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Março - 2023

CENSO DE POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO MUNICÍPIO


DO RIO DE JANEIRO - 2022

www.rio.rj.gov.br/web/ipp
data.rio
FICHA TÉCNICA

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO


Eduardo Paes
Prefeito

INSTITUTO MUNICIPAL DE URBANISMO PEREIRA PASSOS - IPP

Carlos Krykhtine
Presidente

Andrea Pulici | Diretora de Projetos Especiais


Bianca Medina | Assistente Social

Theodoro Fuly | Coordenador de Monitoramento e Avaliação


Fernando Cavallieri | Sociólogo
Bruna Machado | Estagiária
Censo de População em Situação de Rua no Rio de Janeiro - 2022

Introdução

Para se desenhar políticas públicas mais assertivas à população em


situação de rua (PSR), pessoas extremamente vulneráveis e muitas vezes
invisíveis para a sociedade, é necessário conhecê-la em sua profundidade,
considerando inclusive sua localização espacial.
A visão generalista de que todas as pessoas vivem nas ruas pelos
mesmos motivos e com as mesmas necessidades, minimiza o problema e
reduz as possibilidades de intervenção governamental. Este objeto de estudo e
trabalho - pessoa em situação de rua - precisa ser compreendido em suas
múltiplas dimensões e, por isso, analisada, discutida e tratada de forma
intersetorial.
No Rio de Janeiro, foi instituída a obrigatoriedade de realização de um
levantamento censitário da população em situação de rua (PSR), por meio do
decreto municipal 46.483/2019. Tal decreto estabelece que a Secretaria
Municipal de Assistência Social - SMAS, realizará, em parceria com o Instituto
Municipal de Urbanismo Pereira Passos - IPP, um censo de população em
situação de rua, a cada dois anos. Prevê ainda que os “dados oriundos do
censo irão balizar as políticas públicas que serão aperfeiçoadas, desenvolvidas
e implantadas para a população em situação de rua”.
Para isso, foi desenvolvida uma metodologia capaz de coletar os dados
necessários e ser replicada periodicamente.
O Censo foi elaborado com a finalidade de ir além de simplesmente
definir o perfil da população em situação de rua (PSR). A pesquisa se
aprofundou ao ponto de captar questões subjetivas relacionadas à PSR, como
suas necessidades, anseios e visões sobre os serviços oferecidos, levando em
conta a perspectiva de que elas são sujeitos de direitos. Através dessa coleta
de dados mais completa, foi possível obter informações mais precisas e
detalhadas sobre a realidade dessas pessoas, o que pode auxiliar na
elaboração de políticas públicas e serviços específicos para atender às suas
necessidades de forma mais efetiva. Além disso, o censo também serve como

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uma ferramenta importante para monitorar a evolução e distribuição espacial
da PSR ao longo do tempo e avaliar a eficácia das ações e programas voltados
para essa população.

Gestão coletiva
Um dos fatores principais de êxito do trabalho se assentou no fato de
que os censos têm sido um projeto coletivo desde seu planejamento até sua
execução. Para operacionalizar os trabalhos, tanto para 2020 quanto para
2022, foram criados grupos de trabalhos, constituídos por representantes do
Instituto Pereira Passos (IPP), Secretaria Municipal de Assistência Social
(SMAS) e Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Os técnicos se reuniram por mais de um ano, realizando estudos e
discussões para definir a estruturação da pesquisa. O vasto conhecimento das
equipes de abordagem social da SMAS e dos consultórios de rua da SMS e a
expertise do IPP em pesquisas sociais foram fundamentais para o bom
andamento dos censos.
Os instrumentos de pesquisa, por exemplo, foram intensamente
discutidos em reuniões do Grupo de Trabalho. O maior desafio foi equilibrar a
quantidade de perguntas e a cobertura dos temas, de modo que a abordagem
não fosse nem muito longa, a ponto de levar a um grande número de
desistências, nem tão resumida que deixasse de fora conteúdos importantes.
A gestão coletiva assegurou que o trabalho não tivesse caráter
puramente técnico ou acadêmico, mas que auxiliasse os órgãos públicos a
qualificar e elaborar as políticas direcionadas à população em situação de rua.
Importante também foram as diversas reuniões de sensibilização e
apresentação da metodologia, feitas com outros órgãos públicos, organizações
da sociedade civil, conselhos de direitos, movimentos sociais e voluntários.

