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PSICANÁLISE

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Sumário

Introdução ........................................................................................................ 3

Pré-História .................................................................................................. 4
Período dos pródromos da psicanálise ........................................................ 5
Psicanálise como Ciência ................................................................................ 9

Teoria do Trauma......................................................................................... 9
Teoria Topográfica ..................................................................................... 11
Teoria Estrutural......................................................................................... 12
Conceituações sobre o Narcisismo ............................................................ 13
Dissociação do Ego ................................................................................... 14
A escola de Psicanálise Freudiana ................................................................ 15

Escola Freudiana ....................................................................................... 16


Os Expoentes da Escola Freudiana ........................................................... 18
Karl Abraham.......................................................................................... 19

Wilhelm Reich......................................................................................... 19

Anna Freud ............................................................................................. 20

Escola dos Teóricos das Relações Objetais .............................................. 20


Melanie Klein .......................................................................................... 21

O ser humano a partir da Psicanálise ............................................................ 25

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 30

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Psicanálise

Introdução

Todo texto psicanalítico, quer seja ele de natureza teórica ou técnica, para
adquirir um significado vivencial e uma ressonância empática com o autor e o assunto,
necessita ser lido dentro de um contexto histórico-evolutivo, social, cultural e científico
no qual está inserido.

Assim, utilizando um recurso unicamente de finalidade didática, penso que


podemos dividir a história da assistência aos transtornos mentais e emocionais em
três grandes períodos: pré-história, pródromos científicos e psicanálise como ciência.

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Pré-História

De forma esquemática, convém enumerar os seguintes aspectos que podem


dar uma ideia da evolução de como nossos ancestrais entendiam e enfrentavam as
doenças mentais:

• Existem registros arqueológicos no antigo Egito que comprovam a prática de


trepanações cranianas, possivelmente feitas com o objetivo de localizar alguma causa
da doença mental e que estaria localizada dentro do crânio. Porquanto os vestígios
encontrados atestam uma regularidade nas bordas e uma apurada perícia na
execução daquela prática.

• Na Bíblia Sagrada, transparece a existência e a preocupação com uma série


de quadros psicopatológicos que hoje denominaríamos de transtornos psiquiátricos,
como é o caso do caráter sádico-destrutivo de Caim, a inveja dos irmãos de José, o
alcoolismo de Noé, a psicose maníaco-depressiva de Saul, e assim por diante, numa
coleção digna de um bom tratado de psicopatologia.

• Existem evidências de que, na Idade Média, os doentes mentais eram


degredados, punidos com crueldade ou com a morte, recolhidos a prisões e
masmorras em meio a assassinos e outros marginais. Além de serem exibidos em
circos juntamente com gigantes, anões e outros aleijões, encarcerados em hospícios
em cubículos infectos e imundos, muitas vezes algemados, etc.

• Predominava, nessa época, uma mentalidade voltada para a magia e a


demonologia, de sorte que, junto à prática de cruéis rituais de exorcismo, também
empregavam o uso de benzeduras, poções mágicas e as diversas formas de
curandeirismo.

• Os rituais de “cura” eram praticados por bruxos, xamãs, sacerdotes e faraós.


Na escala social da sociedade primitiva, os xamãs gozavam de alto prestígio e
ocupavam o topo da hierarquia social.

• Em meados do século XVIII, Anton Mesmer, em Viena, empregava o recurso


mágico do que ele chamava de “magnetismo animal”, de que todo indivíduo seria
possuidor em estado potencial, e ele praticava com grupos por meio de uma forte
sugestionabilidade calcada no seu impressionante carisma pessoal, método que

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passou para a história com a denominação de mesmerismo, podendo ser considerado
o precursor (um século antes) do hipnotismo.

• Coube a Pinel (1745-1826) e a seu discípulo Esquirol (1772-1840), em


Bicêtre, promoverem uma inovadora reforma hospitalar que ficou sendo conhecida
como tratamento moral. Este, consistindo num conjunto de medidas que não as de
contenção física vigentes na época, mas, sim, daquelas que mantivessem o respeito
pela dignidade do enfermo mental e aumentassem a sua moral e autoestima.

Estamos aludindo aos dois mais importantes psiquiatras nascidos no período


da revolução francesa, culminada em 1789, sendo que eles comungaram e
partilharam dos ideais libertários deste movimento revolucionário; E, foi sob essa
inspiração que eles revolucionaram a filosofia da assistência hospitalar asilar,
quebrando grilhões e cadeados, saneando a imundície das celas e promovendo uma
humanização e reconstrução do sentimento de identidade, principalmente pelo
trabalho laborativo.

Neste ínterim, independente dos que concordavam ou não com as ideias


freudianas, consideradas muito ousadas na época, algo se desenhava no horizonte
do tratamento dado aos estudos sobre o sofrimento humano, suas causas e
tratamento.

Período dos pródromos da psicanálise

Em 1856, nascia Sigmund Freud que, aos 17 anos, iniciou a sua formação
médica em Viena, onde se destacou como um aluno e estagiário brilhante. Sendo que
muito cedo ele demonstrou a centelha do gênio no campo da investigação que o levou
à descoberta da estrutura gonadal das enguias e, mais tarde, no campo da fisiologia,
com os seus estudos sobre o sistema nervoso de certos peixes. Aliás, indo além de
uma mera coincidência, podemos inferir que o seu interesse pela estrutura “gonadal”
e pelo “sistema nervoso” já prenunciava que a descoberta da psicanálise palmilharia
estes caminhos da sexualidade e do psiquismo provindo do sistema nervoso, como
ele julgava nos primeiros tempos.

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Um pouco mais tarde, em 1891, publicou um livro sobre Aphasia e, em 1895,
divulgou os seus estudos sobre “paralisias cerebrais infantis”, sendo que ambos o
conceituaram como pesquisador e neurólogo. A medicina desta época era quase que
inteiramente assentada em bases biológicas, muito pouco interessada na psicologia
que então era entregue aos filósofos, sendo que a nascente psiquiatria não passava
de um ramo da neurologia.

