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FILOSOFIA POLÍTICA
NO ENEM
Ronald Honório de Santana
A Filosofia Política.
A palavra “política” tem diversos
sentidos. No entanto, em termos
conceituais, a política é a arte de
governar, diz respeito à gestão dos
destinos da comunidade (pólis =
Política: cidade).

Os gregos foram os primeiros a


elaborar uma reflexão sobre a
política. Mais tarde, foram elaboradas
teorias políticas que ora analisam a
transformação da sociedade (Locke),
ora propõem vias revolucionárias
(Marx), mas a política sempre esteve
vinculada à ideia de poder.
POLÍTICA
A ideia de poder está relacionada à capacidade de ação sobre
indivíduos ou grupos de indivíduos. O poder é uma relação entre
aquele que o exerce e aquele sobre quem
ele é exercido. O exercício do poder pressupõe o uso da força,
aqui entendida como a capacidade de influenciar
o comportamento de outrem.

Na Idade Média, o poder do governante assentava-se na


ideia de sua origem divina. A partir da Idade Moderna, a
noção de contrato social estabelecido pelos governados
dá legitimidade ao governante, inclusive para deter o
monopólio do uso da força física. Desde então, o Estado
torna-se um estado de direito, porque segue princípios
legais.
Política na Grécia Antiga

Na Grécia antiga, o termo POLÍTICA


estava relacionado à PÓLIS, à cidade-
Estado grega. A política dizia respeito à
participação dos negócios públicos, nos
assuntos da coletividade.

Na democracia ateniense, os cidadãos


participavam diretamente das discussões
e das decisões que se referiam ao destino
da PÓLIS. Participar da política era
considerado algo nobre e fundamental
para a REALIZAÇÃO DO HOMEM.
O Estado ideal de Platão
Platão sistematizou conceito sobre a sociedade e a política
e concebeu um Estado Ideal, no qual a justiça resulta do
respeito à ordem natural das classes sociais ou à
inclinação natural de cada indivíduo.

Para Platão, a política e o Estado perfeito não estão


desvinculados de seu sistema metafísico. O estado justo
deve promover o aprimoramento da alma dirigindo-a para
a forma ou a ideia de bem.

Aristóteles e o animal Política

Segundo Aristóteles, o homem é um animal racional e


político.

Para esse filósofo, a felicidade individual, o bem individual,


vincula-se e subordina-se ao bem coletivo.
1. (Enem PPL 2019) Vimos que o homem sem lei é injusto e o
respeitador da lei é justo; evidentemente todos os atos legítimos são,
em certo sentido, atos justos, porque os atos prescritos pela arte do
legislador são legítimos e cada um deles é justo. Ora, nas disposições
que tomam sobre todos os assuntos, as leis têm em mira a vantagem
comum, quer de todos, quer dos melhores ou daqueles que detêm o
poder ou algo desse gênero; de modo que, em certo sentido, chamamos
justos aqueles atos que tendem a produzir e a preservar, para a
sociedade política, a felicidade e os elementos que a compõem.
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010 (adaptado).

De acordo com o texto de Aristóteles, o legislador deve agir conforme a:


a) moral e a vida privada.
b) virtude e os interesses públicos.
c) utilidade e os critérios pragmáticos.
d) lógica e os princípios metafísicos.
e) razão e as verdades transcendentes.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

O legislador deve, segundo Aristóteles,


agir em função do bem comum,
perseguindo, portanto, o exercício da
virtude.
2. (Enem 2017) Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que
desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse
fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não
terá o conhecimento, porventura, grande influência sobre essa vida? Se
assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais
apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades constitui o
objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais
prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra.
Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais
as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada
cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades
tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão
sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro
lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a
finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa
finalidade será o bem humano.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Paulo: Nova Gunman 1991 (adaptado).
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis
pressupõe que:
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses.
b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da
verdade.
c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da
cidade.
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir
corretamente.
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem
comum.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

O texto deixa claro o pensamento


aristotélico, segundo o qual a política
abrange as outras ciências por ter como
finalidade o sumo bem humano.
3. (Enem (Libras) 2017) TEXTO I: Aquele que não é capaz de
pertencer a uma comunidade ou que dela não tem
necessidade, porque se basta a si mesmo, não é em nada
parte da cidade, embora seja quer um animal, quer um deus.
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

TEXTO II: Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida de um


eremita em meio à natureza selvagem, é possível sem um
mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a presença
de outros seres humanos.
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

Associados a contextos históricos distintos, os fragmentos convergem


para uma particularidade do ser humano, caracterizada por uma
condição naturalmente propensa à:
a) atividade contemplativa.
b) produção econômica.
c) articulação coletiva.
d) criação artística.
e) crença religiosa.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Retomando a reflexão clássica em


relação ao espaço público e à política,
Hannah Arendt desenvolve a ideia de
mundo comum, que corresponde ao
espaço em que estamos em companhia
dos outros e onde há um interesse
comum, ou seja, onde há um articulação
coletiva.
4. (Enem 2013) A felicidade é portanto, a melhor, a mais nobre e a mais
aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados
como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais
justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”.
Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e
entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade.
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.

Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos,


Aristóteles a identifica como
a) busca por bens materiais e títulos de nobreza.
b) plenitude espiritual a ascese pessoal.
c) finalidade das ações e condutas humanas.
d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Aristóteles parte do senso comum para afirmar que todas as


atividades humanas, pragmáticas ou teóricas, miram um bem
qualquer, de modo que o bem pode ser definido como aquilo a
que todas as ações tendem. Todavia, nem todas as atividades
do homem tendem para o bem da mesma maneira, pois algumas
ações são seus próprios fins e outras são meios através dos
quais se atinge alguma finalidade desejada. O homem é capaz
de muitas atividades e, por conseguinte, é capaz de atingir
muitos fins. Alguns destes fins estão subordinados a outros –
por exemplo, a finalidade da agricultura é a alimentação – e,
consequentemente, se não podemos dizer que cultivamos
apenas por cultivarmos, ao contrário podemos dizer que nos
alimentamos apenas por nos alimentarmos.
5. (Enem PPL 2013) Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil
para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conveniente ir em
busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos,
pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou
conhecidos como tendo realmente existido.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Disponível em: www.culturabrasil.pro.br. Acesso em: 4 abr. 2013.

