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Dominação
De acordo com Max Weber, a ideia de dominação está presente em todas as relações
humanas. Para ele, a dominação é exercida por qualquer pessoa que proponha uma ideia ou situação
a outra disposta a aceitá-la. Para ter estabilidade e eficiência, a dominação deve ser legítima, ou
seja, dominantes e dominados precisam compreender como necessárias ou indispensáveis as regras
que regulam as ações sociais. Com base nisso, Weber distinguiu teoricamente três tipos de
dominação: a tradicional, a carismática e a legal.
Origens da democracia
A democracia foi implementada pela primeira vez no século VI a.C., em Atenas, na Grécia antiga. De
acordo com o historiador francês contemporâneo Jean-Pierre Vernant, a mudança decorreu de uma série
de reformas promovidas pelo legislador Clístenes, que deu continuidade ao trabalho do legislador Sólon e
implementou a democracia em Atenas, transformando a sociedade e a vida política da cidade-Estado
(também denominada pólis).
Pode-se dizer que tais reformas foram responsáveis pela instauração do político. Antes, o regime de
governo exercido em Atenas era a tirania, e o poder baseava-se na arbitrariedade, isto é, na vontade de um
ou de alguns indivíduos. Depois, passou a ser exercido pelos cidadãos. Tal mudança afetou toda a
sociedade e, mais especificamente, o espaço público: a ágora ateniense, anteriormente dedicada aos
interesses privados, passou a ser caracterizada pelo discurso e pela ação de homens livres, que, reunidos,
decidiam o destino da cidade.
A participação das pessoas na política de Atenas era feita por meio de duas instituições: a Eclésia,
na qual os cidadãos se reuniam para discutir publicamente os assuntos mais relevantes da pólis, e a Bulé,
composta de quinhentos cidadãos, em que se elaboravam projetos e pareceres sobre os assuntos a serem
discutidos na Eclésia. Essas instituições políticas eram baseadas na igualdade, que para os atenienses tinha
três dimensões: a isonomia (a igualdade formal de todos os cidadãos perante a lei, impedindo qualquer
forma de discriminação), a isegoria (a igualdade material de cada cidadão poder discursar no espaço
público, ser ouvido e influenciar as decisões políticas) e a isocracia (a igualdade na ocupação temporária
dos cargos públicos pelos cidadãos, sem distinções). A democracia ateniense baseava-se na ação política
direta dos cidadãos, ou seja, o governo não era exercido por representantes do povo, mas pelo próprio
povo.
Assim, os cidadãos eram agentes políticos que participavam do governo da cidade com liberdade e
em igualdade de condições. Os cidadãos eram homens livres adultos, filhos de mãe e pai atenienses. Eles
não precisavam se dedicar ao trabalho e participavam da esfera pública. Dessa forma, a condição de
liberdade em Atenas se contrapunha à de escravidão. Nesse sentido, na democracia ateniense, mulheres,
estrangeiros e escravos não eram aceitos na vida pública, não podendo agir politicamente. Isso significa
que a dimensão da democracia se restringia a uma pequena parcela da sociedade de Atenas.
O fundamento político a se destacar, é o que liga a política às condições materiais concretas, ao
nível econômico, ou seja, é a junção entre as formas políticas modernas e a lógica do capital.
No capitalismo a apropriação da riqueza gerada pelo trabalho, não deve ser feita a partir da
coerção com violência contra o trabalhador, como era antes. E para resolver isso, o Estado
moderno torna os indivíduos cidadãos, instituindo-os como sujeito de direito, ou seja, livre, apto a
ter direitos e deveres, e por meio dessa nova condição política, cada trabalhador pode vender seu
trabalho aos capitalistas de uma maneira “livre”, isto é, por meio de vínculos que obrigam tendo
por fundamento uma relação jurídica, e não a mera força.
Assim, sendo, a instância de coerção política não pode se apresentar como diretamente
dominada pela burguesia. Ela se presta ao interesse burguês, mas não porque seja controlada pela
vontade dela, mas porque ao construir sujeitos de direito, torna todos juridicamente iguais e
livres. Segundo Marx, “a opressão no capitalismo, ao contrário do escravagismo, se esconde”,
pois, tornando a todos os cidadãos livres e iguais formalmente, dá condições de que os capitalistas
explorem os trabalhadores de uma forma invisível, pelo fato de passar a ilusão de que o
trabalhador é livre, visto que escolhe para quem trabalhar, ou melhor, escolhe quem o explorará.
O Estado surge então como condição estruturante da exploração jurídica do trabalho, pelo
fato de manter um aparato de repressão para oprimir as ações que impeçam o funcionamento da
máquina da reprodução econômica capitalista, pois, o Estado está ao lado do capitalismo. O
aparato político estatal moderno põe em funcionamento a possibilidade da reprodução contínua da
exploração do trabalho por meio dos vínculos mercantis, fazendo do trabalhador uma mercadoria
a ser vendida, cuja mais-valia é apropriada como riqueza pelo burguês.
Assim, o Estado sendo uma forma de pressão especificamente capitalista e o capitalismo
caracterizado pela exploração do trabalhado e acentuação da desigualdade, segundo Marx, deve-
se haver a superação do capitalismo, mas não somente com uma reforma no sistema, mas sim uma
revolução, que seria responsável pela transição do capitalismo ao socialismo (etapa intermediária
ao almejado comunismo de Marx), e essa ruptura com o modo de produção ocasionaria outras
relações de produção e outras estruturas políticas que não as do Estado moderno.