Para o que contribuiu muitíssimo a descoberta de uma causa etiológica


infecciosa (o Treponema pallidum, causador da sífilis) para o quadro mental da
“paralisia geral progressiva”, assim constituindo dentro da medicina a especialidade
de neuropsiquiatria. Os neuropsiquiatras de então prestavam um atendimento mais
humanista que os métodos anteriores, embora os recursos de que dispunham
consistissem unicamente no emprego de ervas medicinais, clinoterapia (repouso no
leito), hidroterapia, massagens, estímulos elétricos (não confundir com eletrochoque,
método que surgiu mais tarde, introduzido por Bini e Cerletti, e que ainda tem certa
utilização na psiquiatria atual).

Ademais, além do uso da eletroconvulsoterapia, também veio a ser empregada


à indução de um estado de coma pela ação do cardiazol ou da insulina, assim como
se iniciava o emprego de calmantes, como os barbitúricos. Contemporaneamente,
também já estava havendo a utilização da hipnose, não só dirigida para espetáculos
teatrais, como era comum na época, mas já com uma busca por fundamentos
científicos.

Para fins científicos, era o do eminente neurologista Charcot, que professava


na famosa Salpetrière, em Paris, e cujos ecos das espetaculares descobertas
chegaram aos ouvidos de Freud, que conseguiu fundos de uma bolsa para estagiar
e acompanhar de perto o carismático mestre francês, no período de setembro de 1885
a fevereiro de 1886. Sobretudo, dois aspectos impressionavam a Freud: a existência
da histeria em homens e a observação da dissociação da mente, induzida pela
hipnose.

Entretanto, um pouco antes disso, em 1882, o notável neurologista J. Breuer


relatou a Freud o método de base hipnótica que ele empregava com a sua jovem
paciente histérica que entrou na história com o nome de Ana O. (cujo verdadeiro nome
era Berta Papenheim). Esta paciente, durante o estado de transe, recordava uma

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série de ocorrências traumáticas ocorridas num passado remoto, obtendo com isto
um grande alívio sintomático, e Breuer denominou este novo método terápico de
catarse, ou ab-reação (também é conhecido com o nome de talking cure, porque
assim Ana O. se referia a ele). Quando essa paciente produziu histericamente uma
gravidez imaginária, Breuer ficou muito assustado (ainda não era conhecido o
fenômeno da transferência) e providenciou uma viagem como meio de fugir dessa tão
incômoda situação que, inclusive, estava a ameaçar o seu casamento.

As sementes do interesse pelo hipnotismo foram despertadas pelo relato de


Breuer que ficaram plantadas no jovem Freud e o motivaram a aprender com Charcot
a ciência do hipnotismo. Experiência que ele repetiu em 1889 por uma segunda vez,
na França, agora em Nancy, onde pontificavam os mestres Liebault e Bernheim, com
os quais Freud aprendeu e ficou altamente impressionado com as experiências da
“psicose pós-hipnótica”. Estas experiências lhe permitiram verificar que, mesmo em
estado consciente, as pessoas executavam ordens absurdas que provinham dos
mandamentos neles implantados durante o transe hipnótico. Freud mostrava-se
incrédulo e descontente com os métodos pretensamente científicos empregados
pelos neuropsiquiatras contemporâneos e resolveu empregar o método do hipnotismo
com as suas pacientes histéricas.

Assim, partindo do princípio de que a neurose provinha de traumas sexuais


que teriam realmente acontecido na infância por sedução de homens mais velhos,
mais precisamente os próprios pais. Todas estas constatações levaram Freud a
convencer Breuer a publicarem em conjunto as suas observações e descobertas, o
que foi feito em 1893, sob o título de Comunicação Preliminar e que foi absorvido
como constituindo o primeiro capítulo do famoso livro de ambos, Estudos sobre a
Histeria, publicado em 1895. Breuer, ainda traumatizado pelo susto que levou com
Ana O., ao mesmo tempo em que discordava da orientação de Freud, cada vez mais
dirigida para a sexualidade da criança, abandonou definitivamente a nova ciência;
enquanto Freud prosseguiu sozinho com vigor redobrado, enfrentando as críticas
mordazes e desdenhosas de todos os seus colegas.

Muito cedo, Freud deu-se conta de que era um mau hipnotizador e por isso
resolveu experimentar a possibilidade de que a “livre associação de ideias”,
conseguida pelo hipnotismo, também pudesse ser obtida com as pacientes despertas.
Para tanto, passou a utilizar um método coercitivo, convidando as pacientes a

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deitarem-se no divã ao mesmo tempo em que, com insistentes estímulos e
pressionando a fronte delas com os seus dedos, obrigava-as a associarem
“livremente”. Tudo Isso, como uma tentativa de recordarem o trauma que realmente
teria acontecido, mas que estaria esquecido, devido à repressão.

Graças à paciente Elisabeth Von R. que repreendeu Freud para que deixasse
de importuná-la porque, ela assegurava-lhe, sem pressão associaria mais livremente
e melhor. Neste ínterim, é que ele ficou convencido de que as barreiras contra o
recordar e associar provinham de forças mais profundas, inconscientes, e que
funcionavam como verdadeiras resistências involuntárias. Isto se constituiu como
uma marcante ruptura epistemológica, porquanto Freud começou a cogitar que essas
resistências correspondiam a repressões daquilo que estava proibido de ser
lembrado, não só dos traumas sexuais realmente acontecidos, mas também daqueles
que foram fruto de fantasias reprimidas.