A partir do texto, é possível perceber a crítica maquiaveliana à filosofia


política de Platão, pois há nesta a:
a) elaboração de um ordenamento político com fundamento na
bondade infinita de Deus.
b) explicitação dos acontecimentos políticos do período clássico de
forma imparcial.
c) utilização da oratória política como meio de convencer os oponentes
na ágora.
d) investigação das constituições políticas de Atenas pelo método
indutivo.
e) idealização de um mundo político perfeito existente no mundo das
ideias.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Observa-se no texto de Maquiavel uma crítica à


concepção da política predominante, sobretudo, na
filosofia platônica, que se baseia em uma sociedade
em que cada indivíduo realiza aquilo que é, pela sua
natureza, apto a realizar e na qual a prática política
seria ideal e capaz de garantir a justiça plena. Para
Maquiavel, a política é uma construção humana e por
isso não deve ser entendida a partir de idealizações,
mas sim a partir da percepção pragmática de como se
deve agir a fim de garantir a ordem social e a
manutenção do poder.
Democracia .
POLÍTICA
 Uma das formas de legitimação do poder político é a
democracia, que teve origem na Grécia. Em seu sentido
etimológico, quer dizer “governo do povo”. Entretanto, da
democracia grega estavam excluídos mulheres, escravos e
estrangeiros. No entanto, a invenção da democracia já
destacava os valores de igualdade, liberdade e participação.

• Alguns aspectos importantes da democracia: A


democracia é um regime político que deve zelar pela
pluralidade de convicções, com garantia de livre
expressão, desde que dentro dos limites legais. Por
exemplo, uma opinião racista deve ser coibida pelo
Estado, porque ofende os princípios legais e a
dignidade humana.
POLÍTICA

•A democracia se caracteriza também pela eleição do


governante pelo conjunto dos cidadãos, bem como pela
alternância regular e periódica do poder.

•A ideia de democracia está intimamente ligada à de cidadania.


O cidadão é um sujeito com direitos (civis e sociais) e deveres
(obrigações) perante o Estado. Ser cidadão não significa apenas
exercer o direito do voto, mas desenvolver uma cidadania ativa,
com ampla participação do indivíduo na vida pública.
POLÍTICA
• A democracia no Brasil: Pode-se falar da
existência de uma democracia formal no Brasil,
que consiste no conjunto das instâncias
características desse regime: instituições
democráticas, eleições livres, liberdade de
pensamento e de expressão, liberdade de imprensa
etc.

• Do ponto de vista da democracia substancial,


que avalia os resultados do processo formal da
democracia, ainda há imensas diferenças sociais,
dada a grande parcela da população que vive na
pobreza, que tem limitado o acesso à democracia
política, social, econômica e jurídica.
Totalitarismo e autoritarismo
O totalitarismo expressou-se no século XX na Alemanha de
Hitler, na Itália de Mussolini e na União Soviética de Stálin.

No totalitarismo, o Estado interfere em todos os setores da


vida do cidadão, manipulado pela formação de organismos
de massa e pela propaganda política.

O partido único despreza o pluralismo partidário.

Subordinação do Legislativo e do Judiciário ao poder


Executivo.

Polícia política. Campos de extermínio


Totalitarismo e autoritarismo
O autoritarismo: os governos autoritários também cerceiam
as liberdades individual e de imprensa pela censura e
detêm um aparelho repressivo.

Distinguem-se dos governos totalitários por não se


sustentar por uma ideologia de base.

Mantêm a aparência de democracia, permitindo a atividade


de outros partidos, mas de oposição apenas formal.

Perseguição aos dissidentes com prisão, tortura e morte.

A partir da década de 1960, vários países sul-americanos


foram submetidos a governos militares autoritários, como
Brasil, Uruguai, Argentina e Chile.
Totalitarismo e autoritarismo

Na atualidade, têm ocorrido manifestações neonazistas,


enquanto em alguns países árabes movimentos populares
vêm depondo seus ditadores. Em outros persistem as
teocracias, nas quais governos fortes se fundamentam em
concepções religiosas radicais.
6. (Enem 2019) Em sentido geral e fundamental, Direito é a
técnica da coexistência humana, isto é, a técnica voltada a
tornar possível a coexistência dos homens. Como técnica, o
Direito se concretiza em um conjunto de regras (que, nesse
caso, são leis ou normais); e tais regras têm por objeto o
comportamento intersubjetivo, isto é, o comportamento
recíproco dos homens entre si.
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

O sentido geral e fundamental do Direito, conforme foi


destacado, refere-se à:
a) aplicação de códigos legais.
b) regulação do convívio social.
c) legitimação de decisões políticas.
d) mediação de conflitos econômicos.
e) representação da autoridade constituída.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

O Direito, na forma como foi apresentado


no texto, corresponde a regras que
possibilitam a regulação do convívio
social, sendo uma pré-condição para a
constituição de uma comunidade política.
7. (Enem PPL 2015) Na sociedade democrática, as opiniões de cada um
não são fortalezas ou castelos para que neles nos encerremos como forma
de autoafirmação pessoal. Não só temos de ser capazes de exercer a razão
em nossas argumentações, como também devemos desenvolver a
capacidade de ser convencidos pelas melhores razões. A partir dessa
perspectiva, a verdade buscada é sempre um resultado, não ponto de
partida: e essa busca inclui a conversação entre iguais, a polêmica, o
debate, a controvérsia.
SAVATER, F. As perguntas da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2001 (adaptado).

