios político-económicos) na zona de
influência portuguesa. As acções para a sua formação começam em 1878, por Paiva de Andrade
com a Société des Fundateurs de la Compagnie Général du Zambeze (1888); falida esta, em 1893,
cria a Companhia de Ophir em 1884, que também viria a cair. Daí que em 1888-1889 forma a
Primeira Companhia de Moçambique. Produzia algodão, sisal, cana de açúcar, milho, tabaco, etc.
Para tal, a Comp. Implementou o trabalho forçado (Xibalo), cultivos obrigatórios e o pagamento do
imposto de palhota (1000 reis anuais) que só seria possível tê-lo trabalhando nas plantações da
Companhia. Os territórios do Sul do Save da Companhia tinham o nome de Goruvro. A Beira
Railway Company era privilégio de sua subconcessionária estabelecer meios de comunicação com
a Rodésia. As terras sob seu domínio já não pertenciam ao rei de Portugal, mas à Companhia com
o seu 1º governador: Joaquim J. Machado.

39 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
É de salientar que a ocupação de Manica e Sofala pela Compª. Majestática de Moç. marca, na
história da região, a transição do período mercantil para o período de dominação imperialista;
começa, desde então, a produção capitalista no território, especialmente do capitalismo colonial.

Direitos da Companhia

Exploração dos territórios e da população que estavam sob seus domínios; monopólio do
comércio; concessões mineiras e de pesca costeira; colectar taxas e impostos de palhota e de
capitação (mussoco); exploração de mão-de-obra para países vizinhos; construir e explorar vias de
comunicação (estradas, portos, pontes, caminhos-de-ferro); conceder terras a terceiros; privilégios
bancários e fiscais (emitir moedas e selos).

Deveres
Pagar 10% dos dividendos distribuídos em 7,5% dos lucros líquidos totais; tinha o dever de manter
a sua sede em Lisboa e dever de amanter-se Compª. Portuguesa no estatuto (formalmente a Compª.
tinha de ser portuguesa); entregar os territórios ocupados após expirado o contrato.

Política concessionária
Ela baseava-se no direito de posse sobre a terra conferido por uma Carta Concessionária, fazendo
assim o arrendamento de terra para as áreas da: (1) Agricultura - concessão do Prazo Gorongoza à
Compª. de Gorongoza (1895), prazo de Chupanga à Compª. de Luabo, concessão de terrenos em
Marromeu, Buzi e Moribane à Sociedade Açucareira da África Oriental (1900). Isto originou a queda
do campesinato africano que se viu privado das suas terras mais férteis e favoráveis à prática da
agricultura; (2) Mineração - concede títulos de exploração de pedras e metais preciosos e de minas em
geral em Macequece, Manica; (3) Construção - portos e vias de comunicação, o que resulta na
construção do Porto da Beira e Linha Férrea pela The Port of Beira Development Corporation. Esta,
para tal, instalou a Delegação do Serviço dos Negócios Indígenas para recrutar a mão-de-obra.

Algumas considerações

John MOFFAT, em 1888, faz um acordo com Lobengula, filho e sucessor de Mzilikazi (chefe dos
Matabele), no qual sustentava que a Companhia Britânica da África do Sul (BSAC) foi autorizada pelo

40 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
governo britânico a proceder a ocupação da Matabelândia e da Mashonalândia, e a vender terras aos
colonos europeus e explorar os seus recursos minerais.

b) Companhia do Niassa

A 2ª Comp. Majestática (com privilégios de ocupação, administração e exploração da área ocupada),


explorando 25% do território moçambicano (todo o extremo norte) desde 1991. Compreendia a área
entre os rios Rovuma (norte) e Lúrio (sul), o Oceano Índico (este) e Lago Niassa (oeste). Portanto, a
Companhia do Niassa ocupava várias áreas deixadas pelo Estado português; todavia, sem capitais para
investir e gerir toda essa extensão de terras, a companhia começou com uma máquina assente nas
baionetas, sipaios e administradores. A resistência maconde foi uma das últimas da Companhia e de
Moçambique. E com domínio dos macondes Portugal, em sinal de reconhecimento e ‘agredecimento'
aos proprietários da companhia, concede-lhes privilégios magestáticos, por 35 anos; a companhia só se
instala em Outubro de 1894. Ela obrigava os camponeses a cultivar milho, arroz, mexoeira, gergelim,
feijão, mandioca, café, goma copal, urzela e cera que levava para o sul de Moçambique. e Zanzibar; e
também obrigava os camponeses a entregar à companhia marfim, pau-preto e borracha que tivessem.

