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Caio Filipe Ribeiro Freitas N° USP: 9335876

Norberto de Assis Sousa Filho N° USP: 10271753

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: DEMOCRACIA,


PODER E ELEIÇÕES

1. INTRODUÇÃO

Este material didático de apoio para os estudantes de sociologia do ensino médio brasileiro
possui três objetivos principais: 1) Ensinar ao aluno de sociologia (principalmente de escola
pública) como funciona o sistema eleitoral brasileiro a fim de que, com isso, ele possa ter
mais clareza da importância do voto; 2) Mostrar ao estudante de sociologia que existem
diversos sistemas eleitorais singulares pelo mundo, frutos de processos sócio-históricos
diferentes; e 3) Que o estudante seja capaz de pensar criticamente acerca da representação
política e do próprio sistema eleitoral brasileiro.
Pensando nesses três objetivos, elaboramos o material da seguinte maneira. O primeiro
tópico aborda um breve panorama sobre a origem do Estado moderno. O intuito é mostrar
como a construção do Estado moderno, além de um produto sócio-histórico específico e
relativamente recente, é fundamental para a noção de representação: no Estado republicano,
por conta do tamanho da população e território, a representação é a forma mais viável para a
democracia. Com isso em mente, no segundo tópico, partimos para o sistema eleitoral
brasileiro a partir da democracia republicana e a explicação dos sistemas eleitorais vigentes
no Brasil (majoritário e proporcional). No desdobramento do segundo tópico, levamos em
consideração a importância dos partidos políticos no processo e o sistema de listas. Aqui
trazemos uma breve comparação entre o sistema eleitoral brasileiro com outros pelo mundo.
A partir disso buscamos abordar um breve histórico do sistema político brasileiro e a suas
metamorfoses no decorrer do tempo. Finalmente vamos ao conceito de representação no
terceiro tópico, a fim de elucidá-lo de maneira crítica. Primeiro, investigamos a palavra
representação e depois partimos para o debate em torno da representação política a fim de
demonstrar como essa forma de representação está em disputa dentro da sociedade, em que
alguns grupos são super-representados e outros sub-presentados causando assim uma crise
dentro do sistema político. Por fim, na conclusão, trazemos ao estudante discussões e
questionamentos sobre se ele se sente representado ou não na democracia brasileira.
Pensamos que com essa configuração, podemos trazer um bom panorama ao estudante
acerca do sistema eleitoral e político brasileiros, entender o poder de seu voto e elucidar
aqueles que o representam na política de maneira crítica.

2. A ORIGEM DO ESTADO MODERNO

O Estado tal qual conhecemos é uma forma de organização político-social que diz respeito ao
nosso tempo. Nem sempre foi assim, houveram vários modelos diferentes de Estado ao longo
da história da humanidade, embora alguns conceitos que usamos no dia-a-dia como
“democracia” ou “tirania” tenham um significado óbvio, nem sempre esse significado foi o
mesmo em outros tempos. Quando falamos da democracia ateniense ou romana, falamos de
modelos diferentes de democracia, pois não se trata de um conceito fechado, mas de um
conceito aberto e que permite usos diferentes a depender do local e do tempo. Nos dias atuais
podemos dizer que o conceito de democracia foi fortemente influenciado por um autor
americano, Robert Dahl, por ter dado as bases teóricas de uma democracia ideal, a chamada
poliarquia, em que o autor, utilizando do conceito de tipo-ideal weberiano, exacerba
características desejadas da democracia em contrapartida às características de um regime
autoritário.
Dahl, no livro Poliarquia, define a democracia como um continuum: em que em uma
ponta está localizado um modelo menos democrático de hegemonia fechada (autocracia) e na
outra ponta a poliarquia (democracia ideal). Poliarquia é um tipo de democracia “perfeita”
que só existe no plano teórico, e os regimes políticos se aproximam mais de uma ou de outra
a partir de critérios objetivos como competição, possibilidade de contestação pública,
liberdade de opinião, liberdade de imprensa, igualdade econômica entre os competidores,
participação da sociedade civil na política, nível de concentração de poder etc. O importante é
saber que essa formulação teórica é própria do nosso tempo, que tem características sociais,
econômicas, políticas e culturais diferentes de outros tempos.
Mas o que define um tempo histórico? Segundo Karl Marx, n’O Capital, o modo
como uma sociedade organiza a sua produção de bens de subsistência acaba por definir a
ordem social de um dado tempo histórico. O motor da história é a luta de classes, entre uma
classe dominante, aquela que detém os modos de produção, e outra que é dominada, que é
desprovida de tal. Podemos caracterizar esse processo como a luta pela hegemonia política de
dada sociedade. Na cidade-estado de Atenas, por exemplo, o que se tinha eram os senhores
(considerados cidadãos) e os escravos (considerados propriedade dos senhores), onde os
primeiros eram detentores do poder, isto é, a classe dominante, e os segundos responsáveis
pelo trabalho concreto, isto é, a classe dominada. Nos dias atuais, segundo uma lógica
marxista, podemos dizer que a sociedade se divide entre aqueles que são proprietários dos
meios de produção, os capitalistas, e os proprietários da força de trabalho, a classe
trabalhadora. Sendo assim, por consequência, o tema da propriedade privada acabou por ser
tema central das constituições dos Estados, uma noção que surge no sistema capitalista, e que
passa a estruturar a ordem social.
O sistema de produção anterior ao capitalismo era o feudalismo, uma forma de
organização da sociedade onde se tinha um senhor feudal, dono de terras, e servos que davam
parte do que se produzia nas terras (a corveia) para o senhorio em troca de segurança, e a
outra parte da sua produção servia para sua própria subsistência.
Neste período, na Europa, as pessoas viviam espalhadas pelo campo, as trocas de
mercadorias eram feitas principalmente pelo escambo (o dinheiro praticamente não existia),
as terras, por exemplo, eram majoritariamente comunais e os Estados tal qual conhecemos
ainda eram indefinidos (ou mesmo inexistentes). Após o advento do colonialismo houve uma
transformação da economia europeia e, a partir disso, alguns senhores passaram a ter mais
poder que outros, o que consequentemente levou aos mais fortes a dominarem os mais fracos.
Quanto mais poder econômico um senhor tinha, maior era sua capacidade de fazer guerra, ou
seja, de controlar o uso da força. Estes senhores acabaram por ser tornarem os reis de
determinados pedaços de terra e é, a partir daí, em paralelo ao capitalismo, que começa a
surgir o Estado Moderno: um longo processo de transformações sociais e tecnológicas onde o
monopólio da violência estreitou-se cada vez mais na mão do Estado.
A origem do Estado também foi tratada pela filosofia política dos contratualistas do
século 17, Hobbes, Locke e Rousseau, mas também apareceu em outros autores como o
Baruch de Espinosa. Todos esses autores se indagaram sobre a seguinte questão: como a
sociedade começou? A ideia central, e que conecta todos esses autores, é a seguinte: o que
rege a sociedade é um contrato na qual o cidadão transfere a um representante a legitimidade
de tomadas de decisão. Mais do que isso: essa legitimidade se daria em um contrato total, que
obriga os cidadãos a seguir o que é combinado. Sobre esse ponto Espinosa, em seu Tratado
Político, tem uma interpretação peculiar. Para o autor o soberano, aquele que representa o
Estado e por tanto o coletivo das pessoas que compõe a sociedade, só é soberano porque cada
um dos indivíduos transfere para ele sua própria potência de agir. Esta soma de todas as
potências sempre será maior que a potência de uma pessoa isolada ou a de um pequeno
grupo. Por essa razão, esses últimos devem se submeter ao soberano, pois este, aquele que
detém a potência de todas as pessoas, têm maior potência de agência: o que confere
legitimidade para suas decisões. Esta espécie de contrato que o indivíduo faz com o soberano
é uma das primeiras noções de representação política da sociedade ocidental.
Não é atoa que a interpretação de Espinosa possa nos parecer estranha hoje em dia.
Espinosa escreve em um momento onde a organização política dominante é a monarquia;
fazia sentido para o autor descrever a dominação do rei sob os súditos como algo
consequência da própria natureza das coisas. Porém, hoje, com o avanço do conhecimento da
filosofia e das ciências sociais, sabemos que tal relação não é natural, mas consequência do
contexto histórico e social, que é majoritariamente marcado pela organização da produção
dos meios de subsistência.
No debate atual o que está em voga é uma teoria conhecida como
neo-institucionalismo, que defende que são majoritariamente as instituições que definem o
Estado. Estas instituições são o ator central para explicar o rumo da política na sociedade. Na
realidade é possível dizer, inclusive, de que o Estado é um conjunto de instituições que regula
a vida social em todas as suas camadas.
O neo-institucionalismo considera o contexto histórico no qual uma instituição surge
como fundamental para a sua compreensão. Na realidade, o contexto histórico é fundamental
para entender o porquê das coisas acontecerem como acontecem ─ o conjunto de regras e
normas que compõem uma instituição hoje são decorrentes do seu passado. Dentro dessa
corrente teórica as ideias hegemônicas importam. Ou seja, uma determinada forma de pensar
num contexto, uma ideologia dominante, também define as formas que as instituições vão
tomar, na medida que elas influenciam as pessoas que estão construindo essas instituições.
Sendo assim, essa é a corrente teórica mais complexa e por isso se divide em três vertentes
principais (escolha racional, institucionalismo histórico e institucionalismo sociológico) e
uma secundária mais contemporânea (o institucionalismo discursivo).1
É importante observar que, ao decorrer do tempo, os modos de pensar o Estado foram
se aprimorando. Em resposta às questões postas pelo tempo próprio de onde essas teorias
surgiram, algumas ideias permaneceram por estarem mais conectadas com a realidade
1
Para saber mais: MARQUES, E. (1997). Notas Críticas A Literatura Sobre Estado, Políticas Estatais E Atores
Políticos. In: BIB: Boletim Bibliografico de Ciências Sociais, No 43: 67 a 102; HALL, P. e TAYLOR, R. (2003)
As Três Versões Do Neo-Institucionalismo. In: Lua Nova, No.58; PERISSINOTTO, R. e STUMM, M. (2017) A
Virada Ideacional: Quando E Como Ideias Importam. Revista de Sociologia e Política, Vol 25 (64): 121-148.
concreta da contemporaneidade, outras se desdobraram em novas ideias e algumas foram
descartadas por terem perdido o sentido.
Observe que o processo de construção do Estado moderno, e, por conseguinte, suas
teorias (tanto as clássicas quanto as contemporâneas), está intimamente ligado ao modo como
as pessoas percebem a realidade (processo este que sofre influência das gerações passadas), e
o conjunto dessas percepções formam modos de agir e interpretar o mundo que são parte
daquilo que chamamos de construção social. O Estado não é o caso de uma natureza dada e
determinada, mas antes um fator influenciado pelas contingências da própria existência e das
escolhas de atores importantes. O Estado que conhecemos hoje é, portanto, uma construção
sócio-histórica específica, temporalmente localizada, e que varia de contexto social para
contexto social.

