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Psicologia clínica

Psicologia Clínica

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Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO .................................................................. 4
GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS ABORDAGENS DELES
DERIVADAS .............................................................................................................. 23
PSICOLOGIA TRANSPESSOAL ............................................................................... 37
PSICODRAMA .......................................................................................................... 39
PSICOLOGIA ANALÍTICA ......................................................................................... 47
A PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA (PSICOLOGIA CIENTÍFICA) ....................... 49
PESQUISA EM PSICOLOGIA E BIOÉTICA .............................................................. 59
PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ............................................. 61
Paralelo com a Psicologia Organizacional: ................................................................ 67
Função dos psicólogos: ............................................................................................. 67
Psicologia Organizacional X Ergonomia: ................................................................... 67
Psicologia Organizacional X Qualidade de Vida no Trabalho: ................................... 67
Funções de recursos humanos:................................................................................. 68
Articulação entre diversos conhecimentos e a Administração ................................... 68
Histórico da Psicologia Hospitalar no Brasil: .............................................................. 69
Psicologia Hospitalar: ................................................................................................ 69
PSICOLOGIA JURÍDICA ........................................................................................... 83
Psicologia Jurídica em linhas gerais .......................................................................... 84
PSICOLOGIA CLÍNICA: CONCEITO ......................................................................... 87
Então, o que o psicólogo faz? ................................................................................... 90
Necessidades da multidisciplinaridade ...................................................................... 91
CONCEITO DE SAÚDE ............................................................................................ 92
SAÚDE MENTAL ....................................................................................................... 97
DEFICIÊNCIA MENTAL ............................................................................................. 98
Tipo de classificação baseada na intensidade dos apoios necessários .................. 100
TRANSTORNO MENTAL ........................................................................................ 101
PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS ............................................................... 104
DEPRESSÃO .......................................................................................................... 104

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ANSIEDADE............................................................................................................ 109
TRANSTORNO BIPOLAR ....................................................................................... 112
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC) ............................................. 116
ESQUIZOFRENIA ................................................................................................... 120
HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE ATENÇÃO ........................................................ 126
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA .................................................................................. 132
Definição de entrevista psicológica ......................................................................... 137
INTERVENÇÃO ...................................................................................................... 156
EQUIPE MULTIPROFISSIONAL............................................................................. 163
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 175

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INTRODUÇÃO

A Psicologia talvez seja uma das mais controversas ciências da atualidade.


Amada por uns e odiada por outros, sem dúvida ainda permanece obscura para a
grande maioria.
Ouve-se falar dela como ‘coisa do demônio’ dentro de igrejas católicas e
evangélicas. Confundida com práticas alternativas não reconhecidas pela Ciência
tradicional, muitos cientistas a veem com maus olhos e até com certo desdém. O
certo é que as pessoas normalmente costumam combater aquilo que não
conhecem. Esse comportamento é no mínimo preconceituoso.
Faz-se necessário conhecer para só depois exercer sobre aquilo que se
conhece algum tipo de pensamento, seja de apoio ou repulsa. Mas que seja feito com
fundamento.
O certo é que a Psicologia provavelmente seja uma das mais complexas
ciências da atualidade. A começar pelo seu próprio objeto de estudo, a pretensão de
estudar a alma humana. Por mais que se estude, jamais será possível abarcar toda
esta complexidade, pois o ser humano é o reflexo de interações ambientais, sociais,
físicas, cognitivas e espirituais.
Várias Ciências se cruzam na busca desse conhecimento, como a Neurologia,
a Filosofia, as Ciências Sociais, a Psiquiatria... Tudo o que for dito perto da
dimensão do ser humano envolto em sua cultura e valores será muito pouco. Tudo
isso faz da Psicologia uma Ciência extremamente bela e complexa, dificílima,
embora fascinante. Ninguém, jamais sairá ileso depois que dela se aproximar.

HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO

Desde o início dos tempos, o ser humano sempre quis compreender melhor o
mundo que o rodeia, conhecendo as suas origens. Se entendermos a Psicologia
como um conhecimento amplo, é possível afirmar que os mais antigos filósofos, os
pré-socráticos, eram, em sua essência, psicólogos, embora não fossem assim
denominados nem tivessem o seu exercício regulamentado em lei.

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Na busca pela indagação de si e pelo entendimento de suas origens, várias


correntes teóricas se formaram. Dentre elas, as duas mais importantes, tentando
explicar a origem do ser humano e do Universo: o Criacionismo e o Evolucionismo.
Entende-se o Criacionismo como sendo a teoria ou sistema que sustenta as
espécies animais e vegetais criadas de forma distinta, permanecendo invariáveis.
Houve um Ser Superior que criou todas as coisas que existem. O relato da criação
do mundo encontra-se pormenorizado na Bíblia Sagrada, livro de orientação de
todos aqueles que professam a fé cristã (FERREIRA, 1993).
Ao processo gradual de mudança genética em que as características de
toda uma espécie são alteradas durante muitas gerações, produzindo uma mudança
cuja função é proporcionar uma melhor adaptação dos indivíduos daquela espécie ao
meio ambiente, processo conhecido como Seleção Natural, dá-se a denominação de
Evolucionismo (HAYES, 1997).
Mas as grandes questões da humanidade não se limitaram àquelas ligadas
ao Universo. O ser humano sempre se interessou por conhecer melhor a sua própria
essência: De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? O que vim fazer nesse
mundo? As respostas a essas perguntas trariam alívio para a própria angústia e
inquietação inerentes ao ser humano. Era preciso entender melhor as próprias
emoções, ansiedades, sentimentos, o porquê da existência, do nascimento, da
morte...
Faz-se necessário entender que esses questionamentos tão profundos são
naturais e fazem parte do processo de autoconhecimento. Não é preciso fugir de
sensações que nem sempre são confortáveis, mas enfrentá-las, tirando proveito de
cada evento desagradável para encontrar o próprio equilíbrio, a própria estrada. Um
dos grandes equívocos atuais provavelmente seja o de querer se livrar, a todo e
qualquer custo, da dor e dos sofrimentos humanos. Mas eles são parte da complexa
natureza humana. Não há fórmulas miraculosas para fazer com que o ser humano
pare de sofrer, por mais que os livros de autoajuda falem o contrário. Não é essa
a finalidade da Psicologia, mas sim, entender a alma humana e aprender a lidar melhor
com a própria existência.
A partir desse breve comentário, poderíamos afirmar que a Psicologia nasce de

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dois ramos distintos: da Filosofia, considerando pensadores como Aristóteles e Platão


(os primeiros psicólogos – ainda que não utilizassem esse termo) e da Medicina, ainda
que, de forma equivocada, tentassem encontrar respostas físicas para questões
emocionais (Os pensadores, 1999).
Provavelmente, a primeira grande obra psicológica de que se tem notícia
seja a do pensador Aristóteles, intitulada “De Anima”. Embora já se estudasse a
alma humana, o termo Psicologia só aparece no século XVI, com Rodolfo Goclênio.
A palavra Psicologia tem sua raiz etimológica nos termos psiché (alma) + logos
(razão, estudo). É bom que se diga que a Psicologia enquanto profissão é algo
ainda recente, pois a regulamentação da profissão de psicólogo foi instituída somente
em 27 de agosto de 1962 (data em que hoje se comemora o Dia do Psicólogo).
Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado,
mas com uma curta história de reconhecimento enquanto atividade profissional e
Ciência. Tal frase lança luz sobre o fato de que os povos de todos os tempos e de
todas as culturas se tenham ocupado dos problemas da alma e da vida humana.
A partir de alguns testemunhos escritos que nos ficaram das antigas culturas
da Índia, China, Ásia Anterior, do Delta e do Nilo. A partir de mitos e contos
populares, bem como de obras eruditas, pode-se concluir que as pessoas sempre
refletiram sobre a alma, a morte e a imortalidade, sobre o bem e o mal, e as causas
dos seus medos e preocupações.
O estudo da alma humana e a existência do ser humano são eventos
interligados. Daí a afirmação que a Psicologia é uma ciência em construção e de que
o psicólogo é um profissional sempre em formação. Não há psicólogos prontos,
visto que compreender o ser humano requer estudo incessante e a capacidade de
aprender com os próprios erros.
A nossa ciência ocidental, assim como a Psicologia, remonta à Grécia Antiga,
pelo que o antigo escrito do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) “Acerca da
Alma”, é designado muitas vezes como o primeiro Manual de Psicologia. De fato,
esse grande mestre da ciência antiga tratou de quase todos os problemas que ainda
hoje nos ocupam; interessou-se de modo muito especial pela questão dos
fundamentos biológicos da vida anímica e do seu desenvolvimento.

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É do pensador Aristóteles a tese de que o todo vem antes das partes e é,


portanto, mais do que o somatório das suas partes. Por exemplo: cada floresta é mais
do que o somatório das suas árvores, arbustos e ervas que a constituem e dos
animais que nela habitam, é uma totalidade própria com características especiais que
pertencem à totalidade. Porém, tais totalidades existem igualmente no domínio
psíquico. Esse é um dos grandes fundamentos do que atualmente se intitula
Psicologia da Gestalt, ou Psicologia da Forma.
Essa concepção opõe-se à de Wilhelm Wundt (1832-1920), de que o todo da
mente é constituído a partir de processos elementares, a qual denominou, a princípio,
de a moderna Psicologia Científica, orientada pelo pensamento atomista da Física.
Os gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como aquilo que
vivificava a vida. Como, porém, se realizava essa vivificação foi problema que
permaneceu tão discutido quanto insolúvel. Tales de Mileto, muito antes de
Aristóteles, considerou o movimento como algo essencial para o processo de
vivificação; alguns filósofos da Antiga Grécia pensavam que a alma era “ar”, outros,
que eram os odores os elementos vivificantes. (Os pensadores: Pré- socráticos,
1999).
Platão (427-347 a.C.) qualifica alma como algo espiritual; o seu discípulo
Aristóteles considerava-a como uma força, aliás, incorpórea, mas que movia e
dominava os corpos. A partir de tais concepções, adquiridas exclusivamente pela
especulação, existiam, contudo, também já na Antiguidade, estudos amplos sobre
processos cerebrais, sobre as funções dos órgãos sensoriais e sobre perturbações
dessas funções em caso de lesões cerebrais.
Muito se houve falar sobre a doutrina dos quatro temperamentos, sobretudo
em livros norte-americanos de Psicologia. Mas a grande verdade é que essa doutrina
remonta ao grande médico grego Hipócrates (cerca de 400 a.C.), retomada e
desenvolvida pelo médico romano Galeno (201 até 131 a.C.). Segundo ele, existem
quatro temperamentos, determinados pela predominância de um dos quatro
“humores”: o sanguíneo (sangue: folgazão e superficial), o colérico (bílis amarela:
vontade forte e iras repentinas), o melancólico (bílis negra: pensativo e triste) e o
fleumático (muco: sossegado e inativo). Apesar do seu funcionamento

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pseudocientífico, a doutrina dos quatro temperamentos afirmou-se na prática e os


quatro tipos foram finalmente introduzidos como noções da nossa linguagem do dia a
dia. (SOURNIA, 1996). Outro nome fundamental para que se estudem os primórdios
da Psicologia é Santo Agostinho (354-430), pelo fato de ter descoberto dois
métodos importantes: o da auto- observação e o da descrição da experiência
interior, dando origem a uma Psicologia mais
subjetiva e qualitativa, baseada na fala e na introspecção, ao contrário
daquela que prioriza apenas o comportamento observável. De certa forma, pode-se
citar a psicologia europeia como aquela que mais se aproxima de uma Psicologia
menos comercial e imediatista para uma mais aprofundada e introspectiva,
denominada por alguns de ‘Psicologia profunda’.

JONH LOCKE E A PSICOLOGIA

Grande parte das pessoas que trabalham na Educação já ouviu falar que ‘a
criança é como uma folha em branco na qual são registradas as várias
experiências’. Essa ideia que também influenciou bastante a Psicologia,
principalmente em relação às abordagens que priorizam a experiência como a
principal fonte de formação do ser humano, vem de um pensador conhecido: Jonh

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Locke.
Esse pensador veio sublinhar a importância que desempenham as
impressões sensoriais para o desenvolvimento da nossa experiência. Imaginou o
espírito da criança como uma folha de papel em branco (tábula rasa) na qual são
“registradas” as experiências. John Locke também tem papel decisivo na Pedagogia
e na Psicopedagogia. Seu pensamento sustentou ricas correntes pedagógicas e
psicológicas. (ABAGNANO, 2000).
Já Aristóteles se ocupara das associações, da combinação de duas ou mais
representações ou vivências parciais. O fato de David Hume (1711-1776) ter
retomado e aperfeiçoado a teoria aristotélica das associações demonstrou ser de
extraordinária importância, também para a atual Psicologia. Hume ensinou que as
representações eram imagens de impressões sensoriais e se encontravam ligadas
umas às outras com base em leis mecanicamente funcionais. Reforçando o
pensamento de Aristóteles, formulou as leis da associação do contato espaço-tempo,
da semelhança, do contraste e da causalidade.
Desde então se verifica a importância que as experiências exercem sobre a
vida de qualquer ser humano, gerando gratificação ou traumas. As experiências têm
uma função primordial na estrutura da pessoa, principalmente até os seis anos de
vida. Aquilo que é vivenciado nessa fase torna-se determinante na vida adulta. A
forma de ser, de reagir e de enfrentar crises em boa parte é construída na infância.
Também a forma feliz de celebrar a vida em seus detalhes mais simples.

A INFLUÊNCIA DE DARWIN

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A Psicologia sempre viveu o dilema de optar entre entregar-se à objetividade,


para que ocorresse a apropriação do fazer científico, ou exercer um modo de
fazer seus estudos de maneira mais alternativa e aberta à especulação e assim correr
o risco de não ser legitimada nos meios acadêmicos.
Pela própria raiz eminentemente filosófica, toda a Psicologia fora praticada
até aos meados do século XX de modo predominantemente especulativo: julgava-
se poder solucionar todos os problemas a partir da reflexão, da análise e da
síntese. Ledo engano. Atualmente, percebe-se que as alternativas acima citadas não
são excludentes, mas podem se complementar e se enriquecer mutuamente e
assim o fazer científico enriquece seu olhar, tornando-se mais holístico e menos
fragmentado.
Prova disso são as propostas atuais do Sistema Único de Saúde (SUS), de
tornar o trabalho cada vez mais interdisciplinar e menos individualista, o que amplia
o prisma do observador para um horizonte mais amplo dentro do estudo de cada
caso. Uma gastrite, por exemplo, pode ser analisada como algo proveniente de
uma irritação gástrica apenas ou do produto complexo da somatização de uma vida
corrida e sedentária aliada a uma alimentação precária digerida em um ambiente de
ansiedade, somatizando em uma irritação gástrica, que vai eclodir em um órgão de
choque, que pode ser o estômago.

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Isso prova que vários olhares sobre o mesmo assunto mostram o quão
complexa é cada situação e o quanto podem se tornar ricos os debates entre os vários
fazeres científicos.
Quanto ao modo empírico de fazer ciência, pode-se afirmar que um dos
principais impulsos na Psicologia teve sua origem nas observações e experimentos
de Charles Darwin (1809-1882), o fundador da moderna doutrina genética e da
hereditariedade.
“A Origem das Espécies” (1859), magnífica obra desse cientista, influenciou
de modo revolucionário quase todos os domínios da Ciência, desde a Física e
Química, passando pela Biologia até chegar à Psicologia. Essa obra promove
debates, os mais acalorados, e inúmeras teses, colocando como inimigos frontais
teólogos e cientistas, lógico, dentro de uma perspectiva excludente, fragmentada e
dualista.
Além das suas investigações biológicas, Darwin ocupou-se igualmente de uma
série de problemas que hoje denominaríamos psicológicos. As ideias de Darwin
deram um novo impulso à investigação psicológica e constituíram o fundamento para
muitos campos da moderna Psicologia: A Psicologia do Desenvolvimento e a
Psicologia Animal; o estudo da expressão dos movimentos afetivos, a investigação
das diferenças entre os diversos indivíduos; o problema da
influência da hereditariedade em comparação com a do meio ambiente; o
problema do papel da consciência; e, logo a seguir; o estudo experimental das
funções anímicas como também a introdução do princípio quantitativo da
investigação.
O historiador Boring, cuja formação acadêmica remonta a Wilhelm Wundt,
passando por Edward E. Titchener, afirma, em determinado passo, acerca da
psicologia americana, que ela herdou o corpo da investigação experimental alemã;
o espírito, todavia, provém de Darwin. Refere-se assim à tradição americana fundada
com base em William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952) que –
diferentemente da tradição alemã criada por Wundt – transfere para primeiro plano
as questões da Biologia, do Desenvolvimento e da Atividade Anímica.
Historicamente é interessante verificar que as primeiras publicações de

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Fechner e Wundt sobre as Percepções Sensoriais surgiram ao mesmo tempo em


que: a “Origem das Espécies”, de Charles Darwin; os "Elementos de Psicofísica", de
Fechner apareceram em 1860 e os “Contributos para uma Teoria das Percepções
Sensoriais”, de Wundt, no ano de 1862 (DAVIDOFF, 2003).

WUNDT: DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL FISIOLÓGICA À PSICOLOGIA


DOS POVOS

<serendip.brynmawr.edu>.

Wundt é considerado por muitos estudiosos como o pai da Psicologia. Sem


dúvida, a posição de destaque que Wundt ocupa entre os psicólogos e a sua
influência internacional, gigantesca, têm sua fundamentação em uma série de
circunstâncias: Wundt não se limitou a criar, em 1879, em Leipzig, o primeiro
laboratório destinado à investigação experimental dos
fenômenos da consciência, fato que muitos consideraram o marco inicial da
Psicologia como ciência independente.
Ele desenvolveu, além disso, um sistema amplo para o nascimento dessa nova
ciência, pesquisando aspectos que iam desde a Psicologia Experimental Fisiológica
até a Psicologia dos Povos, dando origem àquilo que hoje se conhece como
Psicologia Social e Comunitária. Essa ampla gama de estudos dentro da Ciência

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Psicológica demonstrava que Wundt possuía invulgar capacidade e fecundidade para


o trabalho.
Fato curioso é que a base teórica da Psicologia pensada por Wundt vinha da
Física. Não é à toa que hoje se fala em termos como campos de tensão dentro da
dinâmica dos grupos.
Tal como um físico, ele pretendia encontrar elementos e processos
elementares; a partir deles pensava poder construir a alma como um todo. No
entanto, também ele próprio, no fundo, não estava absolutamente convencido desta
ideia, como demonstra o fato de ter esperado que a Psicologia dos Povos
fornecesse de qualquer modo conhecimento para os fenômenos mais complexos
da alma humana.
Apesar da grandiosa concepção fundamental, a Psicologia dos Povos de
Wundt não levou a quaisquer resultados duradouros precisamente no que se refere
à compreensão dos fenômenos mais complexos ou mesmo daqueles que dizem
respeito ao desenvolvimento humano. Mesmo porque Wundt não chegou a
desenvolver um conceito preciso daquilo que seria essa área da Psicologia, a
Psicologia dos Povos.
Enquanto Wundt militava em defesa da Psicologia dos Povos, outros
pensadores estudavam os fenômenos de maturação por meio da observação de
animais e de crianças, o que daria origem à Psicologia do Desenvolvimento. Esse
sistema de pensamento incide exclusivamente sobre a observação do
comportamento animal e humano e dos processos de maturação de tal
comportamento. De Francis Galton a Lloyd Morgan, William McDougall, Thorndike,
Yerkes e John B. Watson, encontramos uma série de investigações brilhantes que se
ocupam das questões da hereditariedade, do comportamento animal, dos instintos e
do comportamento infantil.
O estudo do comportamento observável é um dos pilares doutrinários do
Behaviorismo e os estudos realizados por seus seguidores baseavam-se quase que
exclusivamente em observações de animais e de crianças. Hoje em dia a Psicologia
Animal e a Psicologia Infantil constituem dois ramos extremamente vastos e
significativos da investigação psicológica, apesar de que já são necessários vários

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cuidados legais, pelos abusos antes cometidos por pesquisadores menos avisados.
Em pesquisas que envolvam seres humanos, por exemplo, é necessário,
atualmente, que seja assinado um termo de Livre Consentimento. É preciso conhecer
de que trata a pesquisa e quais os possíveis riscos envolvidos nela, para, só assim,
decidir se deseja fazer parte da experiência ou não.
Em relação aos animais, o pesquisador precisa garantir, por meio de
documentações específicas, que este não vai sofrer nenhum dano. Controvérsias
à parte, o certo é que a tradição das observações realizadas em animais foi
perpetuada em muitos países e pela comparação cuidadosa entre o comportamento
animal e o humano – levada a efeito nas investigações de Wolfgang Köhler, Howard
Liddel, Nikolaas Tinbergen, Konrad Lorenz e Otto Koehler – permitiu que se
obtivessem conhecimentos fundamentais sobre as funções psíquicas em diferentes
fases do desenvolvimento.
Muitas pesquisas são relacionadas a medicamentos, por exemplo, parte da
generalização dos resultados obtidos do estudo com animais. É do conhecimento
geral o grande incremento sofrido pela Psicologia da Criança e do Adolescente;
amplificada ao âmbito da investigação experimental, desde Karl Bühler e David Katz
até Arnold Gesell e Jean Piaget.
Praticamente toda a teoria piagetiana foi obtida a partir de observações
dos seus próprios filhos. Um estudo cuidadoso e que certamente exigiu muito do seu
espírito investigativo. Foram anos a fio para que fosse possível elaborar a sua
teoria, de contribuição inestimável também para a Psicologia Clínica Infantil, de
maneira mais específica.

PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA

É impossível falar da Psicologia da Inteligência e da Forma sem citar nomes


como: Franz Brentano (1838-1917), Christian von Ehrenfels (1859-1932) e Edmund
Husserl (1859- 1938). Estes dois grupos, que costumam normalmente serem
designados por Escola de Würzburg e de Berlim, insistiam em que a compreensão
das relações de sentido e a percepção de formas, ou seja, de formas e totalidades,

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são processos de uma espécie própria e não se podem explicar como sendo
formados por elementos, isto é, a forma não se mostra absoluta, mas existe uma
relação entre a forma e a percepção de quem vê, para que haja um sentido. Esse
pensamento explica, de certa forma, a existência da relatividade e do significado da
arte.
O valor da obra artística, uma tela, por exemplo, está no significado atribuído
pelo observador. Essa escola psicológica demonstra que o todo tem um significado
maior do que o que teria simplesmente em unirem as suas partes.
Fazendo uma analogia a esse pensamento e demonstrando-o, por exemplo,
na rotina de uma policlínica, diria que trabalhar em uma equipe interdisciplinar de
saúde tem um efeito muito superior que tentar unir conclusões de trabalhos
isolados de diversos profissionais de saúde, produzidos de forma individualizada.
Daí ser a máxima dessa Escola: “O todo é mais que a soma de suas partes”.
Os pensadores da Psicologia da Inteligência e da Forma apresentavam, além
disso, a comprovação experimental para provar a exatidão da sua tese. Não são as
representações, mas sim as suas relações que decidem o sentido de um
pensamento, afirmou Karl Bühler, um dos jovens representantes da Escola de
Würzburg, ao ser contestado por Wundt.
As percepções estruturais do pensamento são operações específicas, por
meio das quais se constroem as nossas percepções: as impressões sensoriais
não são simplesmente refletidas e ligadas umas com as outras; mas dá-se a partir
de diferentes centros cerebrais uma projeção das impressões sensoriais em
diferentes direções, o que faz com que cada pessoa interprete e veja o mundo de
uma determinada forma (PIMENTEL, 2003; PERLS, 1969).

O PRINCÍPIO DO SENTIDO

“Minha vida carece de sentido.” “É preciso dar sentido à existência.” “Menino,


dê um rumo à sua vida!” Todos certamente já ouviram frases assim, que denotam,
de certa forma, a necessidade de que a vida tenha um significado, uma direção,
senão se transformaria em um barco à deriva.

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Eduard Spranger trouxe à Psicologia o que denominava de valores


espirituais, aos poucos retornando à mesa de discussão, dentro de uma perspectiva
mais abrangente e menos reducionista. “Reivindico a palavra Psicologia para a
ciência da vida provida de sentido”, declarou Eduard Spranger, no ano de 1922,
em uma máxima verdadeiramente clássica. A palavra “sentido” é definida aqui de
modo diferente do que na Psicologia da Inteligência, para a qual sentido significa o
contexto espiritual de um pensamento.
Sentido aqui é definido como “aquilo que está integrado num todo de valores
como membro constituinte” ou, por outras palavras, provido de sentido é aquilo que
contribui para a realização de valores, o que amplia a função da Psicologia, de
apenas explicativa para algo compreensivo. Spranger, que, seguindo as ideias de
Wilhelm Dilthey (1833-1911), contrapõe uma Psicologia compreensiva à Psicologia
explicativa dos experimentalistas.
O essencial na vida humana passa a ser a orientação dos valores. Dever-se-
ia compreender a pessoa a partir do “espírito objetivo”, produtor de valores.
Na linguagem da moderna Psicologia, isso quer dizer que Spranger se ocupava
exclusivamente com as finalidades de valor e com os produtos de cultura formados
por intermédio deles, enquanto considera o estudo da realização das ações
humanas desprovidas de importância.
Porém, como Karl Bühler acentua na sua obra “A Crise da Psicologia”,
ambos os aspectos são importantes. É necessário entender que se tratam apenas
de aspectos diferentes de um mesmo ser, o ser humano. Portanto, uma dimensão
não deve excluir a outra, mas a ela se complementar. Ação e sentido são inerentes
à alma da pessoa. De nada adianta a execução de tarefas se aquilo não vier provido
de sentido e, a falta desse sentido tem promovido diversos transtornos psíquicos no
mundo do trabalho. Um terceiro grupo ocupou-se ainda de outra maneira com a
relação de sentido das finalidades.
Esse fato mostra cada vez mais claramente que o ponto de vista do sentido
ocupa um plano especial na Psicologia atual. É a relação de sentido da ação
motivada, tal como Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da Psicanálise, a viu e
descreveu – aliás, descreveu-a, no início da sua teorização dentro dos limites

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daquilo que ele definiu como libido, e que pode ser rapidamente conceituado
como energia vital.
Aos poucos a relação de sentido da ação motivada foi se ampliando, até
compreender- se a concepção cada vez mais divulgada de que todo o nosso
pensamento e procedimento visam à satisfação de determinadas necessidades e
adquirem o seu sentido a partir de tal necessidade ou desejo.
Sob esse ponto de vista, todo o procedimento é provido de sentido, uma vez
que é determinado por motivos. Mesmo o pensamento e o procedimento daqueles
que estão em
sofrimento psíquico têm sentido, isto é, têm em vista um objetivo, ainda
que o sentido dos próprios objetivos seja mal compreendido naquele momento.
No entanto, uma vez que mesmo esse sentido mal compreendido é muitas
vezes susceptível de ser interpretado pelo analista, é possível, em muitos casos,
ajudar a pessoa a adquirir uma melhor autocompreensão e a partir daí um modo
de vida mais equilibrado e harmônico. Dentro de uma perspectiva psicanalítica,
pode-se afirmar que até aquilo que se sonha é provido de sentido, visto que lhe
é inerente uma finalidade dirigida no sentido da satisfação de necessidades.
A interpretação, introduzida por Freud no pensamento psicológico como novo
princípio fundamental, deve ser utilizada sempre que a pessoa que atua oculta a si
própria e aos outros o verdadeiro objetivo dos seus anseios. Em tais casos, ela
pensa e atua simbolicamente (quer dizer, acontece inconscientemente), em vez do
objetivo verdadeiro coloca um objetivo substituto ou ilusório, para desviar a atenção
das intenções que lhe parecem contestáveis, reprováveis ou puníveis.
No princípio do sentido amplo aqui desenvolvido, encontram-se incluídos, tanto
o princípio da relação do sentido no nosso pensamento, acentuado pela Psicologia
da Inteligência, como o princípio do sentido das finalidades de valor, defendido por
Spranger. Atravessada por várias teorias, recorrendo a métodos e técnicas de
investigação diversificada, organizada em várias especialidades, a Psicologia
procura, nessa diversidade, responder às questões que desde sempre se
colocaram acerca do comportamento, emoções, sentimentos, relações sociais,
sonhos, perturbações... (NASIO, 1988).

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BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A PSICOLOGIA NO BRASIL

www.veja.abril.com.br.

É possível falar de uma Psicologia genuinamente brasileira? Até bem pouco


tempo parecia impossível até mesmo pensar sobre essa possibilidade.
O filósofo Farias Brito (1912, p. 277, apud ANTUNES, 2004) retrata bem essa
posição pessimista ao questionar que: de todo esse assunto, de tão alta
significação, o que motivaria entre eles incentivaria o interesse dos homens mais
eminentes de todo o mundo? A resposta deveria ser: nada, absolutamente nada!
Pois, para ele, realmente, o solo da intelectualidade nacional não parecia ser terreno
fértil e propício para a semente da nova Ciência.
Depois de posição tão desoladora, é importante ressaltar que se o
pensamento culto brasileiro não fosse tão fértil, a Psicologia enquanto Ciência não
teria tido a expansão tão grande que teve no início século XX, e ainda hoje continua
tendo. Poucas vezes uma Ciência cresceu tanto e em tantas áreas ao mesmo tempo
como a Ciência Psicológica, e de forma específica, a Ciência Psicológica Brasileira.
O brasileiro tem as suas peculiaridades e, se ainda hoje ainda importamos boa
parte das pesquisas da Europa e dos Estados Unidos, também já se fazem
adaptações de testes psicológicos para a realidade brasileira, o que demonstra o
franco crescimento dessa Ciência em nosso País.

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Psicologia clínica

A Psicologia enquanto profissão, por exemplo, está presente nas áreas jurídica,
clínica, organizacional, dos esportes, hospitalar, do comportamento animal, etc. Além
disso, o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a regulamentar a profissão de
Psicólogo, pela Lei 4.119.
Infelizmente, não há muitos registros daquilo que se produz no Brasil em
termos de Ciência Psicológica, pelo menos em termos proporcionais. Aprendeu-se
a supervalorizar aquilo que vem de fora e a desvalorizar a nossa produção, seja
ela artística ou científica e de que área for.
Por um lado, os profissionais de Psicologia não registram seu trabalho,
talvez por considerarem de pouco valor (seria um complexo de inferioridade?). Por
outro lado, o Brasil, pelo próprio processo de colonização, sofre daquilo que se
pode denominar “Complexo de Menos Valia”. E assim se forma uma profissão sem
registros, sem memória, sem história, aliás, noção plenamente generalizada para
outras áreas no Brasil. Infelizmente, ainda há uma grande quantidade de
conhecimentos importados, de forma especial, o conhecimento importado dos
Estados Unidos.
O grande problema é que a nossa gente e a nossa cultura são diferentes e
aquilo que se aplica para outros países muito provavelmente não se aplicará para
nosso povo. Principalmente em se tratando de questões psicológicas e emocionais,
pois se tem no Brasil, uma diversidade religiosa e cultural completamente incomum
a outros lugares.
Daí se questionar tanto a validade dos testes psicológicos, em sua grande
maioria criados em outros países e aplicados aqui.
Ao realizar um breve retrospecto da história da Psicologia no Brasil, vê-se que
no início do século XX muitos estudantes que se interessaram pela Psicologia foram
estudar no exterior, vislumbrando problemas e “soluções” típicos daqueles locais.
Ao retornarem ao Brasil, assumiram a posição de intelectuais dominadores,
colocando o Brasil na posição de “objeto de pesquisa”.
Dentro dessa perspectiva, tudo o que partia do povo, sua cultura, suas
crenças, seus valores, era menosprezado, considerado como “não científico”.
Apagar hábitos, costumes e tradições eram “papel científico”, sua “mais nobre

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função”. Decorre daí que um povo que não preserva as suas próprias raízes se
torna mais fácil de dominar, pois não reconhece a sua própria identidade. Um povo
sem história é um povo sem identidade.
E um povo sem identidade assume a identidade de qualquer outro como sendo
sua. O que não é verdade soa falso, inautêntico. Esse fato é visto muito facilmente
nos hábitos
alimentares, na linguagem, na forma de vestir... É urgente a necessidade de
nos reconhecermos como Nação e valorizar aquilo que é genuinamente nosso.
Boa parte desse problema tem a sua origem no Pensamento Positivista,
que não considera o conhecimento histórico como algo de valor científico, o que
se torna um impedimento ao próprio avanço.
Ao desvalorizar a contribuição da cultura pré-científica à evolução do
conhecimento humano, essa corrente restringe a história da Psicologia ao
desenvolvimento da Psicologia científica nos últimos dois séculos.
A exclusão do domínio historiográfico dos conhecimentos psicológicos
difundidos no seio das diferentes tradições culturais e julgados não relevantes implica
a renúncia à memória das raízes dessa disciplina presente em tais tradições e o
esquecimento das questões originais que determinaram o seu surgimento, ou
favoreceram sua influência e seu desenvolvimento em específicos ambientes
culturais. Outra consequência é a redução da Psicologia a apenas a europeia e
norte-americana, revestidas de uma pretensa universalidade (ANTUNES, 2004).
Felizmente, o que era visto como avanço científico, hoje é visto como sério
entrave ao conhecimento. Não há mais como negar o profundo nexo entre Ciência e
conhecimento histórico. Parte daí a busca incessante de vários estudiosos em
Psicologia para encontrar as verdadeiras raízes do conhecimento psicológico
brasileiro.
A partir do século XVI, o que se vê é uma combinação original entre o que
se pode denominar de psicologia indígena e conhecimentos europeus.
Como exemplos desses primeiros registros, podemos citar os seguintes
títulos: Tratados da terra e gente do Brasil (Londres, 1625), Notícias curiosas e
necessárias sobre o Brasil (Lisboa, 1668), Crônicas (Lisboa, 1661), Sermões-XV

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volumes (Lisboa, 1696), Arte de criar bem os filhos na idade de puerícia (Lisboa,
1685), Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar (Lisboa, 1722), Viridiário
Evangélico-IV volumes (Lisboa, 1724; 1734; 1746, 1755), Progymnasma literário e
tesouro de erudição sagrada e humana, para enriquecer o ânimo de prendas e a
alma de virtudes (Lisboa, 1737), Reflexões sobre a vaidade dos homens ou
Discursos morais sobre os efeitos da vaidade (Lisboa, 1752), Problemas de
Arquitetura Civil, a saber: Porque os edifícios antigos têm mais duração e resistem
mais ao tremor de terra que os modernos? (Lisboa, 1770).
Muito interessantes são os relatos sobre o comportamento social dos índios
em uma fase de pré-colonização. Eles revelam muito sobre uma forma peculiar de
Psicologia, a indígena.
De acordo com esses relatos, o amor às crianças é intenso e se alguém trata
bem aos pequenos indígenas tem dos pais aquilo de que precisar.
O papel maternal é extenso, ou seja, as mulheres das tribos cuidam das
crianças como se fossem suas mães. Depois do parto, a mulher levanta-se e ocupa-
se de suas tarefas domésticas e da roça. Enquanto o marido fica deitado na rede e
recebe as visitas e os cuidados de amigos e parentes – como se fora a mulher. Para
dar atenção à criança, o pai se afasta do trabalho e permanece em casa. A mãe
amamenta a criança exclusivamente de leite materno até um ano, um ano e meio e
em alguns casos até os sete ou oito anos.
As índias, no período da colonização, foram proibidas de amamentar seus
filhos por período prolongado – à moda das mulheres portuguesas, que entregavam
seus filhos às amas nos primeiros anos –, tendo como justificativa que, se
amamentadas, as crianças cresceriam ‘frouxas’. Atualmente, o hábito de amamentar
é amplamente estimulado e reconhecido como benéfico pela Ciência.
Há relatos daquele período de que as crianças indígenas participavam
ativamente da sociedade e da rotina da vida adulta. Os pais levavam as crianças
para junto de si quando vão trabalhar. De igual modo, os hábitos higiênicos são
aprendidos desde cedo: as crianças levantam cedo e vão ao rio, lavar-se e nadar.
Os jogos simbólicos, tão enfatizados por psicanalistas como Erik Erikson e
Bruno Bettelheim são prática comum na vida das crianças indígenas há muito tempo.