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Metodologia

O trabalho começou com a revisão bibliográfica das experiências mais


recentes, tanto nacionais quanto internacionais, com o objetivo de obter
subsídios para construir a metodologia. Esse passo foi importante para
esclarecer questões sobre o uso ou não de amostragem, instrumentos de
coleta de dados, duração da fase de campo, definições operacionais e
estratégia logística. Nesse sentido, foram estudados os relatórios de pesquisas
realizadas em São Paulo, Região Metropolitana de Vitória, Chile, Vancouver,
Nova Iorque, Bogotá e Cidade do México. Naturalmente, os dois últimos
levantamentos realizados pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 2013 e 2018
receberam atenção especial.

Partindo da conceituação legal brasileira, definida no decreto federal nº


7.503, de 23/12/2009 (art.1º, parágrafo único), que institui a Política Nacional
para a População em Situação de Rua, fica claro que o universo da PSR se
divide em dois grupos: aqueles que estão, de alguma maneira, vivendo na rua
e os que estão acolhidos em alguma instituição.

Dado que a definição é abrangente e complexa, foi necessário realizar


alguns recortes para torná-la operacional. Assim, ficou estabelecido que, para
as pessoas encontradas nas ruas, haveria um filtro para que fossem
consideradas objeto do recenseamento: ter passado pelo menos uma noite na
rua nos últimos sete dias antes da coleta de dados, excluindo-se as situações
fortuitas e ocasionais, como impossibilidade de voltar para casa ou embriaguez
excessiva.

Para facilitar o entendimento das diferentes condições de pessoas em


situação de rua, em termos da sua posição socioespacial no momento do
levantamento de campo, definiram-se as seguintes categorias:

NA RUA:

● Rua - compreende os indivíduos encontrados nas ruas e que


nelas dormiram ao menos uma noite nos últimos sete dias em
relação à data de coleta;

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● Cena de uso - congrega os indivíduos que se encontravam em
locais considerados pela SMS como áreas específicas de uso de
drogas, e que dormiram na rua ao menos uma noite nos últimos
sete dias em relação à data de coleta;

EM INSTITUIÇÕES:

● Unidades de acolhimento - pessoas localizadas em unidades


de reinserção social, públicas ou privadas, e definidas como
pessoas em situação de rua;
● Comunidades terapêuticas1 - pessoas que se encontravam em
situação de rua e ingressaram em instituições de tratamento
denominadas comunidades terapêuticas;
● Hospitais e CAPS - Centro de Atenção Psicossocial -
compreende todos aqueles que, sendo classificados como
pessoas em situação de rua, encontravam-se em tratamento em
Unidades de Atendimentos de adultos, vinculadas aos Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) - álcool e drogas - e em
emergências dos hospitais públicos.

A metodologia de pesquisa foi intensamente discutida em reuniões do


primeiro grupo de trabalho. Em 2022, foram introduzidos pequenos ajustes,
como a adequação dos questionários, atualização de roteiros de rua e de
cenas de uso, logística, planejamento de reuniões com órgãos governamentais
e da sociedade civil. As pequenas mudanças realizadas nos instrumentos de
coleta de dados não afetaram a comparabilidade dos dados.
O quadro abaixo sintetiza a proposta metodológica, com a sinalização
do que se manteve e o que foi alterado para a execução do Censo de 2022.

1
Segundo a página gov.br: “Entende-se por Comunidades Terapêuticas, entidades privadas, sem fins
lucrativos, que realizam gratuitamente o acolhimento de pessoas com transtornos decorrentes do uso,
abuso ou dependência de substâncias psicoativas, em regime residencial transitório e de caráter
exclusivamente voluntário (espontâneo). O período de acolhimento varia de 3 meses a 12 meses,
conforme o projeto terapêutico da entidade. O principal instrumento utilizado nas Comunidades
Terapêuticas durante o tratamento é a convivência entre os pares. As Comunidades Terapêuticas não
integram o Sistema Único de Saúde (SUS) e tampouco o Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
mas são equipamentos da rede suplementar de atenção, recuperação e reinserção social de dependentes
de substâncias psicoativas, de modo que referidas entidades integram o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas – SISNAD, por força do Decreto nº 9.761/2019 e da Lei nº 13.840/2019. As CTs
integram o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD).”
Em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/acessar-comunidades-terapeuticas. mar. 2023