3. TIPOS DE GOVERNO: DEMOCRACIA E AUTOCRACIA

Para chegarmos ao Brasil, precisamos voltar um pouco no tempo. Na Grécia antiga, em


Atenas, há milhares de anos, surgiu um conceito de um modo de governar chamado
democracia. Democracia, etimologicamente, significa governo (cracia) do povo (demos). Na
filosofia greco-clássica, o modelo de governo da democracia surgiu como solução a tirania
dos reis, que sendo a fonte de poder absoluto, podiam fazer o que bem entendiam.
A democracia, à época, é construída a partir da organização dos cidadãos gregos 2 que
em assembleia, tomariam em conjunto as decisões sobre as coisas públicas3. Dessa forma a
população não estaria mais submetida à vontade de um só homem. Como paralelo, podemos
dizer que o sistema político brasileiro de hoje também é uma democracia, porém não como
era na Grécia antiga, onde o sistema era de democracia direta, ou seja, um tipo de democracia
sem representantes, feita diretamente pelos indivíduos considerados cidadãos.
No nosso caso, e em praticamente toda parte do mundo atual onde há democracia, ela é
feita por meio da representação: representantes do povo são eleitos pelos cidadãos para
tomarem as decisões importantes. Ou seja, são os representantes escolhidos por meio de uma
eleição que vão administrar, controlar e tentar resolver os problemas de um país. Esta forma
de democracia é a que chamamos de democracia republicana.