A ideia de democracia presente no texto, baseada na concepção de


Habermas acerca do discurso, defende que a verdade é um(a):
a) alvo objetivo alcançável por cada pessoa, como agente racional
autônomo.
b) critério acima dos homens, de acordo com o qual podemos julgar quais
opiniões são as melhores.
c) construção da atividade racional de comunicação entre os indivíduos,
cujo resultado é um consenso.
d) produto da razão, que todo indivíduo traz latente educativo.
e) resultado que se encontra mais desenvolvido nos espíritos elevados, a
quem cabe a tarefa de convencer os outros.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

O autor destaca, no texto, o papel da


comunicação entre indivíduos como
fundamental na busca pela verdade, o que
está de acordo com a concepção de
Habermas de racionalidade comunicativa, a
qual pressupõe o diálogo coletivo como
caminho intelectual para obter verdades.
Assim, o conhecimento verdadeiro se daria a
partir da troca de argumentos baseados na
razão, na qual o mais bem fundamentado
prevaleceria.
8.(ENEM 2010)

Democracia: “regime político no qual a soberania é exercida pelo povo,


pertence ao conjunto dos cidadãos.”
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionario Basico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

Uma suposta “vacina” contra o despotismo, em um contexto


democrático, tem por objetivo
a) impedir a contratação de familiares para o serviço público.
b) reduzir a ação das instituições constitucionais.
c) combater a distribuição equilibrada de poder.
d) evitar a escolha de governantes autoritários.
e) restringir a atuação do Parlamento.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

A questão faz referência ao


nepotismo e aos atos praticados por
governantes despóticos.
Contratualismo e divisão de poderes
O conceito de direito natural (jusnaturalismo) consiste na
defesa de uma lei universal ditada pela razão humana.

Apesar de antigo, foi na Idade Moderna que o conceito de


direito natural tornou-se laico, desvinculado da religião.

Na direção do jusnaturalismo surgiu a vertente teórica do


contrato social, elaborada pelos filósofos Thomas Hobbes,
John Locke e Jean-Jacques Rousseau.

No estado de natureza, o indivíduo viveria como dono


exclusivo de si e dos seus poderes: que motivo o teria
levado a se submeter a um Estado?

A pergunta é sobre a legitimidade do Estado. Aqueles


filósofos respondem que o poder deve se fundar na
representatividade e no consenso.
Contratualismo Thomas Hobbes
Hobbes fundamentou a existência do Estado moderno na
necessidade de o homem superar a situação de estado de
natureza, de guerra de todos contra todos.

Para Hobbes, a via em sociedade e a formação de um Estado ou


de uma República pressupõem um pacto ou contrato social, pelo
qual os membros dessa sociedade transferem para o governante
soberano o seu direito natural de agir livremente em defesa da
sua vida e da sua segurança.

Em troca da segurança e da preservação da própria vida,


ameaçadas no estado de natureza, os indivíduos realizam o
contrato social: um pacto pelo qual abrem mão de sua liberdade
e transferem o governo para um soberano.

O soberano possui um poder absoluto, total e ilimitado. Para


atemorizar os indivíduos, exerce seu poder pela força, pela
ameaça e pelo castigo. Esse poder é incontestável pelo súdito.
9. (Enem 2018) TEXTO I: Tudo aquilo que é válido para um tempo de
guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, é válido também
para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão
a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e invenção.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

TEXTO II: Não vamos concluir, com Hobbes que, por não ter nenhuma ideia
de bondade, o homem seja naturalmente mau. Esse autor deveria dizer
que, sendo o estado de natureza aquele em que o cuidado de nossa
conservação é menos prejudicial à dos outros, esse estado era, por
conseguinte, o mais próprio à paz e o mais conveniente ao gênero humano.
ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (adaptado).

Os trechos apresentam divergências conceituais entre autores que


sustentam um entendimento segundo o qual a igualdade entre os
homens se dá em razão de uma:
a) predisposição ao conhecimento.
b) submissão ao transcendente.
c) tradição epistemológica.
d) condição original.
e) vocação política.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Os textos apresentam diferentes


perspectivas acerca da fundamentação do
princípio de igualdade entre os indivíduos.
Ambos os posicionamentos pensam esse
princípio a partir das condições em que os
indivíduos se encontravam antes da
instituição da sociedade civil, condições
essas que caracterizariam um estado de
natureza. É, portanto, a condição original
humana do estado de natureza que fornece
as bases para o pensamento de ambos os
autores.
10. (Enem 2ª aplicação 2016) Texto I: Até aqui expus a
natureza do homem (cujo orgulho e outras paixões o
obrigaram a submeter-se ao governo), juntamente com o
grande poder do seu governante, o qual comparei com o
Leviatã, tirando essa comparação dos dois últimos versículos
do capítulo 41 de Jó, onde Deus, após ter estabelecido o
grande poder do Leviatã, lhe chamou Rei dos Soberbos. Não
há nada na Terra, disse ele, que se lhe possa comparar.
HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Texto II: Eu asseguro, tranquilamente, que o governo civil é a


solução adequada para as inconveniências do estado de
natureza, que devem certamente ser grandes quando os
homens podem ser juízes em causa própria, pois é fácil
imaginar que um homem tão injusto a ponto de lesar o irmão
dificilmente será justo para condenar a si mesmo pela mesma
ofensa.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Petrópolis: Vozes, 1994.
Thomas Hobbes e John Locke, importantes teóricos
contratualistas, discutiram aspectos ligados à natureza humana e
ao Estado. Thomas Hobbes, diferentemente de John Locke,
entende o estado de natureza como um(a):
a) condição de guerra de todos contra todos, miséria universal,
insegurança e medo da morte violenta.
b) organização pré-social e pré-política em que o homem nasce
com os direitos naturais: vida, liberdade, igualdade e propriedade.
c) capricho típico da menoridade, que deve ser eliminado pela
exigência moral, para que o homem possa constituir o Estado civil.
d) situação em que os homens nascem como detentores de livre-
arbítrio, mas são feridos em sua livre decisão pelo pecado original.
e) estado de felicidade, saúde e liberdade que é destruído pela
civilização, que perturba as relações sociais e violenta a
humanidade.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Diferentemente de Locke, que entende que o


estado de natureza se caracteriza pela atuação
dos indivíduos como juízes das suas próprias
causas. Sendo o agir humano influenciado
pelas paixões, para Hobbes, no estado de
natureza todos os homens são livres para usar
de quaisquer meios para satisfazer suas
necessidades e desejos, o que
necessariamente leva à disputa constante
entre os indivíduos e à um estado de guerra
permanente, que ameaça a segurança e o
direito à vida de todos. Assim, na ausência de
um Estado que regularize as ações humanas, o
homem torna-se “lobo do próprio homem”.
11. (Enem PPL 2016) A importância do argumento de Hobbes está em
parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante plausíveis
sobre as condições normais da vida humana. Para exemplificar: o
argumento não supõe que todos sejam de fato movidos por orgulho e
vaidade para buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma
suposição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida por
Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o argumento
assustador e lhe atribui importância e força dramática é que ele acredita
que pessoas normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser
inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então,
em um estado de guerra.
RAWLS, J. Conferências sobre a história da filosofia política. São Paulo: WMF, 2012 (adaptado).

O texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como


a) alienação ideológica.
b) microfísica do poder.
c) estado de natureza.
d) contrato social.
e) vontade geral.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Thomas Hobbes é um dos filósofos


contratualistas, exatamente por
considerar que toda comunidade
política é fundada em um pacto
social. A ausência dessa pacto faz
com que os indivíduos estejam em
um estado de natureza, na qual
haveria a guerra de todos contra
todos.
12. (Enem 2015) A natureza fez os homens tão iguais, quanto
às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes
se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo,
ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando
se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e
outro homem não é suficientemente considerável para que
um deles possa com base nela reclamar algum benefício a
que outro não possa igualmente aspirar.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003

Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando


dois homens desejavam o mesmo objeto, eles:
a) entravam em conflito.
b) recorriam aos clérigos.
c) consultavam os anciãos.
d) apelavam aos governantes.
e) exerciam a solidariedade.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Segundo Hobbes, os homens, em


seu estado de natureza,
permanecem em um constante
conflito. É a constituição da cidade
civil que irá por fim a esse estado
de guerra de todos contra todos.
13. (Enem PPL 2013) Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir
ao contrato uma soberania absoluta e indivisível. Ensina que, por
um único e mesmo ato, os homens naturais constituem-se em
sociedade política e submetem-se a um senhor, a um soberano.
Não firmam contrato com esse senhor, mas entre si. É entre si que
renunciam, em proveito desse senhor, a todo o direito e toda
liberdade nocivos à paz.
CHEVALLIER, J. J. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro: Agir, 1995 (adaptado).

A proposta de organização da sociedade apresentada no texto


encontra-se fundamentada na:
a) imposição das leis e na respeitabilidade ao soberano.
b) abdicação dos interesses individuais e na legitimidade do
governo.
c) alteração dos direitos civis e na representatividade do monarca.
d) cooperação dos súditos e na legalidade do poder democrático.
e) mobilização do povo e na autoridade do parlamento.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Na concepção da filosofia hobbesiana, a legitimidade do


poder do Estado parte do pressuposto de que os
homens, no estado de natureza – sem um instrumento
que regule as ações humanas - são iguais e totalmente
livres, o que caracteriza uma situação social de guerra
permanente de todos contra todos. Assim, segundo
Hobbes, para possibilitar a segurança e a manutenção da
vida, os indivíduos renunciam à liberdade absoluta do
estado natural em prol do Estado, que estabelece a
estabilidade social ao garantir a paz e a segurança. A
legitimidade do poder do Estado, portanto, se baseia na
existência desse contrato social, firmado entre os
indivíduos de uma sociedade, em que a liberdade
absoluta de todos é alienada à um Estado que concentra
o poder de elaborar e impor leis sociais.
Contratualismo John Locke
Para Locke, no estado de natureza os indivíduos não se
encontram em guerra uns contra os outros. O contrato
social, no entanto, é necessário para garantir a
preservação da propriedade dos indivíduos (vida,
liberdade, bens).

Ao contrário do que ocorre em Hobbes, os homens têm


direito à insurreição caso o soberano traia a confiança
nele depositada.

Como representante dos ideais burgueses, Locke


enfatizou a necessidade de preservação da propriedade. E
propriedade, para ele, significa ser dono do próprio corpo,
o que condena a servidão e a escravidão.
Contratualismo John Locke

No entanto, a concepção de liberdade de Locke


é abstrata e elitista, porque apenas os que têm
fortuna podem usufruir da plena cidadania, para
votar ou ser votado.

Para Locke, a constituição de uma sociedade


política seria estabelecida para garantir os
direitos naturais como a vida, a liberdade e a
propriedade. Para isso, ele defendia a
necessidade de estabelecer um poder
consentido, que poderia ser destituído caso não
respeitasse a decisão soberana dos cidadãos.
14. (Enem PPL 2014) Sendo os homens, por natureza, todos livres,
iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua propriedade e
submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. A
maneira única em virtude da qual uma pessoa qualquer renuncia à
liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em
concordar com outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade
para viverem com segurança, conforto e paz umas com as outras,
gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando
de maior proteção contra quem quer que não faça parte dela.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1978.

Segundo a Teoria da Formação do Estado, de John Locke, para viver em


sociedade, cada cidadão deve
a) manter a liberdade do estado de natureza, direito inalienável.
b) abrir mão de seus direitos individuais em prol do bem comum.
c) abdicar de sua propriedade e submeter-se ao poder do mais forte.
d) concordar com as normas estabelecidas para a vida em sociedade.
e) renunciar à posse jurídica de seus bens, mas não à sua
independência.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Para John Locke, filósofo contratualista,


a sociedade civil se constitui quando os
indivíduos, em comum acordo,
renunciam à liberdade absoluta do
estado de natureza e se submetem às
normas sociais, de forma que seja
possível a garantia dos direitos naturais,
entre eles o direito à propriedade
privada e à vida.
15. (Enem 2ª aplicação 2016) A justiça e a conformidade ao contrato
consistem em algo com que a maioria dos homens parece concordar.
Constitui um princípio julgado estender-se até os esconderijos dos
ladrões e às confederações dos maiores vilões; até os que se afastaram
a tal ponto da própria humanidade conservam entre si a fé e as regras
da justiça.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 2000 (adaptado).

De acordo com Locke, até a mais precária coletividade depende de uma


noção de justiça, pois tal noção:
a) identifica indivíduos despreparados para a vida em comum.
b) contribui com a manutenção da ordem e do equilíbrio social.
c) estabelece um conjunto de regras para a formação da sociedade.
d) determina o que é certo ou errado num contexto de interesses
conflitantes.
e) representa os interesses da coletividade, expressos pela vontade da
maioria.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

A filosofia contratualista, da qual John


Locke é representante, parte da noção
de que a vida em sociedade demanda a
existência de uma ordem social que
regule as ações dos indivíduos e
garanta a proteção dos direitos naturais
de cada membro da sociedade. Para
Locke, o estabelecimento de um pacto
social, a partir de um contrato,
possibilita a manutenção dessa ordem
e, por conseguinte, do equilíbrio no
convívio em sociedade.
Contratualismo Jean-Jacques Rousseau
O indivíduo encontra-se livre e feliz no estado de natureza
(o “bom selvagem”). A propriedade, contudo, é a
responsável pela desigualdade entre os homens.

