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Aula 03-Pensamento Político I: a origem.

Gregos e Romanos

I - Revisão

Nas aulas passadas vimos: conceito e significado da teoria geral do estado


e da ciência política. Entendemos que a função da filosofia é a projeção do homem
e da sociedade como um dever ser e a função da ciência política é o estado da
sociedade e da política contemporânea.

Vimos ainda: que as sociedades se originaram de pequenas comunidades


as quais por sua vez se originaram das famílias. O homem, mesmo sendo
sozinho, sentiu a necessidade de viver em grupos para um melhor
compartilhamento de objetos, proteção e bus de alimentos.

Com o passar do tempo, as comunidades foram tornando-se mais


complexas e assim surgiu a sociedade. Com esta surgem a necessidade de regras.
Vimos ainda que existem diversos tipos de sociedades, portanto podendo ser
eclesiásticas, étnicas, ideológicas etc.

Ao final, demos uma pequena pincelada no conceito de estado e nos seus


elementos. Vimos que o Estado é um ente soberano criado pelo homem e que sua
finalidade é a defesa da paz social assim como atender a todos na sociedade em
que representa.

O estado é o verdadeiro garantidor de direitos e impositor de deveres na


escala da sociedade. Todos possuem direitos, mas tem seus deveres a cumprir
isso para manter a paz e ordem e convivência com todos.

Também abordamos: elementos do Estado. Para sua composição são


necessários três pontos: soberania, território e governo e o elemento mais
importante: o povo.

Soberano significa que este Estado não possui influência de nenhum outro,
ou seja: em suas decisões definindo o que vem a ser o bem social e comum, não
aceita ou permite interferência de outros estados em suas decisões. Em resumo:
independência.

Território é a porção geográfica onde será exercida a soberania, ou seja: o


território onde o estado pode tomar e impor suas decisões, e isso sem a
interferência de ninguém. Neste território serão impostas regras de convivência
as quais devem ser seguidas por todos.

Como terceiro elemento temos a “cabeça pensante”, ou seja o governo.


Vimos que este exerce o poder através da máquina estatal, tomando decisões do
quem vem a ser o bem coletivo, definindo regras. Em nosso Estado ele é definido
em separado no exercício do Poder legislativo; Poder Executivo e Poder Judiciário
nesta ordem.

Temos como último elemento o povo. Este pode ser definido como o
quantitativo de pessoas que vivem em determinado território estatal. Em sentido
amplo e genérico, povo equivale a população (MALUF, 2019, p.19). Portanto
podemos entender como povo todos os seres humanos viventes naquela porção
de terra, subordinados ao poder de um Estado soberano.

Demos ainda uma passadinha sobre o conceito de poder, e vimos este


como o poder de influência e de decisão sobre o outro, mesmo que seja contra a
sua vontade, para fazer as atividades do soberano.

Passamos agora ao ponto central desta aula: ao pensamento político


clássico. Se vimos sobre poder, vamos agora entender como ele surgiu e procurar
saber quais pensamentos iniciaram os conceitos e trouxeram à evolução dos
poderes que temos hoje.

I.1 – “Pólis” “ Politikós”: uma viagem à Grécia Antiga para conhecer a origem da política.

Somos indivíduos dotados de individualidade, como entes e temos a nossa


essência, mas sentimos a necessidade e pertencer a grupos os quais
denominamos de sociedades.

Mas, para se manter a paz na sociedade e todos posam viver em harmonia,


é necessária uma organização disso. A organização do Estado é feita através da
política.

A política serve para organizar a sociedade como um todo. O Estado em


si não pode ser desorganizado. Esse necessita de uma gestão. A gestação é feita
pela política. Mas, essa possui origem onde? Quem criou a política? Existe algum
fundador por assim dizer ou pessoas que falaram sobre isso? É o que vamos ver
nesta aula.

A política em si tem uma origem muito mais antiga que os gregos. Como
falei em sala de aula, umas das sociedades mais organizadas e consideradas por
muitos como o berço da civilização são os egípcios.

No Egito Antigo havia um sistema de organização estatal, inclusive


“copiado” pelos gregos a título de exemplo temos Heródoto que visitou o Egito
antigo no século Vº A.C.,
Podemos dizer que os gregos foram um dos primeiros grupos a habitarem
o Egito, compartilhar de sua formação e tecnologias da época. Isso influenciaria
a história como um todo.