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Iniciadas na vida social e religiosa desde cedo, elas cantam, dançam e representam
nas suas tribos e as brincadeiras variadas são feitas com muita alegria. Segundo
relatos do período colonial, as crianças eram muito mais alegres que os meninos
portugueses e as brincadeiras ocorriam sem brigas nem palavrões. É prática comum
os mais hábeis ensinarem os outros a tocar e a cantar.
Não se observam práticas punitivas nas comunidades indígenas e há uma
relação de estreito afeto entre pais e filhos. Também não se observa uma divisão
radical entre infância e vida adulta, mas as regras sociais são transmitidas
gradativamente, sempre ao lado de algum adulto, pai ou mãe, o que se transforma
em uma fonte de segurança e saúde emocional.
As condições de vida social indígena aparecem como elementos que
facilitam um desenvolvimento psíquico sadio e bem integrado em todos os seus
fatores. A clareza acerca do significado e da positividade da vida, transmitida pelos
adultos, permite à infância indígena uma alegria, vivacidade, abertura à realidade,
muitas vezes relatadas pelos missionários e viajantes do período colonial, em seus
diários.
Pode-se dizer que, de modo geral, na formação da cultura brasileira, a
Psicologia, antes do advento desse saber enquanto Ciência ocupava um lugar de
conhecimento generalizado difuso, presente em diversas áreas humanas. No Brasil
do século XIX, a Psicologia se restringe na transmissão e interpretação de
conhecimentos vindos da Europa e dos Estados Unidos. Observa-se uma
descontinuidade entre conceitos e práticas de conhecimentos psicológicos do
período colonial e aqueles adquiridos no século XIX.
Esse fato se deve à intensa desvalorização de tudo o que foi aprendido
anteriormente, havendo, então, uma tentativa de apagar todo e qualquer registro
e impregnar uma “nova psicologia”, a “psicologia médica”.
Quase nada se sabe acerca das produções brasileiras. Pouco se fala das
publicações psicopedagógicas de Alexandre de Gusmão, da obra de Padre Vieira
ou do Frei Mateus da Encarnação Pinna. Nossos pensadores não são reconhecidos,
à época, como intelectuais.
Pode-se afirmar que o esquecimento praticado no século XIX a respeito da

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tradição anterior é uma das causas da “perda de memória” da Psicologia atual. A


fragmentação e a dispersão dos conhecimentos psicológicos também são uma
grande barreira à tentativa de unificação dessa Ciência, pois seus conhecimentos
nascem da Medicina e da Filosofia e perpassam a Política, Sociologia, Direito e
Religião.
Sem dúvida, as dificuldades se iniciam a partir de seu objeto de estudo: a
subjetividade humana. Apesar disso, ou até mesmo por causa disso, a Psicologia
também é reconhecida como uma Ciência altamente rica e complexa, perpassando
várias áreas humanas.

GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS ABORDAGENS DELES


DERIVADAS

LETRA GREGA PSI, SÍMBOLO DA PSICOLOGIA

INÍCIO, O ESTRUTURALISMO

Considera-se Wilhelm Wundt como fundador da psicologia moderna, por ter


criado, em 1879, o primeiro laboratório de psicologia na universidade de Leipzig (na
Alemanha). A Psicologia só se tornou uma ciência independente da Filosofia graças
a Wundt, nos finais do século XIX. Foi a partir desse acontecimento que se
desenvolveram de forma sistemática as investigações em psicologia, por intermédio
de vários autores que a essa ciência se dedicaram, construindo múltiplas escolas e

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teorias.
Wundt criou o que, mais tarde, seria chamado de Estruturalismo, por Edward
Titchener; cujo objeto de estudo era a estrutura consciente da mente, as sensações.
Segundo essa perspectiva, o objetivo da Psicologia seria o estudo científico da
Experiência Consciente por meio da Introspecção. Titchener levou a ideia da
Psicologia para os Estados Unidos da América, modificando-a em alguns pontos.
As principais limitações do Estruturalismo residem no fato de a introspecção não ser
um verdadeiro método científico incontestável e de essa corrente excluir as
psicologias animal e infantil. Essa corrente foi extinta em meados do século XX
(BADCOCK, 1976).

FUNCIONALISMO

O Funcionalismo é o modelo que substitui o Estruturalismo na evolução


histórica da Psicologia, sendo o seu principal impulsionador William James. O
principal interesse dessa corrente teórica residia na utilidade dos processos mentais
para o organismo, nas suas constantes tentativas de se adaptar ao meio. O ambiente
é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento (JAMES; DEWEY; VEBLEN,
1974).

WUNDT E O ASSOCIACIONISMO

Wilhem Wundt (1832-1920), juntamente com o seu discípulo Tichener, inicia o


caminho que irá levar a Psicologia a atingir o estatuto de ciência.
Começa por definir como objeto da Psicologia o estudo da mente: o estudo
da mente (ou consciência) faz-se ao nível do consciente do ser humano pela
análise dos elementos simples da mente, à semelhança da divisão em átomos da
realidade (MONTEIRO, 2003).
Para ele e seus seguidores (nomeadamente Edward Tichener, 1867-1927),
as operações mentais não eram mais do que a organização de sensações
elementares, procurando relacioná-las com a estrutura do sistema nervoso.

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No seu laboratório, em Leipzig, vai procurar conhecer a forma como se


relacionam e associam os elementos da consciência: é a concepção associacionista
dos comportamentos.
Para atingir esse objetivo, vai utilizar como método a introspecção (observação
interna), mas de um modo controlado: observadores treinados deveriam, no
laboratório, descrever as suas próprias experiências, resultantes de uma situação
experimental definida. Os dados eram depois relacionados e interpretados por uma
equipe de psicólogos; exemplo, após a apresentação de um estímulo visual ou som
teriam de descrever as sensações recorrendo a um conjunto definido de termos para
maior objetividade.

PAVLOV E A REFLEXOLOGIA

www.sonoma.edu/psychology/images/pavlov.gif.

Você está condicionado a fazer isto ou aquilo. Joãozinho precisa de um reforço


escolar. Os trabalhadores da empresa estão sem estímulo. Sequestradores
precisariam ser punidos no Brasil. Todos nós já ouvimos expressões desse tipo pelo
menos uma vez na vida.
Em grande parte o nosso vocabulário de base comportamentalista se deve
ao pensador Pavlov, devido a uma de suas clássicas experiências fisiologistas; e
uma das mais conhecidas é a que ele realizou com cães.

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Esse experimento pode ser descrito de forma simplista, da seguinte forma: o


cientista tocava uma sineta e em seguida oferecia alimento ao cão. Depois de
algumas vezes repetindo essa experiência ele passou a apenas tocar a sineta e
observou, usando equipamentos de laboratório, que esse simples ato estimulava as
glândulas salivares do cão, fazendo-o produzir secreção e exibir um comportamento
de esperar pela chegada do alimento. Esse comportamento poderia ser reforçado e
se tornar cada vez mais forte ou se tornar tênue até a ponto de ser extinto, a
depender das variáveis apresentadas ao sujeito.

http://animalbehaviour.net/gifs+pics/Pavlov's_dog.jpg

Os conhecimentos advindos dos experimentos de Pavlov se generalizaram e,


com as devidas adaptações, puderam ser utilizados em muitas outras áreas e
atualmente são empregados nos setores empresarial, escolar e clínico,
principalmente. Na área de adestramento animal, até hoje os princípios da
Reflexologia de Pavlov são empregados.
Pavlov continuou suas pesquisas em ritmo intenso, estudando minuciosamente
aquilo a que hoje denominamos sistema nervoso, e sistematizou um conjunto de leis
fisiológicas, o que lhe valeu o Prêmio Nobel de Medicina, em 1904. Segundo esse
cientista, é no córtex cerebral o local onde reside o espírito. É lá onde os
comportamentos nascem, se modificam e são extintos.

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Atualmente, essas ideais já não são utilizadas de forma tão radical, apesar de
muitas delas se fazerem presentes, de forma mais sutil, no chamado
neobehaviorismo; contudo, é na aprendizagem onde ganha um forte impacto. Veja o
nosso sistema de avaliações, por exemplo!
O pensamento pavloniano foi aprofundado pelo cientista J. B. Watson. Ao
reflexo condicionado de Pavlov, ele acrescentou o condicionamento denominado
operante. Era tanta a confiança de Watson que ele afirmou em certa ocasião que
bastava entregar nas mãos dele uma dúzia de crianças bem nutridas e um ambiente
favorável e ele as transformaria naquilo que ele quisesse e isso não iria depender
da raça, aptidões ou inclinações intelectuais. Da mesma forma, poderia transformar
essas crianças em ladrões ou pedintes, caso desejasse.
Essa forma de pensar e fazer a Psicologia trouxe para si um sem-número de
críticas, principalmente a de ser “reducionista”, ou seja, o pensar psicológico estaria
reduzido ao comportamento, fosse ele humano ou animal.
O fato é que, por causa desse sistema de conhecimentos sobre o
comportamento, a Psicologia pode ser reconhecida atualmente como Ciência,
embora ainda seja vista com certa desconfiança pelos pensadores mais radicais
de outras áreas, principalmente aquelas mais antigas, como o Direito e a Medicina.
É lógico que isso não se aplica a todos.
Para os behavioristas, entretanto, que se utilizavam e ainda se utilizam, do
conhecimento objetivo, todo e qualquer comportamento poderia ser medido,
quantificado, controlado, como também a possibilidade de repetir ações poderia ser
prevista.
Dentro de uma perspectiva mais radical, pode-se afirmar que a hereditariedade
não é levada em conta e o ambiente só é considerado como forma de exercer um
maior controle sobre as variáveis. Emoções não são levadas em conta. Não se cogita
o subjetivo. Contudo, houve um intenso estudo dos processos cognitivos, dando
origem em grande parte àquilo que hoje se denomina Neuropsicologia.
O pensamento Behaviorista Radical é norteado por princípios que aos nossos
olhos podem parecer estranhos, a depender da perspectiva com que observarmos
esses parâmetros. Essa corrente apregoa que todo e qualquer comportamento se

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constitui de uma resposta a estímulos. Comportamentos simples são formados por


cadeias menores e comportamentos mais complexos são simplesmente o somatório
de redes mais simples de comportamentos interligados.
O comportamento humano passa a ser visto, então, como fruto dos movimentos
musculares e das secreções glandulares, o que parece absurdo aos nossos olhos.
Watson não se resumiu à vida acadêmica, mas chegou a ser vice-presidente de uma
agência de propaganda. Dentro dessa linha de pensamento também se destacaram
nomes como Skinner, Tolman e Hull.

BEHAVIORISMO, A PRIMEIRA POTÊNCIA

arbeitsblaetter.stangl-taller.at.

A maior escola de pensamento americana surgiu no início do século XX, sendo


influenciada por teorias sobre o comportamento e fisiologia animal. A tradução do
inglês de Behavior é comportamento, portanto, o foco de estudo do
comportamentismo ou comportamentalismo (título traduzido) é o comportamento

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observável, e o condicionamento é o método utilizado nessa escola. Foi fundada


por John B. Watson (Behaviorismo Metodológico) que acreditava que o controle do
ambiente de um indivíduo permitia desencadear qualquer tipo de comportamento
desejável. Traz do funcionalismo a aplicação prática da Psicologia; o seu foco está na
aprendizagem. Segundo essa perspectiva não se pode estudar cientificamente os
pensamentos, desejos e sentimentos que acompanham os comportamentos em
estudo (WATSON, 1972).
Burrhus Frederic Skinner

www.facade.com/celebrity/B_F_Skinner

Foi influenciado, inicialmente, pelas teorias de Ivan Pavlov e Edward


Thorndike. E, posteriormente, pelas teorias do operacionismo. Foi Burrhus Frederic
Skinner o maior autor neocomportamentalista, levantando a tona seu
condicionamento operante e a modificação do comportamento (Behaviorismo
Radical).
No meio do século XX, vários autores escreveram sobre o pensamento, a
cognição. Diziam fazer parte do comportamento este pensamento, estava sendo
criada uma divisão no behaviorismo: a Psicologia Cognitiva. Alguns autores desta
escola foram: Albert Bandura, Julian Rotter e Aaron Beck. Estes falavam que o
comportamento pode ser entendido também a partir da cognição. O aprendizado

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pode existir sem a necessidade de condicionamento em laboratório, mas pela


observação e elaboração do que foi visualizado. É chamada de a primeira grande força
da psicologia (SKINNER, 2006).

GESTALT, A PSICOLOGIA DA FORMA

web.educastur.princast.es/.../191gestalt.gif

Fundada dentro da filosofia por Max Wertheimmer e Kurt Koffka, a Gestalt traz
novas perguntas e respostas para a Psicologia. Ela se detém nos campos da
percepção e na visão holística do homem e do mundo. A palavra gestalt não tem
uma tradução para o português, mas pode ser entendida como forma, configuração.
Criticava principalmente a psicologia de Wundt, que era chamada de psicologia do
“tijolo e argamassa”, pois via a mente humana dividida em estruturas.
A Gestalt preocupa-se com o homem visto como um todo, e não como a
soma das suas partes (o lema da Gestalt é justamente este: o todo é mais que a
soma das suas partes). No ano de 1951, Frederic S. Pearls cria a teoria Gestalt-
terapia, trazendo consigo a teoria de campo de grupos de Kurt Lewin.

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PSICANÁLISE
SIGMUND FREUD

www.thecjc.org/sfreud.htm

Quando se pensa em procurar um psicólogo, um emaranhado de ideias


invade a mente: tem-se a falsa impressão de que é preciso estar transtornado
emocionalmente ou mentalmente para procurar ajuda. Na verdade o psicólogo deveria
trabalhar em uma perspectiva muito mais de promoção à saúde que propriamente
no âmbito meramente curativo, mas os preconceitos em relação ao seu trabalho
muitas vezes o impedem de trabalhar dentro dessa perspectiva.
Também se imagina uma sala sombria, com móveis pretos e um divã. Atrás
dele alguém calado e de aspecto severo, fechado. Muito desse imaginário coletivo
faz parte do legado deixado por Sigmund Freud, pai da Psicanálise (1856-1939).
Na verdade nem todo psicanalista é psicólogo. Ele pode ser formado em
Medicina, por exemplo. O médico psiquiatra também pode utilizar a Psicanálise para
a elaboração de alguns conceitos.
O psicólogo, por sua vez, trabalha dentro do que denomina abordagem, que
pode ser: Humanista, Existencialista, Behaviorista ou Psicanalista, a depender da
base teórica que dá sustentação à sua prática. Isso também não quer dizer que o
psicólogo só possa utilizar-se dos conhecimentos de sua abordagem.
É cada vez maior o número de psicólogos denominados temáticos, ou seja,
aqueles que utilizam diversos arcabouços teóricos, a depender da demanda

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daquele momento. São também denominados de psicólogos ecléticos.


Sigmund Freud foi um médico psiquiatra que estudou sobre vários assuntos
e levou bem mais tempo que seus colegas para se formar, por ter utilizado boa parte
de seus anos em estudos de laboratório.
Estudou, por exemplo, temas como a fisiologia dos peixes. O seu interesse
pela Psiquiatria, entretanto, se iniciou com as descobertas de Charcot, seu futuro
mestre, e os estudos sobre histeria, considerado naquela época, doença de mulher,
principalmente daquelas que não haviam casado. O termo histeria vem de ‘útero’
e até hoje as mulheres solteiras de idade mais avançada são chamadas de forma
desprezível, de histéricas.
Freud descobriu que a histeria possuía causas emocionais e que as pessoas
nas quais eram recalcadas, ou seja, as que não extravasavam seus desejos libidinais,
poderiam sofrer de crises histéricas, inclusive homens. Essa descoberta, ao ser
proclamada em um encontro científico, causou furor nos médicos presentes, que
se retiraram, deixando o doutor Freud falando sozinho naquele encontro
internacional. Freud viu suas aulas particulares se esvaziarem de alunos. Como
também suas turmas da faculdade se tornaram pouco frequentadas.
Polêmico, mas obstinado, estudava até as três horas da manhã, e muito
material escrito acabava sendo jogado no lixo, pois já discordava de tudo aquilo.
Suas teorias iam ser reescritas por várias vezes durante a sua vida. Trabalhou com
hipnose, mas logo reconhecera a sua falta de habilidade com tal técnica e percebeu
que poderia produzir os mesmos efeitos com a técnica da associação livre, o que
daria origem à cura pela fala, ou, como ficaria conhecida mais tarde, Psicanálise.
A Psicanálise foi considerada por Freud como um conhecimento firmado em
um tripé composto por técnica, teoria e pesquisa, principalmente. A Psicanálise é
conhecida pela investigação do inconsciente e pela descoberta da sexualidade
infantil, tema polêmico até hoje. Freud não teve apenas um mestre, mas vários
nomes inspiraram sua teoria, desde Goethe a Nietzsche e costumava ler desde
Literatura e Antropologia, a livros de Biologia e Fisiologia Animal. Também tinha
uma predileção por antiguidades.
Um personagem importante da Psicanálise é seu discípulo, Carl G. Jung,

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primeiro presidente da sociedade psicanalítica. Com o avanço da teoria de Freud


em relação à sexualidade infantil, Jung, que não concordava com o que Freud
afirmava acerca do assunto,
rompe com o psicanalista e segue outro caminho, criando uma nova teoria,
denominada Psicologia Analítica.
A proposta inicial foi retirar do inconsciente o seu teor puramente sexual. Mas
Freud retifica o ex-colega, dizendo que “o ego possui várias naturezas das pulsões,
mas a pulsão sexual é a que ganha mais investimento”. Freud, inclusive, alerta que
é possível canalizar as pulsões libidinais para as artes ou a produção científica.
O conceito de inconsciente foi criado anos antes, e Freud utilizou-se desse
termo com outro sentido, encarregando-se de criar uma teoria acerca do tema. Na
Psicanálise, inconsciente significa outra ordem, com outras regras, um dos
elementos do aparelho psíquico, constituído por pensamentos, memórias e desejos
que não se encontram em nível consciente, mas que exercem grande peso no
comportamento humano.
Existem atualmente várias correntes psicanalíticas, oriundas de pensadores
que ampliaram ou discordaram da visão freudiana. Dentre esses nomes estão Anna
Freud, filha de Freud, Melanie Klein, Lacan, Bion, Winnicott, Carl G. Jung, Alfred
Adler, Erik Erikson, Carl Rogers etc. (TALAFERRO, 1996).
A Psicanálise hoje se apresenta de várias formas, que são a psicanálise
ortodoxa, a psicanálise nova (ou neopsicanálise) e a psicologia de orientação
analítica ou de orientação psicanalítica (utilizada não só por psicanalistas
formados, mas também por psicólogos não especializados), todas com algumas
peculiaridades.
A Psicanálise é considerada a segunda grande força de Psicologia, e
segundo o Conselho Federal de Psicologia Brasileiro e demais Conselhos Regionais
de Psicologia (CRPs). A Psicanálise é aceita no meio acadêmico, porém só pode
ser utilizada de forma integral com uma formação em Psicanálise, devo dizer que
ainda não reconhecida pelo MEC. Caso contrário, deve-se utilizar a técnica de
psicoterapia de orientação psicanalítica.
Para a Psicanálise, as ações humanas são orientadas, basicamente, por três

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instâncias mentais (simbólicas):


 consciente (EGO) – raciocínio, operações lógicas;
 pré-consciente (SUPEREGO) – memórias, interiorização de regras
sociais, produzem angústias, ansiedades e “pune” o EGO quando este aceita
impulsos vindos do ID;
 inconsciente (ID) – pulsões, desejos e medos recalcados. Não obedece à
lógica nem à moral. Representa os impulsos e os instintos.
Para ter acesso ao inconsciente, o psicanalista utiliza processos indiretos, tais
como:

 Hipnose
Consiste em induzir o paciente, por meio de uma sugestão intensa, a um
estado semelhante ao sono, a partir do qual é possível estabelecer a comunicação
com o hipnotizador e ser sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas
ou ser condicionado para determinada ação ou comportamento.
A hipnose é pouco usada atualmente. Sua utilização se restringe ao controle de
comportamentos de uso abusivo de álcool e drogas e só deve ser praticada por
profissionais capacitados e treinados devidamente.

Método psicanalítico, recorrendo às técnicas de:


o interpretação dos sonhos;
o interpretação de atos falhos;
o transferência, ou seja, o paciente atua, durante a sessão, em relação ao
psicanalista, como se ele fosse uma outra pessoa: pai, mãe, namorado, etc. Cabe ao
profissional trabalhar com essa “encenação” de forma a levar o paciente à cura de
seu trauma. Nesse jogo se encontram envolvidos sentimentos e emoções muito
fortes, de raiva, ressentimento, paixão...
A Psicanálise se popularizou demais, o que levou seu vocabulário a ser
utilizado de forma indiscriminada e também a graves erros de interpretação. Além
disso, várias pessoas praticantes de charlatanismo se dizem “psicanalistas”.

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HUMANISMO
CARL ROGERS

www.psychotherapie-netzwerk.de.

O enfoque da Psicanálise no inconsciente, e seu determinismo, e o enfoque na


observação apenas do comportamento, pelo behaviorismo, foram as críticas mais
fortes dos novos movimentos de Psicologia surgidos no meio do século XX. Na
verdade o Humanismo não é uma escola de pensamento, mas sim um aglomerado
de diversas correntes teóricas.
Em comum elas têm o enfoque humanizador do aparelho psíquico, em outras
palavras, elas focalizam o ser humano como detentor de liberdade, escolha, sempre
no presente. Traz da filosofia fenomenológico-existencial um extenso gabarito de
ideias. Foi fundada por Abraham Maslow, porém a sua história começa muito tempo
antes. A Gestalt foi agregada ao Humanismo pela sua visão holística do homem,
sendo importante campo da Psicologia, na forma de Gestalt- terapia. Mas foi Carl
Rogers, um psicanalista americano, um dos maiores exponenciais da obra
humanista.
Ele, depois de anos afinco praticando psicanálise, notou que seu estilo de
terapia se diferenciara muito da terapia psicanalítica. Ele utilizava outros métodos,
como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do
paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu
tratamento, portanto não era passivo, como passa a ideia de paciente, denominando
então este como cliente.
Era a terapia centrada no cliente (ou na pessoa). Seus métodos foram
usados nos mais vastos campos do conhecimento humano, como nas aulas

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centradas nos alunos, etc. Apresentou três conceitos, que seriam agregados
posteriormente para toda a Psicologia.
Esses eram a congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os
outros), a empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender
seu sentimento), e a aceitação incondicional (aceitar o outro como este é, em seus
defeitos, angústias, etc.). Erik Erikson, também psicanalista, trouxe seu estudo
sobre as oito fases psicossociais, em detrimento das quatro fases psicossexuais
de Freud, onde todas as fases eram interdependentes, e não necessariamente
determinam as fases posteriores; para ele o homem sempre irá se desenvolver, não
parando na primeira infância.
Viktor Frankl, com sua logoterapia, veio a acrescentar os aspectos da existência
humana, e do sentido da vida, onde um homem, quando sente um vazio de sentido
na vida, busca auxílio, pois não se sente confortável em viver sem sentido ou ideais.
Diz também que eventos muito fortes podem adiantar a busca pelo sentido da vida.
Tais eventos podem criar desconforto, trauma intenso, mas podem criar um aspecto
de fortaleza no indivíduo (ROGERS, 1961, 1974).

Pirâmide de Maslow

Maslow trouxe, para a Psicologia que havia fundado, estes autores,


agregando, ainda seus estudos sobre a pirâmide de necessidades humanas.

PIRÂMIDE DE MASLOW

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staff.gc.maricopa.edu/.../blackboard/MASLOW.JPG

Para Maslow, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que se


precise saciar as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo
para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades
de auto-estima. Se uma destas necessidades não está saciada, há a incongruência.
Quando todas estiverem de acordo, abre- se espaço para a auto-realização, que é
um aspecto de felicidade do indivíduo. Esta é hoje considerada a terceira grande
força dentro da psicologia. (FRICK, 1975).

PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Maslow estava insatisfeito com sua própria teoria, dizendo que faltava-lhe o
fato de o homem ser um ser espiritualizado. Para ele eram importantes a
espiritualidade e as características da consciência alterada, teoria de Stanislav
Grof. Criou então, com ajuda de outros psicólogos, uma teoria que era abrangente
nesse aspecto. Como Carl G. Jung era um estudioso dos aspectos transcendentais
da consciência, foi tomada sua teoria para incorporar a Psicologia Transpessoal.

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Psicologia clínica

A abordagem Transpessoal é, portanto, uma área da Psicologia que estuda


as possibilidades psíquicas (mentais, emocionais, intuitivas e somato-sensoriais) do
ser humano pelos diferentes estados ou graus de consciência pelos quais passa a
pessoa (para se ter ideia do que sejam estados de consciência, lembre-se que o
estado de consciência de quando se está acordado é diferente do estado de
consciência de quando se está dormindo; que o estado de consciência de quando
se resolve um problema de matemática é diferente de quando se assiste a um filme,
etc.) (JORNAL INFINITO, 2003).
Em cada um desses estados de consciência (que são vários, alguns ainda
desconhecidos) é experimentada uma forma diferente de se perceber ou interpretar
a realidade (quando estamos com raiva ou frustrados, percebemos o mundo de
uma maneira muitíssimo diversa de quando estamos apaixonados).
A Psicologia Transpessoal, portanto, volta-se para o estudo desses diversos
estados, não os encarando como contrários, mas como complementares, dando,
porém, especial ênfase àqueles estados de consciência superiores, espirituais ou
“transpessoais”. Porque, em tais estados, o sentimento de separação e de egoísmo
torna-se um segundo plano em relação a um sentimento e identificação mais ampla,
cooperativa, fraternal, transpessoal para com todos os seres vivos (consciência
crística, búdica, nirvânica, universal ou ecológica).
Segundo a Teoria Transpessoal, Francisco de Assis, Gandhi, Jesus Cristo,
Einstein, Luther King e tantos outros grandes nomes foram detentores de outra
forma de ver e sentir o mundo que o fizeram capazes de ajudar o próximo e
tornaram-se capazes de ver o mundo de outra forma. A essa capacidade eles
denominam “consciência cósmica”.
A Psicologia Transpessoal fala de vários níveis de consciência, que vão
do mais obscuro (a sombra), até o mais alto grau de consciência, a transpessoal.
Por ter seu foco na consciência e seus aspectos, foi também chamada de Psicologia
da Consciência. Seu estudo é recente e traz muitas características que necessitam
de um estudo maior (TABONE, 2005). Vale ressaltar que a Psicologia Transpessoal
ainda não é reconhecida como prática científica pelo Conselho Federal de Psicologia
e os psicólogos inscritos no Conselho não estão autorizados a tê-la como prática

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Psicologia clínica

profissional.

PSICODRAMA

“Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto,
arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos
para colocá- los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-
ás com os meus” (J. L. Moreno).
Jacobo Levy Moreno

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O Psicodrama pode ser considerado como um dos meios psicoterápicos mais


inovadores. Falar em Psicodrama nos remete a um médico romeno chamado Jacob
Levy Moreno. Ele foi o criador do Psicodrama e do Sociodrama, reverenciado
como exemplo de criatividade e dedicação à investigação psicológica e social. Ele
nasceu na Romênia, em 1892, e faleceu nos EUA, em 1974.
Foi um homem de ampla cultura e fortes ideias religiosas e filosóficas,
amante do teatro e incansável investigador do ser humano e de seus vínculos
afetivos; deixou-nos uma vasta obra escrita e um movimento psicodramático que
abrange a América, Europa e Ásia.
Em 1925, indo morar nos EUA, desenvolveu e sistematizou suas descobertas:
a socionomia, sendo dividida em sociometria, sociodinâmica e a sociatria. A
socionomia é o estudo do grupo e suas relações. A sociometria visa medir as

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Psicologia clínica

relações entre os membros do grupo, evidenciando as preferências e evitações


presentes nas relações grupais.
Utiliza como método o teste sociométrico. A sociodinâmica se interessa pela
dinâmica do grupo e utiliza como método o role-playing ou jogo de papéis. Já a
sociatria busca tratar as relações grupais e utiliza três métodos: o Sociodrama, a
psicoterapia de grupo e o Psicodrama.
Com a leitura de suas obras, muitos autores declaram que o Psicodrama
possui um grande conteúdo emocional e uma audácia renovadora, pois surgiu como
uma nova e dinâmica linha de investigação para o conhecimento e terapia dos
conflitos psicológicos.
Para o surgimento dessa teoria, Moreno desafiou críticas, rompeu com o
movimento médico da sua época, atacando os valores oficiais, conseguindo
desenvolver uma teoria baseada em uma concepção de ser humano e saúde que
tem como núcleo a espontaneidade. O otimismo sobre o vital, o amor, a catarse e
os papéis que o Eu do indivíduo vai formando (MORENO, 1980).
Essa busca pelo reencontro dos verdadeiros valores éticos, religiosos e
culturais em uma forma dramática espontânea (mais tarde, denominado como
desenvolvimento do Axiodrama) foi o primeiro conteúdo do Psicodrama. O lugar do
nascimento do Psicodrama foi um teatro dramático de Viena. Moreno declarou que
não possuía nenhuma equipe de atores, nem uma peça e que neste dia apresentou-
se sozinho, sem nenhuma preparação, ante um público de mais de mil pessoas.
Segundo ele, no palco havia somente uma poltrona de espaldar alto, como o
trono de um rei, no assento, uma coroa dourada. Surgiu com um intento de tratar
e curar o público de uma enfermidade, uma síndrome cultural e patológica que os
participantes compartilhavam no momento (Viena encontrava-se em pós-guerra, não
havia governo... a Áustria estava inquieta em busca de uma nova alma).
Mas psicodramaticamente, Moreno possuía um elenco e uma obra. Uma vez
que o público era seu elenco, e a obra era retratada pela trama demonstrada pelos
acontecimentos históricos, no qual cada um representava seu papel real.
Cada representante de um papel foi então convidado para subir ao palco, e
encenar o papel de um rei, sem preparação e diante de um público desprevenido,

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que funcionava como jurado. Mas nesse primeiro momento nada se passou.
Ninguém foi achado digno de ser rei e o mundo permaneceu sem líder.
Apesar do aparente fracasso dessa primeira representação, esse foi o marco do
nascimento de uma nova modalidade de expressão catártica que, instrumentada
pelo exercício da espontaneidade e sustentada na teoria dos papéis, viria a se
constituir o método psicodramático de abordagem dos conflitos interpessoais, cujo
âmbito natural é o grupo. Surge então, a expressão “psicoterapia de grupo”.
O Psicodrama desde seus primórdios estabeleceu um setting basicamente
grupal, com a presença do terapeuta (diretor de cena), seus egos auxiliares e os
pacientes (tanto como protagonistas como público). Aliás, a expressão, “psicoterapia
de grupo” foi pela primeira vez utilizada por Moreno.

Teoria do Psicodrama

Moreno foi capaz de dar sentido à improvisação dramática e retomar o


conceito de catarse, pois, ao ocorrer uma identificação do espectador com os atores,
ocorre uma catarse e, também, certa conscientização.
Para que ocorra essa catarse, deve existir uma espontaneidade e criatividade,
pois, caso contrário, é uma mera repetição que não trará nada de novo nem aos
protagonistas nem ao público. É na criação espontânea que se consegue o vínculo do
ser humano com o mundo.
O Psicodrama possui o conceito de espontaneidade-criatividade, a teoria dos
papéis, a psicoterapia grupal como pontos básicos da sua teoria, além de outros
como: Tele (capacidade de se perceber de forma objetiva o que ocorre nas
situações e o que se passa entre as pessoas), Empatia (tendência para se sentir
o que se sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas
pela outra pessoa.), Coinconsciente (vivências, sentimentos, desejos e até fantasias
comuns a duas ou mais pessoas, e que se dão em “estado inconsciente”) e Matriz de
Identidade (lugar do nascimento). A teoria da espontaneidade: está ligada
dialeticamente à criatividade, compreende uma fenomenologia, uma metapsicologia,
uma psicotécnica, uma psicopatologia e uma psicologia genética.

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As que possuem maiores riquezas são: a Psicotécnica ou treinamento da


espontaneidade que, ainda que pareça parado, procura resgatar o espontâneo
perdido pelo homem ao longo da sua existência, e a Psicologia Genética, quer
dizer: a criança, ao nascer, realiza seu primeiro ato criativo – é o primeiro ato de
catarse de integração. Nasce com uma capacidade criadora própria do ser humano,
que irá completando com a maturidade e com a ajuda dos outros. O primeiro ego-
auxiliar é a sua própria mãe.
Ao longo de sua infância, na medida em que vai vivendo os diversos papéis
e em contato com os agentes sociais, desenvolve essa capacidade criadora e
atrofia em maior ou menor medida, de acordo com o tipo de relações e na medida em
que as “tradições culturais” lhe sejam impostas pelos mais velhos.
Esses agentes da sociedade lhe submetem, durante o desenvolvimento,
condutas estereotipadas, repetitivas, ritualistas, muitas delas para ela e para os
demais vazias de significado, assim como também ajudam o desenvolvimento da
espontaneidade. Depende de cada caso e do meio em que vive a criança em um
determinado momento histórico-social.
O ato espontâneo está intimamente ligado ao instante, dali surge a noção do
aqui e agora. A filosofia do momento opõe-se à duração, os benefícios do instante,
do presente, em constante mudança. É lugar (lócus) onde se dá o crescimento.
Segundo Moreno, essa experiência primitiva da identidade configura o destino da
criança. Em toda essa primeira etapa, os papéis são psicossomáticos.
A segunda etapa é a do reconhecimento do Eu. A criança observa o outro (mãe)
como algo diferente dela. Integra as diferentes partes do seu corpo em uma unidade
e é a partir dali que se diferencia. É na segunda etapa que aparecem os papéis
psicodramáticos.
Moreno faz uma pormenorizada descrição da evolução da imagem do mundo
da criança, distinguindo:
1) matriz de identidade total – primeiro universo: tudo é um. As configurações
estão configuradas pelos atos;
2) matriz de identidade total diferenciada – segundo tempo do primeiro universo.
Diferenciam-se as unidades, porém têm o mesmo grau de realidade, os indivíduos,

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os objetos imaginários e os reais;


3) matriz da lacuna entre fantasia e realidade – começam a se organizar dois
mundos, o da realidade e o da fantasia. Isso, na linguagem moreniana, marca o
começo do segundo universo.
O ideal é que o indivíduo possa dominar a situação e que não desenvolva um
mundo real em detrimento da fantasia, nem vice-versa.
Teoria dos papéis: o termo “papel” é um conjunto das várias possibilidades
identificatórias do ser humano. Os papéis psicodramáticos expressariam as distintas
dimensões psicológicas do eu (self) e a versatilidade potencial de nossas
representações mentais. Nessa teoria, tomam-se os papéis como núcleos do
desenvolvimento egoico, e à medida que a criança cresce e se diferencia vai
ampliando seu leque de papéis. Alguns papéis ficarão inibidos, necessitando,
posteriormente, serem resgatados (função do Psicodrama).
Quanto a psicoterapia grupal, Moreno assim a define: “[...] a psicoterapia de
grupo é um método para tratar, conscientemente, na fronteira de uma ciência
empírica, as relações interpessoais e os problemas psíquicos dos indivíduos de um
grupo [...]” na sua concepção, todos no grupo são agentes terapêuticos, e todo o grupo
também o pode ser em relação a outro grupo.
Esse método aspira alcançar o melhor agrupamento de seus membros para os
fins que persegue. Não trata somente dos indivíduos, mas de todo o grupo e dos
indivíduos que estão relacionados a ele. Em sua relação sociológica, vê a sociedade
humana total como o verdadeiro paciente. O conceito de encontro está no centro da
psicoterapia de grupo, comunicação mútua que não se esgota no intelectual, mas
que abrange a totalidade de seu ser. O encontro vive no “aqui e agora”. Vai mais
além da empatia e da transferência. Forma um “nós”.
Moreno enumera os métodos a serem utilizados, entre os quais se destacam:
métodos de clube ou associação, de assessoramento, de conferência, de classes,
psicanalítico, visuais, discussão livre, sociométricos, de histórias clínicas, da
bibliografia, magnetofônico (sessões gravadas), da música e da dança, ocupacionais
e laboratoriais e o que se destaca é o método psicodramático.

