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PLATAO E ARISTOTELES

Apontamentos de Ciência Política e


Direito Constitucional
Parte I – Ciência Política

1-Será que tudo é político?

2- O poder

3- O poder político

• Será que tudo é político?

Todos nos temos uma noção mais ou menos clara do que quer dizer a palavra política, pois vivemos
em sociedade e a nossa experiência regista factos e situações que todos nos consideramos terem
alguma relação com a política.

Para sabermos se tudo e ou não político, temos em primeiro lugar que abordar a origem da palavra
POLITICA

Etimologicamente, POLÍTICA vem de POLIS, palavra Grega que quer dizer CIDADE. De entre os povos
da antiguidade que tinham preocupações com as questões políticas, os Gregos foram os que mais se
interessaram sobre esse estudo, e foi aí que as preocupações políticas atingem o seu auge nessa
altura, pois os gregos eram um povo dado aos discursos e discussões políticas.

Já no século V antes de Cristo, o filosofo Platão entendia que a política, “ Ė A ARTE DE GOVERNAR
PERSUADINDO OS HOMENS”.

Temos um outro grande pensador grego nessa altura, discípulo de Platão, Aristóteles na sua famosa
obra “A POLITICA” que examinava os elementos que compunham a cidade, nomeadamente a
família, o território, a população e, fundamentalmente o Governo.

Em Roma, a ciência política não conheceu grande desenvolvimento. Para isso terá, talvez,
contribuído o espírito de elite dos que os romanos cultivavam desprezando tudo e todos que não
fossem romanos.

Na análise se tudo é político, não podíamos deixar de mencionar aquilo que “Pacheco Pereira” terá
dito sobre esta questão: “ Há poucas coisas que não se podem pensar em política e quase todas elas
têm a ver com o amor, a morte e Deus. Tudo o que gera a meditação sobre esses temas, está antes,
ao lado, e depois de toda a política…”

A POLITICA – CIÊNCIA OU ARTE???


As discussões se a política é uma arte ou ciência atravessaram vários séculos. Temos “Littre” em
1870, que considerava política como ciência de governação dos estados, ”Robert” em 1962
considerava a política como a arte e prática da governação das sociedades humanas.

Essas definições diferem uma da outra, pois ” Littre” considera política uma ciência, ao passo que
Robert a considera apenas como arte e prática, mas elas acabam por convergir, pois todos falam em
“Governação”, um fala da governação dos estados, o outro fala de governação das sociedades
humanas.

No entanto, o primeiro está em conformidade com o segundo. ”Littre” escrevia, nesse fim de século
XIX, período em que se acreditava que a ciência permitia estudar todas as relações humanas, e não
só os fenómenos físicos e biológicos.

Esta visão ultrapassada no séc. XX, traz a torna aquilo que mesmo antes de Cristo, já se tinha dito, ou
concluído, ou seja que a atividade política é uma arte, uma pratica de governação muitas vezes
baseada em decisões intuitivas, em dados inquantificáveis e impreciso e muitas vezes irracionais.

2-O PODER

Desde sempre que a análise da Ciência Política abordou as questões suscitadas pela ideia de poder.
A sua origem, a legitimidade do seu exercício, a sua utilização, concentração e distribuição,
permaneceram desde Aristóteles até aos nossos dias, no centro do objecto do estudo da Ciência
Política. Assim sendo, temos que começar por definir essa palavra PODER.

São várias e variadas definições sobre a palavra PODER. Duas das mais conhecidas são as de
“Duguit”, que considera que o poder e a distinção entre governantes e governados e, segundo uma
definição já clássica de Marcelo Caetano, “ o poder e a possibilidade de eficazmente impor aos
outros o respeito da própria conduta ou de traçar a conduta alheia” na sua mesma linha de
raciocínio ele considera que “existe poder sempre que alguém tem a possibilidade de fazer acatar
pelos outros a sua própria vontade, afastando qualquer resistência exterior aquilo que quer fazer ou
obrigando os outros a fazer o que ele queira”.

Para o professor Freitas do Amaral, o poder e a faculdade de dar ordens e a capacidade de se fazer
obedecer.

Ou seja, continuando este entendimento;

A faculdade de dar ordens e a capacidade de conseguir que essas ordens sejam acatadas.

Essa faculdade de mandar e a capacidade de se fazer obedecer são essenciais, um não se pode
existir sem o outro. Com efeito se alguém se faz obedecer sem ter o direito de mandar, ou e porque
dispõe de uma autoridade natural que acaba por ser diferente da palavra poder, ou porque usa forca
bruta e se impõe pela coação. Por outro lado, se alguém tem pela lei ou pela Constituição a
faculdade de mandar, mas não consegue fazer-se obedecer então pode ainda ocupar o cargo mas já
não detêm o poder, e como diz o Porf. “Freitas do Amaral, “quando o poder não e exercido por
quem o detêm, depressa passa a ser detido por quem o exerce.

3-O PODER POLITICO

Sabemos que não pode haver sociedade sem poder político. Por mais rudimentar que seja uma
sociedade humana, existe uma organização pautada por regras, por hierarquia, por diferenças entre
aqueles que mandam e aqueles que o obedecem.

Não se pode conceber que o “HOMEM” como tendencialmente bom.

As leis que regulam a vida em sociedade não são normalmente acatadas passivamente por todos.

O consentimento do poder será tanto mais passivo quanto mais legitimo for considerado o poder
político.

O consentimento do poder será tanto maior quando maior for a legitimidade do poder político.

LEGITIMIDADE – uma das condições para o exercício do poder político, ou seja maior ou menor grau
de aceitação dos cidadãos em relação as ações do poder político.

Max Weber defende que a legitimidade e uma das categorias fundamentais da conceção da
sociologia política, e no seu entender existem 3 tipos de dominação legítima:

- Dominação legal – apresenta um carácter racional

- Dominação tradicional – carácter quase sagrado das tradições, pressupõe o costume como
fundamento legítimo do poder.

-Dominação carismática – e de natureza emocional, implica a confiança no homem em função da sua


santidade, heroísmo ou qualquer outra virtude levado ao máximo.

-POLITICA

De que falamos quando falamos de política?

Não podemos deixar de mencionar o Prof. Freitas do Amaral quando afirma que a Política poderá ser
entendida como a atividade humana de tipo competitivo que tem por objeto a conquista, a
manutenção e o exercício do poder no âmbito da sociedade.

Enquanto que para o mesmo autor, a Ciência Política poderá ser definida sinteticamente como “o
estudo científico da política”, ou como “a disciplina que estuda os problemas do poder na
atualidade, através da observação dos factos e da sua explicação racional mediante conceitos”.

Assim, enquanto a política e uma atividade de competição, a Ciência Política e uma atividade de
reflexão

1.1-O objeto da Ciência Política

Uma ciência é composta por um objeto que se analisa num conjunto de resultados, de produtos
teóricos, transformados pela atividade do trabalho teórico, e por um método, isto e, por um
conjunto de processos a que recorreu no decurso da sua constituição.

Assentando a Ciência Política fundamentalmente nos trabalhos teóricos dos politólogos, desde
Aristóteles aos nossos dias, e provindo estes de campo diversificados do saber, é natural que a
definição do seu objeto suscite certas controvérsias.

A delimitação do objeto da Ciência política foi, pois, influenciado pela tradição do pensamento
devotado ao estudo dos fenómenos políticos.

Fundada por filósofos moralistas, cultivada por teólogos, juristas, sociólogos e historiadores, a
ciência política viu alargar-se o seu objeto de estudo a todos os domínios políticos, onde o poder se
manifesta, sem contudo existir unanimidade de opinião acerca da sua delimitação.

Com efeito os especialistas não estão de acordo sobre uma definição precisa do objeto da Ciência
Política, uns circunscrevam-no ao estado, outras a todas as manifestações de autoridade.

1. Evolução histórica do pensamento político

Como já sabemos, os helenos foram os povos que mais se debruçaram sobre as questões políticas e
discussões de temas ligados a política

E entre os gregos que o estudo de temas políticos atinge o seu expoente máximo, nos povos da
antiguidade.
Assim, nesse sentido, temos que destacar entre os gregos, as conceções dos seguintes filósofos:

Platão – que chegou a entender ser a política “ a arte de governar persuadindo os povos”, discípulo
de Sócrates, escreveu as seguintes obras: “A Política” , “a República” e ‘As leis”

Aristóteles – filósofo grego que influenciou grandemente o pensamento europeu durante a idade
media

Na Roma antiga, o estudo da política não teve grande projeção, mas não podemos deixar de
mencionar Políbio e Cícero.