A Companhia foi comprada por capitais franceses e ingleses. Não tinha muita capacidade financeira,
razão pela qual passava de um accionista para outro: 1897-1913 - Ibo Syndicate; 1899 - Ibo Investiment
Trust; 1909-1913 - Niassa Consolidated onde o consórcio bancário alemão adquiriu a maioria.
Constituem um conjunto de empreendimentos económicos que arrendavam terras, ou do Estado colonial
português, ou da Companhia. Ocupavam-se apenas na exploração económica, reconhecia a soberania
territorial de Portugal ou da companhia. Daí que não tinham os mesmos privilégios que as majestáticas.
Desenvolveram não só o sistema de plantações, mas às vezes podiam se ocupar da exploração da mão-
de-obra. Aqui a burguesia portuguesa apresentava-se como “agentes de autoridade” pois tinha muito
poder e influência.

a) Companhia da Zambézia

Fundada em Maio de 1892 e relíquia de Paiva de Andrade, ocupava as áreas de Chire, fronteira
com Niassalândia e a futura Rodésia do Norte, entre Zumbo e Luenha. Ela nasce da fusão da
41 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Sociedade dos Fundadores da Companhia Geral da Zambézia (1880) com a Central Africa And
Zouthamberg Exploration Company. Explorava parte dos territórios da Zambézia e Tete; foi uma
dais extensas companhias. Subjugou as companhias já existentes em Quelimane. Ela foi uma
máquina de conquista de terras insubmissas do distrito de Tete e depois Quelimane, onde extraía o
imposto de capitação (mussoco) e os trabalhadores para os trabalhos agrícolas. Nos seus primeiros
10-15 anos, a Comp. teve actividades repressivas e predatórias. Com o progresso da “pacificação”,
as terras altas de Quelimane e Angónia, depressa se revelaram como reservatórios de mão-de-obra
importada para a África do Sul e depois para S. Tomé. Quelimane ia conhecer, pelo menos, 5 a 6
novas companhias que iriam desempenhar um papel determinante no plano económico (Compa.
de Boror, Luabo, Compa. De Açúcar de Moç., Maganja Sociedade do Madal, etc.). É de salientar
que a Compa. da Zambézia não tinha privilégios pois era concessionária.

b) Companhia do Boror Société du Madal - 1898;

c) Société du Madal - 1904;

d) Empresa Agrícola do Lugela - 1906

e) Sena Sugar Estates - 1920, predecessoras: Companhia do Açúcar -1890 e Sena Sugar Factory -
1910.

Algumas Considerações
Trabalho Forçado - o governo colonial português criou leis para forçar os moçambicanos a
trabalharem na construção de estradas, edifícios, pontes e linhas férreas e nas plantações. A
primeira lei foi publicada em 1899: «..todos os indígenas têm a obrigação de trabalhar... Têm
liberdade de escolher a maneira de cumprir essa obrigação...» (AA. VV. História de
Moçambique, Vol. II, UEM, Fac. De Letras, Dept. De História, Maputo 1983, p. 91)

O trabalho forçado nas plantações das companhias fez com que os produtores emigrassem para
áreas controladas pelo governos ou para áreas de companhias menos exigentes.

Xibalo - nome dado ao trabalho forçado no Sul de Moçambique. O Xibalo e o Mussoco (imposto
de Capitação) tiveram como consequências: pessoas que emigram para países vizinhos,
42 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
especialmente para as minas da África do Sul ou para as grandes machambas das colónias inglesas
das Rodésias e da Niassalândia, pois os ingleses e os sul-africanos pagavam-lhes salários mais
altos. O governo colonial, ante esta situação, fez um acordo com a África do Sul: «...uma parte dos
salários dos mineiros moçambicanos deveria ser pago em barras de ouro ao governo
português...».Neste salário era também descontado imposto de palhota dando apenas ao mineiro ou
à família o que sobrava. Foi assim que Portugal ficou rico de ouro e libra, a partir de mineiros
moçambicanos.