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Método psicodramático

O método do Psicodrama usa a representação dramática como um núcleo


de abordagem e exploração do ser humano e seus vínculos. A ação, unida à palavra,
brinda o mais completo desdobramento do conflito, do drama que ocupa o
protagonista no espaço dramático.
Na cena, o indivíduo pode representar seus conflitos passados e presentes, e
também externar seus temores, expectativas, projetos e dúvidas sobre o futuro,
explorando suas relações com o presente e o passado.
Distinguem-se, no desenvolvimento da ação dramática, três momentos que
possuem, cada um, uma importância singular. A primeira fase, chamada aquecimento,
é quando se prepara o clima do grupo. Escolhem-se um tema e um protagonista e
tenta-se penetrar no maior nível de espontaneidade possível.
O segundo momento ou fase é a representação propriamente dita, a cena
dramática. Aqui ganha importância os ego-auxiliares, que serão os encarregados de
encarnar os personagens para os quais o protagonista os escolheu: os personagens
reais ou fantasiosos, aspectos do paciente, símbolos do seu mundo.
O terceiro momento ou fase é o compartilhar, é onde o grupo participa
terapeuticamente. Nessa etapa, o grupo devolve, compartilha seus sentimentos e
vivências, tudo o que lhe foi acontecendo durante a cena, às ressonâncias que
ele produziu. As diversas técnicas dramáticas utilizadas durante a representação
foram pensadas por Moreno em relação à sua teoria da evolução da criança.
Cada uma delas cumpre uma função que corresponde a uma etapa do
desenvolvimento psíquico. O diretor do Psicodrama instrumentará, em cada
situação, aquelas que pareçam mais adequadas e correspondentes ao momento
do drama, segundo o tipo de vinculação que nele se expressa.
A primeira etapa de indiferenciação do Eu como o Tu corresponde à técnica
do duplo. A segunda, do reconhecimento do Eu, a técnica do espelho. A terceira etapa
do reconhecimento do eu, a técnica da inversão de papéis. Mediante a técnica do
duplo, um eu-auxiliar desempenha o papel de protagonista. Verbal e gestualmente
complementa aquilo que, a partir desse desempenho, entende e sente que o

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protagonista não pode expressar completamente por ser isto desconhecido ou oculto,
por inibições.
Coloca-se ao lado a idêntica postura ao protagonista, fazendo seus
movimentos, funcionando como a mãe e a criança na primeira etapa. Na técnica do
espelho, o protagonista sai do palco e é público da representação que um ego-auxiliar
faz dele. Busca-se, com isso, que o paciente se reconheça em determinada
representação, assim como na sua infância reconheceu sua imagem no espelho.
O terapêutico dessa técnica consiste em que se reconheçam como próprios os
comportamentos e aspectos que lhe são desconhecidos e que importam para o
esclarecimento do conflito.
Utilizando a técnica da inversão de papéis, a mudança de papéis investiga na
cena o sentir desses personagens do mundo do paciente. Essa é a técnica básica
do Psicodrama. Existem outras técnicas dramáticas criadas por Moreno e posteriores
a ele.
Moreno, tomando do modelo teatral seus elementos, distingue, para a cena
psicodramática, elementos ou instrumentos:
1) cenário – nesse continente desdobra-se à produção e nele podem-se
representar fatos simples da vida cotidiana, sonhos, delírios, alucinações;
2) protagonista – o protagonista pode ser um indivíduo, uma dupla ou um
grupo. É quem, em Psicodrama, protagoniza seu próprio drama. Representa a si
mesmo e seus personagens são parte dele. Palavra e ação se integram, ampliando
as vias de abordagem;
3) diretor – o psicoterapeuta do grupo é também o diretor psicodramático. O
diretor do psicodrama está atento a toda informação ou dado que o protagonista dê,
para incluí-la na cena, guia e ajuda a chegar à cena com espontaneidade. Uma vez
começada a cena, o diretor se retira do espaço dramático e somente intervém se
é necessário incluir alguma técnica, dando ordens ao protagonista ou ego-auxiliares;
4) público: é o grupo terapêutico.
Moreno distingue três procedimentos, segundo o objeto de estudo, para se
abordar quando se dramatiza: Psicodrama, tratamento dos conflitos individuais;
Sociodrama, onde o objeto de estudo são os grupos sociais; Role Playing, quando

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o Psicodrama é utilizado para a formação e treinamento de papéis profissionais e


técnicos.

Psicodrama psicanalítico

O Psicodrama Psicanalítico nasceu na França, em 1944. Hoje, há uma


corrente na qual define que a cena dramática é reconhecida na função de concentrar
o drama e permitir que apareçam novos significantes. Dizem que “[...] o Psicodrama
não é a busca de certo sentido nem tampouco de um significante fundamental”.
“Por isso, deve-se evitar a interpretação que proporcione o sentido e a
perda do sentido [...]”. Conforme Anzieu, “[...] o psicodrama analítico favorece a
expressão dos conflitos por intermédio de imagens simbólicas [...]”.
Caracteriza quatro aspectos importantes no Psicodrama: dramatização dos
conflitos, comunicação simbólica, efeito catártico e natureza lúdica. Na América
Latina, a Argentina é o país pioneiro em Psicodrama. Atualmente, Brasil, México e
outros fizeram um importante desenvolvimento, sendo pertinente destacar o
Psicodrama no Brasil, que inicialmente foi desenvolvido por docentes argentinos e,
atualmente, por seus próprios docentes.
Para Osório, a teoria moreniana, que se torna pouco sólida, se a compararmos
com a teoria psicanalítica, tem, entretanto, alguns aspectos que não são
excludentes, mas que se complementam. E, em alguns casos, são parcialidades
de conceitos psicanalíticos não reconhecidos e rebatizados com outros nomes ou
trabalhados sob outros ângulos, como acontece com os conceitos de regressão e
fixação.
A regressão em Psicodrama não é obtida por meio da transferência, mas
pela cena dramática que torna presente o passado. Tele e transferência em Moreno
são conceitos herdeiros da transferência freudiana. Espontaneidade, essencialmente,
está relacionada com o conceito de libido de Freud.
O encontro, o compartilhar, a criatividade e o ato espontâneo possibilitam novos
papéis e resgatam energias perdidas. Isso levará a uma catarse de integração e
a uma catarse do público. A cena é a representação do passado, um “lugar simbólico”

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onde se revela o imaginário através das cenas atuais ou manifestas, podendo


explorar e elaborar situações conflitivas do mundo externo, encontrando sua
conexão com o mundo interno dele ou dos indivíduos, em sucessivas ações
dramáticas com cenas antigas e inconscientes.
Em suma, a cena dramática é, basicamente, a “presentificação” e
“corporização” que, por meio da representação, têm os vínculos intrapsíquicos em
sua mútua e dinâmica reestruturação com os vínculos interpessoais.
Moreno resgatou o valor das forças imanentes ao grupo. Retomou o fato
de que vivemos em grupo desde que nascemos e nossos problemas provêm desse
mundo. Que todos se ajudam em um grupo, mas nem por isso as relações hostis
estão ausentes. Afirmou que trabalhar em um grupo sem uma fundamentação
sociométrica, antropológica e microssociológica, somente com a interpretação da
análise individual, é impossível.
Mostrando que a regra fundamental é a interação livre e espontânea, e o
objetivo é favorecer a integração do indivíduo e do grupo. Considerou a transferência
como expressão da dissociação e desequilíbrio do grupo. Este se deteve no papel
de psicoterapeuta de grupo e psicodramaturgo, demonstrando uma série de
normas éticas e, científico-técnicas. Normatizaram regras e normas de grupos
como sigilo, os honorários iguais, a seleção de pacientes, a livre expressão, o
cuidado do indivíduo e do grupo, a utilização de métodos cientificamente
comprovados. Resgatam assim, muito além da comunicação verbal, o contato
corporal, motor e tátil.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

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Também conhecida como Psicologia Junguiana, é um ramo de conhecimento


e prática da Psicologia, iniciado por Carl Gustav Jung, no qual se distingue da
psicanálise iniciada por Freud, por uma noção mais alargada da libido e pela
introdução do conceito de inconsciente coletivo (JUNG, 1981).
Divergindo da perspectiva de Freud, Jung via a psique como positiva e
negativa, um repositório não só das memórias e das pulsões reprimidas, mas
também uma instância da dinâmica da divindade.
A psicologia analítica foi desenvolvida com base nos estudos de Freud e no
amplo conhecimento que Jung tinha da tradição psicológica contida na alquimia e na
mitologia. Quando Jung conheceu a obra de Freud, identificou-se com suas ideias e
logo quis conhecê-lo.
Ao se conhecerem a admiração foi mútua, pois Freud rapidamente recebeu
o jovem como seu discípulo e um dos defensores de suas ideias. Porém, essa parceria
durou pouco, pois Jung mostrava-se insatisfeito com algumas das posições de
Freud, especialmente a teoria da libido e sua relação com os traumas. Freud, por sua
vez, não compartilhava do interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes
válidas de estudo.
A Psicologia Analítica conheceu, depois da estruturação por C. G. Jung, um
grande desenvolvimento nos chamados pós-junguianos, que ampliaram a visão de

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Jung.
Merece destaque nesse desenvolvimento a Escola Desenvolvimentista, que
estudou o desenvolvimento humano desde o nascimento até a fase adulta. E que
tem como fontes a Escola Junguiana de Londres, a pessoa de Michael Fordham
(com sua obra “A criança como indivíduo”) e também a pessoa de Eric Neumann
(com a obra “A criança”).
Além dessa, há também a Psicologia Arquetípica, que é fruto do trabalho de
James Hillman, o qual explora e desenvolve ao máximo a importância dos
arquétipos na vida das pessoas. Marie-Louise voz Franz foi uma das mais
importantes colaboradoras de Jung, e após sua morte desenvolveu um amplo
trabalho abordando temas como a alquimia, a interpretação psicológica dos sonhos
e dos contos de fada.

A PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA (PSICOLOGIA CIENTÍFICA)

<www.canaldaimprensa.com.br>.

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Muito se tem discutido sobre o que vem a ser conhecimento científico. Uns
consideram que só deve ser reconhecido como Ciência aquele tipo de conhecimento
que se pode medir e quantificar. A Ciência deve auxiliar no sentido de predizer os
fatos. Todo e qualquer conhecimento que não se enquadre dentro das tabelas
estatísticas deve ser colocado fora dos parâmetros científicos.
Na verdade, o conceito de Ciência nunca foi uma unanimidade. Há várias
correntes de pensamento se debatendo entre si, como também outros tipos de
conhecimento lutando pelo reconhecimento de ser reconhecido como científico. Com
a Psicologia não haveria de ser diferente e há várias práticas alternativas se
autodenominando científicas dentro da prática psicológica.
Entre punições efetuadas pelo Conselho de Ética dos Conselhos Regionais
de Psicologia, muitas práticas hoje já são reconhecidas pelo Conselho Federal de
Psicologia. O exemplo mais claro é a acupuntura.
Mas o que vem a ser Ciência? O que poderia ser considerado científico ou não?
Quais os critérios para que um conhecimento seja reconhecido como Ciência, ao
passo que outros não o são? Qual a diferença entre pensamento e Ciência?
A grande diferença entre o ser humano dos outros animais, pelo menos até
que se prove o contrário, é que a pessoa é capaz de pensar. Pensamos ou pelo
menos deveríamos pensar antes de agir. Ainda assim há aqueles que agem por
impulso e só depois pensam naquilo que fizeram.
Existem pensamentos simples, como aqueles que nos fazem preparar o café
da manhã, levar o filho à escola e realizar tarefas como escovar os dentes e calçar
os sapatos. Algumas dessas atividades são quase automáticas e praticamente não
refletimos sobre elas.
Há, contudo, cadeias de pensamentos bem mais elaboradas e que nos fazem
parar para refletir sobre elas. Esse tipo de pensamento utiliza-se da razão e de
cadeias lógicas para fazer sentido. Utiliza-se do pensamento racional para a tomada
de decisões importantes na vida, como a escolha profissional, por exemplo.
Dentre os tipos de pensamento existem aqueles rotineiros, comuns. Crê-se
em determinadas coisas apenas porque todo o mundo crê. Fazem parte desse
universo as crendices, as benzeduras, as superstições.

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Muitas práticas são oriundas de um método denominado de tentativas e


erro. Por exemplo, muitos chás são utilizados porque uma determinada pessoa fez
uso dele e ele não fez mal, sem que houvesse um fundamento, uma explicação lógica
para tal prática.
A crença no sobrenatural é outro exemplo. As festas populares são ricas em
rituais e precisam ser respeitadas, pois fazem parte da história de um povo. Os
índios possuem uma cultura muito rica e muitas drogas utilizadas por eles já tiveram
o seu valor científico comprovado.
Todos os tipos de pensamentos humanos têm o seu valor. Mas só a partir do
momento em que se pensa sobre os próprios processos de pensamento é que se
dá início àquilo que comumente denominamos de saber científico. A Ciência se
mostra principalmente como algo racional e sistemático. A Ciência utiliza métodos
específicos, a depender de objetivos previamente traçados.
Dentro da Psicologia Científica, para efeitos didáticos, é possível dividir a sua
história em fases, desde a Antiguidade, quando já havia muito conhecimento
apreendido da experiência humana. Embora não sistematizado, até os dias
atuais, quando já existe um reconhecimento da Psicologia enquanto profissão e
Ciência e já há um volume considerável de material científico produzido.
Ao se falar em fase pré-científica, ou seja, aquela que foi do século XVI até
1879, havia rudimentos de uma psicologia ainda muito ligada à Filosofia. Essa foi
uma fase de rejeição às verdades absolutas implantadas pela igreja e de
questionamento sobre o pensar humano. A racionalidade se mostrava como traço
preponderante do pensamento, sobretudo por construir as suas bases na Grécia
Antiga, berço da civilização humana ocidental.
Cinco correntes se mostraram influentes dentro dos germes de uma futura
psicologia científica e até hoje influenciam as escolas ou abordagens psicológicas.
São elas:
 O Empirismo Crítico, que apresenta nomes de destaque como os de
Descartes, Locke e Kant. Dentro dessa linha de pensamento considerava-se fator de
suma importância que houvesse um pensamento racional, no qual fosse capaz de
quantificar e provar, por meio de experimentos, os fenômenos mentais. O termo

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mente substitui o anteriormente utilizado, ‘alma’. Essa corrente filosófica daria


origem, dentro da Psicologia, à Psicologia Experimental, que utilizaria animais de
laboratório para reproduzir possíveis comportamentos humanos.
Mais tarde, foram realizadas cirurgias mentais, com a intenção de mudar o
comportamento do sujeito. A violência, assim como a alienação mental, eram frutos
de distorções cerebrais facilmente tratáveis com cirurgias.
Dessa corrente filosófica viriam todas as linhas que tentariam reduzir o
comportamento humano a fórmulas matemáticas e estatísticas. O Behaviorismo tem
uma forte base empirista. Sua linha mais radical elimina a possibilidade de estudar
a psique humana. Apenas o comportamento observável é capaz de ser estudado
dentro de parâmetros científicos.
 Outra corrente filosófica propunha que a razão provinha do somatório de
ideias simples. Pensamento de base fundamentalmente atomista se encontra
presente até os dias atuais por intermédio, por exemplo, do nosso sistema de ensino.
Para ser considerado bom, o profissional precisa ter um profundo
conhecimento em uma determinada área. Daí decorre em cursos de especialização,
mestrado e doutorado, o que afunila a visão do todo a tal ponto que se torna
praticamente impossível manter uma visão geral sobre o assunto.
Nas rotinas do trabalho em saúde, tem se tornado uma luta incessante a
implantação do trabalho interdisciplinar, pois a formação profissional estimulou o
estudo em grades, que por sua vez se fragmenta em disciplinas e estas em unidades
de ensino. É dito ao professor que ele “não pode fugir do assunto”.
Depois, é cobrado que esse profissional trabalhe em equipe interdisciplinar.
É possível? Essa forma de ver o mundo e de atuar vem do pensamento atomista,
que tem nomes de importantes defensores como Darwin, Mill e Spencer.
 O Materialismo Científico foi outra corrente filosófica que influenciou
a Psicologia. De acordo com esse pensamento, apenas aquilo que fosse
quantificável e observável valeria como objeto de estudo científico. Fazem parte
dessa corrente, nomes como August Comte e Marx. A nossa bandeira representa
bem esse pensamento, com o lema “Ordem e Progresso”. Ficaria fora daquilo
que é considerado científico o estudo das emoções, dos sentimentos, a história e

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tudo o mais que pudesse, de alguma forma, se relacionar com a dimensão subjetiva
do ser.
 Husserl trouxe a Fenomenologia, pensamento que deu origem à
abordagem de mesmo nome, para a qual o que interessa é apenas a descrição
do fenômeno. Na abordagem originada desse pensamento, não se utiliza
classificações diagnósticas, visto que essa forma de agir dentro da Psicologia é
considerada preconceituosa para a Psicologia, ou seja, uma forma de rotular e
discriminar o ser humano.
As angústias fazem parte da experiência humana, portanto, impossível à
pretensão de querer curar as doenças. O ser humano é visto de forma única e a
dicotomia cartesiana é eliminada nessa perspectiva de pensamento, ou seja, não há
bem e mal, feio ou bonito, médico e paciente, mas um contexto que precisa ser
descrito e observado.
 O Romantismo origina uma corrente psicológica basicamente ingênua,
na qual todo o homem é essencialmente bom e está direcionado para a
autorrealização e auxílio mútuo. Se apresentar algum tipo de comportamento
reprovável, não o faz por sua culpa, mas é vítima de um sistema social injusto e
perverso, que o impede de ser bom. A abordagem Humanista deriva do
Romantismo, por compartilhar dessa perspectiva. Rosseau eternizou essa corrente
com o “Mito do Bom Selvagem”.
É considerado como período da Psicologia enquanto Ciência aquela que vai
de 1879 até os dias atuais e o seu marco inicial foi a criação do Primeiro
Laboratório de Psicologia Experimental do mundo, na Alemanha, por Wundt.
Nessa primeira fase da Psicologia enquanto Ciência, e até para afirmar-se
enquanto tal, seu estudo era baseado em fórmulas físico-matemáticas e utilizava-se
da terminologia médica, de forma mais específica, a fisiológica.
Essa fase é marcada pela busca de estruturas imutáveis e universais,
provavelmente para tentar encontrar respostas baseadas na anatomia humana a
questões de outro âmbito. Os escritos freudianos são de certa forma considerados
estruturalistas, na medida em que representam muito bem as estruturas da
consciência, em níveis de consciente, pré-consciente e inconsciente.

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Outra ramificação preocupa-se muito mais com o dinamismo, o funcionamento


mental, portanto, é denominada de Funcionalista. Baseia-se na linguagem da
fisiologia para encontrar respostas aos estudos da percepção humana.
Não diria que nessa época surgiriam as escolas ou abordagens psicológicas,
mas que as correntes filosóficas tomariam forma de pensamento psicológico, o que
seria conhecido como abordagens. Não há uma abordagem pura, mas cada
abordagem fundamenta-se no pensamento de determinados filósofos e suas escolas.
O Behaviorismo é uma das mais conhecidas abordagens psicológicas e tem
o seu norte no pensamento positivista de Comte. Sem dúvida, foi a primeira escola
organizada, fundamentando as suas estruturas no Positivismo.
Ela foi reconhecida utilizando em termos a psicofísica de Wundt, embora não
se ocupe muito em teorizar, pois já se inicia com experiências que visam entender
o comportamento humano como algo produzido por determinados condicionantes.
O comportamento torna-se, portanto, para essa Escola, fruto de pequenas
ações aprendidas ou excluídas, a partir de estímulos ambientais. Tem-se claro,
portanto, a visão atomista daquilo que seria denominado de estudo do comportamento
humano.
A Psicologia se restringe ao estudo daquilo que é observável. Destacam-se
nomes como Skinner e Watson.
Em relação à Psicanálise, ainda é questionada quanto à sua cientificidade.
Resultado claro disso é que a grande maioria dos cursos de Formação em
Psicanálise ainda não são reconhecidos pelo MEC.
Como amplamente divulgado, o pai da Psicanálise foi o médico psiquiatra
e psicanalista Sigmund Freud, no início do século XX. Duas grandes apropriações
realizadas pela Psicanálise foram a descoberta do inconsciente – ou seja, aquilo
que acaba por determinar ações do sujeito sem que se tenha acesso às suas reais
causas – e a descoberta da sexualidade infantil. Determinante da maioria das ações
e atitudes da vida adulta, a depender da gratificação ou privação da satisfação dessas
necessidades da vida infantil.
Para Freud, a libido, energia sexual, é multifocal e permeia toda a vida
psíquica do sujeito, podendo ser canalizada para vários aspectos e não apenas

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para a vida sexual em si. Esse talvez seja o maior equívoco dos críticos dessa
abordagem psicológica.
Quando Freud se refere ao falo, por exemplo, que não está se referindo ao
órgão sexual masculino, mas ao poder que ele representa. Por utilizar uma
linguagem ‘sexualizada’, reduzem sua teoria às questões sexuais. Coube a Jung
ampliar esse discurso, incluindo aí mitologia e antropologia.
Fazem parte de temas importantes da Psicanálise o Complexo de Édipo,
Inconsciente, Atos Falhos, Hermenêutica dos Sonhos, etc.
Por se tratarem de temas tão subjetivos, ainda hoje se pergunta se a
Psicanálise realmente funciona. O certo é que a Psicanálise propõe a cura pela fala
e imortalizou a figura do analista e do divã. Se tornando um importante passo para
o autoconhecimento e oportunidade rara para proporcionar um encontro com o eu
e parar em meio a tanta correria dentro desse sistema produtivo-capitalista em que
se vive.
A Psicanálise permeia áreas como a Hospitalar, discursos do cinema, das
letras, das artes, organizacional, psicodrama, escolar, ou seja, onde são realizadas
análises de algum tipo de discurso, certamente aí estará a Psicanálise.
São várias as escolas advindas da Psicanálise, dentre elas, as de: Jung, Reich,
Klein, Anna Freud, Adler, etc.
É percebida a falta de algo novo em torno do conhecimento psicanalítico, pois
o que se vê são repetições daquilo que já foi dito e feito.
Quanto à Gestalt, há desacordos quanto a se tratar de uma escola definida. Ela
é mais aceita como um conjunto de conhecimentos que veio auxiliar a Psicologia a
ter uma visão mais total do ser humano. Algo que contemplasse as várias
dimensões do ser e não apenas uma pequena parte fragmentada.
Atualmente, muito graças à Gestalt, o ser humano é contemplado, dentro
das mais diversas áreas da Psicologia, em suas dimensões físicas
(comportamentos e somatizações), social, cognitiva, emocional e até mesmo a
espiritualidade já se mostra como algo a não ser ignorado dentro das quatro paredes
de um consultório, por exemplo.
Já existem estudos científicos do benefício da fé para a proporção do

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bem-estar humano. A Gestalt utiliza ideias de Koehler, Sartre, Merleau-Ponty e


Husserl.
Um importante ramo ou área da Psicologia trabalha com o desenvolvimento
humano e baseia-se principalmente nas ideias de Piaget e Vygotsky. É a Psicologia
do Desenvolvimento, aplicável em clínicas, hospitais e escolas, principalmente.
Estudos sobre maturação cognitiva, relação entre linguagem e aprendizagem e
o papel social entre todo esse processo fizeram parte do discurso desses brilhantes
pensadores.
Suas reflexões permanecem bastante atuais e têm gerado inúmeros debates
acalorados. Enquanto para uns as ideias de ambos se excluem, para outros elas
apenas se complementam.
Carl Rogers, por sua vez, trouxe para a Ciência Psicológica a concepção
filosófica de humanismo, exaltando o ser humano como o autor mais importante da
sua própria existência. Apregoava ser a pessoa mais importante que qualquer sistema
psicológico.
Essa grande quantidade de escolas acabou gerando ferrenhos adeptos de
uma ou outra. Dar-se-ia novamente a fragmentação e as guerras entre profissionais
e estudantes, que acabariam por defender esta ou aquela posição. Isso gerou muita
rivalidade e facções. Pouco se podia perceber que a pluralidade de escolas e
pensamentos só enriqueceria o estudo da alma humana. Era necessário somar e
não dividir. Quanto mais conhecimento teórico, melhor poderia ser a prática ou as
práticas psicológicas.
Aos poucos, o sistema quase partidário dentro das academias, aquele que
forma discípulos deste ou daquele pensador, cede lugar a um novo profissional de
Psicologia, aquele denominado ‘eclético’ e ainda criticado por muitos, por ser
considerado indefinido em sua posição teórica.
Seguindo a tendência atual do saber e fazer científicos, o profissional da
Psicologia começa a atuar por temática, a depender da necessidade do paciente ou
cliente, da pessoa que procura atendimento psicológico.
É um profissional que pode ser considerado especialista e generalista ao
mesmo tempo, pois necessita ter um conhecimento muito aprofundado sobre todo o

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saber psicológico, para ser tão generalista a ponto de entender a necessidade de seu
paciente.
O psicólogo temático tem, então, a liberdade de escolher uma área de atuação
(Psicologia Jurídica ou Hospitalar, por exemplo), e a partir daí ter a liberdade de
utilizar os diversos conhecimentos de cada corrente ou escola psicológica.
O fato é que a Ciência é uma conquista recente da humanidade. Tem 300
anos e surgiu no século XVIII. Isso não quer dizer que antes disso não tenha
havido qualquer saber rigoroso, pois desde a Grécia Antiga o ser humano anseia por
um tipo de conhecimento que seja distinto ao saber comum e ao mito.
Enquanto Sócrates se preocupava com a definição dos conceitos, desejando
atingir a essência das coisas, Platão mostrava o caminho que a educação do sábio
deveria percorrer para ir do doxa (opinião) à episteme (Ciência). Entretanto, a Ciência
só se desvincula da Filosofia na Idade Moderna.
O mundo científico aspira à objetividade, pois as conclusões devem ser
verificadas por qualquer outro membro competente da comunidade científica. A
racionalidade desse conhecimento procura despojar-se do emotivo, tornando-se, na
medida do possível, impessoal.
A Ciência, apesar da busca por um conhecimento racional e verdadeiro, não é
absoluta. É apenas mais uma de tantas outras verdades. Está tão sujeita a falhas,
quanto qualquer outro tipo de conhecimento. Daí surgirem modelos científicos e até
teorias contraditórias.
É impossível admitir que um conhecimento seja neutro, pois conhecimento é
poder e o poder está atrelado às ações políticas. Daí o cuidado que se deve ter
para associar todo e qualquer conhecimento científico a uma prática ética.
Como em qualquer outra prática científica, a pesquisa psicológica visa quatro
finalidades básicas: descrição, explicação, predição e controle. A descrição é o
objetivo básico de qualquer Ciência. Os psicólogos reúnem fatos a respeito do
comportamento e do funcionamento mental, a fim de formarem quadros precisos
e coerentes desses fenômenos (DAVIDOFF, 1983).
Quando é extremamente difícil ou impossível usar estratégias diretas,
recorrem a testes, entrevistas, questionários e outras táticas indiretas que têm

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menos probabilidade de serem exatas. Depois, faz-se necessário estabelecer uma


relação de causa e efeito. Estas explicações se transformam em hipóteses.
Quanto aos princípios básicos que norteiam a pesquisa psicológica, podem ser
citados os seguintes, dentre outros:
1) precisão – os psicólogos procuram ser precisos de diversas maneiras.
Primeiro, definem claramente o que estão estudando. Segundo, tentam colocar seus
dados em forma numérica, ao invés de confiar em impressões pessoais. É possível
encontrar esses cientistas (principalmente os da linhagem positivista norte-
americana) fazendo medições em fenômenos aparentemente imensuráveis, como o
amor, a ansiedade ou a intoxicação por drogas lícitas ou ilícitas. Terceiro, após
completarem a pesquisa, os psicólogos escrevem relatórios detalhados,
descrevendo os sujeitos, o equipamento, os métodos, as tarefas e os resultados.
O relatório preciso de pesquisa permite a outros cientistas do comportamento repetir
ou replicar os estudos dos outros para ter a certeza de que são consistentes;
2) objetividade – a pesquisa científica em Psicologia se esmera para que não
ocorram distorções, pois, ao contrário de outras áreas, a Psicologia é a única em que
o objeto de estudo tem a mesma natureza do pesquisador. Ou seja, ao pesquisar
a personalidade de seres humanos, o cientista não pode perder de vista que também
é um ser humano e que não pode deixar que sentimentos como o amor e o ódio
interfiram nos seus estudos;
3) empirismo – os psicólogos acreditam que a observação direta é a melhor
fonte de conhecimento. E a especulação, por si só, é considerada como prova
inadequada. Esses cientistas não devem adiantar como evidências noções populares,
suas próprias ideias plausíveis, as especulações de cientistas eminentes ou
pesquisas de opinião a respeito deste ou daquele tópico. Todas essas estratégias
se apoiam apenas em conjecturas e não em observação direta;
4) determinismo – todos os acontecimentos devem ter causas naturais. Os
psicólogos acreditam que os atos das pessoas são determinados por enorme número
de fatores. Alguns intrínsecos (potencialidades genéticas, motivos, emoções e
pensamentos); outros extrínsecos (pressões pessoais e circunstâncias externas,
sejam ambientais ou sociais);

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5) parcimônia – ou seja, as explicações devem ser padronizadas e


ajustadas aos fatos observados;
6) tentativas – as conclusões devem ser permanentemente reavaliadas e
jamais definitivas. O psicólogo não deve ter um conhecimento como algo absoluto e
acabado, mas sempre duvidar dele.

PESQUISA EM PSICOLOGIA E BIOÉTICA

Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas bios (vida)


e ethos (relativo à ética). Segundo Diniz e Guilhem, “[...] por ser a bioética um campo
disciplinar compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos
seres humanos e dos animais não humanos, seus temas dizem respeito a situações
de vida que nunca deixaram de estar em pauta na história da humanidade [...]”.
Em muitas ocasiões, ao longo da história, abusos dos mais diversos foram
cometidos em nome da Ciência, por intermédio das denominadas pesquisas
científicas. O alvo principal para o exercício de tais experimentos eram os menos
favorecidos, os excluídos sociais: transtornados mentais, pobres, prisioneiros...
O ponto culminante desse tipo de distorção aconteceu com as ‘experiências’
do Holocausto, envolvendo inúmeros seres humanos sacrificados e que até hoje
choca todo o mundo pela crueldade e pelo abuso de poder praticado por médicos
nazistas.
A Ciência jamais deve sobrepujar o ser humano e o psicólogo também deve
estar atento a isso. O respeito ao outro deve permear toda a nossa prática. Foi
criado, a partir disso, um código limitando pesquisas com seres humanos.
Toda e qualquer pesquisa Científica não deve se colocar a serviço de
interesses financeiros ou quaisquer outros que estejam acima do bem da
humanidade. A Ciência não é neutra nem ingênua, por isso mesmo os estudiosos
devem estar atentos ao uso que podem fazer das pesquisas advindas dela. O
pesquisador precisa ter claros os possíveis efeitos sobre o outro que determinadas
descobertas podem exercer sobre a humanidade, pois o mito da neutralidade
científica é uma farsa.

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Toda pesquisa científica precisa ser controlada por rígidas normas,


principalmente aquelas que envolvam seres humanos. Van R. Porter instaurou o
termo Bioética em 1971, e desde então inúmeros progressos nesse sentido foram
feitos.
Os direitos dos seres humanos precisam ser respeitados, partindo do
pressuposto de que aquele que participa de pesquisas deve ter claros os seus objetos
e objetivos de cada estudo, como também o livre arbítrio de desejar participar da
pesquisa ou não, sem jamais ser induzido a participar. O cientista deve estar alerta ao
risco de sedução que o poder científico exerce.
No Brasil, os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisa que
envolva seres humanos estão regulados pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em
Seres Humanos, por meio da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde,
estabelecida em outubro de 1996. Essas Diretrizes foram detalhadas para pesquisas
envolvendo novos fármacos, medicamento, vacinas e testes diagnósticos por meio
de outra resolução (251/97), de agosto de 1997. Novas resoluções estão sendo
elaboradas para tratar de outras áreas temáticas especiais.
O objetivo maior da avaliação ética de projetos de pesquisa é garantir três
princípios básicos: a beneficência, o respeito à pessoa e a justiça. Nesta garantia
devem ser incluídas todas as pessoas que possam vir a ter alguma relação com
a pesquisa, seja o sujeito da pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas
onde a mesma se desenvolve e, em última análise, a sociedade como um todo.
Os cuidados éticos da pesquisa em saúde envolvem a qualificação dos
pesquisadores, o direito de informações precisas que o participante necessite obter,
a relação custo-benefício, pois os benefícios devem sempre se sobrepor aos riscos,
além de passar necessariamente por um Comitê de Ética, para avaliação a priori.
É fundamental salientar que uma pesquisa que envolva seres humanos só
pode ser realizada se absolutamente todos os outros possíveis meios tiverem se
esgotado. O sigilo deve permear todo o processo de pesquisa, para que o indivíduo
pesquisado não seja exposto de alguma forma.
Se porventura os riscos envolvidos ultrapassarem aquele previsto, todo o
processo da pesquisa deve ser imediatamente interrompido e sua metodologia revista.

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Seria ideal que o pesquisador fosse completamente indiferente aos resultados


a serem obtidos, para não correr o risco de ser tendencioso, mas nem sempre isso é
possível.
Quanto ao Comitê de Ética que é responsável pela autorização prévia da
pesquisa, devem participar pesquisadores reconhecidamente competentes, como
também representantes da comunidade, de preferência que não privilegiem algum
setor, religião ou gênero. Devem ser avaliados tanto aspectos éticos quanto a
qualificação dos respectivos pesquisadores.

PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO

PSICOLOGIA DO ESPORTE

Quem nunca se viu extasiado frente a uma jogada brilhante de Ronaldinho


Gaúcho ou Kaká? Quem nunca ficou impressionado com a paixão de uma torcida
fanática por um determinado time?
O que motiva esportistas a treinarem horas e horas a fio? A verdade é que a
profissionalização de atletas está começando cada vez mais cedo e as pressões por
resultados estão sempre maiores. Também o número de horas de treinamento testa
os limites do atleta. Saudades de casa, necessidade de adaptar-se a países
diferentes, jogadas cada vez mais duras, o que coloca a saúde do atleta sempre
em risco, e quando acidentes ocorrem, pressão para que retorne o mais breve
possível….
Todo esse ambiente favorece transtornos como depressão e ansiedade, pois
nem todo atleta apresenta estrutura emocional para lidar com a fama rápida e também
com um sem-número de frustrações, pois se sabe que o universo daqueles que ganham
cifras milionárias é mínimo.
A grande maioria vive quase que na miséria absoluta. Todo esse ambiente
favoreceu o nascimento da Psicologia do Esporte, pois o Esporte é considerado um
dos maiores fenômenos de massa e tem requerido pesquisadores das mais variadas
áreas, pois a tecnologia empregada é quase sempre a de ponta. Pesquisadores da

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Antropologia, Sociologia e Filosofia têm feito parte desse universo, como também
os das áreas da Medicina, Engenharia, Fisiologia e Biomecânica, dentre tantos
outros.
De forma mais específica, dentro da Psicologia do Esporte tem sido estudados
temas como Motivação, Agressão, Violência, Liderança e Personalidade, embora no
início os estudos tenham se restringido a apenas questões mais fisiológicas, como
o Condicionamento Reflexo, tema de base Behaviorista. A Psicologia do Esporte tem
seus primeiros registros como tal a partir do início do século XX, especificamente a
partir da Copa do Mundo de Futebol de 1958, no Brasil.
Ainda não há um arcabouço teórico específico dessa área da Psicologia e esta
acaba por recorrer a conhecimentos específicos da Psicologia Clínica e da Psicologia
Social. No Brasil, essa área de atuação do psicólogo só se torna reconhecida em
dezembro de 2000, e ainda assim apenas como uma especialidade.
Problemas vividos por outras áreas de atuação também estão presentes na
Psicologia do Esporte, pois a equipe Esportiva ainda não tem como certa a real
possibilidade de auxílio quanto ao desempenho dos atletas e resultados práticos a
partir do trabalho do psicólogo.
João Carvalhaes foi o primeiro psicólogo brasileiro de que se tem registro a
atuar na Psicologia do Esporte Brasileira. Psicometrista, trabalhou no São Paulo
Futebol Clube, na capital paulista, por 20 anos. Ele estava presente na conquista do
primeiro título mundial do Brasil, em 1958 (MACHADO, 1997; RUBIO, 1999; 2000a).
O campo de atuação da Psicologia do Esporte envolve o estudo da pessoa
praticante de esporte, seja este de caráter amador ou profissional, competitivo ou não
competitivo.
Isso inclui a avaliação, diagnóstico, intervenção ou simplesmente a análise do
contexto esportivo incluindo o comportamento do grupo ou indivíduo praticante da
atividade. Faz parte dessa perspectiva a necessidade de realizar ações
prognósticas, ou seja, de tornar predizível possíveis resultados. Isso é realizado
dentro de certa probabilidade estatística (AZEVEDO MARQUES; JUNISHI, 2000;
FIGUEIREDO, 2000; MARKUNAS, 2000; MARTINI, 2000).
Os métodos normalmente utilizados para intervenção esportiva, após análise

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diagnóstica realizada pelo psicólogo esportivo, são aqueles baseados em processos


sensoriais, sensório-motores, de pensamento, mnemônicos e volitivos como os de
ordem psicossociais.
Pode-se afirmar, então, que na Psicologia do Esporte são estudadas as
particularidades psicológicas de um grupo esportivo, buscando revelar e explicar sua
dinâmica e assim poder intervir de forma efetiva e eficaz, visando à obtenção dos
resultados desejados, fazendo fluir o melhor que cada atleta possui, em termos
potenciais, preservando a sua saúde e o seu equilíbrio psicológico.