Na idade media, o pensamento político foi dominado em quase toda a sua linha pelas orientações de
Igreja Católica. Durante esse período não houve uma rutura com o passado em termos de política.
Contudo há um contributo importante do pensamento cristão e que repercute na ciência política
baseada na reciprocidade de direitos e deveres que devam existir entre os monarcas e a
comunidade, entre governante e o cidadão.

Na ordem interna o poder religioso conquista certos atributos fundamentais de soberania política, o
monarca considerava que o seu poder vinha de deus e que se deve submeter a autoridade do papa,
representado por deus na terra. Estes princípios políticos baseiam-se na ideia que existe uma
comunidade universal dos homens, todos formados à ideia de deus.

A pedra angular do sistema social já não é a cidade, considerada pela antiguidade, mas sim a
universalidade da humanidade.

Não há duvida que o poder continua a ser o garante necessário para o equilíbrio e a manutenção da
sociedade, mas não se trata de um poder absoluto.

Nesse período histórico não podemos deixar de mencionar os ensinamentos de Santo Agostinho, um
dos expoentes máximo do pensamento medieval que sustentava a tese de que, a vida em sociedade
era imprescindível para o homem. Essa sociedade tinha que ser sustentada por uma autoridade com
o poder de regulamenta-la, e o fundamento do poder era o de fazer imperar a justiça.

Não podemos deixar de mencionar nesse período o pensamento de S. Tomas de Aquino, que foi
aquele que mais se aproximou do pensamento político moderno ao introduzir a diferença entre
ordem natural e ordem sobrenatural.

Nessa era entre o feudalismo e o renascimento, ele enriqueceu o pensamento medieval com a
conceção do direito natural, relevada por deus e destinada a regular as relações entre os homens, e
entre estes e a sociedade. Ele esforçou-se para adaptar o pensamento medieval, e nomeadamente
por estabelecer o princípio do ordenamento das relações sociais a ordem divina, ao ressuscitar a
ideia de direito natural
Em jeito de conclusão, podemos dizer que durante esse período, a ciência política pouco evoluiu,
tendo sido Maquiavel um ponto de referencia importante na doutrina política, ele não foi um
inovador na vertente política como ciência, porem, a sua obra “O Príncipe” terá tido um grande
interesse para o pensamento político da época, revertendo um particular interesse para o estudo do
comportamento e procedimento daqueles que detinham o poder, ou seja o dos governantes.

Essa obra, O Príncipe, e dividido em duas partes, uma que enumera um conjunto de homens que
alcançaram e conservaram com êxito o poder, e uma outra parte que fornece um conjunto de
normas e preceitos relativos a arte de governar.

O Príncipe apresenta-se mais como uma obra virada para a arte política de que uma analise da
política na sua vertente científica.

Um outro pensador que deu um grande contributo na evolução do pensamento político, foi Thomas
More. Contemporâneo de Maquiavel, o seu nome fica ligado a história do pensamento político na
inicio da época moderna, através da obra a “Utopia” sendo um dos primeiros as lançar as ideias
socialistas do Estado, como detentor de terras, fabricas, riquezas naturais, minas etc.

Assim como Maquiavel, e inserido nesse contexto de política como arte, temos Thomas Hobbes,
(1588-1679) filósofo e pensador político inglês, fez da sua obra, que lhe granjeou mais fama, o
“Leviatã”, uma verdadeira reflexão sobre o poder soberano, explorando nas suas ideias o conceito
de monarquia absoluta.

Ele foi o primeiro politólogo a idealizar o conceito de estudo moderno do poder, sustentado na
soberania, como a forca acima dos outros poderes, com a faculdade de decidir em últimas
instâncias, utilizando a coação.

Ele defendia que o poder não era divino, nem pertence a quem o exerce, os governantes delegam o
poder do Estado visando a harmonia do interesse da sociedade.

Temos John Lock (1632-1704) inicia a teoria da separação dos poderes que Montesquieu veio mais
tarde aperfeiçoar. Lock foi muito influenciado pela constituição inglesa.

Montesquieu Nasceu em Bordeaux – Franca (1712-1755), escreveu a obra “O espírito das leis” que
nos da uma opinião sobre assuntos judiciais e políticos. Nessa obra ela dá um grande contributo para
a evolução da ciência política, ele idealizou e defendeu o princípio da separação de poderes
(legislativo, judicial e executivo) como forma de limitar o poder.

E por último não poderíamos deixar de falar de Rosseau, que nasceu em Genebra (1712-1778) tendo
como obras de referência “O discurso sobre a origem das desigualdades ente os homens” e o
“Contrato Social”, ele trouxe um grande contributo no avanço da ciência política.
2 – Breve História da Ciência Política

Pela importância, vamos falar de quatro politólogos, analisando o contributo que deram ao evolução
e estudo da ciência Política e do Direito constitucional.

Escolhemos estes quatro, pois um e considerado o fundador da Ciência Política (Aristóteles), o outro
é o paradigma que justifica o estado absoluto (Maquiavel), enquanto que Locke e Montesquieu são
fundamentais para o advento do constitucionalismo.

Aristóteles (384-322 a.c) É conhecido por muitos como o pai da Ciência Política e o primeiro a
analisar a política numa perspetiva de ciência.

De todos os livros que escreveu, “A Política” é com certeza a obra mias conhecida, em que ele
analisa os elementos que integram a Polis que são: território, população e governo.

Ele faz a distinção entre regimes sãos em contraposição aos regimes depravados.

Os regimes sãos seriam: a monarquia, a aristocracia, e a república. Os depravados seriam a tirania, a


oligarquia e a democracia.

Assim a monarquia é o poder exercido por um só, mas tem por fim o interesse geral, enquanto que
a tirania é a degeneração da monarquia, pois ela só visa o interesse do monarca

Aristocracia é o poder exercido por um número reduzido de homens ou vários grupos de homens,
sempre como objetivo o interesse geral. A degeneração da aristocracia é a oligarquia que constitui
uma governação que visa defender o interesse dos ricos.

A república é o governo da multidão virada para o interesse de todos, e a democracia a sua


degeneração, já que é dirigida unicamente aos interesses dos pobres.

A democracia conduziria a formação de um povo indigente que com a complacência dos demagogos,
tornava o povo tirano.

A demagogia será a forma extrema da democracia.

Nicolau Maquiavel (1469-1527) – ele ficou imortalizado pela sua obra “O Príncipe” , publicada em
1513. Foi nesse obra que revelou o prestigiado conceito da amoralidade política e a razão do estado,
assim como ficou vulgarizado o conceito de maquiavelismo.

O príncipe ou governante terá se ser homem e animal e teria de socorrer-se da forca já que as leis
não se apresentavam como suficientes.

A falta da palavra príncipe estará sempre justificada pois nunca faltaram a um príncipe preceitos
legítimos para justificar a sua falta de palavra.
Ele demonstrou que as coisas correm melhor aos que melhor souberem representar o papel da
raposa. Tudo o que for necessário para manter o poder será considerado legítimo.

Os fins justificam os meios.

O monarca não se pode preocupar com a censurabilidade dos seus comportamentos, pois sem estes,
não poderá conservar os seus estados.

Os súbditos estão mais inclinados a respeitar quem os faz temer do que quem se faz amar.

A hipocrisia é uma arma do príncipe.

Jaime Nogueira Pinto, na sua obra Maquiavelismo terá dito que embora não foi Maquiavel quem
tenha inventado a teoria do estado, é com ele que se procede a sistematização e defesa da razão do
estado e da sua estruturação.

Ainda hoje se discute muito se Maquiavel terá sido um doutrinador ou um observador que se teria
limitado a constar factos do seu tempo.

Segundo “Ernest Cassirer”, e citado também por Freitas do Amaral, “ nunca ninguém duvidou de que
á vida política, na realidade esta cheia de crimes, batotas e actos ilegítimos. Mas nenhum pensador
antes de Maquiavel tinha empreendido a tarefa de ensinar a arte desses crimes. Essas coisas Faziam-
se mas não eram ensinadas.

