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UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA
QUELIMANE
2013
INTRODUÇÃO
A presente sebenta versa sobre os conteúdos que serão leccionados na Cadeiras de Historia de
Moçambique do século XVI ate século XVIII do Curso de Licenciatura em Ensino de Historia com
Habilitações em Geografia, ministrado na Universidade Pedagógica Delegação de Quelimane. A
disciplina tem como objectivo geral, compreender as principais transformações económicas, politicas,
sociais e culturais ocorridas no contacto entre Moçambicanos e outros povos em particular os árabes e os
portugueses, também visa desenvolver, o espírito de pesquisa e de interdisciplinaridade em Historia de
Moçambique, bem como a valorização da investigação cientifica tendo como base, o estudo da Historia.
A cadeira e fundamental para o curso de Historia visto que, um dos objectivos e a compreensão da nossa
própria Historia, ou seja perceber a evolução da sociedade Moçambicana a nível politico, económico,
social, cultural, etc desde a sociedade de caçadores e recolectores, as primeiras sociedades sedentárias e
o surgimento dos primeiros estados, a sociedade Moçambicana durante o período colonial. Os principais
temas a serem abordados nesta cadeira são basicamente três. O comércio de Ouro, de Marfim e de
Escravos.
De referir que a comercialização dos produtos acima mencionados contribuiu para o desenvolvimento
politico, económico, social e cultural das instituições politicas Moçambicanas embora em períodos
diferentes.
A Republica de Moçambique esta situada na costa sul-oriental da África entre os paralelos 10º 27΄ e 26º
52΄ de latitude sul e entre os meridianos 30º 12΄ e 40º51΄ de latitude Este. A superfície de Moçambique e
de 799.380km/2 (786 380mk/2 terra firme e 13000 km/2 de superfície das aguas interiores), tendo a
fronteira terrestre uma extensão de 4330 km/2. As fronteiras: a norte temos a Tanzânia, a oeste o
Malawi, a Zâmbia, o Zimbabwe, a África do Sul e com a Suazilândia. A sul Moçambique faz fronteira
com a África do Sul e a Este e banhado pelo Oceano Indico (Guia do Terceiro Mundo, 1986:213).
O RELEVO
Cerca de 44% do território Moçambicano e ocupado pela planície litoral, que tem seu maior
desenvolvimento no sul do pais.
No norte e centro do País predomina a zona de planaltos. Os montes mais elevados são: Binga em
Manica com 2436m, o Chimanimani com 2000m, os montes Mirange na serra da Gorongosa e o maciço
de Espungabera com 1050 m, os montes Domue em Angonia com 2096m, Chirobue com 2021m e
Tsangano com 1834m. Também temos as montanhas Morrumbala com 1172m as montanhas Chiperane
com 2054m, os montes Namuli com 2419m (Guia do Terceiro Mundo, 1986:213).
HIDROGRAFIA
Devido a disposição do relevo, inclinado para o Oceano Indico, os rios Moçambicanos correm quase
todos no sentido Oeste-Este. Dada a sua importância e extensão, os principais são: Rovuma que separa
No tocante aos lagos, existem em Moçambique para além de pequenas lagoas litorais, os lagos Niassa,
Chiuta e Chirua. O Lago Niassa e o maior de todos e é partilhado por três países nomeadamente
Moçambique, Malawi e a Tanzânia. A Barragem de Cahora Bassa e o maior lago artificial de
Moçambique, possui uma altura de 160metros e um potencial para gerar 4000 megawatts de energia
eléctrica (Rocha, 2006:9).
O CLIMA
Existe em Moçambique, 3 tipos principais de formação vegetal; a floresta densa, a floresta aberta e a
savana. A floresta aberta e a savana ocupam 2/3 de todo o território. O mangal aparece em áreas
restritas (Guia do Terceiro Mundo, 1986:213).
Em Moçambique a maior parte dos destinos turísticos esta localizada ao longo da costa com destaque
para as Ilhas Inhaca e o arquipélago do Bazaruto e o complexo de lagoas (Bilene, Quissico/Zavala,
Inharrime), que são apenas algumas das mais emblemáticas praias e instancias turísticas que
Moçambique possui. A norte o destaque vai para a Ilha de Moçambique, as praias de Pemba e das Ilhas
Querimbas. No interior destacam-se as zonas montanhosas, de parques e reservas em Niassa,
Gorongosa, Pafuri e Banhine, a reserva de elefantes de Maputo e as zonas altas de Lichinga, Gurue,
Chimoio/Manica e Namacha (Rocha, 2006:13).
Objectivo Geral
Compreender quem é que habitava Moçambique antes da chegada dos povos falantes de línguas
bantu;
Objectivos específicos
De referir que estes povos mais antigos que habitavam na África austral-oriental (os Khoisan) foram
mais tarde assimilados pelos novos povoadores ou simplesmente empurrados para as imediações das
zonas desérticas e semi-desérticas, pelas sucessivas vagas de imigrantes bantu, durante quase todo o
primeiro milénio d. C.
Como testemunho da presença destes povos primitivos, existem na região austral e em Moçambique em
particular, vários locais de pinturas rupestres atribuídas aos bosquimanos, hotetontes, pigmeus, estando
os mais conhecidos, localizados nas Províncias de Manica (pinturas rupestres de Chinhamapere), Tete,
Niassa e Nampula (Rocha, 2006:14).
De um modo geral pode se afirmar/concluir que antes da fixação dos povos falantes da língua bantu,
extensas áreas do território Moçambicano estavam ocupadas/ habitadas pelos Khoisan, povos com,
características primitivas.
Grupos Linguísticos
Norte: Cabo Delgado (Maconde, Macua), Niassa (Ajaua, Cheua, Nyanja, Macua), Nampula
(Macua, Koti);
Centro: Tete (Nsenga, Tauara, Zimba, Tonga, Sena), Zambézia (Chuabo, Lómuè, Macua),
Sofala ( Sena, Ndau, Teve), Manica (Chona, Báruè, Teve, Sena, Ndau);
Sul: Inhambane (Tsonga, Shangana), Gaza (Tsua, Chopi), Maputo (Ronga, Changana).
