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CURSO TÉCNICO EM INFORMÁTICA - 3º Ano

DISCIPLINA DE SOCIOLOGIA - PROFESSOR MIGUEL BRUNET


1º SEMESTRE - MÓDULO 1

1. Conceito de Política
O termo “política” tem origem na Grécia Antiga, ganhando destaque com a obra “Política”
de Aristóteles. Nesta obra, Aristóteles define Política como a ciência que analisa as formas
de governo, tendo por objetivo a felicidade humana. A política situa-se no âmbito das
ciências práticas, ou seja, as ciências que buscam conhecimento como meio para a ação.
A Política se relaciona à busca do bem estar tanto individual, quanto coletivo, mas ela ocorre
no nível coletivo, o qual, para Aristóteles, é um nível superior ao nível individual. Portanto,
a ideia de “política” tem como pressuposto a divisão entre o “público” (polis) e o “privado”
(oîkos). O nível privado existe dentro da família, das habitações, enquanto o nível público
existe nos espaços comuns, como praças, fóruns e assembleias. Assim, para entendermos
a política, analisaremos a seguir a diferença entre as esferas pública e privada.
De modo geral, nesse breve estudo político teremos diante dos olhos a provocação vinda
do próprio Aristóteles: “será mais proveitoso ocupar-nos dos negócios públicos e deles
participar, ou libertar-se de todo político e viver como estranho no Estado?”. (2009, p. 232).

"Discurso Fúnebre de Péricles" (1877). Autor: Phillip von Foltz.

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2. A esfera privada (oîkos)
No pensamento Aristotélico, a esfera privada é inferior à esfera pública, precedendo-a no
tempo e no espaço. Ela constitui-se pela família, ambiente responsável por desenvolver em
seus membros uma ética individual, necessária nas relações distintas existentes no lar e,
posteriormente, na polis.
Aristóteles constatou que o homem é um “animal político” (zoon politikon), salientando a
naturalidade com que os homens criaram seus sistemas políticos. Entretanto, a polis grega
só pôde ser formada mediante o agrupamento de diversas famílias. É com base nessa
afirmação que o filósofo desenvolve sua tese política. A ética particular e a administração
da casa formados na esfera privada é a que possibilitou a constituição dos componentes
da sociedade pública.
Ao observarmos a natureza, percebemos que os animais se reúnem por instinto, enquanto
os homens o faz conscientemente, ou seja, ele escolhe viver em sociedade. Essa escolha
é natural e revela uma forte inclinação humana à convivência com seres semelhantes a si.
A família, portanto, originou-se da necessidade do ser humano em relacionar-se de forma
a manter sua espécie e garantir sua sobrevivência. Tal conveniência serviu de subsídio
para a construção de uma comunidade relativamente simples, que serviu de célula inicial
para outros tipos de aglomeração.
É possível notar que o homem é carente por estabelecer relações e, a partir delas, leis e
regras. É nesse sentido que Aristóteles afirma categoricamente que o homem não pode
viver sozinho, alheio ao relacionamento em comunidade.
Tendo por finalidade obter a satisfação individual, apenas as relações privadas não são
capazes de identificar com precisão o objetivo maior de uma vida comunitária. Desse modo,
a filosofia aristotélica vai conferir à vivência na cidade o ideal de sociedade, pois se
empenha na construção de uma vida feliz, com todos os seus indivíduos vivendo em
harmonia.

3. A esfera pública (polis)


No mundo grego e, consequentemente, na política aristotélica, o homem nasceu para viver
em sociedade, cuja maior representante da vida e das relações humanas era a polis. Ela
era o ideal justamente por promover a transição do universo particular para o público.
Com uma frase magistral, Aristóteles inicia sua Política explicitando o valor fundamental
que o ambiente da cidade exerce na formação do homem, alegando-o superior aos demais:
Toda cidade (polis) é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se
forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens
são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as
comunidades visam algum bem, é evidente que a mais importante de todas
elas e que inclui todas elas, tem mais que todas este objetivo, e visa ao mais
importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política
(2009, p. 125).