Mas, a maioria dos doutrinadores, como por exemplo Reinaldo Dias,


atrela a origem do pensamento político aos Gregos tão somente. Por isso a nossa
viagem à Grécia antiga, mais precisamente ao século VI º antes de Cristo (A.C).

O homem vivia da mitologia ou seja: dos mitos. Não existia nesta época
uma visão científica do que acontecia no mundo. Cada coisa era atrelada aos
deuses, como a criação do universo ou lendas gregas conhecia como mitologia
grega.

Sempre vemos histórias de Zeus e os deuses do Olimpo. Uma história que


sempre aconselho vocês a conhecerem é a história de Eros E Psiquê1 onde temos a
explicação entre amor e razão quando se entrelaçam. Mas deixando de lado isso
vamos ao que interessa: a política como ciência.

No século VIº A.C o homem, no caso os gregos, sentiram a necessidade de


tornar científico não somente a origem das coisas, mas o destino da sociedade
como um todo. Nasce aqui o pensamento político clássico o qual é objeto de nossa
aula hoje.

As pequenas comunidades “individuais” cresceram e se tornaram


sociedades. Foi-se criando assim as cidades-estados as qual teve um crescimento
mercantil e comercial, necessidade de haver uma organização mínima, leis,
punições, direitos (o que veremos mais tarde).

Estas cidades estados eram completamente independentes. Cada uma


podia ter um tipo de regime de governo completamente diferente uma da outra
como por exemplo: na cidade de Atenas tínhamos a democracia, sendo
considerada esta como berço da democracia.

Em Esparta tínhamos a oligarquia, onde os oligarcas reinavam. Em


Corinto e Tebas tínhamos um governo Aristocrata. Diversos tipos de governo em
um mesmo local, vivendo pluralidade de regras e de princípios de ethos: ética.

A pólis, ou seja, o povo (pópulos em latim) deu origem ao vocábulo Politikós.


Significa em sua essência: Polis: povo, população enquanto Tikós significa bem
geral, ou bem comum. Portanto o significado da palavra Polítikós que gerou a
nossa palavra política é simples o bem geral de todos.

1 Temos esta aula aqui: (29) O mito de Eros e Psique | Rosângela Teixeira - YouTube
A finalidade da política, portanto, e a busca do bem comum. Lembram que
eu falei que a finalidade do Estado também é o bem comum? Mas como se faz
isso? Através da atividade política. Um conceito que muito me apetece é o do
professor Reinaldo Dias2

O conceito de política é derivado do adjetivo originado de polis (politikós), que


significa tudo que se refere a cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil,
público e até mesmo sociável e social.' Ou, dito de outro modo, o conceito de política
"é habitualmente empregado para indicar a atividade ou conjunto de atividades que têm
de algum modo, como termo de referência, a polis, isto é, o Estado. (DIAS, 2012, p.2)

Mas, fica a dúvida: quem trouxe este conceito de Política à Grécia Antiga
dando origem ao pensamento dos Clássicos? Essa definição clássica de política foi
dada pelo nosso querido Platão e por seu amado discípulo Aristóteles em sua obra
denominada com o título “Política”.

Sabemos: Sócrates foi a origem da filosofia clássica, sendo seus discípulos


Platão e este por sua vez deixou seu amiguinho Aristóteles com seus
ensinamentos.

Platão deu origem ao seu pensamento trazendo o que chamamos de


Humanismo da Política ou seja: o ser humano torna-se nobre quando age
politicamente. Mas qual a razão disso: Platão tratava em suas obras sobre política
e ética. Sua obra principal é conhecida como A República ou Politeia.

O povo, em alguns momentos, assim como o Estado, pode ser sujeito ou


objeto da política. Mas de que modo professor? Botando a tecla SAP: seria objeto
quando há a feitura dos bens comuns por parte do estado e sujeito quando há a
escolha dos seus representantes.

Como por exemplo: se eu como cidadão vou votar no dia das eleições, eu
sou um agente político exercendo meu direito de votar através do sufrágio
universal. Quando o Estado faz algo por mim, por exemplo: uma construção de
um hospital, eu estou sendo objeto da política neste exato momento.

