Você está na página 1de 80

UNIDADE - I

1.1- EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL

A história da psiquiatria está intimamente ligada aos padrões socioculturais. As atitudes


civilizacionais, culturais e sociais de uma dada sociedade vão-se refletir no nosso
conceito de doença mental. Se, por um lado, os aspectos culturais influenciam a forma
como olhamos para a doença mental, por outro, influenciam igualmente a forma como
essa doença se manifesta nas reações do doente.

CONCEPÇÃO de doença mental

Posição cultural dominante


EXPRESSÃO da doença mental

POVOS PRIMITIVOS E A EXPLICAÇÃO MÁGICA/DIVINA


A doença mental era algo mágico e produto da manifestação dos deuses. A cura era
oferecida aos deuses pelos sacerdotes, curandeiros e feiticeiros;
O doente acreditava que encarnava os deuses.

Exemplo:

- Um sujeito com o início de uma esquizofrenia era socialmente promovido porque tinha
a possibilidade de falar com os deuses. Mas, com a progressão da doença, havia a
despromoção social.

GREGOS E A CONCEPÇÃO NATURALISTA (séc. V ou VI a.c.)

Pela primeira vez, surge uma concepção naturalista de doença mental – há uma
procura das causas da doença mental no homem e não em entidades divinas.

Encontramos já aqui a dicotomia organogénese (resultado da alteração no sangue –


causas orgânicas) – psicogénese (resultado de forças espirituais, da alma – causas
mentais ou psicológicas).

1
Existiam duas escolas na Grécia Antiga que explicavam de forma diferente a doença
mental:

Escola de COS (Hipócrates) – PSICOGÉNESE: explicava a doença mental como


resultante de alterações de humor, da alteração do sangue;

Escola de CNIDE – ORGANOGÉNESE: explicava a doença mental com base em


lesões anatómicas no cérebro.

IDADE MÉDIA, CRISTIANISMO E A CONCEPÇÃO DEMONOLÓGICA

A doença mental era sinónimo de possessão pelo diabo/demónio.

Para tratar a loucura recorria-se ao exorcismo – tentavam retirar o demónio das


pessoas através de castigos e torturas (ex. passar ferros em brasa nas mãos; atirá-lo à
fogueira).

RENASCIMENTO E A CONCEPÇÃO MÁGICO-SUPERSTICIOSA

As explicações baseiam-se na bruxaria e magia (ex. mal de inveja, espírito encostado).

O Renascimento não trouxe benefícios aos doentes mentais, pelo contrário, manteve
práticas de perseguição e desrespeito. Contudo, alguns pensadores trouxeram alguns
avanços à psiquiatria.

Paracelso, foi uma excepção no seu tempo, já que procurou causas naturais da
doença mental. Acreditava que a doença mental era uma perturbação interna do corpo,
o qual estava intimamente ligado à alma. Paracelso é considerado o primeiro
psicoterapeuta.

ROMANTISMO E A CONCEPÇÃO TEOLÓGICA E MORALISTA (séc. XVII, XVIII)

As causas da doença mental voltam a ser procuradas no homem, mas corresponderiam


a paixões excessivas, desorganizadoras e desregradas. Confundem-se conceitos
morais e conceitos psicológicos.

O tratamento assentava no castigo e purificação das paixões, através dos chamados


tratamentos morais (ex. banhos gelados, camisas de força, “ponte suspensa”, cadeira
giratória, isolamento do doente).

2
A psiquiatria foi constituída como especialidade médica no fim deste século, para
atender à necessidade de legitimar as restrições da sociedade burguesa e as
contradições de uma revolução que defendia a liberdade, a igualdade e a fraternidade,
mas que precisava, também, impedir as transgressões e manter a ordem burguesa e
suas novas referências, como a potência de trabalho para produzir riquezas.

Séc. XIX e XX E A CONCEPÇÃO CIENTÍFICO-NATURALISTA

Com a Revolução Francesa (1879) retoma-se a concepção naturalista de doença


mental, mas desta vez procura-se perceber a interação das causas biológicas,
psicológicas e sociais.

Pinnel e Esquirol

Pinnel é a principal figura do movimento do tratamento humanitário das doenças


mentais nos asilos. Pela primeira vez, os doentes mentais são vistos como seres
humanos que precisam de ser separados dos criminosos para receber tratamento.
Constroem-se hospitais/asilos onde os doentes começam a ser estudados, e onde
ocupam o seu tempo envolvidos em atividades.

Começam a surgir os primeiros estudos sobre a evolução das doenças mentais. Em


1837, Esquirol escreveu “Des maladies mentalles”, onde sugere intervenções
terapêuticas para as alucinações, delírios e outras doenças mentais.

Só no século XIX, devido à paralisia geral (fase terminal da sífilis), se chega à


conclusão que as perturbações mentais são uma doença. E pela primeira vez, ligam-se
os sintomas mentais a uma doença orgânica. A partir de então surgem imensos
estudos sobre doenças mentais, onde aparecem nomes muito importantes, tais como:

KRAEPLIN e a Abordagem Nosológica

Método nosológico - seguir os doentes e registar meticulosamente os sintomas e a sua


evolução - definição de um quadro clínico através dos sintomas, evolução e
prognóstico.

Distinguiu dois tipos de psicoses:

3
1. Psicose maníaco-depressiva: com um princípio abrupto, e evolução por surtos de
crise, havendo recuperação e normalidade no fim da crise; os doentes oscilam entre
períodos de depressão, períodos de excitação/mania e intervalos sem manifestação de
sintomas; não implicava deterioração do estado clínico (designação atual: perturbação
bipolar)

2. Demência precoce: início precoce; uma vez instalada evoluía progressivamente


para a demência/deterioração mental (designação atual: esquizofrenia).

BLEUER e o Conceito de Esquizofrenia

Vai chamar à demência precoce, esquizofrenia. Nem todos esses doentes evoluem
para a deterioração. O termo esquizofrenia (mente perdida) explicava a dissociação
entre os pensamentos e os sentimentos.

Distingue três tipos de esquizofrenia:

1. Catatónica - predominam sintomas motores;

2. Hebefrénica - predomina a desorganização do pensamento; pior prognóstico porque


começa muito cedo;

3. Paranóica - predominam os delírios e as alucinações.

KRETSCHEMER: Biótipo e Personalidade

De que forma o aspecto físico traduz a personalidade?

Estabeleceu três tipos de constituição/biótipo:

1. Constituição pícnica: gordos e baixos; temperamento mais extrovertido; tendência


para a ciclotímia (variações de humor); psicoses maníaco-depressivas.

2. Constituição laptosómica: altos e esguios; introvertidos; tendências esquizoides


(evitam o contacto social); esquizofrenias.

3. Constituição disfásica: típico dos jogadores de basket (muito altos, muito grandes e
com braços muito compridos); alterações endócrinas e hipofisárias (produção de um
grande número de hormonas de crescimento).

4
Esta classificação não tem muito apoio científico, no entanto ainda se verificam alguns
casos de acordo com esta classificação.

KARL JASPERS

Tentou aplicar a fenomenologia ao estudo das doenças mentais (descrever


pormenorizadamente os fenómenos mentais). Cria e desenvolve a abordagem
fenomenológica em psicopatologia.

Portanto, as críticas ao saber da psiquiatria clássica motivaram o surgimento da


psiquiatria social que recortou um novo objeto de interesse, a saúde mental. A
assistência em saúde mental passou por três grandes mudanças ao longo do tempo. A
primeira foi a revolução pineliana, em 1793, quando os cidadãos insanos já
incorporados como doentes mentais pela psiquiatria nascente passaram a ser
institucionalizados para o tratamento; a segunda revolução foi a das comunidades
terapêuticas dos anos 30, definidas como processo de reformas institucionais que
continham em si mesmas uma luta contra a hierarquização ou verticalidade dos papéis
sociais. A terceira, é a psiquiatria comunitária dos anos 50, desenvolvida nos Estados
Unidos pelo Gerald Caplan e ficou conhecida também como Saúde Mental Comunitária.
A noção de prevenção adotada por Caplan foi transportada da medicina preventiva para
a psiquiatria e considerava-se que poderia ser realizada em três níveis a saber:

Prevenção Primária: intervenção nas condições possíveis de formação dos


transtornos mentais, condições etiológicas, que podem ser de origem individual, e/ou do
meio;

Prevenção Secundária: intervenção que busca a realização de diagnóstico e


tratamento precoces de transtornos mentais;

Prevenção Terciária: que se define pela busca de readaptação do paciente à vida


social, após a sua melhoria. Disso resultaram os vários movimentos de Reformas
Psiquiátricas no mundo.

ALGUMAS NOÇÕES:

5
Psiquiatria: é a especialidade da medicina que lida com a prevenção, atendimento,
diagnóstico, tratamento e reabilitação das diferentes formas de sofrimentos mentais,
sejam elas de cunho orgânico ou funcional, com manifestações psicológicas severas.
Ex.: a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, a demência e os transtornos de
ansiedade. A palavra psiquiatria deriva do grego: “psyché” (alma) + “iatria” (cura) e quer
dizer “arte de curar a alma”. Doença mental = objeto da psiquiatria.

Psicologia: é o estudo científico do comportamento e da mente em termos de


organização e diversidade, que tem por objetivo descobrir leis e regularidades entre
fenómenos, formulando modelos e teorias consistentes para compreender, explicar e
prever fenómenos humanos.

A definição etimológica do termo “psicologia” constitui-se em uma junção de dois


vocábulos gregos: “psyché” (alma, espírito, mente) e “logos” (estudo, razão,
compreensão). Ou seja, “psicologia” seria o estudo ou a compreensão da alma.

Psicopatologia: Ramo da Psicologia e da Psiquiatria que estuda as perturbações


psicológicas, ou seja, a natureza e o desenvolvimento dos comportamentos,
pensamentos e emoções anormais (perturbações patológicas). É uma palavra de
origem grega constituída por três vocábulos; psyché (alma, espírito, mente); pathos
(doença) e logos (estudo, razão, compreensão).

O seu objeto é o doente e o seu objetivo é observar e descrever os sintomas, que é o


ponto de partida para a elaboração de um futuro diagnóstico e tratamento (ajudar o
doente). A terapia já é trabalho dos psicólogos clínicos e dos psiquiatras.

Ao observar e descrever os sinais psicopatológicos é importante compreender o


comportamento do doente dentro do seu contexto social e não isoladamente.

1.2- CONCEITOS DE SAÚDE E DOENÇA MENTAL

SAÚDE MENTAL
O termo Saúde Mental se justifica, assim, por ser uma área de conhecimento que, mais
do que diagnosticar e tratar, liga-se à prevenção e promoção da saúde, preocupando-
se em reabilitar e reincluir o paciente em seu contexto social.

6
A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição "oficial" de saúde
mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas
concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida.

Saúde mental: é um estado de boa adaptação, com uma sensação subjetiva de bem-
estar, prazer de viver e uma sensação de que o indivíduo está a exercer os seus
talentos e aptidões (Champlin,1989).

Saúde mental: é o conjunto de ações de promoção, prevenção e tratamento,


referentes ao melhoramento ou à manutenção ou a restauração da saúde mental de
uma população (Saraceno, 1999).

Saúde mental: é um aspecto vinculado ao bem-estar, à qualidade de vida, à


capacidade de amar, trabalhar e de se relacionar com os outros (OMS, 2006).

DOENÇA MENTAL
A doença mental engloba um amplo espectro de problemas patológicos que afetam a
mente, usualmente provocando grande desconforto interior e alterando
comportamentos. Provoca uma enorme variedade de sintomas entre as quais queixas a
nível do humor, percepção, imaginação e pensamento. Diferentes sinais e sintomas
reúnem-se e evoluem no tempo, têm em comum tornarem a pessoa disfuncional, a
nível pessoal, familiar, social e laboral, alterando, tanto pela intensidade como pela
persistência, o dia-a-dia da pessoa que sofre.

Doença mental: “é uma variação mórbida da normalidade, capaz de produzir prejuízo


na performance global da pessoa (pessoal, ocupacional, familiar e social) e ou das
pessoas com quem convives” (OMS).

SINAIS E SINTOMAS DE TRANSTORNOS MENTAIS


Os sinais e sintomas também precisam continuar sendo observados e registados por
toda a equipe que atende o paciente a fim de manter uma avaliação dinâmica dele e
ajustar o tratamento sempre que se faça necessário. Nesse aspecto, a participação do
técnico de enfermagem é essencial, devendo este conhecer os sinais e sintomas mais
comuns e estar atento as suas manifestações nos pacientes a fim de transmiti-las ao
restante da equipe.

7
Vamos descrever alguns sinais e sintomas das principais funções psíquicas. Em um
transtorno mental podem estar presentes vários deles ao mesmo tempo, assim como
um mesmo sintoma pode pertencer a quadros psíquicos diversos. Nem sempre os
nomes são muito fáceis de serem gravados, mas é importante para o técnico de
enfermagem engajado na Saúde Mental ter melhor compreensão dos termos usados
pelo restante da equipe a fim de estabelecer com ela uma troca adequada.

Alterações da sensopercepção

Sensopercepção é a capacidade que desenvolvemos de formar uma síntese de todas


as sensações e percepções que temos a cada momento e com ela formarmos uma
ideia do nosso próprio corpo e de tudo o que está à nossa volta. Para isso, fazemos uso
de todos os nossos órgãos dos sentidos.

As alucinações, típicas dos estados psicóticos, não costumam constituir um nome


estranho, especialmente para quem trabalha em um setor de psiquiatria, mas, às vezes,
são confundidas com outras alterações.

As alucinações são sensações ou percepções em que o objeto não existe, mas que é
extremamente real para o paciente, e ele não pode controlá-las pois independem de
sua vontade. Assim, numa alucinação auditiva, o paciente não dirá “parece que ouço
vozes”, e sim “as vozes voltaram e estão me dizendo para não escutar o que você diz”.
As alucinações podem ser auditivas, visuais, gustativas, olfativas, táteis, cinestésicas e
das relações e funções corporais.

Nas ilusões, ao contrário das alucinações, o objeto percebido existe, mas sua
percepção é falseada, deformada. O paciente pode, por exemplo, estar convencido que
o teto está baixando e que poderá esmagá-lo.

Alterações do pensamento

Pensamento é o processo pelo qual associamos e combinamos os conhecimentos que


já adquirimos no mundo e chegamos a uma conclusão ou a uma nova ideia. Inicia-se
com uma sensação (visão, olfato, paladar, audição e tato) e conclui-se com o raciocínio,
que é caracterizado pela associação de ideias.

Podem ser classificadas de acordo com a direção ou com o conteúdo do pensamento.

8
a) Alterações da direção do pensamento:

Na inibição do pensamento, este se apresenta lentificado, pouco produtivo, com


pobreza de temas. O indivíduo costuma falar em voz baixa e fica “ruminando” sempre
as mesmas ideias. É uma alteração típica dos quadros depressivos.

Ao contrário da alteração anterior, na fuga de ideias o indivíduo tem um aporte tão


grande de ideias que não consegue concluí-las.

Em geral possui boa fluência verbal e possui grande dificuldade de interromper o fluxo
do seu pensamento, que é contínuo. O indivíduo “emenda” um assunto no outro de tal
maneira que torna difícil sua compreensão. Bastante típico dos quadros maníacos.

Quando o indivíduo constrói sentenças corretas, muitas vezes até rebuscadas, mas
sem um sentido compreensível, fazendo associações estranhas, tem-se a alteração de
desagregação do pensamento, que é típica da esquizofrenia. Um bom exemplo é a
seguinte frase “se você não gostava de jaca porque roubou minha bicicleta?”

b) Alterações do conteúdo do pensamento

As ideias sobrevalorizadas e obsessivas apresentam-se como ideias que assumem


papel central no pensamento do indivíduo. Ele mantém um discurso circular, retornando
a elas por mais que se tente diversificar o assunto.

Já as ideias delirantes são ideias que não correspondem à realidade, mas que para o
indivíduo são a mais pura verdade. Tais ideias assumem a característica de serem
indiscutíveis mesmo com a mais profunda lógica, pois o indivíduo fundamenta-as em
uma lógica à parte.

Alterações da linguagem

Podem se tratar de alterações na articulação da linguagem ou no uso da mesma. A


logorreia é a fala acelerada e compulsiva; a gagueira é a repetição de sílabas, com
dificuldade para dar início e prosseguimento à fala.

Na ecolalia há repetição, como em eco, das últimas palavras proferidas por alguém; na
glossolalia, o paciente usa a linguagem de forma estranha e incorreta, muitas vezes
com a criação de novos termos, incompreensíveis (neologismos).

