Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
A elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico no Brasil requer mobilização e
participação social, que são estabelecidas pela legislação e também consideradas estratégias
fundamentais para o engajamento de todos os envolvidos, afetados e afetos pelas decisões
presentes e futuras do plano. Nesse contexto, este trabalho descreve as estratégias
metodológicas utilizadas para elaborar um questionário de percepção social sobre Saneamento
Básico, que é uma ferramenta do Plano Municipal de Saneamento Básico utilizada na etapa do
diagnóstico para levantar dados primários. Por meio de uma revisão bibliográfica, o artigo
investiga diferentes métodos utilizados em pesquisas sociais e questionários para a produção de
documentos capazes de gerar diferentes tipos de dados e informações. Um questionário bem
elaborado pode ir além do levantamento de dados estatísticos para uso oficial e também gerar
dados que entregam aos gestores uma compreensão mais adequada da realidade social e aos
respondentes um convite à participação ativa na geração e interpretação de dados, bem como
em todo o processo envolvido no Plano Municipal de Saneamento. Os resultados indicam que
a pesquisa de base realizada para embasar a construção do questionário foi essencial, pois
permitiu a elaboração de uma ferramenta adequada para os cenários, cumprindo sua função de
ser acessível, informativo e sensibilizador.
in a Municipal Plan for Sanitation. The results demonstrate that the underlying research
conducted to support the construction of the questionnaire was essential, as it allowed the
development of a suitable tool for the scenarios, fulfilling its function of being accessible,
informative, and sensitizing.
1 Introdução
Garantido pela Constituição Federal e instituído pela Lei Federal nº 11.445/2007, o
acesso ao saneamento básico é um direito universal, sendo uma condição essencial para
alcançar níveis adequados de saúde pública e salubridade ambiental, tendo como consequência
natural a melhoria da qualidade de vida humana e a redução das desigualdades sociais
(BRASIL, 1988; BRASIL, 2007). O instrumento central que dá subsídios para gestão desses
serviços, que envolvem abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e
drenagem pluvial, é o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). O PMSB é um
instrumento da Política de Saneamento Básico que atua para garantir a universalização do
acesso ao saneamento (BRASIL, 2007).
Ainda, as referidas leis indicam que durante o planejamento devem ser estabelecidos os
mecanismos de controle social dos serviços públicos, incluindo a participação de órgãos
colegiados de caráter consultivo, as consultas públicas e o engajamento da sociedade (BRASIL,
1988; BRASIL, 2007). No Brasil, o principal documento técnico orientador para elaboração de
PMSB é o Termo de Referência (TR) da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2018), o qual
traz a necessidade pela elaboração de uma estratégia de comunicação e participação social
durante as fases do trabalho, indicando que a relação entre as instituições e sociedade deve ser
constante.
A FUNASA caracteriza essa estratégia como um “pacto social”, pois deve ser “capaz de
sensibilizar a população e gestores sobre a relevância do saneamento básico, bem como ser um
instrumento para fortalecer e qualificar a participação popular e ferramenta para organizar e
consolidar informações de saneamento” (FUNASA, 2018).
O TR da FUNASA (2018) sugere o uso de um questionário de percepção social na etapa
do diagnóstico para a obtenção de dados primários acerca dos serviços de saneamento. No en-
tanto para que o questionário seja uma ferramenta da compreensão da realidade local e das
diferentes necessidades da população, é necessário que seja abrangente e inclusivo, de modo a
gerar informações úteis e objetivas (OLIVEIRA, [s.d]; RAMOS, 2013).
Além disso, durante as etapas de elaboração do Plano, podem ser aplicadas outras prá-
ticas de mobilização social, concomitantemente, como: buscar meios para amplo acesso à in-
formação (rádios, jornais, redes sociais, etc.) reuniões técnicas direcionadas, consultas públicas,
entre outros (FUNASA, 2018). Assim, o questionário a ser aplicado no início da elaboração de
um Plano, também permite que a ferramenta seja usada como (mais) uma maneira de informar,
sensibilizar e convidar a participação popular – além do seu papel tradicional de levantamento
de dados.
Isso acaba por trazer a oportunidade de elaboração de instrumento de coleta de dados na
forma de questionário, capaz tanto de produzir dados quantitativos e qualitativos, quanto de
informar e envolver a população. Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi definir quais estra-
tégias seriam adequadas para serem utilizadas na elaboração de um questionário de percepção
social em saneamento e quais seus possíveis usos em PMSB.
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
2 Metodologia
O presente trabalho discorre sobre a elaboração de um modelo de questionário que seja
completo ao atender às necessidades da pesquisa, acessível e com diferentes objetivos,
desenvolvido para ser aplicado durante a fase de elaboração do diagnóstico de PMSB.
Para essa construção, a metodologia escolhida foi a revisão bibliográfica e documental
acerca do tema, como base para a proposição de um instrumento de coleta de dados na forma
de um questionário.
Foram definidos três grandes eixos que pautaram a escolha da literatura consultada:
1. documentos técnicos e de referência acerca do que são Planos de Saneamento
Básico;
2. textos técnicos e de instrução acerca da elaboração de questionários e,
3. textos teóricos acerca dos diferentes tipos de pesquisa, dados gerados e sua
aplicabilidade.