2
Mulheres, escravos e crianças não participavam da democracia por não serem considerados cidadãos, portanto
não possuíam direitos políticos.
3
República vem da junção da palavra “res” que significa “coisa” e "pública" que significa “de todos”.
Mas como se estrutura um governo democrático? Em toda e qualquer organização
social existem os indivíduos que criam as regras, os que fazem com que as regras sejam
cumpridas e um sistema de liderança que vai ser responsável por escolher os caminhos a
serem percorridos. Isso inclui desde a organização mais simples, como pequenas
comunidades, até as mais complexas, como as sociedades contemporâneas. Então, de certa
maneira, podemos dizer que em todas as organizações sociais existe um tipo de sistema
legislativo (o que cria as regras ou leis), um tipo de sistema judiciário (que garante que as
normas sejam cumpridas) e um tipo de sistema executivo (que toma as ações que definem os
rumos da organização social).
O que vai caracterizar a democracia, principalmente, é a forma como esses poderes
estão divididos. Em um outro tipo de organização social, por exemplo, quando somente uma
pessoa ou somente uma organização cria as regras e faz com que elas sejam cumpridas, além
de assumir o papel da liderança, temos um tipo de governo autoritário. Se a autoridade desse
governo autoritário está concentrada em apenas uma só pessoas, temos aqui uma autocracia,
tal qual as monarquias absolutistas, os regimes militares, as ditaduras etc. Os defensores
desse modelo autocrático dizem que uma das vantagens está na celeridade da tomada de
decisões, pois basta o líder decidir fazer algo para que algo seja feito. Os críticos desse
modelo, todavia, dizem que ele até pode ser muito bom quando o líder é uma pessoa virtuosa,
mas quando o líder é um tirano a arbitrariedade de suas decisões pode causar grandes danos a
toda organização social: tanto poder na mão de uma só pessoa, ou organização,
inevitavelmente levará a abusos desse poder. Afinal de contas, como poderia um julgamento,
por exemplo, ser imparcial, sendo que a pessoa que acusa é aquela mesma que julga?
Na história da humanidade foram muitos os governos que assumiram a forma
autocrática, e, embora alguns ainda existam hoje, a grande maioria, especialmente os mais
fechados, deixaram de existir; não sem deixar atrás de si um rastro de sangue e injustiças. As
formas de governos autocráticas, em certo momento histórico, favoreceram o
desenvolvimento econômico das nações europeias; o colonialismo, por exemplo, foi muito
favorecido pelo governo autocrático, assim como os primeiros capitalistas tiveram ajuda dos
reis autocratas para acumular as suas fortunas4. Porém, a partir de certo momento, a revolta
4
Há uma discussão importante nas ciências sociais sobre o que levou a modernização dos Estados e
consequentemente o advento da democracia. em seus primórdios o capitalismo dependia do regime autocrático
para existir, pois só dessa maneira poderia-se por fim as terra comunais e obrigar as pessoas a saírem do campo
para as cidades. Foram séculos de exploração, com jornadas de trabalho de 18 horas ou até mais, onde tudo que
a classe trabalhadora tinha era um salário capaz de garantir o mínimo suficiente para a sua subsistência. Nessa
época não existia o salário mínimo, mas o salário máximo: o governo fazia um cálculo do quanto era necessário
de dinheiro para uma família sobreviver durante uma semana, os salários não poderiam ser maiores do que esse
valor. E essa é apenas uma das medidas tomadas pelos países capitalistas pioneiros, haviam outras ainda piores e
popular foi tão massiva que não era mais possível manter esse sistema; as monarquias aos
poucos passaram a não mais concentrar tanto poder na mão de uma só pessoa: tornaram-se
monarquias parlamentaristas: apesar da família real ainda existir, nessa forma de governo
surgem mecanismos de representação do povo na figura das câmaras baixas, isto é, o
legislativo ─ o que significa, na prática, tirar o poder do rei de criar as leis. Isso abriu
caminhos para que cada vez menos poder estivesse na mão de uma só pessoa.
O grande expoente desse momento é a revolução francesa no final do século XVIII,
que dizimou os aristocratas e estabeleceu uma primeira experiência democrática no
continente europeu moderno. Uma das inspirações para esse movimento foi o texto clássico
do filósofo Montesquieu, O Espírito Das Leis, onde o autor francês defende que para um
governo ser próspero é preciso que haja separação dos poderes. Para Montesquieu, é preciso
que exista um órgão que legisla, outro que julga e um que executa. Estes poderes devem ser
independentes entre si. Só dessa forma, segundo o autor, seria possível por fim a tirania e
criar um equilíbrio para o poder dentro do Estado.
Montesquieu foi tão influente na sua época que atravessou o oceano e chegou até
Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, os chamados Federalistas, que foram
responsáveis por dar as bases daquela que foi a primeira democracia a nascer como
democracia republicana: os Estados Unidos da América. Eles discutem nos artigos
federalistas as bases para a construção da federação e vão além do que defendia Montesquieu:
os federalistas afirmavam que apenas a divisão entre os poderes e a independência deles não
era o suficiente para o equilíbrio das forças. Era necessário, segundo os autores, uma série de

que só poderiam ser obedecidas num regime que tivesse um punho de ferro forte o suficiente, ou seja, um
regime com o poder concentrado não numa pessoa, mas numa classe. No entanto, a superprodução que
aconteceria graças ao desenvolvimento tecnológico, criou excedentes de produção que para serem escoados
necessitavam de mais consumidores, dessa forma a classe trabalhadora europeia foi ganhando direitos, na
medida em que a superexploração do trabalho migrava para as colônias.
A partir desse momento o governo democrático passa a ganhar mais força e essa passa a ser a forma de
governo predominante na europa, onde cada nação tinha lá o seu modelo de democracia. Nas colônias a situação
foi um pouco diferente, em especial no Brasil onde a primeira experiência democrática foi posta de cima para
baixo, foram os militares com as oligarquias agrárias que expulsaram a família real e implantaram a primeira
república que foi controlada por esses grupos até o golpe de Estado de Getúlio Vargas que implantou uma
ditadura no Brasil que durou 15 anos, após o fim desse período a democracia foi restabelecida e aqui
acreditava-se que nosso país seguiria a partir daí o mesmo rumo dos Estados europeus e a democracia seria
solidificada. Porém esse foi um grande erro de análise, pois não considerou que cada lugar tem a suas condições
materiais próprias e que o processo de desenvolvimento de uma sociedade não é uma fórmula exata que será
igual em todos os lugares, assim sendo, houve um novo golpe no Brasil em 1964, onde ante o medo de uma
revolução popular aos moldes de uma revolução cubana, que simplesmente liquidou com os oligarcas agrários e
os burgueses ao abolir a propriedade privada dos meios de produção em Cuba, a burguesia brasileira em
conjunto com as oligarquias agrárias, o exército e os EUA, planejaram e executaram uma contra-revolução antes
da revolução, que tinha como principal mote defender os interesses dessas classes que basicamente era o de
ampliar a acumulção de capital. O principal autor a escrever sobre esse assunto é Florestan Fernandes em seu
livro “A revolução Burguesa no Brasil”, especialmente no capítulo final ele descreve detalhadamente esse
processo.
pesos e contra-pesos para que os poderes se equilibrassem entre si. Isso significa que um
poder deveria fiscalizar o outro e ter para si mecanismos para frear abusos vindo de outro
poder. Dessa forma, cabia ao legislativo com suas câmeras baixas fiscalizar o executivo, por
exemplo, e com as câmaras altas fiscalizar o judiciário; o executivo, por sua vez, teria
mecanismos que lhe permitisse influenciar tanto o legislativo quanto o judiciário; e, em
contrapartida, o judiciário poderia ser acionado tanto para frear o legislativo quanto o
executivo.
A partir dessa divisão dos poderes com pesos e contra pesos, nasceu a estrutura da
democracia republicana: uma forma diferente da democracia direta. Ou seja, o que caracteriza
a democracia, nesses moldes, são principalmente dois fatores: a divisão e a interdependência
entre os poderes e as eleições justas. Há uma série de outras características que tornam a
democracia mais sólida, mas o que um Estado precisa ter para ser considerado minimamente
uma democracia republicana são principalmente essas duas características acima. Existem
múltiplas formas de democracia, assim como também existem múltiplas formas de
autocracia. Como foi dito lá atrás, não se trata de uma receita de bolo, mas de estruturas de
governo que se adaptam a contextos sociais e históricos específicos.