9
No mutismo, o indivíduo mantém-se mudo, sendo comum em estados depressivos e de
esquizofrenia catatônica.

Alterações da consciência

A consciência é que faz de nós mesmos seres psíquicos vinculados à realidade. É


através dela que nos damos conta de nossas sensações, percepções, de nosso ser.
Sua alteração apresenta várias formas.

O delírio é uma alteração transitória na qual o paciente não consegue reter, fixar e
evocar informações, a atividade mental organizada é reduzida. O ciclo sono-vigília
geralmente é desorganizado, pois tende a oscilar durante o dia e ser mais marcante à
noite, isto é, dorme e logo após acorda em crise de delírio.

A despersonalização e desrealização acontece quando o indivíduo não reconhece a si


e o que o rodeia, perdendo a sensação de familiaridade, deixando de reconhecer a
própria identidade. Já quando apresenta estranhamento ou não reconhecimento de
partes do próprio corpo denomina-se alterações da consciência corporal, como no caso
de uma jovem que ao ser questionada quem era sua acompanhante, respondeu: “Ela
diz que é minha mãe”.

Nos estados crepusculares, o paciente pode aparentar estar em pleno domínio de sua
consciência, mas há um estreitamento da mesma.

É como se o paciente estivesse totalmente voltado “para dentro”. Mostra-se


psiquicamente ausente, age “no automático” e sem objetivos claramente definidos.
Muito comum em pessoas com epilepsia, em momentos que antecedem à crise.

Quando o indivíduo não consegue ter uma percepção globalizada das situações,
havendo geralmente considerável diminuição no padrão de sensopercepção,
pouquíssimo entendimento das impressões sensoriais e lentidão da compreensão
denominamos de obnubilação. Normalmente, a pessoa mostra-se confusa.

10
No estado de confusão, o indivíduo não consegue falar nem pensar “coisa com coisa”,
não consegue integrar coerentemente o que está vivendo, e a ligação que faz entre o
que vê, ouve, fala sente e pensa, ocorre de forma muito estranha.

Já no estupor o indivíduo entra em um estado de profunda alteração sensorial, onde


praticamente não se consegue estimulá-lo, sendo somente possível mediante estímulos
muito potentes. O coma é a falta total de consciência.

A hipervigília caracteriza-se por um aumento do estado de vigília, o que dá uma


sensação de “estar ligado”, porém não quer dizer que haja aumento de atenção. Na
maioria das vezes ocorre o oposto.

Alterações da atenção e da orientação

Atenção é quando se focaliza seletivamente algumas partes da realidade. Para que


aconteça, é necessário que o indivíduo esteja em estado de alerta (desperto). Como
alterações mais comuns, podemos citar a dificuldade de concentração ou inatenção e a
mudança constante de focos de atenção ou distração, que podem vir a acontecer nos
casos em que estamos sob efeito do sono ou de alguma droga, sem que com isso se
configure em uma alteração duradoura.

Orientação é a capacidade de integrar informações a respeito de dados que nos


localizem, principalmente, no tempo e no espaço (dados estes que dependem também
da memória, atenção e percepção).

Como alterações podemos citar a desorientação, onde o paciente é incapaz de


relacionar os dados a fim de perceber onde e em que época se encontra, e a dupla
orientação, onde o indivíduo oscila entre uma orientação adequada e uma inadequada,
misturando os dados, como um paciente que sabe que mudou de século, mas continua
afirmando estar em 1959.

Alterações da memória

Por memória podemos entender todas as lembranças existentes na consciência. Suas


alterações podem ser quantitativas ou qualitativas.

A hipermnésia é alteração em que há clareza excessiva de alguns dados da memória.


De forma contrária, a amnésia é a impossibilidade de recordar total ou parcialmente
11
fatos ocorridos antes do início do transtorno (amnésia retrógrada), após o seu início
(amnésia anterógrada) ou fatos isolados (amnésia lagunar). A amnésia pode ainda se
dar como uma defesa, suprimindo da memória fatos muito carregados afetivamente
(amnésia afetiva). Já a paramnésia constitui-se de distorções dos dados da memória.

Pode ocorrer um falseamento na recordação de determinados fatos (paramnésia da


recordação), ou ainda ao lançar mão dos dados da memória para reconhecer alguém,
alguma coisa ou lugar (paramnésia de reconhecimento).

Alterações da afetividade

Muito resumidamente, podemos dizer que afetividade constitui-se na capacidade de


experimentar sentimentos e emoções. Dentre suas alterações, podemos citar a
labilidade afetiva em que ocorre mudança dos estados afetivos sem causa externa
aparente. Por exemplo, o paciente pode mudar da mais profunda tristeza para a mais
estrondosa alegria em segundos, alternando estes estados.

Na tristeza patológica, a pessoa sente profundo abatimento, baixa autoestima,


geralmente acompanhados de tendência para o isolamento, choro fácil, inibição
psicomotora, sendo característica da depressão.

Na alegria patológica, o paciente mostra-se eufórico, agitado, com elevada autoestima,


verborreia, grande desinibição, sendo característica de episódios de mania.

Alterações do sono

Podem ocorrer como um sintoma ou como o próprio transtorno mental, ou ainda, como
reação adversa a determinados medicamentos.

Encontramos mais facilmente a insônia, que é a falta de sono durante uma parte ou
toda a noite (ou período habitual de sono do indivíduo).

Pode ser inicial (a pessoa custa a “pegar no sono” – mais característica de quadros de
ansiedade), ou terminal (a pessoa acorda de madrugada e não consegue voltar a
dormir – mais característico da depressão). Já a narcolepsia é sono em excesso
durante todo o dia.

Alterações do Movimento

12
Na estereotipia, o indivíduo costuma repetir continuamente e sem necessidade
determinados movimentos, sem que haja uma lógica facilmente observável. Já os
tiques são movimentos rápidos e involuntários, também repetitivos.

E a catalepsia que é uma atitude de imobilidade, tal como se fosse uma estátua,
mantida pela pessoa inclusive com posturas aparentemente incômodas.

1.3- POLÍTICA NACIONAL SOBRE SAÚDE M ENTAL

A Política Nacional de Saúde Mental compreende as estratégias e diretrizes adotadas


pelo país com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de
tratamento e cuidados específicos em Saúde Mental. Abrange a atenção a pessoas
com necessidades relacionadas a transtornos mentais como depressão, ansiedade,
esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, incluindo
aquelas com quadro de uso nocivo e dependência de substâncias psicoativas (álcool,
cocaína, crack e outras drogas).

Dentro das diretrizes dos Serviços de Saúde, propõe-se a implantação de uma rede de
serviços aos usuários que seja plural, com diferentes graus de complexidade e que
promovam assistência integral para diferentes demandas, desde as mais simples às
mais complexas/graves. As abordagens e condutas devem ser baseadas em evidências
científicas. Esta Política busca promover uma maior integração social, fortalecer a
autonomia, o protagonismo e a participação social do indivíduo que apresenta
transtorno mental. Os pacientes que apresentam transtornos mentais, no âmbito dos
serviços de saúde, recebem atendimento na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

No Brasil por exemplo, paralelamente a todo este processo, a política com relação ao
tratamento dos transtornos mentais permaneceu sempre “atrelado” ao modelo europeu
do século XIX, centrado no isolamento de psicopatas ou indivíduos suspeitos,
toxicómanos e intoxicados habituais em instituições fechadas, mesmo quando tal
modelo tornou-se ultrapassado em muitos outros países.

Já em 1916, o Código Civil prescrevia a interação civil e a conseguinte curatela aos


“loucos” de todo os géneros. Até recentemente, a Saúde Mental brasileira estava ligada
a legislação de 1934, que legalizava o sequestro de indivíduos e a subsequente
cassação de seus direitos civis, submetendo-os a curatela do Estado.

13
No fim da década de 1980, a partir das transformações sociais e políticas que vinham
acontecendo no campo da psiquiatria, em países da Europa (Inglaterra, França e
principalmente na Itália) e nos Estados Unidos da América, inicia-se no Brasil o
movimento da Reforma Psiquiátrica. Este movimento recebeu esta denominação por
apresentar e desencadear que vão muito além da mera assistência em saúde mental.
Estas vêm ocorrendo nas dimensões jurídicas, políticas, socio-culturais e teóricas.

A reforma psiquiátrica italiana representou uma das experiências mais significativas do


movimento, e serviu de referência para vários países, inclusive o Brasil. O marco da
reforma psiquiátrica italiana foi a experiência do psiquiatra Franco Basaglia e da equipe
de profissionais que atuavam com ele, no interior do hospital da província italiana de
Gorizia. Inicialmente, com a finalidade de humanizar o tratamento. Vivenciaram a
experiência de transformar a instituição em uma comunidade terapêutica, o que logo
demonstrou ser insuficiente para atingir os objetivos propostos. Em seguida, Franco
Basaglia e sua equipe concluíram que o melhor tratamento psiquiátrico era devolver a
pessoa com transtorno mental à sociedade e desarticular a instituição manicómio. A
reforma psiquiátrica italiana contribuiu decisivamente para a revisão da atenção
psiquiátrica em todo o mundo, tendo como principais características: (1) diminuição, até
a extinção, do hospital, de forma gradativa; (2) criação de novos serviços concebidos
como alternativa ao hospital; (3) integração entre serviços da rede de cuidados, que
viabilizem a continuidade do tratamento; (4) acesso facilitado aos centros de Saúde
Mental (LOBO, 2003).

Em Angola até no ano de 2011, ainda não houve sinais evidentes de estruturação de
um sistema de saúde mental, porém, há vontade expressa pelos gestores de
instituições assistenciais e de programas de saúde mental, de elaboração da política
nacional de saúde mental e de legislação afim. Das instituições assistenciais existentes
no país, apenas um de nível terciário de assistência, da categoria de hospitais centrais
com previsão de 300 leitos, mas funcionando com apenas 106 leitos “em Luanda”. As
demais instituições situam -se ao nível secundário de assistência e são da categoria de
hospitais gerais, “Lubango e Huambo), funcionando com menos de 100 leitos.

Em linhas gerais, a proposta da OMS incluiria ampliar o acesso às terapias, garantindo


os direitos humanos, mas privilegiando o tratamento ambulatorial e reduzir ao máximo

14
as internações psiquiátricas, substituindo progressivamente os leitos psiquiátricos por
uma rede integrada, formada por núcleos de atendimentos, redes de apoio, hospitais-
dia e recomenda o fortalecimento da atenção básica e a da atenção psicossocial
comunitária, sugerindo a cada país encontrar o melhor caminho, respeitando as
particularidades sociais, económicas e culturais (OMS, 2009).

SETORES DE ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL

A criatividade é marca registada da rede terapêutica que envolve a Saúde Mental. A


partir da Reforma Psiquiátrica dos fins dos anos 1980-1990, que abre as portas dos
asilos e manicômios, passa-se a enxergar o portador de transtorno mental como
alguém que está “vivo” e, portanto, “reabilitável”. Diante das três áreas de atuação
(primária, secundária e terciária) começam a surgir a cada dia novas e revolucionárias
alternativas e estratégias que permitem levar a cabo o tratamento de transtornos
psíquicos, sejam agudos, crônicos ou de reabilitação.

Gradualmente, o hospital psiquiátrico deixa de ser uma instituição fechada para se


tornar palco de uma assistência de portas abertas, integrada numa rede de saúde
regional. Se dizemos gradualmente, é porque não se pode romper de repente com
pensamentos, preconceitos e medos, mantidos a séculos, principalmente em um país
onde as condições de amparo social ainda se encontram deficientes.

O investimento no tratamento ambulatorial passou a inovar formas mais eficazes de


atender e de reinserir na sociedade os portadores crônicos de transtornos mentais.

Desta forma, para que não houvesse um rompimento abrupto entre a unidade de
internação e o atendimento ambulatorial, surgiram estruturas intermediárias entre a
hospitalização psiquiátrica e a integração do paciente à sociedade, que receberam
nomes como hospitais-dia, lares abrigados, CAPS, com atuações diferentes descritas a
seguir:

HOSPITAIS-DIA - são locais onde o paciente passa um período limitado (algumas


horas durante o dia) sem se afastar de seu meio social, familiar, de trabalho ou
acadêmico, prevenindo assim a reclusão e a marginalização do paciente, ao mesmo
tempo em que proporciona a sua reabilitação e reinserção social. Dispõe de um
programa terapêutico que dá ênfase a manifestações clínicas e terapêuticas.

15
Num hospital-dia, trabalha-se com terapias individuais, com intervenções familiares,
mas, sobretudo, trabalha-se em grupos, assim denominados: grupo de pacientes, grupo
terapêutico (equipe terapêutica e pacientes) e equipe terapêutica (equipe
multiprofissional e interdisciplinar).

De forma direta ou indireta, toda a equipe terapêutica participa nas diferentes atividades
assistenciais, fazendo com que haja uma tomada de decisões de forma conjunta, troca
de informações entre os diferentes profissionais, planejamento e estabelecimento
conjunto do conteúdo das atividades assistenciais e, definição por todos dos papéis e
tarefas de cada membro da equipe em cada uma delas.

As atividades terapêuticas de um hospital-dia podem se resumir em:

• Reuniões matinais - Como o nome indica, acontece na primeira hora da manhã,


como uma forma de acolhimento entre a equipe terapêutica e os pacientes. Permite à
equipe prever a demanda de trabalho que o grupo de pacientes vai solicitar,
possibilitando novas estratégias, caso haja necessidade.

• Sessões de expressão corporal, musicoterapia e dramatização, mobilização


corporal e psicomotricidade - Pode participar qualquer membro da equipe, além dos
pacientes e o monitor ou terapeuta correspondente.

• Assembleia de grupo terapêutico - Participa todo o grupo terapêutico (equipe e


pacientes).

• Psicoterapia de grupo - Participam pacientes, com um psicólogo e outro membro da


equipe.

• Psicodrama - Necessita de um psicodramatista e outros membros da equipe, além do


grupo de pacientes.

• Dinâmica de grupos ou grupos de discussão - Necessita do grupo terapêutico


completo.

• Atividades de animação sociocultural - Pode participar toda a equipe terapêutica


com o grupo de pacientes.

16
• Oficinas de expressão plástica - Terapeuta ocupacional, a enfermagem e o grupo
de pacientes.

• Psicoterapia individual - Psicólogo e paciente.

• Intervenções familiares - Realizadas entre psicólogo ou psiquiatra, paciente e


família.

• Tratamento psicofarmacológico - Realizado pelo psiquiatra, enfermeiro, técnico ou


auxiliar de enfermagem e paciente.

As atividades do auxiliar de enfermagem serão definidas como as dos demais membros


da equipe multiprofissional, através de reuniões onde levanta-se as necessidades.
Porém o registro de suas observações é indispensável. É muito importante que você
registe tudo o que observar nos pacientes, desde aspectos físicos, conduta até a
participação nas atividades.

LARES ABRIGADOS - são locais onde podem viver ou morar um grupo de portadores
de transtornos mentais num clima familiar, sob tutela de uma equipe assistencial, por
um período mais ou menos longo. É totalmente integrado à comunidade e permite uma
vida autônoma. Não raro, devido à ausência da família, alguns lares tornam-se uma
residência definitiva.

A equipe que trabalha com lares abrigados apresenta um programa estruturado cujos
objetivos são o desenvolvimento da autonomia da pessoa e do grupo e a
ressocialização. Para detectar se estes objetivos foram atingidos, são necessárias
reuniões periódicas entre os profissionais da equipe. Essas reuniões servem para os
levantamentos de problemas e conflitos que surgem nas relações e nas tarefas
cotidianas para ajudar a superá-los.

A equipe de enfermagem assume aqui uma importância vital. Ela é quem mais está
presente em visitas e as suas orientações de educação para a saúde e higiene são
indispensáveis. Nestes lares, a detecção precoce de agravos à saúde assume tal
relevância que pode pôr o trabalho a perder caso falhe.

17
Também está a cargo da equipe de enfermagem a supervisão e, em alguns casos, até
a administração medicamentosa, assim como a detecção de possíveis efeitos
colaterais.

CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) - é uma forma de assistência do Serviços


Nacionais de Saúde para problemas de Saúde Mental individual ou coletiva que se
distingue principalmente pelo acesso local. É um exercício de democracia, pois atua
com uma sensível redução da hierarquia assistente/assistido. Essa parece ser, na
verdade, a maior diferença entre os CAPSs e os hospitais-dia, pois o CAPS questiona
os papéis da equipe na família e na comunidade.