A administração Colonial Portuguesa em Moçambique

Desde o séc. XVI, já havia governadores em Moçambique que governavam algumas regiões. Daí
que o território foi dividido em nove (9) distritos com nove governadores e depois em Conselhos
e Circunscrições, chefiadas por administradores. As circunscrições foram subdivididas em Postos
chefiados também por administradores, ajudados por Régulos; estes Régulos (1) garantiam o
controlo dos estranhos que entrassem no regulado sem passe válido, (2) cobrança de impostos de
palhota, (3) mandar prender pessoas para o Xibalo e recrutar pessoas para as plantações das
companhias ou minas da África do Sul, (4) indicar os trabalhadores, carregadores e recrutas para o
exército do governo português, (5) evitar o estabelecimento de negociações com British South
Africa Company (BSAC) de Rhodes. Os Sipaios ajudavam os régulos a prender pessoas que
recusavam o pagamento do imposto de palhota.

Pela Reforma Administrativa Ultramarina de 1933, a administração local ficou sujeita ao


mandato efectivo de Lisboa, assegurando-se assim os interesses da burguesia portuguesa.
Estabelece-se, pela primeira vez, um regime de Inspecções Administractivas, com o fim de
verificar o grau de cumprimento dos regulamentos vigentes. As informações recolhidas pelas
inspecções administrativas proporcionaram ao Ministro das Colónias o controlo dos
administradores e a tomada de novas medidas necessárias à administração local.

Ascenção do Regime Salazarista em Portugal

O Estado Novo, saído do golpe de Estado de Maio de 1926, em Portugal, ganhou vulto a partir de
1930 e solidificou-se em 1932, com a chamada de Salazar, então Ministro das Finanças entre 1928
43 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
e 1932, para a presidência do Conselho. O governo de Salazar surgiu como uma componente
agrária muito forte. Teve a funçaõ de criar condições para consolidação da burguesia e acelerar a
acumulação de capital, através da repressão dos trabalhadores e da intensificação da exploração
colonial.

O “Estado Novo” Português (Naciolisamo Económico de Salazar)


Até 1910 Portugal vivia a Monarquia que foi substituída pela República. Desde Abril de 1924-25
que Portugal saíra do golpe de Estado chefiado por Gomes da Costa, procura-se substituir a
República; procura-se sanar a instabilidade política e económica consequência do golpe. É daí que
se elege Salazar como chefe apropriado para tal. Contudo, só em 1930 que Salazar começa com o
seu Nacionalismo Económico.

Salazar implantando a ditadura (fascismo português) procura fazer um certo proteccionismo da


economia quer de Portugal, quer das colónias. É assim que (1) começa a participar intensa e
directamente nas plantações e na exportação da mão-de-obra para a África do Sul, (2) começa os
cultivos obigatórios: tabaco, sisal, algodão, cana-de-açucar que nada interessava aos camponases,
mas ao colonialismo português, (3) começa a controlar rigorosamente a saída da mão-de-obra para
dela ter lucros vindos dos pagamentos deferidos.

O proteccionismo
A reacção inicial dos países industrializados à crise mundial e, em particular ao desemprego, foi
aumentar o grau de protecção das suas indústrias contra a concorrência estrangeira, proibindo
importações de artigos manufacturados ou anerando-os com direitos alfandegários pesados e
favorecendo, cada vez mais, as importações de matérias-primas das suas próprias colonias.

Em Portugal, a crise mundial de 1929-1934 reforçou a estratégia esboçada desde 1926 que
consistia na (1) valorização dos recursos de Moçambique no interior da burguesia portuguêsa,
através da (2) exploração directa e mais intensa da população moçambicana, (3) redução ao
indispensável o uso de capitais nacionais e estrangeiras, (4) o governo evita grandes obras de
fomento e a fixação dispendiosa de colónos, (5) aproveitando, mais e melhor, o camponês no
trabalho constante da terra.