Grupos Etno-Linguísticos
Norte - Cheua
Centro - Chona
Sul - Tsonga
Nos séculos I a IV, a região começou a ser invadida pelos Bantu, que eram agricultores e já conheciam a
metalurgia do ferro. A base da economia dos Bantu era a agricultura, principalmente de cereais locais,
como a mapira (sorgo) e a mexoeira; a olaria, tecelagem e metalurgia encontravam-se também
desenvolvidas, mas naquela época a manufactura destinava-se a suprir as necessidades familiares e o
comércio era efectuado por troca directa. Por essa razão, a estrutura social era bastante simples - baseada
na "família alargada" (ou linhagem) à qual era reconhecido um chefe. Os nomes destas linhagens nas
línguas locais são, entre outros: em eMakua, o Nlocko, em ciYao, Liwele, em ci-Chewa, Pfuko e em
chiTsonga, Ndangu.
Apesar da sociedade moçambicana se ter tornado muito mais complexa, muitas das regras tradicionais
de organização ainda se encontram baseadas na "linhagem".
De facto, o ferro era tão importante que se pensa que as "aspas" de ferro - em forma de X, com cerca de
30 cm de comprimento, que formam abundantes achados arqueológicos nesta região - eram utilizadas
como moeda. Mais tarde, aparentemente esta "moeda" foi substituída por outra: tubos de penas de aves
cheias de ouro em pó - os meticais cujo nome deu origem à actual moeda de Moçambique. Com o
crescimento demográfico, novas invasões e principalmente com a chegada dos mercadores, a estrutura
política tornou-se mais complexa, com linhagens dominando outras e finalmente, formando-se
verdadeiros estados na região. Um dos mais importantes foi o primeiro estado do Zimbabwe.
MANYIKENI (1200-1500)
O estado de Manyikeni forma-se no ano de 1200 n.e. Ocupava a actual província de Inhambane
(Vilanculos especialmente).
O seu povo vivia da agricultura, caça e de fabrico de instrumentos de trabalho de ferro e fiação do
algodão para vestuário. Também a população praticava, apesar de em pequena proporção, comércio com
os árabes vindos da Península arábica através do Oceano Índico. Os de Manyikeni levavam ouro e
marfim para a costa e, em troca, recebiam missangas, tecidos e loiça fina. A decadência do Manyikeni
dá-se no ano de 1500, quando os árabes passaram a utilizar o porto de Sofala.
Manyikeni é considerado o primeiro museu arqueológico de Moçambique. No séc. XIII, fazia parte do
território Sedanda. Manyikeni é abandonado nos séculos XVI-XVII devido à fragmentação do
Zimbabwe em 1450, implantação da autoridade político-militar portuguesa em Sofala (1505) e na Ilha
de Moçambique (1507).
Os portugueses chegam a Moçambique nos finais do séc. XV (1498), chefiados por Vasco da Gama,
interessados no nosso ouro e marfim. Embarcam pela primeira vez no rio Inharime (Inhambane),
Quelimane e Ilha de Moçambique, e começam a fundar feitorias quer locais de comércio quer de defesa
contra os ataques árabes e dos chefes locais rebeldes.
Surgem assim Sena – 1530, Tete - 1537 e Quelimane - 1544. No séc. XVI tiveram contactos com chefes
dos impérios de Mutapa e Marave. No séc. XVIII, alguns portugueses e indianos foram enviados para a
região do Zambeze. Os comerciantes portugueses tinham de pagar um imposto anual conhecido por
curva que podia ser em tecidos ou outros artigos.
A actividade mercantil swahil e árabe em Moçambique data antes do séc. XI da nossa era. No início
do séc. XVI existiam alguns “mouros” no Império do Muenemutapa. O ouro era o principal artigo de
comércio. Foi o ouro que trouxe os portugueses a Moçambiqe, pois o ouro permitia-lhes comprar as
especiarias asiáticas com as quais Portugal entrava no mercado europeu de produtos exóticos. Daí que
Moçambique passou a constituir uma espécie de reserva de meios de pagamento das especiarias -
razão pela qual os portugueses se fixaram no nosso país, primeiro como mercadores e só depois como
colonizadores efectivos. A fixação fez-se primeiro no litoral: Sofala-1505, Ilha de Moçambique.-
1507. Em Sofala os portugueses esperavam controlar as vias de escoamento do ouro e do marfim do
interior que tinha em Sofala o seu terminus. Assim lutam contra os árabes-swahil. Em 1530 e 1537 os
portugueses penetram no vale do Zambeze e fundam Sena e Tete respectivamente e em 1544 fundam
Quelimane, isto não só para controlar as vias de escoamento, mas também do próprio acesso às zonas
produtoras do ouro. Em 1607, através de Gatsi Lucere, muenemutapa reinante, os portugueses
obtiveram a concessão de todas as minas do Estado. Em 1596, os mambos de Manica se revoltam
contra Gatsi Lucere, traidor da resistência dos moçambicanos permitindo a entrada e fixação dos
comerciantes e militares portugueses no seu Império. Caprazine, filho de G. Lucere, derrotado seu
Objectivo Geral:
Objectivos Específicos:
De acordo com Abraham citado por Fagan (1972:124) os primeiros Carangas / Shonas entraram na
Rodésia do Sul (actual Zimbabwe) cerca de 850 d. C. Aponta se a região do lago Tanganhica como o
Para Costa (1982:22), o Estado do Mwenemutapa surge na sequência da invasão e conquista do norte do
planalto do Zimbabwe pelos exércitos de Mutota ocorrida por volta de 1440/50.
LOCALIZAÇÃO GEOGRAFICA
Norte- Rio Zambeze; Sul- Rio Limpopo; Este –Oceano Indico e Oeste Deserto do Kalahari
O Estado de Mwenemutapa tinha como vassalos/ satelites os seguintes Estados: Sedanda, Manica,
Quiteve, Barue, Quissanga e Maungwe.
ORGANIZAÇÃO POLITICO-ADMINISTRATIVO
A estrutura do poder no Estado do Mwenemutapa era constituída pelos seguintes elementos: mambo,
fumo, encosses, mutumes, infices, as 3 principais esposas do rei e a comunidade aldeã.
No tocante aos estatutos e atribuições, importa nos apresentar as funções de cada elemento a cima
mencionado. Assim temos:
A RELIGIÃO
Quanto a religião, no Estado do Mwenemutapa praticava-se o culto do Muari, que era uma
essencialmente uma religião do povo. Também se veneravam os espíritos familiares designados por
“vadzimu”, enquanto os espíritos tribais denominavam-se “mondoro”. A comunicação com estes
espíritos era feita por intermediários chamados “swikiros”.
Tudo indica que o poder dos chefes shonas se tinha baseado nas suas faculdades como intermediários ou
no seu controlo dos hospedeiros dos poderosos mondoro, de cujas mensagens ao muari dependia a sorte
da comunidade (Fagan, 1972:126).
