Você está na página 1de 4

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Curso de Licenciatura em História


Disciplina: Introdução à Filosofia
Docente: Paulo Gilberto Bertoni
Discente: Monalisa Gonçalves Costa
2ª Avaliação

1. Na abertura do texto A invenção da política, Wolff fala que a tese acerca


da invenção grega da política seria perigosa porque defenderia uma
posição etnocêntrica. O que o autor quer dizer com isso?

Defender que os gregos inventaram a política é o mesmo que atribuir a


um povo em particular a perspicácia de perceber e estabelecer relações sociais
que permitem a sobrevivência e o desenvolvimento humano. Assim, se
considerado desse modo, atribui-se à ideia de política uma forma de viver
específica, sendo considerados "políticos" apenas aqueles que coadunam com
tal padrão.

Partindo-se desse discurso, pressupõe-se que unicamente a civilização


ocidental, que se pretende herdeira da cultura grega, mais especificamente as
sociedades européias, garante o "fazer político", mantendo-se todas as demais
comunidades humanas à sombra desse fenômeno. Considerando o exposto,
todo o resto da humanidade viveria no apolitismo ou num período pré-político,
característico das formas de vida em comum anteriores aos gregos e exteriores
à sociedade européia.

Esse pensamento induz à compreensão de que os gregos e, por


consequência, os europeus ocidentais, seriam o berço e o modelo da
"verdadeira" civilização, desprezando-se as demais conjunturas sociais. Daí,
toda comunidade que se pretender civilizada deve se espelhar na realidade
européia. Tais noções etnocêntricas, presentes em estudos antropológicos do
século XIX, quando se defendia a teoria evolucionista, tem, pois, como
consequência estabelecer a Europa Ocidental como auge da evolução
civilizatória, subalternizando todas as demais formações sociais para permitir o
domínio europeu sobre elas.

É por esse motivo que o autor caracteriza como perigoso esse caminho.

1
Ao se confundir a vida política com uma de suas formas, elevando uma
estrutura social em particular a uma condição superior, submete-se todo o resto
da humanidade à exploração de uma pequena parte, deixando de lado o real
conceito de política e a sua condição inerente à perpetuação humana em toda
a sua abrangência.

2. Aponte as características da ‘vida política’ que permitem ao autor falar


em uma experiência universal do político.

Todos os homens sempre viveram politicamente. Isso quer dizer que


todo indivíduo é essencialmente sociável. Daí a ideia da universalidade do
político. Ocorre que, apesar de não prescindirem da vida em comunidade para
a sua perpetuação e o seu desenvolvimento, o ser humano não consegue se
estruturar dessa forma por meios espontâneos e pacíficos. Em seu texto, Wolff
chega a abordar tal fato como um paradoxo necessário: os homens querem
viver em comunidade, para garantir a coesão e suprir a interdependência
interna, ao mesmo tempo em que se defendem conjuntamente das ameaças
externas, mas tal processo depende da existência de coação. Segundo o autor,
"é o que Kant, em célebre fórmula, chamava de 'insociável sociabilidade' ".

Sendo assim, a convivência política do homem revela a sua natureza


contraditória. Diante dessa afirmação, se pode apontar como características da
experiência universal da vida politica dois traços essenciais. O ser humano
depende da comunidade, mas para que ela se mantenha é necessária a
coação, isto é, para que tal comunidade se configure impõe-se e existência em
seu interior de uma instância de poder. Portanto, existe política a partir do
momento em que a comunidade se coloca a questão do poder ou desde que o
poder exercido por alguns se exerça no quadro de uma comunidade e tendo
em vista o seu modo de vida.

Dessa forma, dois são os aspectos constitutivos do político universal: o


comunitário e o poder. Em outras palavras, a conjuntura social é indispensável
para a sobrevivência humana, mas apenas há submissão dos homens a ela
mediante coação. O indivíduo não consegue viver fora dos laços que os unem
a uma comunidade, mas essas amarras decorrem de imposições. Destarte,
mais uma vez, reafirma-se comunidade e coerção como elementos
característicos de toda a vida política.

3. Quais são as características de um regime democrático e como elas se


realizam na democracia antiga e na moderna?

Um regime democrático finca-se em dois princípios gerais comuns, quais

2
sejam, a "soberania do povo" e a "igualdade política". Tais princípios se
complementam. A soberania popular depende da garantia de que todos os
membros da comunidade tenham acesso aos mesmos direitos de
manifestação. Ocorre que essa complementariedade se configura de forma
diferente ao se comparar a democracia antiga e a moderna. Explica-se.