Atua através de Oficinas onde realizam-se trabalhos manuais e artísticos que


proporcionam ao usuário via de acesso à expressão de seus sentimentos, emoções,
criatividade. Mas quando necessário pode ser feito o atendimento individual.

Deste trabalho surgiram as Associações, formadas a partir de grupos de egressos dos


hospitais psiquiátricos, que se organizaram e incorporaram familiares e profissionais de
diversas áreas, em busca dos direitos dos usuários do serviço de saúde mental na
defesa de sua cidadania. Não negam a marca que os faz singulares, porém lembram
que são iguais a todos os cidadãos, com direito a saúde, lazer, amor, segurança e
sobretudo respeito. Estas associações deram origem a articulação Nacional da Luta
Antimanicomial.

Com a organização e o trabalho desses usuários do serviço, que descobrem suas


próprias e ilimitadas capacidade, surgem as cooperativas. Seu funcionamento não se
distingue em muito das demais cooperativas, a não ser pela disposição dos pacientes
que nela atuam e que há muito não se percebiam como seres capazes. Embora
funcionem nas dependências do CAPS, seu lucro é revertido para a própria
cooperativa.

De acordo com a realidade local, o CAPS assume táticas diferentes para enfrentar os
problemas decorrentes das diversas formas de viver. Assim você jamais encontrará um
CAPS igual ao outro. Porém, eles trazem como ponto comum a luta pela
desospitalização, a realização das oficinas terapêuticas e a atuação de uma equipe
multiprofissional. Pode atuar em associação com uma emergência psiquiátrica, e o

18
paciente que sai deste setor será avaliado imediatamente para ser inserido em
atividades do CAPS, sem que haja necessidade de internação.

Em todos os níveis de atuação, a conduta do auxiliar de enfermagem é sempre um


ponto muito importante da ação em saúde.

“Dizem que a primeira impressão é a que fica”. Esta frase popular bem pode estar
expressando uma realidade quando pensamos em assistência em saúde. No setor de
Saúde Mental, ela assume uma conotação especial, pois a sensação que o paciente
experimenta quando chega ao setor não é somente relevante; assume um papel
essencial no seu tratamento.

A maneira como é recebido, a expressão das pessoas que lhe atendem ou mesmo o
tom de voz com que falam, são capazes de gerar sentimentos que tanto podem
determinar o tratamento como afastar o indivíduo. Não é raro o paciente sair de um
setor de atendimento jurando que não volta mais porque foi maltratado pelo profissional
que o atendeu ou porque não “foi com a cara” daquele profissional. Não cabe
discutirmos aqui se ele volta ou não ao setor, mas sim no tempo em que ele adiará o
tratamento.

A recepção do paciente é o primeiro item quando nos referimos ao ambiente


terapêutico. E embora o auxiliar de enfermagem seja o profissional que, normalmente,
recepciona uma pessoa que procura um setor de saúde, não é o único responsável
pela manutenção deste ambiente. Um ambiente terapêutico é aquele em que o
indivíduo consegue se sentir bem e seguro, física e psicologicamente, e que ao mesmo
tempo estimule a recuperação da saúde. Alguns fatores são indispensáveis para que se
promova um ambiente terapêutico. E por mais incrível que pareça, promover um
ambiente não é muito diferente do que preparar a sua casa para uma festa.

- Planta física - O ambiente deve ser arejado e de preferência amplo e bem iluminado,
de modo a transmitir sensação de segurança e bem-estar. O profissional deve
preocupar-se em tornar o ambiente o mais belo e agradável possível, simples, porém
aconchegante.

- Higiene ambiental - Ninguém pode sentir-se bem num ambiente sujo. Muitas vezes
devido ao fato de que os transtornos mentais não são transmissíveis, os profissionais

19
de saúde tendem a relaxar com a manutenção da higiene. No entanto, é importante que
ela se mantenha não somente pela questão do bem-estar, mas também para evitar
surtos de doenças infecto-parasitárias e infestações.

- Arrumação e decoração - O excesso de mobília ou o mobiliário mal disposto, além


de tumultuar o ambiente, podem atrapalhar o atendimento num caso de emergência.
Também deve-se evitar objetos e adornos que possam pôr em risco a segurança,
assim como objetos ou imagens religiosas ou ritualistas. Isso faz parte do respeito ao
que cada um acredita. É importante a participação de todos nesta questão, inclusive
dos pacientes.

- Som ambiente - Não obstante os avanços da musicoterapia, a utilização de aparelhos


sonoros nem sempre favorece a formação de um ambiente terapêutico. Ao contrário,
uma escolha inadequada pode causar irritação e até mesmo desencadear crises. Por
isso, a escolha de músicas, bem como o momento de utilizá-las, deve sempre ser
orientada por um profissional competente (se possível um musicoterapeuta). Vale
ressaltar ainda o emprego frequente de músicas religiosas, que também são contra-
indicadas, pois é muito importante respeitar a religião de todos.

- Atividades - Num ambiente terapêutico, o paciente não vegeta pelos corredores e


salas em uma atitude passiva. Neste ambiente, embora tenha tempo para repousar ou
refletir, ele mantém-se em atividades como reunião de grupo, exercício físicos,
trabalhos manuais e outros.

A equipe terapêutica é formada por vários profissionais, dependendo de cada programa


terapêutico que o tratamento englobe. Na equipe básica encontram-se o enfermeiro,
psicólogo, psiquiatra, assistente social, técnico e auxiliares de enfermagem. Pode
contar ainda com terapeuta ocupacional, nutricionista, professores de Educação Física,
musicoterapeuta, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, animador sóciocultural, artista plástico
etc. A chave de um ambiente terapêutico está no estabelecimento de uma relação de
confiança entre a equipe terapêutica e os pacientes.

NÍVEIS DE ATENDIMENTOS EM SAÚDE MENTAL

Nível primário

20
• Promoção e prevenção - Campanhas para reduzir o estigma dos portadores de
transtornos mentais, incluindo orientação à população em relação às doenças mentais
e apoio à criação e ao fortalecimento de associações de familiares e portadores de
transtornos mentais:

- Ações de prevenção do suicídio em função de sua prevalência e do seu crescimento


entre a população jovem, sendo uma causa de morte amplamente prevenível.

- Orientação educacional contínua para os integrantes de comunidades específicas, tais


como escolares e religiosas, de grupos responsáveis por resgate e atendimento pré e
pós-hospitalar e outros.

- Programas de orientação, esclarecimento e suporte às famílias de doentes mentais,


especialmente crianças, adolescentes e idosos, mas também de pacientes adultos
incapacitados, que dependem da família social, emocional e financeiramente.

- Ampla divulgação dos serviços de saúde mental, assim como orientação sobre a
forma como procurá-los e utilizá-los, proporcionando a detecção e tratamento precoce
dos acometidos de transtornos mentais.

Nível secundário

Atendimentos ambulatoriais

• Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), focos de grande investimento pelos


municípios nessa última década. Os CAPS existentes concentram grande parte dos
recursos humanos em saúde mental e devem prover assistência psiquiátrica consoante
às necessidades da população de seu território. A melhoria de seu funcionamento
passa por diretrizes que especifiquem o perfil do paciente atendido (transtorno mental
grave e crônico), uniformizem uma lista mínima de intervenções a serem oferecidas e
colaborem para criar indicadores de funcionamento para a avaliação do desempenho
das unidades.

• Ambulatórios Gerais de Psiquiatria com equipe de saúde mental organizada de


acordo com as demandas existentes em cada local e que façam a distribuição gratuita
dos medicamentos prescritos. O atendimento ambulatorial é eficaz no tratamento e

21
controlo das doenças mentais em fase aguda e, quando combinado com a dispensação
de medicamentos, mostra uma elevada taxa de resposta terapêutica com baixo custo.

• Ambulatórios Médicos Especializados (AME) em Psiquiatria, com programas de


atendimento e público-alvo específicos e compostos por equipe multiprofissional
completa. Um atendimento mais intensivo que o ambulatorial, tanto em duração como
em frequência de atendimento, tendo a função de complementar o atual sistema de
atendimento baseado na atenção básica e nos CAPS, atuando como referência no
matriciamento da rede de atenção em saúde mental e na capacitação de recursos
humanos.

Nível terciário

• Centros de Atenção Integral em Saúde Mental (CAISM), que são serviços que
devem atuar tanto na atenção secundária como na terciária, pois contemplariam um
atendimento completo em todos os níveis de complexidade (ambulatório, pronto-
socorro, CAPS, AME, hospital-dia e hospital para internação em tempo integral),
exercendo papel de formação e capacitação de profissionais de saúde mental em áreas
carentes de recursos humanos, além de dar suporte técnico para os CAPS e CAISM
seriam ideais para regiões e localidades onde uma rede de atenção em saúde mental
esteja se estruturando.

• Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais, destinadas a internações de pacientes


agudos, a priori de curta permanência para pacientes psiquiátricos sem intercorrências
ou para pacientes psiquiátricos com intercorrências clínicas ou cirúrgicas que
necessitem de internação em hospitais gerais.

• Hospitais Psiquiátricos Especializados, que são serviços destinados a atender


pacientes que necessitem de cuidados intensivos, cujo tratamento não pode ser
realizado em serviços de menor complexidade.

22
• Leitos de Longa Permanência, destinados a pacientes com comprometimento para a
manutenção de atividades básicas de vida diária e que não possuem apoio familiar.
Esses serviços devem ser financiados também com verbas da assistência social.

A integração dos serviços é a prioridade da política assistencial de transição, para, a


seguir, equipar a rede de acordo com as características regionais e recursos
disponíveis.

UNIDADE II- Saúde Mental

2.1- FASES DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Existe uma grande área de estudos chamada de desenvolvimento humano, na qual o


objeto de estudo é o processo de mudança que ocorre ao longo do ciclo da vida;
mudanças no desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. A psicologia é uma das
ciências presentes nesta área de estudos, uma área desde o início interdisciplinar, ou
seja, que reúne os conhecimentos da medicina, antropologia, sociologia, biologia,
genética, educação, história.

Neste texto, vamos descrever as 8 etapas ou fases típicas do desenvolvimento. Embora


possamos demarcar tais fases por idades, é até certo ponto arbitrário. Em outras
palavras, a demarcação das idades visa facilitar o estudo. Assim, por exemplo, é
evidente que existe uma passagem da vida intrauterina (a fase 1) para a primeira
infância (fase 2), como geralmente é possível demarcar o início da adolescência (fase
5) pelas transformações da puberdade. Outras fases, como a vida adulta intermediária
(fase 7) não possui demarcação tão clara.

Desta forma, entendemos as 8 fases, etapas ou períodos como um critério arbitrário,


mas necessário em termos didáticos.

1- Período Pré-Natal

É comum pensar que a vida começa com o nascimento. Porém, os nove meses (em
média) que o antecedem são responsáveis por um complexo desenvolvimento
intrauterino. As características genéticas já começam a interagir com o meio no qual o
bebê se encontra. A alimentação da mãe afeta diretamente no crescimento e o bebê
passa a responder à voz da mãe, a distingui-la das demais, e ter preferência por ela.

23
2- Período da Primeira Infância

A primeira infância começa com o nascimento e vai até os 3 anos de idade. Nos
primeiros meses, os cinco sentidos começam a se desenvolver. Na parte cognitiva, “as
capacidades de aprender e lembrar estão presentes mesmo nas primeiras semanas. O
uso de símbolos e a capacidade de resolver problemas se desenvolvem por volta do
final do segundo ano de vida”. (Papalia, sd).

Neste período, a criança começa a formar vínculos fortes com os pais ou cuidadores.
Há o início da percepção de si mesmo (autoconsciência) e o interesse por outras
crianças.

3- Período da Segunda Infância

Segundo os desenvolvimentistas, os cientistas do desenvolvimento, a segunda infância


vai dos 3 aos 6 anos de idade. O corpo tende a se tornar mais esguio e as partes do
corpo começam a se assemelhar, em termos de proporções, com as de um adulto. O
apetite tende a diminuir e podem aparecer distúrbios do sono, como insônia.

“O pensamento é um tanto egocêntrico, mas aumenta a compreensão do ponto de vista


dos outros. A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias ilógicas sobre o mundo.
Desenvolve-se a identidade de gênero” (Papalia, sd). É curioso que normalmente
pensamos que o cérebro está em crescimento, que o córtex, a massa cinzenta, está em
expansão, razão pela qual uma criança teria pensamentos menos lógicos ou abstratos
que um adulto. Porém, como sabemos através das neurociências, “a substância
cinzenta diminui em uma onda inversa à medida que o cérebro amadurece e conexões
neurais são desativadas”, ou seja, com o tempo há uma perda na densidade da massa
cinzenta, o que gera, paradoxalmente, um maior amadurecimento, um funcionamento
mais eficiente.

4- Período da Terceira Infância

Nesta fase, há uma diminuição do crescimento físico. Existe a tendência de aparecer


problemas respiratórios, entretanto, é uma das fases que, em média, nota-se a
presença de maior saúde. Entre os 6 e 11 anos, há uma diminuição do egocentrismo,
ou seja, a criança não é mais tão centrada em si mesma. A escolarização ajuda neste

24
processo e igualmente na estimulação da memória e da linguagem (que melhoram
independentemente da escola).

Certas crianças podem apresentar necessidades especiais de educação ou, no extremo


oposto, talentos que exigem cuidado também. O conceito de si (autoconceito) fica mais
complexo, o que pode igualmente gerar modificações na autoestima. A convivência
com colegas com idade próxima é um fator a ser levado em conta neste período.

5- Período da Adolescência

Como vimos, a divisão da vida em etapas é arbitrária. O conceito de adolescência é


recente. Segundo o dicionário etimológico: “A palavra “adolescente” vem do particípio
presente do verbo em latim adolescere, crescer. Já o particípio passado, adultus deu
origem à palavra “adulto”. Em português, as palavras seriam equivalentes a
“crescente”e “crescido”, respectivamente”.

Como sabemos, nesta fase ocorre a maturidade reprodutiva, quando se torna possível
para os indivíduos serem pais ou mães. A saúde é afetada, geralmente, pelo
comportamento, como transtornos alimentares ou uso de drogas.

Na cognição, “desenvolvem-se a capacidade de pensar em termos abstratos e de usar


o raciocínio científico. O pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e
comportamentos. A busca pela identidade, incluindo a identidade sexual, torna-se
central” (Papalia, sd).

6- Período do Início da Vida Adulta

Os cientistas do desenvolvimento demarcam o início da vida adulta a partir dos 20 anos


e indo até os 40. “A condição física atinge o auge, depois declina ligeiramente. O
pensamento e os julgamentos morais tornam-se mais complexos. São feitas escolhas
educacionais e vocacionais, após um período exploratório. Traços e estilos de
personalidade tornam-se relativamente estáveis, mas as mudanças na personalidade
podem ser influenciadas pelas fases e acontecimentos da vida. São tomadas decisões
sobre relacionamentos íntimos e estilos de vida pessoais, mas podem não ser
duradouros. A maioria das pessoas casa-se e tem filhos” (Papalia, sd).

25
Aqui vemos que a fase anterior, a adolescência pode se prolongar, ainda e haver uma
certa intersecção de fases. Afinal, não é possível demarcar com precisão quando
começa a idade adulta. Alguns argumentam que esta se inicia com o primeiro trabalho
e o autossustento, outros com o início da faculdade ou com a constituição de uma nova
família.

7- Período da Vida Adulta Intermediária

Esta fase vai dos 40 aos 65 anos de idade. Há mudanças significativas nas condições
físicas (saúde, vigor), porém, com grandes diferenças de uma pessoa para outra. “As
mulheres entram na menopausa. As capacidades mentais atingem o auge, a
especialização e as habilidades relativas à solução de problemas práticos são
acentuadas. A produção criativa pode declinar, mas melhor em qualidade. Para alguns,
o sucesso na carreira e o sucesso financeiro atingem seu máximo, para outros, poderá
ocorrer esgotamento ou mudança de carreira. A dupla responsabilidade pelo cuidado
dos filhos e dos pais idosos pode causar estresse. A saída dos filhos deixa o ninho
vazio” (Papalia, sd).

8- Período da Vida Adulta Tardia

Este período começa a partir dos 65 anos. “A maioria das pessoas é saudável e ativa,
embora geralmente haja um declínio da saúde e das capacidades físicas. O tempo de
reação mais lento afeta alguns aspectos funcionais. A maioria das pessoas está
mentalmente alerta. Embora a inteligência e memória possam se deteriorar em algumas
áreas, a maioria das pessoas encontra meios de compensação. A aposentadoria pode
oferecer novas opções para aproveitar o tempo. As pessoas desenvolvem estratégias
mais flexíveis para enfrentar perdas pessoais e a morte eminente. O relacionamento
com a família e com amigos íntimos pode proporcionar um importante apoio. A busca
de significado para a vida assume uma importância fundamental” (Papalia, sd).