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Nesse pequeno trecho, podemos notar o pensamento político que norteou a sua reflexão.
Para o filósofo, toda união realizada pelo ser humano dá-se em vista de um bem, e tanto a
família, o vilarejo ou a polis apresentam interesses específicos, que diferem quanto à
mentalidade do homem em cada um desses momentos.
Num primeiro instante, esse bem é, como vimos, puramente individual, voltado para as
necessidades de sobrevivência e procriação, e se desenvolve no seio familiar. Ao evoluir
no entendimento das relações, o homem atinge o estágio do vilarejo, cujas convenções são
diferentes das da família, e antecede imediatamente a polis. Na etapa do vilarejo, a
preocupação do homem volta-se para a administração dos bens e o culto religioso em
comum.
Ao chegar à “sociedade política” por excelência – a cidade, ou polis –, o homem está
disposto a cooperar na construção de um bem que não seja transitório ou particular. É a
isso que Aristóteles chama de “bem maior”, pois é comum a todos os cidadãos. Em
Aristóteles, somente na polis o homem poderia ser verdadeiramente humano, e realizar-se
plenamente como tal, alcançando o fim para o qual nasceu. Por isso, a Ética aristotélica se
subordina à Política, estando a seu serviço.

Pólis grega (2013). Autor: Fernando Vergara Piña.

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Independente da forma de governo, a polis precisa ser regida pela ética. Deve-se unir à sua
administração a coerência de vida daqueles que a governam. Não está em jogo apenas a
vida pública do político no que se refere à boa condução de seu governo, mas sim o seu
caráter. Um político vicioso não pode, absolutamente, integrar o governo, da mesma forma
como a corrupção não pode tornar-se algo natural aos olhos da sociedade. Deve-se exigir
do político atos de virtude que tornem sua vida apta a satisfazer as condições requeridas
de um governante. Conforme Aristóteles, um indivíduo que não possuísse coragem,
sabedoria, inteligência ou sentimentos da justiça, e se entregasse aos excessos deveriam
ser descartados de qualquer possibilidade política.
A conclusão a que chegamos é a de que em ambas as esferas – privada e pública – deve
haver o mesmo ideal de vida. A virtude só é alcançada mediante atos virtuosos. Por isso,
Aristóteles (2009) diz que “um homem não se pode tornar justo e prudente só por obra do
acaso.”. É preciso que sua vida pública seja reflexo da vida privada, comprometida com a
ética.
Entretanto, um cidadão que não entende de política, ou seja, não se preocupa com as
decisões tomadas em público em prol do coletivo, nunca poderá se tornar um cidadão
pleno, pois não consegue acessar valores superiores, os quais só podem ser acessados
por meio da reflexão sobre a melhor vida em coletividade, ou em sociedade. Além disso,
um cidadão alheio à esfera pública nunca poderá transferir seus valores éticos da esfera
privada à esfera pública, perdendo a oportunidade de aprimorar a esfera pública de sua
sociedade.

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4. Formas de Governo
As Formas de Governo consistem na política de governança adotada na organização das
nações. Trata-se de um tema complexo que se altera ao longo dos anos à medida que os
Estados passam a expandir regimes e sistemas de acordo com as tendências sociais.
O primeiro estudioso a refletir acerca da complexidade do governo foi Aristóteles em sua
obra “A Política“, quando analisa os regimes políticos, bem como as suas formas.
Aristóteles descreve o governo com critérios de justiça e objetivos que visam o bem comum.
Assim, classifica as formas de governo mediante o número de pessoas que detém o poder
e a qualidade do governo, ou seja, se eram bons ou ruins.
Segundo Aristóteles, as formas boas eram legítimas e puras porque visavam o interesse
comum. Por sua vez, as formas ruins eram ilegítimas porque visavam interesse próprio,
deturpando a finalidade do governo, corrompendo, assim, a sua essência política:
No quadro abaixo, são ilustradas as formas de governo tais como idealizadas por diversos
pensadores da Grécia Antiga. Cabe ressaltar que é uma adaptação para melhor
compreensão no contexto atual, já que esta não era precisamente a classificação utilizada
por Aristóteles.

Quadro 1 – Formas de Governo na Grécia Antiga

Classificação clássica Como governa?

(Grécia Antiga) Bem Mal

Um Monarquia Tirania

Quem governa? Poucos Aristocracia Oligarquia

Muitos Democracia Demagogia

Esta classificação tornou-se a base do pensamento político até hoje. Entretanto, teóricos
da Política Moderna, a partir do século XVI, passam a refletir sobre esta classificação e
modifica-la de acordo com o contexto em que viveram. As novas reflexões geradas serão
objeto de estudo da próxima etapa.

Referência
ARISTÓTELES. A Política. 2. ed. Bauru: Edipro, 2009.

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