ACTIVIDADES ECONOMICAS
No tocante as actividades económicas no Estado do Mwenemutapa, importa referir que as mesmas iam
em função das exigências e das necessidades da aristocracia dominante, bem como das relações
comerciais com os comerciantes estrangeiros em particular os árabes e portugueses.
Segundo Fagan (1972:125), os primeiros comerciantes estrangeiros foram os árabes da costa oriental
que atraídos pelos rumores da existência no interior de um poderoso reino, penetraram no território
caranga pelos vales dos rios Buzi e Save e trocaram com os principais chefes, panos e contas por ouro
em pó e marfim.
Para Costa (1982:23), a agricultura ocupava o lugar central e constituía a actividade dominante enquanto
a pecuária, a caca, a pesca, bem como outras actividades artesanais surgem como apêndices
complementares da agricultura.
O incremento da penetração mercantil, intensificou as actividades de mineração e em menor escala, a
caca ao elefante para a obtenção do marfim (Costa, 1982:24).
Aristocracia dominante tinha no comércio a longa distancia, a sua principal fonte para a aquisição de
bens de prestígio (panos, missangas) trazidos pelos comerciantes estrangeiros cuja circulação estava
sujeita a relação de poder e de parentesco. Os panos e as missangas eram redistribuídos no seio da
aristocracia dominante com a função básica de criar e reproduzir uma hierarquia de lealdade no seio da
aristocracia e reforçar o seu poder de exploração sobre as comunidades (Costa, 1982:25).
As trocas comerciais a longa distancia constituíam ao mesmo tempo, uma fonte de reforço e de
enfraquecimento da classe dominante, um factor de estruturação e de dissolução do poder instituído
visto que estas geravam o aparecimento no seio da classe dominante, de facções rivais e em luta pela
conquista de posições de privilegio no acesso aos bens de prestigio trazidos pelos mercadores
estrangeiros (Costa, 1982:25).
E no contexto desses conflitos e outros factores associados como a erosão das comunidades aldeãs
devido a mineração do ouro em larga escala em detrimento da produção alimentar, que surgem conflitos
pelo controlo do comercio a longa distancia e vão contribuir para a decadência do Estado do
Mwenemutapa.
Leituras obrigatórias
-COSTA, Nogueira da. Penetração e impacto do capital mercantil Português em Moçambique, séculos
XVI-XVII, O caso do Mwenemutapa. Maputo: UEM/Departamento de Historia, 1982.
-FAGAN, Brian. Africa Austral. Lisboa: Editorial Verbo, 1972.
Com o levante de 1693, que constituiu a primeira forma de resistência em Moç., a produção e
comercialização do ouro diminuiu e o marfim passou a ser o produto mais procurado pelos
mercadores.
Este levante teve como consequência: procura do ouro no norte do rio Zambeze. Os produtos de
troca, missangas e tecidos, vinham de Veneza e não de Lisboa. Nos territórios situados entre o rio
Luanga-Quelimane fazia-se bastante comércio de marfim.
Este representava para os Phiri uma das suas principais fontes de reprodução em troca de tecidos e
missangas. Em 1687, o comércio passou a ser com os Ajaua (melhores produtores de marfim),
vindos do Lago Niassa, trazendo marfim, azagaias, tabaco.
Os reinos mais poderosos, cujo os territórios se estendiam para além dos sultanatos e xeicados
afro-islâmicos eram Manica e Morimuno - séc. XVII - os Ajaua surgiam como perigosos rivais no
tráfico do marfim.
Morimuno recebe ataques portugueses porque interferia no trânsito dos Ajaua que traziam marfim
do interior. Neste comércio, também entrou a Baía da Lagoa (Baía do Maputo) vendendo marfim,
âmbar, oiro, cobre e cornos de rinocerontes. O comércio de marfim conhece o princípio do seu fim
nos finais do séc. XVIII e princípios do séc. XIX.
Objectivo Geral
Objectivos específicos
O processo de formação dos Estados Marave difere um pouco do processo de formação do Estado do
Mwenemutapa. Enquanto a formação do Estado Mwenemutapa foi através da via violenta ou seja
através de conquistas militares, a formação dos Estados Marave foi através da via pacífica. Estes
Estados formam-se entre 1200-1400 com a chegada dos povos provenientes da região de Luba na
Republica Democrática do Congo, liderados pelo Cla Phiri e ocupavam a região situada a norte do rio
Zambeze e entre o rio Chire e Luanga.
Apesar de a sua formação ter sido por via pacífica, e tendo como principal Estado Marave o Caronga,
estes viriam a se fragmentar em outros Estados como Undi, Lundu, Biwi e Kapiwiti, isto devido a
conflitos dinásticos que surgiram no seio da aristocracia Marave provocado ou causado pelo crescente
comércio de marfim (Serra, 2000:47).
Em Moçambique, o Undi, chefe Phiri, fixou-se inicialmente na actual Província de Tete, entre-os-rios
Luia e Kapoche, enquanto Kapwiti e Lundo dominavam a zona de Morrumbala e Milange, o Caranga a
parte do território da Província do Niassa.
Nos Estados Marave, o poder era hereditário e a sucessão ao trono era feita por via matrilinear, isto e,
passava do tio para o sobrinho, filho da irmã. O chefe do Estado tinha como titulo, o nome do fundador
da dinastia. No caso Undi, ele como chefe do Estado, era considerado como dono do solo, subsolo,
fauna, rios, e tudo quanto lá existisse.
- O Undi que era o chefe maximo ou imperador, caso especifico para o Estado Undi;
- Os responsáveis das povoações/ aldeias eram designados fumos ou Mweni- Mudzi. (História de
Moçambique, 2000:49).
De referir que cada chefe era servido por um conjunto de conselheiros os Mbili e um corpo de
funcionários menores como mensageiros, a guarda dos chefes sucessivamente.
O APARATO IDEOLOGICO
Nos Estados Marave praticavam alguns cultos ligados a fertilidade das terras, a invocação das chuvas e
o controlo das cheias. Os cultos eram dedicados a entidades supremas (culto do Muari ou Muali) ou para
a veneração de espíritos naturais e a veneração dos espíritos dos antepassados (Makewana e Mbona). De
salientar que os mais importantes desses cultos possuía oficiantes geralmente mulheres conhecidas por
“sarima.” (História de Moçambique, 2000:51).
ACTIVIDADES ECONOMICAS
A principal fonte da economia para a aristocracia Marave era o comércio a longa distância de marfim.