FATORES DE INFLUÊNCIA NA SAÚDE MENTAL

26
Precisamos compreender que nós, seres humanos, funcionamos como um todo, ou
seja, vários fatores influenciam ao mesmo tempo os nossos comportamentos, as
nossas escolhas. Por exemplo, se alguém desenvolve um medo excessivo da violência
atual, a ponto de recusar-se a sair às ruas, ou até mesmo a atender o telefone, assistir
televisão ou chegar ao portão de casa, podemos pensar de imediato que há várias
causas colaborando para isso, como: a história de vida do indivíduo, se foi uma criança
muito protegida ou excessivamente exposta; os mecanismos fisiológicos que atuam na
resposta de medo; o próprio aumento da violência nos dias atuais e a exploração que a
imprensa faz disso; alguma perda de pessoa querida em período recente. Tudo pode
atuar ao mesmo tempo.

Esse é um conceito do qual ouvimos muito falar atualmente: o de multicausalidade. Ou


seja, várias são as causas que fazem com que o indivíduo venha a desenvolver, em
determinado momento de sua história, um transtorno mental.

1- Fatores físicos ou biológicos

O nosso corpo funciona de forma integrada, isto é, os aparelhos e sistemas se


comunicam uns com os outros e o equilíbrio de um depende do bom funcionamento dos
outros.

Muitas vezes podemos achar difícil de entender como sintomas tão “emocionais” como
sentir-se culpado ou ter pensamentos repetidos de morte ou ouvir vozes possam ter
também uma base orgânica, mas ela existe. O envelhecimento, o abuso de álcool ou
outras substâncias são exemplos comuns. Em muitos casos essa base já pode ser
identificada e descrita pelos especialistas, em outros casos ainda não.

O que se sabe é que sempre que temos alguma emoção, seja ela agradável ou
desagradável, ocorrem uma série de trocas elétricas e químicas em nosso cérebro, o
que já constitui, por si só, um fator orgânico.

Podemos definir os fatores físicos ou biológicos como sendo as alterações ocorridas no


corpo como um todo, em determinado órgão ou no sistema nervosos central que
possam levar a um transtorno mental.

Dentre os fatores físicos ou biológicos que podem ser a base ou deflagrar um


transtorno mental, existem alguns mais evidentes, que avaliaremos a seguir:
27
a) Fatores genéticos ou hereditários

Quando usamos essas expressões, estamos nos referindo às possíveis heranças


genéticas que possamos trazer em nosso comportamento e forma de ser.

O nome “genético” vem da palavra genes, que são grandes moléculas que existem
dentro de nossas células contendo informações sobre como nosso corpo deve se
organizar. As informações contidas nos genes são muitas e não são todas que
utilizamos; algumas ficam guardadas.

Em Psiquiatria, os fatores genéticos ou hereditários têm sido muito falados ultimamente,


muitas vezes em programas de televisão, sempre caracterizados como grandes
descobertas. Isso porque embora popularmente sempre se diga que a pessoa com
transtorno mental o herdou de alguém da família, há muito tempo os cientistas tentam
identificar se essa “herança” veio através do corpo ou do ambiente em que a pessoa foi
criada. Atualmente, os avanços da Medicina têm permitido identificar alguns genes que
possam ter influência no desenvolvimento de transtornos mentais.

No entanto, é importante deixar claro que quando se fala de fatores genéticos em


Psiquiatria, estamos falando de tendências, predisposições que o indivíduo possui de
desenvolver determinados desequilíbrios químicos no organismo que possam levá-lo a
apresentar determinados transtornos mentais.

Ainda assim, é uma grande armadilha acreditarmos que aí está “toda” a causa da
doença mental, pois passamos a acreditar que a solução do problema só estará neste
ponto e deixamos de prestar atenção em todos os outros aspectos da pessoa que
atendemos em sofrimento mental.

Dessa forma, a constituição genética precisa ser vista como uma “facilidade orgânica”
para desenvolver um determinado transtorno mental, mas não há garantias de que, ao
longo da vida do sujeito, tal fato ocorrerá, visto que dependerá de outros fatores para
que tal “tendência” de fato se manifeste.

Em alguns filmes de ficção do futuro, vemos pessoas tendo cartões magnéticos


contendo informações sobre seu genoma (o “mapa” de seus genes), utilizados como
carteira de identidade. Os cientistas afirmam que isto não está tão longe de acontecer.
Imaginamos até que seja possível, mas esperamos que até lá a sociedade tenha
28
evoluído o suficiente para não usar de forma preconceituosa tais informações. Ou
talvez venhamos a descobrir que todos nós temos uma ou outra alteração genética que
possa nos predispor ao transtorno mental.

b) Fatores pré-natais

As condições de gestação, dentre eles os fatores emocionais, econômicos e sociais, o


consumo de álcool, drogas, cigarro e de alguns tipos de medicação podem prejudicar a
formação do bebê, gerando problemas futuros que poderão comprometer sua
capacidade adaptativa no crescimento e desenvolvimento, podendo facilitar o
surgimento da doença mental.

c) Fatores peri-natais

Peri-natal é tudo aquilo que acontece “durante” o nascimento do bebê. Em algumas


situações o bebê pode sofrer danos neurológicos devido a traumatismos ou falta de
oxigenação do tecido cerebral. Nesses casos, dependendo da gravidade desses danos,
a criança poderá desenvolver problemas neurológicos (como, por exemplo, a epilepsia
ou diversos tipos de atraso de desenvolvimento) que podem formar a base para futuros
transtornos psiquiátricos.

d) Fatores neuro-endocrinológicos

O sistema endócrino, que é responsável pela regulação do equilíbrio de nosso


organismo, faz isso através da produção de hormônios pelas glândulas endócrinas
(pituitária, tiroide). Acontece que esse sistema tem estreita ligação com o sistema
nervoso central, havendo uma influência recíproca entre eles, isto é, o que acontece em
um, causa reações no outro e vice-versa.

Muitos estudos recentes têm mostrado a ligação entre mecanismos neuro-


endocrinológicos e reações cerebrais. As mudanças hormonais podem influenciar
nosso estado de humor e deflagrar até mesmo estados psicóticos como é o caso da
psicose puerperal ou da tensão pré-menstrual (TPM).

e) Fatores ligados a doenças orgânicas

29
O transtorno mental pode também aparecer como consequência de determinada
doença orgânica, tal como infecções, traumatismos, vasculopatias, intoxicações, abuso
de substâncias e qualquer agente nocivo que afete o sistema nervosos central.

2- Fatores Ambientais

Você acorda pela manhã e percebe que o tempo mudou. O sol que havia ontem não
apareceu hoje, faz frio e cai forte chuva. Ao se preparar para sair, com certeza você
buscará roupas mais quentes e procurará se proteger com capa ou guarda chuva.
Estamos, assim, procurando nos ajustar aos fatores ambientais (nesse caso,
climáticos).

Na verdade, estamos o tempo todo procurando formas de nos adaptarmos, o melhor


possível, ao que acontece à nossa volta. Tantos são os estímulos que sofremos que
acabamos desenvolvendo maneiras características de reagir, muitas vezes
supervalorizando as informações que nos chegam, outras vezes tornando-nos apáticos
a elas. Que sensação você experimenta quando entra em contato com as constantes (e
massacrantes!), notícias de violência via rádio e televisão? As pessoas costumam ter
diferentes reações: algumas tornam-se apáticas a elas, outras fazem uso do humor
para digeri-las, outras tornam-se excessivamente medrosas, e assim por diante. Como
exemplo, uma paciente passou a pensar na possibilidade de fazer algum mal à sua
pequena filha a partir de noticiários de rádio que relatavam maus tratos e até homicídios
materno-infantis.

Os fatores ambientais exercem forte e constante influência sobre nossas atitudes e


nossas escolhas diárias, tanto externa quanto internamente, isto é, como nos sentimos
e enxergamos a nós mesmos. As reações a cada estímulo ambiental se darão de
acordo com a estrutura psíquica de cada pessoa, e essa estrutura psíquica estará
intimamente ligada às experiências que a pessoa teve durante a vida. Assim se
estabelece uma relação circular entre todos os fatores geradores de transtorno mental
onde um ocasiona o outro.

Para melhor compreensão, podemos dizer que os fatores ambientais podem ser
sociais, culturais e econômicos.

30
Como sociais podemos compreender todas as interações que temos com o outro,
nossas relações pessoais, profissionais e com outros grupos. Estudos falam da
importância das pessoas significativas em nossa infância e de como ficam marcadas
em nós as suas formas de pensar e agir, assim como as reações que passamos a ter
influenciam o nosso comportamento diante de outras pessoas. Se, com as pessoas
importantes de nossa infância, aprendemos que existem pessoas que não são
confiáveis e que devemos estar sempre atentos para não sermos enganados,
possivelmente teremos dificuldades em confiar em alguém mesmo em nossa vida
adulta.

Entre os fatores ambientais culturais podemos lembrar de todo o sistema de regras no


qual estamos envolvidos. Este sistema varia de país para país, de estado para estado,
de grupo para grupo, e também de acordo com a época. Ou seja, noção de certo e
errado, de bom e mau varia muito dependendo do local e época em que estamos. Os
mitos, as crenças, os rituais que nos cercam, nos dão as noções de bem e mal que são
aceitas pelos grupos aos quais pertencemos, seja ele o nosso país, o nosso grupo
religioso, a nossa escola ou mesmo a nossa família.

Outro grupo de fatores ambientais que podemos perceber como exercendo influência
sobre nós são os econômicos. Nesse tópico tanto podemos nos referir à nossa
possibilidade mais direta de aquisição de bens, ou seja, “nosso bolso”, quanto às atuais
condições sociais, onde a miséria, aliada à baixa escolaridade, pode levar ao aumento
da criminalidade e, esta ao aumento de tensão em nosso dia-a-dia.

Vale observar que todos estes grupos de fatores ambientais estão presentes tanto em
meios menos extensos, como a família, quanto em meios mais amplos, como a própria
humanidade.

3- Fatores emocionais ou psicológicos

Continuamos tentando compreender o que, afinal de contas, torna as pessoas


diferentes umas das outras. O que faz com que se comportem de uma maneira e não
de outra. Já abordamos os aspectos físicos e os ambientais e, não por acaso, deixamos
para abordar os aspectos emocionais depois de bem compreendidos os anteriores. Isso
porque, como já foi visto antes, os fatores influenciam-se entre si, mas no caso dos

31
aspectos emocionais estamos falando de formação de identidade, que se inicia
justamente com a conjugação dos aspectos físicos e ambientais.

Cada pessoa vem a este mundo como ser único, diferente de todos os outros. Cada um
de nós apresenta, mesmo ao nascer, uma forma de interagir com o mundo que
influencia o comportamento de quem está à nossa volta e é influenciado por ele. Não é
incomum as mulheres que possuem mais de um filho afirmarem que foram bebês
totalmente diferentes: um dormia mais, outro chorava o tempo todo, ou estava sempre
doente.

Também devemos lembrar que, quando nascemos, já trazemos conosco uma “história
de vida”. Se fomos desejados ou não, se somos o primeiro filho ou o décimo, se nossa
estadia na barriga foi tranquila ou cheia de altos e baixos, se a mamãe fez uso de
algum medicamento ou droga que tenha nos deixado mais agitados ou mais apagados,
se tivemos ou não dificuldades maiores no parto, se fomos bem atendidos e fomos logo
para perto da mamãe, ou se tivemos que ficar mais tempo longe (indo para uma UTI
neonatal, por exemplo), se a mamãe ficou bem após nosso nascimento (disponível para
gente) ou se teve, por exemplo, uma depressão puerperal.

Bom, estes são só alguns exemplos que mostram que nós já “botamos o pé na vida”
com algumas características que nos são individuais e que as interações que vamos
estabelecer com o mundo, a partir de nosso nascimento, serão formadoras de um modo
de ser caracteristicamente nosso, mais ou menos ajustado, ao qual chamamos
personalidade.

Pois bem, voltemos a pensar um pouco no “nosso bebê”...

Ao nascer, o bebê não tem ainda consciência de si mesmo e do mundo à sua volta.
Não consegue diferenciar suas sensações internas do mundo externo. Apenas
consegue perceber sensações boas (prazerosas) e más (desprazerosas). A fralda
molhada dá desprazer e ele chora. O colo da mamãe dá prazer (possivelmente lembra
o conhecido aconchego do útero e dá segurança) e ele dorme.

Nessa sequência, entre chorar e ser confortado, se dá um dos alicerces fundamentais


para o restante da vida do bebê (e dificilmente a mãe se dá conta do papel fundamental
desses momentos), pois, aos poucos, a criança vai construindo a noção de confiança,

32
que é o ponto de partida para sentimentos como segurança, otimismo e fé na vida
adulta. Além disso a formação do vínculo afetivo com a mãe ou pessoa substituta faz
com que o bebê ganhe condições para amadurecer e voltar-se para conhecer e
experimentar o mundo.

Imagine-se chegando sozinho a um país estranho, onde você não conhece a língua, os
costumes, nada (que sufoco, não?). Agora imagine que nesse lugar esteja te esperando
alguém que fala a sua língua (que alívio!), e que pode te ensinar tudo quanto você
precisa para se adaptar melhor. A mãe e o pai, ou pessoas substitutas, atuam mais ou
menos como “guias turísticos” do mundo para o bebê que chega. A grande diferença é
que o bebê é um “turista” até mesmo em seu próprio corpo, precisando de alguém para
ajudá-lo a se conhecer.

Acontece que quando o bebê não tem suas necessidades atendidas, ele não tem ainda
a capacidade de suportar a sensação ruim para aguardar a boa. O bebê não diz para si
mesmo: “Ah! Agora estou com fome, mas mamãe não pode me dar de mamar porque
está a tomar banho. Tudo bem! Quando ela sair do banheiro, eu choro de novo. ”

Não! Para o bebê recém-nascido, a fome é um desprazer tão intenso que, se não
atendida, adquire tons de ameaça de destruição (mais ou menos como nos sentiríamos
diante do fim do mundo). Nesses momentos o bebê experimenta profunda sensação de
desamparo.

A repetição constante de tais exposições à frustração, por períodos mais prolongados,


pode levar o indivíduo, no futuro, a desenvolver uma série de transtornos mentais.
Alguns autores identificam aí as raízes emocionais das psicoses e da famosa síndrome
do pânico.

À medida que vai estabelecendo trocas positivas com as pessoas que cuidam dele, o
bebê vai criando uma diferenciação entre ele e o restante do mundo (que, nesse
momento, ainda são as pessoas mais próximas) e vai adquirindo uma certa tolerância à
frustração e maior capacidade de espera, pois já consegue “antecipar” (fazendo uso da
memória) a satisfação de suas necessidades.

Com a continuidade de seu crescimento e desenvolvimento, a criança vai

adquirindo<q4 noções de julgamento de si e dos outros, isto é, vai internalizando as


33
regras e proibições de seu ambiente e passando a captar a impressão que ela própria

provoca no ambiente.

RELACIONAMENTO ENFERMEIRO, PACIENTE E FAMÍLIA

A essência da enfermagem é o cuidar. Considerando-o como o objeto de trabalho, é


necessário que seja eficiente e prestado de forma humanizada. Ao se estabelecer o
cuidado, este deve ser sistematizado e holístico, a fim de promover a qualidade da
assistência e o cuidado emocional. Sá, define o cuidado emocional como a habilidade
de perceber o imperceptível. Desta afirmação evidencia-se a necessidade de
sensibilidade dos profissionais para executarem os cuidados, observando as
manifestações verbais e não-verbais do cliente, podendo indicar ao enfermeiro suas
necessidades individuais.

Tal cuidado, complexo, envolve as necessidades bio-psico-sócio-espirituais e afetivas e


está diretamente relacionado com o processo de comunicação entre o enfermeiro e o
cliente. Para haver o cuidado eficiente e eficaz, ambos os sujeitos precisam
compreender os sinais presentes na relação interpessoal, seja pelos gestos,
expressões ou palavras, Oriá, (2005).

Deste modo, a comunicação é essencial para uma melhor assistência ao cliente e à


família que estão vivenciando o processo de hospitalização, podendo resultar em
estresse e sofrimento. Para tanto, o enfermeiro é capacitado a reconhecer a interação
enfermeiro–cliente–família, estabelecendo atitudes de sensibilidade e empatia entre
todos, contribuindo com a assistência humanizada.