Na democracia dos dias atuais, os dois princípios gerais referidos


encontram-se completados por dois outros princípios particulares que visam a
exterioridade entre comunidade e poder. Aqui, a soberania popular se
concretiza através do regime de representação, reservando as decisões
políticas para alguns cidadão particulares, constituindo-se um órgão de poder
independente da própria comunidade (o Parlamento), assim como um grupo de
pessoas que regem os chamados "negócios de todos", os "homens políticos".
Já quanto à igualdade política, modernamente ela se realiza essencialmente na
operação de escolha dos governantes, elegendo-se os representantes no
poder segundo o princípio do sufrágio universal.

De outro lado, no regime democrático antigo, os dois princípios gerais,


da soberania popular e da igualdade política, são completados por outros dois
princípios particulares que tem como finalidade garantir a mais completa
identidade possível entre as duas instâncias constitutivas do político. Nesse
sentido, a soberania popular se realiza imediatamente, sem intermediários,
sendo exercida na Assembléia do povo, a Ekklesia, responsável em conjunto
pelas principais decisões tomadas pela comunidade e para esta. As
proposições poderiam ser feitas por qualquer cidadão e, depois de debatidas,
as decisões eram tomadas por maioria dos votos. Já com relação à igualdade
política, para os gregos esse princípio se realizava em três instituições
complementares que buscavam completar a ideia de soberania popular: a
isègoria, o sorteio e a rotatividade dos cargos. A primeira se caracteriza o igual
direito de todos à palavra política e não apenas de alguns poucos
representantes. Por sua vez, através do sorteio os gregos escolhiam a maioria
dos funcionários da administração pública, os membros do Conselho que
aplicava as decisões da Assembléia do povo e todos os componentes dos
tribunais populares. Para eles, dessa forma, a escolha se colocava nas mãos
dos deuses, além de permitir a atuação direta por qualquer membro da
comunidade. Por fim, encontra-se na democracia clássica o princípio da
alternância dos cargos, pelo qual ninguém poderia exercer por duas vezes o
mesmo cargo e todo cidadão deveria ser alternadamente governante e
governado. O sorteio e a rotatividade dos cargos definem, portanto, um regime
de adequação para o exercício do poder.

Sendo assim, apesar de se inspirar nos ideais democráticos nascidos na


Grécia Antiga, o sistema moderno destoa em muito do regime originalmente
criado, sendo exercida a democracia antiga e moderna de modo diverso e, às

3
vezes, até contraditórios.

4. Afinal, é possível falar em uma invenção grega da política? Justifique


sua resposta.

Atribuir aos gregos a invenção da política é um erro. Este povo, de fato,


percebeu e estabeleceu conceitos acerca do fenômeno da organização social
que o envolvia, no entanto, não o criou. Nesse sentido, confundir a ideia
conceitual com o prórpio fenômeno político seria atribuir a um povo específico a
origem de algo que é parte de toda e qualquer comunidade.

A política não é característica de uma sociedade em particular, mas do


homem em geral. É famosa a frase aristotélica segundo a qual "o homem é um
animal político". Isso quer dizer que a espécie humana, na luta pela vida,
depende da união e cooperação entre os indivíduos, e somente pode se
perpetuar quando se organiza em sociedade. Sozinho, o ser humano perece.
Considerando tal fato, Platão esclarece que a política decorre da insuficiência
dos homens em satisfazer as próprias necessidades, dependendo da divisão
do trabalho.

Dessa forma, como apresenta Francis Wolff no texto base, "A invenção
da Política", nenhum homem criou a política e nenhuma sociedade é mais ou
menos política que a outra. Trata-se esta de uma manifestação inerente à
natureza humana e necessária à sua sobrevivência.

Portanto, no assunto em comento, não se pode falar em uma invenção


grega. Viver politicamente é condição de existência da humanidade em
qualquer parte da Terra, ainda que as relações de interdependência se
concretizem de forma diversa para cada povo. O fato é que a sobrevivência
individual impõe a vida em comunidade, fazendo da politica uma condição para
que o homem se conserve enquanto espécie.

05. Você ficou com alguma dúvida ou gostaria de fazer algum comentário
a respeito do texto ou das aulas até aqui?

Não.

Você também pode gostar