O verdadeiro contrato social, ao contrário do falso


contrato, não retira do povo sua soberania.

Com esse pressuposto, Rousseau recupera a noção de


democracia direta ou participativa, mantida por meio de
assembleias de todos os cidadãos.

A vontade geral: é a disposição de legislar não como


pessoa privada, mas como pessoa pública.

A vontade geral não se confunde com a vontade da


maioria, porque a somatória dos interesses particulares
pode ser egoísta e não atender ao bem comum.
Contratualismo Jean-Jacques Rousseau

Rousseau acreditava que o homem por


natureza é bom e que os vícios e os males
humanos advêm da sociedade. Seria necessário
reorganizar a sociedade sobre novas bases,
resgatando a liberdade e a igualdade humanas,
desenvolvendo a tendência natural do homem
para o bem.

Para Rousseau, o contrato social deveria ser um


acordo de homem livres e iguais que abdicariam
de interesses particulares em favor do bem
comum, no qual a vontade geral seria a própria
vontade de cada cidadão (de cada pactuante).
16. (Enem PPL 2019) TEXTO I: Eu queria movimento e não um curso calmo
da existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me
por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não
encontrava escoadouro em nossa vida.
TOLSTÓI, L. Felicidade familiar. Apud KRAKAUER, J. Na natureza selvagem. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

TEXTO II: Meu lema me obrigava, mais que a qualquer outro homem, a um
enunciado mais exato da verdade; não sendo suficiente que eu lhe
sacrificasse em tudo o meu interesse e as minhas simpatias, era preciso
sacrificar-lhe também minha fraqueza e minha natureza tímida. Era preciso
ter a coragem e a força de ser sempre verdadeiro em todas as ocasiões.
ROUSSEAU, J.-J. Os devaneios do caminhante solitário. Porto Alegre: L&PM, 2009.

Os textos de Tolstói e Rousseau retratam ideais da existência humana e


defendem uma experiência:
a) lógico-racional, focada na objetividade, clareza e imparcialidade.
b) místico-religiosa, ligada à sacralidade, elevação e espiritualidade.
c) sociopolítica, constituída por integração, solidariedade e organização.
d) naturalista-científica, marcada pela experimentação, análise e
explicação.
e) estético-romântica, caracterizada por sinceridade, vitalidade e
impulsividade.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

A forma de vida defendida tanto por


Rousseau quanto por Tolstói está
vinculada a uma experiência estético-
romântica, na medida em que valoriza
atributos como a sinceridade, a
impulsividade e a coragem.
17. (Enem PPL 2012) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade
numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com
seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se
liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o
corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem
desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma
relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada
particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade,
e só seja percebido no todo.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o


texto, diz que:
a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza.
b) as instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência
natural.
c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais
dependem dele.
d) o homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto.
e) as instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é
um ser político.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

[Ponto de vista da Sociologia]: O homem civil, segundo o texto de


Rousseau, corresponde àquele que, desviando de sua própria
natureza, se torna um indivíduo relacional à comunidade política.

[Ponto de vista da Filosofia]: Se fizéssemos um exercício de


completa abstração e pensássemos unicamente a partir do ponto
de vista do “homem natural”, então poderíamos dizer que a sua
“transformação” em homem civil seja um desvio. Porém,
Rousseau não dá a entender que tal passagem para a vida civil
seja simplesmente um artifício, um desvio da rota natural.
Segundo um trecho de sua obra, Contrato Social, a passagem é
inevitável para a própria conservação do homem e, portanto, um
tanto natural, isto é, ela se cria pelo movimento da própria
natureza do homem.
Contratualismo Montesquieu
A teoria da separação e da autonomia dos três poderes surgiu
como forma de combate à tirania. A independência entre o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário garante o equilíbrio desses
três poderes entre si.

Refletindo sobre o abuso do poder real, Montesquieu concluiu


que “só o poder freia o poder”, daí a necessidade de cada poder
manter-se autônomo e constituído por pessoas diferentes.

Era contra o absolutismo (forma de governo que concentrava


todo poder do país nas mãos do rei).

Fez várias críticas ao clero católico, principalmente, sobre seu


poder e interferência política.

Defendia aspectos democráticos de governo e o respeito às leis.

Defendia a divisão do poder em três: Executivo, Legislativo e


Judiciário.
Contratualismo Montesquieu
Sua obra mais importante foi o tratado politico O Espírito das
Leis, de 1748.

Nesta obra Montesquieu defende um sistema de governo


constitucional, a separação dos poderes, a preservação das
liberdades civis, manutenção da lei e o fim da escravidão.
Apresentou ainda a ideia de que as instituições politicas
representam aspectos geográficos e sociais de cada
comunidade, um conceito inovador para a época.

Montesquieu rejeitou a ideia de liberdade como auto-governo


coletivo. Rejeitou também a ideia de que liberdade significaria
ausência de restrições.

Para o autor, estas duas posições são hostis à liberdade


política. Ainda, a liberdade seria possível, embora não
garantida, apenas em sistemas monárquicos e repúblicas,
nunca em sistemas despóticos.
Contratualismo Montesquieu
O modelo de liberdade politica apresentada por
Montesquieu, dependeria de dois elementos:

1. A separação dos poderes: Mesmo em uma república,


se não há separação de poderes, a liberdade não pode
ser garantida, pois a separação de poderes em diferentes
esferas independentes permite que um poder restrinja
tentativas de outros poderes de infringir a liberdade dos
indivíduos.

2. Um conjunto apropriado de leis civis e criminais para


garantir a segurança pessoal Liberdade de pensamento,
expressão e associação, além da eliminação da
escravidão, seriam os elementos fundamentais deste
conjunto.
Contratualismo Montesquieu

Montesquieu incluía ainda, o direito a um


julgamento justo, a presunção da inocência e a
proporcionalidade na severidade das penas.

Defendeu ainda que o clima tem influência na


formação do espirito de um povo, sua forma de
agir e pensar acerca da sociedade e suas
instituições. Este espírito tornaria algumas
sociedades mais propensas a um modelo de
governo do que a outros.
18. (Enem 2013) Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de
maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o
mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do
povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as
resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos
indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,
atuando de forma independente para a efetivação da liberdade, sendo que
esta não existe se uma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes
concomitantemente.
MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).