Fabricavam instrumentos de ferro com destaque para as enxadas de ferro que passaram a ser o produto
mais exportado através do porto de Quelimane. A produção e comercialização da “machira”, tecido de
algodão era outra actividade económica destinada ao comércio a longa distancia.
17 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
A agricultura estava destinada para a produção de bens de subsistência e era reservada para as mulheres
que usavam a enxada de cabo curto. As principais culturas eram: o milho, a mapira, a mexoeira, o
algodão, o amendoim e as leguminosas.
A criação de gado era outra componente na vida económica, sobretudo de bovinos, caprino e ovinos. Tal
como o Ouro nos Mwenemutapas, o marfim representava para os Phiri, uma das principais fontes de
reprodução por isso a divisão social do trabalho nos Estados Marave em particular nos Estados Caranga
e Lundu, contemplava a organização da caca ao elefante. A caça ao elefante, a mineração do ouro, o
artesanato era actividades complementares da agricultura.
Para além do controlo que exerciam sobre o comércio a longa distancia, a aristocracia Marave recebia
diversos tributos com destaque para os seguintes: tributos regulares (marfim, tabaco, esteiras, panos,
etc); rituais (premissas das colheitas e as taxas pagas aos chefes por orientarem as cerimonias
religiosas); taxas pela resolução de disputas na qual os vencedores pagavam para serem
reconhecidos e também tínhamos o “”chupeta ou mororo”” pago pelos comerciantes que transitavam
pelo território e variava de acordo com o nível dos chefes (Newit, 1997).
Para além dos tributos regulares e tributos rituais, a aristocracia dominante também recebia tributos de
vassalagem que incluíam penas vermelhas de certos pássaros, peles de leão e de leopardo, marfim,
partes comestíveis de outros animais, direitos de trânsito pelas terras e as primícias das colheitas
(História de Moçambique, 2000:49).
A decadência dos Estados Marave iniciou nos meados do século XVII mas foi intensificada pela
penetração de uma nova geração de mercadores no fim do século XVIII- os prazeiros.
As lutas inter-phiri para assegurar o controlo completo do comércio de marfim; o aparecimento do\s
Nguni oriundos do Mfecane que chegaram a Moçambique (Províncias de Tete e Niassa). No Estado
Undi, os Nguni chegaram por volta de 1835 (História de Moçambique, 2000:52).
Leituras obrigatórias
Objectivo Geral:
- Compreender a penetração mercantil Portuguesa e sua contribuiu para a formação dos Prazos do Vale
do Zambeze.
Objectivos Específicos:
- Descrever em que contexto do surgimento dos prazos do Vale do Zambeze;
-Identificar o tipo e as razoes da aculturação a que se sujeitaram os prazos;
- Apresentar a organização política e administrativa dos prazos;
-identificar as actividades económicas;
- Avaliar a relação entre os prazeiros e a Coroa Portuguesa;
- Analisar o aparato ideológico dos prazos;
-identificar as causas da decadência dos prazos do Vale do Zambeze.
ORIGEM
Os prazos foram inicialmente, terras conquistadas por prazeiros a testa de exércitos de cativos, terras
cedidas pelos chefes locais a troca de saguate ou ajuda militar contra chefes rivais. Pode sustentar-se que
os prazos nasceram com a penetração Portuguesa no Vale do Zambeze a partir de 1530. Foi a parti\\r
Os Prazos nasceram com a penetração portuguesa no vale do Zambeze a partir de 1530. O termo Prazo
só surge no séc. XVII, quando a concessão de terra era concedida mediante uma renda anual durante
duas ou três gerações; findo o prazo a terra voltava à coroa. Era o vice-rei português da Índia quem
concedia as terras em nome do rei e confirmado em Lisboa.
Portugal, querendo garantir e defender as rotas comerciais e uma livre circulação dos produtos de troca
(ouro e marfim, tecidos, colares de missangas, armas de fogo, munições e bebidas alcoólicas para o
interior),e para ocupar a nossa terra duma maneira mais organizada (para melhor explorar as nossas
riquezas), enviou para Moçambique grupos de portugueses e cristãos de Goa, que se fixaram no Vale do
Zambeze. Assim surgiram os prazos - 1600. Eles recebiam grandes extensões de terras ao longo do
Zambeze concedidas pelo rei de Portugal por um prazo de tempo (de três em três gerações). Portanto, os
prazos eram terras doadas, compradas ou simplesmente conquistadas no vale Zambeze. Os seus donos
eram chamados prazeiros e normalmente eram mercadores, ex-soldados, desertados, fugitivos,
assassinos, prisioneiros (que cumpriam penas de decreto), revolucionários ou opositores políticos
exilados.
Para Isacman (1991:6), o interesse dos Portugueses pelo Vale do Zambeze surge em 1505 com a
fundação da feitoria de Sofala e vinte anos seguintes grupos de comerciantes e aventureiros viriam para
o Vale do Zambeze a procura das bíblicas minas de Ouro da rainha Sabah, e na esperança de desalojar
os comerciantes árabes que controlavam o comércio no interior e na costa.
A intenção de Portugal ao introduzir o sistema de prazos em Moçambique era de dar as terras do Vale
do Zambeze o estatuto feudos e a natureza feudal que a sociedade Portuguesa nesse período. O certo e
que os senhores de terras do Vale do Zambeze raramente pagavam os foros ou se sentiam vassalos da
coroa Portuguesa pois cada um era rei de si próprio e eventualmente inimigos dos dirigentes
Portugueses.
O processo de formação do prazeiro significou uma aculturação híbrida, isto e, há uma inter-relação de
culturas quer dos hóspedes/visitantes (prazeiros) e a população local, eles adaptaram-se a cultura local
ou seja dos Africanos.
De acordo com Isacman (1991:6), estes indivíduos adoptaram as culturas africanas devido ao número
relativamente reduzido, a falta de mulheres metropolitanas com idade para procriar e o seu total
isolamento relativamente a instituições europeias de sociabilidade. A adopção estendeu-se a apropriação
de artefactos, técnicas e línguas locais. A aculturação foi mais substitutiva que aditiva, diferindo assim
do processo de hibridação que caracterizou mutas sociedades de fronteira.