3.1. DEMOCRACIA NO BRASIL: PRESIDENCIALISMO DE COALIZAÇÃO

Pensando no contexto sócio-histórico atual, cabe aqui fazer uma descrição de como é que se
estrutura a democracia no contexto brasileiro. Como, afinal, funciona este sistema que muitos
especialistas chamam de Presidencialismo de Coalizão?
No Brasil, as duas principais estruturas da democracia republicana estão presentes: existem as
eleições (que explicaremos mais adiante) e existe também a divisão de poderes. A divisão de
poderes no Estado brasileiro5 se estrutura da seguinte maneira: 1) LEGISLATIVO (Câmara
e Senado): a câmara dos deputados e o senado criam as leis, fiscalizam os gastos do
executivo, podem através de uma CPI/CPMI (comissão parlamentar de inquérito/comissão
parlamentar mista de inquérito) exercer funções do poder judiciário, e através das emendas
parlamentares podem exercer funções do poder executivo; 2) EXECUTIVO (Presidente): o
presidente da república (e os seus ministérios) decide a direção que o país vai tomar; é sua
obrigação formular políticas públicas para resolver os problemas do Estado. Ele nomeia
ministros que serão responsáveis por cuidar das áreas mais importantes do país. É também o

5
Para este material, estamos nos referindo somente ao governo federal. Não adentraremos na escala estadual e
nem na municipal, pois, por mais que repitam grande parte das estruturas do governo federal, essas estruturas
possuem menos capacidade de agência, sendo o governo federal a estrutura central que guia todas as outras.
presidente que executa o orçamento nacional, decidindo onde, quando e quanto será aplicado
do dinheiro da nação. Também é função dele representar o país internacionalmente, e além
disso o presidente pode influenciar na agenda de votação das câmaras legislativas e pode criar
medidas provisórias, as famosas MP’s, que assim que publicadas ganham força de lei, sem
necessidade de aprovação do congresso. O congresso, porém, nas medidas de contra-peso,
podem derrubar uma MP a qualquer momento, e além disso, se ela não for votada dentro do
prazo de 180 dias, ela perde a validade. O presidente, além disso, também indica membros do
poder judiciário, como, por exemplo, os membros do Supremo Tribunal Federal; 3)
JUDICIÁRIO (Supremo Tribunal Federal): por fim o poder judiciário, que tem como
instância máxima o Supremo Tribunal Federal (o STF), é conhecido por ser o poder passivo
do tripé dos poderes republicanos. Ele precisa ser acionado por um outro poder para entrar
em ação: existem momentos em que ele é acionado, por exemplo, para verificar se uma lei é
constitucional ou não6. Sendo assim, podemos dizer que a principal função do STF é
interpretar a constituição. Dessa forma, por exemplo, que uma Medida Provisória ou uma lei
pode ser derrubada ou alterada; que um processo de impeachment de um presidente pode ser
considerado legítimo ou ilegítimo.
O emaranhado de funções que se misturam no sistema acaba por gerar um equilíbrio
ao transformar a independência desses poderes em interdependência. Ou seja, um poder
depende do outro. Para que as coisas funcionem bem eles precisam entrar em acordo entre si,
do contrário o país pode ficar paralisado. Dessa forma, teoricamente, não existe um poder que
se sobressaia. Neste arranjo político, não existe um poder que domine o outro no Brasil.
Temos assim, um sistema político (que apesar de todos os seus problemas) se mostra sólido e
equilibrado. Por exemplo, o presidente não pode governar sozinho: ele precisa construir apoio
no legislativo ─ que como veremos mais adiante, é formado por múltiplos partidos que
representam as múltiplas vontades da sociedade expressadas através do voto.
Diferente de outros sistemas democráticos, o sistema republicano brasileiro obriga as
maiorias entrarem em consenso com as minorias. Neste arranjo, o sistema acaba por espantar
um risco de ditadura da maioria. Pensando, por exemplo, nas grandes mudanças estruturais
(que são feitas a partir de emendas da constituição) é obrigatório que dois terços dos
legisladores estejam de acordo com elas. Portanto, no jogo democrático do sistema brasileiro,
nenhum governo conseguirá impor sua vontade sozinho. Ele necessitará dialogar e negociar a

6
A constituição das as bases para as leis, ou seja, estabelece princípios que não podem ser violados, e caso uma
lei fira um desses princípios ela pode ser revogada.
divisão do poder com outros agentes. Essa maneira de funcionamento do sistema político
brasileiro peculiar foi chamada por Sérgio Abranches como Presidencialismo de Coalizão.
Na prática, o presidencialismo de coalizão funciona da seguinte maneira: para que o
executivo aprove as leis e emendas da constituição que ele necessita para construir suas
políticas públicas, é necessário que ele tenha que distribuir partes de seu poder com outros.
Ou seja, para que ele tenha acesso ao poder dos legisladores, o poder executivo precisa dar
um pouco do seu poder de execução. Dessa maneira, pode-se dizer que o presidencialismo de
coalizão é um sistema de trocas que utiliza o princípio de pesos e contra-pesos. E isso ocorre
na distribuição de ministérios, de cargos na estrutura do governo e do orçamento público
através de emendas parlamentares.
Nesse processo ocorre uma grande negociação em que cada partido escolhe uma área
de interesse (geralmente, aquela que o partido acredita que será capaz de fazer o melhor
trabalho para angariar mais votos numa próxima eleição)7 e o presidente, a partir de sua
estratégia, então precisa avaliar para quem vai delegar essas funções. O executivo,
normalmente, tem em mente duas coisas: 1) o impacto que a escolha de um ministro pode ter
na sua base eleitoral e 2) o impacto dessa decisão frente aos outros partidos que podem estar
pleiteando o mesmo espaço.
Todo esse processo é muito complexo e, infelizmente, o debate público por vezes
banaliza esta discussão e acaba por associar tal prática à corrupção ─ processo que não
depende de uma distribuição de poder para acontecer. Na realidade, segundo a literatura em
ciência política afirma, o sistema político brasileiro é um dos mais interessantes do mundo.
Inclusive, a grande aposta da maioria dos cientistas políticos em escala internacional é que o
sistema não daria certo devido a grande quantidade de partidos políticos ─ o que traria,
segundo uma visão geral, alguma dificuldade para que o presidente obtivesse no congresso a
quantidade de votos necessários para aprovar seus projetos. Porém, a democracia brasileira
alcançou a marca de 35 anos e, de lá para cá, é notável o desenvolvimento que a nação

7
Quando um partido assume um ministério, por exemplo, ele tem ali a oportunidade de construir um trabalho
que o notabilizará no cenário nacional ─ não à toa muitos ex-ministros e ministras acabam por ser eleitos em
eleições posteriores ao seu mandato. O cargo de ministro, então, não é apenas técnico, ele é majoritariamente
político, pois exige da pessoa que ocupa aquele cargo a capacidade de negociar; de demonstrar a relevância de
suas propostas para a sociedade e para os outros políticos.Além disso, cabe destacar, que não existe um perfil
técnico puro, pois existem crenças e valores que moldam a forma como a pessoa enxerga anteriormente o
mundo. Mesmo que baseada em dados e teorias, o modo de lê-las e aplicá-las é consequência de uma visão de
mundo: independentemente de qualquer coisa todos se orientam por uma maneira de pensar, ou seja, uma
ideologia. Por isso é importante, por exemplo, ao votar num partido político, que o eleitor conheça seu partido,
pois do contrário ele não representará o interesse do eleitor, mas sim aquilo que estará posto na carta de
princípios do partido, que pode ser condizente ou não com a ideologia do eleitor.
alcançou. E isso se deve, em grande parte, por uma estrutura de poder que minimamente
abarca as vozes minoritárias.