A partir daí, o conflito psíquico passou a ser concebido como resultante do


embate entre as forças instintivas e as repressoras, sendo que os sintomas se
constituiriam como sendo a representação simbólica deste conflito inconsciente.
Diante disso, esta concepção inaugura a psicanálise como uma nova ciência, com
referenciais teórico-técnicos próprias, específicas e consistentes.

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Psicanálise como Ciência

Como vemos, Freud representa a


intersecção de dois períodos: ele esteve com um
pé nas concepções positivistas de sua época, não
só da medicina, mas também da física e química,
de cujos princípios ele sofreu uma enorme
influência na elaboração de suas teorias
psicanalíticas.

O outro pé ele apoiou num campo que até


então era totalmente desconhecido e desdenhado,
criando e propondo a existência de uma dinâmica
inconsciente, com leis e fenômenos específicos,
alguns explicáveis pelas suas novas teorias, e outros a serem explicados e
comprovados a partir de cogitações metapsicológicas.

De uma forma extremamente resumida e esquemática, podemos dividir a


evolução histórica da psicanálise, centrada exclusivamente nas contribuições
originais de Freud, nos cinco seguintes estágios, a seguir descritos: “teoria do trauma,
teoria topográfica, teoria estrutural, conceituações sobre o narcisismo e dissociação
do ego”.

Teoria do Trauma

Durante muito tempo, o aspecto mais conhecido e discutido da obra de Freud


era o da teoria da libido, que ele elaborou inspirado nos modelos da eletrodinâmica
ou da hidrodinâmica vigentes na ciência da época.

Assim, o conceito de libido, que Freud concebeu como sendo a manifestação


psicológica do instinto sexual, recebeu sua origem na tentativa de explicar
fenômenos, tais como os da histeria, que Freud explicava como sendo resultantes do

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fato de que a energia sexual era impedida de expandir-se através de sua saída natural
e fluía, então, para outros órgãos, ficando restringida ou contida em certos pontos e
manifestando-se através de sintomas vá- rios.

Freud chegara à conclusão de que as neuroses, como a histeria, a neurose


obsessiva, a neurastenia e a neurose de angústia (fobia), teriam sua causa imediata
no aspecto “econômico” da energia psíquica, ou seja, num represamento quantitativo
da libido sexual.

Na neurastenia e na neurose de angústia, somente o represamento da libido


sexual é o que estaria em jogo, enquanto nas demais neuroses traumáticas outros
acontecimentos da vida passada também seriam fatores causadores dos transtornos
neuróticos.

Partindo inicialmente da concepção inicial de que o conflito psíquico era


resultante das repressões impostas pelos traumas de sedução sexual que realmente
teriam acontecido no passado, e que retornavam sob a forma de sintomas, Freud
postulou que os “neuróticos sofrem de reminiscências”, e que a cura consistiria em
“lembrar o que estava esquecido”. Penso que, para certos casos, esta fórmula
persiste na psicanálise atual como plenamente válida, porquanto é bem sabido que
“a melhor forma de esquecer é lembrar” ou, dizendo de outra forma, “o sujeito não
consegue esquecer daquilo que ele não consegue lembrar”.

A diferença é que na época de Freud este relembrar visava unicamente a uma


ab-reação, uma catarse por meio da verbalização dos fatos traumáticos e os
respectivos sentimentos contidos nas lembranças, enquanto hoje os analistas vão,
além disso, e objetivam uma ressignificação dos significados atribuídos aos traumas
que o paciente está rememorando na situação psicanalítica. Assim, a necessidade de
desfazer as repressões introduziu dois elementos essenciais à teoria e à técnica da
psicanálise: a descoberta das resistências inconscientes e o uso das interpretações
por parte do psicanalista.

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Teoria Topográfica

A teoria anterior perdurou até 1897, quando então Freud deu-se conta de que
a teoria do trauma era insuficiente para explicar tudo, e que os relatos das suas
pacientes histéricas não traduziam a verdade factual; mas sim que eles estavam
contaminados com as fantasias inconscientes que provinham de seus desejos
proibidos e ocultos. Daí, ele propôs a divisão da mente em três “lugares” (a palavra
“lugar”, em grego, é “topos”, daí teoria topográfica). A estes diferentes lugares ele
denominou: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente, sendo que o paradigma
técnico passou a ser: “tornar consciente o que estiver no inconsciente”.

Em 1900, Freud publicou A interpretação de sonhos, no qual ele comprova que


o conteúdo do sonho “manifesto” pode ser visto como um modo disfarçado e
“censurado” da satisfação de proibidos desejos inconscientes.

A propósito, essa fase teórica de Freud pode ser resumida com a sua afirmativa
de que “todo sonho, e sintoma, tem um umbigo que conduz ao desconhecido do
inconsciente”, sendo que, pode-se acrescentar, é a descoberta do significado
simbólico dos sonhos e sintomas que inaugura a psicanálise como ciência
propriamente dita.

A partir do seu fracasso com a análise de “Dora” – escrito em 1901, mas que
somente foi publicado em 1905, por razões de sigilo profissional –, Freud obrigou-se
a fazer profundas reflexões, sendo que ele chegou a afirmar que, desde então, a
técnica psicanalítica foi profundamente transformada. Pode-se dizer que as principais
transformações que se processaram nessa época foram:

a) a psicanálise deixou de ser uma detida investigação e busca de solução de,


separadamente, sintoma por sintoma;

b) a descoberta e a formulação do “princípio da multideterminação” dos


sintomas;

c) o próprio paciente é quem passou a tomar a iniciativa de propor o assunto


de sua sessão;

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d) o analista substituiu a atitude de comportar-se como um investigador ativo e
diretivo por uma atitude mais compreensiva da dinâmica do sofrimento do analisando;

e) abandono total da técnica da hipnose e da sugestão devido à percepção de


Freud de que as elas encobriam a existência de “resistências”;

f) estas últimas resultam de repressões, sendo que o retorno do reprimido


manifesta-se pelo fenômeno da “transferência”;

g) sobretudo, o “caso Dora” ensinou a Freud a existência e a importância de o


analista reconhecer e trabalhar com a “transferência negativa”.