Nesse contexto, o enfermeiro tem o compromisso e a obrigação de incluir as famílias


nos cuidados de saúde. O significado que a família dá para o bem-estar e à saúde de
seus membros, bem como à influência sobre a doença, obriga este profissional a
considerar a assistência centrada na família como parte integrante da prática de
enfermagem, Damas, (2004).

Assim, acredita-se que o cuidado de enfermagem extrapola a técnica (procedimento),


sendo expresso pelas atitudes, além de ser relacional. Então, quando o cuidado se dá
em um ambiente que exige alta tecnicidade, tal como ocorre em uma unidade de

34
terapia intensiva (UTI), o cuidar pode tornar-se mecânico devido à alta complexidade de
equipamentos e tecnologia. Estes fatores, portanto, podem favorecer um
comportamento da equipe pouco comprometido com os sentimentos dos doentes e
seus familiares, resultando na desvalorização da assistência humanizada.

Humanização do profissional da saúde

O profissional da saúde deve entender que seu ofício vai além de cumprir horário, de
respeitar as normas de trabalho, entre outras responsabilidades. Lidar com vidas
humanas demanda, acima de tudo, um posicionamento individualizado com estima e
apreço.

Ao técnico de enfermagem compete respeitar a individualidade de seus pacientes, não


os vendo somente como um a mais para cuidar. Esse profissional deve buscar uma
proximidade ao tratar cada um, considerando sempre suas necessidades físicas e
emocionais.

Sendo assim, cabe ao técnico de enfermagem reconhecer sua vocação para


demonstrar humanização em seu relacionamento com os pacientes, como também
colocar em prática todo o aprendizado adquirido em sua formação técnica.

Relação entre técnico de enfermagem e paciente

Como já citado no texto, a relação entre técnico em enfermagem e paciente, sendo


positiva, traz grandes benefícios para a recuperação do doente. Mesmo em funções
simples, como aferir a pressão arterial para o controlo da pressão alta, o profissional
pode transmitir afeto e carinho, os quais são fatores muito importantes para a cura.

Ao exercer essa profissão, a pessoa precisa saber manter a calma quando, por
exemplo, o paciente está em desespero ou ansioso pela sua recuperação. No caso de
sofrimento, dar uma palavra de acalento pode ser bastante significativo e contribuir
diretamente para o restabelecimento do enfermo.

Saber compreender, gostar de cuidar de pessoas e ser atencioso são algumas


características que possibilitam uma relação favorável e o bem-estar dos pacientes,
levando-os a cumprir o tratamento designado pelo médico.

Vínculo entre família e técnico de enfermagem


35
Além disso, o técnico de enfermagem deve ter um bom relacionamento não somente
com os pacientes, mas também com seus familiares. Uma família que possui algum
ente querido que carece de cuidados médicos tem no técnico de enfermagem uma
ponte de ligação com o restante da equipe de saúde.

Por outro lado, o familiar também passa a ser um elo entre o técnico de enfermagem e
o paciente. Por meio de orientações dadas pelos profissionais da saúde, os familiares
sentem-se mais tranquilos, influenciando positivamente o paciente na sua recuperação
plena.

Distanciamento que a profissão exige

Para os que estão na carreira de técnico em enfermagem, lidar com o sofrimento de


pacientes e familiares não é uma tarefa fácil. Enfrentar uma rotina de trabalho,
vivenciando diferentes experiências de enfermidades, requer do profissional um
equilíbrio emocional para que tais sentimentos não permeiem sua vida.

Assim sendo, faz-se necessário manter um certo distanciamento em relação a saber


separar e lidar com diferentes sentimentos que afligem as pessoas das quais precisa
cuidar.

Como se pode ver, a relação entre técnico de enfermagem e paciente é algo a ser
aprimorado a cada dia do exercício da profissão. Saber oferecer cuidado, carinho e
otimismo a familiares e pacientes requer vocação e disposição em servir ao próximo.

TÉCNICA DE ENTREVISTA COM O PACIENTE E FAMÍLIA

Entrevista clínica psicológica

A entrevista é a técnica mais utilizada para a obtenção de informações a respeito de


uma pessoa em qualquer situação em que exista um indivíduo buscando saber algo
sobre outro, esclarecer comportamentos, elucidar intenções, ideias ou atitudes de
alguém, sejam específicas ou genéricas. É uma ferramenta poderosa à disposição dos
psicólogos, de valor inestimável e, sem dúvida, a mais indispensável de todas as que
possam ser colocadas ao seu alcance. Muitas são as finalidades ou objetivos para a
utilização de uma entrevista pelo psicólogo, assim como existem diferentes tipos ou
36
modelos de entrevista, de acordo com o que a motiva. Entretanto, em todos os formatos
que adquire e se utilizada de modo adequado, permite acessar ampla e profundamente
o entrevistado, conhecer suas particularidades, sua maneira de se relacionar com os
outros, como e o que pensa a respeito de determinados assuntos, sua história
pregressa, seus planos futuros, também o que o incomoda e atrapalha, numa
diversidade de contextos e situações.

De fato, é necessário preparo ao psicólogo. Para utilizar-se da entrevista como


ferramenta de avaliação psicológica, o profissional da Psicologia precisa ter diferentes
conhecimentos que variam de acordo com o propósito da entrevista e o contexto em
que ocorre. Se for para psicodiagnóstico, por exemplo, obrigatoriamente o psicólogo
precisará conhecer psicopatologia, critérios diagnósticos, manuais de transtornos
mentais e de classificação de doenças, além de Psicologia do Desenvolvimento. Já na
avaliação psicológica para a seleção de pessoal, será necessário ao psicólogo
conhecer a descrição do cargo, suas competências, as necessidades da empresa, e os
métodos específicos de entrevista aplicados neste contexto, entre outras informações
que permitam a formulação de questões que abarquem o que se necessita entender
sobre o candidato que se inscreve no processo seletivo. O psicólogo, portanto,
precisará de diferentes informações para utilizar a entrevista como uma técnica única e
insubstituível de coleta de informações acerca de uma pessoa, permitindo-lhe executar
em grau de excelência a sua tarefa de conhecer seu entrevistado. E, muito além desses
conhecimentos, precisará usar de recursos relacionais, de capacidade de comunicação
e empatia para ouvir o que o outro tem para dizer, sem perder de vista os objetivos que
provocaram a situação de entrevista.

A entrevista no contexto da avaliação psicológica

Por avaliação psicológica entende-se uma série de procedimentos que têm por objetivo
medir fenômenos ou processos psicológicos. Refere-se, seguindo o pensamento de
Alchieri e Cruz (2003), ao modo de conhecer os processos psicológicos, que podem
utilizar-se tanto de procedimentos que visam diagnóstico e prognóstico quanto de
outros que examinam as condições psicológicas, verificando estrutura e dinâmica de
funcionamento, competências, habilidades, inteligência, entre outros. Nesse caso,
observe-se que a avaliação psicológica está respaldada pela construção científica da

37
disciplina, como procedimento teórico e tecnicamente organizado em torno de
instrumentos de testagem e avaliação, para responder a demandas específicas,
circunscritas a quem solicitou e em determinado espaço temporal, não mais apenas
pela dicotomia psicotécnico/psicodiagnóstico. Além disso, para que uma avaliação
psicológica seja realizada de forma adequada e bem sucedida, o psicólogo precisa ir
além dos conhecimentos essenciais da Psicologia (Psicopatologia, Psicologia do
Desenvolvimento e da Personalidade, entre outras), será necessário conhecer as
técnicas de investigação psicológica (nelas incluem-se as entrevistas, observações,
dinâmicas de grupo e testes psicológicos) e dispor de conhecimento em psicometria.
Cada instrumento de avaliação deve obedecer a suas condições de aplicação, devendo
sempre ser adequadas aos objetivos da demanda, ao que se pretende avaliar e
entender (CASULLO, 1999; ANASTASI; URBINA, 2000; PASQUALI, 2005). A entrevista
na avaliação psicológica recebe diversas definições, de acordo com a base teórica que
a acolhe, propósito e abrangência. Uma definição que parece dar conta de explicá-la é
baseada na proposta de Tavares (2000) que explica ser a entrevista um conjunto de
técnicas de investigação - um processo - que ocorre num tempo delimitado, é dirigida
pelo psicólogo que se utiliza dos conhecimentos que tem, estabelecendo uma relação
profissional com o entrevistado, com o objetivo claro de descrever e avaliar aspectos
pessoais, relacionais ou contextuais, para ao final tomar algum tipo de decisão que
pode incluir recomendações, orientações, diagnóstico, encaminhamento, contratação
de serviços, desligamento ou qualquer tipo de intervenção que beneficie o entrevistado.
Entende-se ainda que a entrevista, enquanto uma técnica e um processo, não precisa
estar restrita a um único encontro, a um único momento exclusivo (LEITÃO; RAMOS,
2004). O psicólogo necessita e tem o direito de refletir a respeito dos dados coletados à
primeira vista, precisa planejar os passos seguintes e dar continuidade ao processo de
entrevista e, quando for o caso, incluir outros instrumentos, o que consiste em formatar
a avaliação psicológica. Observe-se que assim a entrevista posiciona-se de acordo
com a sua magnitude e grau de importância na avaliação psicológica, por ser a técnica
que permite o levantamento preliminar de informações sobre uma pessoa, recurso que
permite, inclusive, definir a série de procedimentos que em continuidade integrarão a
avaliação psicológica como um todo. Obviamente que a entrevista não se limita a este
procedimento inicial, pois durante todo o processo de avaliação psicológica poderá

38
haver a aplicação de etapas e técnicas de entrevista de acordo com o objetivo ou
finalidade que originou a entrevista em si.

Entrevista clínica psiquiátrica e entrevista clínica psicológica

Surgem pelo menos duas diferenças essenciais entre a entrevista clínica utilizada em
psiquiatria e em psicologia, sendo as duas abordagens, no entanto, complementares e
necessárias:

- O psiquiatra baseia-se em elementos clínicos aparentes para estabelecer um


diagnóstico, referenciando-o seguidamente a um sistema nosográfico. O psicólogo, por
seu lado, tenta antes compreender o funcionamento psicológico de um indivíduo,
tentando situar as condutas observadas num contexto (história pessoal e familiar do
sujeito, elementos de personalidade, modalidades de relacionamento com o meio,
representações interiores); aqui a referência é o próprio sujeito;

- O psiquiatra inscreve a entrevista clínica num procedimento terapêutico, enquanto o


procedimento do psicólogo não é terapêutico no sentido médico do termo (ausência de
prescrições); ela tem antes de mais um cariz de ajuda, de aconselhamento e de
intervenção psicológica, que é suposto levar a modificações positivas no indivíduo em
sofrimento.

A finalidade da entrevista

A entrevista, na prática do psicólogo, baseou-se inicialmente no modelo médico, para


aos poucos tornar-se menos voltada para desvendar sintomas de possíveis
psicopatologias e sim, esclarecer e permitir entender comportamentos, habilidades,
pensamentos, formas de planejar e de se organizar, maneiras de solucionar problemas
e de se relacionar com outras pessoas, entre outras características que uma pessoa
possa apresentar, em diferentes circunstâncias e contextos. Assim, entende-se que a
entrevista, como ferramenta de trabalho do psicólogo, está a serviço de algum fim, ou
seja, ela se destina a servir de instrumento para descobrir algo sobre um indivíduo, em
função de alguma necessidade, algum objetivo que se pretende atingir. É assim,
portanto, que a depender do tipo de trabalho que o psicólogo esteja desenvolvendo,
nas diversas áreas de atuação em que pode utilizar-se deste tipo de ferramenta, que
determinada finalidade será atribuída à entrevista. Para tornar este texto um tanto mais

39
didático, seguem algumas finalidades dadas às entrevistas, provavelmente as mais
usuais e com as quais os psicólogos se deparam em seu trabalho cotidiano:

a) Entrevista Diagnóstica: Neste tipo de entrevista o objetivo é estabelecer o


diagnóstico do paciente ou cliente, as indicações de tratamento mais adequadas, de
acordo com a psicopatologia que se apresenta e, possivelmente, o prognóstico à luz
das informações obtidas e em consonância com os referenciais teóricos que o
sustentam. Neste sentido, lembram Cunha (2000) e Tavares (2000) que a entrevista
que tem por objetivo o diagnóstico, deverá ter sempre como finalidade maior a
descrição das informações que foram coletadas e a avaliação para oferecer alguma
forma de retorno ao entrevistado. Tavares (2000) faz uma importante reflexão frisando
a necessidade de não se perder de vista o objetivo da entrevista: cita que um psicólogo
de abordagem psicodinâmica procederá de modo diferente de um comportamental,
entretanto se a finalidade da entrevista é objetiva – o diagnóstico – o que se buscará
será descrever e avaliar o que ocorre com aquele indivíduo e não contemplar aspectos
de base teórica de cada abordagem. Enfatiza o autor que os meios de se obter as
informações poderão ser diferentes, de acordo com cada abordagem, contudo o
resultado ou retorno da entrevista para o paciente deverá conduzir ao mesmo ponto.

b) Entrevista Devolutiva: A entrevista de devolução pode ser empregada em


diferentes contextos de trabalho do psicólogo. Na avaliação psicológica para
diagnóstico, a entrevista devolutiva tem por finalidade comunicar ao indivíduo qual foi o
resultado da sua avaliação, qual o seu diagnóstico. Isso pode ocorrer ao final da
entrevista diagnóstica ou em horário destacado para essa tarefa, não há uma regra pré-
estabelecida, especialmente quando a avaliação psicológica foi extensa e incluiu vários
encontros e outros instrumentos além da entrevista propriamente dita. No caso da
entrevista devolutiva em seleção de pessoal é importante que os candidatos saibam
quais resultados obtiveram, especialmente nos casos de não estarem aptos para o
preenchimento da vaga. Muitas pessoas podem desenvolver fantasias a respeito de
não serem aprovadas em função de alguma dificuldade psicológica, receber uma
devolução significa dar-lhes a chance de saberem o que ocorreu, expressar seus
pensamentos e sentimentos, e até procurar ajuda, se for o caso .

40
c) Entrevista de Encaminhamento: Este tipo de entrevista é bastante utilizado em
contextos clínicos, hospitalares e escolares. Tem por finalidade, como o próprio nome
diz, encaminhar o indivíduo para instituições e/ou profissionais que possam dar
continuidade ao seu atendimento, ao seu tratamento ou mesmo ao processo de
avaliação psicológica. A entrevista de encaminhamento pode ser uma decorrência da
entrevista diagnóstica, por exemplo, o encaminhamento para psicoterapia; da não
adequação do tipo de atendimento psicoterápico que o psicólogo sabe fazer à
psicopatologia que o paciente apresenta, é outro exemplo, ou seja, o psicoterapeuta irá
encaminhar para um colega em condições de prosseguir com o paciente,
redirecionando o tratamento de acordo com a necessidade. Entretanto também existem
aquelas entrevistas de encaminhamento que decorrem de uma breve entrevista inicial,
que funciona como uma triagem com a finalidade apenas avaliar a demanda do
indivíduo para que se possa propor o seguimento do atendimento. É bastante comum
que isso ocorra, conforme Tavares (2000), em serviços de saúde pública. A entrevista
de triagem e encaminhamento servirá especialmente para avaliar a gravidade da crise,
se é necessário encaminhar para avaliação psiquiátrica imediatamente, para qual
profissional encaminhar e assim por diante.

d) Entrevista de Intervenção Psicoterápica: Este tipo de entrevista é sempre


concernente ao tipo de abordagem ou referencial teórico que abraça o psicólogo e que
será empregada para o atendimento ao paciente, tem por finalidade ajudar o paciente
em suas necessidades, nas mudanças que deseja/consegue fazer em seus
comportamentos. Um exemplo deste tipo de entrevista é a motivacional, inspirada nas
abordagens comportamental, centrada na pessoa e sistêmica, utiliza-se da persuasão
ao invés do confronto, dando suporte aos pacientes para enfrentarem suas dificuldades,
especialmente de comportamento aditivo. É, segundo Oliveira (2000), um tipo de
entrevista que combina o método mais estruturado/diretivo e menos estruturado/não
diretivo (serão descritos mais adiante neste texto), ajudando o paciente durante os
encontros a trabalhar a ambivalência e a processar as mudanças comportamentais
necessárias.