No século XVI, prazeiros eram indivíduos Portugueses residentes em Portugal (desertores, prisioneiros,
etc);
No século XVII, prazeiros eram Portugueses residentes em Goa que foram lá para ajudar a expansão
Portuguesa, comerciantes bem sucedidos, missionários ligados ao governo;
No século XVIII. Prazeiros eram Goeses e pessoas ligadas aos Portugueses e que tinham ligações com a
África Oriental Portuguesa (Moçambique, Mombaça, Quénia);
No século XIX, prazeiros incluíam Portugueses, Africanos que directa ou indirectamente descenderam
de Portugueses ou de outras misturas.
ACTIVIDADES ECONOMICAS
ISACMAN, Alan, Barbara. Os prazos como trans-raiano: um estudo sobre transformação cultural e
social. Maputo, 1991.
Exercícios práticos
ACTIVIDADES ECONOMICAS
De referir que antes dos séculos XVIII-XIX, a principal actividade económica era a agricultura praticada
geralmente pelas mulheres e filhos solteiros, enquanto os homens adultos dedicavam-se a caca em
grande escala em especial a caca ao elefante para a extracção do marfim, isto com o desenvolvimento do
comércio de marfim.
Numa primeira fase eram adquiridos pelos franceses para as suas plantações de açúcar e café nas
Ilhas Mascarenhas no Índico; numa segunda fase começa a se enviarem para as plantações da
América do Sul (Brasil: plantações de açúcar, cacau, minas de ouro, etc.), vai até o séc. XIX. A
terceira fase é após a abolição oficial do tráfico (1836) quando a saída clandestina de escravos se
fazia através dos Xeicados de Quitangonha, Sancul, Sangage e do Sultanato de Angoche e também
dos Prazos.
Áreas de caça: Vale do Zambeze e a faixa litoral. É de salientar que as populações de origem
macua foram as mais sacrificadas e lavadas para as Ilhas Mascarenhas, Madagáscar, Zanzibar,
Golfo Pérsico, Brasil e Cuba.
Os escravos capturados em Moçambique eram enviados para Brasil, Cuba, América do Norte e
para as Ilhas do Oceano Índico (Mascarenhas, Comores e Madagascar) para as plantações de café,
algodão, açúcar e nas minas de metais preciosos.
Para além de Moçambique, eram zonas de captura de escravos: Senegal, Gâmbia, Costa do Ouro
(Gana), Costa dos Escravos (Togo, Benin e Nigéria), Delta do rio Níger, Congo e Angola.
Algumas Considerações
1. O período do ouro vai de século XIV-1693 - data da primeira grande resistência em
Moçambique encabeçada por Changamira Dombo.
2. O período de marfim vai desde o século XVII-1750/60, quando começa o tráfico maciço de
escravos.
3. O período dos escravos vai desde 1750-60 até 1836, ano em que foi abolida formalmente a
escravatura, pois na prática a escravatura termina no nosso século.
4. O período das oleaginosas vai de Século XIX quando os indianos começam a comprar gergelim,
amendoim para as companhias e feitorias de Quelimane.
A penetração portuguesa teve como consequência a (1) difusão de plantas, animais, (2)
intercâmbio de culturas, (3) formação de comunidades mistas, (4) acumulação de capitais
(capitalismo). Para os nativos, a colonização significou (5) pilhagem de suas riquezas, (6)
destruição dos seus bens e culturas, (7) destruição de sua unidade administrativa, e, em alguns
casos (8) eliminação física quase total.
Os árabes chegam a Moçambique nos sécs. IX-XIV e fixam-se primeiramente no vale da costa
moçambicana concretamente na Ilha de Moç. e Quelimane. Os mercadores asiáticos, provenientes do
Golfo Pérsico, fizeram uma fixação lenta e progressiva; na costa oriental africana, foi só no século XIII
que se fixou maior número dos emigrantes em entrepostos comerciais. Teve como impacto árabo-swahil
não só (1) as actividades comerciais, (2) as migrações por mar, (3) os casamentos e contactos entre os
grupos locais e os árabes, mas também (4) deram origem às diferenciações regionais a nível cultural
(“línguas costeiras”: Muani - na costa de Cabo Delgado, Nahara na Ilha de Moçambique, Koti - em
Angoche e regiões litorais do continente vizinho) e político (surgimento das chefaturas e reinos afro-
islâmicos da costa: Sultanatos e Xeicados); dá-se também (5) misturas de raças com núcleos lingüísticos
diversos.
Fala-se que Quelimane e a Ilha de Moç. teriam sido fundadas por refugiados vindos de Quiloa
antes da chegada dos portugueses (1498). Os dirigentes da expedição (Mussa e Hassane) fixaram-
se na Ilha de Moç. e Quelimane, respectivamente. Falecido Hassane, Mussa, reconhecendo que
Angoche reunia melhores condições sócio-económicas e comerciais do que Quelimane, instalou
Xosa, filho de Hassani, como Sultão.
b) Xeicado de Sancul
Forma-se no séc. XVI; os seus fundadores são vindos da Ilha de Moçambique. Os seus povos
tinham um considerável intercâmbio com o exterior. O xeque de Sancul foi assassinado em 1753
pelo comandante de uma força portuguesa. Em 1880, foi capturado Makusi Omar, capitão-mor de
Sancul e o mais activo e importante negociante de escravos. No seu lugar entra Hassan Molidi -
1880. Suali Bin Ibrahimo (Marave), capitão-mor de Sancul derrotou os portugueses em Magenga
em 1896 e foi xeique de Sancul.
C) Xeicado de Quitangonha
Desde a sua formação esteve sujeito ao sultanato de Angoche, e só estabelece a sua autonomia no
primeiro quartel do séc. XIX. Para se livrar desta dependência, o xeque fez alianças com a
administração portuguesa, dirigentes de Sancul, mercadores baneanes da Ilha de Moç. A sucessão
em Sangage era matrilinear o que relacionou os dirigentes daqui e um grupo determinado de
mulheres macua. Em 1912, desencadeou-se uma luta contra os portugueses numa aliança com os
dirigentes de Sangage, chefes macuas da região: Ibamela e Kubala-Muno.
Algumas Considerações
O impacto árabo-suahil (com as suas trocas comerciais, migrações e guerras) fez surgir
diferenciações regionais a nível cultural, político (chefaturas e reinos), linguístico e de costumes,
etc., especialmente entre os macuas na costa e os Ajaua.
AL-MASUDI, refere, em 943 n.e., que Bilad as Sufalas (terra de Sofala=terras baixas) estava
dependente de Sayuna (foz do rio Zambeze); afirma também que Zanga (negros islamizados da
África Oriental) controlavam o Hinterland a partir das cidades costeiras.
MPONDORO - culto territorial frequente nos Chonas; MWÁRI - culto assistido por especialistas.