Teoria Estrutural

À medida que se aprofundava na dinâmica psíquica, Freud tropeçava com o


campo restrito da teoria topográfica, por demais estática, e ampliou-a com a
concepção de que a mente comportava-se como uma estrutura no qual distintas
demandas, funções e proibições, quer provindas do consciente ou do inconsciente,
interagiam de forma permanente e sistemática entre si e com a realidade externa.
Desta forma, mais precisamente a partir do trabalho O ego e o id (1923), ele concebeu

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a estrutura tripartite, composta pelas instâncias do id (com as respectivas pulsões),
do ego (com o seu conjunto de funções e de representações) e do superego (com as
ameaças, castigos, etc.). O paradigma técnico da psicanálise foi formulado por Freud
como: “onde houver id (e superego), o ego deve estar”.

Conceituações sobre o Narcisismo

Embora não tenha sido formulado como uma teoria, os estudos de Freud sobre
o narcisismo abriram as portas para uma mais profunda compreensão do psiquismo
primitivo e constituíram-se como sementes que continuam germinando e propiciando
inúmeros vértices de abordagem por parte de autores de todas correntes
psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente entre os autores, pode-se
dizer que, na atualidade, um importante paradigma da psicanálise atual pode ser
formulado como “onde houver Narciso, Édipo deve estar”. (Grunberger, 1979).

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Dissociação do Ego

Aquele jovem Freud que ficara perplexo ao perceber uma dissociação da


mente que se manifestava nas pacientes histéricas durante o transe hipnótico
induzido por Charcot, foi aprofundando suas pesquisas sobre este fascinante enigma
até que ele ficou convencido de que esta clivagem da mente em regiões conscientes
e inconscientes não era específica e restrita às psicoses e neuroses, mas que ela
ocorria com todos os indivíduos. Assim, desde os seus primeiros trabalhos com
pacientes histéricas, Freud já falava de uma cisão interssistêmica da qual resultam
núcleos psíquicos independentes.

No entanto, é a partir de seu trabalho sobre Fetichismo (1927) e, de forma mais


consistente, em Clivagem do ego no processo de defesa (1940), que escreveu ao
apagar das luzes de sua imensa obra, é que Freud estudou a cisão ativa,
intrassistêmica, que ocorre no próprio seio do ego e não unicamente entre as
instâncias psíquicas. Com isso, Freud lançou novas sementes que possibilitaram aos
pósteros autores desenvolverem uma concepção inovadora da conflitiva
intrapsíquica, o que, creio, pode ser exemplificado com os trabalhos de Bion (1967)
sobre a existência concomitante em qualquer pessoa da “parte psicótica e da parte
não psicótica da personalidade” e cuja compreensão, por parte do psicanalista,
representa um enorme avanço na técnica e na prática clínica.

Diante do exposto, o gênio de Freud possibilitou que, entre avanços, recuos e


sucessivas transformações, ele construísse os alicerces essenciais do edifício
metapsicológico e prático da psicanálise, sempre estabelecendo inter-relações entre
a teoria, a técnica, a ética e a prática clínica.

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A escola de Psicanálise Freudiana

É quase uma redundância falar em “escola


freudiana” porquanto toda a psicanálise, e todos os
psicanalistas, de uma forma ou de outra, estão ligados aos
postulados metapsicológicos, teóricos e técnicos legados
por Freud e seus seguidores diretos, tanto os seus
contemporâneos como os pósteros a ele.

No entanto, o paradigma psicanalítico freudiano,


nos seus mais de 100 anos de existência, embora
conserve a invariância dos seus princípios básicos, vem sofrendo profundas
transformações, quer com acréscimos, reformulações ou refutações.

Na atualidade, o movimento freudiano propriamente dito tem por sede a


tradicional Sociedade Britânica de Psicanálise, onde ele ocupa um lugar especial,
juntamente com os outros dois grupos, o “Kleiniano” e o denominado “Independente”
(middle group).

Esses três grupos convivem harmonicamente, sendo que o freudiano, que lá


se estruturou em torno de Anna Freud, não é o mais numeroso deles, embora
conserve uma forte influência no pensamento psicanalítico e goze de uma alta
respeitabilidade.

Além disso, existe um grande contingente de psicanalistas no mundo todo que


mantém uma plena fidelidade científica a Freud e que, ao contrário do que poderia
parecer nos últimos tempos, as concepções originais do mestre estão ganhando em
vitalidade e expansão, principalmente após a descoberta dos verdadeiros tesouros
psicanalíticos contidos no “Projeto de uma Psicologia Científica para Neurólogos”, de
1895, que ficou escondido, ou esquecido, durante algumas décadas.

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Escola Freudiana

Ao procurar nos seus primórdios, observa-se que a evolução da Psicanálise se


deu a partir de reuniões realizadas por Sigmund Freud com um seleto grupo de
colaboradores em sua própria casa, para assim, de forma organizada e sistemática,
discutir casos e trocarem ideias sobre os diversos temas psicanalíticos. Seria essa a
semente que mais adiante se transformaria na Sociedade Psicanalítica de Viena.

A história da evolução da Psicanálise jamais pode ser separada da figura


principal e marcante de Freud, seu criador. Freud formou-se em medicina com
brilhantismo aos 25 anos na Universidade de Viena, fazendo um longo aprendizado
em neurologia. Pesquisava nervos de peixes raros, e investigou sobre a cocaína,
publicando muitos trabalhos nessa área que obtiveram reconhecimento científico
expressivo.