Mas vamos deixar de história e adentrar agora no pensamento político de


Aristóteles, pois já sabemos do objeto da matéria a ser aqui estudado.

I.2 – Aristóteles: todo homem é um zoon politikon:

O título é este e você não leu errado. Zoon em grego significa animal,
independente da espécie. Para Aristóteles em seu livro Política somos animais
políticos. O que isso quer dizer? Simples: somos seres datados de racionalidade

2
Ciência Política, 2012, p. 2
e com esta fazemos todas as coisas ao bem comum através da política. Temos a
capacidade de construir nossa sociedade.

Para Aristóteles, a polis não era algo alheio ao mundo. Ela possuía vida,
sendo uma unidade constitutiva. Segundo o Professor Reinaldo Dias (DIAS, 2012,
p.2) tanto a polis quanto os seus habitantes eram um único ente ou seja: uma só
coisa. Pois você está ligada a ela e participa dela ativamente.

Mas professor, isso era exercido de que forma? Através dos atos políticos.
Um exemplo de como isto ocorria, está no Filme ÁGORA que trata a história de
Hypátia de Alexandria, a qual é considerada por muitos a primeira mulher
cientista em registros históricos. A mulher só trabalhava em Alexandria, na
biblioteca mais famosa do pedaço.

O filme pode ser acessado no Youtube: (28) FILME ÁGORA


ALEXANDRIA - YouTube. Só clicar no link e se divertir.

Voltando ao nosso assunto: os gregos, e isso incluía Aristóteles, debatiam


no que se chama de ágoras os assuntos políticos, ou seja do bem comum os quais
tentavam decidir a melhor solução ao caso. Eram todos os que participavam?
Não. Apenas os considerados cidadãos gregos.

Se eu sou um indivíduo político, significa que exerço minhas ideias e o que


delas resultam aos outros. Correto? Lembram de nossa aula sobre poder? Poder
nada mais é do que a capacidade de influenciar o outro a fazer o que é determinado
mesmo que seja contra sua vontade.

Política está essencialmente ligado ao poder, sempre. Pois para que os


frutos do que é considerado bem comum possam ser realizados, exige-se do
Estado que exerça através do seu poder de coerção a vontade do bem comum a
todos os indivíduos.

Parafraseando o professor Reinaldo Dias (2012, p.3) a política em si pode


possuir diferentes significados. No entanto sempre haverá uma relação entre
posse, manutenção e distribuição de poder.

Para Aristóteles a política sempre será uma ciência abstrata (zetética) que
busca o bem-estar do homem. Isso foi conquistado através do estudo analógico
desse em comparação com as constituições, mais precisamente de 158, das
cidades-estados de sua época.

Para o pensamento de Aristóteles, cada cidade-estado seria uma forma de


perfeição sobre o ser humano considerado como animal político, ou seja: o ser
humano somente pode alcançar os fins que por eles são desejados apenas por
meio do Estado.
Para este o Estado seria uma organização coletiva dos cidadãos e que estes
tinham por direito de participar das decisões políticas do governo. Cidadania era
a capacidade de participar das decisões políticas e de governar e ser governado.
Para este ainda havia a soberania da lei acima da soberania do povo.

Vamos sair agora dos gregos e vamos dar uma viajada. Vamos para o
entendimento político clássico em Roma.

II .1 – Modo de pensar dos romanos: em vez de “pólis” e vamos para “rés pública”.

Os romanos foram uma outra sociedade, as quais dominaram o mundo


com seu exército. Vemos isto em diversos livros, inclusive nos livros do Novo
Testamento como título de exemplo. Quando lemos as passagens que falam da
crucificação de Jesus, podemos ver um contexto interessante: a presença do
“cônsul”.

O cônsul era o governado do local. Ora se temos um governador, temos


um governo o qual com toda a certeza deve ter sua estrutura e hierarquia, mas o
que nos deixa aflitos: quais nos pensamentos dos romanos sobre a política e como
esta influenciou a ciência política hoje?

Roma foi de tudo um pouco: teocracia, democracia e império, sendo este


último o0 mais conhecido. Se temos alternância da estrutura do governar, isso
significa que temos evolução do que consideramos a ciência política da época.
Lembrando que a função da ciência política é a busca da evolução dos tipos de
governos na sociedade.