O Império de Gaza
O Estado de Gaza foi fundado por Sochangane (também conhecido por Manicusse, 1821-1858) como
resultado do Mfecane, um grande conflito despoletado entre os Zulu por consequência do assassinato de
Chaca (ou Shaka) em 1828, que culminou com a invasão de grandes áreas da África Austral por
31 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
exércitos Nguni. O Império de Gaza, no seu apogeu, abrangia toda a área costeira entre os rios Zambeze
e Maputo e tinha a sua capital em Manjacaze, na actual província moçambicana de Gaza.
O rei de Gaza dominou os reis Tonga (possivelmente o mesmo que Tsonga, da língua chiTsonga, a
língua actualmente dominante na região sul de Moçambique) através dos membros da sua linhagem, os
Nguni, comerciando marfim, que recebia como tributo, com os portugueses, estabelecidos na costa
(principalmente em Lourenço Marques e Inhambane).
Aparentemente, Sochangane não fazia comércio de escravos - os seus guerreiros eram principalmente da
sua linhagem -, nem devolvia aos portugueses os escravos que fugiam para a sua guarda.
Com a sua morte, sucedeu-lhe o seu filho Mawewe que decidiu, em 1859, atacar os seus irmãos para
ganhar mais poder. Apenas um irmão, Mzila (ou Muzila) conseguiu fugir para o Transvaal, onde
organizou um exército para atacar o seu irmão. A guerra durou até 1864 e, entretanto, a capital do reino
mudou-se do vale do rio Limpopo para Mossurize, a norte do rio Save, na actual província moçambicana
de Manica.
Foi em Mossurize que, em 1884, ascendeu ao trono Nguni, Gungunhana, filho de Muzila. Gungunhana
regressa a Manjacaze em 1889, aparentemente pressionado pelos exploradores de ouro de Manica e falta
de apoios locais. Em Gaza, Gungunhana prosseguiu a política de seu pai de assimilação dos reinos
locais, os "Tonga" e de resistência à dominação portuguesa, mas essa resistência não durou mais de seis
anos. Gungunhana foi preso e Gaza finalmente submetida à administração colonial.
o exército do decadente Estado dos Muenemutapas lançou vários ataques aos prazos da margem
esquerda do Zambeze, provocando o abandono dos prazeiros com seus A-chicunda e
populações em geral;
A Conferência de Berlim tinha como objectivos: (1) regular a liberdade de comércio na bácia do
Congo-Níger, bem como nas novas ocupações de territórios na África Ocidental. Era preciso,
portanto, (2) definir as modalidades do acesso às áreas de interesse comum de navegação e de
comércio, visto que as tentativas de monopolizar as principais vias de acesso ao interior do
continente (bácia do Congo, Níger e Zammbéze) e os mercados privilegiados junto aos rios,
ameaçavam o equilíbrio das forças ocidentais.
Centro
Em 1887 surge uma disputa entre o britânico Cécil Rhodes e o português Henrique Barros na
sequência de aquele (Rhodes) querer unir e fazer um corredor Cairo-Cabo (Norte e Sul de África) e
este (Barros) propôr o “Mapa Cor-de-Rosa” que ia contra as pretensões britânicas. Visto que
Inglaterra recusava o projacto “Mapa Cor-de-Rosa” (Moçambique-Angola), Portugal faz aliança
com Alemanha (1886) concedendo-lhe Namíbia. Alemanha não acedendo ao ‘pedido’, os ingleses,
em 1890, enviam a Portugal um ultimato (48 horas) para retirar os seus militares no Chire e na
Mashonalândia, com o perigo de intervensão militar e corte das relações diplomáticas, caso não o
fizesse. Portugal não o cedendo, Rhodes, com as suas tropas da B.S.A.C., prende Paiva de Andrade
e faz construir o forte de Salisbury, em 1891. Assim se estabelece a fronteira com a Zâmbia,
Malawi e Zimbábwe e Natal que mantém até hoje. E para evitar que os britânicos viesse a ocupar
novas regiões, os potuguêses encentaram “campanhas de pacificação” para dominar os povos e
estabelecer uma ocupação efectiva dos territórios.
Portanto, foi entre conflitos, arbitrariedades e tratados que se definiu o traçado das actuais
fronteiras do nosso país. Enfim, podemos afirmar que a sua delimitação começou com o despertar
do interesse dos Britânicos em relação à baía de Maputo, pois viam nela uma excelente saída dos
produtos do Cabo para o mar e facilidades na aquisição de mão-de-obra.
Norte
O conflito é com a Alemanha que tinha ocupado o Tanganhica (Tanzania) e hasteado a sua
bandeira em ambas as margens do Rovuma. Em 1894, penetrou na margem sul, expulsando os
portugueses. Portugal reclama, mas a Alemanha alarga a sua ocupação ate Quionga, área que só
voltaria a Portugal após a IGM (1914-1918). Por essa região transitou uma força alemã no decorrer
da Guerra, que chegou até Namacurra, atacando uma fabrica da Companhia do Boror, destruíndo
vidas, casas e haveres do campesinato.
Tradado de Windsor
Realizado em 1899 entre Portugal e Inglaterra no qual Inglaterra tinha obrigação de proteger a
integridade territorial portuguesa contra todos os inimigos presentes e futuros, enquanto que os
portugueses se comprometeram a permanecer neutrais em caso de conflito na Áfrcia do Sul e
proibir qualquer tráfico de armas pelo Porto de lourenço Marques.
Os dois bancos então existentes na Beira, Standard Bank Of South Africa e o Bank Of Africa,
funcionavam com capitais ingleses.
Sul
Foi entre conflitos, arbitragens e tratados que se traçou a fronteira Sul de Moç., ora vejamos: os
ingleses queriam anexar a Baía do Maputo porque: (1) com a colonização britânica no Natal, havia
necessidade de mão-de-obra na área de Maputo; (2) os britânicos queriam controlar todas as vias
de comunicação, especialmente de Maputo, por onde os Zulu importavam armas de fogo; (3)
desejo inglês de anexar a República do Transvaal e Maputo que, para eles, era estratégicos para
operações.