Foi nomeado professor de neuropatologia, e o fato de ter obtido o “Prêmio


Goethe de Literatura” lhe possibilitou viajar a Paris para conhecer o trabalho de
Charcot, que aplicava as técnicas hipnóticas. No seu retorno à França, para Nancy,
buscou aprofundar as técnicas hipnóticas, assistindo às demonstrações de Bernheim.
E foi através das experiências realizadas com estes dois cientistas, que Freud
começa a perceber a existência de processos psíquicos bastante fortes, mas ocultos,
da consciência humana – e que viriam, logo depois, a servir de fundamentação para
a sua teoria do inconsciente.

Freud passou a empregar a técnica da hipnose na sua clínica privada e se deu


conta de que não era um bom hipnotizador, substituindo esse recurso por técnicas
que promovessem uma “livre associação de ideias”. A partir desta observação,
nasceu a psicanálise.

Foi trabalhando com pacientes despertas, utilizando o divã, ao mesmo tempo


em que aplicava estímulos tácteis, pressionando a fronte delas com seus dedos, que
as elas eram obrigadas a associarem “livremente” na tentativa de recordarem o
trauma, que realmente tivesse acontecido, mas estaria esquecido devido à repressão.
Pouco tempo depois acabou descobrindo, através de um comentário adverso de uma
de suas pacientes (Elizabeth Von R.), que a associação livre funcionava melhor sem
a opressão frontal.

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A associação livre consistia em expressar livremente as ideias que lhe
surgissem espontaneamente na mente e verbalizá-las ao analista, sem julgá-las em
ser importantes ou não. Essa regra foi aplicada, em princípio, com ele mesmo (Freud)
em sua autoanálise desde 1894 quando da análise dos seus sonhos. Mas só por volta
de 1896 ele instituiu categoricamente esse método associativo, quando sua paciente
Emmy Von N. lhe pediu para que a deixasse falar livremente sem ser pressionada
para associar “livremente”.

A associação livre facilitou muito a constatação das manifestações de


repressões e resistências em seus pacientes. Esta descoberta contribuiu para que
Freud fosse considerado o “Pai da Psicanálise”. Freud concluiu que as barreiras
contra o recordar e associar eram provindas de forças mais profundas inconscientes,
e que funcionavam como verdadeiras resistências involuntárias.

Por conseguinte, isto se constituiu como uma marcante ruptura epistemológica,


levando Freud a cogitar que essas resistências correspondiam a repressões daquilo
que estava “proibido de aflorar à consciência”, ou seja, de ser lembrado. Ao chegar
1906, Freud já havia lançado os alicerces do edifício psicanalítico, tais como:

 A descoberta do inconsciente dinâmico como principal motivador da conduta;

 Consciente das pessoas, O fenômeno da “livre associação de ideias”;

 A importância dos sonhos como forma de acesso ao inconsciente;

 A sexualidade da criança, estruturada em torno da cena primária e do


complexo de Édipo;

 O fenômeno das resistências e, por conseguinte, das repressões;

 A transferência;

 A presença constante de dualidades no psiquismo tais como: os dois tipos


de pulsões, de vida e morte, o conflito psíquico resultante de forças contrárias, do
consciente versus inconsciente, o princípio do prazer e o da realidade, entre outras.

A conclusão de Freud foi de que o conflito psíquico é resultante do embate


entre as forças instintivas e as repressoras, sendo que os sintomas se constituíram
como sendo a representação simbólica deste conflito inconsciente. Esta concepção

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inaugura a psicanálise como uma nova ciência, com referências teóricas e técnicas
próprias, específicas e consistentes.

A evolução histórica da Psicanálise pode ser dividida e esquematizada


exclusivamente nas contribuições originais de Freud, sendo estabelecidos os
seguintes conceitos estruturantes e paradigmas de cura:

 O neurótico sofre de reminiscências e a cura consiste em rememorá-las.


(Teoria do Trauma),

 Tornar consciente o que é inconsciente. (Teoria Topográfica)

 Onde houver o Id, o Ego deve estar. (Teoria Estrutural) Dessa forma, neste
contexto são desenvolvidas complementarmente as conceituações sobre o
Narcisismo e sobre a dissociação do Ego.

Os Expoentes da Escola Freudiana

Dentro do arcabouço das ideias freudianas e seu terreno profícuo e fecundo,


outros Outros importantes e reconhecidos nomes desta escola se destacam: são Karl
Abraham, Sandor Ferenczi, Wilhelm Reich e Anna Freud. Cada um deles com
reconhecidamente, Podem-se destacar dentro das contribuições destes analistas as
seguintes:

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Karl Abraham

Autor prolífico, sendo suas investigações


mais originais, que ainda persistem como
importantes e vigentes aquelas referentes aos
estágios pré-genitais do desenvolvimento, sendo
importante ressaltar seu artigo de 1919, Uma forma
de resistência Neurótica contra o método
psicanalítico, no qual, de forma extremamente
atual, discorre sobre o problema dos pacientes
narcisistas “pseudocolaboradores”.

Sandor Ferenczi Introduziu, entre muitos outros, os primeiros conceitos para


fundamentar a teoria das relações objetais; considerava “que as crianças que são
recebidas com asperezas e falta de amor morrem fácil e voluntariamente”, conceito
desenvolvido quinze anos depois por Spitz; estuda a teoria do trauma da sedução
real, afirmando que isso acontece “quando os adultos confundem os jogos da criança
com os desejos das pessoas sexualmente adultas”; considerou a personalidade do
analista como um instrumento de cura.

Wilhelm Reich

A inclusão do Wilhelm Reich justifica-se devido a que


por meio do seu livro Análise do Caráter (1933) colaborou de
forma inestimável para o entendimento de que uma análise
poderia ir muito além da remoção dos sintomas e que ela
também deveria visar mudanças na “armadura
caracterológica resistencial” de que todo paciente é portador,
em alguma forma ou grau. Sua ruptura com Freud deu-se a
partir do seu artigo sobre o caráter masoquista de 1932.
Posteriormente houve por parte de Reich um desvio quase
total dos princípios essenciais da psicanálise.