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2020 2022

Cobrir a cidade no menor período de tempo


possível

Inviabilidade de a coleta de dados ser em um só


dia

Dividir a cidade em regiões

A cada dia, cobertura de uma região; depois, a


região vizinha

Pesquisa em três turnos Pesquisa em dois turnos

Diferentes tipos de questionário

Coleta direta nas


Coleta indireta nas comunidades terapêuticas comunidades
terapêuticas

Para realização do levantamento, optou-se pela ferramenta de pesquisa


conhecida como Survey 123, disponibilizada no âmbito do Sistema Municipal
de Informações Urbanas (SIURB), que consiste na aplicação de questionários
estruturados a todas as pessoas que num determinado período fizessem parte
do público-alvo e pudessem ser alcançadas por esse instrumento. Nos dois
Censos aplicaram-se três tipos de questionários, conforme a situação em que
se encontrava a pessoa (Rua, Cenas de Uso ou Instituições), e um específico
para crianças menores de doze anos. Na impossibilidade de se realizar a
entrevista, aspectos básicos foram captados por observação e informações
foram solicitadas a instituições não visitadas.
A definição da duração da pesquisa levou em consideração o tamanho
do questionário, o número estimado de respondentes, a extensão territorial e
complexidade da cidade.
A coleta e o tratamento dos dados foram feitos por empresa
especializada em pesquisa, contratada por licitação na modalidade de técnica e
preço. Investigaram-se, de modo geral, aspectos como idade, raça, gênero,
saúde, deficiência, laços familiares, escolaridade, trabalho, renda, localizações,
percepções sobre serviços públicos e uso de drogas.
Um ponto a que se deu muita atenção foi o mapeamento dos “lugares”
onde se localizava o objeto do estudo, uma vez que, por não ser um tradicional

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censo domiciliar, isso condiciona fortemente toda a logística a ser empregada.
Previamente à ida a campo foram definidos os locais de maior concentração de
PSR e os roteiros a serem seguidos pelas equipes de pesquisadores. Mais
uma vez o trabalho conjunto com as equipes de ponta, sobretudo da
Assistência Social, mas também da área da Saúde, foi fundamental para
incorporar a concentração e os deslocamentos da população. Foram realizadas
oficinas descentralizadas com as equipes que executam a abordagem social
nos territórios, de modo a validar e atualizar os roteiros.
As informações espaciais alimentaram um aplicativo compartilhado
pelas equipes envolvidas, em que foram plotados, na base cartográfica oficial
da cidade, pontos e áreas de maior presença de pessoas. Tais bases,
selecionadas conforme o polígono a ser coberto por cada pesquisador, e
carregadas nos seus tablets, orientaram e organizaram o levantamento em
campo.
Destaque-se, igualmente, a importância do acompanhamento constante
do trabalho executado pela empresa contratada, em todas suas fases, por
parte da equipe de técnicos e coordenadores dos três órgãos municipais
envolvidos.
O trabalho de campo aconteceu entre 21 e 25 de novembro de 2022, de
segunda a sexta-feira, com exceção do dia 24, quando houve jogo do Brasil na
Copa do Mundo. A coleta de dados foi organizada espacialmente,
considerando-se a quantidade de entrevistas e observações, previstas de
serem efetuadas nos diferentes locais da cidade. Conforme expresso na Figura
1, o primeiro dia de trabalho se concentrou na área central, o segundo na Zona
Sul, o terceiro na Zona Norte, incluindo as Regiões Administrativas (RA) da
Tijuca e de Vila Isabel, e no último dia, toda a Zona Oeste e as RAs de
Jacarepaguá e Barra da Tijuca

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Figura 1 - Distribuição da coleta de dados do Censo de PSR, segundo os dias de trabalho e as
regiões da cidade - Rio de Janeiro - 2022

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

Ao todo foram percorridos 1.872 roteiros de rua e 57 cenas de uso de


drogas.

Quadro Geral

O Censo de 2022 identificou um total de 7.865 pessoas em situação de


rua na cidade. Esse número inclui tanto as pessoas que estavam nas ruas
quanto aquelas que estavam em instituições, conforme explicado
anteriormente.

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A tabela 1 mostra a distribuição dos pesquisados segundo as cinco
grandes categorias, anteriormente explicitadas.