A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias


para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas
sob um modelo político em que haja:
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.
b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.
c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.
d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do
governo.
e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um
governante eleito.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

A liberdade não pode ser definida como a permissão de fazer


tudo, mas sim apenas aquilo que se instituiu permitido através
da Lei formulada por um legislador capaz. Ora, se todos
pudessem fazer tudo que desejassem, pensa Montesquieu,
então não haveria liberdade, pois todos abusariam
constantemente dessa permissão de fazer tudo. De modo que
devemos considerar necessário um equilíbrio do poder para que
não ocorra algum abuso dele, e a disposição das instituições
deve se dar de tal maneira que os poderes se balanceiem. São
livres, apenas os estados moderados, pois neles os poderes
Legislativo, Executivo, Judiciário se contrapõem garantindo a
integridade e autonomia de cada um, e a liberdade de todos os
cidadãos.
19. (Enem 2012) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o
que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter
sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade.
A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um
cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais
liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).

A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito


a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões
por si mesmo.
b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às
leis.
c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre
da submissão às leis.
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde
que ciente das consequências.
e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores
pessoais.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

É certo que a liberdade da sociedade democrática é


justificada pela sua limitação designada pela
constituição da lei, porém a grande questão passa,
então, a ser: qual é o conteúdo da lei? Se a democracia
é um regime fundado sobre o valor da liberdade, então
como a própria lei poderia livrar-se desse
condicionamento primordial? O que Montesquieu
estabelece é a necessidade de a lei ser a limitação da
licença de se fazer tudo aquilo que não esteja de acordo
com a racionalidade do espírito da lei.
Contratualismo Nicolau Maquiavel
Se dedicou ao estudo da filosofia política, mas de forma
diferente dos filósofos anteriores a ele, buscou investigar a
política pela política, ou seja, sem utilizar em sua análise
conceitos morais, éticos e religiosos que pudessem direcionar
seus estudos.

A política em sua filosofia tem a capacidade de se auto-


governar, de buscar suas próprias decisões de forma livre, sem
que outras áreas do conhecimento interfiram em suas
conclusões.

Com Maquiavel nasce uma nova forma de estudar filosofia


política.

A política, vista por Maquiavel, justifica-se por si mesma e não


deve buscar fora de si uma moral que a justifique. O objetivo da
política é levar os homens a viver na mesma comunidade de
forma organizada e se possível em liberdade.
Contratualismo Nicolau Maquiavel
O príncipe político busca estabilidade do cargo, busca manter-
se no poder. O príncipe tem que ser virtuoso e aqui Maquiavel
não utiliza o conceito cristão de virtude, mas o conceito grego
pré-socrático, onde a virtude é vitalidade, força, planejamento,
esperteza e a capacidade se impor e profetizar.

O príncipe que tiver essa virtude vai ser dono do próprio


destino, vai criar sua própria sorte, que para ele determinava
somente metade dos acontecimentos na vida das pessoas, a
outra metade é definida pela liberdade.

Maquiavel partiu do estudo histórico e da realidade objetiva


para formular sua teoria política ou elaborar orientações sobre a
arte de governar.

Para chegar ao poder e mantê-lo, o governante deve estar


disposto a fazer tudo o que a situação política exige. Sua ações
não estaria subordinadas a princípios morais alheios à política.
20. (Enem 2019) Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a
verdade pondo em risco a própria integridade física, tal resolução diz
respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse mesmo homem é um chefe
de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para decidir
sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o
prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme
as circunstâncias e os fins a serem atingidos, pode-se decidir que o
melhor para o bem comum seja mentir.
ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).

O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna


expressa na distinção entre
a) idealidade e efetividade da moral.
b) nulidade e preservabilidade da liberdade.
c) ilegalidade e legitimidade do governante.
d) verificabilidade e possibilidade da verdade.
e) objetividade e subjetividade do conhecimento
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Nicolau Maquiavel foi inovador ao separar a


moral religiosa das suas reflexões políticas.
Assim, ele inaugura uma nova concepção ética
baseada nas relações políticas concretas entre
os homens, e não em ideais e valores em
abstrato.
21. (Enem 2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que
temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de
desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que
amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode
dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores,
covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente
teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como
acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações


sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser
a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos
outros.
b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na
política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e
inconstantes.
d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando
seus direitos naturais.
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Maquiavel é considerado fundador da filosofia


política moderna, pois muitas das suas
afirmações se contrapõem à filosofia política
clássica. Basicamente, a sua reflexão se
preocupa muito mais com problemas efetivos,
e muito menos com reflexões utópicas sobre o
dever ser. De modo que a eficiência deve ser
buscada na pobreza mesma das nossas
cidades como elas são, e não na possível
riqueza das nossas cidades como elas
poderiam ser.
22. (Enem PPL 2013) Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil
para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conveniente ir em
busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos,
pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou
conhecidos como tendo realmente existido.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Disponível em: www.culturabrasil.pro.br. Acesso em: 4 abr. 2013.

A partir do texto, é possível perceber a crítica maquiaveliana à filosofia


política de Platão, pois há nesta a:
a) elaboração de um ordenamento político com fundamento na
bondade infinita de Deus.
b) explicitação dos acontecimentos políticos do período clássico de
forma imparcial.
c) utilização da oratória política como meio de convencer os oponentes
na ágora.
d) investigação das constituições políticas de Atenas pelo método
indutivo.
e) idealização de um mundo político perfeito existente no mundo das
ideias.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Observa-se no texto de Maquiavel uma crítica à


concepção da política predominante, sobretudo, na
filosofia platônica, que se baseia em uma sociedade
em que cada indivíduo realiza aquilo que é, pela sua
natureza, apto a realizar e na qual a prática política
seria ideal e capaz de garantir a justiça plena. Para
Maquiavel, a política é uma construção humana e por
isso não deve ser entendida a partir de idealizações,
mas sim a partir da percepção pragmática de como se
deve agir a fim de garantir a ordem social e a
manutenção do poder.
23. (Enem 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito
difundida de que o que acontece no mundo é
decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito
aceita em nossos dias, devido às grandes
transformações ocorridas, e que ocorrem
diariamente, as quais escapam à conjectura humana.
Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso
livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte
decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio]
nos permite o controle sobre a outra metade.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder
em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo
entre o seu pensamento político e o humanismo
renascentista ao:
a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos
definidores do seu tempo.
b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos.
c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento
da ação humana.
d) romper com a tradição que valorizava o passado como
fonte de aprendizagem.
e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e
razão.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Percebemos claramente pela passagem citada que o pensamento de