Para Marx, a vida em sociedade não tem suas bases no contrato social, mas sim, na luta de
classes. O Estado moderno é formado de relações entre dominadores e dominados. Os senhores
não devem se apropria da riqueza produzida pelos trabalhadores a partir do uso da força, mas sim,
por meio de vínculos, que à primeira vista são voluntários e que tem por fundamento uma relação
jurídica. Ao contrário do escravo, há uma ilusão de que o trabalhador é livre, já que ele tem o
poder de escolher quem o explorará, assim diz Marx em “O Capital”:
O escravo romano era preso por grilhões, o trabalhador assalariado está preso a seu
proprietário por fios invisíveis. A ilusão de sua independência se mantém pela mudança contínua
de seus patrões e com a ficção do contrato.
Soberania
A soberania relaciona-se à manifestação dos costumes e ao exercício do poder em um
território historicamente conquistado e construído, em geral, por meio de conflitos e disputas, mas
também pela formação de consensos. O filósofo francês Jean Bodin (1530-1596) foi um dos
primeiros pensadores a refletir sobre o conceito de soberania. Ele a definiu como o poder absoluto e
perpétuo exercido sobre cidadãos de uma república, sem interferência de concepções religiosas, o
que pode ser considerado um avanço para a constituição do Estado moderno. Assim, embora ainda
estivesse de acordo com a forma monárquica absolutista vigente em seu tempo, Bodin contribuiu
para fortalecer a concepção do Estado laico, isto é, sem vínculo com o poder da Igreja. No século
XVIII, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) propôs a transferência da soberania do monarca para o
povo, que representaria a soberania democrática, que ele chamou de vontade gera
Representação política
Na democracia ateniense (século VI a.C.), os indivíduos considerados cidadãos podiam
participar diretamente das decisões públicas. Essa forma de participação era possível porque os
cidadãos constituíam uma parcela muito restrita da população. No século XIX, a ideia de cidadania
foi ampliada, sendo preciso encontrar meios para que uma parcela muito maior da população
participasse dos processos decisórios. A solução foi estabelecer a representação política, ou seja, a
eleição, por meio do voto, de pessoas que ocupariam cargos nas instituições governamentais e
representariam as demandas públicas.
O primeiro país a adotar o sistema representativo foram os Estados Unidos, no século XVIII.
Na França, o sistema foi adotado em 1848, mas mulheres, analfabetos e trabalhadores que não
pagavam impostos não tinham direito a votar e a se candidatar.
A representatividade originou uma questão importante: os mais votados estão aptos a
representar as demandas de toda a população? Além disso, foi preciso pensar em mecanismos de
controle (manifestações públicas, imprensa livre, instituições participativas, ações judiciais) da
sociedade para vigiar a atuação dos representantes, pois promessas não cumpridas e demandas não
satisfeitas são comuns no sistema político representativo, o que geralmente causa desilusão e traz
perdas consideráveis para a vida dos eleitores.
Antonieta de Barros, deputada estadual por Santa Catarina eleita em 1934. Foto de
aproximadamente 1930. Ela foi a primeira mulher negra a conquistar um cargo político no Brasil.
Partidos políticos
Para disputar as eleições, os candidatos a representantes são obrigados a se filiar a um
partido político. Esse tipo de agremiação política começou a se desenvolver no século XVIII. Os
dois primeiros partidos foram organizados na Inglaterra. Bastante semelhantes, eles representavam
grupos de interesses ligados a famílias influentes; por isso, eram, de fato, mais parecidos com
facções do que com partidos políticos como conhecemos hoje. Isso mudou com o Reform Act. Essa
lei, de 1832, que ampliava o sufrágio, permitia o voto de burgueses e industriais, os quais passaram
a administrar as questões de Estado com a nobreza e, para isso, fundaram outras organizações
partidárias. A participação dessas agremiações na estrutura política, porém, ainda era irregular e
regionalizada, voltada a interesses e líderes isolados.
O sistema que dava bases aos partidos passou a se consolidar em 1868, quando foram
instalados comitês eleitorais no interior da Inglaterra para mobilizar os eleitores que engrossavam o
processo democrático do país: os empregados remunerados da indústria, contingente que
interessava às antigas lideranças políticas locais.
Assim, diante da pressão social por espaço nos mecanismos de decisão política, os partidos
tornaram-se instrumentos de grupos interessados nos resultados eleitorais. Como cada grupo tinha
interesses e demandas diferentes, passou a haver disputa política entre os partidos formados.
Os partidos atuais são organizados para promover discussões internas entre seus membros
(também chamados correligionários) até que seja possível formular ações e estratégias. Dependendo
do número de membros, criam-se espaços internos de organização, e neles se destaca a ação dos
líderes partidários, responsáveis por representar os interesses que defendem na sociedade ou, se
eleitos, no Poder Legislativo e no Poder Executivo.
Os líderes e os envolvidos na burocracia interna do partido (que envolve administração,
estatutos, regras de seu processo decisório e de formação de lideranças), no entanto, podem se
tornar mais poderosos que a maior parte dos correligionários. Assim, por vezes, manter o poder
interno acaba sendo mais importante do que alcançar objetivos políticos externos, o que pode gerar
falta de democracia dentro do partido.
Questões como essa foram amplamente analisadas por Max Weber, que se preocupava em
compreender a estrutura organizativa dos partidos, que sofre alterações à medida que seus objetivos
e interesses originais mudam. Uma tendência evidente nos tempos atuais é a crise dos partidos
como instituições voltadas à defesa dos interesses sociais e das estratégias ideológicas, pois muitas
vezes os eleitos pela população abandonam as reivindicações que deveriam representar. Isso
contribui para que muitos partidos se dediquem unicamente ao processo eleitoral.
EXERCITANDO
Questões
1. Com base no texto e na discussão sobre representação política, é possível afirmar que
votar nulo é uma forma de protesto? Justifique.
2. Como um cidadão pode protestar contra as atitudes dos representantes políticos nos quais
votou? Responda no caderno.