Frente a esta situação os portugueses fizeram um tratado (1869) com Transvaal reconhecendo-lhe
os direitos territoriais até 26º30’ Sul e sendo montes Libombos como a fronteira de Moçambique
com Suazilândia e com a parte oriental do Transvaal. Mas o tratado poucos resultados práticos
trouxe o que suscitou, em 1875, a arbitragem internacional do Presidente francês, Marechal MAC-
MAHON, que reconheceu a soberania plena de Portugal em Lourenço Marques e nas áreas
adjacentes.
a) Sul de Moçambique
Matibjane, chefe de Zixaxa e Munguduane, chefe de Moamba, negaram a aliança feita pelos
portugueses e juntaram-se aos guerreiros de Mahazul. Face aos ataques destes, Portugal envia mais
exércitos chefiados por António Enes ao governador de Lourenço Marques, Mouzinho de
Albuquerque.
b) Centro de Moçambique
Esta zona tinha um elevado grau de militarização das formações políticas da região herdado do
período de caça e do tráfico de escravos. Daí que Portugal para vencer esta região tinha que pedir
muita ajuda quer interna, quer externa, ter grande mobilização de recursos (1897/9). Báruè (fruto
da desagregação de Mutapa) criou muitos problemas aos portugueses, e o recurso aos
recrutamentos de tropas em Angola, Lourenço Marques, Nguni, e o auxílio militar das Rodésias e
da Niassalândia, fez com que Báruè fosse dominado (em 1902) pelos portugueses. Temos como
chefes da resistência de Báruè: Cambuemba que reúne seus guerreiros com os A-chicundas dos
prazos, e empreende as fortificações Aringas (espécie de Zimbabwe), Mocombe, Hunga, Mafunda
e Cadendere.
A penetração colonial, na maior parte do nosso País, foi feita através de Companhias as quais
ocupavam cerca de 2/3 de Moçambique. Portugal, país colonizador de fraco poder, não conseguiu
sozinho ocupar, dominar e administrar um território tão vasto como Moçambique. Por isso, deu aos
capitalistas estrangeiros: ingleses, franceses, alemães e belgas a autonomia de criarem companhias
monopolistas - sociedades que detinham o monopólio de certos produtos. Daí que em 1891 deu a
capitalistas portugueses e estrangeiros (franceses, ingleses,) as regiões compreendidas entre o rio
Zambeze e o rio Save, o que deu a Companhia de Moçambique. Em 1892, deu a outros capitalistas
portugueses e britânicos as regiões do Niassa e Cabo Delgado, o que deu a Companhia do Niassa;
e em 1892 funda-se a Companhia da Zambézia que compreende os prazos da Zambézia e Tete.
Assim temos as companhias do Niassa e de Moçambique (majestáticas), e as da Zambézia, Boror
Société du Madal, Luabo, Sena Sugar Estates, etc. (concessionárias).
Ficava sob controlo directo de Portugal somente Nampula e Sul do Save, regiões que constituíam
quase que uma espécie de reserva de mão-de-obra para as minas da África do Sul (Transval), sob o
contrato de algumas rendas e salários deferidos dos mineiros. Também Portugal beneficiava-se
uma parte do produto (ouro) produzido pelos “seus” homens.
São as grandes companhias que recebiam permissão de sua majestade: eram autorizados
directamente pelo rei de Portugal a explorar as terras do seu domínio e a conceder terras a
pequenas companhias (concessionárias). Aqui a presença da burguesia portuguesa não se fazia
sentir pois elas tinham muito poder.
a) Companhia de Moçambique
Compreendia uma área de 134822 km2 limitada entre o rio Zambeze (norte e noroeste) e o paralelo
22º (sul) e entre o Índico (este), e a Rodésia do Sul (oeste); compreendia portanto as actuais
províncias de Sofala e Manica. Durou quase 45 anos (1897-1942), quando o decreto de Maio de
1897 fixou definitivamente o prazo da sua validade jurídica como Companhia Soberana, indicando
para o termo do contrato a ano de 1942. São ditas como causas de sua implantação: a criação da
British South Africa Company (B.S.A.C.) na Rodésia do Sul, a qual sentia necessidade de manter
uma companhia com idênticas características (privilégios político-económicos) na zona de
influência portuguesa. As acções para a sua formação começam em 1878, por Paiva de Andrade
com a Société des Fundateurs de la Compagnie Général du Zambeze (1888); falida esta, em 1893,
cria a Companhia de Ophir em 1884, que também viria a cair. Daí que em 1888-1889 forma a
Primeira Companhia de Moçambique. Produzia algodão, sisal, cana de açúcar, milho, tabaco, etc.
Para tal, a Comp. Implementou o trabalho forçado (Xibalo), cultivos obrigatórios e o pagamento do
imposto de palhota (1000 reis anuais) que só seria possível tê-lo trabalhando nas plantações da
Companhia. Os territórios do Sul do Save da Companhia tinham o nome de Goruvro. A Beira
Railway Company era privilégio de sua subconcessionária estabelecer meios de comunicação com
a Rodésia. As terras sob seu domínio já não pertenciam ao rei de Portugal, mas à Companhia com
o seu 1º governador: Joaquim J. Machado.
Direitos da Companhia
Exploração dos territórios e da população que estavam sob seus domínios; monopólio do
comércio; concessões mineiras e de pesca costeira; colectar taxas e impostos de palhota e de
capitação (mussoco); exploração de mão-de-obra para países vizinhos; construir e explorar vias de
comunicação (estradas, portos, pontes, caminhos-de-ferro); conceder terras a terceiros; privilégios
bancários e fiscais (emitir moedas e selos).
Deveres
Pagar 10% dos dividendos distribuídos em 7,5% dos lucros líquidos totais; tinha o dever de manter
a sua sede em Lisboa e dever de amanter-se Compª. Portuguesa no estatuto (formalmente a Compª.
tinha de ser portuguesa); entregar os territórios ocupados após expirado o contrato.
Política concessionária
Ela baseava-se no direito de posse sobre a terra conferido por uma Carta Concessionária, fazendo
assim o arrendamento de terra para as áreas da: (1) Agricultura - concessão do Prazo Gorongoza à
Compª. de Gorongoza (1895), prazo de Chupanga à Compª. de Luabo, concessão de terrenos em
Marromeu, Buzi e Moribane à Sociedade Açucareira da África Oriental (1900). Isto originou a queda
do campesinato africano que se viu privado das suas terras mais férteis e favoráveis à prática da
agricultura; (2) Mineração - concede títulos de exploração de pedras e metais preciosos e de minas em
geral em Macequece, Manica; (3) Construção - portos e vias de comunicação, o que resulta na
construção do Porto da Beira e Linha Férrea pela The Port of Beira Development Corporation. Esta,
para tal, instalou a Delegação do Serviço dos Negócios Indígenas para recrutar a mão-de-obra.