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Anna Freud

Pode-se considerar como ponto de destaque na


contribuição de Anna Freud à psicanálise, os conceitos
elaborados no seu livro: O ego e os mecanismos de
defesa (1936) onde enaltece as funções do ego, que o
próprio Sigmund Freud esboçou, mas não aprofundou.
Seus discípulos viriam a formar a Escola da Psicologia
do Ego, e foi em torno de sua pessoa que a corrente
freudiana da Sociedade Psicanalítica Britânica, se
moldou.

Anna Freud teve como destaque ainda, seu pioneirismo na psicanálise com
crianças, não obstante o fato da orientação de natureza pedagógica. Houve de sua
parte fortes críticas dirigidas a Melanie Klein, que preconizava a psicanálise com
crianças, dentro do molde estabelecido pelo mais puro rigor psicanalítico.

Escola dos Teóricos das Relações Objetais

Este período se caracteriza pela abertura de correntes de pensamento


psicanalítico diversas daquela preconizada por Freud. Essas correntes, embora
estruturadas a partir de fundamentos originados na proposta freudiana, incorporam
novas visões e interpretações que ampliam de forma significativa o saber
psicanalítico.

20
Melanie Klein

A Escola dos Teóricos das Relações Objetais,


com Melanie Klein, como um dos seus maiores
representantes, transforma-se no berço de uma nova
visão da práxis psicanalítica, ao desenvolver formas
diferentes de interpretação dos conceitos enunciados
por Freud, abrindo espaço para a formulação de novas
propostas de trabalho. Neste contexto, a escola
kleiniana valoriza fortemente, a existência de um ego
primitivo, já desde o nascimento, a fim de que este
mobilizasse defesas arcaicas – dissociações,
projeções, negação onipotente, idealização, etc.

Tudo isso, para contra restar as terríveis ansiedades primitivas advindas da


inata pulsão de morte, isto é, da inveja primária, com as respectivas fantasias
inconscientes. M. Klein conservou o complexo de Édipo como o eixo central da
psicanálise, porém o fez recuar para os primórdios da vida, assim descaracterizando
o enfoque triangular edípico, medular da obra freudiana.

A observação dos adultos e o emprego da técnica psicanalítica a induziram a


investigar os estágios iniciais do desenvolvimento infantil. O trabalho dela, tomando
como base a teoria psicanalítica de Freud, foi criar a técnica de brincar com as
crianças e, através do brinquedo, compreendê-las.

Em 1919, ela escreve: “O Desenvolvimento de uma criança” sendo este o


trabalho que a titulou como membro da Sociedade Psicanalítica da Hungria. De 1920
a 1925 Melanie Klein fez análise com K. Abraham, a qual fora interrompida pela morte
inesperada do analista. Nesse ano, Melanie Klein fora convidada por Ernest Jones
para pronunciar algumas conferências em Londres, causando forte impacto e
entusiasmo em muitos psicanalistas britânicos.

Tal acontecimento a levou a fixar residência definitiva na Inglaterra, onde


trabalhou como psicanalista pelo restante de sua vida. Freud desenvolveu sua teoria
psicanalítica a partir da observação de adultos, enquanto Melanie Klein elabora seu
pensamento através da observação de crianças. Conforme sua observação, postula

21
que tanto o complexo de Édipo quanto o Superego estão estabelecidos em uma fase
muito mais remota da vida do indivíduo do que se presumia até então.

Estudos posteriores contribuíram para o melhor entendimento do complexo de


Édipo, posição depressiva e, finalmente, sobre a posição esquizo-paranoide, o que
tornou mais claras as ligações de sua obra com a de Freud, e facilitaram o
acompanhamento psicológico do indivíduo desde sua infância mais remota. Melanie
Klein considerou como ponto de partida para o estudo do processo de
desenvolvimento da criança os primeiros três ou quatro meses de vida, enquanto
Freud, considerava esse ponto a partir dos 4 anos.

No primeiro trimestre, o bebê experimenta a ansiedade como resultante do


efeito proveniente de fontes internas e externas; a atividade interna do instinto de
morte dá origem ao medo de ser aniquilado e esse aniquilamento é a causa primária
da ansiedade persecutória. Nessa fase, a criança sofre o desconforto e dor pela perda
intrauterina, que é sentida pelo bebê como uma agressão perpetrada por forças
hostis, isto é, como perseguição, ficando exposto a dolorosas privações, causando-
lhe ansiedade.

Para Klein, a relação objetal é iniciada com a presença da mãe e a


amamentação do bebê, sendo esse um dos pilares de sua teoria. Melanie Klein faz
duas considerações importantes que passa a denominar de posição esquizo-
paranoide e posição depressiva da criança. A posição esquizo-paranoide, vivenciada
pela criança por volta dos três a quatro meses de idade, traz uma luz sobre a teoria
kleiniana e produz grande vantagem, concernente ao fato de se dar início numa fase
bem primitiva e a partir daí poder descrever o crescimento psicológico do indivíduo.

Na consideração de Klein, num certo sentido, tanto a posição


esquizoparanoide e a posição depressiva constituem fases de desenvolvimento,
podendo considerá-las subdivisões do estágio oral. Esta posição esquizo-paranoide
caracteriza-se pelo fato de as crianças não tomarem conhecimento das pessoas, e o
relacionamento se mantém nos objetos parciais, e pela prevalência dos processos de
divisão e de ansiedade paranoide.

A hipótese de que as primeiras experiências resultantes da amamentação do


bebê e da presença da mãe iniciam uma relação objetal parcial, isto é, os impulsos
oral-libidinais e oral-destrutivos desde o começo da vida, dão a entender que estas

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primeiras experiências são, particularmente, dirigidas para o seio materno. Se a
criança está satisfeita, suprida pela amamentação, registra-se um equilíbrio ótimo,
entre os impulsos libidinais e agressivos, ocorrendo aí o sentimento de “seio bom”.