44 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
A expressão real do “Nacionalismo Económico” português manifestou-se no Acto Colonial e na
Carta Orgânica do Império Colonail Português de 1930, que desenvolveram riogorosamente os
princípios já delineados em 1926. Essa legislação marcou o fim da autonomia formal da província
de Moçambique, que passou a designar-se “Colónia”. O “Nacionalismo Económico” centralizou os
poderes legislativos e financeiros nas mãos do Ministro das Colónias (Saiilazar), e visava colocar
Portugal a par das restantes potências colonizadoras, em termos de capacidade de dominar os
territórios ultramarinos.

BIBLIOGRAFIA GERAL

A guerra dos reis Vatuas do Cabo Natal, do Maxacane da Matola e demais Reinos vizinhos contra o
Presidio de Lourenço Marques. Maputo: AHM,1995.

BRAIN, Fagan. Africa Austral. Lisboa:Verbo, 1972. P 103-123.

BEACH, David. A evolução das tradições da dinastia Mutapa in: Arquivo n 16. Maputo: AHM, 1994. p
.135-197.

COSTA, António Nogueira da. Elementos para uma análise das formas e níveis de circulação dos bens
materiais do Monomotapa, sec. XVI e XVII. Maputo, UEM, 1977.

COSTA, Nogueira da. Penetração e impacto do capital mercantil Portugues em Mocambique nos
séculos XVI-XVII. Maputo: UEM/Departamento de História, 1982. 77p.

DAVIDSON, Basil. Revelando a Velha África. 2.ed.Lisboa:Prelo,1977. p.237-274

DIAS, Manuel Nunes. A penetração no continente e a tentativa de cristianização do Monomotapa. In:


Luís Albuquerque (dir.). Portugal no mundo. Lisboa, 1989

FELICIANO, José Fialho. Comércio e acumulação nas socidades moçambicanas. In Actas do


Seminário: “Moçambique: Navegações Comércio e Técnicas” (Maputo, 25 a 28 de Novembro de 1996),
Faculdade de Letras Eduardo Mondlane de Maputo, Comissão Nacional para as Comemorações dos
Descobrimentos Portugueses (Org.). Lisboa, C.N.C.D.P., 1998. p.p. 351 – 360.

45 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
GERHARD, Liesegang. Vassalagem ou Tratado de Amizade? História do Acto de vassalagem de
Ngungunyane nas Relações Externas de Gaza

KI-ZERBO,Joseph. História da África Negra. 4.ed. Paris: Mem Martins, 2009. Vol 1. P239-242.

LOBATO, Alexandre. Os Austríacos em Lourenço Marques. Maputo: AHM, 2000.

MEDEIROS, Eduardo da Conceição. História de Cabo Delgado e Niassa (cerca de 1836-1929).


Maputo, 1997.
MEDEIROS,Eduardo da Conceição. As Etapas da Escravatura no Norte de Mocambique.
Maputo:UEM/AHM,1988

NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Lisboa, Europa-América, 1997.

PAPAGNO, Giuseppe. Colonialismo e Feudalismo. A Questão dos Prazos da Coroa. Lisboa,


PALGRAVE, 2000.

PELISSIER, René. História de Moçambique, Formação e Oposição, 1854-1918, Volume I. Lisboa,


Editorial Estampa, 1987.

ROCHA, Aurélio . Os afro-islâmicos da costa de Moçambique. A terra e os homens. In: Ilha de


Moçambique, Conferência de Povos e Culturas. S.l., AIEP Editora, 1999.

ROCHA, Aurelio. Moçambique. Historia e Cultura. Maputo: Texto Editores, 2006. p .21-22.

RITA-FERREIRA, A. Bibliografia Etnográfica de Moçambique; das origens à 1954 (O grupo Marave).


Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar, 1962.

SERRA, Carlos. Como a penetração estrangeira transformou o modo de produção dos camponeses
moçambicanos. Maputo, Núcleo Editorial da Universidade Eduardo Mondlane, 1986.

SOUTO, Amélia Neves. Guia Bibliográfico para Estudante de Historia de Moçambique. Maputo, 2006

46 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e


Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire

Você também pode gostar