4. SISTEMAS ELEITORAIS

Existem dois modelos de eleição na república democrática: 1) a majoritária; 2) a


proporcional. No primeiro caso, o vencedor da eleição é aquela pessoa que consegue mais
da metade dos votos (50% + 0,0…1%). Aqui a lógica é "o vencedor leva tudo" e nada sobra
aos perdedores. Geralmente é essa a forma que se elege presidentes, senadores, prefeitos e
governadores ─ mas em certos casos, e veremos isso mais adiante, o modelo majoritário
também serve para eleger deputados.
No caso das eleições proporcionais, há uma diferença fundamental: não somente
aqueles que recebem mais votos são eleitos (sendo assim não há mais a lógica do "vencedor
leva tudo"), mas a lógica do consenso e equilíbrio de forças. Dessa forma, há espaço para
aqueles que perderam, desde que tenham recebido uma quantidade considerável de votos. Os
representantes, neste modelo, são eleitos de forma proporcional aos votos que receberam a
fim tornar a representação a média das diferentes ideologias políticas, vontades e visões de
mundo presentes na sociedade. Assim sendo: a representação torna-se mais fidedigna a
sociedade. E é a partir da eleição proporcional que elegemos os deputados e vereadores no
sistema eleitoral brasileiro.

4.1. PARTIDOS POLÍTICOS

Para poder concorrer a uma eleição, neste modelo de democracia republicana, é fundamental
fazer parte de um partido político. É através dessa organização que se fundamenta o que o
candidato representa e o que ajuda a organizar a eleição proporcional. Na construção
sócio-histórica que é a república democrática, são os partidos que atuam como forma de
organização para representar os ideais dos votantes. O partido é uma instituição que sintetiza
em si um campo de ideias e crenças de grupos da sociedade, além de ser a instituição que
garante que a pessoa depois de eleita seguirá dentro do programa pelo qual ela foi votada.
Sendo assim, ao escolher fazer parte de uma legenda partidária, a candidata ou o candidato se
alinha a ideias e valores que serão defendidos durante seu mandato.
Quando votamos em vereadores, deputados e senadores, antes de votar no indivíduo
que aparece na tela da urna, votamos primeiro na legenda partidária que ele está inserido, ou
seja, no partido político. Esta organização, por sua vez, será responsável, após a eleição, por
dar as diretrizes aos parlamentares, além de fiscalizar a/o candidato/a. É na convenção
partidária, por exemplo, o local que as principais decisões vão ser tomadas, sobre quais
projetos de políticas públicas vão ser apoiados no parlamento, a destinação de investimentos,
a criação de leis etc. Somente em um segundo momento (posterior as convenções partidárias)
que há o debate dentro das casas legislativas. Nestas os partidos poderão negociar entre si
apoios pontuais, alianças duradouras, ou um programa comum para enfrentar os desafios da
sociedade ─ tudo isso em resposta às demandas que são postas pelos cidadãos e a sociedade
civil, ou seja, os eleitores. Caso uma candidata ou candidato desobedeça na votação do
plenário ao que foi negociado nas convenções partidárias, o partido político poderá aplicar
sanções ao indivíduo, visto que neste sistema político o mandato, em primeiro lugar, pertence
ao partido político. Dessa forma, é possível que um parlamentar ao desobedecer o partido seja
suspenso ou expulso da legenda, assim como perder o próprio mandato.

4.2 SISTEMAS DE LISTA E MODELOS DE GOVERNO

Acima falamos sobre as eleições proporcionais e de que era dessa forma que deputados eram
eleitos. A pergunta que fica é: como funciona esse mecanismo? A primeira coisa a se ter em
mente é que as cadeiras da câmara são divididas proporcionalmente. Por exemplo, se um
Partido obtiver 20% dos votos, então ele consegue 20% das cadeiras disponíveis na câmara
dos deputados; se tivermos dois partidos, cada um com 10% de votos, então cada um tem
10% das cadeiras e assim vai até que se complete 100%.
Os 20% ou 10% de cadeiras que o partido conseguiu são distribuídos de acordo com os
candidatos mais votados dentro do partido, e isto é o chamado sistema de lista aberta (caso
do Brasil). No sistema eleitoral brasileiro para a eleição de deputados estaduais e federais, a
magnitude8 refere-se ao número de cadeiras disponíveis para serem preenchidas em cada