PSICOLOGIA AMBIENTAL

A Psicologia Ambiental trata do relacionamento recíproco entre comportamento


e ambiente físico, tanto construído quanto natural. Mantém interface com áreas de
estudo tais como: a sociologia e antropologia urbana, ergonomia, desenho industrial,
paisagismo, engenharia florestal, arquitetura, urbanismo e geografia, entre outras.
Na medida em que essas áreas estudam diferentes aspectos da organização
de espaço/ambiente físico e sua relação recíproca com o ser humano. Encontra-se
frequentemente, na literatura estrangeira, o termo environment-behavior relation, para

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caracterizar esse campo de estudo, para o qual se sugere, em português, o termo


relações indivíduo-ambiente. (ARAGONÉS, 1998).
Por sua característica interdisciplinar e por ser um campo que possibilita o
estudo de fenômenosdos mais diversos, a Psicologia Ambiental utiliza uma
abordagem multimetodológica.
O que determina a escolha do método é o problema em estudo em cada
situação. Quase toda pesquisa se orienta para a resolução de um problema prático
e no meio termo procura também avançar no conhecimento teórico da área, sob o
modelo da pesquisa-ação.

PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

A Psicologia Organizacional, inicialmente denominada como Psicologia


Industrial ou Psicologia do Trabalho estuda os fenômenos psicológicos presentes
nas organizações. Mais especificamente, atua sobre os problemas organizacionais
ligados à gestão de recursos humanos (ou gestão de pessoas). A psicologia está

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muito ligada a empresas, atualmente, seja ela no bem-estar de cada um dos


colaboradores, até mesmo nas emoções geradas em um ambiente de trabalho.
Tradicionalmente, as principais áreas da Psicologia Organizacional são:
recrutamento, seleção de pessoal, treinamento, diagnóstico organizacional. A
Psicologia do Trabalho ou Organizacional consolida-se em um contexto capitalista,
sob um modelo de desenvolvimento fordista.
Fordismo:
 modo de desenvolvimento dos países capitalistas (hegemônico após a
2ª Guerra Mundial);
 envolve um regime de acumulação intensivo, associado a um modo de
regulação monopolista;
 “produção em massa de produtos indiferenciados” e um consumo em
massa, assegurado por salários elevados praticados pelas empresas e defendidos
pelos sindicatos, e pelo estado que mantém, por meio de políticas de bem-estar
social, desempregados e aposentados no mercado consumidor.
 pacto social:
 papel do trabalhador – obediência às prescrições dos
organizadores;
 consequência – aumento de produtividade;
 recompensa – manutenção de uma norma salarial e
aumentos periódicos atrelados aos ganhos de
produtividade obtidos.
 trabalhador de “chão de fábrica” – pouco especializado mal
escolarizado, muito disciplinado e qualificado a exercer sua função empobrecida.

PSICOLOGIA INDUSTRIAL

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Surge a serviço de certa forma de administração. É


marcada por apelo dos controles individuais.
Visa fornecer elementos que permitam a seleção
de trabalhadores, sua capacitação para o desempenho
das funções, a descrição detalhada do que fazem
introdução ao ambiente de trabalho, avaliação
periódica, seu crescimento hierárquico e seu
aconselhamento (principalmente quando compromete
desempenho).
A Psicologia Industrial, influenciada pela escola de relações humanas
da administração, se preocupa:
 como fazer para que os subordinados trabalhem (motivação);
 como fazer para que os chefes e supervisores tornem seus subordinados
mais produtivos (liderança);
 como divulgar as informações e decisões tomadas pela cúpula para
evitarem-se distorções e resistência (comunicação);
 prática de seleção;
 treinamento.

PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

Emergiu como resposta no âmbito da Psicologia do Trabalho à primeira


crise do Fatores que contribuíram para a crise do modelo fordista:
 surgimento da concorrência internacional (reconstrução europeia do
pós-guerra e a emersão do Japão no cenário internacional);
 rigidez do processo em massa tem dificuldade em atender mercado
consumidor diferenciado e mais exigente;
 maior qualificação e instrução dos países do centro levam à resistência
por trabalhos empobrecidos e relações hierárquicas verticais;
 surgimento de processos que permitem produção em massa de
produtos extremamente diferenciados;

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 rigidez das relações salariais fordistas;


 crise do petróleo caracteriza um aumento do custo.

Consequência da crise fordista: dissociação geográfica do fordismo –


exportação da montagem desqualificada para países estáveis do terceiro mundo.

Paralelo com a Psicologia Organizacional:


 modificou-se para dar suporte ao processo de mudança organizacional;
 organizações deveriam atender às novas demandas do mercado onde iriam
se inserir;
 organizações deveriam aprender a lidar com trabalhadores de cultura
diferente.

Função dos psicólogos:


 colaboração no diagnóstico organizacional;
 pesquisas de clima e cultura organizacional;
 levantamento de necessidades de treinamento;
 análise do comportamento dos recursos humanos;
 utilização dos traços de personalidade à seleção profissional.

Psicologia Organizacional X Ergonomia:


 adaptação do trabalho ao homem;
 envolve aspectos como a fisiologia, antropometria, percepção, acidentes
de trabalho, fadiga, tecnologia, ambiente físico, ambiente psicossocial, organização
do trabalho, postos de trabalho e produtividade.

Psicologia Organizacional X Qualidade de Vida no Trabalho:


 fruto de uma ampliação de papel do movimento sindical nos países do
centro;

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 associada a uma escolarização maciça da classe trabalhadora;


 criam-se:
 programas de estresse laboral – visam reduzir desgaste
físico-psíquico do trabalhador;
 qualidade de vida no trabalho, orientada em direção
à satisfação no trabalho.

Funções de recursos humanos:


 antes universais, passam a ser vistas como políticas e programas de
recursos humanos;
 técnicas e concepções podem ser alteradas e modificadas.

Articulação entre diversos conhecimentos e a Administração


 psicanalítica, medicina psicossomática e situações de trabalho –
nasce a “Psicopatologia do Trabalho”;
 Psicopatologia do Trabalho – estuda o sofrimento, conceito situado entre
a doença mental propriamente dita e a saúde mental, em contraponto à Organização
do Trabalho;
 transcende-se à noção de estresse organizacional e procura analisar
também neuroses e psicoses em relação ao trabalho e à organização, tendo em
vista sua prevenção.

PSICOLOGIA HOSPITALAR

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Definição:
 é um ramo da Psicologia que se diferencia dos demais, por pretender
principalmente humanizar a prática dos profissionais de saúde dentro do contexto
hospitalar (BRANDÃO, 2001);
 a partir da Psicologia Hospitalar, a própria Psicologia redefiniu conceitos
teóricos na tentativa de uma melhor compreensão da somatização, suas
implicações, ocorrências e consequências.

Histórico da Psicologia Hospitalar no Brasil:


 1054 – Matilde Neder dá inicio à Psicologia Hospitalar no Brasil,
desenvolvendo uma atividade na Clínica de Ortopedia e Traumatologia da Universidade
de São Paulo (USP);
 1974 – Belkis Wilma Romano Lamosa implanta o Serviço de Psicologia no
Instituto do Coração, na Faculdade de Medicina da USP, que só abriria para a
população em 1977;
 1984 – Criado o Departamento de Psicologia da Sociedade de
Cardiologia do Estado de São Paulo sob a coordenação de Belkis W. R. Lamosa. A
partir daí todos os Congressos da Sociedade Brasileira de Cardiologia contavam
com a presença da Psicologia em sua programação Científica;
 1993 – Criado o Departamento de Psicologia Aplicada à Cardiologia da
Sociedade Brasileira de Cardiologia-DF sob a Coordenação de Lúcia Miranda;
 2002 – Primeira Turma da Disciplina Optativa de Psicologia Hospitalar–
UniCEUB...

Psicologia Hospitalar:
 o psicólogo se descobre sendo instrumento de alívio de uma das facetas
mais sofridas da realidade humana, a morte;
 o psicólogo hospitalar descobre de modo concreto um dos preceitos
máximos da Psicologia, que é a cura por meio da palavra, a cura da dor provocada
pelo sofrimento físico e emocional.

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PSICOLOGIA ESCOLAR

O interesse pela educação, suas


condições e seus problemas, foi sempre
uma constante entre filósofos, políticos,
educadores e psicólogos.
Com o desenvolvimento da
Psicologia como Ciência e como área de
atuação profissional, no final do século XIX,
várias perspectivas se abriram, fato que
também ocorreu à chamada Psicologia
Educacional (MACHADO, 2004).
Durante as três primeiras décadas do século XX, a Psicologia Aplicada à
Educação teve enorme desenvolvimento. Nos EUA, destacava-se a necessidade de
um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a
educação.
Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o
estudo e a medida das diferenças individuais; e a psicologia da criança.
Até a década de 50, a Psicologia da Educação aparece como a ‘rainha’ das
ciências da educação.
Seu conceito: uma área de aplicação da Psicologia na Educação. A Psicologia
Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado com a natureza, as
condições, os resultados e a avaliação e retenção da aprendizagem escolar. Ela
deveria ser uma disciplina autônoma, com sua própria teoria e metodologia.
Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da
aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante
a primeira metade do século XX. Prenuncia-se uma crise.
Surgem outras disciplinas educativas tão importantes à educação quanto a
Psicologia, e esta precisa ceder espaço.
Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar que conserva até hoje.
Não mais é considerada como a Psicologia Aplicada à Educação. Atualmente,

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a Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia como da


Educação, e caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas e
fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico.

Conceito de Psicologia da Educação:


Quando se fala, hoje, em ‘Psicologia da Educação’, vários termos são utilizados
indiscriminadamente como sinônimos, tais como: Psicopedagogia, Psicologia Escolar,
Psicologia da Educação, Psicologia da Criança, etc. A lista poderia ser alongada.
Essa imprecisão na linguagem, e essa confusão entre disciplinas ou
atividades não são exatamente passíveis de sobreposição, pois cada qual tem suas
definições e limitações.
A Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das
situações da educação, sob a ótica psicológica, assim como as relações existentes
entre as situações educacionais e os diferentes fatores que as determinam.
Seu domínio é constituído pela análise psicológica de todas as facetas da
realidade educativa e não apenas a aplicação da Psicologia à Educação. Seu maior
objetivo é constatar ou compreender e explicar o que se passa no seio da
situação de educação. Por isso, tanto psicólogos quanto pedagogos podem possuir
tal especialização profissional.
A Psicologia da Educação faz parte dos componentes específicos das
Ciências da Educação, tal como a Sociologia da Educação ou a Didática. Compõem
um núcleo, cuja finalidade é estudar os processos educativos.
Atualmente, rejeita-se a ideia de que a Psicologia da Educação seja resumida
a um simples campo de trabalho da Psicologia; ela deve, ao contrário, atender
simultaneamente aos processos psicológicos e às características das situações
educativas.
Ela estuda os processos educativos com tripla finalidade:
1) contribuir na elaboração de uma teoria explicativa dos processos
educativos – nível teórico;
2) elaborar modelos e programas de intervenção – nível tecnológico;
3) dar lugar a uma práxis educativa coerente com as propostas teóricas

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formuladas –nível prático.

Definição de Psicopedagogia:
Especialização dentro da Pedagogia e/ou Psicologia que trata dos distúrbios
de aprendizagem (crianças que possuem dificuldades para aprender).

Definição de Psicologia da Criança:


Também chamada de Psicologia Evolutiva ou Psicologia do Desenvolvimento
Humano, estuda as leis gerais da evolução da criança, as sucessivas etapas de seu
desenvolvimento nas quatro grandes áreas: cognitiva, afetiva, social e
psicomotora.

Aprendizagem Informal e Aprendizagem Formal

Conceito geral de aprendizagem:


Aprendizagem é a aquisição de novos comportamentos, que são
incorporados ao repertório individual de cada pessoa, que deverá apresentar,
desse modo, capacidades e habilidades não existentes anteriormente. Além de
adquirir comportamentos novos, por meio da aprendizagem, uma pessoa poderá
também modificar comportamentos anteriormente adquiridos (ROCHA).
Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já
maturo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma
mudança de comportamento em função da experiência; envolve os hábitos que
formamos os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais,
além dos fenômenos que ocorrem na escola. (JOSÉ; COELHO)
“A aprendizagem é parte de um processo social de comunicação – a
educação” – e apresenta os seguintes elementos:
 comunicador ou emissor – professor, enquanto transmissor de
informações ou agente do conhecimento. O comunicador tem uma participação
ativa no processo educativo, devendo estar motivado e ter pleno conhecimento da
mensagem que irá transmitir a seus alunos;

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 mensagem – conteúdo educativo, conhecimentos e informações a serem


transmitidas. A mensagem deve ser adequada, clara e precisa para ser bem entendida;
 receptor da mensagem – aluno. O receptor não tem um papel passivo;
deve ser um construtor crítico dos conhecimentos e informações que lhe são
transmitidos;
 meio ambiente – meio escolar, familiar e social, onde se efetiva o
processo de ensino-aprendizagem. O meio ambiente deve ser estimulador da
aprendizagem e propício ao bom desenvolvimento do processo educativo (DROUET).

Aprendizagem significativa:
É interessante destacar que não basta apenas ‘ensinar’; é preciso
oportunizar aos nossos educandos uma aprendizagem significativa. Ou seja, para
que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie
cada vez mais o potencial do educando, é
necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida,
sendo capaz de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento.
“Uma aprendizagem mecânica, que não vai além da simples retenção, não
tem significado nenhum” (JOSÉ; COELHO).

É possível medir o nível de aprendizagem?


Como a aprendizagem se concretiza em termos de comportamento, para
avaliar o que alguém aprendeu é preciso observar o seu desempenho.
Essa é a concepção das escolas mais tradicionais, onde a ‘prova’ era a única
capaz de verificar o aprendizado, inferindo sobre sua ocorrência. Mas será essa a
melhor e mais fidedigna maneira de verificar o aprendizado?
Atualmente, têm-se realizado importantes mudanças no modo de pensar em
relação à aprendizagem escolar, tendo como resultados esforços para combinar
várias interpretações. A prova já não parece mais tão fidedigna assim, pois ela pode
representar uma mudança temporária de comportamento e não uma mudança
duradoura.

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Curva representativa de aprendizagem:


Estamos permanentemente em estado de aprendizagem. O declínio da curva
se dá porque começa a haver um enfraquecimento neuro-hormonal no indivíduo.
Devido a esse enfraquecimento alguns envelhecem mais cedo, enquanto outros
permanecem perfeitamente lúcidos até uma idade muito avançada.

Ensino X Instrução:
 ensinar – fazer com que as pessoas aprendam; fazer com que outros
saibam, adquiram conhecimentos ou mudem atitudes. A aprendizagem é seu produto
final;
 instruir – manipular deliberadamente o ambiente de outros, para torná-lo
capaz de aprender, sob condições específicas (aprendizagem escolar). Esse é um
conceito ultrapassado.

Dessa diferença entre ensinar e instruir pode-se dizer que existem dois tipos de
aprendizagem: informal e formal.

A aprendizagem e a Psicologia da Educação – Aprendizagens Informal e


Formal:
 Aprendizagem Formal – processo que é direcionado, orientado e
previamente planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução;
 Aprendizagem Informal – processo que é de natureza incidental, não
dirigido, e carente de controle. Resulta da experiência no ambiente de vida (fora
da escola); advém do ensino. A Psicologia da Educação exerce seu papel mais
relacionado à aprendizagem formal.

Modelos de ensino formal:


Um modelo de ensino formal inclui um conjunto de procedimentos para que o
ensino se realize.
Pode resumir-se em seus componentes fundamentais: professor, aluno e
conteúdo. Existem quatro modelos básicos:

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 modelo clássico – ênfase dada no professor, enquanto um transmissor


de conteúdo. A educação consiste em transmissão de ideias selecionadas,
organizadas e não de acordo com o interesse do aluno. O aluno é apenas um
recipiente passivo;
 modelo tecnológico – ênfase na educação como transmissora de
conteúdos; o conteúdo é o centro do processo. O aluno é um recipiente de
informações. A educação se preocupa com aspectos observáveis e mensuráveis e o
professor é o responsável por essa concretização;
 modelo personalizado – ênfase no aluno. O ensino se processa em
função do desenvolvimento e interesse dos alunos. A educação é um processo
progressivo e o professor oferece assistência ao aluno, enquanto um facilitador da
aprendizagem;
 modelo interacional – apresenta um equilíbrio entre os componentes do
modelo. O professor cria um clima de diálogo e troca experiências e valores com
seus alunos. O conteúdo consiste na análise crítica de problemas reais e sociais. O
aluno é ativo em sua aprendizagem.

Domínios da Aprendizagem:
A aprendizagem abrange três domínios fundamentais: intelectual ou cognitivo;
afetivo- social; sensório-psiconeurológico.

Domínio intelectual ou cognitivo (inteligência humana)


A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos à
aprendizagem humana.
Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a ele;
desenvolve-se por meio de fases, ao longo da vida, que se sucede em uma mesma
ordem, mas devido às diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades
diferentes para cada pessoa, dependendo do ritmo de desenvolvimento.

Domínio afetivo-social (emoções, sentimentos e aspectos psicossociais)


As pessoas são todas diferentes e únicas. As diferenças são determinadas

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pelas influências genéticas, bioquímicas de seu próprio organismo e por estímulos


do ambiente em que vivem, bem como pela interação de todas as experiências
sociais que tiveram desde o nascimento. A personalidade de cada indivíduo vai se
formando, se desenvolvendo; portanto, o aluno que chega à escola ou universidade
já possui sua personalidade bem definida.
As características psicológicas momentâneas, tais como o humor, as
emoções e os sentimentos, também são domínios fundamentais à aprendizagem
humana. Da mesma forma, certo amadurecimento social (relacionamento
interpessoal e intrapessoal) é elemento igualmente importante nesse processo de
ensino-aprendizagem.
O sensório-psiconeurológico (sensações, desenvolvimento neuropsicológico
e maturação neurológica).
A integração das funções neuropsicológicas é fundamental à aprendizagem.
Para tanto, a estimulação é comprovadamente importante, já que crianças que
viveram seus primeiros anos de vida em ambientes pobres de estímulos sofreram
danos graves de desenvolvimento, principalmente em seus elementos sensoriais
(audição, visão, tato, gustação, olfato), neurológicos (maturação neurológica),
psicomotores (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio) e linguísticos (fala).

Princípios da Aprendizagem:
 1º princípio: “universalidade” – a aprendizagem é coextensiva à própria
vida, ocorre durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Na vida humana a
aprendizagem se inicia antes do nascimento e se prolonga até a morte;
 2º princípio: a aprendizagem é um processo constante e contínuo;

 3º princípio: “gradatividade” – a aprendizagem é gradual, isto é, aprende-


se pouco a pouco;
 4º princípio: “processo pessoal/individual” – cada indivíduo tem seu ritmo
próprio de aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de
ação, irá constituir sua individualidade. Por isso, tem fundo genético e também
ambiental, dependendo de vários fatores: dos esquemas de ação inatos do indivíduo;

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do estágio de maturação de seu sistema nervoso; de seu tipo psicológico


constitucional (introvertido ou extrovertido); de seu grau de envolvimento; além das
questões ambientais;
 5º princípio: “processo cumulativo” – as novas aprendizagens do indivíduo
dependem de suas experiências anteriores. As primeiras aprendizagens servem de
pré-requisitos para as subsequentes. Cada nova aprendizagem vai se juntar ao
repertório de conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui indo construir
sua bagagem cultural;
 6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” – esse processo de
acumulação de conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo
reorganiza suas ideias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de
valor.

Fatores da aprendizagem:
 saúde física e mental – para que seja capaz de aprender, a pessoa deve
apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde, com seu
sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações na área física, como
na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da aprendizagem.
Febre, dores de cabeça, disritmias (ausências mentais) são exemplos disso;
 motivação – é o fator de querer aprender; o interesse é a mola
propulsora da aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos:
para satisfazer a sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia;
por ser estimulada pelos órgãos dos sentidos, por meio de cores alegres; por sentir-
se inteligente e bem consigo mesmo ao resolver uma atividade mental; por sentir
necessidade de conquistar uma boa classificação na escola (status social e pessoal,
admiração);
 prévio domínio – domínio de certos conhecimentos, habilidades e
experiências anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que não o
possuem;
 maturação – é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do
organismo, levando a padrões específicos de comportamento. a maturação

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neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma sequência (leis céfalo-caudal


e próximo-distal). A maturação cria condições à aprendizagem, havendo uma
interação entre ambas;
 inteligência – capacidade para assimilar e compreender informações e
conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses conhecimentos; para
criar e inventar coisas novas, com base nas já conhecidas; para raciocinar com lógica
na resolução de problemas;
 concentração e atenção – capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa.
Desta capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender;
 memória – a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à
aprendizagem, pois quando a pessoa precisar de um conhecimento, ela deverá ser
capaz de resgatá-lo da memória, usando os conhecimentos anteriormente
adquiridos. No entanto, quem aprende está sujeito a esquecer o que aprendeu. O
esquecimento se dá por vários motivos: pela fragilidade ou deficiência na
aprendizagem, causada por estudo ineficiente, falta de atenção; pela tentativa de
evocação do fato memorizado por meio de um critério diferente do usado na fixação
da aprendizagem; pelo desuso das informações; por um componente emocional que
não permite a memorização da informação ou a ‘esconde’ no subconsciente.

Fatores que influenciam na aprendizagem:


A aprendizagem é produto de uma interação complexa e contínua entre
hereditariedade e o meio ambiente. Esse processo pode ser influenciado tanto na vida
pré-natal como na vida pós-natal. As causas podem ser inúmeras: químicas, físicas,
imunológicas, infecciosas, familiar, afetivas e socioeconômicas.

Fatores genéticos ou herança:


Os elementos hereditários que influenciam na aprendizagem são chamados
de fatores genéticos e encontram-se na inscrição do programa biológico da pessoa
– herança. Está presente em toda parte: determina o grau de sensibilidade dos
órgãos efetores aos estímulos indutores; condiciona o aparecimento de doenças
familiares capazes de prejudica r a aprendizagem (insônia, depressão, síndrome

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de down, asma) e ainda pode indiretamente intervir nos fatores ambientais,


garantindo maior ou menor resistência do organismo aos agravos do meio.

Fatores neuroendócrinos:
O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino.
Podemos considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens,
controlando a função da glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios
de todas as glândulas do organismo e possibilitando à criança explorar seu potencial
genético, de desenvolvimento e de aprendizagem. Neuro-Hormônio
Adenocorticotrófico (ACTH): é liberado pelo hipotálamo; sua secreção acompanha
um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral intrínseco, ligado a alteração de
luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional.

Fatores ambientais
O meio ambiente no qual a pessoa está inserida exerce influências
particularmente poderosas, contribuindo positivamente para a realização do plano
genético; ou negativamente, apresentando obstáculos. O ambiente compreende tanto
condições da vida material, estando em primeiro lugar a alimentação e sua utilização
(nutrição), quanto pelo ambiente físico (socioeconômico, estilo de vida) e o ambiente
familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação afetiva
primária e o estímulo materno.
Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é
normal e favorável pode-se calcular que 80% a 90 % da variabilidade natural da
espécie humana, nos limites da normalidade, se realizam segundo o programa
genético pré-determinado, entretanto, quando o meio é desfavorável e heterogêneo,
a hereditariedade pode cair a 60%.

Nutrição
Em relação à alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a
qualidade desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao

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crescimento e à aprendizagem. A alimentação saudável é a balanceada, com


proteína suficiente, além da presença de hidratos de carbono, gorduras, sais minerais
e vitaminas. É preciso ter presente que só o crescimento consome 40% das calorias
fornecidas à criança.
Deve-se fornecer energia à criança para atender às necessidades de
metabolismo basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda calórica pelos
excretos; atividade muscular; crescimento. Para que a aprendizagem também seja
beneficiada, a nutrição do indivíduo deve ser balanceada e saudável. Essa energia
é, então, transmitida por meio dos macronutrientes: vitaminas; proteínas; hidratos
do carbono; sais minerais; gorduras.

Dois aspectos relacionados à alimentação que exercem influências:


 a superalimentação – aceleração e envelhecimento precoce do
crescimento;
 a subalimentação – quando é global (fornecimento calórico abaixo de
1/3), o crescimento é bloqueado de forma completa. Quando a sobrevida é possível,
se traduz pelo aspecto clínico de marasmo. Quando se refere especificamente sobre
a proteína, continuando o fornecimento calórico global tolerável, o crescimento
estatural é bloqueado – desnutrição proteica.

Variáveis sócio-econômico-culturais
As variáveis socioeconômicas exercem importante influência: renda per capita,
a idade dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e saneamento,
escolaridade, higiene; cultura dos pais (influencia na alimentação da criança).
Dada a melhoria nas condições de vida – tais como a urbanização, melhoria
nos cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos
restritivo, entre outros fatores –, existe uma forte tendência para que as crianças das
gerações que nos sucedem alcancem uma maturação mais cedo. Essa tendência de
aceleração secular pode ser vista nos estudos de Monteiro (1996), que demonstram
que as crianças brasileiras estão maturando cada vez mais cedo, em todas as classes
sociais, onde as regiões Sul e Sudeste do país são as que mais crescem.

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Família e os fatores psicossociais:


Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta
elementos diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural
segundo o nível intelectual, os conhecimentos adquiridos por intermédio dos pais, a
herança dos costumes, etc. Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da
mãe com a criança desde os primeiros instantes da vida.
A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o
relacionamento da mãe e, consequentemente, a qualidade de sua conduta com a
alimentação, proteção física, estímulo psíquico e cultural da criança. A carência
afetiva consiste na falta de carinho e de solicitação afetiva materna, perturbando
ou mesmo impedindo o vínculo mãe e filho, determinando o aparecimento de uma
síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento neuropsicomotor, no
crescimento e no estado emocional, e por consequência, na aprendizagem.

O professor e o processo de ensino-aprendizagem:


Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem (sala de aula), o
professor poderá vir a assumir vários papéis sociais.
A Psicologia da Educação, após longos anos de pesquisa a respeito desse
assunto, identificou alguns papéis claros, assumidos por professores em seu trabalho
diário junto a uma classe de alunos.

Grupo de papéis negativos:


 bode expiatório – sente-se alvo de hostilidades, recusado por seus alunos;
perde sua estabilidade emocional. Requer uma grande dose de segurança interior
para aceitar essa situação e ainda permanecer no posto. Esse professor poderá ter
dois tipos de comportamento: a contra-hostilidade e a necessidade de constante
submissão, para com a vontade de seus alunos para ser aceito;
 inspetor e disciplinador – sente-se o distribuidor e o executor da justiça;
valoriza desempenhos, classifica alunos, promove-os e rebaixa-os. É o grande
responsável pela conduta em sala de aula, faz o papel de inspetor. Julga o certo

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e o errado, administrando recompensas e punições.

Grupo de papéis autoritários:


 substituto da autoridade paterna – assume o papel de orientador dos
alunos, orientando a todos de igual maneira. Não é nem paternalista demais,
nem rígido demais. Mantém um bom e equilibrado nível de relações afetuosas com
todos;
 fonte de informações – sua função é transferir conhecimentos para os
alunos; é aquele que sabe. Orienta-se em termos acadêmicos em sua abordagem.
Forja uma concepção passiva do aluno quando se vê como o único que sabe tudo;
 líder de grupo – professor que se coloca como líder. Pode assumir a
liderança do grupo de duas formas: autocrática ou democrática, ambas envolvem
o sistema de status no grupo;
 cidadão modelo – sua função vai além de transmitir conhecimentos;
coloca-se como mentor moral, ético, social e político de seus alunos. Dá sempre bom
exemplo de comportamento social, utilizando-o para ensinar. Não separa sua vida
privada da profissional.

Grupo de papéis de proteção:


 terapeuta – é um orientador e higienista mental do grupo; responsável pela
prevenção e ajustamento de problemas, além de promotor de um meio favorável
à aprendizagem; aceita as diferenças e promove aulas com atmosfera de
aceitação emocional. Acredita que a experiência pessoal e todos os aspectos da
vida afetam a aprendizagem;
 amigo e confidente – é amigo e caloroso, convidando a todos a
confidências e a participar das dificuldades do grupo. Leva tudo ao plano da amizade
pessoal. É acessível e compreensivo, deixando o aluno contar suas dificuldades e
problemas em um meio neutro. O excesso ocorre quando o professor usufrui
satisfação primária à resposta afetiva do aluno para com ele. Gera-se um conflito
entre o papel de professor e de amigo.

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PSICOLOGIA JURÍDICA

A Psicologia Jurídica, também chamada de Psicologia Criminal ou Psicologia


Judiciária, consiste na aplicação dos conhecimentos psicológicos ao serviço do
Direito. Dedica-se à proteção da sociedade e à defesa dos direitos do cidadão, por
meio da perspectiva psicológica. Juntamente com a Psicologia Forense, constitui o
campo de atuação da Psicologia conjuntamente com o Direito.
Esse ramo da Psicologia dedica-se às situações que se apresentam
sobretudo nos tribunais e que envolvem o contexto das leis. Desse modo, na
Psicologia Jurídica, são tratados todos os casos psicológicos que podem surgir em
contexto de tribunal. Dedica-se ao estudo do comportamento criminoso.
Clinicamente, tenta construir o percurso de vida do indivíduo criminoso e
todos os processos psicológicos que o possam ter conduzido à criminalidade,
tentando descobrir a raiz do problema, uma vez que só assim se pode partir à
descoberta da solução. Descobrindo as causas das desordens, sejam elas mentais
e/ou comportamentais (criminosas, neste caso), também se pode determinar uma
pena justa, tendo em conta que estes casos são muito particulares e assim devem ser
tratados em tribunal.
Essa ciência nasceu da necessidade de legislação apropriada para os
casos dos indivíduos considerados doentes mentais e que tenham cometido atos
criminosos, pequenos ou graves delitos. A doença mental tem que ser encarada a
partir de uma perspectiva clínica, mas também do ponto de vista jurídico.
Um psicólogo formado nessa área tem que dominar os conhecimentos que
dizem respeito à Psicologia em si, mas também tem que dominar os conhecimentos
referentes às leis civis e às leis criminais. Deve ser um bom clínico e possuir um
conhecimento pormenorizado da Psicopatologia. Podem-se encontrar peritos nessa
área em instituições hospitalares, especialmente do tipo psiquiátrico.
A Psicologia Criminal realiza estudos psicológicos de alguns dos tipos mais
comuns de delinquentes e dos criminosos em geral, como, por exemplo, os
psicopatas. De fato, a investigação psicológica dessa área da Psicologia apresenta,
sobretudo, trabalhos sobre homicídios e crimes sexuais, talvez devido à sua índole

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grave e fascinante.

Psicologia Jurídica em linhas gerais


Como visto anteriormente, o Positivismo ditava as regras da Ciência do final
do século XIX e início do século XX. Contando com expoentes como Durkheim e
Comte, transferia o método das Ciências naturais para as áreas humanas,
privilegiando os exames criminológicos, laudos e testes, itens indispensáveis ao
psicodiagnóstico.
Se for realizada uma análise pormenorizada da realidade atual, verificar-se-á
que ainda hoje os exames laboratoriais ainda mantêm o status de científico por ter
em seu poder provas ditas ‘materiais’. Em detrimento de outras avaliações mais
subjetivas. Ao psicólogo ainda é cobrado algo mais concreto, mas como tratar os
seres humanos, complexos pela sua própria essência, com as mesmas técnicas
empregadas por aquilo que é exato, quantificável?
Mas era essa a proposta do Positivismo Comteano. A Psicologia Jurídica,
nomeada como Psicologia do Testemunho, era responsável por provar a
fidedignidade do relato, ou testemunho, por intermédio de instrumentos específicos,
o que só estimulou ainda mais o crescimento da Psicologia Experimental. Quem
ainda não ouviu falar sobre a máquina que detecta mentiras?
Era o impulso que faltava para que fossem realizados inúmeros estudos sobre
memória, sensação e percepção, o que aumentou ainda mais a interface entre a
Psicologia e o Direito. Os instrumentos da Psicologia legitimam, de certa forma, as
práticas jurídicas, ratificando, ou não, as suas tomadas de decisão.
Cabe ao psicólogo jurídico, entretanto, não ceder à tentação de atuar como
um Juiz oculto, dono de um saber absoluto e apto a julgar, absolver ou condenar
aqueles que lhes chegarem às mãos. A Psicologia Jurídica acaba por reforçar uma
prática repressora e controladora, característica do Direito, segundo a qual os
conflitos não passariam por uma solução, mas permaneceriam recalcados.
Torna-se, então, fundamental, que a Psicologia aja abrindo uma brecha para
que as práticas jurídicas tenham outro olhar, menos repressivo e mais acolhedor,
vigilante das práticas que privilegiem os direitos humanos.

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Cabe ao psicólogo, então, uma atenta observância de que não lhe é dada a
função de julgar, ditar normas e regras, regulando a relação do homem com a
sociedade e favorecendo práticas de controle social, mas sim utilizar laudos
periciais para favorecer a liberdade e a solidariedade humana. Atuando de forma
o mais flexível possível, sempre para o bem do ser humano e não para endossar
práticas repressivas que favoreçam determinadas partes.
O psicólogo jurídico deve priorizar o bem do ser humano, favorecendo a
liberdade e o devido amparo legal e não reforçar a repressão humana agindo
como um ditador que carimba cada decisão tomada. Faz-se necessário refletir
sobre cada ação, redação, documento e cada decisão. Não cabe ao psicólogo
determinar culpados ou inocentes, nem fazer aquilo que cabe ao juiz: tomar a
decisão final em cada processo. Ao psicólogo cabe apenas auxiliar na tomada de
decisão.
É preciso estar atento, pois não existe uma verdade absoluta inteira, mas
sempre parcial e relativa. O psicólogo sempre terá apenas o olhar de um dos prismas
da questão, jamais uma visão total. Cautela é fundamental. O jogo de poder pertence
ao mundo jurídico. Não cabe ao psicólogo assumir posições, seja de defesa ou de
acusação, apenas de análise do discurso e auxílio à reflexão, para a tomada de
decisão.
Em um jogo de guarda dos filhos, por exemplo, cabe ao psicólogo não se
deixar seduzir pela tendência jurídica de ceder à mãe o direito do pátrio poder, mas
discutir, inclusive, que os pais também têm perfeita competência para criar bem os
seus filhos.
Já são muitos os que questionam em processos o atual sistema de visita
domiciliar, pois desejam uma participação mais ativa junto aos seus filhos.
O desejo desses pais tem gerado mudanças em nossa sociedade e na
cultura de gênero (de que mães foram feitas para cuidar dos filhos e da casa e os
pais do trabalho e do dinheiro), provocando inquietação e novas propostas para o
conceito de parentalidade; eles têm se organizado em instituições, associações ou
agremiações para discutir temas pertinentes ao casamento, divórcio, guarda dos
filhos e paternidade.