Algumas considerações
John MOFFAT, em 1888, faz um acordo com Lobengula, filho e sucessor de Mzilikazi (chefe dos
Matabele), no qual sustentava que a Companhia Britânica da África do Sul (BSAC) foi autorizada pelo
b) Companhia do Niassa
A Companhia foi comprada por capitais franceses e ingleses. Não tinha muita capacidade financeira,
razão pela qual passava de um accionista para outro: 1897-1913 - Ibo Syndicate; 1899 - Ibo Investiment
Trust; 1909-1913 - Niassa Consolidated onde o consórcio bancário alemão adquiriu a maioria.
Constituem um conjunto de empreendimentos económicos que arrendavam terras, ou do Estado colonial
português, ou da Companhia. Ocupavam-se apenas na exploração económica, reconhecia a soberania
territorial de Portugal ou da companhia. Daí que não tinham os mesmos privilégios que as majestáticas.
Desenvolveram não só o sistema de plantações, mas às vezes podiam se ocupar da exploração da mão-
de-obra. Aqui a burguesia portuguesa apresentava-se como “agentes de autoridade” pois tinha muito
poder e influência.
a) Companhia da Zambézia
Fundada em Maio de 1892 e relíquia de Paiva de Andrade, ocupava as áreas de Chire, fronteira
com Niassalândia e a futura Rodésia do Norte, entre Zumbo e Luenha. Ela nasce da fusão da
41 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
Sociedade dos Fundadores da Companhia Geral da Zambézia (1880) com a Central Africa And
Zouthamberg Exploration Company. Explorava parte dos territórios da Zambézia e Tete; foi uma
dais extensas companhias. Subjugou as companhias já existentes em Quelimane. Ela foi uma
máquina de conquista de terras insubmissas do distrito de Tete e depois Quelimane, onde extraía o
imposto de capitação (mussoco) e os trabalhadores para os trabalhos agrícolas. Nos seus primeiros
10-15 anos, a Comp. teve actividades repressivas e predatórias. Com o progresso da “pacificação”,
as terras altas de Quelimane e Angónia, depressa se revelaram como reservatórios de mão-de-obra
importada para a África do Sul e depois para S. Tomé. Quelimane ia conhecer, pelo menos, 5 a 6
novas companhias que iriam desempenhar um papel determinante no plano económico (Compa.
de Boror, Luabo, Compa. De Açúcar de Moç., Maganja Sociedade do Madal, etc.). É de salientar
que a Compa. da Zambézia não tinha privilégios pois era concessionária.
e) Sena Sugar Estates - 1920, predecessoras: Companhia do Açúcar -1890 e Sena Sugar Factory -
1910.
Algumas Considerações
Trabalho Forçado - o governo colonial português criou leis para forçar os moçambicanos a
trabalharem na construção de estradas, edifícios, pontes e linhas férreas e nas plantações. A
primeira lei foi publicada em 1899: «..todos os indígenas têm a obrigação de trabalhar... Têm
liberdade de escolher a maneira de cumprir essa obrigação...» (AA. VV. História de
Moçambique, Vol. II, UEM, Fac. De Letras, Dept. De História, Maputo 1983, p. 91)
O trabalho forçado nas plantações das companhias fez com que os produtores emigrassem para
áreas controladas pelo governos ou para áreas de companhias menos exigentes.
Xibalo - nome dado ao trabalho forçado no Sul de Moçambique. O Xibalo e o Mussoco (imposto
de Capitação) tiveram como consequências: pessoas que emigram para países vizinhos,
42 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
especialmente para as minas da África do Sul ou para as grandes machambas das colónias inglesas
das Rodésias e da Niassalândia, pois os ingleses e os sul-africanos pagavam-lhes salários mais
altos. O governo colonial, ante esta situação, fez um acordo com a África do Sul: «...uma parte dos
salários dos mineiros moçambicanos deveria ser pago em barras de ouro ao governo
português...».Neste salário era também descontado imposto de palhota dando apenas ao mineiro ou
à família o que sobrava. Foi assim que Portugal ficou rico de ouro e libra, a partir de mineiros
moçambicanos.
Desde o séc. XVI, já havia governadores em Moçambique que governavam algumas regiões. Daí
que o território foi dividido em nove (9) distritos com nove governadores e depois em Conselhos
e Circunscrições, chefiadas por administradores. As circunscrições foram subdivididas em Postos
chefiados também por administradores, ajudados por Régulos; estes Régulos (1) garantiam o
controlo dos estranhos que entrassem no regulado sem passe válido, (2) cobrança de impostos de
palhota, (3) mandar prender pessoas para o Xibalo e recrutar pessoas para as plantações das
companhias ou minas da África do Sul, (4) indicar os trabalhadores, carregadores e recrutas para o
exército do governo português, (5) evitar o estabelecimento de negociações com British South
Africa Company (BSAC) de Rhodes. Os Sipaios ajudavam os régulos a prender pessoas que
recusavam o pagamento do imposto de palhota.
O Estado Novo, saído do golpe de Estado de Maio de 1926, em Portugal, ganhou vulto a partir de
1930 e solidificou-se em 1932, com a chamada de Salazar, então Ministro das Finanças entre 1928
43 Síntese da História de Moçambique desde as Comunidades de Caçadores e
Recolectores Até a Implantação do Estado Novo. Por dr. Zumbire
e 1932, para a presidência do Conselho. O governo de Salazar surgiu como uma componente
agrária muito forte. Teve a funçaõ de criar condições para consolidação da burguesia e acelerar a
acumulação de capital, através da repressão dos trabalhadores e da intensificação da exploração
colonial.
O proteccionismo
A reacção inicial dos países industrializados à crise mundial e, em particular ao desemprego, foi
aumentar o grau de protecção das suas indústrias contra a concorrência estrangeira, proibindo
importações de artigos manufacturados ou anerando-os com direitos alfandegários pesados e
favorecendo, cada vez mais, as importações de matérias-primas das suas próprias colonias.
Em Portugal, a crise mundial de 1929-1934 reforçou a estratégia esboçada desde 1926 que
consistia na (1) valorização dos recursos de Moçambique no interior da burguesia portuguêsa,
através da (2) exploração directa e mais intensa da população moçambicana, (3) redução ao
indispensável o uso de capitais nacionais e estrangeiras, (4) o governo evita grandes obras de
fomento e a fixação dispendiosa de colónos, (5) aproveitando, mais e melhor, o camponês no
trabalho constante da terra.
BIBLIOGRAFIA GERAL
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