Maquiavel regula de acordo com a sorte as nossas ações de todo tipo,
sendo em um momento a própria sorte um árbitro e noutro uma
preocupação com a qual nos conformamos. Agir bem é agir efetivamente
perante as circunstâncias. Não por outro motivo a história é muito
importante para Maquiavel, pois é através dela que encontramos
exemplos de homens que agiram efetivamente perante as adversidades e
obtiveram resultados que contornaram o poder devastador da sorte.
Neste contexto, virtù não pode ser a virtude de um homem bom como a
filosofia antiga especulou, mas sim aquelas qualidades que o homem
possui capazes de fazê-lo superar os eventuais percalços. No caso do
Príncipe, a virtù constitui aquele conjunto de qualidades pessoais
necessárias para a manutenção do estado e a realização de grandes
feitos, mesmo que estas qualidades sejam eventualmente cruéis.
O liberalismo clássico
O liberalismo clássico é constituído por um conjunto de ideias
éticas, políticas e econômicas da burguesia, em oposição à visão
de mundo da nobreza feudal.

Na modernidade foram esboçadas as novas linhas que


orientaram daí em diante as ideias liberais e os primeiros
passos em direção à conquista de cidadania e democracia.

Liberalismo político: teorias políticas que se contrapunham ao


absolutismo monárquico e ao direito divino do poder real.
Baseavam-se no contratualismo e no consentimento dos
cidadãos.

Liberalismo ético: defesa da tolerância religiosa e da liberdade


de expressão, combatendo o uso arbitrário do poder com a
instituição de um Estado de direito.
O liberalismo clássico
Liberalismo econômico: opõe-se à intervenção estatal sobre as
atividades econômicas. Defende a livre iniciativa e a
competitividade no mercado.

São três os seus aspectos principais: liberalismo político,


liberalismo ético e liberalismo econômico.

O Liberalismo surgiu como um conjunto de ideias e de


princípios defendidos pela burguesia e favoráveis ao
desenvolvimento do capitalismo. Entre essas ideias estão a
defesa da propriedade privada, a liberdade econômica, as
liberdades individuais, a igualdade perante a lei e a limitação
do poder do Estado,

Para o marxismo, o Estado é um órgão de dominação de uma


classe sobre outra. Só existe Estado porque existe lutas de
classes. Dessa forma, o Estado burguês não seria neutro, mas
um instrumento de dominação do proletariado pela burguesia.
24. (Enem PPL 2012)

De acordo com algumas teorias políticas, a formação do Estado é


explicada pela renúncia que os indivíduos fazem de sua liberdade
natural quando, em troca da garantia de direitos individuais, transferem
a um terceiro o monopólio do exercício da força. O conjunto dessas
teorias é denominado de:
a) liberalismo.
b) despotismo.
c) socialismo.
d) anarquismo.
e) contratualismo.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

O contrato social se estabelece de maneiras distintas


dependendo de cada teórico, porém não há em
nenhuma das grandes teorias uma noção de “acordo
tácito”. Justamente o contrário, as teorias expressam
aquilo que os homens deliberaram racionalmente e
elas também explicitam que a melhor opção para a
generalidade seja a conjunção da espécie sob uma
ordem comum. De modo que o contrato social expõe
algo muito diferente do pensamento de Calvin, pois
não afirma de modo algum que o uso da força deva ser
feito livremente e moderado pela natureza.
25. (Enem PPL 2012) Um Estado é uma multidão de seres humanos
submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três poderes dentro de
si, isto é, a vontade unida em geral consiste de três pessoas: o poder
soberano (soberania) na pessoa do legislador; o poder executivo na
pessoa do governante (em consonância com a lei) e o poder judiciário
(para outorgar a cada um o que é seu de acordo com a lei) na pessoa do
juiz.
KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.

De acordo com o texto, em um Estado de direito:


a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois é ele que tem o
verdadeiro poder.
b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a representação da
vontade geral.
c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, pois é ele que
outorga a cada um o que é seu.
d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, pois depende dele
para validar suas determinações.
e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, na pessoa do
governante, pois ele que é soberano.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

Para Kant, a boa vontade é aquela vontade cuja direção é totalmente


determinada por demandas morais ou, como ele normalmente se refere
a isso, pela Lei Moral. Os seres humanos veem essa Lei como restrição
dos seus desejos e, por conseguinte, uma vontade decidida por seguir a
Lei Moral só pode ser motivada pela ideia de Dever. Hipoteticamente, se
houvesse uma vontade divina, embora boa, não seria boa porque é
motivada pela ideia de Dever, pois uma vontade divina seria livre de
qualquer desejo imoral. Apenas a presença dos desejos imorais, ou das
ações que operam independentemente da moralidade, exige a bondade
da vontade e faz da Lei Moral coerciva, isto é, faz dela constituída
essencialmente da ideia de Dever. O ato de obedecer à vontade unida
não provém da sua característica de vontade geral (o conceito “vontade
geral” sequer aparece explicitamente no texto citado: “vontade unida em
geral”), mas sim da sua característica modelar e, por conseguinte,
restritiva que reduz a ação do sujeito deixando livres apenas aquelas
que são morais, e também pela ideia de Dever que ao motivar o
cumprimento da lei de direito mantém a multidão estável.
26. (Enem PPL 2016) Os ricos adquiriram uma obrigação
relativamente à coisa pública, uma vez que devem sua
existência ao ato de submissão à sua proteção e zelo, o que
necessitam para viver; o Estado então fundamenta o seu
direito de contribuição do que é deles nessa obrigação,
visando a manutenção de seus concidadãos. Isso pode ser
realizado pela imposição de um imposto sobre a propriedade
ou a atividade comercial dos cidadãos, ou pelo
estabelecimento de fundos e de uso dos juros obtidos a partir
deles, não para suprir as necessidades do Estado (uma vez
que este é rico), mas para suprir as necessidades do povo.
KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.
Segundo esse texto de Kant, o Estado
a) deve sustentar todas as pessoas que vivem sob seu poder,
a fim de que a distribuição seja paritária.
b) está autorizado a cobrar impostos dos cidadãos ricos para
suprir as necessidades dos cidadãos pobres.
c) dispõe de poucos recursos e, por esse motivo, é obrigado a
cobrar impostos idênticos dos seus membros.
d) delega aos cidadãos o dever de suprir as necessidades do
Estado, por causa do seu elevado custo de manutenção.
e) tem a incumbência de proteger os ricos das imposições
pecuniárias dos pobres, pois os ricos pagam mais tributos.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