Lock (1632-1704) – ele fez avançar bastante a teoria da divisão de poderes. Ele distinguiu no estado
dois principais poderes: o legislativo, competindo ao povo, e o executivo, pertencente ao governo.
Além destes admitia outros, como o confederativo e o discricional, espécie de poder extraordinário,
competindo ao governo nos casos não previstos na lei.

Mas há quem considerava a sua doutrina imperfeita, como foi o caso de Marnoco e Souza, uma vez
que ele esqueceu o poder judicial.

A sua obra mais importante é intitulada “Dois tratados sobre o Governo”, em que ele espelhava a
conceção de que o povo seria e permaneceria o titular do poder supremo.

Montesquieu (1689-1755) - como já atrás foi referido, é com a sua grande obra “O espírito das leis”
que ele deu o seu contributo decisivo para Ciência Política.

Para ele há três espécies de governo: o republicano, o monárquico e o despótico. No governo


republicano, o povo é soberano, no monárquico, um só governa mas mediante leis estáveis.
Inversamente no despótico, um só, sem lei e sem regras, subordina tudo a sua vontade mas
mediante leis estáveis.

Como defendia Manorco e Sousa na análise da obra de Montesquieu, é a sua tese de separação de
poderes que o vai notabilizar.

O fundamento da divisão dos poderes encontra-se na garantia da liberdade política dos cidadãos. E
para ter essa liberdade é preciso que o governo se encontre organizado de modo a que um cidadão
não possa temer outro cidadão.

E é nesse sentido que o poder legislativo deve estar separado executivo, porque caso contrário seria
elaboradas leis despóticas para serem executados de forma tirana.

Por outro lado o poder de julgar deve estar separado do legislativo e executivo, pois caso estivessem
unidos seria arbitrário o poder sobre a vida e a liberdade do cidadão, por conseguinte, o juiz seria o
legislador, e se estivesse unido ao executivo, o juiz poderia ter a forca de um opressor.

1 -O Estado

- Conceito, origem, natureza e elementos

É ao Estado que compete manter a paz e a segurança jurídica, mas para o fazer tem mesmo de estar
imbuído da respetiva autoridade.

Com efeito, e como já escrevia Leon Duguit, “ os governantes só são de facto governantes quando
podem, de facto utilizar uma forca material, um poder de constrangimento.”

1 Conceito

Segundo uma definição do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, no livro intitulado “Introdução ao estado
de Direito”- o estado deve ser entendido como uma coletividade, ou seja um povo fixo num
determinado território que nele instituiu por autoridade própria, um poder político, relativamente
autónomo.

Já Jelinek descreve o Estado como um fenómeno histórico que, consiste em um povo exercer num
determinado território, um poder próprio, o poder político

2 – Origem –

Lewis Morgan, na sua grande obra “A Sociedade Primitiva” ao referir-se as formas de governo,
tipifica-as em dois sistemas fundamentais; uma que assentava em relações pessoais e caracterizava-
se por constituir uma sociedade. A matriz desta forma organizada é a gens (conjunto de pessoas
consanguíneas, descendentes de um antepassado comum), que através de um processo de
aglutinação ira, sucessivamente dar origem a fatria (associação de duas ou mais gens da mesma
tribo com vista a realização de determinados fins comuns), a tribo (organização sócio-politica dos
estados, ainda não integrada na vida social) e a confederação de tribos. Ė precisamente desta ultima
forma que ira surgir a Nação.

O segundo sistema vai assentar, segundo Morgan, no território e na propriedade, e caracterizar-se-á


pelo facto de ir dar origem ao Estado. Aqui as relações não são de ordem pessoal. Sob o estado ira
constituir-se uma sociedade política, na qual as relações das pessoas com o governo serão
determinadas por um vínculo daquelas com o território (Jus Soli)

3 – Natureza

Definir natureza do Estado, é, acima de tudo, descrever as condições que estiveram na génese do
seu aparecimento.

Sabemos que o Estado se caracteriza, fundamentalmente, pelo facto do poder estar organizado de
uma forma que transcende a mera relação de parentesco, e com o emprego da coerção ou da
persuasão, de unificar, defender e controlar uma sociedade circunscrita a um certo território.

Antigamente a transfiguração de uma comunidade organizada em torno de relações interindividuais


que assentavam no parentesco e no sangue passaram a depender do direito ditado por um grupo
restrito que consubstancia a génese do Estado.

São vários os autores que tentaram traçar as origens do Estado delimitando num contrato como
principio biológico de explicação do estado, em que só o contrato apreendia a organização
policêntrica da sociedade.

Para Hobbes, pelo contrato social transfere-se o direito natural absoluto que cada um possui sobre
todas as coisas a um príncipe ou a uma Assembleia e, assim, constituem-se, ao mesmo tempo o
Estado e a sujeição a esse príncipe ou a essa Assembleia.

No seu famoso livro Leviatã, Hobbes afirma que o único modo de erigir um poder comum, capaz de
defender os homens e de lhes assegurar os frutos da terra, consiste em conferir todo o seu poder a
um homem ou a uma assembleia. Através de um só ato os homens formaram a comunidade e
submetem-se a um soberano.

Para Locke, o Estado de natureza é um estado de profunda liberdade, mas não um estado de licença,
por haver uma lei natural que o governa. Não obstante, o gozo da liberdade revela-se aí arriscado e
incerto, por nem todos respeitarem essa lei e, por isso, se constitui a sociedade civil.

Sendo que todos os homens são naturalmente livres, iguais e independentes, ninguém pode ser
posto fora do Estado sem o seu próprio consentimento. O único modo pelo qual alguém se insere na
sociedade civil é convivendo como outros homens, se juntar e unir a eles, a fim de conservarem, em
segurança, paz e sossego, as suas vidas, liberdade e bens.

4 – Elementos

São três os elementos que compõem o Estado, a saber, um povo, um território e um poder político

Povo – de uma forma simples, podemos dizer que o Povo é o elemento básico na constituição do
Estado. Não temos um conceito unânime quanto ao termo, embora alguns autores proferem a
palavra Nação.

Todavia, os dois termos: povo e nação, não designam a mesma realidade, pois o referencial tempo
que corporizam e enquadram não é o mesmo.

Na verdade a Nação traduz-se num conjunto de indivíduos fixados num território, podendo ou não
sobre ele exercer soberania, possuidores de uma tradição cultural comum e de uma vontade de
viver em comunidade e que aspiram a realização conjunta de determinados fins.

O que é dominante na nação é o facto de ela traduzir o evoluir histórico de um povo, perspetivando-
lhe um futuro comum: “… um povo que consciente de uma comunidade de origem, de uma
comunidade de tradições culturais e de uma comunidade de interesses, aceita e quer esta
comunidade como condição de vocação pessoal de cada um dos seus membros e que
incessantemente completa a sua unidade, voltando-se para o futuro a fim de realizar os seus
projetos em função da sua história e do seu ideal”( Jean Lacroix, inPersoneetAmour).

Por usa vez, o Povo é, pois, um conjunto de indivíduos que, em cada momento histórico, constitui a
Nação.

O uso dos termos Nação e Estado tem levado, também a sua identificação. Mas tal identificação é
abusiva, já que na Nação não encontramos necessariamente, o poder político.

A título de exemplo de Nação sem estado, temos o caso da Polónia, ocupada pelo Nazis durante a II
Guerra Mundial, um exemplo mais recente temos o caso dos palestinos.

Como exemplo de Estado sem Nação podemos referir o Estado do Vaticano.

Diferença entre povo e população


O povo corresponde a um conceito jurídico e político, a população a um conceito demográfico e
económico. A população é um conjunto de residentes em certo território, sejam cidadão ou
estrangeiros, o povo é um conjunto de cidadão, que ao estado se encontram ligados por vínculos
especiais.

Território

Ė o elemento que para muitos autores determina a distinção entre sociedade e Estado

O território é o espaço jurídico do próprio estado, o que significa que:

- Só existe o poder do Estado quando ele consegue impor a sua autoridade, em nome próprio sobre
certo território.

- A atribuição da personalidade jurídica internacional ao Estado ou ao seu reconhecimento por


outros Estados da efetividade desse poder.

- No seu território, cada Estado só pode admitir o exercício de poderes doutro Estado sobre qualquer
pessoa, mediante a sua autorização.

Quando pensamos no território, pensamos, por vezes apenas no solo geograficamente delimitado e
na camada subjacente ao subsolo. Todavia, fazem, igualmente, parte integrante do território, o
espaço aéreo e, nos Estados que confinam com o mar, os estados ribeirinhos, o mar territorial.