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Grupos de discussão pela internet têm se tornado um veículo de divulgação


muito rápido e eficaz para propagar suas ideias. É nesse sentido que a Psicologia
Jurídica e o Direito devem se manter unidos para analisar a situação e, amparados
em suas teorias e práticas, liberar essa nova geração de pais do antigo enquadre –
onde os filhos são das mães e os pais são apenas os provedores e “visitantes” –,
para estabelecer novos conceitos de família e relacionamento entre pais e filhos.
A urgência para rever os laços de parentalidade tem implicações em um
fenômeno que está surgindo no contexto de divórcio e guarda. Em que registros
de que falsas denúncias intencionais de abuso sexual de pais contra seus próprios
filhos surgem como um método para se impedir a visitação e o pedido de guarda.
As falsas denúncias de abuso sexual como um ato deliberado de acusação,
seja motivado por vingança, interesses financeiros distúrbios de caráter ou outros
motivos, têm, por consequência mais imediata, o afastamento das crianças até que
o genitor acusado prove sua inocência.
Em razão do afastamento da criança com o propósito de salvaguardá-la do
contato com o suposto abusador, o pai falsamente acusado teria seu direito à
convivência familiar, normalmente garantido pela Constituição Federal (Art. 227),
pelo Código Civil (Art. 1.634, II), e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA,
Art. 3° e 4°), transgredido.
Para esses pais, o Estado Democrático de Direito passaria a não existir,
tendo sua cidadania e sua dignidade vilipendiadas perante todos. O trabalho do
psicólogo, nesses casos, pode auxiliar e nortear a atuação de advogados,
promotores, juízes, por meio da constatação dos indicadores da situação familiar,
reconhecendo a necessidade de uma ação em conjunto com os demais
profissionais na construção de um saber que auxilie a expressão da Justiça.
Permitindo ao juiz aplicar a Lei, dentro dos fins sociais, visando a uma relação
democrática, justa e igualitária (VERANI, op. cit.). Ou prejudicar e alongar o processo
por vários anos, sem diminuir o conflito e a dor dos envolvidos, por meio da restrição
de seu exercício profissional à elaboração de laudos ou pareceres psicológicos, por
vezes conclusivos, fechados e, portanto, iatrogênicos.

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PSICOLOGIA CLÍNICA: CONCEITO

<http://www.acervosaber.com.br/imagens/psicologia.jpg>.

A Psicologia Clínica se baseia na observação e análise aprofundada de casos


individuais. Criada por volta do final do século XIX, por alguns médicos psiquiatras
e neurologistas que tratavam pacientes com doenças mentais, foi desenvolvida por
Freud, médico, discípulo de Breuer. Eles utilizavam a hipnose como método de cura
de tais pacientes.
Segundo a teoria de Breuer, que logo foi incorporada e melhor descrita por
Freud, as doenças mentais provinham de conflitos que estavam localizados na mente
da pessoa, e não necessariamente de problemas biológicos. Breuer acreditava que,
por meio da hipnose, a pessoa poderia driblar censuras que a impediriam de lembrar
certos fatos (os traumas), e assim melhorar sua ideia de tais, ou vivenciar
experiências. Freud depois descreveu esse estado como catarse. Freud discordava
quanto à eficiência da hipnose, e em contrapartida desenvolveu a técnica da livre
associação. Foi aí que a Psicologia Clínica nasceu, porque trouxe a cura pela palavra.
A Psicologia Clínica cresceu desde então. O advento da Psicanálise abriu um
abrangente campo para novas teorias, como a Psicologia Analítica, de Gustav Jung,

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Psicologia clínica

discípulo de Freud.
Hoje em dia, existem muitas linhas de pensamento em Psicologia: as mais
famosas são a Psicanálise, a Psicologia Analítica, a Análise do Comportamento ou
Behavorismo de Skinner e a Fenomenologia. Esta última nasceu dos pensamentos de
Sartre, Husserl, e tem seus expoentes na Psicologia representados por Rollo May
(existencialista) e Fritz Pearls (Gestalt -terapia).
É frequente o desconhecimento que, por vezes, se verifica relativamente à
pessoa e ao papel do psicólogo clínico e de outros técnicos de saúde mental
denominados, comumente, de “Psis”.
Se depararmos com técnicos de saúde com modelos de intervenção diferentes
e bem delimitados tanto na forma como em conteúdo, torna-se premente distingui-
los, para que a procura por cuidados em saúde mental seja, à partida, informada e
racional.
Sem querer minimizar a importância (bem como o dever ético e deontológico
que lhe está subjacente) da indicação para um técnico de outra especialidade, quando
a situação assim o exige, será benéfico para o funcionamento da saúde enquanto
sistema. No qual a pessoa esteja suficientemente informada quanto ao tipo de
ajuda disponível para que, logo de início, procure o tipo de intervenção adequada à
situação.
Importa, então, clarificar determinados aspectos inerentes à prática do
psicólogo enquanto técnico de saúde, e diferenciá-lo de outros intervenientes neste
âmbito. Não cabe aqui uma descrição pormenorizada da especificidade de outras
áreas de intervenção no campo da saúde mental.
No entanto, importa realçar a sobreposição que, com frequência, se verifica,
quer ao nível de entidades quer de metodologias, com outro técnico de saúde: o
psiquiatra. Esse profissional segue um modelo médico, próprio da formação que
obteve: o indivíduo tem o “mal” para o qual existe o “remédio” que "cura".
Trata-se de um modelo amplamente adotado, difundido e enraizado, quer pela
longa idade da medicina enquanto ciência quer pelos valores sociais e políticos
vigentes, amparados quer por interesses econômicos de algumas indústrias quer
por movimentos científicos mais conservadores que se constituem como grupos de

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influência e que possibilitam a manutenção da performance desse tipo de modelo.


Historicamente mais recente, a Psicologia possui o seu quadro de referência,
constituindo-se como ciência autônoma com objeto, metodologia e estatuto
epistemológico próprios. Apesar disso, ainda é confundida com outras ciências com
as quais compartilha alguns aspectos metodológicos ou o mesmo objeto de estudo.
Se assim acontece um pouco em todas as áreas da Psicologia, mais se
verifica essa situação no campo da saúde. O próprio conceito de “Psicologia
Clínica” torna-se por vezes ambíguo. O termo “clínico” é referente ao indivíduo
que está de cama, como referência ao indivíduo que está doente.
No entanto, atitude clínica não é uma atitude médica. A Psicologia Clínica
entende os fenômenos psíquicos não em um antagonismo saúde-doença, mas antes
como sendo a expressão possível (para o indivíduo) de diferentes processos
psicológicos socialmente contextualizados. Ou seja, relativiza a noção de “mal”,
“remédio” e de “cura”. O ato clínico não é necessariamente um ato médico.
Ao abordar o indivíduo que procura ajuda, o psicólogo clínico intervém
contextualizando a problemática em questão. É essa contextualização que confere
significado, originalidade e individualidade ao problema.
Deixamos de estar perante aquele discurso factual, e por vezes redutor, do
“mal”, do “remédio” e da “cura” para passarmos a aceder aos fenômenos por outro
caminho. O real vê agora o seu interesse diminuído em detrimento da verdade
individual.
Movimentam-se as peças de um “jogo de xadrez” assentes em um tabuleiro
que já não é o da realidade direta, mas antes da percepção, do simbolismo e da
representação individual dessa realidade. Entramos no campo da relação, do
imaginário e da comunicação. Assim, tanto aquilo que é verbalizado como aquilo que
é transmitido de um modo não verbal é susceptível de ser entendido e enquadrado
em um contexto específico.
O discurso do indivíduo é o portal de acesso ao seu interior. Esse discurso é
“decifrado” na relação estabelecida entre o psicólogo, o cliente é quem faz o pedido
para a consulta. O pedido de ajuda é, por si só, revelador. A intervenção da Psicologia
Clínica reporta-se, pois, a uma metalinguagem.

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Na sua intervenção social, o psicólogo clínico demarca-se significativamente


de outros profissionais de saúde mental, não tanto ao nível da prática (já que o
objeto de estudo, bem como a relação epistemológica em questão coexiste, por
vezes, com outras áreas do saber). Mas antes, ao nível do método e do paradigma
de referência. Como disse, um dia, um determinado psicólogo: “Não será demais
pedir a um psicólogo clínico que use o Rorschach (prova de avaliação psicológica)
com a competência com que um médico usa o estetoscópio”.

Então, o que o psicólogo faz?

Você deve estar se perguntando a razão de estudar os vários campos de


atuação do psicólogo, se o curso é sobre Psicologia Clínica. É que todas essas
demandas aparecem no consultório de Psicologia e é dever do psicólogo conhecer
sobre cada uma delas, encaminhando a outro profissional de Psicologia apenas
quando o caso exigir um conhecimenbto mais aprofundado.
O psicólogo age em diversas áreas e é importante entender primeiramente
onde e como se forma o conhecimento da ciência “Psicologia”: a área científica. O
psicólogo, em sua graduação, aprende a pesquisar novos caminhos a partir de dados
já existentes; forma opiniões convergentes ou divergentes, podendo ser na forma de
crítica ou avanço em uma determinada pesquisa; monta estudos com bases em
experimentos, observação, estudos de casos, análises neurológicas e
farmacológicas, além de estudar em grupos multidisciplinares vários outros conteúdos
(mostrados a seguir).
As áreas mais conhecidas dessa criação científica são, como já vimos, entre
outras, a Psicologia Social, a Psicometria, a Psicologia Experimental (nisto
englobando a linha comportamental), a Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia
Metafísica, a Neuropsicologia, a Psicopatologia. Esses estudos criam teorias que
são utilizadas na Psicologia Aplicada, que como o nome diz, é a aplicação dos
construtos teóricos em áreas específicas.
A Psicologia Social estuda os movimentos sociais. Essa Psicologia Aplicada
está inserida nos mais diversos campos da sociedade, resolvendo problemas

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práticos, sendo a área clínica a mais famosa. É importante, também, saber que
essa Psicologia Aplicada pode criar constructos científicos, que é o caso de Sigmund
Freud, Carl R. Rogers, Carl Gustav Jung, na Psicologia Clínica, além de Kurt Lewin
e J. L. Moreno, de outras áreas.
Além da clínica, o psicólogo aplicado trabalha em escolas, empresas
(treinamento, R. H., grupos, terapia individual), nas terapias de grupos, na
criminologia, nas academias de esportes, nos clubes esportivos, nas propagandas
(marketing, venda de produto, com o uso da gestalt), nos hospitais (em terapias
breves, ou psico-oncologia) e no tratamento de adicção (pela entrevista
motivacional).
Essas duas áreas, a de produção científica e a Psicologia Aplicada, são
práticas aceitas pelos Conselhos de Psicologia. Porém, o psicólogo não pode
medicar fármacos para um cliente, nem quebrar o sigilo deste sem seu
consentimento (há casos onde essa quebra de
sigilo é possível, como no caso de alguém que pode pôr em risco a vida de
outra pessoa, ou a sua própria).
O terapeuta não pode utilizar métodos que não estejam em estudo científico,
aprovado pelo Conselho, como utilizar florais de Bach, regressão a vidas passadas,
homeopatia, terapia bioenergética, entre outros. Ao usar esses métodos, o terapeuta
é proibido de utilizar o título de psicólogo.
A acupuntura e a hipnose são as únicas práticas complementares
regulamentadas e aceitas pelo Conselho de Psicologia, mas a utilização dessas
práticas deve atender a normas de conduta ética estipuladas pelo Conselho de
Psicologia.

Necessidades da multidisciplinaridade
A Psicologia nasceu de estudos filosóficos e fisiológicos, portanto carrega
traços destes dois tipos de conhecimento. Atualmente, ela incorporou outros
conhecimentos ao seu próprio, trabalhando lado a lado com estes, é o caso da
Psicologia Social, por exemplo, que trabalha com bases teóricas de sociólogos,
antropólogos, teólogos e filósofos, tais como Auguste Comte, Michel Foucault, entre

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outros. O próprio Carl Gustav Jung trabalha com trabalhos antropológicos, podendo
traçar as diferentes culturas com símbolos em comum.
A Psicologia Comunitária faz trabalho em campo, junto a assistentes sociais
terapeutas ocupacionais. Os conhecimentos dessas áreas se fundem.
A Psicologia Jurídica trabalha com funcionários do Direito (advogados, juízes,
desembargadores), assim como os Psicólogos Hospitalares trabalham com médicos,
enfermeiros, enfim, com outros agentes promotores de saúde. Há, também, a área
da psicopedagogia, que trabalha com conteúdos da Pedagogia no campo da
aprendizagem.
Algumas áreas da Psicologia, como a Psicologia Transpessoal e, em partes,
a Psicologia Analítica, necessitam de estudos em Física e Metafísica para que
possam se tornar conhecimentos amplos acerca do ser humano, seja em analogias,
seja em estudos sobre eventos parapsicológicos, sendo que esses estudos são
recentes e não se constituem plenamente como ciência psicológica.
Tanto as áres alheias da Psicologia citadas, quanto a própria Psicologia,
precisam trabalhar unidas, quando tratam de interesses em comum, os
conhecimentos se cruzam, e aumentam, e é possível que existam diferentes pontos
de vista em constante diálogo.
Comitês de Bioética trazem esta multidisciplinaridade, agindo sobre
problemas corriqueiros e controversos. Estes comitês são formados por muitas
outras correntes do conhecimento, além do psicólogo. São médicos, enfermeiros,
advogados, fisioterapeutas, físicos, teólogos, pedagogos, farmacêuticos,
engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da comunidade onde o comitê está
inserido. Eles decidem aspectos importantes sobre tratamento médico, psicológico,
entre outros.

CONCEITO DE SAÚDE

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Seria possível compreender bem o que significa e o que representa transtorno


psicológico sem ter o entendimento prévio do que significaria saúde?
A definição mais conhecida de saúde é a encontrada na Constituição da
Organização Mundial de Saúde (OMS), ou seja, aquela que se propõe a considerá-
la um completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença.
Seria possível ser portador de um completo bem-estar? Dentro dessa
perspectiva, até parece que para ter saúde é necessário viver em outro planeta e
não habitar aquele a que aprendemos a denominar Terra. O conceito de saúde é
cada vez mais relativo e suas discussões atrelam esse bem a outras dimensões
do bem-viver humano como saneamento básico, lazer e acesso à educação e cultura,
por exemplo.
O certo é que a percepção de saúde varia muito entre as diferentes culturas,
assim quanto às crenças sobre o que traz ou retira a saúde. A OMS define ainda
a Engenharia Sanitária como sendo um conjunto de tecnologias que promovem o
bem-estar físico, mental e social. Sabe-se que sem o saneamento básico (sistemas
de água, de esgotos sanitários e de limpeza urbana) a saúde pública fica
completamente prejudicada.
A OMS reconhece ainda que a cada unidade monetária (dólar, euro, real, etc.)

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dispendida em saneamento economiza-se cerca de quatro a cinco unidades em


sistemas de saúde (postos, hospitais, tratamentos, etc.) e que cerca de 80% das
doenças mundiais são causadas por falta de água potável suficiente para atender
as populações. Portanto, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como
componente da qualidade de vida (WOOD; COHEN, 2007).
Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem comum”, um bem e um direito
social, em que cada um e todos possam ter assegurado o exercício e a prática do
direito à saúde. A partir da aplicação e utilização de toda a riqueza disponível,
conhecimentos e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo,
adequados às suas necessidades, abrangendo promoção e proteção da saúde,
prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Em outras palavras,
considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania,
que é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo Poder Público. Para o
balizamento e orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações.
A partir daí, deve-se perguntar: afinal, o que significa esse processo saúde-
doença e quais suas relações com a saúde e com o sistema de serviços de
saúde? Em síntese, em termos da determinação causal, pode-se dizer que ele
representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado
de saúde e doença de uma população, que se modifica em diversos momentos
históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. Assim, houve a teoria
mística sobre a doença, que os antepassados julgavam como um fenômeno
sobrenatural, ou seja, ela estava além da sua compreensão do mundo, superada
posteriormente pela teoria de que a doença era um fato decorrente das alterações
ambientais no meio físico e concreto que o homem vivia. Em seguida, surge a teoria
dos miasmas (gazes), que vai predominar por muito tempo. Até que, com os estudos
de Louis Pasteur, na França, entre outros, vem a prevalecer a “teoria da
unicausalidade”, com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do
agente etiológico, ou seja, aquele que causa a doença.
Devido à sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma
série de outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por
uma série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a

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multicausalidade como determinante da doença e não apenas a presença exclusiva


de um agente.
Finalmente, uma série de estudos e conhecimentos provindos principalmente
da epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a determinação
e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivos. O fato é que se
passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo,
composto por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais.
Deve-se ressaltar ainda o recente e acelerado avanço que se observa no
campo da Engenharia Genética e da Biologia Molecular, com suas implicações
tanto na perspectiva da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse
modo, surgiram vários modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença
e do processo saúde-doença, como o modelo epidemiológico baseado nos três
componentes: agente, hospedeiro e meio, considerados como fatores causais, que
evoluiu para modelos mais abrangentes, como o do campo de saúde, com o
envolvimento do ambiente (não apenas o ambiente físico), estilo de vida, biologia
humana e sistema-serviço de saúde, em uma permanente inter-relação e
interdependência.
Alguns autores questionam esse modelo, ressaltando, por exemplo, que o
“estilo de vida” implicaria uma opção e conduta pessoal voluntária, o que pode não
ser verdadeiro, pois pode estar condicionado a fatores sociais, culturais, entre outros.
De qualquer modo, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e
complexidade causal: saúde e doença não são estados estanques, isolados, de
causa aleatória – não se está com saúde ou doença por acaso. Há uma
determinação permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de
organização da sociedade. Daí se dizer que há uma “produção social da saúde e/ou
da doença”. Em última instância, como diz Breilh, “o processo saúde-doença constitui
uma expressão particular do processo geral da vida social”. Outro nível de
compreensão que se há de ter em relação ao processo saúde-doença é o conceito
do que é ser ou estar doente ou o que é ser ou estar saudável.
Sem aprofundar as grandes discussões sobre esse tema, que envolvem entre
outras, como base de discussão preliminar e compreensão, as categorias da

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“representação dos indivíduos” e a “representação dos profissionais” ou mesmo das


instituições de saúde. Em um sentido mais pragmático pode-se destacar que em
toda população há indivíduos sujeitos a fatores de risco para adoecer com maior
ou menor frequência e com maior ou menor gravidade. Além do que, há diferenças
de possibilidades entre eles de “produzir condições para sua saúde” e ter acesso aos
cuidados no estado da doença.
Há, portanto, grupos que exigem ações e serviços de natureza e complexidade
variada. Isso significa que o objeto do sistema de saúde deve ser entendido como as
condições de saúde das populações e seus determinantes, ou seja, o seu processo
de saúde-doença. Visando produzir progressivamente melhores estados e níveis de
saúde dos indivíduos e das coletividades, atuando articulada e integralmente nas
prevenções primária, secundária e terciária, com redução dos riscos de doença,
sequelas e óbito.
Desse modo, há que se compreender outra dimensão, que é aquela que
coloca o processo de intervenção, por meio de um sistema de cuidados para a
saúde, para atender as necessidades, demandas, aspirações individuais e coletivas,
como, um processo técnico, científico e político. É político no sentido de que se
refere a valores, interesses, aspirações e relações sociais e envolve a capacidade
de identificar e privilegiar as necessidades de saúde individuais e coletivas.
Resultantes daquele complexo processo de determinação e acumular força e poder
para nele intervir, incluindo a alocação e garantia de utilização dos recursos
necessários para essa intervenção.
É técnico e científico no sentido de que esse saber e esse fazer em relação à
saúde- doença da população não devem ser empíricos, mas podem e devem ser
instrumentalizados pelo conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico, pelo
avanço e progresso da ciência.
Portanto, o saber e o fazer em relação à saúde da população mediante um
sistema de saúde é uma tarefa que implica a concorrência de várias disciplinas do
conhecimento humano. E a ação das diversas profissões da área de saúde, bem
como ação articulada entre os diversos setores, que é requerimento para a produção
de saúde.

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E aquela dimensão política inerente a esse processo social remete para a


necessidade de satisfazer outro requerimento, próprio dos processos políticos
democráticos, que é a participação social, ou seja, a participação ativa da população
na formulação, desenvolvimento e acompanhamento das políticas e dos sistemas de
saúde. Que hoje, no Sistema Único de Saúde (SUS), está minimamente estabelecida
nos conselhos de saúde (nacional, estadual e municipal) e conferências de saúde.

SAÚDE MENTAL

<http://s.socialesaude.zip.net/>

O conceito de saúde mental deve envolver o homem no seu todo


biopsicossocial (biológico, psicológico e social), o contexto social em que está
inserido assim como a fase de desenvolvimento em que se encontra. Nesse sentido,
podemos considerar a saúde mental como um equilíbrio dinâmico que resulta da
interação do indivíduo com os seus vários ecossistemas: O seu meio interno e externo;
as suas características orgânicas e os seus antecedentes pessoais e familiares
(BENEDITO, 1975).
Em uma abordagem à influência de fatores sociais na saúde mental, foi referido

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que a saúde mental deixou de ser a ausência de doença, problemas mentais e


psíquicos, mas sim a percepção e consciência dessas condições, e a possibilidade
pessoal e/ou coletiva de solucioná- las, de modificar e de intervir sobre elas (URIBE
VASCO et al., 1994).

DEFICIÊNCIA MENTAL

https://fortissima.com.br/2013/07/04/deficiencia-mental-causas-e-tratamento-
9162/

A partir do século XX, começou-se a estabelecer uma definição para o


deficiente mental; e essa definição diz respeito ao funcionamento intelectual, que
seria inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à
dificuldade de adaptação ao entorno. (DSM-IV, CID 10).
Segundo a descrição do DSM. IV, a característica essencial do retardo
mental é quando a pessoa tem um “funcionamento intelectual significativamente
inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento
adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação,
autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso
de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer,
saúde e segurança”.
Essa é também a definição de deficiência mental adotada pela Associação
Americana de Deficiência Mental (AAMR). Na deficiência mental, como nas demais
questões da saúde mental, a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da
pessoa ao mundo, é o elemento mais fortemente relacionado à noção de normalidade.

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Teoricamente, deveriam ficar em segundo plano as questões mensuráveis de


Coeficiente de Inteligência (QI) já que a unidade de observação é a capacidade de
adaptação.
Acostumamos a pensar na deficiência mental como uma condição em si
mesma, um estado patológico bem definido. Entretanto, na grande maioria das vezes
a deficiência mental é uma condição mental relativa.
A deficiência será sempre relativa em relação aos demais indivíduos de uma
mesma cultura, pois a existência de alguma limitação funcional, principalmente nos
graus mais leves, não seria suficiente para caracterizar um diagnóstico de
deficiência mental, se não existir um mecanismo social que atribua a essa limitação
um valor de morbidade. E esse mecanismo social que atribui valores é sempre
comparativo, portanto, relativo.
Como vimos nas definições acima, deficiência mental é um estado onde existe
uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada
abaixo da média geral das pessoas pelo sistema social onde se insere a pessoa. Isso
significa que uma pessoa pode ser considerada deficiente em uma determinada cultura
e não deficiente em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa satisfazer as
necessidades dessa cultura. Isso torna o diagnóstico relativo.
Segundo critérios das classificações internacionais, o início da deficiência
mental deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um transtorno do
desenvolvimento e não uma alteração cognitiva como é a demência. Embora o
assunto comporte uma discussão mais ampla, de modo acadêmico, o funcionamento
intelectual geral é definido pelo Quociente de Inteligência (QI ou equivalente).

CLASSIFICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA MENTAL

A deficiência mental se caracteriza assim, por um funcionamento global


inferior à média, junto com limitações associadas em duas ou mais das seguintes
habilidades adaptativas: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais,
utilização da comunidade, saúde e segurança, habilidades escolares, administração
do ócio e trabalho. Para o diagnóstico é imprescindível que a deficiência mental se

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manifeste antes dos 18 anos. As áreas de necessidades dos deficientes devem ser
determinadas por meio de avaliações neurológicas, psiquiátricas, sociais e clínicas
e nunca em uma única abordagem de diagnóstico.

Tipo de classificação baseada na intensidade dos apoios necessários

 intermitente – o apoio se efetua apenas quando necessário. Caracteriza-


se por sua natureza episódica, ou seja, a pessoa nem sempre está precisando
de apoio continuadamente, mas durante momentos em determinados ciclos da vida,
como por exemplo, na perda do emprego ou fase aguda de uma doença. Os apoios
intermitentes podem ser de alta ou de baixa intensidade;
 limitado – apoios intensivos caracterizados por alguma duração contínua,
por tempo limitado, mas não intermitente. Nesse caso incluem-se deficientes que
podem requerer um nível de apoio mais intensivo e limitado, como por exemplo, o
treinamento do deficiente para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios
durante o período entre a escola, a instituição e a vida adulta;
 extenso – trata-se de um apoio caracterizado pela regularidade,
normalmente diário pelo menos em alguma área de atuação, tais como na vida
familiar, social ou profissional. Nesse caso, não existe uma limitação temporal para
o apoio, que normalmente se dá em longo prazo;
 generalizado – é o apoio constante e intenso, necessário em diferentes
áreas de atividade da vida. Esses apoios generalizados exigem mais pessoal e
maior intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado.
Ainda baseada na capacidade funcional e adaptativa dos deficientes, existe
outra classificação bastante interessante para a deficiência mental. Trata-se da
seguinte:
 dependentes – geralmente QI abaixo de 25; casos mais graves, nos
quais é necessário o atendimento por instituições. Há poucas, pequenas, mas
contínuas melhoras quando a criança e a família estão bem assistidas;
 treináveis – QI entre 25 e 75; são crianças que se colocadas em classes
especiais poderão treinar várias funções, como disciplina, hábitos higiênicos, etc.

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Poderão aprender a ler e a escrever em ambiente sem hostilidade, recebendo muita


compreensão e afeto e com metodologia de ensino adequada;
 educáveis – QI entre 76 e 89; a inteligência é dita “limítrofe ou lenta” e
essas crianças podem permanecer em classes comuns, embora necessitem de
acompanhamento psicopedagógico especial.
Essa classificação bastante simples é extremamente importante na prática
clínica, pois sugere o que pode ser proporcionado à criança com deficiência mental.
Por outro lado, a classificação CID.10, da Organização Mundial da Saúde
(OMS), é baseada ainda no critério quantitativo. Por essa classificação a gravidade da
deficiência seria:
profunda – são pessoas com uma incapacidade total de autonomia. As que
têm um coeficiente intelectual inferior a 10, inclusive aquelas que vivem em um nível
100 vegetativo;
aguda grave – fundamentalmente necessitam que se trabalhe para instaurar
alguns hábitos de autonomia, já que há probabilidade de adquiri-los. Sua capacidade
de comunicação é muito primária. Podem aprender de uma forma linear, são crianças
que necessitam revisões constantes;
moderada – o máximo que podem alcançar é o ponto de assumir um nível
préoperativo. São pessoas que podem ser capazes de adquirir hábitos de autonomia
e, inclusive, podem realizar certas atitudes bem-elaboradas. Quando adultas podem
frequentar lugares ocupacionais, mesmo que sempre estejam necessitando de
supervisão;
leve – são casos perfeitamente educáveis. Podem chegar a realizar tarefas
mais complexas com supervisão. São os casos mais favoráveis.

TRANSTORNO MENTAL

Durante séculos as pessoas com sofrimento mental foram afastadas do resto


da sociedade, algumas vezes encarceradas, em condições precárias, sem direito a se
manifestar na condução de suas vidas. Hoje em dia, as atitudes negativas as afastam
da sociedade de maneiras mais sutis, mas com a mesma efetividade. Você

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provavelmente conhece alguém que tem problemas mentais.


Transtornos mentais como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, uso
de drogas e álcool, demência e esquizofrenia, podem afetar qualquer pessoa em
qualquer época da sua vida. Na realidade, eles podem causar mais sofrimento e
incapacidade que qualquer outro tipo de problema de saúde.
Apesar disso, pessoas com essas condições, muitas vezes atraem medo,
hostilidade e desaprovação em vez de compaixão, apoio e compreensão. Tais
reações não somente influem para que se sintam isoladas e infelizes, como são
impedimentos para que busquem ajuda efetiva e tratamento. A saúde mental é
componente chave de uma vida saudável.
O termo “doença mental” ou transtorno mental engloba um amplo espectro de
condições que afetam a mente. Doença mental provoca sintomas tais como
desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória. Algumas
vezes, doenças em outras partes do corpo afetam a mente; outras vezes,
desconfortos, escondidos no fundo da mente, podem desencadear outras doenças do
corpo ou produzir sintomas somáticos.
Um grande espectro de fatores – nosso mapa genético, química cerebral,
aspectos do nosso estilo de vida – podem causar algum tipo de transtorno mental.
Acontecimentos que nos acometeram no passado e nossas relações com as outras
pessoas participam de alguma forma. Seja qual for a causa, a pessoa que desenvolve
a “doença mental” ou o transtorno mental, muitas vezes se sente em sofrimento,
desesperançada e incapaz de levar sua vida na sua plenitude.
Existem muitos tratamentos efetivos para a doença mental. Eles podem incluir
medicamentos e outros tratamentos físicos, ou tratamentos pela fala (psicoterapias)
de várias espécies, aconselhamento e/ou apoio no dia a dia da vida em diferentes
formas. Diferentes profissionais da saúde podem estar envolvidos na assistência da
pessoa que está mentalmente enferma: clínicos gerais, psiquiatras, enfermeiros,
psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e grupos de apoio
voluntários, dentre outros.
As causas do sofrimento mental são complexas e os psicólogos, assim como
outros profissionais da saúde mental não têm todas as respostas. Sabe-se que alguns

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aspectos da doença mental, tais como ansiedade, desespero e sentimentos suicidas,


nem sempre são fáceis de serem tratados, pois envolvem âmbitos dos mais diversos
da existência humana.
Na Antiga Grécia, sinais corporais ou stigmata, feitos por cortes ou
queimaduras no corpo, marcavam as pessoas como diferentes. Pessoas com doença
mental há muito não são marcadas no corpo, mas atitudes críticas e prejudiciais
podem ser tão danosas quanto as marcas corporais. Basta abrir um jornal, ligar a TV
ou ir ao cinema para perceber tais atitudes.
Enquanto a mídia não aceitar essas queixas pelas percepções negativas, toda
vez que um programa, artigo ou filme retrata um estereótipo ou falha em esclarecer
um mal entendido sobre doença mental, ela auxilia na manutenção de mitos.
Os estigmas podem surgir por diferentes caminhos. As pessoas com sofrimento
mental podem agir de forma diferente. Uma pessoa deprimida pode se apresentar
triste ou apática; alguém na fase maníaca da doença bipolar pode parecer
exageradamente feliz ou irritável.
O problema é que quando alguém é marcado como diferente, é difícil para ele
ser aceito, não importa o quanto ele tente. Ele não consegue afastar o estigma e o
resultado disso, pois perde a confiança em si mesmo. Com o tempo, começa a se
sentir como estranho e que não se enquadra na vida.
Pessoas com transtornos mentais ou doenças mentais continuam a ser
prejudicadas e discriminadas em todas as áreas de suas vidas, desde onde encontrar
um lugar para viver, encontrar um trabalho. Não é surpreendente que muitas pessoas
com doença mental grave terminem pobres ou sem teto.
Cabe a todos nós tomarmos conhecimento do dano que provocamos com
nossas atitudes negativas e nossa colaboração para isolá-las. Seja quem formos e
seja o que fazemos, nós podemos combater os efeitos danosos do estigma
estendendo nossa amizade, apoio e compreensão em vez do nosso julgamento e
discriminação, para as pessoas que estão mentalmente doentes.
Descrever pessoa com doença mental como “louca”, “esquisita”, “pinel”
“lunática”, a diminui como pessoa a não ser levada seriamente ou com a percepção
que ela é perigosa pode excluí-la das atividades do dia a dia. Muitas pessoas

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acreditam que doença mental é incurável. Elas podem até ver certos tratamentos,
como com antidepressivos ou psicoterapias, como sem valor ou mesmo danosos,
mesmo que em muitos casos tenham se mostrado efetivos.
O fato é que cientistas estão fazendo progressos no desvendamento da
estrutura e química do cérebro. Como consequência tem-se melhor compreensão da
mente e com ela funciona. Entretanto, a doença mental tem muitas causas. Ela não é
apenas uma questão de química alterada e envolve questões sociais, emocionais,
cognitivas e físicas.

PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS

DEPRESSÃO

<http://escrevoapenas.blogs.sapo.pt/arquivo/depressao.jpg

Depressão é uma palavra frequentemente usada para descrever nossos


sentimentos. Todos se sentem angustiados de vez em quando, ou muito alegres às
vezes e tais sentimentos são normais. A depressão, enquanto evento psiquiátrico é
algo bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento.
Muitas pessoas pensam estar ajudando um amigo deprimido ao incentivarem

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ou mesmo cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os


sentimentos negativos. Os amigos que agem dessa forma fazem mais mal do que
bem, são incompreensivos e talvez até egoístas. O amigo que realmente quer ajudar
procura ouvir quem se sente deprimido e no máximo aconselhar ou procurar um
profissional quando percebe que o amigo deprimido não está só triste.
Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças
conceituais entre a depressão psiquiátrica e a depressão normal seria comparar com
a diferença que há entre clima e tempo. O clima de uma região ordena como ela
prossegue ao longo do ano por anos a fio. O tempo é a pequena variação que ocorre
para o clima da região em questão.
O clima tropical exclui incidência de neve. O clima polar exclui dias propícios a
banho de sol. Nos climas tropicais e polares haverá dias mais quentes, mais frios,
mais calmos ou com tempestades, mas tudo dentro de uma determinada faixa de
variação.
O clima é o estado de humor e o tempo as variações que existem dentro dessa
faixa. O paciente deprimido terá dias melhores ou piores, assim como o não deprimido.
Ambos terão suas tormentas e dias ensolarados, mas as tormentas de um, não se
comparam às tormentas do 105 outro, nem os dias de sol de um, se comparam com os
dias de sol do outro. Existem semelhanças, mas a manifestação final é muito diferente.
Uma pessoa no clima tropical ao ver uma foto de um dia de sol no polo sul tem a
impressão de que estava quente e que até se poderia tirar a roupa para se bronzear.
Esse tipo de engano é o mesmo que uma pessoa comete ao comparar as suas
fases de baixo astral com a depressão psiquiátrica de um amigo. Ninguém sabe o que
um deprimido sente, só ele mesmo e talvez quem tenha passado por isso. Nem o
psiquiatra sabe: ele reconhece os sintomas e sabe tratar, mas isso não faz com que
ele conheça os sentimentos e o sofrimento do seu paciente.
Os sintomas da depressão são muito variados, indo desde as sensações de
tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações da sensação
corporal como dores e enjoos. Contudo, para se fazer o diagnóstico é necessário um
grupo de sintomas centrais:
• perda de energia ou interesse;

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• humor deprimido;
• dificuldade de concentração;
• alterações do apetite e do sono;
• lentificação das atividades físicas e mentais;
• sentimento de pesar ou fracasso.

Os sintomas corporais mais comuns são sensação de desconforto no


batimento cardíaco, constipação, dores de cabeça, dificuldades digestivas. Períodos
de melhora e piora são comuns, o que cria a falsa impressão de que se está
melhorando sozinho, quando durante alguns dias o paciente sente-se bem.
Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os
sintomas simultâneos, aliás, é difícil ver todos os sintomas juntos.
Até que se faça o diagnóstico, praticamente todas as pessoas possuem
explicações para o que está acontecendo com elas, julgando sempre ser um problema
passageiro.
Outros sintomas que podem vir associados aos sintomas centrais são:

 pessimismo;
 dificuldade de tomar decisões;
 dificuldade para começar a fazer suas tarefas;
 irritabilidade ou impaciência;
 inquietação;
 achar que não vale a pena viver, desejo de morrer;
 chorar à toa;
 dificuldade para chorar;
 sensação de que nunca vai melhorar, desesperança;
 dificuldade de terminar as coisas que começou;
 sentimento de pena de si mesmo;
 persistência de pensamentos negativos;
 queixas frequentes;

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 sentimentos de culpa injustificáveis;


 boca ressecada, constipação, perda de peso e apetite, insônia, perda do
desejo sexual.