Tabela 1 - Pessoas em situação de rua segundo a condição -Rio de Janeiro - 2022

Condição Nº %
Rua 6.253 80%
Na Rua 5.026 64%
Cenas de uso 1.227 16%

Instituição 1.612 20%


Unidades de Acolhimento 1.372 17%
Comunidades Terapûeticas 183 2%
Hospitais e CAPS 57 1%

Total 7.865 100%

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

Cerca de 80% do público-alvo compreendeu pessoas que se


encontravam na rua, enquanto somente 20%, estavam em instituições. Nesse
primeiro grupo, a grande maioria, 5.026 pessoas ou 64% do total, estava na
condição “na rua”. Outros 1.227 indivíduos, ou 16% do total, também estavam
na rua, mais especificamente em cenas de uso de drogas. Das 1.612 pessoas
em instituições, a maior parte - 1.372 pessoas ou 17% do total - estavam em
Unidades de Acolhimento. Os indivíduos em comunidades terapêuticas e
hospitais eram muito poucos, representando apenas cerca de 3% dos
recenseados. O gráfico 1 apresenta os resultados absolutos por condição.

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Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

Caso fortuito identificado - Acampamento Bolsonarista

No primeiro dia de aplicação do Censo, no bairro do Centro, foi


identificado um acampamento de pessoas dormindo em frente ao Palácio
Duque de Caxias com objetivo de manifestações antidemocráticas. Embora os
participantes estivessem dormindo em barracas na calçada2, trata-se de um
caso fortuito que não deve ser confundido com a população de rua que o
Censo visa identificar.

De acordo com a metodologia do Censo, considera-se população em


situação de rua aquelas pessoas que dormiram nas ruas ou em abrigos pelo
menos uma vez nos sete dias que antecederam o Censo, exceto casos
fortuitos. Ainda que os acampamentos Bolsonaristas se enquadrem na
descrição de pessoas que dormem nas ruas, é importante destacar que esses
acampamentos foram um caso específico que não representa a realidade da
população em situação de rua na cidade. Portanto, os resultados do censo não
devem ser afetados pela sua presença, que são um fenômeno político e não
uma condição de vulnerabilidade social.

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De acordo com a imprensa local foram identificadas 60 barracas, o que corresponderia a
aproximadamente 180 pessoas dormindo nos acampamentos bolsonaristas na época de aplicação do
Censo.

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Foto 1 - Antes e durante o fenômeno político do acampamento bolsonarista

Comparação com 2020

Ao comparar o Censo atual com o de 2020, verifica-se um aumento de


8,15% no número total de pessoas em situação de rua. No entanto, quando se
observam apenas as pessoas que estavam efetivamente dormindo nas ruas,
percebe-se um aumento de 15%. Nesse subconjunto, houve uma variação
positiva de 3,11% para aquelas que estavam em cenas de uso de drogas e de
18,39% para as que só estavam nas ruas. O total de pessoas consideradas em
situação de rua, abrigadas em instituições também aumentou em 12,02% em
relação a 2020, destaca-se que essa variação não está considerando unidades
provisórias de acolhimento que foram criadas em função da pandemia e

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portanto não integravam a rede própria ou conveniada da Prefeitura. Tais
variações são apresentadas na tabela a seguir:

Tabela 2 - Pessoas em situação de rua, segundo a condição - Rio de janeiro - 2020/2022

Ano Total de PSR Rua Cenas de uso Em Instituições


2020 7.272 4.245 1.190 1.439*
2022 7.865 5.026 1.227 1.612
Variação 8,15% 18,39% 3,11% 12,02%

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

*Um total de 398 pessoas em situação de rua foram entrevistadas em unidades de acolhimento
provisórias, totalizando 7272 pessoas em situação de rua.

Distribuição espacial
Analisando os números absolutos do total por Áreas de Planejamento
(tabela 3), verifica-se que nos dois anos estudados os maiores contingentes
estavam localizados na AP1 e AP3, respectivamente Área Central e Zona
Norte.
Tabela 3 - Pessoas em situação de rua, segundo localização e condição - Rio de Janeiro -
2020/2022
Na Rua Em Instituição Total
Localização
2020 2022 2020 2022 2020 2022
AP 1 - Centro e entorno 1.700 2.011 219* 209 2.317 2.220
AP 2 - Z. Sul, Tijuca e V.Isabel 1.420 1.382 62 81 1.482 1.463
AP 3 - Zona Norte 1.504 1.904 423 476 1.927 2.380
AP 4 - Barra e Jacarepaguá 436 455 198 290 634 745
AP 5 - Zona Oeste 375 501 537 556 912 1.057

Total     5.435 6.253 1.439 1.612 7.272* 7.865


Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS
*Nessa tabela não estão considerados 398 PSR que estavam em unidades provisórias de acolhimento,
contudo, tal quantitativo está sendo considerado no somatório geral.

Com exceção da AP 2, as demais áreas apresentaram um aumento no


quantitativo de pessoas “na rua” (rua + cena de uso) quando comparado ao
cenário de 2020.