O Território e o Direito do Estado

A consideração do papel do território do Estado, não exclui o carácter positivo de outros direitos,
estatais ou não, com as quais tem portanto o Direito do estado de estabelecer relações
intersistemáticas, na medida em que o pluralismo jurídico evidência na observação da realidade, em
que se observa vigorando dentro do país não apenas o Direito Cabo-verdiano como também o
Direito Internacional, o Direito Canónico, embora este ultimo não esteja adstrito à nenhuma base
territorial.

Nas palavras de António Marques dos Santos, a doutrina clássica declara-se completamente a favor
da territorialidade das normas de direito publico, em que que se entende que cada Estado aplica tais
normas indistintamente do que determinasse quanto a esses últimos, a respetiva Lei reguladora do
estatuto pessoal.

O princípio geral da territorialidade das leis significa, que as normas da ordem jurídica de um Estado
ou as que ele receba, só podem ser executadas, como tais, no território do mesmo Estado. E a
sujeição das pessoas à autoridade do Estado depende, em cada caso, do modo que a execução deva
revestir, o que importa para que exista, é que se verifica uma conexão com o território, por ex: a
presença física.

A Soberania territorial dos mares

O Direito Internacional do mar, conhece duas figuras de significativa importância que se reconduzem
ainda a poderes territoriais e sua soberania: a zona contígua e a zona económica exclusiva (ZEE).

No mar territorial não pode estender-se até um limite de 12 milhas marítimas, medidas a partir de
linha de base (Art. 3⁰ da Convenção do Direito do Mar)

A zona contígua não pode estender-se para além de 24 milhas contadas das linhas de base que
servem para medir a largura do mar territorial. Nele o estado costeiro pode tomar medidas de
fiscalização necessárias a prevenir ou reprimir infrações (Art. 33⁰ da Convenção de 1982,
relativamente ao Mar)

A Zona económica exclusiva, por seu turno não pode estender-se para além de 200 milhas (Art. 57⁰
da mesma convenção), ela esta ligada à um conjunto de poderes relativos aos recursos naturais, à
exploração e ao aproveitamento económico.

Poder Político

O poder político é efetivamente, o último e fundamental dos elementos constitutivos do Estado.

O Poder, quaisquer que sejam as formas de que reveste, é reconhecido em todas as sociedades
humanas, mesmo nas mais rudimentares. Assim refere George Balandier na sua obra Antropologia
Política “ não sociedade sem poder político, não há poder sem hierarquia e sem relações desiguais
instauradas entre os indivíduos e os grupos sócias”, por esta razão, uma coletividade fixada num
território só ascende a categoria de Estado, quando passa a exercer o poder político.

A Limitação do Poder pelo Direito

Há uma limitação do poder pelo Direito, até mesmo pelas leis, porque sem o seu cumprimento não
subsistiria a organização do Direito e seria destruída a segurança em que assenta a comunidade
jurídica.

Este tipo de limitação do Estado pelo Direito é puramente formal porque se o Estado deve
obediência as suas leis enquanto vigoram, também pode revogá-las, substituindo ou negando os
direitos e garantias que daqueles constem;

Ė neste âmbito da limitação do poder, que aparece a separação dos poderes, que faz-se necessária
na medida em que, quando numa pessoa encontra-se reunido esse três poderes, não há liberdade.

Com a teoria de separação de poderes, Montesquieu vai mais longe discernindo que em cada poder
há uma faculté de statuer e uma faculted’empecher .

Ele chama de faculte de statuero direito de ordenar por si mesmo ou corrigir aquilo que se tenha
ordenado por outro. E a faculte d’empecher o direito de tornar nulo ou anular a resolução tomada
por quem quer que seja.

Assim, o Poder Legislativo tem o poder de fazer as leis; o Poder Executivo tem o poder não só de
estatuir, mas de fazer a execução das leis.

A Divisão do Poder

A ideia de separação de poderes vem do sec. XVII e XVIII, em reação contra o absolutismo
monárquico e associada à filosofia política iluminista e liberal.

Como já atrás tínhamos visto, antes da teoria de separação de poderes ser abordada por
Montesquieu, Locke já tinha debruçado sobre esta problemática afirmando que havia um poder
legislativo, um poder executivo e um poder confederativo respeitante as relações internacionais. Ele
não falava numa completa divisão de poder, visto que entendia que o poder primordial no Estado
era o poder legislativo.

Montesquieu, na sua obra intitulada “ O Espírito das Leis” na qual afirma que a única maneira de
limitar o poder consiste em criar outro poder que o limite e divide em diversos poderes que se
condicionem, que se limitem reciprocamente.

Ele afirmou que em cada Estado há 3 espécies de poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário,
que é o terceiro poder introduzido pelo Montesquieu, chamado o poder de julgar.

- Funções e Fins do Estado

1- Funções do Estado
Como já atrás tínhamos visto, entre o poder e a legitimidade existe uma relação de eficácia, isto é, o
poder será tanto mais consentido, quanto mais legítimo se mostrar. Necessitando o Estado de
alargar, ou de pelo menos, de manter a sua base de apoio, terá, para isso que desenvolver um
conjunto de atividades que tendo em vista a consecução de certos objetivos (fins), consigam
congregar à sua volta o maior número de elementos da coletividade.

Chamamos funções de Estado ao conjunto de atividades por este desenvolvido, com vista à
realização de outros fins.

Assim, alguns autores marxistas distinguem três tipos de funções de Estado: a função tecno-
económica, a função propriamente política, que atua ao nível da luta política de classes, e a função
ideológica, cuja finalidade é inserir os homens nas atividades práticas que suportam a estrutura do
Estado.

Mas, em virtude de, para os marxistas, o Estado desempenhar o papel de aglutinador da sociedade,
mantendo os conflitos de classes a um nível que permitam a sobrevivência de uma determinada
formação social, é natural que a sua função seja, uma função de “ordem”, é nesse sentido que eles
subordinaram as funções tecno-económicas e ideológicas à função propriamente política.

Outros autores, como Marcello Caetano, tipificam as funções do Estado com base no Direito. Deste
modo dividem-nas em jurídicas e não jurídicas.

O primeiro engloba a função legislativa, através da qual o Estado cria as normas jurídicas de carácter
geral e impessoal, e a função executiva, que, complementando a função legislativa, tem por objetivo
imediato assegurar o cumprimento da lei e aplicar sanções aos infratores.

As funções não jurídicas integram a função política, cuja atividade é desenvolvida no sentido de
manutenção da sociedade política e na definição e prossecução do interesse geral.

Outro autor, “Giorgio delVecchio”, na obra “O Estado e o Direito”refere a existência de 3 funções: a


legislativa, a executiva e a judicial.

Para Roland More, em “O Estado e as Instituições”, são quatro as funções: a governativa, a


legislativa, a administrativa e o jurisdicional. As duas primeiras são de natureza política, repartindo-
as pelo Governo e pelo Parlamento em maior ou menor grau. A função administrativa visa assegurar
a gestão de certas “coletividades territoriais”, ou de “organismos públicos”, finalmente, a função
judicial exercida por magistrados, cuja missão é fazer e aplicar as leis, dirimindo questões entre os
cidadãos ou entre estes e o Estado.

Em conclusão, podemos dizer, que apesar das diferentes orientações ideológicas dos autores que
atrás citamos, há uma terminologia adotada.

Ou seja, a terminologia apresentada por “Giorgio delVecchio”, onde classifica as funções do Estado
em:

- Função Legislativa

- Função Administrativa ou Executiva

- Função Judiciária

1.2- Condições para o exercício do Poder Político

Como já atrás tínhamos referido, uma das condições para o exercício do poder político é a
legitimidade, defendida por Max Weber, em que ele defende a existência de três tipos de
dominação legítima; a dominação legal, a tradicional e a carismática.

Outra condição indispensável ao exercício da atividade do Estado é a soberania.

“Jean Bodin”, em 1576, talvez influenciado pelo clima de guerra e anarquia que assolava França,
desenvolveu uma doutrina nova, “a doutrina da soberania”que resumia a essência do Estado ao
poder soberano. Ele comparava um Estado sem soberania como um barco sem quilha.