Tipos de entrevista e sua aplicação

41
Os tipos de entrevista referem-se ao seu aspecto formal ou à sua estrutura. Entende-se
que toda entrevista, como processo de se capturar informações sobre alguém, é uma
pesquisa. Por este motivo a proposta de Gil (1999) de classificação das entrevistas de
acordo com seu aspecto estrutural, pode ser aplicada para o que se pretende explicar
neste item. Seguindo o pensamento do autor, as entrevistas podem ser classificadas
em: entrevista estruturada, semiestruturada, e não estruturada. Outras possíveis
nomenclaturas utilizadas para discutir os tipos de entrevista são: entrevista aberta ou
não diretiva (a mesma que a não estruturada), entrevista diretiva ou fechada (ou
estruturada), e a entrevista semiestruturada que também é conhecida com semidiretiva
ou semiaberta. Para entender melhor cada tipo, seguem algumas descrições acerca de
cada um deles:

a) Entrevista não estruturada: Este tipo de entrevista é considerado de tipo aberto,


com nenhuma estrutura ou uma estrutura mínima em que se deixa para o entrevistado
a decisão de como irá expor as informações, como irá construir uma fala sobre o que
está sendo tratado. Diferencia-se de uma simples conversa porque tem uma finalidade
definida, destinam-se a algum propósito bastante claro para as partes. Aplica-se a
diferentes contextos, entretanto por se constituir de uma forma não roteirizada de
coletar dados, a depender da finalidade da entrevista, corre-se o risco de serem
coletadas inúmeras informações e utilizar-se de muito tempo, sem necessariamente
serem atingidos os objetivos propostos. A entrevista não estruturada é o tipo de
entrevista que se destina a situações específicas, como por exemplo, quando se
pretende que a pessoa descreva minuciosamente um evento e o entrevistador apenas
faz uma colocação no sentido de solicitar a ela que fale sobre o que lhe ocorreu. Alguns
autores concordam que quando se pretende esclarecer uma situação, desenvolver um
conceito, saber mais sobre atitudes e comportamentos, trabalhando com uma amplitude
de informações, a entrevista não estruturada é o tipo ideal, já que a delimitação do
campo de resposta, é praticamente nula, podendo ir o entrevistado na direção que
quiser (GIL, 1999; MATTOS, 2005). Alguns cuidados importantes no uso deste tipo de
entrevista recaem sobre: 1) possibilidade/necessidade de ser gravada, como garantia
de acesso real aos dados colhidos, sem perda de informações que podem ocorrer
quando o entrevistador intenta anotar todo o conteúdo expresso verbalmente; 2)
aspectos éticos e de sigilo com o material produzido, assunto que será discutido mais
42
adiante neste texto; 3) outro ponto de ênfase mais teórica é o fato de entrevista aberta
não significar questão aberta, pois algumas questões abertas são também utilizadas
nos roteiros das entrevistas estruturadas, por exemplo; 4) e como último ponto de
atenção, o treinamento necessário ao entrevistador.

b) Entrevista semiestruturada: A entrevista semiestruturada, conforme Manzini


(2003) e Triviños (1987), tem um foco principal definido e é a partir dessa focalização
que um roteiro é construído, com questões básicas e/ou principais que são
complementadas por outras questões que surgem ao longo da entrevista, permitindo ao
entrevistador fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas ficam mais
espontâneas, sem estarem condicionadas a algum tipo de padrão ou alternativas. É um
tipo de entrevista que pode ser aplicada para diferentes finalidades. Para Triviños
(1987, p. 146) a entrevista semiestruturada favorece “...não só a descrição dos
fenômenos, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade.”

c) Entrevista Estruturada: Este tipo de entrevista é bastante utilizado nas diferentes


áreas de atuação do psicólogo. A entrevista denominada de estruturada, como o
próprio nome diz, por desenvolver-se a partir de uma estrutura previamente definida, ou
seja, há um roteiro fixo de perguntas ou um questionário, cuja ordem e redação
permanecem exatamente iguais em cada aplicação, segundo Lakatos e Marconi (1996).
Neste tipo de entrevista não há a possibilidade de questões serem alteradas durante a
sua aplicação, ela permanece invariável para todas as pessoas que forem responder a
ela. É bastante utilizada em processos seletivos e pesquisas científicas, ou em outras
situações em que se queira fazer um levantamento de informações sobre as pessoas
de modo bastante objetivo e mais rápido que as outras modalidades. São bastante
comuns, neste tipo de entrevista, as perguntas com possibilidades de respostas
bipolares ou dicotômicas. Este tipo de entrevista, também facilita o tratamento
estatístico e quantitativo dos dados, a depender da finalidade da entrevista. Entende-se
que não há um tipo de entrevista melhor que o outro, mas é preciso esclarecer que um
tipo será mais adequado que outro de acordo com a finalidade da entrevista, com o
levantamento de informações que se pretende fazer, ou seja, qual o objetivo, aonde se
quer chegar com a técnica. Sendo assim, a escolha do tipo de entrevista deve ser
realizada após o esclarecimento do propósito da entrevista. Além disso, é preciso

43
observar que o entrevistador precisa conhecer cada tipo e sua aplicação, justamente
para que possa fazer a melhor escolha de acordo com a sua necessidade.

UNIDADE IV- TRANSTORNOS MENTAIS MAIS COMUNS


4.1- TIPOS DE TRANSTORNOS

DISTÚRBIO DO SONO
INSÓNIA
A insónia é a dificuldade em conciliar o sono ou permanecer adormecido, ou uma
alteração no padrão do sono que, ao despertar, leva à percepção de que o sono foi
insuficiente.

A insónia não é uma doença, mas um sintoma. Pode ser consequência de diversas
perturbações emocionais e físicas e do uso de medicamentos. A dificuldade em
conciliar o sono é frequente entre jovens e idosos e muitas vezes manifesta-se no
decurso de alterações emocionais, como a ansiedade, o nervosismo, a depressão ou o
temor. Há mesmo pessoas que têm dificuldade em conciliar o sono simplesmente
porque não experimentam cansaço, nem físico nem mental.

As pessoas tendem a dormir menos à medida que envelhecem e também se verificam


mudanças nas fases do sono.

O padrão da insónia da primeira hora da manhã é mais frequente nas pessoas de


idade avançada. Algumas pessoas conciliam o sono normalmente, mas despertam
várias horas antes da hora habitual, não conseguem voltar a adormecer com facilidade
e, por vezes, têm um sono inquieto e pouco reparador. Em qualquer idade, o facto de
despertar muito cedo pode ser um sintoma de depressão.

As pessoas com uma alteração no seu padrão de sono podem experimentar inversões
no ritmo do sono, isto é, conciliam o sono em horas menos adequadas e não
conseguem dormir quando deveriam fazê-lo. Por vezes, devem-se ao efeito secundário
de um fármaco. O padrão de sono pode ver-se alterado por lesões no relógio interno do
cérebro (provocadas por uma encefalite, um icto ou uma doença de Alzheimer, por
exemplo).

Causas
44
Se a causa da insónia se dever ao stress emocional, será mais útil um tratamento para
aliviar o stress em vez de tomar medicamentos para dormir. Quando a insónia se
manifesta com depressão, deve dirigir-se ao médico, que fará uma avaliação global e
prescreverá um tratamento. Certos antidepressivos costumam induzir o sono devido às
suas propriedades sedantes.

Diagnóstico

Com o objectivo de diagnosticar a insónia, o médico avaliará o padrão de sono da


pessoa, o uso de medicamentos, de álcool e de drogas ilegais, o grau de stress
psicológico, a história clínica e o seu nível de actividade física. Algumas pessoas
necessitam de menos sono que outras e por isso o diagnóstico de insónia basear-se-á
nas necessidades individuais. Os médicos podem classificar a insónia como primária,
uma alteração do sono de longa duração que aparentemente não está associada a
factores de stress nem a vivências, ou como secundária, uma alteração provocada pela
dor, pela ansiedade, pelos fármacos, pela depressão ou por stress exacerbado.

Tratamento e prevenção

Dado que provavelmente o número total de horas de sono diminui com a idade, pode
ser útil para as pessoas mais velhas irem dormir mais tarde ou levantarem-se mais
cedo. As pessoas com insónia podem melhorar o seu estado se permanecerem
tranquilas e relaxadas antes de se deitarem, procurando criar nos seus quartos uma
atmosfera que convide ao sono. Para isso, é necessária uma luz ténue, o mínimo de
ruído possível e uma temperatura agradável no quarto.

HIPERSÓNIA

É uma condição que faz com que o indivíduo sinta um sono excessivo durante o dia,
às vezes incontrolável. Isso faz com que durma em horários pouco apropriados ou por
um período maior durante a noite. Diferentemente da narcolepsia, a hipersonia só
produz a vontade de dormir, mas, na maioria dos casos, o paciente consegue se
manter acordado. Todos nós temos hábitos de sono que atendem às nossas
necessidades, assim, a quantidade de horas dormindo é variável. Porém, pessoas

45
que sofrem com esse distúrbio do sono podem passar 10 horas dormindo
ininterruptamente.

Causas

 Narcolepsia;
 Apneia obstrutiva do sono;
 Obesidade;
 Alcoolismo;
 Traumas na cabeça ou doenças neurológicas (p.ex.: esclerose múltipla);
Uso regular de tranquilizantes;
 Problemas genéticos.
Sintomas

Para diagnosticar este distúrbio, é preciso que os sintomas já estejam ocorrendo há,
pelo menos, três meses. Os sintomas mais recorrentes são dificuldade para acordar,
necessidade de dormir, em média, 10 horas por noite, cansaço durante o dia,
exaustão, desorientação, falta de concentração, perda de memória, bocejo constante
e irritabilidade.

Tratamento

O tratamento desse distúrbio do sono é comportamental e medicamentoso. Para


confirmar o quadro, o especialista poderá solicitar a realização de alguns exames,
como polissonografia, tomografia axial computadorizada, ressonância magnética,
exame de sangue, entre outros. O médico também orienta a família do paciente sobre
a sua condição e propondo soluções que melhorem a rotina do paciente, tais como a
realização de cochilos programados, a adaptação dos horários de trabalho, evitando
turnos rotativos.

Prevenção

A prevenção dos distúrbios do sono, como a hipersonia, passa pela mudança de


hábitos. As principais recomendações são: ter uma alimentação saudável, jantar
46
moderadamente, dormir em um ambiente escuro e sem barulhos, praticar exercícios
físicos, evitar uso abusivo de álcool e não usar estimulantes sem prescrição médica.

ESTADO DE ANSIEDADE, ANGÚSTIA E PÂNICO

ANSIEDADE

A ansiedade é um transtorno que consiste em ter sentimento desagradável


acompanhado de irritabilidade, medo ou temor antecipado de um perigo futuro (real ou
imaginária) cuja origem é desconhecida. Pode ser normal (por exemplo ao enfrentar
um problema no trabalho, antes de uma prova, ou diante de uma decisão difícil do dia
a dia) ou anormal quando se manifesta por excesso, ou seja, com muita intensidade a
partir dos 6 meses com uma manifestação de 2 vezes por mês.

Sintomas

São: tensão muscular, dificuldade de respiração, suor nas palmas das mãos, doenças
estomacais, sensação de desmaio iminente, sensação de choque, sensação de terror,
tremor, desorientação, desconcentração, fraqueza, tensão arterial alta ou baixa,
tontura, medo de enlouquecer, medo exagerado, cansaço, irritabilidade, sensação de
irrealidade, inquietação de espírito, taquicardia, palpitações, vertigem, dificuldades
intestinal, vómitos, dificuldade em dormir, alterações nas funções sexuais, sudoração,
onicofagia e mudanças nos hábitos de alimentação.

Causas

As possíveis causas são: causas desconhecidas (subitamente), desestruturação


familiar, mortes de um dos membros da família, uso de substâncias químicas (drogas
e alcoolismo) etc.

Fatores de risco

Alguns fatores podem influenciar nas possíveis causas tais como: fatores genéticos e
fisiológicos - pode ser herdado tendo em conta o historial familiar; ambientais -
alcoolismo, (p. ex., a morte de um parente ou animal de estimação; doença do
47
indivíduo ou de um parente; mudança de escola; divórcio dos pais; mudança para
outro bairro; imigração; intromissão parentais, superproteção, separação parentais,
um desastre que envolveu períodos de separação das figuras de apego). Outras
doenças podem iflueciar no desenvolvimento da ansiedade (por exemplo hipertensão,
coração, estresse, etc.).

Consequências

Isolamento social, desistência a escola, desistir do emprego, hipertensão, e as vezes


acaba por cometer um suicídio etc.

Tratamento

Médico, psicoterapeuta ou a um profissional especialista.

Prevenção

Alimentação saudável, prática constante de atividades físicas, sono suficiente, lazer,


técnicas de distração, desviar os pensamentos negativos.

ANGÚSTIA

A angústia é uma sensação psicológica conhecida por seus sentimentos de


“abafamento da garganta”, aperto no peito, inquietude e nervosismo. Trata-se de uma
experiência complexa que pode afetar o nosso comportamento, humor e pensamento,
podendo gerar futuros problemas psicossomáticos.

É certo que todas as pessoas a possuem, mas não em alto nível. Nesse estado, ela
se manifesta motivada por um dos Transtornos de Ansiedade (pânico, fobias,
obsessões), por reações no corpo e manifestações que envolvem, ou não, uma
doença orgânica.

Sintomas

 Ansiedade acompanhada de falta de ar, aperto no peito;


 Sentimento de caos interior;

48
 Batimentos cardíacos desacelerados;
 Pensamentos negativos e sentimento de preocupação;
 Dores de cabeça e enxaquecas frequentes;
 Dores musculares;
 Insônia;
 Alterações do apetite;
 Desânimo e abatimento mental;
 Dificuldade de concentração em tarefas;
 Falta de ar e crises de pânico e medo;
 Tremores, calafrios, suor à noite e ataques de diarreia.
Causas

A maioria dos casos de angústia estão relacionados a um estilo de vida com situações
que favorecem o sentimento de culpa, arrependimento, insegurança e frustração .
Mesmo assim, existem situações em que a dor surge sem um motivo aparente,
variando de acordo com cada pessoa.

O sentimento de angústia também pode ser um sinal íntimo de um estado de


depressão. O que pode intensificar ainda mais a dor sentida. Estudos apontam que
ambas essas doenças aumentam em três vezes o risco dos pacientes em desenvolvê-
las simultaneamente. Por isso, o primeiro sinal de frequência dos sintomas é
recomendado a procura de um psicólogo ou psiquiatra.

Tratamento

Tratamento medicamentoso

A dor causada pela angústia pode receber tratamento através de praticamente todas
drogas utilizadas pela psiquiatria. Estabilizadores de humor, anticonvulsivantes e
benzodiazepínicos geralmente são indicados para aliviar a ansiedade, fadiga e
insônia.

49
Durante o tratamento da angústia, o antidepressivo tricíclico amitriptilina (Elavil) é o
mais recomendado para ser utilizado como analgésico, principalmente por sua
atuação sedativa contra a dor e aumento de atividade dos neurotransmissores
norepinefrina e serotonina.

Psicoterapia

A Terapia Cognitivo Comportamental é uma forma de terapia focada no presente e na


resolução de problemas. A TCC ajuda a pessoa a reconhecer o pensamento distorcido
e depois a mudar comportamentos e pensamentos.

Prevenção

 Exercícios físicos ou outras técnicas que ajudam a relaxar o corpo, como a


meditação e o alongamento;
 Buscar pensamentos positivos para substituir a carga mental negativa;
 Tomar banho relaxante e descansar em ambientes calmos;
 Inclua chás e uma alimentação saudável na sua rotina;
 Desenvolver conversas com pessoas que te fazem bem, seja ela um amigo ou
familiar ou o seu próprio terapeuta;
 Aprender a viver todos os sentimentos que existem dentro de si e transforme
em degraus para a sua evolução pessoal.
PÂNICO

Falamos de Ataques de Pânico quando sentimos ansiedade extrema, que provoca


sensações físicas tão fortes que são equiparáveis à sensação de morte iminente. Os
ataques de Pânico são uma doença psicológica em que se tem medo do próprio
medo. Os Ataques de Pânico resultam de um distúrbio de Ansiedade, são de
aparecimento súbito, ocorrem sem causa aparente e desencadeiam um conjunto de
sintomas assustadores. São mais comuns do que muitas vezes se julga e nem
sempre lhe damos a devida atenção.

50
Causas

Todos os Ataques de Pânico são réplicas do primeiro ataque, em que o medo sentido
foi tão grande que se começa a ter medo de o voltar a sentir. As pessoas podem sentir
o primeiro episódio de Pânico em qualquer circunstância, como por exemplo ao
dormir, ao conduzir, num centro comercial, em casa, entre outras situações.

São várias as circunstâncias, aparentemente normais, que não representam uma


ameaça real, que podem potenciar estes ataques que condicionam a vida da pessoa. 