Os gráficos a seguir mostram a comparação dos resultados entre 2020 e


2022, separados por localização, de acordo com as áreas de planejamento do
município. O gráfico 2 apresenta os resultados para aqueles que estão na
condição "na rua", enquanto o gráfico 3 mostra os resultados para aqueles na
condição "instituição".

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Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

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A figura 2 apresenta a distribuição das pessoas “na rua” na região
central e portuária, onde há maior concentração dessa população. Em
comparação aos resultados de 2020, observou-se uma mudança no
comportamento de deslocamento dessas pessoas pelo Centro. Houve uma
redução na concentração de pessoas nas áreas da Carioca e Cinelândia, e
agora há uma dispersão espacial mais ampla desse público.

Figura 2 - Localização das PSR “na rua” e em cenas de uso nas Regiões do Centro e Portuária - Rio de
Janeiro - 2020/2022

Obs. Os tamanhos dos círculos correspondem ao número de pessoas dentro da área demarcada. As
cores representam os anos, 2022 em azul e 2020 em laranja.

Fonte: - Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

Em termos das Instituições é preciso sublinhar que a estrutura de


organização das vagas de abrigo no município passa por alterações ao longo
do tempo, o que pode levar ao remanejamento de vagas disponíveis entre as
unidades do território. Além disso, no ano de 2020, o Censo foi realizado em
meio à pandemia, o que resultou na abertura de unidades de acolhimento
provisórias, especialmente no Centro. 398 pessoas foram entrevistadas nestas
unidades, contudo, para efeito de análise, não foi considerado esse quantitativo
na comparação de pessoas abrigadas em 2020 e 2022, devido ao seu caráter

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temporário, mas foram contabilizadas no quadro geral de população em
situação de rua daquele ano.

Além dessa análise, é importante olhar atentamente para as


particularidades de cada território e os espaços onde a população em situação
de rua, não institucionalizada, se encontrava no 1º e no 2º Censo, conforme
demonstrado a seguir na tabela 4.

Tabela 4 - PSR nas categorias Rua e Cenas de Uso, por localização - Rio de Janeiro -
2020/2022

Localidade Rua Cenas de Uso


2020 2022 2020 2022
AP 1  - Centro e entorno 1.488 1.875 212 136
AP 2 - Z. Sul, Tijuca e
1.247 1.365 173 17
V.Isabel
AP 3 - Zona Norte 889 1.104 615 800
AP 4 - Barra e Jacarepaguá 269 371 167 84
AP 5 - Zona Oeste 352 311 23 190
Total 4.245 5.026 1.190 1.227
Fonte: - Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

O crescimento da população, na condição “rua”, propriamente dita, foi


em torno de 18%. Tanto em 2020 quanto em 2022, em termos absolutos, tal
população predominou, nas AP1 e AP2. A AP 4 registrou um incremento de
37% enquanto na Zona Oeste, houve diminuição de cerca de 12%.

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Cenas de Uso

Destacando-se a categoria cenas de uso (tabela 4), é perceptível a


concentração de 800 pessoas na AP 3 - quatro vezes mais do que na AP 5. A
AP 2 - Zona Sul, por outro lado, sofreu uma redução de 90% no número de
pessoas. Já na AP 4, houve uma redução de 50%.
A figura 3, a seguir, mapeia a localização aproximada das pessoas em
cenas de uso de drogas, e ilustra a variação dos contingentes entre os dois
anos.

Figura 3 - Localização das PSR em cenas de uso de drogas - Rio de Janeiro - 2020/2022

Obs. Os tamanhos dos círculos correspondem ao número de pessoas dentro da área demarcada. As
cores representam os anos, 2022 em azul e 2020 em laranja.

Fonte: - Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

Detalhando a situação das cenas de uso na AP 3 - região majoritária


com 800 pessoas - , observa-se grande concentração e crescimento no tempo
nos bairros da Maré, Jacarezinho e Manguinhos, conforme gráfico a seguir.
Nos três bairros havia 347 pessoas (43% do total) naquela referida condição.

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Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro - IPP, SMAS e SMS

Perfil Socioeconômico
No ano de 2022, o perfil da população em situação de rua se manteve
similar ao do ano anterior. A maioria dos entrevistados (81,9%) era composta
por homens e 40,5% estavam na faixa etária entre 31 e 49 anos. É importante
destacar que nos números gerais houve uma redução no quantitativo de
crianças e adolescentes e um aumento de idosos e adultos. Quando são
consideradas apenas as pessoas na condição “na rua”, a tendência se
mantém, variando da seguinte forma: crianças, -5%; adolescentes, -8%; idosos,
+26%; e adultos, +16%.