Contudo, ele não concebia esse poder totalmente absoluto, haviam certas leis(lei divina, lei da
natureza, leis fundamentais) que limitavam o poder soberano.

Um século mais tarde, com Thomas Hobbes, também influenciado pelos acontecimentos de guerra,
a doutrina da soberania conhece um desenvolvimento diferente, o poder soberano deixava de se
subordinar às leis. A necessidade da existência de um poder que garantisse a segurança e o bem
comum justificavam, para Hobbes, que o próprio direito se subordinasse ao poder soberano.

A partir daqui, a soberania passou a identificar-se com a força e não com o poder legal.

1.3- Formas de exercício do poder político

A eficácia de um regime anda, associada às formas como é exercido o poder político.

Mas este poder pode ter ao seu dispor vários instrumentos de controlo sobre a sociedade, o que, de
facto, o caracteriza é o uso da força, força cujo monopólio detém.

Há assim, órgãos dentro do Estado que asseguram, pela violência, a “ordem”. Estes órgãos
constituem, na terminologia marxista, o chamado “aparelho repressivo do Estado” (governo,
exército, policias, tribunais, prisões, etc) e ainda, os “aparelhos ideológicos do Estado” (igrejas,
escolas, partidos, sindicatos, imprensa, etc) que funcionam mais com base na ideologia e atuam,
normalmente, através da persuasão.

Fins do Estado

Em termos teóricos e esquemáticos, podemos dizer que o Estado, visa a SEGURANÇA, a JUSTIÇA e o
BEM-ESTAR.

Em relação a Segurança, ela pode ser determinada, como a defesa contra o inimigo externo, a
garantia da tranquilidade pública interna e a proteção contra as calamidades naturais. Ela visa a
manutenção da ordem e da paz social.

Quanto ao segundo fim, a justiça, escreve Marcelo Caetano “ a sociedade política existe para
subtrair, nas relações entre os homens, ao arbítrio da violência individual certas regras ditadas pela
razão que satisfaçam o instinto natural da justiça”.

Segundo “John Rawls”, há identidade de interesses, pois a sociedade possibilita que todos tenham
uma vida melhor do que aquela que teriam se tentassem viver unicamente dos seus esforças
isolados.

Por outro lado, há conflito de interesses uma vez que os sujeitos não são indiferentes à forma como
os benefícios produzidos pela sua cooperação são repartidos, já que, na prossecução dos seus
próprios interesses, todos preferem receber uma parte maior.

Assim, é necessário recorrer a princípios para escolher entre as várias estruturas que determinam
esta divisão de benefícios e para alcançar um acordo quanto à distribuição adequada. Estas
exigências definem o papel da justiça. As condições de fundo que dão origem a estas exigências
constituem o contexto da justiça.

Em relação ao bem-estar, é entendido não apenas como o bem-estar material dos indivíduos que o
compõem, mas também o seu bem-estar cultural e espiritual.

Como sublinha Freitas do Amaral “ estes três fins são, pois, cumulativos e implicam a sua realização
simultânea: a segurança sem a justiça e sem o bem-estar equivale ao totalitarismo; a justiça sem a
segurança ou sem o bem-estar é impossível, não é justiça; a segurança e a justiça sem o bem-estar
significam a imposição formal de uma ordem social baseada na desigualdade, necessariamente
geradora de revolta, e por isso mesmo incapaz de garantir em permanência a justiça e a segurança.

2- Evolução histórica do Estado Moderno

O Estado apareceu:
- Da necessidade, em toda a sociedade humana, de um mínimo de organização política.

- Da necessidade de situar no tempo e no espaço, o Estado entre as organizações políticas


historicamente conhecidas.

- De constante transformações das organizações políticas em geral, ou das formas ou tipos de Estado
em particular;

- Da possibilidade de, em qualquer sociedade humana, emergir o Estado, desde que verificados
certos pressupostos;

- Da natureza dos pressupostos de índole geográfica, cultural, económica e social.

- Da correspondência entre as formas de organização política, formas de civilização e formas


jurídicas;

- Da tradução em termos de ideia do Direito e de regras jurídicas do processo de formação de cada


Estado em concreto.

Processos de Formação do Estado

Conhece-se formas pacíficas e violentas, formação de acordo com as novas Leis vigentes em cada
Estado ou na sociedade, também é de se incluir influência externa e interna nesse processo.

No plano antropológico, revelam-se processos mais importantes como a conquista, o agrupamento


por laços de sangue ou agrupamento por laços económicos.

Desenvolvimento histórico do Estado

O Estado esta em constante mutação, através de varias fases de desenvolvimento progressivo (e as


vezes regressivo), os fins que se propõem arrastam-no para novos modos de estruturação e eles
próprios vão se modificando e, mais das vezes se ampliando.

Em consequência da geografia e das vicissitudes dos povos e das culturas, esse desenvolvimento
tanto pode ser isolado como interdependente. Isolado, encontra-se na antiguidade clássica e na
antiguidade oriental, uma perante a outra, no extremo oriente, na América pré -colombiana, e na
África subsariana. Desenvolvimento interdependente é o que se da na Europa desde o império
romano e no resto do mundo desde a colonização e a descolonização.

Redução das formas históricas do Estado a tipos

A “Jellinek” se deve a consideração dos “tipos fundamentais de Estado” apontando –os como tipos
de Estado com relação histórica com o Estado atual, ou porque os unam uma imediata continuidade
histórica ou porque os conhecimentos de um tenham influênciado sobre os outros, sendo que são:
Estado Oriental, Estado Grego, Estado Romano.

Estado Oriental

Os traços mais marcantes desse tipo de Estado são:

- Teocracia,ou seja, o poder político reduzido ao poder religioso

- Forma monárquica

- Reduzida as garantias jurídicas dos indivíduos

- Ordem desigualitária e hierárquica da sociedade.

- Larga extensão territorial e aspiração a construir um império universal

Estado Grego

- Relativa ou pouca importância do fator territorial

- Prevalência do fator pessoal

- Deficiência ou inexistência de liberdade fora do Estado ou redução da liberdade pessoal

Estado Romano

Roma constituiu-se pelo agrupamento das famílias e das gentes, as quais são unidas pelo culto dos
antepassados

Os traços essenciais desse tipo de Estado são:

- Consciência da separação entre o poder público e o poder privado


- A consideração como direitos básicos do cidadão romano não apenas o direito de eleger, ou de
acesso as magistraturas, como também direito ao casamento legítimo, celebração de atos jurídicos.

- Desenvolvimento da noção do poder político, como o poder supremo e uno

Até o Estado atingir o estatuto do Estado Moderno, podemos considerar que ele evoluiu no seguinte
sentido: Estado Estamental, Estado Absoluto, Estado Policia, Estado Constitucional e o Estado Social
de Direito.

Estado Estamental- ou monarquia limitada pelas ordens, é uma forma política de transição até o Rei
ganhar força e a monarquia se tornar absoluta.

De facto o rei tem a legitimidade como a efetividade do poder central, mas tem de contar com as
ordens vindos da Idade Media, que são os Parlamentos, Estados Gerais, Dietas ou Cortes.

Trata-se assim de uma Monarquia de Equilíbrio

Estado Absoluto– tem as seguintes características;

1-Maxima concentração do poder no Rei- “O Estado sou eu”-segundo a famosa máxima de Luis XIV

2- O soberano aparece como o detentor do poder de fazer leis, interpretalá-as e revoga-las.

3 – Os poderes legislativos, executivo e judicial estão reunidos no Rei.

4- O poder não é partilhado com outros órgãos, Deus concede ao rei a graça especial de por a
vontade real em conformidade com o bem público.

5- Existem poucas regas reduzidas a escrito, é a vontade do monarca que é lei.

6 – O monarca não esta submetido a fiscalização de sanções.

Estado Polícia – é o estado levado até as últimas consequências do Estado Absoluto.

Agora o fundamento já não é divino, mas racional, recorrendo-se sobretudo à ideia de polícia,
intervindo o Rei em todos os domínios no interesse do bem público, em nome da razão do Estado.

Estado Constitucional – É o Estado caracterizado pela garantia dos direitos do cidadão


salvaguardados através da Constituição.

Surgiu com as Revoluções Americana e Francesa.

A própria Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão , de 16 de Agosto de 1789, diz
que “Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a
separação dos poderes, não tem Constituição”.