Quando é alterado o equilíbrio entre libido e agressão da origem, surge a


emoção chamada avidez, predominantemente, de natureza oral. Nos bebês, que
possuem um componente agressivo inato forte, a ansiedade persecutória, a
frustração e a avidez são facilmente provocadas, contribuindo para a não tolerância
de privação do bebê em lidar com a ansiedade. Na medida em que esta situação for
fonte de frustração, surge o sentimento de “seio mau”. Quando o seio é bom e o
gratifica, o bebê projeta os seus impulsos de amor, e quando o seio é frustrador (mau)
o bebê projeta os seus impulsos destrutivos.

Melanie Klein foi pioneira das seguintes concepções originais:

 Criou uma técnica própria de psicanálise com crianças e introduziu o


entendimento simbólico contido nos brinquedos e jogos.

 Postulou a existência de um inato ego rudimentar, já no recém-nascido.

 A pulsão de morte também é inata e presente desde o início da vida sob a


forma de ataques invejosos e sádico-destrutivos contra o seio alimentador da mãe.

 Essas pulsões de morte, agindo dentro da mente, promovem uma terrível


angústia de aniquilamento.

 Para contra restar tais angústias terríveis, o incipiente ego do bebe lança mão
de mecanismos de defesa primitivos, como são a negação onipotente, dissociação,
identificação projetiva, identificação introjetiva; idealização e denegrimento.

 Concebeu a mente como um universo de objetos internos relacionados entre


si através de fantasias inconscientes, constituindo a realidade psíquica.

 Além dos objetos totais, ela estabeleceu os objetos parciais (figuras parentais
representadas unicamente por um mamilo, seio, pênis, etc.).

 Postulou uma constante clivagem ente os objetos (bons x maus; idealizados


x persecutórios) e entre as pulsões (as construtivas, de vida, versus as destrutivas,
de morte).

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 Concebeu a noção de posição – conceitualmente diferente de fase evolutiva
– e descreveu as agora clássicas posições esquizo-paranoide e a depressiva.

Suas concepções acerca dos mecanismos arcaicos do desenvolvimento


emocional primitivo permitiram a análise com crianças, com psicóticos e com
pacientes regressivos em geral.

 Para não ficar descompassada com os princípios ditados por Freud,


conservou as concepções relativas ao complexo de Édipo e ao superego, porém as
realocou em etapas muito mais primitivas do desenvolvimento da criança.

 Juntamente com os ataques sádico-destrutivos da criança, com as


respectivas culpas e consequentes medos de retaliadores ataques persecutórios,
postulou a necessidade de a criança, ou o paciente adulto na situação analítica,
desenvolver uma imprescindível capacidade para fazer reparações.

 Deu extraordinária ênfase à importância da inveja primária, como expressão


direta da pulsão de morte.

 Como decorrência dessas concepções, promoveu uma significativa mudança


na prática analítica no sentido de que as interpretações fossem sistematicamente
transferenciais, mais dirigidas aos objetos parciais, aos sentimentos e defesas
arcaicas do paciente, e com uma ênfase na prioridade de um analista trabalhar na
transferência negativa.

Este período fica caracterizado pela mudança de foco dos psicanalistas, que
passam a valorizar aspectos relacionados com o desenvolvimento emocional
primitivo: as relações objetais parciais e as fantasias do inconsciente, com suas
respectivas ansiedades e defesas primitivas.

Conserva-se a regra de que somente teriam valor verdadeiramente


psicanalítico às interpretações unicamente dirigidas às neuroses de transferência,
porém começa a ganhar um amplo espaço de valorização, a contratransferência,
criando-se desta forma os primórdios da psicanálise baseada na relação
transferencial - contratransferencial. Expoentes desta época são Joan Rivière, S.
Isaacs, Segal, Rosenfeld, Meltzer e Bion.

24
O ser humano a partir da Psicanálise

A contemporaneidade está sendo marcada pelo caos, decorrente de


uma economia predatória que cada vez mais elimina a humanidade das
pessoas. As desigualdades sociais, a falta de afeto entre as famílias, o
consumismo desenfreado, a alienação cotidiana dos programas de televisão, a
ausência de relações saudáveis que permita a construção prazerosa de um ser
autônomo, são alguns dos diversos problemas que cada vez mais aumenta o número
de pessoas neuróticas.

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Nessa perspectiva, teorias como a da psicopatologia, da psicologia
do desenvolvimento, neurologia, genética e evolução contribuem para a
compreensão do desencadeamento das patologias desenvolvidas a partir das
interações com o meio, contudo, este estudo busca desenvolver um
entendimento a luz da teoria psicanalítica, tendo em vista, que para esta área do
conhecimento, as vivências adquiridas na infância são as que pré-determinam à
formação psíquica do sujeito.

Freud, o criador da Psicanálise, “corrente psicológica que se fundamenta sobre


a teoria do recalcamento, significando também método de exploração do
psiquismo humano e terapêutico para certas neuroses” (TELES, 2001, p. 35),
percebeu que a sexualidade molda determinados comportamentos e que isso ocorre
desde a infância.

No entanto, é importante salientar que a sexualidade infantil teorizada por


Freud, se diferencia da sexualidade do adulto em vários aspectos. Para o autor, o
prazer sexual da criança está relacionado com o seu próprio corpo e não da relação
com outra pessoa(ANDRADE, 2011).

O pensamento de Freud é mecânico-evolucionista, baseando-


se principalmente, na Biologia. Para ele o homem é visto dentro de um contexto
que abrange o plano bio-psico-social (que compreendia toda a realidade humana)
e seria impulsionado, sobretudo, a satisfazer certos instintos elementares,
que são tão poderosos que obrigam a procurar alcançar, diretamente, ou por
caminhos tortuosos, os seus fins (TELES, 2001).