Basicamente, existem as depressões monopolares (esse não é um termo


usado oficialmente) e a depressão bipolar (esse termo é oficial). O transtorno afetivo
bipolar se caracteriza pela alternância de fases deprimidas com maníacas, de
exaltação, alegria ou irritação do humor. A depressão monopolar só tem fases
depressivas.
Os sintomas depressivos apesar de muito comuns são pouco detectados nos
pacientes de atendimento em outras especialidades, o que permite o desenvolvimento
e prolongamento desse problema, comprometendo a qualidade de vida do indivíduo
e sua recuperação. Anteriormente, estudos associaram o fumo, a vida sedentária,
obesidade, ao maior risco de doença cardíaca. Agora, pelas mesmas técnicas,
associa-se sintoma depressivo com maior risco de desenvolver doenças cardíacas. A
doença cardíaca mais envolvida com os sintomas depressivos é o infarto do
miocárdio.
Também não se pode concluir apressadamente que depressão provoca infarto,
não é assim. Nem todo obeso, fumante ou sedentário enfarta. Essas pessoas
enfartam mais que as pessoas fora desse grupo, mas a incidência não é de 100%. Da
mesma forma, a depressão aumenta o risco de infarto, mas em uma parte dos
pacientes. Está sendo investigado.
A depressão costuma atingir 15% a 25% dos pacientes com câncer. As
pessoas e os familiares que encaram um diagnóstico de câncer experimentarão uma
variedade de emoções, estresses e aborrecimentos. O medo da morte, a interrupção
dos planos de vida, perda da autoestima e mudanças da imagem corporal, mudanças
no estilo social e financeiro são questões fortes o bastante para justificarem desânimo
e tristeza.
O limite a partir do qual se devem usar antidepressivos não é claro, dependerá
da 107 experiência de cada psiquiatra. A princípio sempre que o paciente apresente um
conjunto de sintomas depressivos semelhante ao conjunto de sintomas que os

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pacientes deprimidos sem câncer apresentam, deverá ser o ponto a partir do qual se
deve entrar com medicações. Existem alguns mitos sobre o câncer e as pessoas que
padecem dele, tais como “os portadores de câncer são deprimidos”.
A depressão em quem tem câncer é normal, o tratamento da depressão no
paciente com câncer é ineficaz. A tristeza e o pesar são sentimentos normais para
uma pessoa que teve conhecimento da doença. Questões como a resposta ao
tratamento, o tempo de sobrevida e o índice de cura entre pacientes com câncer, com
ou sem depressão, estão sendo mais enfocadas do que a investigação das melhores
técnicas para tratamento da depressão.
Normalmente a pessoa que fica sabendo que está com câncer torna-se durante
um curto espaço de tempo descrente, desesperada ou nega a doença. Essa é uma
resposta normal no espectro de emoções dessa fase, o que não significa que sejam
emoções insuperáveis. No decorrer do tempo o humor depressivo toma o lugar das
emoções iniciais. Agora o paciente pode ter dificuldade para dormir e perda de apetite.
Nessa fase o paciente fica ansioso, não consegue parar de pensar no seu novo
problema e teme pelo futuro. As estatísticas mostram que aproximadamente metade
das pessoas conseguirá se adaptar a essa situação tão adversa. Com isso, essas
pessoas aceitam o tratamento e o novo estilo de vida imposto não fica tão pesado.
Para se afirmar que o paciente está deprimido tem-se que afirmar que ele
sente-se triste a maior parte do dia, quase todos os dias, não tem tanto prazer ou
interesse pelas atividades nas quais apreciava. E não consegue ficar parado, pelo
contrário, movimenta-se mais lentamente que o habitual. Passa a ter sentimentos
inapropriados de desesperança desprezando-se como pessoa e até mesmo se
culpando pela doença ou pelo problema dos outros, sentindo-se um peso morto na
família. Com isso, apesar de ser uma doença potencialmente fatal, surgem
pensamentos de suicídio. Esse quadro deve durar pelo menos duas semanas para
que possamos dizer que o paciente está deprimido.
A causa exata da depressão permanece desconhecida. Eventos
desencadeantes são muito estudados e de fato encontra-se relação entre certos
acontecimentos estressantes na vida das pessoas e o início de um episódio
depressivo. Contudo, tais eventos não podem ser responsabilizados pela manutenção

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da depressão. Na prática a maioria das pessoas que sofre um revés se recupera com
o tempo. Os eventos estressantes provavelmente disparam a depressão nas pessoas
predispostas, vulneráveis. Exemplos de eventos estressantes são: perda de pessoa
querida, perda de emprego, mudança de habitação contra vontade, doença grave;
pequenas contrariedades não são consideradas como eventos fortes o suficiente para
desencadear depressão.
O que torna as pessoas vulneráveis ainda é objeto de estudos. A influência
genética como em toda medicina é muito estudada. Trabalhos recentes mostram que
mais do que a influência genética, o ambiente durante a infância pode predispor mais
as pessoas. O fator genético é fundamental uma vez que os gêmeos idênticos ficam
mais deprimidos do que os gêmeos não idênticos.

ANSIEDADE

http://www.brasilescola.com/imagens/ansiedade.jpg

A ansiedade é uma sensação ou sentimento decorrente da excessiva excitação


do Sistema Nervoso Central consequente à interpretação de uma situação de perigo.
Parente próximo do medo (muitas vezes onde a diferenciação não é possível), é

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distinguida dele pelo fato de o medo ter um fator desencadeante real e palpável,
enquanto na ansiedade o fator de estímulo teria características mais subjetivas.
A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que mostra a
intersecção entre o físico e psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos como:
taquicardia (batedeira), sudorese, tremores, tensão muscular, aumento das secreções
(urinárias e fecais), aumento da motilidade intestinal, cefaleia (dor de cabeça). Quando
recorrente e intensa também é chamada de síndrome do pânico (crise ansiosa aguda).
Toda essa excitação acontece decorrente de uma descarga de um neurotransmissor
chamado noradrenalina.
O nosso Sistema Nervoso Central e a nossa mente necessitam de uma
situação de conforto e de segurança para usufruir a sensação de repouso e de bem-
estar.
Quando a nossa percepção nos alerta para uma situação de perigo a essa
situação acontece o estado ansioso.
Evolutivamente, faz pouco que saímos dos tempos da caverna, quando os
perigos de vida e a necessidade de luta eram constantes. A excitação do Sistema
Nervoso Central vinha como uma forma de estimular o nosso corpo para a luta ou
para a fuga.
O que interpretamos como perigo hoje transcende e muito o perigo de vida
biológico. Perda de status, de conforto, de poder econômico, de afetos, amizades, de
privilégios, vantagens, de possibilidade de concretizar interesses, de vaidade, são
fatores mais do que suficientes, em muitos casos, para disparar o estado ansioso.
Em estados de desequilíbrio emocional, o simples contato com o novo, com
situações inesperadas e desconhecidas são o suficiente para disparar estados
ansiosos.
A principal característica psíquica do estado ansioso é uma excitação, uma
aceleração do pensamento, como se estivéssemos elaborando, planejando uma
maneira de nos livrar do perigo e da maneira mais rápida possível. Esse movimento
mental, na maioria das vezes acaba causando certa confusão mental, uma ineficiência
da ação, um aumento da sensação de perigo e de incapacidade de se livrar do perigo,
o que configura um círculo vicioso, pois essa sensação só faz aumentar ainda mais o

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estado ansioso. “Mente acelerada é mente desequilibrada”.


Esse movimento impulsivo de a mente se acelerar, de precisar ter tudo sob
controle, para poder usufruir a sensação de repouso e conforto, faz com que ela se
excite; e se o problema não tiver uma solução mental imediata, como o que acontece
na maioria dos casos, terá a chamada ansiedade patológica, que tende a se cronificar
e piorar com os anos.
A ansiedade poderia ter uma origem genética, ou seja, a pessoa herda de seus
ancestrais uma pré-disposição para ter esses sintomas. Nesses casos as
manifestações podem ser bastante precoces, sendo a pessoa desde cedo uma
criança agitada, às vezes, hiperativa, que chora com facilidade e às vezes até com
dificuldade de dormir.
A ansiedade precoce também pode se manifestar por meio da avidez de mamar
e em uma postura mais teimosa e possessiva ainda como criança. A segunda é uma
infância carente e problemática – em que as dificuldades dos pais, mas principalmente
da mãe de passar afeto e suprir as carências afetivas da criança, vão fazendo com
que ela vá se sentindo insegura e exposta. E vá gravando e condicionando um
sentimento de que coisas ruins e sensações negativas podem acontecer a qualquer
momento.
A terceira é a dificuldade de incorporar fatos e intercorrências novas ou
desconhecidas.
O velho ou conhecido sempre traz a sensação de segurança e controle. O novo
por sua vez tem a capacidade de potencializar a sensação de medo no sentido de que
algo ruim ou perigoso pode vir a acontecer.
É mais ou menos assim: “Tudo que vem de mim é seguro e tudo que vem de
fora e não está sob controle é perigoso”. É a clássica postura do pessimista, como
aquele personagem dos desenhos antigos de TV, a hiena Hardy, amiga do leão Lippy,
que sempre dizia: “Oh céus, oh vida, oh azar, não vai dar certo!”. Traumas de infância,
grandes sustos, perdas afetivas ou mesmo materiais, também podem desencadear
quadros ansiosos importantes, mas não chegariam a ser causas específicas.

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TRANSTORNO BIPOLAR

É uma enfermidade na qual ocorrem alterações do humor, caracterizando-se


por períodos de um quadro depressivo, que se alteram com períodos de quadros
opostos, isto é, a pessoa se sente eufórica (mania). Tanto o período de depressão,
quanto da mania podem durar semanas, meses ou anos.
O termo mania não significa “repetição de hábitos”, mas sintomas de euforia. O
Transtorno do Humor pode ocorrer, ao longo da vida, dentro de um curso bipolar ou
unipolar. O curso unipolar refere-se a episódios somente de depressão e, no bipolar,
depressão e mania (euforia). O Transtorno Bipolar do Humor atinge de igual maneira
homens e mulheres em torno de 1% a 2% e, geralmente, entre os 15 e 30 anos de
idade.
O Transtorno Bipolar também pode atingir as crianças, manifestando-se com
sintomas predominantes de humor ansioso e irritável. O humor da pessoa oscila de
muito eufórico (agitado) para muito triste (com desesperança, desmotivação e
desvalia).
Como em outras doenças, o Transtorno Bipolar do Humor afeta não só quem
o tem, como também, o cônjuge, familiares, amigos e empregadores. Se depressão e
mania forem acompanhadas de alucinações (ouvir, ver, sentir o que não existe) e
delírios (pensamentos irreais à realidade) trata-se do subtipo psicótico. As pessoas
que sofrem de Transtorno Bipolar levam, em média, oito anos antes de serem
diagnosticadas ou receberem tratamento adequado, o que pode causar grande
sofrimento e perdas.

Tipos de Transtorno Bipolar do Humor:


Existem quatro formas de Transtorno Bipolar do Humor:
• Transtorno Bipolar Tipo I – períodos de mania (euforia) com humor
elevado e expansivo grave o suficiente para causar prejuízo no trabalho, relações
sociais podendo necessitar de hospitalização contraposta por períodos de humor
deprimido, sentimentos de desvalia, desprazer, desmotivação, alterações do sono,

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apetite, entre outros. Geralmente, o estado maníaco, dura dias ou pelo menos uma
semana, e períodos de depressão de semanas a meses;
• Transtorno Bipolar Tipo II – períodos de hipomania, em que também
ocorre estado de humor elevado e agressivo, mas de forma mais suave. Um episódio
de tipo hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para
causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida social;
• Transtorno Bipolar Misto – períodos mistos, em que em mesmo dia
haveria alternâncias entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode
chorar, ficar triste, com sentimentos de desvalia e desprazer e, no momento seguinte,
estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva;
• Transtornos Ciclotímicos – períodos em que haveria uma alteração
crônica e flutuante do humor marcada por numerosos períodos com sintomas
maníacos e numerosos sintomas depressivos que se alterariam. Contudo, não seriam
suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza
de se tratar de depressão e mania. Isto é, pode ser facilmente confundida com o jeito
de ser da pessoa, “de lua”.

Principais teorias etiológicas:


Apesar de se desconhecer a base causal, existe uma interação complexa entre
fatores biológicos, genéticos e psicossociais para tentar explicar o Transtorno:
• fatores biológicos – as teorias dos neurotransmissores, nos sistemas
noradrenérgico, seratonérgico e dopaminérgico, que têm características semelhantes,
pois todos se originam em núcleos localizados no tronco cerebral e se projetam para
amplas áreas do pró-encéfalo, têm sido admitidas na etiologia dos Transtornos
Bipolares. Além desses, outros neurotransmissores, incluindo o glutemato,
neuropeptídeos, como a colecistocinina e o hormônio liberado de corticotrofina, têm
sido implicados assim como anormalidades no eixo hipotalâmico – pituitário – tireoide
são comuns no Transtorno Bipolar;
• fatores genéticos – quando um dos pais apresenta Transtorno Bipolar,
existe de 25% a 50% de chance de o filho adquirir Transtorno Bipolar. Quanto maior
a distância de parentesco, menor a possibilidade de ter um Transtorno Bipolar. Os

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estudos de gêmeos têm mostrado que a taxa de concordância em gêmeos


monozigóticos é de 33% a 90% e gêmeos dizigóticos cerca de 5% a 25%. As
associações entre o Transtorno Bipolar I e marcadores genéticos têm sido relatadas
para os cromossomas 5, 11 e x;
• fatores psicossociais – os acontecimentos vitais estressores precedem,
mais frequentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam
provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e
sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma
pessoa importante, uso de drogas, entre outros, podem contribuir para o
desencadeamento da doença.

Achados clínicos – como identificar:


Mania
• humor “para cima”, excitado, exaltação, alegria exagerada e duradoura;
irritabilidade (impaciência, “pavio curto”);
• agitação, inquietação física e mental;
• aumento da energia, da produtividade ou começar muitas coisas e não
conseguir terminar;
• pensamentos acelerados, tagarelice;
• achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza e
poder;
• otimismo e autoconfiança exagerados;
• aumento dos gastos, endividamentos;
• distração fácil – tudo desvia a atenção;
• maior contato social e desinibição, comportamento inadequado e
provocativo, agressividade física e/ou verbal;
• erotização, aumento da atividade e necessidade sexuais;
• insônia, redução da necessidade de sono;
• quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações, estressores
precedem, mais frequentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e
poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas

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neurotransmissores e sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na


família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas entre outros, podem
contribuir para o desencadeamento da doença.

Depressão
• humor “para baixo”, tristeza, angústia ou sensação de vazio;
• irritabilidade, desespero;
• pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida;
• cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental;
• falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim;
• falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia;
• pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, ideias de
culpa, fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio);
• sentimentos de insegurança, baixa autoestima, medo;
• interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no
passado e no futuro;
• redução da libido e vontade de ter sexo;
• perda ou aumento de apetite e/ou peso;
• insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado;
• dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por
outras doenças – dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas
gastrointestinais, alterações menstruais, queda de cabelo, dentre outros; em
depressões graves, alucinações e/ou delírios.

Tratamento do Transtorno Bipolar:


O tratamento envolve manejo nas fases agudas e na terapia de manutenção.
Os quadros agudos demandam contenção imediata dos sintomas por meio da
farmacologia: estabilizadores do humor, antidepressivos (se necessário),
antipsicóticos (se necessário) e, muitas vezes, internação hospitalar para proteção do
paciente.
Os episódios de depressão aguda são tratados, preferencialmente, com

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antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, pois são maiores indutores


de “virada” maníaca (eufórica) ou hipomaníaca, mais comuns com as ADTs
(tricíclicos).
As fases maníacas podem ser controladas com carbonato de lítio, ácido
valpróico, carbamazepina, lomotrigina, gebapentina e topiramato. Se sintomas
psicóticos estiverem presentes, é necessário o uso de antipsicóticos ou
benzodiazepínicos. Muitas vezes, é necessária a combinação de drogas, isto é, mais
de um estabilizador do humor associado, antidepressivos, mesmo na fase de
manutenção.
Existem substâncias que propiciam a desestabilização do quadro do humor e
que devem ser identificadas (tricíclicos, esteroides, álcool e os estimulantes).

Psicoterapia:
Sabe-se que a terapia cognitiva pode contribuir na adesão do tratamento e na
prevenção das recaídas, tornando-se um valioso acessório para o tratamento
farmacológico. Como relatado anteriormente, o Transtorno Bipolar não se limita
meramente a um problema bioquímico, mas também, psicológico e social (envolve
dificuldades pessoais, familiares e sociais). Existem outros tipos de psicoterapias,
como individual, grupal, de família, conjugal, entre outros, mas, o que importa é se
está surtindo resultado na melhora do paciente e na sua qualidade de vida.

TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)

Sou ou não sou um portador do TOC? Eis uma pergunta que você pode ter se
feito eventualmente. Provavelmente, ouviu em algum programa de rádio ou TV, leu
em alguma reportagem de jornal ou revista que lavar as mãos seguidamente, revisar
várias vezes as portas, janelas ou o gás antes de deitar, não gostar de segurar-se no
corrimão do ônibus. Evitar usar as toalhas de mão utilizadas pelos demais membros
da sua família, não conseguir tocar com a mão no trinco da porta de um banheiro
público, ter medo de passar perto de cemitérios ou entrar em uma funerária, de deixar
um chinelo virado. Assim como outros comportamentos semelhantes, podem, na

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verdade, constituir sintomas do chamado Transtorno Obsessivo-Compulsivo ou TOC.


E você deve ter ficado com dúvidas quanto a ser ou não um portador. Medos e
preocupações fazem parte do nosso dia a dia. Aprendemos a conviver com eles
tomando certos cuidados. Fechamos as portas antes de deitar, lavamos as mãos
antes das refeições ou depois de usar o banheiro, desligamos o celular antes da
sessão de cinema ou verificamos periodicamente o saldo bancário de nossa conta.
Esses mesmos comportamentos e preocupações, entretanto, podem se tornar
claramente excessivos, quando repetidos inúmeras vezes em um curto espaço de
tempo e quando acompanhados de grande aflição.
É comum, ainda, pelo tempo que tomam, que comprometam as rotinas e o
desempenho no trabalho. Isso configura o que, de forma convencional, chamamos de
obsessões ou compulsões, sintomas característicos de um transtorno bem mais
comum do que se imagina, o TOC.
O TOC é um transtorno mental incluído pelo Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) entre os
chamados transtornos de ansiedade. Manifesta-se sob a forma de alterações do
comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos
(obsessões como dúvidas, preocupações excessivas) e das emoções (medo,
desconforto, aflição, culpa, depressão).
Sua característica principal é a presença de obsessões (pensamentos,
imagens ou impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade
ou desconforto) e das compulsões ou rituais (comportamentos ou atos mentais
voluntários e repetitivos, realizados para reduzir a aflição que acompanha as
obsessões).
Dentre as obsessões mais comuns estão à preocupação excessiva com
limpeza (obsessão) que é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Outro exemplo
são as dúvidas (obsessão), que são seguidas de verificações (compulsão). A
obsessão está ligada aos pensamentos; já os atos ou comportamentos são
denominados de comportamentos compulsivos.

O que são obsessões?

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Obsessões são pensamentos ou impulsos que invadem a mente de forma


repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases, números,
músicas, etc. Sentidas como estranhas ou impróprias, as obsessões geralmente são
acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer.
O indivíduo, no caso do TOC, mesmo desejando ou se esforçando, não
consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas
absurdas ou ilógicas, causam ansiedade, medo, aflição ou desconforto que a pessoa
tenta neutralizar realizando rituais, compulsões, ou por meio de evitações (não tocar,
evitar certos lugares).

As obsessões mais comuns envolvem:

• preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação;


• dúvidas;
• preocupação com simetria, exatidão, ordem, sequência ou alinhamento;
• pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir outras
pessoas;
• pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios,
relacionados a sexo
(comportamento sexual violento, abusar sexualmente de crianças, falar
obscenidades, etc.);
• preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou
economizar;
• preocupações com doenças ou com o corpo;
• religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias);
• pensamentos supersticiosos – preocupação com números especiais,
cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças);
• palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e indesejáveis.

O que são compulsões ou rituais?

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Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais voluntários e


repetitivos, executados em resposta a obsessões, ou em virtude de regras que devem
ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer
verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar objetos
sem utilidade, repetir perguntas, etc.
As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade associada às
obsessões, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por
uma obsessão.
Por esse motivo se diz que as compulsões têm uma relação funcional (de aliviar
a aflição) com as obsessões. E, como são bem sucedidas, o indivíduo é tentado a
repeti-las, em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por perpetuá-los, tornando-
se ao mesmo tempo prisioneiro dos seus rituais.
Nem sempre as compulsões têm uma conexão realística com o que desejam
prevenir (por exemplo, alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para que
não aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma pedra da calçada
ao sair de casa, para que a mãe não adoeça). Nesse caso, por trás desses rituais
existe um pensamento ou obsessão de conteúdo mágico, muito semelhante ao que
ocorre nas superstições.
Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como
sinônimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão, na medida em que
praticamente todas as religiões e diversos grupos culturais adotam comportamentos
ritualísticos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-
marias, ladainhas, rezar três ou cinco vezes ao dia, benzer-se ao passar diante de
uma igreja. Existem rituais para batizados, casamentos, funerais, etc. 119

Além disso, certos costumes culturais, como a cerimônia do chá entre os


japoneses, o cachimbo da paz entre os índios, ou um funeral com honras militares,
envolvem ritos que lembram as compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa
preferência para o termo “compulsão” quando se fala em TOC.

As compulsões mais comuns são:

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• de lavagem ou limpeza;
• verificações ou controle;
• repetições ou confirmações;
• contagens;
• ordem, simetria, sequência ou alinhamento;
• acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar
ou economizar;
• compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números;
• diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos.

Compulsões mentais:
Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são
realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores, observáveis. Elas
têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento.
Alguns exemplos:
• repetir palavras especiais ou frases;
• rezar;
• relembrar cenas ou imagens;
• contar ou repetir números;
• fazer listas;
• marcar datas;
• tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos
contrários.

ESQUIZOFRENIA

Esquizofrenia é uma doença mental que afeta a capacidade da pessoa


distinguir se as experiências vividas são ou não reais. Afeta ainda a capacidade de
pensar logicamente, sentir emoções e sentimentos, e comportar-se em situações
sociais.
Não há cura para a esquizofrenia, mas o tratamento controla os sintomas e

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ajuda a pessoa a ter uma vida parecida com a de quem não sofre da doença. Ou seja,
pode trabalhar, namorar, ter amigos e divertir-se.
A esquizofrenia é uma doença que tem início no fim da adolescência e começo
da vida adulta (15 a 25 anos). Embora a frequência seja igual entre os sexos, pode
começar mais tardiamente nas mulheres.
Em torno de 1% da população mundial tem Esquizofrenia.
Esquizofrenia é uma doença complexa, intrigante e sua causa ainda não é
conhecida.
Sabe-se que a hereditariedade é um fator importante – pessoas que têm um
familiar com esquizofrenia têm maior chance de desenvolver a doença –, mas ainda
não se sabe quais os genes envolvidos ou se a presença deles é suficiente para o
desenvolvimento da esquizofrenia.
Gêmeos idênticos têm 50% de chance de desenvolver a doença quando um
deles já desenvolveu.
Alguns pesquisadores acreditam que a esquizofrenia é resultado de uma
combinação de fatores genéticos e ambientais. Certas pessoas nascem com essa
tendência, mas o problema só aparece se expostas a determinados fatores
ambientais.
Não existe um consenso de quais seriam os fatores ambientais envolvidos, mas
estudos sugerem que infecções, má nutrição na gravidez e complicações no parto
podem contribuir posteriormente para o desenvolvimento da esquizofrenia.
Os sintomas são variados e podem aparecer subitamente, embora, geralmente,
a doença se manifeste em meses ou anos.
Inicialmente os sintomas podem não ser evidentes, e são confundidos com
alterações próprias da idade ou com de outras doenças psiquiátricas.
Os indivíduos começam a perceber que há algo estranho, mas muitas vezes
são incapazes de contar para seus familiares.
Podem relatar que estão mais tensos, tendo dificuldade de concentração ou
para dormir, começam a isolar-se das pessoas, não conseguem mais ficar com os
amigos e param de estudar ou trabalhar. Com a progressão da doença, aparecem os
sintomas mais característicos da psicose (perda da noção da realidade).

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Mudanças na percepção do pensamento:


a) Delírios – são crenças não verdadeiras, baseadas em uma inferência
incorreta sobre a realidade exterior, apesar de provas e evidências contrárias. O
paciente pode sentir que seus pensamentos são influenciados, controlados, inseridos
ou transmitidos para fora da cabeça. Os eventos normais do dia a dia passam a ter
significado diferente. O indivíduo pode sentir-se perseguido ou discriminado e achar
que tem poderes ou atributos especiais. Pode sentir que seu corpo está mudando ou
que recebe influências de forças externas;
b) Alucinações – são falsas percepções na ausência de um estímulo
externo, mas com as qualidades de uma verdadeira percepção. Isto é, eles podem
ver, ouvir e sentir 1coisas que não estão realmente no local. As alucinações podem
ser auditivas, visuais, táteis, olfativas, gustativas ou uma combinação de todas:
• Auditivas – são as mais comuns em esquizofrenia e podem ocorrer na
forma de barulhos, músicas ou mais frequentemente como vozes. Essas vozes podem
ser sussurradas, ou claras e distintas, podem falar entre si ou ser uma única voz.
Podem comentar o comportamento da pessoa e, às vezes, podem dar ordens;
• Visuais – podem ser simples ou complexas, podendo envolver fachos de
luz, pessoas ou coisas;
• Olfativas e gustativas – ocorrem em geral juntas como cheiros ou gostos
ruins;
• Táteis – o paciente tem a sensação de ser tocado ou picado, ou ainda
sensações elétricas como se insetos estivessem rastejando sobre a pele.
c) Distúrbios formais do pensamento – os pensamentos mudam de assunto
completamente e esta alteração aparece na fala da pessoa.

Transtornos de comportamento e motor

Muitos pacientes apresentam diminuição de iniciativa, transtornos motores e


alterações no comportamento social. Um paciente pode ficar parado por um longo
período de tempo ou engajar-se em uma atividade repetitiva sem finalidade.

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Os extremos podem incluir o estupor catatônico, situação na qual o paciente


fica imóvel por um período longo, ou o excitamento catatônico, quando o indivíduo
apresenta atividade motora incontrolável e sem objetivo.
Outras alterações motoras são estereotipias (movimentos repetidos sem
objetivo aparente) e maneirismos (atividades normais, mas fora de contexto).
Geralmente a deterioração do comportamento social ocorre junto com o
isolamento social. Os indivíduos podem negligenciar seus cuidados pessoais, vestir
roupas sujas ou inapropriadas, e suas coisas e ambientes permanecerem
descuidados e desarrumados.
Podem ainda desenvolver comportamentos que contrariam as convenções
sociais como falar obscenidades em público ou apresentar maneiras rudes à mesa.
Podem ser encontrados nas ruas marchando, falando alto e gesticulando. 123

Esse descuido com a higiene pessoal e comportamentos excêntricos podem


dificultar ainda mais a aproximação de familiares, amigos e estranhos. Essa situação
corrobora ainda mais a certeza, desses pacientes, de que as pessoas não gostam
deles.

Transtornos do afeto:
A diminuição da resposta emocional já foi considerada um sintoma
característico da esquizofrenia. Muitos pacientes são indiferentes ou apáticos, evitam
o contato com olhar, apresentam ausência na inflexão na voz, mudanças na
expressão facial e os movimentos espontâneos e os gestos expressivos podem estar
diminuídos. Com frequência perdem a capacidade de sentir prazer e podem
descrever-se como vazios de emoção.

Reações dos pacientes aos sintomas:


A pessoa com esquizofrenia altera seu entendimento do mundo na tentativa de
explicar as experiências vividas. Devido às experiências serem incomuns, as
explicações também são. É difícil explicar para alguém o fenômeno de ouvir vozes.
Pacientes mais crônicos, que já apresentam dificuldades de relacionamento social,
ficam isolados e muitas vezes envolvidos em suas próprias fantasias.

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Podem imaginar que outras pessoas tentam prejudicá-los, não estão


interessadas nele ou querem criticá-lo.
Alternativamente, os pacientes podem experienciar reações negativas de
outras pessoas durante os episódios psicóticos, o que pode pesar ainda mais na sua
imaginação. Percebem ainda que não são mais competentes no trabalho. Ele pode
ter sido um bom estudante durante anos ou um trabalhador devotado e competente,
mas após a doença percebe que houve diminuição de sua performance.
A experiência de estar “louco” é uma das mais dolorosas e significativas.
Quando os pensamentos tornam-se desorganizados, quando as decisões estão
bloqueadas, quando as emoções inexplicadas e não esperadas aparecem, há uma
conscientização do clima de horror, de que mente está fazendo armadilhas e que foi
embora seu modo usual de agir.
A experiência da psicose faz com que o paciente mude o conceito a respeito
de sua própria mente. A experiência do distúrbio faz com que a pessoa desacredite
nos seus processos de pensamento, mesmo quando estes voltam ao normal.
O paciente perde a fé de que possa pensar propriamente. Após a psicose, ele
tem conhecimento de que alucinou e, por algum tempo ou para sempre, ele não será
capaz de reagir normalmente aos sons estranhos e ocasionais que podem ser ouvidos
em locais e horas não esperados.

Tratamento:
O tratamento da esquizofrenia envolve vários tipos de profissionais que
trabalham em equipe.
Os objetivos da equipe de saúde são:
• controlar os sintomas da doença tentando minimizar os efeitos deletérios
da medicação;
• prevenir riscos de suicídio e crise paranoide;
• evitar hospitalizações;
• desencorajar o paciente ao uso indiscriminado da emergência médica;
• cuidar da saúde geral do paciente;
• melhorar sua qualidade de vida e dar à família suporte emocional.

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Talvez o fator mais importante para cumprir esses objetivos seja assegurar que
o paciente faça o tratamento. Devido ao isolamento social, ideias paranoides, negação
da doença e desconforto com os efeitos colaterais das drogas, muitos pacientes
abandonam o tratamento.

Tratamento farmacológico:
Antipsicóticos “típicos” ou clássicos são aquelas medicações que tendem a
produzir sintomas extrapiramidais (EPS). Esses agentes têm sido as principais drogas
na farmacoterapia da esquizofrenia por mais de um quarto de século.
Os sintomas que respondem melhor aos antipsicóticos típicos são os
chamados sintomas positivos, como delírios e alucinações. Já nos sintomas
negativos, além de não responderem tão bem, podem ser acentuados com seu uso.
A maioria dos autores divide o tratamento farmacológico da esquizofrenia em
duas fases: aguda e manutenção ou profilática.

Fase aguda
Envolvem a tentativa de aliviar os sinais e sintomas associados como delírios,
alucinações, alterações formais do pensamento e do comportamento. Apesar da
variação das 125 doses utilizadas na prática clínica, as doses recomendadas para a
fase aguda situam-se em 600-700 mg de clorpromazina ou equivalente/dia ou 5-20
mg/dia de haloperidol ou flufenazina.
A administração de altas doses de antipsicótico (neuroleptização rápida) no
tratamento de pacientes agudos não é indicada devido à falta de estudos controlados,
demonstrando que essa medida é mais eficaz no controle de sintomas psicóticos.
Após a remissão dos sintomas, diminui-se a dose e avalia-se a necessidade de
tratamento em longo prazo com antipsicóticos.
Se a medicação for suspensa, o médico deve estar atento a algum sinal de
recidiva e, em caso de nova crise psicótica, a medicação deve ser introduzida por
tempo indefinido.

Fase de manutenção ou profilática

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Esquizofrenia é uma doença que dura a vida toda, como diabetes ou


hipertensão. A maioria das pessoas com esquizofrenia necessitará de cuidados
médicos e medicação pelo resto de suas vidas.
As medicações antipsicóticas não curam a esquizofrenia, somente controlam
os sintomas da doença. Ou seja, se o paciente deixar de tomar a medicação pode
sofrer uma recaída.
Algumas pessoas, mesmo tomando a medicação regularmente, podem ter uma
recaída dos sintomas psicóticos.
É muito importante que elas possam reconhecer que esses sintomas estão
voltando, e procurar ajuda imediatamente. Antes do aparecimento de sintomas como
delírios ou alucinações, é comum aparecerem sintomas menos específicos como
irritabilidade, insônia e depressão.
Os familiares devem estar atentos a mudanças sutis que possam ocorrer com
seu familiar doente, pois a intervenção médica precoce pode impedir a recaída.
Enquanto essa necessidade de tratamento por longo tempo é bem reconhecida
pelo médico, frequentemente não é bem aceita pelo paciente.
Muitos estudos mostram quão inconstantes e não confiáveis eles podem ser
em relação à medicação. Interrompem porque se sentem bem, e não entendem
porque devem continuar tomando o remédio; ou ainda, porque os efeitos colaterais
são muito desagradáveis.
A introdução dos antipsicóticos de ação prolongada, de uso injetável,
possibilitou uma maior adesão desses pacientes ao tratamento.

HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE ATENÇÃO

A hiperatividade, denominada também como desordem do déficit de atenção,


pode afetar crianças, adolescentes e até mesmo alguns adultos. Os sintomas variam
de brandos a graves e podem incluir problemas de linguagem, memória e habilidades
motoras.
Embora a criança hiperativa tenha muitas vezes uma inteligência normal ou
acima da média, o estado é caracterizado por problemas de aprendizado e

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comportamento. Os professores e pais da criança hiperativa devem saber lidar com a


falta de atenção, impulsividade, instabilidade emocional e hiperativa incontrolável da
criança.
O comportamento hiperativo pode estar relacionado a uma perda da visão ou
audição, a um problema de comunicação, como a incapacidade de processar
adequadamente os símbolos e ideias que surgem, estresse emocional, convulsões ou
distúrbios do sono.
Também pode estar relacionado a paralisia cerebral, intoxicação por chumbo,
abuso de álcool ou drogas na gravidez, reação a certos medicamentos ou alimentos
e complicações de parto, como privação de oxigênio ou traumas durante o
nascimento.
Esses problemas devem ser descartados como causa do comportamento antes
de tratar a hiperatividade da criança.
O verdadeiro comportamento hiperativo interfere na vida familiar, escolar e
social da 127 criança. As crianças hiperativas têm dificuldade em prestar atenção e
aprender. Como são incapazes de filtrar estímulos, são facilmente distraídas. Essas
crianças podem falar muito, alto demais e em momentos inoportunos.
As crianças hiperativas estão sempre em movimento, sempre fazendo algo e
são incapazes de ficar quietas. São impulsivas. Não param para olhar ou ouvir. Devido
à sua energia, curiosidade e necessidade de explorar surpreendentes e,
aparentemente infinitas, são propensas a se machucar e a quebrar e danificar coisas.
As crianças hiperativas toleram pouco, as frustrações. Elas discutem com os
pais, professores, adultos e amigos. Fazem birras e seu humor flutua rapidamente.
Essas crianças também tendem a ser muito agarradas às pessoas.
Precisam de muita atenção e tranquilização. É importante para os pais
perceberem
que as crianças hiperativas entenderam as regras, instruções e expectativas
sociais. O problema é que elas têm dificuldade em obedecê-las. Esses
comportamentos são acidentais e não propositais. Para a criança hiperativa e sua
família, uma ida a um parque de diversão ou supermercado pode ser desastrosa. Há
simplesmente muita coisa acontecendo – muito estímulo ao mesmo tempo.

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Devido à sua incapacidade de concentrar-se e ao constante bombardeamento


de estímulos, a criança hiperativa pode ficar estressada.
A criança hiperativa pode ter muitos problemas. Apesar da “dificuldade de
aprendizado”, essa criança é geralmente muito inteligente. Sabe que determinados
comportamentos não são aceitáveis. Mas, apesar do desejo de agradar e de ser
educada e contida, a criança hiperativa não consegue se controlar. Pode ser frustrada,
desanimada e envergonhada.
Ela sabe que é inteligente, mas não consegue desacelerar o sistema nervoso,
a ponto de utilizar o potencial mental necessário para concluir uma tarefa.
A criança hiperativa muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas,
mas não entende por que é tão diferente.
Fica perturbada com suas próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as
tarefas normais de uma criança na escola, no playground ou em casa, a criança
hiperativa pode sofrer de estresse, tristeza e baixa autoestima.
Um especialista em comportamento infantil pode ajudá-lo a distinguir entre a
criança normalmente ativa e enérgica e a criança realmente hiperativa. As crianças,
até mesmo as menores, podem correr, brincar e agitarem-se felizes durante horas
sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço.
Para garantir que a criança realmente hiperativa seja tratada adequadamente
– e evitar o tratamento inadequado de uma criança normalmente ativa – é importante
que seu filho receba um diagnóstico preciso.
Durante a primeira ou a segunda consulta médica, a criança hiperativa pode se
comportar de forma quieta e educada. Sabendo o que é esperado, pode se
transformar em uma criança “modelo”. Esteja preparado para descrever, de forma
precisa e objetiva, o comportamento do seu filho em casa e nas atividades sociais. Se
seu filho está encontrando dificuldade na escola, peça ao professor que converse com
o médico ou envie-lhe um relatório por escrito.
Podem precisar de várias consultas antes que o comportamento hiperativo
torne-se aparente. Não se preocupe. Um especialista em crianças, geralmente, pode
realizar um diagnóstico preciso.
Ao tratar da criança hiperativa, sua meta é ajudá-la a fazer o melhor possível,

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em casa, na escola, e com os amigos. Lembre-se sempre de que seu filho está lutando
com todas as forças para superar uma deficiência do sistema nervoso. Explique, se
preciso for, mas não se sinta envergonhado ou culpado quando seu filho não se
comportar bem.
Os pais da criança hiperativa merecem muita consideração.
É preciso muita paciência – e vigor – para amar e apoiar a criança hiperativa
em todos os desafios e frustrações inerentes à doença. Os pais da criança hiperativa
estão sempre preocupados e atentos, sempre “em alerta”. Consequentemente, é fácil
sentirem-se cansados, abatidos e frustrados. É de importância vital para os pais da
criança hiperativa, serem bons consigo mesmos, descansar quando apropriado, além
de buscar e aceitar o apoio para eles e para o filho.