Assim, o Estado Constitucional, é caracterizado pelos seguintes traços:

1-Limitação do poder político

2- Advento da Constituição

3- Separação dos poderes

4- Reconhecimento da existência de direitos do homem.

5- Proclamação da igualdade jurídica de todos os homens, independentemente do nascimento ou de


outros fatores;

6- Primado da lei, sendo o Estado fundado e limitado pelo direito,

7- Aparecimento dos partidos políticos

8- Representação política

9- Ideia de “Estado mínimo” com a economia entregue à “auto-regulação do mercado”.

10- Abolição de privilégios

11- Carácter intocável de propriedade privada.

Estado Social de Direito – tipo de Estado emergente após a I Guerra Mundial, tendo como centro a
Europa e a América, e que corresponde a adaptação qualitativa do Estado Liberal.

Com efeito, o Estado Social surge no período entre as duas grandes guerras, embora apenas viesse a
ganhar plena expressão depois de 1945.

Segundo o Prof. Marcello Rebelo de Sousa, o Estado vem assumir como características essenciais
próprias, designadamente “a relevância do bem-estar e da justiça social como fins do Estado,
prevalecendo sobre o desígnio da segurança jurídica dos cidadãos, no plano interno e no plano
externo; a importância dos direitos económicos, sociais e culturais dos cidadãos que correspondem
na sua consagração a uma nova escala de objetivos e funções do Estado”.

O Estado social assume como suas principais componentes o bem-estar público e a procura da
justiça social, assumindo-se cada vez mais como o administrador da justiça distributiva em campos
como o Direito fiscal, direitos das sucessões, assistência social, proteção no trabalho.

Podemos concluir que o Estado Social vai realizar o aprofundamento e o alargamento simultâneos
da liberdade e da igualdade em sentido social, com integração política de todas as classes sociais.

As Formas de Estado

De acordo com o Prof. Jorge Miranda, podemos caracterizar como “Forma de Estado”, o modo de o
Estado dispor o seu poder em face de outros poderes de igual natureza (em termos de coordenação
e subordinação), e quanto ao povo e o território (que ficam sujeitos a um ou mais de um poder
político).

Por exemplo, estamos perante um Estado simples ou unitário quando existe uma unidade de
poderes políticos, de autoridade de governo, assim como uma só Constituição. Como exemplo
temos os casos de Cabo Verde, Portugal, França, Itália, Espanha.

Por outro lado, estamos face a um Estado composto, quando coexistem uma pluralidade de poderes
políticos e de autoridade de governo, como acontece com os Estados Federais.

Nesse caso, de Estados Federais, apesar de conservarem a sua autonomia constitucional, perdem a
personalidade jurídica constitucional a favor da União, não tendo quaisquer direitos na ordem
internacional.

Quanto aos Estados Federais, são constituídos pelos Estados Federados (por exemplo os Estados
Federais dos Estados Unidos) sendo o território federal resultado da junção dos territórios dos
Estados Federados.

Assim, os cidadãos do Estado Federal estão sujeitos ao governo central e ao governo do seu Estado
Federado.

Cada um dos Estados federados tem uma Constituição que é elaborado pelos próprios Estados
federados.

Esses Estados dispõem de um correspondente sistema de funções e órgãos legislativos,


governativos, administrativos e jurisdicionais próprios, assim como de forças de segurança, aos quais
incumbem a aplicação e execução das leis.

Dispõem de Parlamento, Governos próprios e uma hierarquia judicial.

Em consequência, porque coexistindo vários poderes políticos, o poder político soberano do Estado
Federal acaba condicionando os poderes políticos dependentes dos Estados Federados pela seguinte
forma.

a)As constituições dos Estados Federados conformam-se com a Constituição do Estado Federal.
b) Os Estados Federados usualmente não podem desvincular-se do Estado Federal.

c) Os tribunais federados controlam a conformidade das Constituições e leis dos Estados Federados
relativamente à Constituição do Estado Federal.

d) Compete exclusivamente ao Estado Federal manter as relações internacionais, bem como


defender a política de defesa de toda a Federação.

Algumas características do Estado de Cabo Verde

- Cabo Verde é uma República Soberana, unitária e democrática. (Art.1⁰n⁰1 da Constituição da


República de Cabo Verde)

- Organiza-se em Estado de direito democrático assente nos princípios da soberania popular, no


pluralismo de expressão e de organização política democrática e no respeito pelos direitos e
liberdades fundamentais (Art. 2⁰ n⁰1 da CRCV)

- A soberania pertence ao povo, que a exerce pelas formas e nos termos previstos na Constituição
(Art. 3⁰ n⁰1 CRCV)

- O Estado subordina-se a Constituição e funda-se na legalidade democrática, devendo respeitar e


fazer respeitar as leis (Art. 3⁰ n⁰2 da CRCV).

- O poder político é exercido pelo povo através do referendo, do sufrágio e pelas demais formas
constitucionais estabelecidas (Art.4⁰ n⁰ 1 da CRCV)

Regimes Políticos

Segundo o Prof. Marcello Caetano, entende-se por regime político, a forma como em cada sociedade
se estrutura e se exerce o poder político.

Para tal, há que ter em consideração as conceções fundamentais das relações entre o individuo e a
sociedade política.

Os regimes políticos exprimem as relações entre aqueles que governam e aqueles que são
governados, refletindo-se na ordem jurídica.

As relações entre a comunidade política e os cidadãos que estão sujeitos ao poder político, são tão
complexas e diversificadas que na classificação de um regime político, temos de basear em vários
fatores, na medida em que eles procuram dar resposta a problemas básicos para a definição de um
regime político, a saber:
- A Legitimidade

- A Liberdade política e o pluralismo

- Da participação e da divisão do poder

Nestes termos, podemos qualificar os regimes em: monárquicos por contraposição aos republicanos,
bem como em democráticos por oposição aos totalitários.

Reportando-se apenas ao critério de designação do Chefe de Estado, podemos caracterizar a


Monarquia como forma política em que existe um chefe de Estado hereditário.

Em relação a República, e tendo em conta o mesmo critério, podemos classificar a sua forma política
em que o chefe de Estado não é hereditário, tendo este um mandato temporário (em regime
democrático) ou vitalício (em regime totalitário).

Estamos perante um regime totalitário, quando num determinado país o regime político está
imbuído de uma ideologia de onde deriva, com absoluta certeza, o terror como instrumento para
obter obediência, e procurando traduzir nos factos, a própria visão ideológica sem admitir
contradição de qualquer pluralismo.

Como escreve um autor de nome Martin Amis “ a natureza excecional do genocídio nazi, tem a ver
com a sua escala e ritmo industrial. Isso repugna-nos, mas o nojo talvez não seja rigorosamente
moral: é em parte estético(...). E Estaline, sabia que os seres humanos, dentro de determinadas
condições, podem de facto passar o dia a matar, até o ano”

Se a legalidade é a essência do governo não tirânico e a ilegalidade a das tiranias, o terror constitui a
essência do poder totalitário.

Como outras características do totalitarismo, temos:

a) A presença de um partido único

b) Uma política secreta consideravelmente desenvolvida

c) O monopólio estatal dos meios de comunicação social;

d) O controlo centralizado de todas as organizações políticas, sociais e culturais.

e) Subordinação total das forças armadas ao poder político.

Como exemplos, o nazismo, e a sua indústria de morte coletiva, gabando a pureza do sangue,
glorificando os mais primários instintos de violência e destruição.

Por outro lado, o terror do comunismo soviético, com todos os seus extermínios, com o stalinismo
em destaque, o comunismo chinês no período maoista.

Num outro regime, o fascismo italiano, os regimes comunistas do antigo bloco do leste Europeu,
Cuba, Vietname, Coreia do Norte.

Por seu turno, estamos perante um regime democrático, no dizer de Norberto Bobbio, “quando há
uma relação de troca generalizada entre governantes e governados, onde a massa de cidadãos
intervém ativamente no seu processo de legitimação do sistema no seu conjunto, usando o direito de
voto, para apoiar os partidos constitucionais, ou não o usando, porque em tal caso vale a máxima de
‘quem cala consente”.

O ilustre politólogo italiano diz-nos que o consenso através do voto é uma prestação positiva que
exige, em geral uma contra-prestação.

A prestação dos eleitores é o voto, enquanto a contra-prestação dos representantes eleitos é um


beneficio ou a remoção de um prejuízo.