8
A magnitude é determinada pela população do estado ou do distrito federal. Para deputados federais, a
magnitude é calculada com base na população do país, enquanto para deputados estaduais, a magnitude é
calculada com base na população do estado. Geralmente, é usado um critério chamado de Quociente Eleitoral
(QE) para determinar o número de cadeiras. O Quociente Eleitoral é obtido dividindo o número total de votos
válidos pelo número de cadeiras disponíveis. Por exemplo, se um estado tiver 10 cadeiras e o número total de
votos válidos for 1.000.000, o Quociente Eleitoral seria 100.000. Isso significa que um partido precisa obter pelo
menos 100.000 votos para conquistar uma cadeira. Após o cálculo do Quociente Eleitoral, é usado um critério
chamado de Quociente Partidário para distribuir as cadeiras entre os partidos. O Quociente Partidário é obtido
dividindo o número de votos válidos recebidos por um partido pelo Quociente Eleitoral. O resultado desse
cálculo indica quantas cadeiras o partido conquistou. Após essa distribuição inicial das cadeiras, é usado o
critério das sobras eleitorais para distribuir as cadeiras restantes. As sobras eleitorais são obtidas ao dividir os
votos válidos recebidos por um partido pelo número de cadeiras que o partido conquistou mais um. Essa
distribuição visa garantir uma maior proporcionalidade na representação dos partidos. Vale ressaltar que esse é
um panorama geral sobre como funciona a magnitude no sistema eleitoral brasileiro para a eleição de deputados
estaduais e federais. Existem outros detalhes e regras específicas que podem variar dependendo do estado ou do
distrito federal.
circunscrição eleitoral, seja no âmbito estadual ou federal. No Brasil, o sistema eleitoral
utilizado é o proporcional de lista aberta. Isso significa que os eleitores votam em candidatos
individuais de seu estado ou distrito federal, e os partidos políticos apresentam listas com
seus candidatos. As cadeiras disponíveis são distribuídas entre os partidos de acordo com a
proporção de votos recebidos por cada um.
Há casos onde o que acontece é diferente, como, por exemplo na Argentina ou em
Portugal: os partidos apresentam uma lista de candidatos, ordenados de tal maneira a indicar
a preferência do partido para que aquela pessoa assuma uma cadeira, isto é, se o partido
conseguir uma cadeira só a primeira pessoa da lista será eleita. Caso a legenda consiga as 15
cadeiras dentro da votação, as 15 primeiras pessoas da lista serão eleitas. Nessa situação o/a
eleitor(a) vota apenas no partido escolhido, conhecendo de antemão a ordem da lista. Esse
sistema é conhecido como sistema de lista fechado.
Há também o caso de sistema de ordenamento de preferências, como acontece na
Austrália. Nesse sistema de votação quem faz a lista é o/a eleitor/a. Na cédula de votação é
possível colocar o nome de até 7 candidatos/as, ordenados de tal forma a indicar a preferência
da pessoa votante. Após um cálculo complexo, as/os representantes são eleitos através de
uma média da vontade do eleitorado, ou seja, aqueles que apareceram mais vezes no topo das
listas
Existem também países, como os Estados Unidos e a Inglaterra, onde os deputados são
eleitos pelo sistema majoritário dentro de distritos políticos. Um distrito político é um
território que pode ser um ou mais bairros, uma cidade ou até mesmo um estado federativo
inteiro (caso do Brasil). Cada distrito tem um número de cadeiras disponíveis, se houver mais
de uma o sistema será o proporcional, mas no caso de haver apenas uma cadeira o sistema
será o majoritário, ou seja, apenas o/a candidato/a que obtiver a maioria dos votos ganha.
Nesse caso, podem haver dois turnos caso tenham mais de 2 pessoas concorrendo, como
acontece nas eleições presidenciais brasileiras, ou ser de turno único, como acontece nos
Estados Unidos.
Por fim existem os sistemas mistos, que são sistemas que misturam o sistema
majoritário com o proporcional de maneira a encontrar uma fórmula que se adeque mais à
realidade do país. Um caso emblemático, e que sempre está no debate brasileiro sobre a
reforma eleitoral, é o sistema eleitoral misto alemão. Nesse sistema há o voto distrital,
conjuntamente com o voto majoritário e o voto proporcional, misturando a lista aberta com a
lista fechada. Sendo assim as eleições são organizadas por distritos, onde os votantes votam
em um candidato e em um partido. Sendo assim cada distrito elegerá o deputado mais votado
e um representante do partido preferido do eleitorado.
O Brasil se utiliza do sistema majoritário e proporcional, pois tem um sistema político
conhecido como presidencialismo (como vimos acima). Nesse sistema os representantes
dos cargos executivos e do senado são eleitos pelo voto majoritário. Já os deputados, que
junto com os senadores compõem o legislativo, são eleitos no sistema proporcional de lista
aberta. Aqui também existem os distritos políticos ─ para ser mais exato, 26 distritos
políticos, pois cada Estado conta como um distrito onde o número de cadeiras de deputados
será mais ou menos proporcional ao número de habitantes daquele distrito. Já para senador
cada Estado tem o mesmo número de cadeiras (no caso do Brasil 3); e o mandato dos
senadores dura 8 anos (diferente dos outros cargos onde a duração do mandato é de 4 anos),
de tal maneira que numa eleição são eleitos os 2 senadores mais votados e na próxima eleição
apenas o senador/a mais votado.
Alternativamente ao presidencialismo há o parlamentarismo. Nesse sistema político o
eleitorado vota apenas para as casas legislativas, que geralmente são duas casas diferentes, no
Canadá há a câmara dos comuns e o senado, no Reino Unido há a câmara dos comuns e a
câmara dos lordes. No caso do último não há presidente, mas um primeiro ministro ou
chanceler (chefe de Estado) que é eleito pela câmara dos comuns (equivalente à câmara dos
deputados) e que assume as funções que um presidente têm no presidencialismo. No caso do
parlamentarismo não há limite máximo ou mínimo para um mandato de chefe de Estado: tudo
depende da vontade das casas legislativas que podem encerrar o mandato do seu chanceler a
qualquer momento, ou não fazê-lo. Angela Merkel foi chanceler da Alemanha por 16 anos,
por exemplo, e Boris Johnson foi primeiro-ministro britânico por 3 anos.
É importante lembrar que todos esses arranjos são construções históricas que são
determinadas por lutas e processos sociais diversos. Como vimos, o Brasil é diferente do
Reino Unido, que, por conseguinte, é diferente do Canadá. Não há uma regra na construção
do arranjo político e nenhum deles é perfeito.

5. O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO

A palavra “representação” cerca boa parte de nossa vida. A princípio, como a maioria das
palavras que falamos no dia a dia, esta palavra não causa estranhamento quando alguém a
pronuncia. Mas e quando, por exemplo, a representação está ligada a outra palavra: o sentido
ainda é tão simples de achar? O que seria, então, representação política? Pensando que este é
um tipo de palavra que falamos sem muita consciência crítica, gostaríamos de conceituá-la
para podermos avançar no debate da representação política.
Representação, segundo o dicionário Oxford, é um substantivo feminino com dezenas
de acepções e significados possíveis. Pode ser, por exemplo, o ato ou efeito de
representar(-se). Pode ser também a exposição escrita ou oral de motivos, razões, queixas etc.
a quem de direito ou a quem possa interessar. Representação é também aquilo que se
representa ou até mesmo a ideia ou imagem que concebemos do mundo ou de alguma coisa.
E estes são apenas alguns exemplos de como essa palavra pode ser utilizada em diversas
situações e contextos, como no teatro, no direito, na psicologia e, claro, na política também.
Essa pluralidade de sentidos pode ser um pouco desafiador para chegarmos no conceito
de representação política. Para facilitar, vamos a origem da palavra: etimologicamente,
“representação provém da forma latina ‘repraesentare’ ─ fazer presente ou apresentar de
novo” (Makowiecky, 2003, grifos nossos). Fazer presente pode ser alguém/algo que estava lá
desde o início e apresentar de novo poderia simplesmente apresentar algo que já tinha sido
apresentado anteriormente, por exemplo. Com as definições da origem da palavra avançamos
um tanto, mas ainda não resolvemos o problema.
O que, afinal, seria a representação? Acreditamos que a chave para a explicação está no
verbo estar e no conceito de presente. O “presente” é relativamente simples: é o que está
acontecendo em determinado momento. Presentear uma pessoa, por exemplo, de certa forma,
é como entregar a ela uma parte do momento que vocês viveram juntos (um estado
incorpóreo do momento) num objeto. O verbo estar é tão simples quanto: estar significa algo
presente em algum espaço (“Eu estou em casa”). Se representar é fazer presente, como vimos
na definição acima, e presente tem uma definição que leva em conta o verbo estar,
poderíamos dizer que representar tem a ver com estar em algum lugar. Acontece que isso
também não resolve totalmente o conceito, afinal, ainda faltaria entender o sufixo “re” da
palavra representação. Voltando a definição acima (“apresentar de novo”), podemos flexionar
o “apresentar” para “estar presente”, definindo a representação como um “estar presente de
novo”.
Se estar presente de novo faz muito sentido com relação a representação, ainda falta um
elemento nessa equação: o que está sendo representado, afinal? “O que”, afinal, está sendo
apresentado de novo? Digamos, então, que o que está sendo representado é algo ou alguém
que já esteve naquele espaço (quando, por exemplo, atendemos o telefone para alguém da
nossa família) ou que precisa estar naquele lugar, mas que não pode por alguma alguma
razão (como, por exemplo, no caso da representação judicial do advogado para com o seu
cliente) ou que, por exemplo, quer estar, mas que, por conta de fatores práticos, não pode
estar (um jogador de futebol que se machucou e que não consegue ajudar seu time a vencer
uma partida, por exemplo). Se tudo isso é representar algo ─ e acreditamos que seja ─, talvez
a melhor definição possível para representação seja a seguinte: Estar sem estar.