Isso implica dizer que o desenvolvimento da teoria psicanalítica toma


como referencia, a realidade psíquica, constituída pelos desejos inconscientes e pelas
fantasias a ela vinculadas, tendo como pano de fundo a sexualidade infantil.
Além disso, o conceito de infância passa a ser abordado pelo autor a partir da
lógica do inconsciente(COSTA, 2007).

Bock (2002), explica que Freud se incomodava com o fato dos pacientes
esquecerem tantos fatos de sua vida interior e exterior,

Quando Freud abandonou as perguntas no trabalho terapêutico


com os pacientes e os deixou dar livre curso as suas ideias, observou
que, muitas vezes, eles ficavam embaraçados, envergonhados com

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algumas ideias ou imagens que lhes ocorriam. A esta força psíquica
que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud
denominou resistência. E chamou de repressão o processo psíquico
que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma ideia ou
representação insuportável e dolorosa que está na origem do
sintoma. Estes conteúdos psíquicos “localizam-se” no
inconsciente(BOCK, 2002, p. 73).

Portanto, “no modelo freudiano, o inconsciente é o lugar teórico dos


impulsos instintivos ou pulsões e das representações reprimidas ou daquelas que
nunca puderam chegar à consciência” (SHIRAHIGE E HIGA, 2004, p. 20).

Desta forma, a busca do prazer é uma forte motivação para o comportamento


das pessoas, e caso o indivíduo seja impedido de realizar seus desejos, sendo
reprimido desde a sua infância, a probabilidade é que este sujeito desenvolva uma
patologia, pois ao conter seus impulsos, devido à repressão moral social que
impera nas sociedades civilizadas, o indivíduo leva todas essas sensações
de falta e perda para o inconsciente, que posteriormente se manifestará
por meio de comportamentos patológicos.

Essas manifestações são notadas a partir dos fenômenos de conflitos,


insatisfações, tensões, desconfianças, retraimento ou momentos de explosões.
De acordo com Teles (2001), a diferença entre o sujeito ajustado e o neurótico é,
portanto, uma questão de grau: é uma diferença puramente quantitativa, o que
pressupõe que,

O individuo neurótico é aquele que está constantemente em


conflitos com o ambiente e consigo mesmo, tendo dificuldades em
reconhecê-lo e solucioná-lo; vive num estado permanente de tensão e
insatisfação, em guarda contra tudo e contra todos; apresenta excessiva
dependência e aprovação e do afeto alheio; mostra sentimentos de
insegurança, inferioridade e inadequação e um conjunto amplo de inibições
(TELES, 2001, p.62).

Desta forma, o surgimento das neuroses se dá pela inquietação da falta,


como falta de amor, insatisfação sexual, pela ausência de algo ou de alguém
(MAURANO,2010). Kupfer (2007), ao tratar das marcas deixadas pela dor da falta,
explica que,

O mal estar funda a civilização, as ideias de progresso e avanço


civilizatórios, são incompatíveis com uma condição humana cuja base são
as “nossas piores disposições” cujo objeto de desejo está para sempre

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perdido e cujo o fim é a morte. Somos constituídos por uma falta que nos
funda, mas nos condena à insatisfação estrutural e à infelicidade
(KUPFER, 2007, p.14).

Entretanto, Maurano (2010), ao discutir a função da psicanálise no mundo


de hoje, afirma que não defende uma posição pessimista, do tipo que toma a
incompletude do sujeito como um defeito de fabricação com o qual os indivíduos
teriam que se conformar. Maurano (2010) defende uma orientação ética que
funda a proposta psicanalítica, acolhendo a vida não em uma dimensão ideal,
como se gostaria que ela fosse, mas em uma dimensão real.

A confrontação com real ocasiona a queda das ilusões, sendo assim, o


sujeito pode reagir de duas formas: a primeira, negar a existência do real, na
promessa de que pelas forças da mente ou do que quer que seja pode-se
escapar, intensificando, por consequência a fragilidade humana. A segunda é
“afirmar a vida com tudo o que nela há, de alegria e de sofrimento, de leveza e
de dureza, é não a mutilar de nenhum de seus componentes. Mas obviamente, se
é simples falar assim, não é simples viver dessa forma”, ressalta Maurano (2010,
p.16).

Conceber mais alegria nas relações e menos repressão nas ações que dão
prazer é uma forma de contribuir no desenvolvimento de um adulto saudável.
Diante da compatibilidade entre a natureza da inquietação que domina a cena atual
e a natureza da invenção psicanalítica, esta última continua sendo um recurso
privilegiado em nossos tempos, principalmente, quando se pensa na criança em
processo de escolarização.

Atuação de muitos educadores no decorrer da história foi baseada


no castramento, do proibir os sujeitos de se manifestarem e de liberarem a
energia sexual que os dá prazer. Essa situação ainda está muito presente nas
práticas educativas e alguns teóricos como Jerusalinsky (1995), Filidoro (1995),
Soares (1995), Kessler (1995)5discutem a possibilidade de relacionar a educação
com a psicanálise, tendo em vista, os seus pressupostos em torna da infância,
período no qual, as crianças estão se relacionado com outros grupos além da
família.

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Com base nas premissas psicanalíticas, observa-se que é fundamental
compreender os processos de aquisição e construção de conhecimento-da
formação psíquica do sujeito. Por isso, emprega-se a teoria de Freud nas
intervenções psicopedagógicas, no intuito de confrontar pensamentos, elaborar
e (re) elaborar explicações, propor novas respostas para perguntas já anteriormente
elaboradas, buscar novas perguntas para antigas repostas (BEAUCLAIR, 2011).

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REFERÊNCIAS

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