O poder político pertence, pois aos governados e é exercido pelos governantes numa mediação
temporária, em conformidade com os prazos para os quais foram eleitos.

Aprofundando o que se entende por regime democrático, “Robert A. Dahl”, inventariou os seguintes
requisitos;

- Dirigentes eleitos

- Eleições livres justas e frequentes

- Liberdade de expressão

- Acesso a fontes alternativas de informação

- Autonomia de associação

- Cidadania inclusiva

Apesar de todas as suas imperfeições, o mesmo Dahl, inventaria os benefícios dos regimes
democráticos, que os tornam como o mais desejável dos regimes;

- A democracia ajuda a impedir o governo dos autocratas cruéis e viciosos.

- Garante aos seus cidadãos um conjunto de direitos fundamentais

- Só um governo democrático pode oferecer uma oportunidade máxima para os indivíduos


exercerem a liberdade de auto- determinação.

- Os países com governos democráticos tendem a ser mais ricos do que os países com governos não
democráticos.

Formas de Governo Modernas

Segundo Jorge Miranda, Forma de Governo, é o modo como se estrutura e exerce o poder político
em cada sociedade, e que vai estudar aspetos como a legitimidade, a representação política, o
pluralismo e a divisão do poder.

E considerando estas vantagens, segundo o mesmo autor, vamos seguidamente elencar oito formas
de governo modernas: Monarquia absoluta; Governo Liberal, Monarquia limitada, Democracia
jacobina, Governo Cesarista, Democracia Representativa, Governo leninista e Governo fascista.

Vamos de seguida passar a analisar cada uma dessas formas de governo, a saber:

Monarquia Absoluta – forma de governo dominante antes de 1789, assenta nos seguintes
pressupostos:

- Legitimidade monárquica

- Inexistência de representação

- Monismo

- Inexistência de separação de poderes

- Fator político central; o Rei.

Governo Representativo Clássico ou Liberal – forma de governo que triunfa com a Revolução
francesa e se manifesta essencialmente no século XIX. Assenta na:

- Legitimidade democrática relativa

- Representação política com sufrágio censitário;

- Pluralismo;

- Separação de poderes

- Fator político central: o Parlamento

Monarquia Limitada – Monarquia das Cartas Constitucionais – prevaleceu na Alemanha e Áustria no


séc. XIX. Tem os seguintes pressupostos:

- Legitimidade monárquica

- Representação política com sufrágio censitário;

- Pluralismo reduzido;

- Separação de poderes com prevalência do Rei;

- Fator político central: o Rei mais que o Parlamento.

Democracia Jacobina – teve expressão na Constituição Francesa de 1793.

- Legitimidade democrática;

- Monismo;

- Inexistência de separação de poderes

- Fator político central: a Convenção

Governo Cesarista: forma de governo vigente com Napoleão I, sendo sua matriz, Júlio César na
Roma clássica. Sustentava-se nas seguintes linhas gerais:

- Legitimidade democrática

- Representação política com instituições representativas atenuadas pelo recurso ao plebiscito;

- Separação de poderes quase inexistente;

- Fator político central: o César.

Democracia Representativa

- Forma de governo dominante no Ocidente, desde a I Guerra Mundial. Funda-se nos seguintes
vetores essenciais.

- Legitimidade democrática

- Representação política com sufrágio universal em relação com os partidos políticos.

- Existência de referendos;

- Pluralismo
- Separação de poderes complexa.

- Fator político central: os partidos políticos e o sistema de partidos.

Finalmente, e como forma de governo totalitário iniciadas no sec. XX, temos o governo leninista e o
governo fascista.

Governo Leninista – inaugurado com a revolução soviética de 1917 e vigente na União Soviética até
1991, apresenta como aspetos gerais:

- Legitimidade democrática mas na conceção marxista;

- Inexistência de representação política nas instituições representativas;

- Monismo

- Inexistência de separação de poderes;

- Fator político central, o Partido Comunista

Governo Fascista – tem como modelo, o governo do Partido fascista em Itália, entre 1922 e 1943,
apresenta como linhas gerais.

- Legitimidade diversa;

- Inexistência de representação ou de formas de representação institucional;

- Monismo;

- Inexistência de separação de poderes;

- Fator político central: o Chefe e o seu partido

Posição extrema desta forma de governo: o nacional – socialismo alemão ou nazismo, entre 1933 e
1945.

Posição atenuada desta forma de governo: o franquismo espanhol, entre 1939 e 1975.

Sistemas de Governo

São formas de estudar a responsabilidade política, a interdependência entre os vários órgãos


políticos, bem como a distribuição das competências dos governos, através das normas
constitucionais.
Podemos classificar o seguinte elenco dos sistemas de governo:

Sistema de Governo Presidencialista – sistema que surgiu com a Constituição dos Estados Unidos de
1787, que ainda está em vigor. Esse tipo de regime rege-se pelos seguintes princípios:

- A existência de dois órgãos: o Presidente, e o Parlamento, não tem um governo em sentido


próprio, mas sim uma administração que se submete ao Presidente.

- O Presidente é simultaneamente Chefe de Estado e Chefe Executivo, não existe a figura do


Primeiro-Ministro.

- Os atos práticos pelo Chefe de Estado, não carecem de referendo ministral, em função de não
haver um Governo na verdadeira aceção da palavra.

- Os membros do Governo são chamados de Secretários, ao invés de Ministros.

- O Presidente não pode dissolver o Parlamento, nem este órgão pode demitir aquele, salvo em caso
de acusação criminal, há portanto uma responsabilidade política de uma face ao outro.

- A eleição do Presidente é feito por sufrágio indireto e universal.

O princípio da independência e da separação de poderes, está no entanto limitado pelas regras


constitucionais, pois o Presidente tem a faculdade de vetar as leis aprovadas pelo Parlamento,
obrigando este a revê-las, bem como a possibilidade de propor ao Parlamento projetos de lei; e o
Parlamento dispõe de meios que lhe permite influenciar a ação do Presidente, como por exemplo
tem a faculdade de aceitar ou rejeitar o orçamento do Estado.

Os Estados Unidos são um exemplo quase único no governo presidencialista.

Sistema de Governo Semi presidencialista – Sistema que apareceu em 1919 na Finlândia e na


Alemanha.

É uma mistura do presidencialismo com o parlamentarismo. O sistema semi presidencialismo é


muito parecido com o sistema parlamentar, pois temos um Chefe de Estado e um Chefe de Governo,
e o Executivo só pode governar se tiver a confiança do Parlamento.

Tem as seguintes características:

- A existência de três órgãos políticos: Chefe de Estado, Governo e Parlamento. A eleição do Chefe
de Estado é feito por sufrágio universal e direto.

- O Poder de dissolução do Parlamento, compete ao Chefe de Estado.

- Ao Chefe de Estado, é atribuído certas faculdades constitucionais, que lhe confere certos poderes
de intervenção no sistema do Governo, como funções de fiscalização, supervisão e regulação do
sistema do Governo.

- Formação do Governo em função dos resultados eleitorais, dependendo a sua constituição e


sobrevivência da confiança do Parlamento e do Presidente de República.

Sistema de Governo Parlamentar- como traços essenciais, podemos referir:

- Existência de 3 órgãos a saber: Chefe de Estado, Parlamento e Governo, sendo estes dois últimos
politicamente ativos, e o Chefe de Estado, com poderes meramente nominais.

- O Governo resulta de eleições diretas e universais, e a sua nomeação obedece a resultado das
eleições parlamentares. Investido pelo Chefe de Estado, com o apoio do Parlamento, o Governo só
pode exercer as suas funções se tiver a confiança deste, isto é se contar com o apoio da maioria
absoluta dos deputados.

- O Chefe de Estado é politicamente irresponsável, pelo que os conflitos verificados entre o Governo
e Parlamento não lhe dizem respeito, não podendo assim e por inerência, praticar a generalidade
dos atos políticos.

- O poder de dissolução parlamentar pelo Chefe de Estado é meramente formal, já que a decisão
política de dissolução compete ao Primeiro-Ministro que, em consequência impulsiona o Chefe de
Estado a fazê-lo.

- Há uma responsabilidade política do Governo face ao Parlamento, ou seja, o Governo pode cair no
Parlamento, como resultado da não aprovação de uma moção de confiança apresentado pelo
partido que sustenta o Governo, ou pela aprovação de uma moção de censura apresentada pela
oposição.