Os romanos trouxeram da Grécia pensamentos sobre a política, assim


como parte de seus modos de governos, as cidades estados chamadas de urbs e
os Cívitas a criação do Status e a ordem constitucional. Para os romanos, a função
do estado era garantir o bem comum, e motivar e influência a todos os cívitas
(cidadãos) a participarem da política.

O primeiro grande pensador do pensamento político romano clássico é


Políbio. Este escreveu sua obra intitulada De História ou seja: Sobre a história.
Apesar de ser considerado pensador romano clássico, Políbio era de origem grega,
mais precisamente da Macedônia.

Com a invasão da Macedônia e o seu domínio pelos romanos, Políbio passa


a ser refém do estado romano por cerva de quase vinte anos. Como era um
intelectual, esta passa a integrar o círculo dos scipiones que eram uma família
política romana no tempo da república romana (sim, Roma foi república).

Mas professor, qual a importância desse homem? Toda. Políbio ele traz
particularidades de como era o pensamento romano sobre a república naquela
época, o que de toda a forma vai influência outo grande pensador: Marcus Túlius
Cícerus.

Políbio traz a questão da expansão territorial em Roma no período de


cinquenta e três anos chegando a conquistar quase todo o orbe. Para Políbio a
constituição como organização política foi responsável por esta façanha. Com
toda a certeza, teve influência no pensamento de Platão e Aristóteles.

Além de Políbio temos outro grande pensador como dito: Marcus Túlius
Cícerus como grande pensador da república romana. Na época desse, a situação
estava praticamente impraticável de se exercer qualquer forma de política, pois
havia os “luxos do senado” enquanto o povo se reunia nas assembleias,
chamadas por muito de plebs.

Qual foi o papel de Cícero? Este escreveu alguns livros sendo intitulado
como De República (assim como os gregos) mas houve uma inversão na sua
silogística, ou seja: na sua análise da questão.

Na obra De República ele defendia os ideais republicanos daquela época.


Pronunciou dentro do senado, pois era senador romano e grande orador, as
famosas Catilinárias, que eram os discursos contra Catíllina o qual foi um dos
imperadores romanos mais perversos.

Cícero em seu livro entende que o Estado surge naturalmente, mas a sua
organização é contratual. Os gregos tinham o pensamento inverso: o Estado
surgia do pacto e não criava esse. Para os gregos estado e sociedade estão ligados,
assim como a sociedade e cada indivíduo. Para Cícero a questão era inversa.

Cícero entende que a monarquia é o primeiro tipo de governo, onde um


indivíduo toma as decisões por aqueles que não sabem tomar. Quando há uma
porcentagem maior de intelectuais, passa-se ao regime da aristocracia onde os
mais inteligentes decidem o bem de todos.

A forma republicana nascida da democracia é a forma mais superior de


poder, pois na democracia, assim como em Athenas, todos tem o direito de
participar das votações e decisões do povo. Geralmente era feita em duas formas:
nas assembleias, onde a maioria agia e no senado, que era o conselho dos anciãos.

Cícero foi um dos expositores do direito natural. Esse por sua vez é o
direito não positivado, mas tão lógico e defensável que mesmo sem haver lei que
o garanta este será garantido pela sociedade, como o direito á vida e liberdade
por exemplo.

Para Cícero, tudo o que for positivado deve derivar do direito natural,
sendo este a base de toda a sociedade na defesa de seus direitos. Com esse
pensamento, Cícero estimula os cidadãos romanos a participar dos ideais
patriotas de sua época e a que todos possam adentrar nas decisões políticas do
Estado.

Sendo um grande defensor do ius naturalis ( direito natural) não deixou de,
quando possível, fazer a positivação deste. Foi um grande constitucionalista, ou
seja: trouxe normas constitucionais ao povo que vivia, assim como foi um dos
grandes contribuintes das novas civis, gerando assim normas de direito civil
daquela época.

Infelizmente, o pensamento de Cícero não fez tanta coisa em sua época


mas sua marca influenciou grandes pensadores posteriores especial no período
do início do Cristianismo como veremos em outras aulas.

Até breve.

Próxima aula, vamos falar da origem do pensamento na idade média e


moderna. Até a próxima.

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