5.1. A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA E A CRISE DA REPRESENTAÇÃO

A representação política, como constructo sócio-histórico, abrange uma série de


transformações e disputas. Segundo Bernard Manin, a reconfiguração do governo
representativo, que surge nos governos parlamentaristas do século XIX, ocorre em resposta à
crise do bem-estar social e à necessidade de representar aqueles que não estão inseridos no
mundo social formal. Fatores socioeconômicos, volatilidade eleitoral, baixa correspondência
entre candidatos e eleitores e a crescente abstenção foram diagnosticados como elementos
que contribuíram para a crise da representação política.
Ao longo da história, o governo representativo passou por diferentes fases, como o modelo
parlamentar, a democracia de partido e a democracia de público (audience). Ele argumenta
que o governo representativo continua desempenhando as mesmas funções, mas de uma
maneira diferente.
No entanto, Manin argumenta que não se trata de uma crise, mas sim de uma reconfiguração
do sistema, que incorpora novos elementos na mediação entre governantes e governados.
Manin destaca que, retomando a discussão dos Artigos Federalistas, que o governo
representativo não é sinônimo de democracia, sendo um conjunto de elementos
aristocráticos e democráticos. Ele ressalta que a democracia direta, para formuladores de
política do século XIX e XX, não era viável e nem desejada, portanto, necessária de uma
forma de representação que conciliava os princípios democráticos e aristocráticos. Para o
autor, o governo representativo, então, é uma construção sócio-histórica. Essas mudanças são
vistas como reconfigurações do sistema, incorporando novas formas de mediação, como a
mídia, por exemplo, que alteram o funcionamento dos princípios do governo representativo, e
que diagnóstico do autor encontraria na democracia de público uma nova forma de governo
representativo. Nesta, ao invés dos partidos políticos serem o ponto de ancoragem da
representação, a figura dos atores políticos ganham muito mais importância.
No entanto, a autora Nadia Urbinati critica o diagnóstico de Manin. A autora afirma
que os partidos políticos continuam sendo fundamentais na democracia como a ponte para o
eleitorado. Ela destaca a mudança que houve uma mudança no funcionamento dos partidos e
os divide em dois tipos-ideias: a ascensão dos chamados "partidos leves", que se concentram
na profissionalização dos políticos e na busca pela vitória eleitoral, em contraste com os
"partidos pesados", que atuam como mediadores entre a sociedade e o Estado. Essa mudança
tem consequências para a democracia, pois transforma sua dinâmica e enfatiza a participação
do público a partir da figura do político, por excelência. O foco não estaria mais no partido,
mas sim no político e na busca pela sua eleição. Apesar da ascensão das figuras políticas, os
partidos continuam sendo o principal ponto da democracia representativa.
Mas como cobrar a representação, afinal? Como fazer com que os eleitos possam
cumprir as promessas que fazem aos votantes? Abordando o tema da representatividade do
governo representativo, destaca-se a importância da accountability eleitoral. A
accountability, em sua tradução mais literal, envolve a prestação de contas, o controle
democrático e a responsabilização dos políticos por suas ações. Segundo Manin, Przeworski
e Stokes, a eleição é vista como um mecanismo de accountability eleitoral, permitindo que os
eleitores avaliem e julguem os políticos com base em seu desempenho. Sendo assim,
podemos dizer que o voto é o momento em que o cidadão exerce com maior autoridade o seu
controle sobre os eleitos, isto é, onde ele é melhor representado. O modelo eleitoral é baseado
na relação entre o eleitor (o representado) e os candidatos (os representantes). Através do
voto, os eleitores sancionam o mandato dos políticos e, a partir da periodicidade das eleições,
os políticos sentem-se coagidos a expressar a vontade do povo, gerando, dessa maneira,
accountability eleitoral.
No entanto, é importante ressaltar que as instituições por si só não resolvem o problema
da representatividade; reconhece-se que a eleição não é suficiente para garantir o controle dos
cidadãos sobre os políticos e a representação adequada. Hanna Pitkin afirma que a
representação política exige um núcleo normativo que envolve agir no melhor interesse do
representado. A responsividade dos representantes aos interesses dos representados nem
sempre é garantida, e melhorias na representação exigem inovações institucionais que não
são fáceis de implementar.
No âmbito das diferentes formas de representação, temos os conceitos de representação
descritiva, simbólica e política apresentados por Hanna Pitkin. A representação descritiva,
para a autora, envolve a semelhança entre atributos do representante e do representado
(como, exemplo, raça e gênero), enquanto a representação simbólica é baseada em símbolos e
convenções que remetem a determinados conteúdos (como símbolos que remetem a algum
conceito específico, como a bandeira do Brasil que representa a nação). Pitkin questiona
ambos os modelos, destacando a necessidade de considerar a responsividade e evitar a
alienação na representação política: a autora destaca a representação política como uma
atividade que envolve uma dupla agência, na qual o representante age no melhor interesse do
representado. Dito de outra maneira, o representante não pode agir sem levar em conta as
preferências do eleitorados, ao mesmo tempo que possui autonomia relativa para escolher
para o eleitor o que o representante acha como o melhor (mesmo que isso, na prática,
signifique que o eleitor se sinta traído em algum momento por aquele que ele depositou o
voto). Por essa razão, a relação entre representante e representado pode ser instável, havendo
contestação e antagonismo: a representação não pode ser perfeita, pois este processo não
envolve uma simetria entre o eleitor e o eleito, mas um estar sem estar, que visa da melhor
maneira possível ao eleitor.
Outro ponto de vista sobre a representação, tão interessante quanto as outras, é a do
cientista político Michel Saward. Retomando a representação política de Hanna Pitkin, o
ponto de originalidade do autor construtivista é que ele enxerga um papel ativo do
representante na construção do que será representado. Por exemplo, um político, ou uma
pessoa influente politicamente (como pessoas muito ricas), pode criar pautas e juntar grupos
em torno delas. Imagine a situação de uma entrevista em que esta pessoa influente pode falar
sobre um assunto que nunca havia passado na cabeça do seu público alvo ─ digamos, por
exemplo, o problema da “ideologia de gênero”. A partir do momento que aquele assunto é
transmitido pela sua influência (e sua eloquência), esse político pode advogar que é uma
questão central para a sociedade. Neste processo, ele pode ganhar adeptos e conseguir ser
eleito por uma demanda que antes não existia no debate público. Perceba que neste processo,
quem criou a demanda foi o próprio agente político. Saward chama isso de “demanda
representativa”9, pois o processo de construção feito pelo representante some neste processo,
dando a impressão para os representados de que essa sempre foi uma pauta delas e não a
criação de um representante influente em conjunto com seu eleitorado.
Saward, na prática, quer dizer que a representação política não é apenas um reflexo da
vontade popular ou uma simples transmissão de demandas dos eleitores para os
representantes. Em vez disso, ele argumenta que a representação política é um processo
9
No original “representative claim”. Nenhuma palavra no português brasileiro consegue abarcar o significado
total de “claim”. Os claims, propõe Saward, possuem 5 componentes que podem agir ao mesmo tempo ou
distintamente na constituição da representação. São eles: o maker (formulador), o referente, o sujeito, o objeto e
a audiência. Dessa maneira é difícil a tradução do termo, pensando que este é um material didático que chegará
a pessoas que não falam a língua inglesa, nós optamos por traduzir representative claim como “demanda
representativa”. Segundo o dicionário Oxford, demanda pode ser uma “manifestação de um desejo, pedido ou
exigência; solicitação. Ação de procurar alguma coisa; busca, diligência”. Acreditamos que essa é a palavra com
a acepção mais próxima da original.
construtivo, no qual os atores políticos, incluindo os eleitores e os próprios representantes,
desempenham papéis ativos na construção e definição do significado e propósito da
representação.
Em suma, num panorama geral, dentro da disputa simbólica pelo termo, podemos dizer
que a crise da representação política está dentro do próprio conceito de representação. Ela
está relacionada à dificuldade de representar grupos sociais marginalizados, à falta de
correspondência entre representantes e eleitores, à crescente volatilidade eleitoral e ao
questionamento da verossimilhança da representação. O governo representativo, como
construção histórica, passa por metamorfoses ao longo do tempo, incorporando novas formas
de mediação. Os princípios do governo representativo podem continuar funcionando a partir
dos partidos e dos eleitos, mas a completa representação, como forma ideal, é difícil de ser
atingida. Por essa razão que a representação descritiva e simbólica também são discutidas
como formas de representação importantes na mobilização de grupos e na busca por uma
representação mais inclusiva e representativa para que, por fim, se chegue a uma forma de
representação política que leva em conta a agência dos representantes e dos representados.