Quem experiencia um evento traumático associa inconscientemente os sintomas às


circunstâncias, começando a fugir dessas mesmas circunstâncias para evitar sentir
esses sintomas.

Sintomas

 Dificuldade respiratória;
 Tonturas ou sensação de desmaio;
 Aumento da frequência cardíaca;
 Tremores;
 Transpiração;
 Náuseas ou diarreia;
 Dores abdominais;
 Formigueiros;
 Afrontamentos ou calafrios;
 Aperto no peito.
Tratamento

Apesar do tratamento mais usado ser o farmacológico, com recurso a medicamentos


que aliviam os sintomas dos Ataques de Pânico, o tratamento mais indicado é a
Psicoterapia. Em algumas pessoas com sintomas mais graves, a medicação não
resulta e os seus efeitos secundários são muito negativos.
51
Trabalhar as causas dos Ataques de Pânico através da Psicoterapia é a solução mais
eficaz e sustentada para a maioria das pessoas. O Modelo Psicoterapêutico HBM
(Map Behavior Human) permite a identificação da origem do Pânico e dispõe de
técnicas que possibilitam a ressignificação das experiências perturbadoras, que
condicionam e limitam a vida da pessoa.  

Prevenção

 Praticar atividades que ensinam o relaxamento (yoga e pilates);


 Evitar o estresse;
 Evitar locais lotados que provoquem desconforto;
 Evitar bebidas alcoólicas e com cafeínas;
 Alimentação saudável.

DEPRESSÃO

Depressão ou transtorno depressivo maior é uma doença comum e séria que afeta
negativamente como o sujeito se sente, como pensa e como age.

A depressão provoca sentimento de tristeza e/ou perda de interesse em atividades


que em momentos anteriores traziam prazer. Pode levar a uma variedade de
problemas emocionais e físicos e pode diminuir a capacidade de uma pessoa manter
suas atividades normais no trabalho e em casa.

Sintomas

 Tristeza com humor deprimido;


 Perda de interesse ou prazer em atividades antes apreciadas;
 Alterações no apetite – perda de peso ou ganho não relacionado à dieta;
 Problemas para dormir (insônia) ou dormir demais;
 Perda de energia ou aumento da fadiga;
52
 Baixa autoestima e presença de sentimento de culpa;
 Dificuldade para pensar, concentrar ou tomar decisões;
 Pensamentos de morte ou suicídio.
Os sintomas devem durar pelo menos duas semanas para um diagnóstico de
depressão.

Além disso, condições médicas (por exemplo, problemas de tireóide, um tumor


cerebral ou deficiência de vitamina) podem imitar sintomas de depressão, por isso é
importante descartar causas médicas gerais.

Fatores de risco

A depressão pode afetar qualquer pessoa – até mesmo uma pessoa que parece viver
em circunstâncias relativamente ideais.

Vários fatores podem desempenhar um papel na depressão:

 Bioquímica: Diferenças em certas substâncias químicas no cérebro podem


contribuir para os sintomas.
 Genética: Depressão pode ocorrer em famílias. Por exemplo, se um gêmeo
idêntico tem depressão, o outro tem 70% de chance de ter a doença em algum
momento da vida.
 Personalidade: Pessoas com baixa autoestima, que são facilmente oprimidas
pelo estresse, ou que são geralmente pessimistas, parecem mais propensas a
sofrer de depressão.
 Fatores ambientais: A exposição contínua à violência, negligência, abuso ou
pobreza pode tornar algumas pessoas mais vulneráveis à depressão.
Causas

 Transtornos psiquiátricos correlatos;


 Estresse e ansiedade crônicos;
 Disfunções hormonais, problemas na tireóide;
 Excesso de peso, sedentarismo e dieta desregrada;

53
 Vícios (cigarro, álcool e drogas ilícitas);
 Hiperconexão e excesso de estímulos, como o uso excessivo de internet e
redes sociais;
 Traumas físicos ou psicológicos, experiências de violência doméstica ou abuso;
 Separação conjugal, perda de emprego, desemprego por tempo prolongado ou
a perda de uma pessoa muito querida;
 Fibromialgia e dores crônicas.
Tratamento

Antes de um diagnóstico ou tratamento, um psicólogo ou médico psiquiatra deve


realizar uma avaliação diagnóstica completa, incluindo uma entrevista e,
possivelmente, um exame físico.

Em alguns casos, um exame de sangue pode ser feito para garantir que a depressão
não seja causada por uma condição médica como um problema de tiróide. A avaliação
é para identificar sintomas específicos, histórico médico e familiar, fatores culturais e
fatores ambientais para chegar a um diagnóstico e planejar um curso de ação.

Tratamento medicamentoso

A química do cérebro pode contribuir para a depressão de um indivíduo e pode


influenciar seu tratamento. Por esse motivo, os antidepressivos podem ser prescritos
para ajudar a modificar a química do cérebro. Estes medicamentos não são sedativos,
“superiores” ou tranquilizantes. Eles não são formadores de hábito. Geralmente, os
medicamentos antidepressivos não têm efeito estimulante em pessoas que não
sofrem de depressão.

Os antidepressivos, como por exemplo o Rivotril ou Fluoxetina, podem produzir


alguma melhora na primeira ou segunda semana de uso. Os benefícios completos
podem não ser vistos por dois a três meses.

54
Os psiquiatras geralmente recomendam que os pacientes continuem tomando
medicação por seis ou mais meses depois que os sintomas melhoraram. Tratamento
de manutenção a longo prazo pode ser sugerido para diminuir o risco de episódios
futuros para certas pessoas de alto risco.

Psicoterapia

Psicoterapia às vezes é usada sozinha para o tratamento da depressão leve; para


depressão moderada a grave, a psicoterapia é frequentemente usada junto com
medicamentos antidepressivos. Terapia cognitivo comportamental (TCC) é uma das
abordagens terapêuticas apontada como eficaz no tratamento da depressão.

A Terapia Cognitivo Comportamental é uma forma de terapia focada no presente e na


resolução de problemas. A TCC ajuda a pessoa a reconhecer o pensamento distorcido
e depois a mudar comportamentos e pensamentos.

A psicoterapia pode envolver apenas o indivíduo, mas pode incluir outros. Por
exemplo, a terapia familiar ou de casais pode ajudar a resolver problemas dentro
desses relacionamentos íntimos. Terapia de grupo envolve pessoas com doenças
semelhantes.

Dependendo da gravidade da depressão, o tratamento pode levar algumas semanas


ou muito mais tempo. Em muitos casos, melhorias significativas podem ser feitas em
10 a 15 sessões.

Prevenção

Recuperar-se da depressão é uma jornada longa e difícil. Infelizmente, 50% das


pessoas que têm um episódio importante de depressão irão ter recaídas, e a
probabilidade aumenta se a pessoa teve mais de um episódio. O risco de recaída
pode variar, dependendo da gravidade dos sintomas e do histórico familiar.

Existem alguns passos que podem ajudar a evitar a depressão.

Excesso de trabalho
55
Enquanto permanecer ocupado não é um problema, ter atividades demais, muito
cedo, pode ser.

Sentir-se oprimido cria estresse, e o estresse é um fator de risco para a depressão.


Além disso, experiências estressantes podem tornar os sintomas de ansiedade e
depressão ainda mais graves.

Contudo, é muito importante conhecer os próprios limites e tentar manter uma vida
equilibrada. Se você está propenso à depressão, isso é de sua responsabilidade –
assim como escovar os dentes ou obedecer aos limites de velocidade.

Exercícios regulares

Uma das melhores maneiras de prevenir a depressão é a prática de exercícios físicos.

“O exercício parece ser um antidepressivo por si só e pode agir como um antídoto


para o estresse”, diz Gerard Sanacora, professor de psiquiatria da Universidade de
Yale.

Uma análise de 2009 descobriu que o exercício ameniza a depressão, bem como a
terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou antidepressivos. Uma combinação de
resistência e aeróbica parece melhor do que o exercício aeróbico sozinho. Exercícios
com foco meditativo, como tai chi e yoga, também ajudam.

FOBIAS

A fobia é um medo persistente e irracional de um determinado objeto, animal,


atividade ou situação que represente pouco ou nenhum perigo real, mas que, mesmo
assim, provoca ansiedade extrema.

56
Fobia nem sempre é uma doença em si. Pode ser um sintoma de outra causa
subjacente – geralmente um transtorno mental. De qualquer forma, o medo sentido
por pessoas que têm fobia é completamente diferente da ansiedade que é natural dos
seres humanos.

O medo, por si só, é uma reação psicológica e fisiológica perfeita que surge em
resposta a uma possível ameaça ou situação de perigo. Já a fobia não segue uma
lógica propriamente dita, e a ansiedade nesses casos é incoerente com o perigo real
que aquilo representa.

A fobia costuma ser de longa duração, provoca intensas reações físicas e psicológicas
e pode comprometer seriamente a qualidade de vida de quem a tem.

Tipos

Existem diversos tipos de fobias, que vão desde o medo intenso de situações sociais
(fobia social), de lugares cheios de pessoas (agorafobia) até o medo de animais,
objetos ou situações específicas (fobia simples).

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, a fobia


simples pode ser dividida em, pelo menos, cinco categorias:

 Animais (aranhas, cobras, sapos, etc.);


 Aspectos do ambiente natural (trovoadas, terremotos, etc.);
 Sangue, injeções ou feridas;
 Situações (alturas, andar de avião, elevador ou metrô, etc.);
 Outros tipos (medo de vomitar, contrair uma doença, etc.).
Causas

A causa de muitas fobias ainda é desconhecida pelos médicos. Apesar disso, há


fortes indícios de que a fobia de muitas pessoas possa estar relacionada ao histórico
familiar, levando a crer que fatores genéticos possam representar um papel importante
na origem do medo persistente e irracional.

57
No entanto, sabe-se também que as fobias podem ter uma ligação bastante direta
com traumas e situações passadas.

Isso acontece porque a maioria dos problemas emocionais e comportamentais é


desencadeada por dificuldades que uma pessoa enfrentou ao longo da vida.

Todas as pessoas passam por momentos difíceis, mas algumas delas podem
desenvolver, com o tempo, sentimentos de angústia que podem evoluir para um
quadro de fobia.

Fatores de risco

Apesar de as causas de uma fobia não estarem totalmente esclarecidas, os médicos e


psiquiatras acreditam que uma série de fatores possa estar envolvida. Veja:

Idade

Alguns tipos de fobia se desenvolvem cedo, geralmente na infância. Outras podem


ocorrer durante a adolescência e há aquelas que também podem surgir no início da
vida adulta, até por volta dos 35 anos de idade.

Histórico familiar

Se alguém de sua família tiver algum tipo fobia, você tem mais chances de
desenvolvê-la também.

Esta poderia ser uma tendência hereditária, mas especialistas suspeitam que crianças
sejam capazes de aprender e adquirir fobia somente observando as reações de uma
pessoa próxima, da mesma família, a alguma situação de pouco ou nenhum perigo.

Temperamento

O risco de se desenvolver uma fobia específica pode aumentar se você tiver


temperamento difícil, for sensível e tiver um comportamento mais inibido e retraído do
que o normal.

Evento traumático
58
Passar por uma situação traumática ou por uma série de eventos traumáticos ao
longo da vida podem levar ao desenvolvimento de uma fobia.

Sintomas

Os sinais e sintomas dependem muito do tipo de fobia. No entanto,


independentemente do tipo, algumas características são notadas em todos os
indivíduos que apresentam fobias:

 Sentimento de pânico incontrolável, terror ou temor em relação a uma situação


de pouco ou nenhum perigo real;
 Sensação de que você deve fazer todo o possível para evitar uma situação,
algo ou alguém que você teme;
 Incapacidade de levar sua vida normalmente por causa de um medo ilógico;
 Presença e aparecimento de algumas reações físicas e psicológicas, como
sudorese, taquicardia, dificuldade para respirar, sensação de pânico e
ansiedade intensos, etc.;
 Saber que o medo que sente é irracional e exagerado, mas mesmo assim não
ter capacidade para controlá-lo.
Tratamento

O tratamento para a fobia tem como objetivo reduzir a ansiedade e o medo


provocados por motivo ilógico, irracional e exagerado, ajudando no gerenciamento
das reações físicas e psicológicas decorrentes deste medo.

Há três diferentes tipos de abordagem que podem ser seguidos pelos especialistas
e pacientes: a psicoterapia, o uso de medicamentos específicos ou, ainda, a união
de ambos.

Betabloqueadores, antidepressivos e sedativos costumam ser as medicações mais


recomendadas pelos médicos e, quando unidas a terapias comportamentais, o
resultado costuma ser bastante eficiente.

59
Medicamentoso

Os medicamentos mais usados para o tratamento de fobias são:

 Anafranil
 Cloxazolam
 Clomipramina
 Olcadil
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu
caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.

Complicações

Se não forem devidamente tratadas, as fobias podem comprometer gravemente a


vida das pessoas e levá-las a situações extremas.

 Isolamento social: evitar lugares, coisas e pessoas que você teme pode
causar problemas profissionais, familiares e de relacionamento;
 Depressão: muitas pessoas com fobias estão mais sujeitas a desenvolver
depressão e outros transtornos de ansiedade;
 Abuso de substâncias: o estresse de viver e conviver com uma fobia pode
levar ao abuso de substâncias e à dependência química e psíquica, como o
tabagismo, o alcoolismo e o vício em determinados tipos de drogas;
 Suicídio: alguns indivíduos com fobias específicas são mais propensos a
cometer suicídio.
Prevenção

 Como as causas de fobias são desconhecidas pelos médicos e


especialistas, infelizmente não há formas conhecidas de prevenção.
Buscar ajuda médica é sempre o melhor caminho para pessoas que já apresentem os
sintomas.

60
DOENÇA PSICOSSOMÁTICA

O termo “psicossomático” vem da junção de duas palavras de origem grega, psique,


que significa alma, e soma, que significa corpo. Ou seja, é uma doença que tem origem
na alma e no psicológico, mas também tem consequências físicas no corpo. A doença é
também conhecida como somatização ou transtorno somatoforme, as doenças
psicossomáticas são desordens emocionais ou psiquiátricas que afetam também o
funcionamento dos órgãos do corpo. Esses desajustes provocam múltiplas queixas
físicas, e que podem surgir em diferentes partes do corpo.

O surgimento dessas doenças admite certa complexidade, pois elas podem


desencadear dores generalizadas, diarreia ou constipação, tremores das extremidades,
manchas na pele e falta de ar.

Entretanto, esses sintomas não podem ser explicados por nenhuma alteração orgânica,
já que nos exames de confirmação diagnóstica, não aparece nenhuma doença que
cause esses sinais.

Geralmente, os indivíduos com doenças psicossomáticas estão frequentemente em


consultas médicas ou prontos-socorros sem, contudo, obter confirmação das causas de
seus problemas.

Devido a essas características típicas, geralmente os médicos têm muita dificuldade em


diagnosticar a causa dessas desordens. Por isso, na maioria dos casos, a orientação é
buscar apoio profissional por meio de terapias para reabilitação mental a fim de evitar a
evolução para quadros mais graves.

Então, essas doenças acontecem quando o sujeito tem algum desequilíbrio no seu
estado emocional e esse acúmulo de fatores causa dores e problemas físicos.

Assim, estima-se que cerca de 5% da população mundial sofra de algum tipo de


doença psicossomática. As mulheres sofrem mais do que os homens com isso.

Dessa forma, fica evidente que a mente e o corpo formam um sistema único e estão
ligados até mesmo no seu inconsciente.

61
Após a publicação do DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5ª
edição) em 2013, foi criado o termo Transtorno de Sintomas Somáticos (TSS).

Por isso, muitos profissionais da área da saúde preferem usar esse termo (TSS) e não
“somatização” ou “doença somática”, a fim de não rotular o paciente.

Causas

Não existe uma causa única para o desenvolvimento de uma doença psicossomática.
Seu desenvolvimento depende de uma predisposição pessoal e orgânica, em como o
corpo e o psicológico interagem e reagem frente a certas condições e/ou situações de
vida. 

Algumas outras doenças psiquiátricas facilitam o desenvolvimento da somatização,


como depressão, ansiedade e estresse e as situações que geralmente estão
associadas ao seu desenvolvimento incluem:

 Sobrecarga profissional;
 Eventos traumáticos prévios (seja na infância ou na vida adulta);
 Vítimas de violência psicológica, física ou sexual;
 Mudança nos padrões de relacionamento;
 Perdas financeiras;
 Influência genética;
 Luto.
Sintomas

São múltiplas as formas que uma doença psicossomática pode se manifestar, através
de sintomas físicos e psicológicos.