Tratamento convencional:
Antes de qualquer tratamento, um exame físico deve ser feito para descartar
outras causas para o comportamento do seu filho, tais como infecção crônica do
ouvido médio, sinusite, problemas visuais ou auditivos ou outros problemas
neurológicos.
O metilfenidato é o medicamento mais comumente receitado para
hiperatividade. É um estimulante que tem efeito paradoxal de acalmar o sistema
nervoso e aumentar a capacidade da 129 criança hiperativa de prestar atenção.
Contudo, não deixe de verificar com seu médico antes de parar de dar esse
medicamento a seu filho. A tioridazina é um tranquilizante ao qual se pode recorrer se
a criança for extremamente agressiva e, nesse caso, apenas nas situações mais
difíceis.
Na maioria das circunstâncias, o medicamento para a hiperatividade pode ser
interrompido durante o verão e retomado quando as aulas começarem novamente,
após as férias.
Essa conduta pode limitar alguns dos efeitos colaterais prolongados desses
medicamentos. Após um verão sem medicamento, talvez seja útil deixar que seu filho
frequente as primeiras semanas de aula sem qualquer medicação. Considere esse
período como um teste para determinar se seu filho pode passar sem o medicamento

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(converse sempre com seu médico antes de descontinuar qualquer tratamento,


durante qualquer período de tempo).

Psicoterapia e Psicopedagogia:
Essas disciplinas ajudam a criança a entender o problema contra o qual está
lutando, a estabelecer metas e padrões e reconhecer e avaliar seu comportamento.
Podem ser de grande valia.
Esses programas ensinam controles internos que podem ser usados em várias
situações. Seu filho aprenderá a oferecer recompensas pelos seus feitos e aprenderá
a partir dos seus erros.
Coopere com seu médico ou terapeuta para desenvolver programas de
modificação comportamental. É importante que o programa seja claro, facilmente
entendido e executado por todos que dele participam – pela criança bem como pelos
adultos.
É essencial que essas intervenções sejam realizadas com cautela e boa
vontade, em um ambiente calmo e carinhoso. A criança deve participar com
disposição. Certifique-se de que os dois tenham entendido que esses programas
objetivam ajudar e não punir.
Desenvolva uma rotina estável em casa. Para diminuir a confusão e a
quantidade de estímulos diários, defina horários específicos para comer e dormir.
Experimente atribuir uma tarefa pequena e rápida e insista delicadamente para
que seja concluída. Em seguida, não deixe de agradecer e elogiar seu filho quando a
tarefa tiver sido concluída.
Faça com que a criança participe de projetos que ela goste para ajudá-la a
concentrar-se.
Aprender a concentrar-se alterará sua resposta ao mundo, gradativamente.
Lembre-se sempre de que, além de ter um desequilíbrio do sistema nervoso que
transforma em tortura o simples ato de permanecer sentado, a criança hiperativa e
inteligente entedia-se facilmente.
Cooperar com o hiperativo para ajudá-lo a realmente concluir um projeto.
Concluir um projeto oferecerá uma ideia de competência e maior autoestima. O

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domínio e conclusão de uma tarefa requerem elogios.


Busque terapia para você e seu cônjuge. Para ajudar a diminuir os sentimentos
de frustração e isolamento, os pais da criança hiperativa precisam de informação e
apoio.
Busque auxílio; certamente encontrará. Você aprenderá a apoiar seu filho e a
ficar calmo e próximo, mesmo quando a situação parecer fora de controle. Você
também aprenderá que é importante que os pais tirem férias sem se sentirem
estressados ou culpados por deixarem uma criança “difícil” com outras pessoas
competentes. Nunca é demais enfatizar a necessidade dos pais terem uma folga. Tire
uma tarde, uma noite ou um fim de semana. Entre em contato com uma pessoa que
possa tomar conta do seu filho. Ligue para seus pais e amigos.
Se você não fizer isso para o seu próprio bem, faça por seu filho.
Provavelmente você voltará se sentindo renovado, mais calmo e carinhoso.

Atividades físicas:
São fundamentais, principalmente aquelas que mantêm a criança em contato
com a água, como a hidroginástica e a natação. É importante saber que a água exerce
um efeito calmante. Práticas como a yoga e o tai-chi-chuan também são interessantes,
pois treinam a mente para que fique quieta.

Alguns cuidados importantes:


Durante a gestação, mantenha a exposição a chumbo ambiental ao mínimo
possível e elimine álcool. Os dois têm sido relacionados à hiperatividade.
Não deixe que seu filho se exponha ao chumbo. As fontes mais comuns de
exposição ao chumbo são tinta à base de chumbo, água potável e cerâmica mal
esmaltada.

Alguns fatos sobre a hiperatividade:


Há um equívoco muito grande, principalmente nas escolas, em “diagnosticar”
crianças como sendo hiperativas. Embora muitos pais de crianças enérgicas
perguntem aos médicos sobre a hiperatividade, ela não é problema comum. Agitação

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não é sinônimo de hiperatividade. Ansiedade também não. Tampouco problemas de


concentração. É fundamental procurar um psicólogo, de preferência especialista em
Psicopedagogia ou Psicologia Escolar.
De acordo com um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, apenas 3%
das crianças são realmente diagnosticadas com a desordem do déficit de atenção. A
hiperatividade é dez vezes mais comum nos meninos do que nas meninas. A causa
ou causas exatas da hiperatividade são desconhecidas.
Os profissionais de saúde teorizam que a desordem pode ser resultado de:
fatores genéticos; desequilíbrio químico; lesão ou doença na hora do parto ou depois
do parto; ou um defeito no cérebro ou sistema nervoso central, resultando no mau
funcionamento do mecanismo responsável pelo controle das capacidades de atenção
e filtragem de estímulos externos.
Metade das crianças hiperativas tem menos problemas comportamentais
quando seguem uma dieta livre de substâncias como flavorizantes, corantes,
conservantes, glutamato monossódico, cafeína, açúcar e chocolate e mantém
psicoterapia associada a atividades físicas, ou seja, o tratamento deve ser
multidisciplinar.

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

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http://www.crpsp.org.br/a_acerv/jornal_crp/146/frames/orientacao.gif.

Muitas pessoas confundem a aplicação de testes com avaliação psicológica. A


avaliação psicológica pode envolver técnicas de dinâmica de grupo, entrevistas,
questionários, levantamento do histórico de vida e tudo o mais que tenha como
objetivo avaliar – no sentido de analisar, compreender, esclarecer – a dinâmica dos
processos psicológicos representativos de um indivíduo. Sendo, portanto, muito mais
complexa que a simples aplicação de testes psicológicos.
A depender dos objetivos da avaliação, que pode ser diagnóstica, de emprego,
demissional, ela pode durar várias sessões. Um grande engano cometido por quem
necessita de uma avaliação é que imagina que ela pode ser realizada em 15 minutos,
por exemplo. Puro engano. Para se chegar a um diagnóstico mais preciso, o psicólogo
necessita realizar um levantamento minucioso.
A avaliação psicológica deve ser utilizada em todo e qualquer setor da
sociedade em que se necessite conhecer melhor o funcionamento da psique humana,
visando orientar ou tomar certas decisões relativas à pessoa em questão (PELLINI,
2000).
Encontram-se referências precisas de que desde o século XIX já se realizava
avaliação psicológica em vários países e no Brasil, obviamente de forma diferente dos
modelos conhecidos atualmente. 133

No Brasil, a avaliação psicológica começou a ser praticada mais


sistematicamente nas décadas de 50 e 60, porém, já na década de 20 foram
realizados trabalhos acadêmicos e criados institutos para a realização de processos
de seleção de pessoal nos setores públicos e privados, destacando-se as empresas
do segmento de transporte coletivo.
Com a regulamentação da Psicologia na década de 60, houve um aumento
significativo de profissionais e de empresas interessadas em investir na área de
recrutamento e seleção, passando a compor setores e a contratar psicólogos que
realizassem avaliação psicológica em candidatos, tendo o intuito de aumentar as
probabilidades de “acerto”, isto é, de selecionarem “a pessoa certa para o lugar certo”.
As décadas de 80 e 90 foram promissoras para a área. Entretanto, se por um

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lado havia a utilização maciça de testes psicológicos nas avaliações para seleção de
pessoal, por outro, não se encontravam instrumentos adaptados ou criados
especificamente para esse fim.
Visualiza-se, atualmente, um panorama no qual houve uma redução
significativa da utilização dos testes psicológicos devido às rigorosas exigências de
qualidade dos instrumentos, trazendo maior segurança ao profissional que se embasa
em seus resultados para tomar decisões estratégicas e, não raramente, de maneira
decisiva no direcionamento da vida das pessoas.
Tanto no setor da Psicologia Clínica quanto no da Psicologia Organizacional,
onde se pode fazer uso da Avaliação Psicológica, contar com os resultados obtidos a
partir de testes é de grande importância, pois traz ao avaliador dados não facilmente
perceptíveis de outro modo a respeito do candidato, além de poder confirmar aspectos
percebidos durante a entrevista e dinâmica de grupo, se for o caso. Praticada de
modos diferentes de acordo com cada objetivo, a ferramenta contribui de forma
decisiva para o diagnóstico do candidato ou paciente.
A avaliação psicológica não se reduz à aplicação de testes. Além de testes, a
avaliação compreende técnicas de dinâmica de grupo, entrevistas, observação de
comportamento e uma anamnese bem-feita, ou seja, investigação da vida social,
familiar, física e emocional do paciente, com análise criteriosa do histórico de vida.

Na prática:

De maneira geral, uma avaliação psicológica se constitui por uma entrevista


individual, às vezes substituída ou acrescida de uma dinâmica de grupo, e um teste
para avaliação da personalidade. Outros testes, de habilidades ou aptidões
específicas, são acrescentados ao conjunto de técnicas de avaliação, conforme o
objetivo e a área de atuação do profissional.
O objetivo maior é o de diagnosticar cada pessoa, conhecer suas competências
individuais e, para isso, o teste psicológico ainda é o melhor instrumento de que se
dispõe, embora jamais único no processo, pois além de resultar em dados confiáveis,
já que suas características psicométricas são comprovadas cientificamente. Ele

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permite que o psicólogo tenha uma visão total da pessoa, que consiga definir quais
são as suas competências ou características mais vantajosas e quais aquelas em que
precisaria investir um pouco mais.
Em um processo de seleção, por exemplo, tais informações permitem ao
psicólogo indicar com maior segurança pessoas para cargos específicos e orientar as
lideranças sobre como lidar com seus colaboradores e no que efetivamente investir
para obter maior desenvolvimento e melhores resultados.
Da mesma forma, em treinamento e desenvolvimento, uma avaliação
psicológica traz subsídios suficientes para que um programa seja encaminhado
considerando as especificidades individuais e grupais, podendo até, com isso, gerar
um redirecionamento das estratégias adotadas.
Há pouco tempo, algumas empresas procuravam premiar colaboradores
tecnicamente bons com uma promoção para cargos de chefia, sem outro critério
senão a satisfação com o desempenho desse funcionário, ou seja, sem uma avaliação
que pudesse assegurar que essa pessoa tivesse características condizentes com
posições de liderança, além de sua competência técnica.
O resultado final geralmente era desastroso para o colaborador e para a
empresa. Por não ser um líder e necessitar desenvolver as competências de liderança,
não se saía bem na nova função. Como nem sempre é possível a pessoa retornar ao
cargo anterior, a empresa contava com duas opções: mantê-lo no cargo e arcar com
consequências indesejáveis ou então demiti-lo. Prejuízo para ambos.
Para um planejamento de carreira, a realização de uma avaliação psicológica
também se torna decisiva, visto que norteará todo o programa a ser desenvolvido com
o profissional, especificando as características psicológicas a serem desenvolvidas
para que ele possa futuramente ascender em uma hierarquia com sucesso.
No momento atual, o foco das empresas, seja qual for o seu negócio, é cada
vez mais seus recursos humanos e sabe-se que o sucesso da empresa deve-se ao
conhecimento e ao investimento em pessoas. A avaliação psicológica, científica e
ética, apoiada em instrumentos e testes fidedignos, contribui essencialmente para
essa finalidade.
Em se tratando da Psicologia Clínica, a avaliação psicológica é usada para fins

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diagnósticos, ou seja, para avaliar a saúde emocional do paciente e verificar se ele é


portador de algum transtorno. Vale ressaltar que nem sempre a queixa inicial é a
responsável pelo sofrimento psíquico de uma pessoa, mas a constatação disso só se
verifica depois de uma avaliação psicológica.

Entrevista psicológica

Existem vários tipos de entrevistas e são vários os profissionais que dela se


utilizam. Com o psicólogo não é diferente. Ele utiliza esse instrumento para elaborar
diagnósticos, durante avaliações e em prognóstico, ou seja, quando, durante uma
entrevista devolutiva, por exemplo, mostra as probabilidades futuras de um quadro
psicológico atual.
É bem verdade que a entrevista psicológica sofreu algumas modificações no
início do século XIX, quando predominava o modelo médico. Naquela época,
Kraepelin usava a entrevista com o objetivo de detalhar o comportamento do paciente,
e, assim, poder identificar as síndromes e as doenças específicas que as
classificavam segundo a nosografia vigente. (SILVA, 2007).
Enquanto isso, Meyer, psiquiatra americano, se interessava pelo enfoque
psicobiológico (aspectos biológicos, históricos, psicológicos e sociais) do entrevistado.
A partir de Hartman e Anna Freud o interesse da entrevista se deslocou para as
defesas do paciente. Isto é, a Psicanálise teve sua influência na investigação dos
processos psicológicos, sem enfatizar o aspecto diagnóstico, antes valorizado.
Nos anos 50, Deutsch e Murphy apresentaram sua técnica denominada Análise
Associativa que considerava importante registrar não somente o que o paciente dizia,
mas, também, em fornecer informações sobre ele. Desse modo, desviou-se o foco
sobre o comportamento psicopatológico para o comportamento dinâmico. Ainda
naquela década, Sullivan concebeu a entrevista como um fenômeno sociológico, uma
díade de interferência mútua.
Após esse período, a entrevista e o aconselhamento psicológicos se deixaram
influenciar, entre outros, por Carl Rogers, cuja abordagem consiste em centrar no
paciente. Ou seja, em procurar compreender, de acordo com o seu referencial,

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significados e componentes emocionais, tendo como base a sua aceitação


incondicional por parte do entrevistador.

Definição de entrevista psicológica

http://www.institutouniao.com.br/imagens.

A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação, entre duas ou


mais pessoas com o propósito previamente fixado no qual uma delas, o entrevistador,
procura saber o que acontece com a outra, o entrevistado, procurando agir conforme
esse conhecimento (WIENS apud NUNES, in CUNHA, 1993).
Enquanto técnica, a entrevista tem seus próprios procedimentos empíricos por
meio dos quais não somente se amplia e se verifica, mas, também, simultaneamente,
absorve os conhecimentos científicos disponíveis. Nesse sentido, Bleger (1960) define
a entrevista psicológica como sendo “um campo de trabalho no qual se investiga a
conduta e a personalidade de seres humanos”.
Outra definição caracteriza a entrevista psicológica como sendo “uma forma
especial de conversão, um método sistemático para entrar na vida do outro, na sua
intimidade” (RIBEIRO, 1988, p. 154). Enfim, Gil (1999, p. 117) compreende a
entrevista como uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes, busca
coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação.

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A entrevista psicológica pode ser também um processo grupal, isto é, com um


ou mais entrevistadores e/ou entrevistados. No entanto, esse instrumento é sempre
em função da sua dinâmica, um fenômeno de grupo, mesmo que seja com a
participação de um entrevistado e de um entrevistador (SILVA, 2007).

Os objetivos da entrevista

Com base nos critérios que objetivaram a entrevista em saúde mental, pode-
se classificar a entrevista quanto aos seguintes objetivos:
a) diagnóstica – visa estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do
paciente, bem como as indicações terapêuticas adequadas. Assim, faz-se necessário
uma coleta de dados sobre a história do paciente e sua motivação para o tratamento.
Quase sempre, a entrevista diagnóstica é parte de um processo mais amplo de
avaliação clínica que inclui testagem psicológica;
b) psicoterápica – procura colocar em prática estratégia de intervenção
psicológica nas diversas abordagens – rogeriana (C. Rogers), jungiana (C. Jung),
gestalt (F. Perls), 139 bioenergética (A. Lowen), logoterapia (V. Frankl) e outras –, para
acompanhar o paciente, esclarecer suas dificuldades, tentando ajudá-lo a solucionar
seus problemas;
c) de encaminhamento – logo no início da entrevista, deve ficar claro para
o entrevistado, que ela tem como objetivo indicar seu tratamento, e que este não será
conduzido pelo entrevistador. Devem-se obter informações suficientes para se fazer
uma indicação e, ao mesmo tempo, evitar que o entrevistado desenvolva um vínculo
forte, uma vez que pode dificultar o processo de encaminhar;
d) de seleção – o entrevistador deve ter um conhecimento prévio do
currículo do entrevistado, do perfil do cargo, deve fazer uma sondagem sobre as
informações que o candidato tem a respeito da empresa, e destacar os aspectos mais
significativos do examinando em relação à vaga pleiteada, etc.;
e) de desligamento – identifica os benefícios do tratamento por ocasião
da alta do paciente, examina junto com ele os planos da pós-alta ou a necessidade
de trabalhar algum problema ainda pendente. Essa entrevista também é utilizada com

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o funcionário que está deixando a empresa, e tem como objetivo obter um feedback
sobre o ambiente de trabalho, para providências, intervenções do psicólogo em caso,
por exemplo, de alta rotatividade de demissão em um determinado setor;
f) de pesquisa – investiga temas em áreas das mais diversas ciências,
somente se realiza a partir da assinatura do entrevistado ou paciente, do documento
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução CNS no 196/96), no qual
estará explícita a garantia ao sigilo das suas informações e identificação, e liberdade
de continuar ou não no processo.

A sequência temporal das entrevistas diagnósticas:

http://www.corporal.com.br/segura/imagens_arquivos/quadrodefiguras.jpg.

Essa sequência pode ser subdividida em: entrevista inicial; entrevistas


subsequentes e entrevista de devolução, caracterizadas de forma diferente, e
mostrando objetivos distintos conforme o momento em que elas ocorram (GOLDER,
2000).

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a) Entrevista inicial
É a primeira entrevista de um processo de psicodiagnóstico. Semidirigida,
durante a qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Segundo Fiorini (1987,
p. 63), o empenho do terapeuta nessa primeira entrevista pode ter uma influência
decisiva na continuidade ou no abandono do tratamento. Pinheiro (2004) salienta que
essa entrevista ocorre em um certo contexto de relação constantemente negociada.
O termo negociação se refere ao posicionamento definido como “um processo
discursivo, através do qual [...] são situados numa conversação como participantes
observáveis, subjetivamente coerentes em linhas de histórias conjuntamente
produzidas” (DAVIES; HARRÉ apud PINHEIRO, 2004, p.186).
Essa entrevista, geralmente, inicia-se com a chamada telefônica de outro
técnico, 141 encaminhando o entrevistado para a avaliação psicodiagnóstica, ou com a
chamada do próprio entrevistado. Tem como objetivos discutir expectativas, clarear
as metas do trabalho, e colher informações sobre o entrevistado, que não poderiam
ser obtidas de outras fontes (SILVA, 2007).
As primeiras impressões sobre o entrevistado, sua aparência, comportamento
durante a espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que podem
facilitar o processo de análise do caso. Para Gilliéron (1996), a primeira entrevista
deve permitir conhecer:
• o modo de chegada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por
alguém ou a conselho de alguém, etc.);
• o tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o seu
terapeuta;
• as queixas iniciais verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira
pela qual ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido).
A partir dessas impressões e expectativas, entrevistador e entrevistado
constroem mutuamente suas transferências, contratransferências, e resistências que
foram ativadas bem antes de ocorrer o encontro propriamente dito.
Um clima de confiança proporcionado pelo entrevistador facilita que o
entrevistando revele seus pensamentos e sentimentos sem tanta defesa, portanto,
com menos distorções. No final dessa entrevista devem ficar esclarecidos os

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seguintes pontos: horários, duração das sessões, honorários, formas de pagamento


(quando particular), condições para administrar instrumentos de testagem e para as
condições de consulta a terceiros.

b) Entrevistas subsequentes
Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre a
pessoa do paciente, esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do
contrato de trabalho de psicodiagnóstico, normalmente são necessários mais alguns
encontros. O objetivo das entrevistas subsequentes é a obtenção de mais dados com
riqueza de detalhes sobre a história do entrevistado, tais como: fases do seu
desenvolvimento, escolaridade, relações familiares, profissionais, sociais e outros.

c) Entrevista de devolução ou devolutiva


No término do psicodiagnóstico, o técnico tem algo a dizer ao entrevistado em
relação ao que fundamenta a indicação. Em 1991, Cunha, Freitas e Raymundo (apud
NUNES, in CUNHA, 1993), elaboraram algumas recomendações sobre a entrevista
de devolução:
 após a interpretação dos dados, o entrevistador vai comunicar-lhe em
que consiste o psicodiagnóstico, e indicar a terapêutica que julga mais adequada;
 o entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o
processo de avaliação foi conduzido;
 a devolução inicia com os aspectos menos comprometidos do paciente,
ou seja, menos mobilizadores de ansiedade;
 deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões próprias da ciência
circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria profissional”), e
iniciar por sintoma ligado diretamente à queixa principal;
 a entrevista de devolução deve encerrar com a indicação terapêutica.

Diferença entre entrevista, consulta e anamnese:

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A técnica da entrevista procede do campo da medicina, e inclui procedimentos


semelhantes que não devem ser confundidos e nem superpostos à entrevista
psicológica. Consulta não é sinônimo de entrevista. A consulta consiste em uma
assistência técnica ou profissional que pode ser realizada ou satisfeita, entre as mais
diversas modalidades, por meio da entrevista.
A entrevista não é uma anamnese. Esta implica em uma compilação de dados
preestabelecidos, que permitem fazer uma síntese, seja da situação presente, ou da
história de 1doença e de saúde do indivíduo. Embora, se faça a anamnese com base
na utilização correta dos princípios que regem a entrevista, porém, são bem
diferenciadas nas suas funções.
Na anamnese, o paciente é o mediador entre sua vida, sua enfermidade, e o
médico. Quando por razões estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares
de uma instituição, muitas vezes, ela é feita pelo pessoal de apoio ou auxiliar.
A anamnese trabalha com a suposição de que o paciente conhece sua vida e
está, portanto, capacitado para fornecer dados sobre ela. Enquanto que, a hipótese
da entrevista é de que cada ser humano tem organizado a história de sua vida, em
um esquema de seu presente. E, deste temos que deduzir o que ele não sabe. Ou
seja, “o que nos guia numa entrevista, do mesmo modo que em um tratamento, não é
a fenomenologia reconhecível, mas o ignorado, a surpresa” (GOLDER, 2000, p. 45).
Nessa perspectiva, Bleger (1980) compreende que, diferentemente da consulta
e da anamnese, a entrevista psicológica tenta o estudo e a utilização do
comportamento total do indivíduo em todo o curso da relação estabelecida com o
técnico, durante o tempo que essa relação durar (p. 12).
A entrevista psicológica funciona como uma situação onde se observa parte da

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vida do paciente. Mas, nesse contexto não consegue emergir a totalidade do repertório
de sua personalidade. Uma vez que não pode substituir, e nem excluir outros
procedimentos de investigação mais extensos e profundos, a exemplo de um
tratamento psicoterápico ou psicanalítico, o qual demanda tempo, e favorece para que
possa emergir determinados núcleos da personalidade.
Esse tipo de assistência também não pode prescindir da entrevista. Esta que
apresenta lacunas, dissociações e contradições que levam alguns pesquisadores a
considerá-la um instrumento pouco confiável. Mas, como diz Bleger (1980), essas
dissociações e contradições são inerentes à condição humana, e a entrevista oferece
condições para que elas sejam refletidas e trabalhadas.

Tipos de entrevista:

Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informal,


focalizada, por pautas e estruturada:
a) entrevista informal (livre ou não estruturada) – é o tipo menos
estruturado, e só se distingue da simples conversação porque tem como objetivo
básico a coleta de dados. O que se pretende é a obtenção de uma visão geral do
problema pesquisado, bem como a identificação de alguns aspectos da personalidade
do entrevistado;

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b) entrevista focalizada (semiestruturada ou semidirigida) – é tão livre


quanto a informal, todavia, enfoca um tema bem específico. Permite ao entrevistado
falar livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia do tema original o
entrevistador deve se esforçar para sua retomada;
c) entrevista por pautas (semiestruturada ou semidirigida) – apresenta
certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesses
que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso. As pautas devem ser
ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas
diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que se refere às pautas
assimiladas. Quando este, por ventura, se afasta, o entrevistador intervém de maneira
sutil, para preservar a espontaneidade da entrevista;
d) entrevista estruturada (fechada) – desenvolve-se a partir de uma
relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos
os entrevistados, que geralmente são em grande número. Por possibilitar o tratamento
quantitativo dos dados, esse tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o
desenvolvimento de levantamentos sociais.

A entrevista quanto ao seu referencial teórico

http://www.filmesraros.com/loja/images/mind.jpeg.

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O processo de entrevista é orientado por seu referencial teórico. Aqui serão


vistas, em síntese, algumas das perspectivas:
a) Perspectiva Psicanalítica – tem como base os pressupostos dos
conteúdos inconscientes. O entrevistador busca avaliar a motivação inconsciente, o
funcionamento psíquico e a organização da personalidade do entrevistado. A
entrevista é orientada para a psicodinâmica da estrutura intrapsíquica ou das relações
objetais e funcionamento interpessoal;
b) Perspectiva Existencial-Humanista – não procura formular um
diagnóstico, e sim, verificar se o interesse do indivíduo está autorrealizado ou não.
Aqui não existe uma técnica específica de entrevista, essas são consideradas pelos
existencialistas como manipulação. O entrevistador reflete o que ouve, pergunta com
cuidado, e tenta reconhecer os sentimentos do entrevistado;
c) Perspectiva Fenomenológica – estuda a influência dos pressupostos
e dos preconceitos sobre a mente, e que os acionam ao estruturar a experiência e
atribuir-lhe um significado. Além de uma atitude aberta e receptiva, é necessário que
o entrevistador atue como observador participante, e que, assim, seja capaz de avaliar
criticamente, por meio de sua experiência clínica e conhecimento teórico, o que está
ocorrendo na entrevista.

A entrevista quanto ao seu método

http://www.usp.br/agen/bols/2000/Image217.gif.

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Segundo Ribeiro (1988), a realização da entrevista psicológica segue


diferentes enfoques:
a) psicométrico – o entrevistador faz uso constante de uma série de
instrumentos: testes, pesquisas, controle estatístico, etc., predeterminados, enquanto
dispositivos para a aquisição de conhecimentos sobre o entrevistado. Nessa situação,
dificilmente o entrevistador conseguirá aprofundar a relação, o encontro permanece
mais em nível formal e informativo do que espontâneo criativo e transformador. Isso
não quer dizer que seja menos válida ou mais superficial;
b) psicodinâmico – a relação poderá ser mais aprofundada devido ao fato
de o entrevistador contar com maior disponibilidade de tempo para questionar o
entrevistado, e conduzir a situação de maneira “menos estruturada”. Sua atenção não
está no aqui e no agora, ela atende a uma dinâmica de causa-efeito na qual
submensagens poderão dificultar a comunicação;
c) antropológico – abrange a relação ambiente-organismo na
compreensão da comunicação. Qualquer dado será considerado, mas, nem sempre,
é possível dizer em que momento ele está e onde será utilizado. Esse tipo de
entrevista parece mais complexo, assim sendo, exige mais prática do entrevistador
para analisar as informações.

Técnicas de entrevista:

Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação que se realiza


durante o seu transcurso. As observações são registradas em função das hipóteses
que o entrevistado emite. O entrevistador ordena na seguinte disposição: observação,
hipótese e verificação. Uma boa observação consiste, de algum modo, em formular
hipóteses que vão sendo reformuladas durante a entrevista em função das
observações subsequentes.
No entender de Bleger (1980), o trabalho do psicólogo somente adquire real
envergadura e transcendência quando coincidem a investigação e a tarefa
profissional, porque estas são as unidades de uma práxis que resguarda a tarefa mais
humana: compreender e ajudar os outros. Assim, indagação e atuação, teoria e

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prática, devem ser manejadas como momentos e aspectos inseparáveis do mesmo


processo.
Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo com o beneficiário
do resultado:
• a entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a exemplo da
consulta psicológica ou psiquiátrica;
• a entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o resultado
científico da mesma;
• a entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço de uma
instituição.
Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do entrevistador
que desperte interesse ou motive a participação do entrevistado.
Segundo Gil (1999), as entrevistas podem acontecer em duas modalidades:
Face a face e por telefone. A entrevista tradicional tem sido realizada face a face. No
entanto, nas últimas décadas, vem sendo desenvolvida a entrevista por telefone.
As principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista
pessoal, são: custos mais baixos; facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior
aceitação dos moradores das grandes cidades, que temem abrir suas portas para
estranhos; facilidade de agendar o momento mais apropriado para a realização da
entrevista.
São limitações da entrevista por telefone: interrupção da entrevista pelo
entrevistado; menor quantidade de informações; impossibilidade de descrever as
características do entrevistado ou as circunstâncias em que se realizou a entrevista;
parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou não tem seu nome
na lista.
Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas recomendações
devem ser aplicáveis ao processo de entrevista psicológica:
• o entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista em
uma conversa social. “Como posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de se iniciar uma
entrevista;

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• o entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devem-


se evitar perguntas que induzam respostas do tipo “sim” ou “não”. Não interromper o
fluxo do pensamento do entrevistado, a não ser que ele se perca em ideias que fogem
dos tópicos da entrevista;
• a atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das vivências
do entrevistado. Não deve haver discussão de pontos de vista;
• as pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o
entrevistador. Nesses momentos, possivelmente, o entrevistado está revivendo
experiências que não consegue expressar verbalmente. Quando as pausas forem
longas, o entrevistador poderá retomar um tópico anterior que estava sendo discutido;
• o tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será
comunicado de quanto tempo dispõe. Se necessário, marca-se outra(s) entrevista(s).
Deve-se limitar o número de assuntos em cada sessão para não confundir o
entrevistado;
• é necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de expressões
mais vagas, tais como: “parece que ...”; “parece melhor ...”; etc.;
• recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada final de
entrevista. E que o entrevistador faça uma síntese para o entrevistado do que foi
abordado na sessão;
• o término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social,
sem nenhuma relação com os problemas discutidos. Isto pode prejudicar o resultado
da entrevista.
Segundo Foddy (2002), é aconselhável o investigador ou entrevistador:
• adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você...”;
• empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e
colocar a pergunta sem rodeios de modo a que eles tenham dificuldade em mentir;
• adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam
a informação desejada sem terem consciência disso, a exemplo das técnicas
projetivas;

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• colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da


entrevista de modo a que as respostas não sofram qualquer consequência desse
efeito.
Segundo Gilliéron (1996), podem-se estudar os comportamentos do paciente
praticamente em relação a dois eixos:
• a anamnese do sujeito que permite a observação dos comportamentos
repetitivos que dão uma ideia exata da sua personalidade: trata-se do ponto de vista
histórico;
• a observação do comportamento do paciente quando da primeira
entrevista também fornece indicações muito precisas sobre a organização da sua
personalidade.

Dinâmica da entrevista

O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e nem
sua história de vida. Não deve permitir em ser considerado como um amigo pelo
entrevistado e, nem entrar em relação comercial, de amizade ou de qualquer outro
benefício que não seja o pagamento dos seus honorários. Para Gilliéron (1996), a
investigação repousará:

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• na análise do comportamento do paciente com relação ao enquadre;


• em um modelo preciso suscetível de evidenciar a dinâmica relacional
que se estabelece entre o paciente e o terapeuta; modelo de apoio objetal.

O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva.


Diante de informações prévias fornecidas por outra pessoa, se deixa claro que essas
não serão mantidas em reserva. Em função de não abalar a confiança do entrevistado,
estas lhe serão comunicadas.
A reação contratransferencial deve ser encarada como um dado de análise da
entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou qualquer outro sentimento
do entrevistado.
As atitudes do entrevistado não devem ser “domadas” ou subjugadas, não se
trata de querer triunfar e nem se impor perante ele. Compete ao entrevistador
averiguar como essas atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do
entrevistado, de certo modo, tem uma relação direta com o nível de repressão do
entrevistador.
Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona aspectos
relevantes das suas dificuldades. A linguagem é um meio de transmitir informação,
mas poderá ser também uma maneira poderosa de se evitar uma verdadeira
comunicação (BLEGER, 1980). Nem sempre, uma carga emocional intensa significa
uma evolução no processo.
O silêncio é uma expressão não verbal que muitas vezes comunica bem mais
que as palavras. O silêncio é, geralmente, o fantasma do entrevistador iniciante. Ele
pode ser também uma tentativa de encobrir a faceta de um momento o qual o sujeito
não consegue enfrentar. Castilho (1995) cita uma série de tipos de silêncio que são
comuns nas dinâmicas de grupo, mas que também ocorrem, com bastante frequência,
no processo de entrevista, etc. Para ilustrar foram destacados alguns tipos de silêncio:
• silêncio de tensão – é a expressão da ansiedade. Facilmente observado
pela postura corporal tensa ou inquieta do entrevistado, da sua respiração ofegante,
do tamborilar dos dedos, etc.;

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• silêncio de medo – deixa o entrevistado petrificado, na sua tentativa de


fugir de uma situação psicologicamente ameaçadora. Esse silêncio suscita muita
tensão e, como consequência, forte descarga psicossomática;
• silêncio de reflexão – surge normalmente após a intervenção do
entrevistador, ou logo após um feedback, ou mesmo depois do entrevistador ter
passado por algum tipo de vivência. Nele, observa-se a ausência de tensão, há um
recolhimento introspectivo de elaboração mental;
• silêncio de desinteresse – o indivíduo perde o foco da atenção, camufla
resistência, se desinteressa pela situação externa porque interiormente ela o atinge.

A ansiedade na entrevista

A ansiedade é parte da existência humana, todas as pessoas a sentem em


grau variado, por vezes consiste em uma resposta adaptativa do organismo (SIERRA,
2003). Para Bion (apud ALMEIDA; WETZEL, 2001, p. 272), se duas pessoas estão
em uma sala de análise sem angústia, não está havendo análise.
Calligaris (apud GOLDER, 2000, p.151) percebe que, em todo encontro, o outro
está imediatamente implicado enquanto “semelhante imaginário”, o que se busca
primeiro é uma tela, uma espécie de cumplicidade, na qual supõe um sentido comum
ao que estamos dizendo. Desse modo, a ansiedade é um indicativo do
desenvolvimento de uma entrevista, e deve ser controlada pelo entrevistador, a sua
própria, e a que aparece no entrevistado.
Durante a situação de entrevista, tanto a ansiedade quanto os mecanismos de
defesa do entrevistado podem aumentar, não somente devido a esse novo contexto
externo que ele enfrenta, mas também devido ao perigo, em potencial, daquilo que
desconhece em sua personalidade. O contato direto com seres humanos coloca o
técnico diante da sua própria vida, saúde ou doença, conflitos e frustrações.
Considerando que o entrevistador é um agente ativo na investigação, sua
ansiedade torna-se um dos fatores mais difíceis de lidar. Em sua tarefa, o psicólogo
pode oscilar facilmente entre a ansiedade e o bloqueio, sem que isto o perturbe, desde
que possa resolver na medida em que surja.