3 Resultados
Um questionário pode ser utilizado para os mais variados fins. Saber onde se quer chegar
é fundamental para sua elaboração (CELTA, 1996). De acordo com o objetivo de um PMSB –
a universalização do acesso - a população deve ser vista não só como consumidor final do
serviço de saneamento, mas também como participante ativo na construção de um novo plano,
na obtenção de dados, informações e diagnóstico (BRASIL, 2011). Isso significa que a
sociedade não serve somente como estatística na hora de avaliar um serviço, mas também como
um grupo que produz sua própria realidade e percebe que isso gera necessidades diferentes em
relação ao saneamento municipal (BRASIL, 2011). Para atingir esse nível de participação e
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
A pesquisa utilizada para aprender sobre sociedades e pessoas e, assim, poder fornecer
serviços mais adequados às suas necessidades intitula-se pesquisa social (CASTELLANO,
[s.d.]). Num PMSB uma dessas ferramentas de pesquisa social é o questionário. Ele serve para
obtenção de dados primários na etapa do diagnóstico, e neste caso foi construído para testar seu
uso também como ferramenta de participação social na etapa de mobilização, indo além da
obtenção de dados estatísticos (RAMOS, 2013 e BRASIL, 2011). Foi o desejo de encontrar nos
questionários informações acerca da percepção pessoal da realidade local que levou à
construção de um modelo que utilizasse referências tanto quantitativas como qualitativas – uma
vez que a pesquisa quantitativa tende a enfatizar atributos mensuráveis da experiência humana,
enquanto a pesquisa qualitativa enfatiza aspectos holísticos e individuais, “para apreender a
totalidade no contexto daqueles que estão vivenciando o fenômeno” (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009 e OLIVEIRA, [s.d]).
Segundo Ramos (2013) e Bachini & Chicarini (2018), na elaboração de um
questionário, além de ser importante saber aonde se quer chegar, também é necessário saber o
que se deseja fazer com os dados obtidos. Se aplicamos um questionário apenas para fins de
acesso a dados estatísticos, modelos quantitativos são o suficiente (CANO, 2012). Se quisermos
respostas capazes de nos aproximar da percepção local da realidade dos serviços, podemos
utilizar metodologias qualitativas na sua elaboração. E, finalmente, se quisermos uma mistura
de ambos, como é o caso deste questionário elaborado, podemos utilizar uma mescla das
metodologias numa mesma ferramenta (CANO, 2012).
De acordo com Bernard (1988), mais importante do que conhecer todos os métodos para
eleger algum como “ideal”, é conhecê-los para saber qual o momento correto de aplicar cada
um e, principalmente, quais métodos a realidade irá permitir sua aplicação. O autor ainda
conclui que não existe algum método melhor do que o outro, e que a escolha entre algum deles
“vai depender de seus próprios cálculos de itens como custos, conveniência, natureza das
perguntas realizadas” (BERNARD, 1988).
A pesquisa tema do presente artigo trata-se da formulação de um questionário sobre
Saneamento Básico, como método de avaliação e obtenção de dados da percepção social sobre
esse serviço (Figura 1). O questionário encontra-se dividido em quatro blocos de perguntas,
cada bloco relativo a uma área do saneamento (coleta de resíduos, drenagem pluvial,
esgotamento sanitário e abastecimento de água). Além destes quatro blocos de perguntas,
existem sessões extras a respeito de cobranças e tarifas, educação ambiental e uma sessão final
contendo uma pesquisa de satisfação sobre o próprio questionário.
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
os tipos de pergunta atinge diferentes personalidades de respondentes (os que preferem dar sua
opinião e os que preferem focar nas alternativas) e também quebra a monotonia do questionário.
A escala Likert é o tipo de escala mais comum utilizada em questionários, criada para
medir estados internos das pessoas. Porém seu modelo permite variações e, inclusive, uso para
diferentes propósitos (Bernard, 1988). Uma escala “modelo Likert” pode ser feita de 3, 5 ou 7
alternativas e diferentes tipos de escala de concordância (concordo-discordo, aprovo-
desaprovo, excelente-ruim, etc.). Percebe-se que é uma escala importante tanto por permitir
medir questões mais subjetivas quanto para apresentar qualquer outra questão em formatos
diferentes. (Survey Monkey, [s.d.]).
No questionário desenvolvido, a escala Likert foi utilizada em diferentes momentos e
com diferentes propósitos (Figura 2). O primeiro motivo da escolha foi a familiaridade dos
7º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 9 a 11 de maio de 2023
gestores, aplicadores e respondentes com a escala, já que é uma das mais utilizadas – sendo de
fácil compreensão. Em termos gráficos, a presença da escala também quebrava a monotonia
das perguntas, tornando um questionário longo em algo divertido de preencher.
A escala foi utilizada para perguntas objetivas e subjetivas. O que interessa aqui é a
multidimensionalidade das respostas: em muitas questões o uso da escala se justificou
justamente pelo intuito de buscar as diferentes dimensões que compõe o cenário do saneamento
local e sua percepção. Para as questões mais subjetivas, se utilizou a escala com 7 alternativas
em alguns momentos e o modelo de perguntas abertas em outros.
4 Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei Nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco legal do saneamento básico
e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2020.
Nacional de Saúde; Paula Loureiro Paulo, Adriana Farina Galbiati, Fernando Jorge Corrêa
Magalhães Filho. – Campo Grande : UFMS, 2018.
CANO, Ignacio. Nas trincheiras do método: o ensino da metodologia das ciências sociais no
Brasil. Em: Sociologias, Porto Alegre, ano 14, nº31, set-dez. 2012, p. 94-119.
Métodos de pesquisa/ [organizado por] Tatiana Engel Gerhardt e Denise Tolfo Silveira;
coordenado pela Universidade Aberta do Brasil - UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação
Tecnológica – Planejamento e Gestão para Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. – Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
Survey Monkey. O que é uma escala Likert?. [s.d.]. Disponível em: <
https://pt.surveymonkey.com/mp/likert-scale/> Acesso em: 27 de fevereiro de 2023.