6. PARTIDOS E O PAPEL DA AÇÃO NA REPRESENTAÇÃO

Na visão deste material, o partido político é fundamental numa democracia por sintetizar em
si as vontades e visões de mundo de um determinado grupo de pessoas. Em uma sociedade
como a nossa, com milhões de pessoas, seria impossível tomar uma decisão se fosse
necessário ouvir todo mundo. Sendo assim os partidos acumulam em si indivíduos com os
mesmos interesses dos eleitores. Portanto, um partido político representa uma ala da
sociedade e é crucial para o sistema de representação democrática.
Ao se associar a um partido, uma pessoa está se associando àquele conjunto de
crenças e visão de mundo. Ela se torna apta a ser uma representante, pois sintetiza em si a
vontade dessa ala da sociedade que aquele partido se dispõe a representar, dispensando, dessa
maneira, a necessidade de que todas as pessoas manifestem suas opiniões publicamente.
Dessa forma, quando você vota num partido é como se você autorizasse, e estivesse
de acordo, com o que o partido se propõe a representar. Dessa maneira, se você não conhece
o partido político que você vota, você não saberá se de fato ele te representa ou não ─ mesmo
que em campanha o seu candidato prometa uma coisa que é importante para você. No Brasil
a importância do partido é pouco discutida na esfera pública e faz com que as pessoas
acreditem que somente votem em candidatos, porém, além de candidatos, elas votam em
plataformas ideológicas.
Então, afinal, como entender se um partido nos representa? A primeira coisa que
qualquer partido possui é uma carta de princípios, em que é posto tudo aquilo que eles
acreditam representar. É nesta carta que é posto o norteamento pelo qual o partido se guia.
Também, como eleitor, é possível procurar como certo partido se posicionou em votações
anteriores nas câmaras legislativas. Se você, enquanto eleitor, estiver de acordo com os
posicionamentos do partido, então provavelmente o partido será ideal para você e, com isso,
terá mais chances deste partido representar os seus interesses.
A grande questão é que a maioria dos partidos políticos brasileiros não nasceu de
movimentos espontâneos da sociedade, mas de políticos oriundos da ditadura militar, que
ante a nova regra de eleição se viram obrigados a criar partidos para poderem ser eleitos.
Dessa forma, historicamente, o partido acaba por ser uma cooperativa de políticos com
princípios ocos e posicionamentos interesseiros.
Não é algo dado, que sempre foi assim: até mesmo a construção partidária sempre é
uma construção histórica.
Dois partidos podem sintetizar esse contraste no período pós-88: o MDB, que nasceu
da reestruturação do partido da oposição durante o regime militar no Brasil, e o PT, que
nasceu do movimento operário de São Bernardo do Campo a partir de uma percepção que só
a classe trabalhadora poderia representar a classe trabalhadora. Veja que a criação de um
partido leva em conta, necessariamente, uma vontade de representar. Por isso é importante
estar atento não apenas no posicionamento recente do partido, mas também na sua história de
formação e sua trajetória até o momento presente.
A partir do momento da escolha do partido, o próximo passo é ver quais são os
candidatos desta legenda e se o discurso dele é coerente com que está posto na carta de
princípios do partido. Caso não seja, é necessário ter cuidado, pois pode se tratar de um caso
de estelionato eleitoral. Por exemplo, defender o direito dos animais é uma pauta necessária e
justa, mas se ela não estiver na carta de princípios do partido, ou se o partido se posicionou
contra leis que beneficiam os animais, pouco importa que o candidato diga defender essa
causa: numa votação ele pode ser constrangido pelo partido a votar contra um projeto que
beneficia os animais, sob risco de perder o mandato em caso de desobediência a orientação
do partido.
6.1. CONCLUSÃO: QUEM PODE NOS REPRESENTAR?

Neste material didático, tivemos o objetivo de apresentar e discutir a ideia de representação


política: a representação política, afinal, como solução democrática não surge do “nada”. Na
história da sociedade ocidental, ela é um constructo social histórico específico de uma forma
de organização social, a democracia republicana dentro do Estado moderno; e como uma
construção humana está sujeitas a imperfeições no seu funcionamento. Você se sente
representado por seus políticos? Na prática, gostaríamos de mostrar que a desconfiança no
sistema de representação não começou há pouco tempo, ela está localizada em âmbitos
profundos da vida social: como alguém, afinal, a não ser eu mesmo, conseguirá me
representar em um outro espaço? Como eu poderei ter certeza de que aquele desconhecido
fará o melhor por mim? Como eu posso decidir de quatro em quatro anos o que é melhor para
mim se eu posso mudar nesse espaço de tempo?
No fim, a representação política, como uma forma de representação, traz à tona toda
uma gama de perguntas que parecem impossíveis de serem respondidas, afinal, como vimos,
a crise da representação está acompanhada da representação política desde o seu princípio.
Mas isso não quer dizer que o sistema não pode ser aperfeiçoado. O sistema de representação
não deve ser levado como algo pronto, mas sim como um processo sempre em construção,
com luta social, em um tempo histórico específico e que, porventura, pode, sim, melhorar.
Pense que somente em 1932, depois de muita luta, as mulheres passaram a votar no Brasil.
Pense que até a Constituição de 1988 o voto era negado aos analfabetos. Grupos
marginalizados, como as pessoas pretas e os indígenas, há pouco tempo atrás mal tinham
representantes no congresso nacional e no executivo do país. O processo de representação é
marcado socialmente por uma luta histórica e por uma participação ativa da sociedade civil
por direitos. Dessa forma, se parece impossível responder completamente a pergunta quem
pode nos representar?, é possível, através das ciências sociais e da história, perceber que a
partir da utopia da representação foi sendo construído mecanismos que vem alcançando cada
vez mais pessoas e, por conseguinte, aperfeiçoando o sistema democrático. A utopia é parte
do processo, sonhar com o ideal faz com que as pessoas se movam em busca de algo melhor.
Como dizemos, a representação política não está pronta. E se ela é um processo, como
acreditamos que seja, ela tem a possibilidade de chegar no que ela almeja algum dia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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