A grande maioria, 83,7%, se autodeclarou como pretos ou pardos.


Quanto à escolaridade, 64% dos entrevistados possuíam ensino fundamental
incompleto e 10,8% não sabiam ler ou escrever um bilhete simples.

Questionados se a família também residia nas ruas ou em unidades de


acolhimento, 225 responderam que sim (4,3% a menos que em 2020), destes
179 estavam na rua e 46 em alguma instituição. A maior incidência ocorreu nas
Áreas de Planejamento 1 e 2, principalmente nos bairros do Centro e
Copacabana.

Em relação a dimensão de trabalho e renda, os resultados mostram que


quase 80% das pessoas em situação de rua realizavam alguma atividade para
obter dinheiro. Dentre esses, 57,7% trabalhavam como catadores de materiais

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recicláveis, chegando a 80% na região de Madureira. A situação de
insegurança alimentar é uma realidade constante, visto que 40,3% das
pessoas entrevistadas relataram ter ficado um dia inteiro sem comer na
semana que antecedeu ao censo. Adicionalmente, 46,6% das pessoas se
alimentaram no dia da entrevista por meio de doações, e 1,2% se alimentou
pelo que coletou do lixo.

Foi identificado que 17,4% dos entrevistados possuíam residência fixa e


mais de 55% mantinham contato com familiares. A grande maioria, 75,5%,
informou que no período de 30 dias que antecederam a pesquisa, dormiu na
rua todos os dias. Quando perguntados sobre o principal motivo que os
levaram à situação de rua, 43% indicaram os conflitos familiares, seguido de
alcoolismo/uso de drogas (21,5%) e desemprego ou perda de renda (12,8%).
Quando questionados sobre o que precisam para sair dessa situação, 41,2%
responderam que precisam de emprego.

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Anexo I - Distribuição da população em situação de rua por Região Administrativa (RA) do Município

Cenas de Unidades de Comunidades Hospitais e


Região Administrativa Na Rua Total
uso acolhimento Terapêuticas CAPS
Área de Planejamento 1
I - R.A. Portuária 151 15 77 - - 243
II - R.A. Centro 1.375 93 97 - 6 1.571
III - R.A. Rio Comprido 104 25 29 - - 158
VII - R.A. São Cristóvão 241 3 - - - 244
XXIII - R.A. Santa Teresa 4 - - - - 4
Área de Planejamento 2
IV - R.A. Botafogo 495 17 40 - - 552
V - R.A. Copacabana 365 - - - - 365
VI - R.A. Lagoa 212 - - - - 212
VIII - R.A. Tijuca 132 - 40 - 1 173
IX - R.A. Vila Isabel 157 - - - - 157
XXVII - R.A. Rocinha 4 - - - - 4
Área de Planejamento 3
X - R.A. Ramos 114 123 4 - 24 265
XI - R.A. Penha 118 39 - 36 - 193
XII - R.A. Inhaúma 62 168 - - 1 231
XIII - R.A. Méier 230 122 21 1 4 378
XIV - R.A. Irajá 50 3 - - - 53
XV - R.A. Madureira 183 41 12 81 2 319
XX - R.A. Ilha do Governador 132 29 186 - - 347
XXII - R.A. Anchieta 23 - - - - 23
XXV - R.A. Pavuna 103 - - - - 103
XXVIII - R.A. Jacarezinho 21 120 - - - 141
XXX - R.A. Complexo da Maré 51 155 - - - 206
XXXI - R.A. Vigário Geral 17 - 104 - - 121
Área de Planejamento 4
XVI - R.A. Jacarepaguá 220 44 241 11 9 525
XXIV - R.A. Barra da Tijuca 142 - 23 - 6 171
XXXIV - R.A. Cidade de Deus 9 40 - - - 49

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Cenas de Unidades de Comunidades Hospitais e
Região Administrativa Na Rua Total
uso acolhimento Terapêuticas CAPS
Área de Planejamento 5
XVII - R.A. Bangu 65 170 56 28 3 322
XVIII - R.A. Campo Grande 104 - 56 5 - 165
XIX - R.A. Santa Cruz 70 - 358 21 - 449
XXVI - R.A. Guaratiba 5 - - - - 5
XXXIII - R.A. Realengo 67 20 28 - 1 116
Total 5.026 1.227 1.372 183 57 7.865

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