De acordo com que apresenta o texto,


Kant defende a visão segundo a qual é
justo o Estado cobrar impostos dos ricos
para sustentar os seus concidadãos.
27. (Enem PPL 2019) Tomás de Aquino, filósofo cristão que
viveu no século XIII, afirma: a lei é uma regra ou um preceito
relativo às nossas ações. Ora, a norma suprema dos atos
humanos é a razão. Desse modo, em última análise, a lei está
submetida à razão; é apenas uma formulação das exigências
racionais. Porém, é mister que ela emane da comunidade, ou
de uma pessoa que legitimamente a representa.
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da filosofia cristã. Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado).

No contexto do século XIII, a visão política do filósofo


mencionado retoma o:
a) pensamento idealista de Platão.
b) conformismo estoico de Sêneca.
c) ensinamento místico de Pitágoras.
d) paradigma de vida feliz de Agostinho.
e) conceito de bem comum de Aristóteles
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

A visão política de Tomás de Aquino faz


referência ao conceito de bem comum de
Aristóteles, que valoriza o aspecto
comunitário da vivência humana.
28. (Enem PPL 2018) O justo e o bem são complementares no sentido de
que uma concepção política deve apoiar-se em diferentes ideias do bem.
Na teoria da justiça como equidade, essa condição se expressa pela
prioridade do justo. Sob sua forma geral, esta quer dizer que as ideias
aceitáveis do bem devem respeitar os limites da concepção política de
justiça e nela desempenhar um certo papel.
RAWLS, J. Justiça e democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000 (adaptado).

Segundo Rawls, a concepção de justiça legisla sobre ideias do bem, de


forma que:
a) as ações individuais são definidas como efeitos determinados por fatores
naturais ou constrangimentos sociais.
b) o estudo da origem e da história dos valores morais concluem a
inexistência de noções absolutas de bem e mal.
c) o próprio estatuto do homem como centro do mundo é abalado,
marcando o relativismo da época contemporânea.
d) as intenções e bens particulares que cada indivíduo almeja alcançar são
regulados na sociedade por princípios equilibrados.
e) o homem é compreendido como determinado e livre ao mesmo tempo,
já que a liberdade limita-se a um conjunto de condições objetivas.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

A concepção de justiça de Rawls, pensador pertencente à


tradição liberal, parte de uma crítica à filosofia utilitarista, sendo
a base da sua teoria da justiça como equidade o entendimento
da relação entre a ideia de bem e a justiça, como se observa no
trecho “as ideias aceitáveis do bem devem respeitar os limites
da concepção política de justiça”. Para ele, a ideia de bem deve
estar associada à justiça, de modo que a prioridade da justiça
sobre o bem seja garantida. A partir dessa perspectiva, Rawls
entende que os indivíduos que compõem a sociedade, em sua
condição natural de liberdade e igualdade, buscam suas
aspirações e bens particulares, sendo necessário estabelecer
princípios reguladores que deverão reger a sociedade e garantir
a justiça, através de um contrato social.
29. (Enem 2017) Uma sociedade é uma associação mais ou menos
autossuficiente de pessoas que em suas relações mútuas
reconhecem certas regras de conduta como obrigatórias e que, na
maioria das vezes, agem de acordo com elas. Uma sociedade é
bem ordenada não apenas quando está planejada para promover
o bem de seus membros, mas quando é também efetivamente
regulada por uma concepção pública de justiça. Isto é, trata-se de
uma sociedade na qual todos aceitam, e sabem que os outros
aceitam, o mesmo princípio de justiça.
RAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997 (adaptado).

A visão expressa nesse texto do século XX remete a qual aspecto


do pensamento moderno?
a) A relação entre liberdade e autonomia do Liberalismo.
b) A independência entre poder e moral do Racionalismo.
c) A convenção entre cidadãos e soberano de Absolutismo.
d) A dialética entre indivíduo e governo autocrata do idealismo.
e) A contraposição entre bondade e condição selvagem do
Naturalismo.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

John Rawls é um dos expoentes


pensadores do liberalismo do século XX.
Sua concepção de justiça de fato
apresenta uma relação entre liberdade e
autonomia.
30. (Enem 2013) O edifício é circular. Os
apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferência. Você pode chamá-los, se quiser, de
celas. O apartamento do inspetor ocupa o centro;
você pode chamá-lo, se quiser, de alojamento do
inspetor. A moral reformada; a saúde preservada; a
indústria revigorada; a instrução difundida; os
encargos públicos aliviados; a economia assentada,
como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei
sobre os Pobres não cortado, mas desfeito — tudo
por uma simples ideia de arquitetura!
BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóptico,
um modelo que mostra o poder da disciplina nas sociedades
contemporâneas, exercido preferencialmente por
mecanismos:
a) religiosos, que se constituem como um olho divino
controlador que tudo vê.
b) ideológicos, que estabelecem limites pela alienação,
impedindo a visão da dominação sofrida.
c) repressivos, que perpetuam as relações de dominação
entre os homens por meio da tortura física.
d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo por meio
do olhar como instrumento de controle.
e) consensuais, que pactuam acordos com base na
compreensão dos benefícios gerais de se ter as próprias ações
controladas.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO

J. Bentham, filósofo utilitarista britânico, elabora uma


teoria da pena e do cárcere que instauraria, em nome
da segurança de todos e de suas liberdades
individuais, uma vigilância técnica capaz de observar
todos – tal noção é criticada pelo filósofo francês M.
Foucault. Para o filósofo inglês “O progresso é a lei
da história da humanidade: essa, por adquirir mais
conhecimentos e aperfeiçoar seus meios técnicos,
adquire também mais riquezas e serenidade e, por
conseguinte, maior felicidade e segurança”.
BONS ESTUDOS

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