- Há uma ligação estreita entre o Governo e o Parlamento, o que pressupõe que eles colaborem nas
funções do Estado. Com efeito, o Executivo participa da função legislativa, quer de modo formal,
intervindo na elaboração das leis pelo Parlamento (iniciativa ou promulgação), quer de modo
material através do exercício do poder regulamentar. O Parlamento por seu turno, colabora na
função governativa, ora dando a sua concordância a certos atos diplomáticos, ora dotando o
Governo dos meios de agir.

Partido Políticos

Os partidos políticos aparecem ligados a extensão do sufrágio popular, se bem que o termo partido
surgiu muito antes do aparecimento das organizações políticas. E como, percursores dos partidos
políticos, podemos referir os Whigs e os Terios na Inglaterra século XVIII, os Federalistas e Anti-
Federalistas nos Estados Unidos, nos séculos XVIII e XIX.

No entanto, não eram considerados verdadeiros partidos, pois, não tinham as características que
permitiam tal classificação.

De acordo com um escritor de nome “Jean Charlot in Os Partidos Políticos´”,: “O partido político é
algo de omnipresente: nos regimes autoritários como nos liberais, nos países em via de
desenvolvimento, como nos países industrializados. É difícil citar um Estado onde não haja ao menos
um partido político”.

No século XVIII, o partido político era algo de nubloso, e inconsciente, uma opinião ou uma corrente
de opinião pública.

O partido político como estrutura política, como organização autónoma, é um produto de sistemas
políticos nascidos das Revoluções Industriais, com o nascimento das Assembleias e com os processos
eleitorais.

Os partidos políticos, surgem nos regimes políticos onde os cidadãos podem, exprimir a liberdade,
sua opinião, e representam, assim o enquadramento coletivo e organizado das várias correntes
ideológicas.

Inicialmente, a iniciativa eleitoral resumia-se a comissões eleitorais cujo objetivo era o de reunir os
apoios e os fundos necessários ao candidato a escolha. Essas comissões eram constituídas por
pessoas influentes e com dinheiro.

De acordo com dois autores de nome “Joseph La Palombara” e “Myron Weiner”, para existir um
partido político, é necessário a conjugação de quatro critérios, a saber:

- Existência de uma organização durável, cuja esperança de vida seja superior à dos seus dirigentes.

- Organização completa até a inclusão dos escalões locais.

- Vontade deliberada de exercer diretamente o poder, exclusivamente ou com os outros, a nível


nacional ou local, no sistema político presente ou num sistema político novo.

- A preocupação de conquistar o apoio popular, quer seja a nível de militantes, quer de eleitores.

Assim sendo, um partido político implica, pois, continuidade, extensão até ao nível local e
permanência de um sistema de organização, por um lado, e, por outro, vontade de exercer
diretamente o poder, apoiando-se numa audiência de elite ou popular, militante ou eleitoral.
Origem dos Partidos Políticos

Em relação a origem dos partidos, não podemos deixar de mencionar Maurice Duverger, quem
criou, por sua vez uma classificação clássica da origem dos partidos políticos. Classificação essa que
considera a existência de partidos de origem eleitoral, de origem parlamentar e de origem exterior.

De origem eleitoral, são os que resultaram da criação de comités eleitorais com vista a enquadrar as
massas populares, aquando da institucionalização do sufrágio universal em França em 1848.

De origem parlamentar, contemporâneos da Revolução Francesa, são os partidos que derivam da


necessidade dos deputados, que professam opiniões semelhantes, se reúnem em grupos
parlamentares, com o objetivo de fazer vingar as suas opiniões.

Por último, de origem exterior, temos aqueles partidos que se constituíram fora do Parlamento,
nomeadamente a partir dos sindicatos, sociedades de pensamento.

Tipos de Partidos

O conceituado “Maurice Durverger”, criou igualmente um importante classificação, quanto ao


âmbito e extensão social dos partidos.

Nesse sentido os partidos podem ser classificados como partidos de quadros ou de notáveis e
partidos de massas ou de militantes.

Em relação aos Partidos quadros tradicionais, segundo Duverger, tem em vista reunir notáveis.
Esses notáveis são procuradores, quer pelo seu prestígio, quer pela sua fortuna, que lhes permite
ajudar nas despesas das campanhas eleitorais.
Esses tipos de partidos eleitorais remontam à era do Estado liberal do século XIX.

Em relação a estrutura dos partidos de massas, foi inventado pelos partidos socialistas no início do
século XX, e transporta sob formas e modelos diferentes para os partidos comunistas e partidos
fascistas.

Em virtude desses tipos de partidos, não poderem contar com fundos atribuídos pelas empresas
privadas ou pelos indivíduos com mais recursos económicos, optaram por uma solução de inscrição
direta nesses partidos do maior número possível de aderentes, por forma a permitir o financiamento
por via de quotas.

Os partidos de quadros tradicionais correspondiam ao conflito entre a aristocracia e a burguesia,


que os notáveis encarnavam, enquanto que os partidos de massas passam a espelhar o alargamento
da democracia.
Podemos dizer, que os partidos comunistas são inicialmente partidos de massas. O elemento de
base do partido comunista é a “célula laboral”.

Também, podemos por fim referir aos partidos fascistas, organizados como partidos de massas, que
utilizam técnicas militares, tendo como seu elemento essencial a milícia.

Nos anos 60, aparece um novo tipo de partido, resultado da evolução dos partidos de massas e da
reorganização dos partidos de quadros: o partido de eleitores, partido de reuniões ou partido
eleitoral de massas.

Esse tipo de partido, apresenta as seguintes características:

- Redução drástica da base ideológica

- Redução do papel do militante.

- Diminuição da importância a certas classes sociais ou de uma plateia religiosa ou confessional.

- Abertura a diversos grupos de interesses.

Em síntese são partidos sem rigidez doutrinária, viradas para as eleições, visando alcançar o máximo
denominador comum entre as diferentes classes sociais. Constituem a regra na atualidade,
anotando-se maior preponderância no centro-direito e no centro-esquerda.

Grupos de Pressão: Tipologia e Ação

Os grupos de pressão são entidades que agem do exterior, sem ter a pretensão de assumir o poder,
mas apenas com o objetivo de influenciar o mesmo. São constituídos por conjunto de indivíduos
com ideias e interesses comuns

Efetivamente, eles não pretendem vir a governar, e quando tal sucede, podemos citar os casos
paradigmáticos de LechValesa ou Lula da Silva, que já tinham deixado de ser dirigentes sindicais
(aliás, quer um quer outro foram dirigentes sindicais em ditadura) para se tornarem líderes de
partidos políticos, tendo culminado respetivamente, nas presidenciais da Polónia e do Brasil.

Esses grupos pressupõem alguns elementos constitutivos, de entre esses, salientam-se como
elementos essenciais os seguintes:

- Existência de um grupo organizado com carácter voluntário e durável.


- Defesa de interesses determinados

- Exercício de uma pressão, com o objetivo de influenciar o poder, sem no entanto ter a ideia de o
assumir.

A principal razão dos grupos de pressão reside na influência que visam obter sobre o poder político,
de modo a aprovar a legislação que lhes seja favorável.

Como principais grupos de pressão, temos aqueles que mais força negocial detém e que de uma
forma reiterada e sistemática mais influenciam o poder político.

Essa maior ou menor força depende da maior ou menor fraqueza da governação. Se os governantes
apresentarem fraquezas, maior é a capacidade reivindicativa dos grupos de pressão.

Nas democracias, os grupos de pressão são relativamente independentes, enquanto nas ditaduras
são reprimidas ou constituem-se como prolongamento da estrutura política dirigente, sendo
controla por estes.

Os grupos de pressão mais temidos que podemos mencionar são: comunicação social, a Igreja, as
centrais sindicais, as confederações patronais, as associações, os grandes grupos económicos, a
banca e as seguradoras, etc.

Com uma importância menor, não pela sua irrelevância, mas pelos interesses específicos que visam
prosseguir, pela quantidade de intervenientes envolvidos, a dimensão e repercussão na opinião
pública, podemos citar os movimentos gays, os movimentos feministas, associações contra o
racismo, de defesa da natureza, etc.

Os meios de ação utilizados pelos grupos de pressão, podem ser: propaganda, a opinião pública,
política.

Em relação aos métodos utilizados, podemos falar da persuasão, a ameaça, a sabotagem, a


corrupção.

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