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Toda investigação implica a presença de ansiedade frente ao desconhecido, e


o investigador deve ter a capacidade para tolerá-la, assim, poderá manter o controle
da situação. Há casos em que o investigador, devido aos seus bloqueios e limitações,
se vê oprimido pela ansiedade, e recorre a mecanismos de defesa para se sentir
seguro, e assim, elimina a possibilidade de uma investigação eficaz, uma vez que
conduz a entrevista de maneira estereotipada. Outro problema frequente diz respeito
a certa compulsão do entrevistador focalizar seu interesse ou encontrar perturbações
exatamente na esfera que ele nega os seus próprios conflitos.
A manipulação técnica, de toda ansiedade, deve ser realizada com referência
à personalidade do entrevistado, e ao nível de timing (sincronização e ajustamento)
que se tenha estabelecido na relação. Toda interpretação fora desse contexto implica
em agressão ao paciente ou entrevistado. Cabe ao psicólogo saber calar, na
proporção inversa da sua vontade compulsiva de interferir. Nessa ótica, Almeida e
Wetzel (2001, p. 271) dizem que a interpretação algumas vezes vem de um desejo de
intervenção com a finalidade de eliminar angústias (perda de continência), instados
pela situação e autorizados pelo setting.
Segundo Piaget (apud GIL, 1999), o bom entrevistador deve reunir duas
qualidades: saber observar (não desviar nada, não esgotar nada); saber buscar (algo
de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou
falsa, para controlar).
Douglas (apud FODDY, 2002) corrobora essa ideia quando afirma que
entrevistar criativamente é ter determinação atendendo ao contexto, em vez de negar,
ou não conseguir compreender. O que se passa em uma situação de entrevista é
determinado pelo processo de perguntas e respostas, a entrevista criativa agarra o
imediato, a situação concreta, tenta perceber de que modo essa afetação vai sendo
comunicada e, ao compreender esses efeitos, modifica a recepção do entrevistador,
aumentando, assim, a descoberta das verdades.

Transferência e contratransferência:

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www.rodrigues.psc.br.

Transferência:
Freud (1914-1969) entende que a transferência é “[...] apenas um fragmento da
repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido [...] para todos
os aspectos da situação atual” (p.166). A transferência é designada pela Psicanálise
como um processo por meio do qual os desejos inconscientes se atualizam sobre
determinados objetos, em certo tipo de relação estabelecida, eminentemente, no
quadro da relação analítica. A repetição de protótipos infantis vividos com um
sentimento de atualidade acentuada. Classicamente a transferência é reconhecida
como o terreno em que se dá a problemática de um tratamento psicanalítico, pois são
a sua instalação, as suas modalidades, a sua interpretação e a sua resolução que as
caracterizam (LAPLANCHE; PONTALIS, 2004).
A transferência e a contratransferência são fenômenos que estão presentes em
toda relação interpessoal, inclusive na entrevista. Na transferência o entrevistado
atribui papéis ao entrevistador, e se comporta em função deles, transfere situações e
modelos para a realidade presente e desconhecida, e tende a configurar esta última
como situação já conhecida, repetitiva. No entender de Gori (2002, p. 78), repetindo
transferencialmente, evoca-se a lembrança e é somente por meio da lembrança que
temos acesso à história “[...] por meio da transferência é forjado num lugar
intermediário entre a vida real e um ensaio de vida, para que o drama humano possa
ter um desfecho”.
A articulação do conceito de “momento sensível” (grifo da autora) passa pelo
posicionamento do terapeuta. Esse instante preciso determina os mecanismos que
instalam a transferência. Com efeito, é o momento em que uma relação de trabalho

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se torna possível. A abertura ao outro, a espera de ajuda vinda do exterior é forte e


expõe o paciente tanto ao melhor quanto ao pior dessa interação (GOLDER, 2000).
Nessa perspectiva, Gilliéron (1996, p. 14) diz que todos os pacientes procuram
obter alguma coisa do terapeuta. Eles não buscam apenas a cura de um sintoma, mas
também certa qualidade de relação. Os entrevistados revelam aspectos irracionais ou
imaturos de sua personalidade, seu grau de dependência, sua onipotência e seu
pensamento mágico.
As transferências negativas e positivas podem coexistir em um mesmo
processo, embora, quase sempre com predomínio relativo, estável ou alterado, de
uma delas. Segundo Sang (2001, p. 319-320), é a situação analítica e não a sua
pessoa o que levou a paciente a se apaixonar por ele, isto é, que o amor de
transferência é essencialmente impessoal: “[...] o analista não deve nem reprimir nem
satisfazer as pretensões amorosas da paciente”. Deve sim, tratá-las como algo irreal.
No que é confirmado por Yalom (2006, p. 175), quando diz que os sentimentos que
surgem na situação terapêutica. Geralmente pertencem mais ao papel que à pessoa,
é um equívoco tomar a adoração transferencial como um sinal de sua atratividade ou
charme pessoal irresistível.

Contratransferência:
Na contratransferência emerge do entrevistador reações que se originam do
campo psicológico em que se estrutura a entrevista. Porém, se constitui, quando bem
conduzida, em um indício de grande significação e valor para orientar o entrevistador
no estudo que realiza. Seu manejo requer preparação, experiência e um alto grau de
equilíbrio mental, para que possa ser utilizada com validade e eficiência. Na
contratransferência, salienta Gilliéron (1996), as emoções vividas pelo analista são
consideradas reativas às do paciente, vinculando-se, portanto, ao passado deste
último, e não dizendo respeito diretamente à pessoa do analista. Manfredi (apud
ZASLAVSKY; SANTOS, 2005, p. 296), distingue cinco tendências de abordagens
dessa questão:
1) a contratransferência não é mais considerada como uma criação
unicamente do paciente, por ignorar a transferência do analista;

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2) é problemático diferenciar a contratransferência normal da patológica


(os dados à disposição do analista não permitem, quase sempre, uma diferenciação);
3) a tolerância à contratransferência já seria suficiente, dada aqui, a
dificuldade da diferenciação dos sentimentos envolvidos na dupla;
4) devia-se, mais sábia e humildemente, fazer também a rota inversa:
procurar no paciente, e não só procurar no analista;
5) a questão do confessar ou não, ou confessar/revelar até quando/quanto,
os sentimentos contratransferências despertados.
Para que o instrumento Entrevista Psicológica, de fato, se efetive como auxiliar
no trabalho do psicólogo, não é o bastante a sua compreensão ou domínio teórico e
técnico que fundamenta e norteia sua prática, mas também de experiências que são
adquiridas em rollyplays por intermédio de estágio, supervisão; laboratório ou oficinas
de sensibilidade.
É preciso desenvolver a sensibilidade para entrevistar, aprender ser empático,
saber lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do outro (entrevistando),
facilitando assim que seu universo, um tanto livre das “ameaças”, se descortine. O
entrevistador precisa adquirir a habilidade da “dissociação instrumental”, e ser capaz
de adentrar esse universo, sem juízo de valor, sem preconceito, para que assim possa
estar com o Outro, conhecer, não temer, se perder e se achar e, finalmente, voltar à
realidade do contexto.
E agora, de posse de sua bagagem técnica tecer suas observações,
ponderações e considerações, de modo axiomático, considerado que a utópica da
neutralidade sempre deverá ser perseguida. Os princípios éticos serão avivados em
cada encontro, e nenhum instrumento poderá adquirir uma aura de prevalência sobre
a pessoa do entrevistado, que é mais importante e assim deve ser respeitado. O que
não significa ser “meloso”, por demais e muito menos autoritário.
O entrevistador deve habilitar-se em se inscrever na virtualidade da distância e
proximidades ótimas que o trabalho possa fluir. Ser a pessoa na figura do profissional
imbuído da intenção singular de realizar uma atividade sem perder sua essência
humana.
Nessa investida, é fundamental que o profissional se “conheça”, e que faça de

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rotineiras as reflexões sobre suas atitudes, postura e comportamento, bem como de


que tenha também flexibilidade em reformulá-los, quando a necessidade aponte.
Muito do trabalho do 1psicólogo certamente vem em consequência do “automergulho”
que lhe dará a base na qual se apoiam a sua atuação e intervenção com toda
transparência.

INTERVENÇÃO

http://www.cuorecursos.org.br/img/cursos_psico.jpg

Abordagem sistêmica:
Parte da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação de Watzlawick
é um paradigma que emerge das ciências exatas e fornece uma base teórica e prática
de compreensão dos sistemas humanos. Nos anos 40, Ludwig von Bertalanffy
publicava uma série de princípios válidos para vários sistemas (biológicos, físico-
químicos, sociais).
O sistema é um complexo organizado em múltiplos elementos que estão em
interação recíproca no seu interior e com o meio. Um sistema pode ser aberto (auto-
organizado) ou fechado (entropia).
A perspectiva sistêmica constitui um bom suporte teórico para a intervenção,
especialmente em terapia familiar. Põe em causa uma epistemologia linear,
unidirecional e contextualiza os problemas humanos, não em um único sentido, mas
em função dos contextos em que emergem os problemas. Alarga a perspectiva de
intervenção, centrada apenas em um sistema pessoal, para uma perspectiva que se
centra nos contextos de vida e nas redes de apoio dos sujeitos. Esses pressupostos

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são aplicados, sobretudo, na terapia familiar.

Modelo cognitivo-comportamental: “O que perturba o ser humano não são


os fatos, mas a interpretação que ele faz dos fatos” (Epitectus - Século I)
Essa perspectiva teve origem nos trabalhos de Aaron Beck e Albert Ellis.
Sugere que as nossas crenças e atribuições desempenham um importante papel no
comportamento.
Essa abordagem é historicamente baseada nos princípios da aprendizagem e
da psicologia experimental. Centra-se no comportamento observável e não
observável.
Pensamentos adquiridos por meio da aprendizagem e do condicionamento no
ambiente social.
As terapias cognitivo-comportamentais compartilham alguns pressupostos
básicos, ainda que existam diferentes abordagens conceituais e estratégicas para os
diversos transtornos. Há algumas características essenciais no núcleo das terapias
cognitivocomportamentais (DOBSON, 2001):
• a atividade cognitiva influencia o comportamento;
• a atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;
• o comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança
cognitiva.

Essa terapia baseia-se na premissa que uma inter-relação entre cognição,


emoção e comportamento é parte integrante do funcionamento psicológico normal.
Um acontecimento de vida pode acarretar inúmeras formas de agir, sentir e pensar,
mas não é o evento em si que gera as emoções e comportamentos, é o que nós
pensamos e interpretamos sobre esse evento.
Outra premissa é que as distorções cognitivas são muito frequentes em
diferentes transtornos.
Ao contrário do que acontece com o modelo psicanalista, o material trazido à
consulta não é interpretado pelo terapeuta, mas elaborado conjuntamente com o
cliente, com o objetivo de identificar, examinar e corrigir as distorções do pensamento

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que causam sofrimento emocional ao indivíduo.


Albert Ellis centrou-se nas crenças irracionais para lidar com pensamentos e
comportamentos problemáticos. Pensamentos como “toda a gente deve me apreciar”,
“ninguém vai amar alguém tão feio como eu” vão inevitavelmente conduzir à
decepção.
Aaron Beck desenvolveu a terapia cognitiva para tratar a depressão e outros
problemas. Beck considera que durante o desenvolvimento, as pessoas formulam
regras sobre o funcionamento do mundo, tendendo serem simplistas, inflexíveis e
frequentemente baseadas em concepções errôneas.
As abordagens cognitivistas podem-se distinguir em duas tradições:
• cognitivismo substantivo racionalista – centra-se no conteúdo,
pensamento interno, mecanicista (Ellis, Beck, Meichenbaum, D’Zurilla, etc.);
• cognitivismo construtivista desenvolvimental – o construtivismo
prega que o conhecimento e a experiência humana implicam em uma pró-ação ativa
do sujeito, a importância das emoções e os problemas psicológicos refletem
diferenças entre as exigências do ambiente e a capacidade adaptativa do cliente.

Abordagem humanista:
Essa abordagem tem as suas origens na filosofia europeia e no trabalho
psicoterapêutico de Victor Frankl, Carl Rogers, Abraham Maslow, Rollo May,
Fritz Perls e outros. Rejeitando as premissas básicas das teorias psicodinâmicas e
comportamentalista, os humanistas assumem uma abordagem fenomenológica que
enfatiza a percepção individual e a experiência. Tendem a ver as pessoas como
ativas, pensadoras, criativas e orientadas para o crescimento. Consideram que as
pessoas são basicamente bem intencionadas e que naturalmente lutam pelo
crescimento, amor, criatividade e autoatualização. Em vez de se centrar na influência
do passado, os humanistas focam-se no “aqui e agora” ou presente.

Exemplos de conceitos e técnicas humanistas:


• empatia – capacidade de ver o mundo a partir da perspectiva da outra
pessoa. Transmite a sensação de ser ouvido e compreendido;

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• aceitação incondicional – aceitar totalmente os sentimentos e


pensamentos do cliente;
• autoatualização – as pessoas tendem a procurar o crescimento e a
atingir o seu máximo potencial;
• congruência – o terapeuta manifesta sentimentos autênticos durante a
consulta. É uma harmonia entre os sentimentos e as ações.

A terapia centrada no cliente é a perspectiva de Carl Rogers e é um dos


exemplos mais clássicos da abordagem humanista. Usa técnicas não diretivas
(indutoras) como a escuta ativa, empatia, congruência e aceitação incondicional. A
empatia sincera é necessária para as pessoas se sentirem aceitas e compreendidas
e para permitir o crescimento.

Abordagem comportamentalista:

O expoente moderno mais importante do behaviorismo foi Skinner (1904-1990),


que considerava que o único objeto da Psicologia era o comportamento manifesto
(observável).
Nessa abordagem, pretende-se manipular e controlar o comportamento por
meio do reforço (quando as pessoas têm o comportamento desejado, aumentando a
hipótese da sua ocorrência) e por meio de castigos (quando as pessoas se comportam
de maneira indesejável).
A aprendizagem pode fazer-se por condicionamento clássico, em um estímulo,
até aí neutro, é associado com dado motivacionalmente significativo e surge uma
resposta.
Ex.: condicionamento clássico de Pavlov:

Pavlov reparou que os cães salivavam muitas vezes sem razão fisiológica
aparente, para que tal acontecesse. O cão aprende uma associação entre o alimento
e um sinal casual que precedia o alimento. Pavlov verificou que ao tocar a campainha
antes de dar comida ao cão, este começava a salivar quando ouvia a campainha, após

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alguns ensaios de associação entre campainha e comida – o que originava o reflexo


condicionado.
Uma campainha começava a tocar e passado algum tempo, com a campainha
ainda a tocar, era fornecido ao animal comida. A sequência campainha-comida foi
repetida uma série de vezes. Aos poucos, a quantidade de saliva produzida começou
a aumentar logo após a campainha tocar. O cão salivava ao ouvir a campainha, o que
não sucedia no início da experiência.
A associação repetida entre o som da campainha (estímulo neutro) e a carne
transformaram o estímulo inicialmente neutro (campainha) em um estímulo
condicionado que agora provocava a salivação sob a forma de um reflexo
condicionado.
No condicionamento operante, há um aumento da probabilidade de resposta
em um determinado meio ambiente devido ao reforço da resposta.
Ex.: rato que carrega em uma alavanca para obter uma recompensa de comida.
Vários autores duvidaram da capacidade desse “behaviorismo radical” para
explicar a complexidade do comportamento humano. As grandes diferenças de
personalidade indicam que não é só importante o que as pessoas fazem, mas também
o que pensam e esperam (expectativas). Isto levou a uma evolução do
comportamentalismo, aceitando conceitos como expectativa e crença.
Esses são os teóricos da aprendizagem social, como Albert Bandura e Walter
Mischel. Defendem que muitas das diferenças individuais são basicamente cognitivas:
são os modos diferentes de interpretar o mundo, de pensar e agir sobre ele. Assim,
os comportamentos podem ser aprendidos e desenvolvidos pela observação do
comportamento dos outros, em vez de ter de realizar esse comportamento ou ser
reforçado para um determinado comportamento.
Essa abordagem também valoriza o papel das expectativas no
desenvolvimento do comportamento. Por exemplo, alguém pode dedicar muito tempo
e dinheiro para obter uma licenciatura, porque espera que essa qualificação vá originar
uma carreira e vida satisfatória.

Abordagem psicodinâmica:

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Foi fundada com o trabalho de Sigmund Freud. Muitos neofreudianos e outros


revisionistas fizeram uma grande adaptação, desenvolvimento e mudança na
abordagem básica de Freud. Essa abordagem ainda mantém certas concepções
sobre o comportamento humano e problemas psicológicos.
Defende que o comportamento humano é influenciado por desejos
intrapsíquicos, motivações, conflitos e impulsos. Os mecanismos de defesa do ego
(adaptativos ou não) são utilizados para lidar com conflitos, desejos, necessidades e
fantasias não resolvidas, que contribuem para o comportamento normal ou anormal.
As experiências precoces na infância desempenham um papel fundamental no
desenvolvimento psicológico e no comportamento adulto. A compreensão dessas
influências inconscientes e a sua discussão e integração nas experiências quotidianas
ajudam a melhorar o funcionamento psicológico. A relação de transferência que se
desenvolve entre o cliente e o terapeuta também ajuda a melhorar o funcionamento
psicológico.
Freud desenvolveu uma compreensão do comportamento humano baseada em
três estruturas mentais, que normalmente estão em conflito:
• o id, inato, funciona segundo o princípio do prazer e representa todos os
desejos e necessidades mais primitivas. O id não conhece juízos de valor, moral, ou
o bem ou o mal. O id procura a satisfação imediata sem considerar as circunstâncias
da vida real. A nossa energia psíquica básica (libido) está contida no Id e exprime-se
por meio da redução da tensão. Contudo, para a satisfação das necessidades é
preciso interagir com o mundo real. O ego, que é mediador entre o id e o mundo
exterior, ajuda nessa interação;
• o ego, que funciona segundo o princípio da realidade, mantém em
suspenso as exigências para o prazer que provêm do id, até que se encontre um
objeto apropriado para satisfazer a necessidade e reduzir a tensão. Desenvolve-se
por volta do primeiro ano de idade e representa os aspectos racionais e razoáveis da
nossa personalidade, ajudando-nos a adaptar a um mundo desafiante;
• o superego, que se desenvolve por volta dos cinco anos de idade,
quando são assimiladas as regras de comportamento ensinadas pelos pais, por meio
de um sistema de recompensas e castigos. Representa a internalização de normas e

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regras sociais, culturais e familiares. O superego inclui o ego ideal (a imagem perfeita
do que somos e do que podemos ser) e a nossa consciência (as regras de bons e
maus pensamentos e comportamento).
Irá haver um conflito inevitável entre id, ego e superego para lidar com a
ansiedade e desconforto e a necessidade de utilizar mecanismos de defesa do ego.
O ego está em uma posição difícil, pois tem de lidar com forças opostas. Os
mecanismos de defesa são estratégias desenvolvidas pelo ego para proteger o
indivíduo desses conflitos internos e, em geral, inconscientes.
Eles ajudam a lidar adaptativamente, ou não, com a inevitável ansiedade de
ser humano. Há uma variedade de mecanismos de defesa, como a repressão (manter
pensamentos, desejos, sentimentos e conflitos desagradáveis fora da consciência).
Negação (negar que existem pensamentos ou sentimentos problemáticos),
sublimação (substituição de uma meta que não pode ser satisfeita por outra
socialmente aceitável), projeção (a origem da ansiedade é atribuída a outra pessoa).
Freud também definiu vários estádios psicossexuais do desenvolvimento da
personalidade. No decorrer desses estádios, as crianças são autoeróticas ao obter
prazer erótico quando estimulam as zonas erógenas do corpo. Cada estádio tende a
estar localizado em uma determinada zona erógena. Estes incluem as fases: oral,
anal, fálica, latente e genital.
• o estádio oral vai desde o nascimento até ao segundo ano de vida. A
estimulação da boca (sugar, morder, etc.) é a fonte de satisfação erótica;
• no estádio anal, a satisfação vai da boca para o ânus e as crianças têm
prazer na zona anal. Nessa fase treinam a higiene pessoal e as crianças podem reter
ou expelir fezes;
• no estádio fálico, por volta do quarto ano de idade, a satisfação erótica
passa para zona genital, havendo manipulação e exibição dos órgãos genitais. Nesse
estádio há o desenvolvimento do Complexo de Édipo, em que o rapaz desenvolve um
desejo incestuoso e de morte, desejando unir-se à mãe e eliminar o pai. Os medos de
retaliação e de castração resultam na repressão desses impulsos e na identificação
com o pai.
O objetivo dessa abordagem é o insight-compreensão de fatores inconscientes

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que levam a comportamentos e sentimentos problemáticos, por intermédio de uma


análise aprofundada e cuidadosa do papel de desejos, impulsos e conflitos
inconscientes na vida diária.
Técnicas como a associação livre (dizer tudo o que nos passa pela cabeça), a
análise dos sonhos e a interpretação são usadas para compreender e tratar vários
problemas.

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

http://www.qualitare.com.br/imagens/equipe.jpg.

O trabalho em equipe multidisciplinar consiste em uma forma especial de


organização, que visa, principalmente, a ajuda mútua entre profissionais de uma
mesma área, no caso da Psicologia, a área de Saúde. O trabalho em equipe deve ser
descrito como um conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma tarefa
ou um determinado trabalho, visando um objetivo comum, nesse caso é a pessoa
atendida. A grande maioria dos transtornos psicológicos requer o auxílio de um médico
psiquiatra, um neurologista, um nutricionista, assistente social, fonoaudiólogo ou
profissional de Educação Física.
Percebe-se, nesse caso, que um bom profissional jamais deve ficar restrito à
sua área de atuação, mas estudar sobre tudo aquilo que poderá beneficiar o paciente.

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Muitas vezes, por exemplo, a ajuda de um profissional do Direito é imprescindível. São


muitas as crianças abusadas sexualmente que chegam ao consultório de Psicologia;
também são bastante comuns casos de mulheres violentadas e espancadas por seus
companheiros.
Valorizando cada indivíduo e permitindo que todos façam parte de uma mesma
ação, seja no campo escolar, profissional ou, até mesmo, em atividades cotidianas. O
trabalho em equipe, além de possibilitar a troca de conhecimento é determinante nas
relações humanas, pois motiva o grupo a buscar de forma coesa os objetivos traçados.
Os estudos de caso devem fazer parte da rotina de consultórios e policlínicas de
Saúde.
Também uma boa supervisão e psicoterapia pessoal são suportes valiosos na
rotina de um bom profissional de Psicologia. É preciso ficar claro que não há profissão
melhor ou pior que a outra. O que deve existir é a consciência de que, em se tratando
de seres humanos, nenhum tipo de conhecimento é demais. Todo conhecimento é
válido e jamais se conhece sobre tudo. O trabalho em equipe é necessário e
fundamental.
Na visão do psicólogo Abraham Maslow (1908-1970), considerado por muitos
como o profissional que deu início à Psicologia Transpessoal (área da Psicologia que
estuda a consciência nos seus diferentes níveis e a sua relação com os aspectos
evolutivos do ser). O trabalho em equipe possibilita dar e receber, por parte de cada
um de seus membros, afeição, aceitação e sentimento de importância.
Para Maslow, “isto faz com que o indivíduo cresça, tornando o trabalho
determinante, pois o objetivo a ser alcançado depende, exclusivamente, da satisfação
psicológica do indivíduo bem como das relações humanas”.
A necessidade de desenvolvimento do trabalho em equipe passa por diversos
fatores de importância para a evolução profissional, como a definição de prioridades,
o ajuste de metas, otimismo e o “estar aberto” a mudanças. Todas essas qualidades,
quando são acrescidas ao ser individual (si próprio), pode significar o sucesso nas
relações pessoais, o que forma um círculo virtuoso, propiciando assim as tarefas
conjuntas.
É importante perceber que, quando se fala em trabalhar em equipe, fala-se em

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maior volume de atividades, mais e maior responsabilidade, comprometimento,


flexibilidade, colaboração e esforço pessoal, detalhes que acabam sendo descobertos
a cada novo dia de trabalho. Entretanto, como benefício, um grupo coeso aflora muitas
características até então passadas despercebidas no individual, como a criatividade,
a participação, visão de futuro, questionamento de posições e colocações e senso
crítico.
Segundo a psicóloga Solange B. R. Cremasco, a motivação é um fator
substancial que deve estar ligado ao trabalho em equipe. De acordo com ela, esse
atributo individual do ser humano representa o comprometimento e a “chave para o
sucesso que está ao alcance de todos”. “Quanto maior for o grau de responsabilidade,
quanto maior for o universo de aprendizado e as perspectivas de evolução, muito mais
eles (os profissionais) se envolvem com as atividades que lhes são atribuídas e,
consequentemente, a motivação sempre se encontrará no topo”, conclui.
Trabalhar em equipe significa compartilhar uma direção comum. Além disso,
atividades desenvolvidas em conjunto encorajam o grupo, o que aumenta o
desempenho na hora de realizar atividades, transmitindo autoconfiança, habilidade e
união, características primordiais para o sucesso. Isso também vale para os
profissionais de saúde, incluindo aí os profissionais de Psicologia.

PRESENTE E FUTURO DA PSICOLOGIA CLÍNICA

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http://www.psiquiatriageral.com.br/terapia/imagens/indice_terapiaOcupacional.
jpg.

A Psicoterapia é um valioso recurso para lidar com as dificuldades da existência


em todas as formas que o sofrimento humano pode assumir como transtornos
psicopatológicos, crises pessoais, crises de relacionamentos, conflitos conjugais e
familiares, distúrbios psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, crises
profissionais, etc.
Também é um espaço favorável ao crescimento pessoal, um lugar, tempo,
modo privilegiado de criar intimidade consigo mesmo, de estabelecer diálogos
construtivos, abrir novos canais de comunicação, de transformar padrões
estereotipados de funcionamento, restabelecendo o processo formativo e criativo de
cada um.
Ela oferece uma oportunidade de compreender e mudar os padrões de vínculo
e relação interpessoal. Os problemas vinculares são fonte de incontáveis sofrimentos
e doenças.
A Psicoterapia ocupa hoje um lugar fundamental na área da Saúde, por trazer
uma visão integrada do homem, considerando as dimensões orgânicas, psíquicas e
sociais conjuntamente participantes na produção da existência humana e de seus
problemas.
Em alguns casos, a Psicoterapia cumpre também uma função de educação

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para a vida. Essa é uma área pouco considerada em nossa cultura, porém evidente
quando as pessoas se veem inaptas para lidar com situações como crises conjugais,
desemprego ou envelhecimento, por exemplo.
A Psicoterapia é um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e aos
caminhos internos para solucioná-los. Seus resultados demonstram uma grande
potência de transformação de vidas. Todos os últimos avanços na área da Psicologia
e Psicoterapia têm permitido alcançar resultados cada vez maiores e mais
significativos.

Os prazos variam com os objetivos:

http://wagbarart.files.wordpress.com/2007/02/59.jpg.

No geral, os prazos de tratamento são relativos aos objetivos almejados. Há


vários desenvolvimentos recentes em psicoterapias breves, que são focadas em
objetivos mais específicos.
Atualmente é possível atingir resultados significativos em períodos de 3 a 12
meses e há muitos processos terapêuticos profundos que se encerram
satisfatoriamente em prazos inferiores há três anos. Muitas pessoas obtêm resultados
significativos no início do tratamento, compensando os investimentos realizados.
Há casos que demandam um trabalho terapêutico mais demorado, geralmente
com problemática psicopatológica mais severa, envolvendo traumas precoces,
desorganização psicológica, problemas vinculares sérios, etc. Esses trabalhos podem

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demandar anos de trabalho árduo, compensados por ajudas significativas que o


trabalho psicológico pode trazer. 170
Algumas pessoas encontram na terapia um lugar fundamental de
acompanhamento de seu processo de vida, onde são trabalhadas transformações
mais profundas ao longo de vários anos. São situações em que o processo terapêutico
não tem um prazo definido e segue em comum acordo entre o psicoterapeuta e o
cliente.
Apesar de poder parecer, à primeira vista, um tratamento oneroso em termos
de tempo e dinheiro, a Psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um modo
econômico de tratamento. Pesquisas indicam, por exemplo, que a Psicoterapia
diminui os índices de consumo de medicamentos e de internações hospitalares. A
Psicoterapia tem se mostrado também um tratamento economicamente compensador
por prevenir e tratar problemas psicológicos que, quando não tratados
adequadamente, trazem enormes prejuízos econômicos para as pessoas e para o
país.

As várias aplicações da Psicoterapia:

http://casadooriente.blogs.sapo.pt/arquivo/Terapia.jpg

Vários estados de sofrimento, crises, transtornos e doenças têm encontrado

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uma solução e melhora apenas com o auxílio da Psicoterapia.


Não é possível hoje se falar em doenças sem uma consideração pela dimensão
psicológica e emocional. Cada vez está mais evidente a natureza psicossomática de
todas as experiências humanas. A saúde psicológica é pré-condição e parte integrante
da saúde global.
Cada ser psicossomático vive uma história de interações, encontros e
acontecimentos em que as doenças (orgânicas ou mentais) resultam também dos
desequilíbrios existenciais e de soluções inadequadas de vida.
A Psicoterapia é um processo que permite transformações profundas da
personalidade, com resultados evidentes em diversas situações como:
• tratamento de vários transtornos como pânico, fobias, depressão,
anorexia, bulimia, frigidez, impotência, etc.;
• resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares,
profissionais etc.;
• crises existenciais, transições difíceis (luto, crises profissionais, etc.) e
mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta, menopausa,
envelhecimento, etc.);
• aprendizado do autogerenciamento da capacidade de lidar com o
estresse,
• dialogando com os estados afetivos internos e os efeitos dos desafios e
problemas da vida;
• descoberta de novos modos de conduzir a própria vida;
• aquisição de autoconhecimento, autonomia e amadurecimento pessoal.

Os tipos de Psicoterapia

Existem alguns tipos de Psicoterapia, conforme as necessidades e a


configuração dos problemas. Os principais tipos são:
• Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos;
• Psicoterapia de Grupo;
• Psicoterapia de Casal;

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• Psicoterapia de Família;
• Atendimento Emergencial.

O processo terapêutico mais profundo:

http://www.orizamartins.com/sld_hdr.gif.

O processo terapêutico é como atravessar um túnel. Nesse túnel você vai rever
muitas cenas da história da sua vida de um ângulo completamente novo, fazendo
conexões inusitadas entre os eventos e percebendo a potência do passado para
moldar quem você é hoje.
Na travessia desse túnel você aprenderá a reconhecer os seus padrões de
comportamento, que levam você a se comportar de modo parecido em situações
diferentes, inclusive repetindo os mesmos erros.
Você aprenderá a reconhecer o “como” do seu comportamento: como você age,
como se relaciona, como pensa, sente. E aprenderá caminhos para poder influenciar
e transformar esses padrões.
Essa é uma travessia acompanhada de alguém que pode ajudar você a se
compreender. Alguém que pode lhe ajudar a transformar o seu jeito de ser, a mudar
e a se conhecer profundamente. Essa travessia pode mudar completamente a sua

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vida.

O vínculo na Psicoterapia:

http://www.centrinho.usp.br.

A base de uma boa terapia está na relação terapêutica. A boa terapia se


desenrola em um enquadre clínico (ambiente pré-definido) com um clima terapêutico
favorável. Aí está um dos segredos dessa arte: criar um ambiente que permita a
revelação dos mundos internos e favoreça o desenvolvimento do processo singular
de cada um. Nesse clima é possível que o ser mais oculto e amedrontado se mostre,
seja ouvido, transforme-se, que o processo formativo possa prosseguir formando vida.
O ser humano nasce, cresce e vive em ambientes vinculares. Desses
ambientes emocionais depende seu bem-estar e suas realizações na vida. Os
problemas vinculares – da primeira infância à terceira idade – afetam profundamente
a capacidade que as pessoas têm de amar, trabalhar e viver. A Psicoterapia é um
espaço para se esclarecer e transformar essas dificuldades vinculares. E esse
processo ocorre por meio de uma relação saudável com um profissional eticamente
comprometido e tecnicamente qualificado.

Por que a Psicoterapia funciona?

É comum a desconfiança nos processos terapêuticos. Pela própria história da

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Ciência, exigindo uma quantificação, para que se legitime, fica mais difícil acreditar
em um saber profissional que lide com a subjetividade. No entanto, as pesquisas, de
caráter científico ou não, têm demonstrado uma grande eficácia da Psicoterapia.
Mesmo as recentes tecnologias de mapeamento cerebral têm permitido demonstrar
como o tratamento psicológico age, transformando o funcionamento cerebral. A
eficácia que vinha se demonstrando há muitos anos tem sido corroborada
recentemente pelos novos conhecimentos das neurociências.
Pela complexidade do tema existem centenas de livros e pesquisas explorando
e explicando porque a Psicoterapia funciona. Mesmo assim, como simples exercício
de compreensão, vamos listar alguns motivos para explicar a efetividade da
Psicoterapia, dos mais simples aos mais complexos.
No início da lista, como em um continuum, temos aqueles motivos que são
comuns a outras relações de ajuda, mesmo não profissionais, como uma conversa
íntima com um amigo, uma conversa sobre um problema pessoal com um professor,
um médico, etc. Avançando na lista vamos chegando aos motivos que são mais
comuns na Psicoterapia até aqueles que são exclusivos da Psicoterapia – possíveis
pelo cuidadoso treinamento teórico e técnico adquirido pelo psicólogo em sua
trajetória de formação profissional. Eis o continuum com alguns motivos pelos quais a
Psicoterapia funciona:
1) é fundamental ter alguém em quem confiar e com quem se possa dividir
o peso do problema que se vivencia. Compartilhar auxilia sobremaneira a aliviar a
carga emocional e consequentemente se sofre menos. Além disso, terá ao lado um
profissional capaz de escutar e de guardar sigilo, além de não alimentar preconceitos
e cobranças muitas vezes moralistas;
2) provavelmente formarão um vínculo afetivo e o próprio vínculo tem um
poder de cura. É mais fácil superar muitas dores por meio de uma relação autêntica
de respeito mútuo do que sozinho. A relação terapêutica é uma relação de ajuda, de
compreensão e apoio;
3) a psicoterapia é um ponto obrigatório para se parar e pensar na própria
vida. Ao parar para um momento de reflexão, são revistos valores e projetos futuros.
Parar, observar e refletir permite muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e

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aprofundamento da experiência de vida. A vida não consiste apenas em produzir, mas


em ser feliz. Este deve ser o verdadeiro sentido da vida;
4) o psicólogo clínico (psicoterapeuta) é outro, com o olhar e a perspectiva
de um outro, o que lhe ajudará ver a sua vida de um modo diferente, lhe fazer
perguntas diferentes, ajudá-lo a perceber as coisas de um ângulo que você não tinha
visto antes e nem suspeitava ser possível;
5) o psicoterapeuta conhece teorias psicológicas que ajudam na
compreensão do que ocorre com o ser humano, auxiliam na identificação do que pode
estar errado em sua vida, a direção na qual você está seguindo e as mudanças de
rumo necessárias. A partir de seu conhecimento o psicólogo pode apontar: O que
olhar? Como olhar? O que fazer com o que se descobre? Para que essas descobertas
possam ser construtivas em sua vida;
6) o psicoterapeuta conhece métodos de investigação que tornam possível
descobrir aspectos da sua personalidade que seriam inacessíveis a uma observação
não treinada. Há um amplo repertório de técnicas de investigação da personalidade
que permitem esclarecer problemas de modo extremamente eficaz;
7) o psicoterapeuta domina técnicas terapêuticas que permitem realizar
mudanças profundas na existência;
8) o psicoterapeuta está preparado para compreender você a partir do
vínculo que você estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita
nele. Em seu treinamento ele afinou a si mesmo como instrumento de trabalho para
reconhecer pequenas nuances do que você mostra na relação com ele (e
consequentemente com os outros) e assim poder compreender seus modos de
vinculação e suas dificuldades em relacionamentos;
9) o psicoterapeuta é capaz de oferecer uma presença autêntica no vínculo
com você. Essa relação funciona como catalisadora de processos de mudança
necessários em sua vida, incluindo a superação dos efeitos de traumas de
relacionamentos anteriores;
10) o psicoterapeuta passou por todos esses passos anteriores, tendo
estado em todos os papéis, como cliente, como profissional e como observador. O
que o habilita a “sentir-se em casa” em situações difíceis e poder caminhar por

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terrenos inóspitos, cheios de sofrimento e problemas emocionais e saber o melhor


caminho a seguir.
Certamente essa lista poderia ser estendida, mas o que se pretende é apenas
oferecer uma ideia do trabalho da Psicologia Clínica em uma linguagem diferente
daquela do universo teórico, técnico e científico habitual na Psicologia.

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REFERÊNCIAS

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