Os sintomas psicológicos mais frequentes incluem:

 Ansiedade;
 Irritabilidade;
 Impaciência;
 Tristeza;
 Falta de interesse nas atividades diárias;
62
 Exaustão.
Os sintomas físicos mais frequentes incluem:

 Dor e queimação no estômago, associado ou não a náuseas e vômitos;


 Constipação e/ou diarreia;
 Sensação de falta de ar e/ou dor torácica;
 Dores musculares;
 Aumento da pressão arterial;
 Aceleração dos batimentos cardíacos;
 Dores de cabeça;
 Alterações na visão;
 Coceira, ardência ou formigamento com aparecimento ou não de lesões da pele;
 Queda excessiva de cabelo;
 Insónia;
 Dor ou dificuldade para urinar;
 Mudanças na libido;
 Dificuldade de engravidar ou alterações do ciclo menstrual.
Diagnóstico

O diagnóstico é muitas vezes difícil e demorado, pois são necessários exames que
confirmem que não existe uma desordem no organismo e posteriormente é realizado o
encaminhamento para um psiquiatra. No entanto, outras especialidades médicas
também podem sugerir as doenças, através dos exames físicos e laboratoriais, que não
apresentam alterações.

Lista de doenças psicossomáticas

Como é possível perceber através dos sintomas listados acima, são muitas as formas e
apresentações das doenças psicossomáticas. Aqui citaremos algumas doenças que
podem surgir ou se agravar a partir de um trauma psicológico:

 Enxaqueca;
 Síndrome do Intestino Irritado;
 Alergias alimentares, respiratórias e/ou de pele;
63
 Gastrite;
 Impotência sexual;
 Infertilidade.
Complicações possíveis

O transtorno somatoforme prejudica a saúde e o bem-estar do indivíduo em diferentes


aspectos. Contudo, ainda que o afetado tenha consciência de que seu problema é de
caráter emocional, ele se sente incapaz ou não crê na possibilidade de reverter o
problema. Por conseguinte, o quadro só tende a piorar e, em alguns casos, esse
desequilíbrio mental pode até levar ao suicídio.

Além desse agravante, esse transtorno está relacionado também às complicações


seguintes:

 Alcoolismo;
 Desajustes conjugais ou familiares;
 Uso casual ou abuso de drogas ilícitas;
 Troca constantes de emprego ou desemprego;
 Estado geral de saúde ruim ou pouco saudável;
 Problemas para manter relacionamentos afetivos ou no ambiente de trabalho;
 Muita dificuldade para lidar com as intercorrências ou adversidades da vida
diária;
 Tendências a outros transtornos mentais, como ansiedade patológica, crises
depressivas ou múltiplos transtornos de personalidade;
 Risco maior para o suicídio induzido pela desmotivação quanto ao futuro ou
devido à ausência de resposta dos tratamentos contra a depressão;
 Acentuação de dívidas por causa de consultas excessivas para tratamentos
mentais ou para as doenças que julga ter.
Tratamento

A boa notícia é que esses distúrbios podem ser solucionados mediante intervenção
terapêutica adequada. A meta do tratamento é a reabilitação gradativa do estado
mental do paciente, de modo que ele consiga melhorar os principais sintomas e retome
a autonomia sobre a vida.
64
As metodologias mais indicadas para a reestruturação da saúde mental e física dos
pacientes com doenças psicossomáticas são:

Apoio psicológico

Como a maioria dos sintomas físicos podem estar vinculados ao desgaste psicológico e
a ansiedade e depressão de alto nível, a intervenção psicoterapêutica é a mais indicada
no início do tratamento.

O apoio psicológico é o ponto de partida para minimizar os desajustes emocionais que


alimentam a dor física. O profissional de psicologia direcionará a conduta para a
construção de um novo olhar sobre a expectativa do paciente em relação aos sintomas
físicos gerados por fatores emocionais.

Além de focar em medidas que auxiliem a redução do estresse, o tratamento visa


melhorar a funcionalidade diária em casa, nas relações pessoais, sociais e no trabalho.
Igualmente relevante é ajudá-lo a lidar com as mudanças de pensamento para superar
os desajustes resultantes desses distúrbios.

Tratamento psiquiátrico

Os remédios para controlar os sintomas dos transtornos somatoformes têm, entre


outras funções, ação antidepressiva. Assim, eles podem ajudar a diminuir os efeitos
relacionados à depressão e que expressam os sinais mais relevantes da doença.

Por isso, o acompanhamento psiquiátrico é fundamental para direcionar o tratamento e


avaliar a evolução do paciente. Outro ponto relevante é combinar alguns medicamentos
diferentes e complementares para aumentar a eficiência do tratamento.

Mudança no estilo de vida

Além do tratamento psicoterapêutico e das consultas ao psiquiatra, a reabilitação


mental necessária à melhoria das dores físicas exige mudanças no estilo de vida.

Mudar alguns hábitos, melhorar a qualidade do sono e a forma de pensar e de enfrentar


as adversidades da vida são medidas essenciais nesses casos. Tendo isso em vista, é
importante que a família e os amigos auxiliem o paciente, e atuem como um suporte
emocional para motivá-lo à reestruturação de sua saúde.
65
Prevenção

A prevenção de doenças psicossomáticas envolve toda forma que nos ajuda a lidar
com os problemas emocionais, seja através da psicoterapia ou de medidas naturais,
como meditação e fitoterápicos. A prática regular de atividades físicas, aliada a uma
alimentação saudável também é fundamental para a promoção do bem-estar e controlo
emocional.

66
ALCOOLISMO

Nem todo consumo de álcool configura o alcoolismo. Define-se o alcoolismo como o


consumo excessivo, duradouro e compulsivo de bebidas alcoólicas, o qual degrada a
vida pessoal, familiar, profissional e social do indivíduo. Diz-se que uma pessoa é
dependente do álcool quando ela não tem mais forças para interromper o consumo e,
se o interrompe, apresenta sintomas desagradáveis que cedem com o retorno ao
álcool. A esse fato chama-se abstinência.

Antes da dependência ocorre a tolerância, que é o fato de uma pessoa precisar de


doses cada vez maiores para produzir os mesmos efeitos que antes conseguia com
doses menores.

O álcool também pode ser consumido “socialmente” sem que a pessoa se torne
alcoólatra. Na verdade, dentro do consumo “social” de álcool deve-se considerar como
aspectos separados e clinicamente específicos:

1. O abuso do álcool, que é o consumo excessivo, mas episódico.

2. A intoxicação aguda ou embriaguez.

Ambas as situações podem gerar eventos desagradáveis e graves como alterações do


comportamento, coma, ataque epiléptico, acidentes de vários tipos, desastres
automobilísticos, etc.

Quanto ao alcoolismo propriamente dito, temos que considerar a dependência ao álcool


e a síndrome de abstinência do álcool, ambas com consequências muito deletérias.

O alcoolismo gera custos muito altos para os serviços de saúde em todo o mundo, além
de outros representados pela queda de produtividade, pois os alcoólatras têm os seus
rendimentos profissionais seriamente prejudicados ou ficam impedidos de trabalhar.

Causas

Em nosso meio, as bebidas alcoólicas são cada vez mais consumidas e até exaltadas e
as pessoas são introduzidas nelas cada vez mais cedo. É verdade que a maioria das
pessoas que consome bebidas alcoólicas não se torna alcoólatra, mas essa
disponibilidade aumentada estimula em muito o alcoolismo. Outros fatores sociais,
67
psicológicos e sobretudo genéticos, contribuem decisivamente para a instalação do
alcoolismo.

Fatores de risco

Alguns fatores de risco também podem estar associados ao consumo excessivo de


álcool.

Genes

Fatores genéticos específicos podem tornar algumas pessoas mais propensas a


desenvolver dependência de álcool e outras substâncias. Pode haver relação com o
histórico familiar.

Segundo Arthur Guerra de Andrade, psiquiatra e pesquisador da Faculdade de


Medicina da USP, quando alguém possui familiares com histórico de alcoolismo, pode
carregar geneticamente mais enzimas que metabolizam o álcool. Por causa disso, ao
longo da vida, essa pessoa pode beber muito mais do que outras para conseguir sentir
os efeitos da substância, sendo, portanto, mais suscetível a desenvolver o alcoolismo.

Idade

Um estudo sugeriu que as pessoas que começam a beber álcool antes dos 15 anos
podem ter maior probabilidade de ter problemas com o álcool mais tarde na vida.

Acesso fácil

Parece haver uma correlação entre fácil acesso ao álcool, como baixo custo, e abuso
da substância. Um estudo registou uma queda significativa nas mortes relacionadas ao
álcool depois que um estado norte-americano aumentou os impostos sobre o álcool. O
efeito foi encontrado quase duas a quatro vezes o de outras estratégias de prevenção,
como programas escolares ou campanhas na mídia.

Estresse

Hormônios do estresse estão relacionados ao abuso de álcool. Se os níveis de estresse


e ansiedade estiverem altos, a pessoa pode consumir álcool na tentativa de controlar a
agitação.

68
Depressão e ansiedade

Pessoas com depressão podem, deliberada ou inadvertidamente, usar álcool como


meio de autotratamento. Por outro lado, consumir muito álcool pode aumentar o risco
de depressão, em vez de reduzi-lo.

De maneira análoga, o álcool também é utilizado para lidar com o transtorno de


ansiedade. Durante a pandemia de coronavírus, por exemplo, uma pesquisa da
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) constatou que mais de 40% dos
entrevistados brasileiros relataram ter feito alto consumo de álcool entre os meses de
maio e junho de 2020. E a presença de quadros graves de ansiedade aumentou em
73% a chance de maior frequência no consumo.

No entanto, nessas situações, o uso das bebidas alcoólicas pode ser bastante
prejudicial. A substância altera os níveis de serotonina e outros neurotransmissores no
cérebro, o que pode piorar a ansiedade.

Consequências

O alcoolismo continuado leva a alterações dos padrões funcionais do fígado, do


aparelho digestivo, do coração, do sangue, dos músculos e das glândulas endócrinas.
Em sua evolução, o alcoolismo também leva a doenças físicas e psíquicas, algumas
das quais irreversíveis e que podem resultar em morte.

As doenças mais comuns associadas ao alcoolismo são a cirrose hepática, as


síndromes amnéstica, demencial, alucinatória e delirante, além de ansiedade, distúrbios
sexuais, alterações do sono, etc. O alcoolismo também aumenta a predisposição a
outras doenças, como às infecções. Por fim, o quadro clínico mais grave da
abstinência, pode terminar pela morte.

O consumo crônico do álcool por prazo muito longo acaba por levar a mudanças
psicológicas profundas, entre as quais aquelas que incluem alterações dos padrões
éticos e emocionais da pessoa, deterioração das relações familiares e sociais e
descaso com as tarefas laborativas. O alcoólatra (e às vezes mero usuário o não
alcoólatra) pode ter um comportamento violento e até mesmo criminal.

69
Tratamento

O tratamento do alcoolismo está predestinado ao fracasso se o próprio alcoólatra não


engajar- se nele, o que não acontece, na maioria das vezes. Depois de instalada, a
dependência pelo álcool é de muito difícil tratamento. O tratamento principal consiste
em exortar o alcoolista a parar de beber, ao mesmo tempo dando-lhe apoio.

As psicoterapias individuais são pouco efetivas. As de grupo oferecem melhores


resultados. Um movimento leigo, denominado alcoólicos anônimos, parece oferecer
resultados ainda melhores. Este grupo existe há mais de 76 anos e em vários países ao
redor do mundo.

Quanto aos remédios, até muito recentemente não se tinha nenhuma medicação
visando diminuir o desejo pelo álcool. Muito recentemente três substâncias,
nomeadamente a naltrexona, a ondansetrona e o acamprosato, vêm sendo testadas
com esse objetivo, mas são de uso muito recente e ainda não contam com uma
experiência inquestionável.

No entanto, muitos alcoólatras não conseguem conter o desejo pelo álcool e acabam
por interromper a medicação. Alguns nem mesmo conseguem esperar pela eliminação
dele e, ingerindo o álcool, experimentam os sintomas desagradáveis que a associação
acarreta.

Prevenção

Ter atividades de interesse em que o álcool não seja contemplado é uma das formas de
prevenir o alcoolismo, bem como encontrar formas alternativas de relaxar e lidar com o
stress.

Existem algumas indicações que podem ser úteis na prevenção do alcoolismo. São
elas:

 Escolha um dia para deixar de beber e confine o consumo de álcool a situações


específicas;

 Não tenha bebidas alcoólicas em casa;

70
 Evite situações de risco nas quais achas que vai acabar por beber mais do que a
conta;

 Aprenda a dizer não quando lhe oferecem bebidas;

 Faça um diário onde anota as suas metas (previstas e alcançadas);

 Consulte um profissional e procure ajuda terapêutica para perceber o que motiva


o consumo de álcool e encontrar meios alternativos de lidar com as situações
causadoras de ansiedade.

TOXICOMANIA

A dependência química é definida como um conjunto de fenômenos comportamentais,


cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de determinada
substância. A dependência pode dizer respeito a uma substância psicoativa específica
(por exemplo, o fumo, o álcool ou a cocaína), a uma categoria de substâncias
psicoativas (por exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais vasto de
substâncias farmacologicamente diferentes. (10ª edição da Classificação Internacional
de Doenças (CID-10), Organização Mundial da Saúde (OMS).

Devido às mudanças que causam no cérebro, os usuários que o desenvolvem precisam


consumir uma dose maior. Isso vai tão longe quanto a pessoa não pode se controlar.

Causas

Não há um único fator que cause todos os casos de dependência de drogas. Pelo
contrário, na maioria das vezes haverá certos riscos que tornarão esse resultado mais
provável. Em geral, as possíveis causas são divididas em três tipos: psicológico, social
e genético.

Entre os psicológicos, encontramos fatores como a presença prévia de um transtorno


mental, falta de conexão com os outros ou problemas relacionados à dificuldade de
enfrentar o estresse e emoções desagradáveis.

Por outro lado, as causas sociais são as mais estudadas. Estes incluem alguns, como
pressão de um grupo, falta de recursos financeiros ou má educação sobre os riscos de
drogas.
71
Finalmente, as causas genéticas referem-se a certos componentes hereditários que
têm sido mostrados para desempenhar um papel no surgimento de problemas de abuso
de substâncias. Assim, algumas pessoas estariam mais predispostas desde o
nascimento para se tornarem viciadas.

Sintomas

Cada droga causa efeitos diferentes dependendo do tipo da droga e da pessoa que as
consome. No entanto, existem alguns sintomas comuns que podem nos ajudar a
identificar quando alguém está caindo em um vício dessas substâncias.

Em geral, eles podem ser divididos em dois tipos: físico e comportamental.

Sintomas físicos

Sintomas físicos podem ser mais complicados de detectar do que sintomas


comportamentais. No entanto, eles podem nos dar pistas para descobrir se alguém
próximo a nós está caindo no vício em drogas.

Dentro desses tipos, os mais perigosos são aqueles que têm a ver com o
funcionamento interno do corpo. Geralmente é impossível detectá-los a menos que
testes médicos específicos sejam feitos. No entanto, é importante estar ciente deles.

Assim, por exemplo, drogas podem causar alterações no cérebro, hormônios ou órgãos
internos do corpo. Além disso, como são substâncias tóxicas até certo ponto, a saúde
geral vai piorar. No caso de algumas drogas, até mesmo uma overdose pode levar à
morte do consumidor.  

Quanto aos sintomas externos, eles geralmente são mais fáceis de detectar, mas muito
menos graves. Assim, entre eles podemos encontrar mudanças bruscas de peso,
vermelhidão dos olhos, queda de cabelo ou dentes, ou feridas nas partes do corpo
pelas quais ocorre a entrada da droga.

Sintomas comportamentais

Os sintomas comportamentais são frequentemente os mais fáceis de detectar entre as


pessoas que sofrem de dependência de drogas. Abaixo veremos os mais comuns:

72
Dificuldade de concentração

Todas as drogas alteram a capacidade e a função do cérebro. Portanto, tanto seus


efeitos imediatos quanto os da síndrome de abstinência podem causar sérias
dificuldades na manutenção da concentração.

Isso pode resultar, por exemplo, na incapacidade de prestar atenção prolongada a uma
coisa, ou na dificuldade em formar pensamentos coerentes.

Aumento da agressividade ou irritabilidade

Outro dos sintomas mais comuns de abuso de drogas é a agressividade anormal.


Mesmo para pessoas que normalmente são calmas e calmas, o vício em drogas pode
transformá-los violentos e levá-los a ataques de raiva.

Mudanças de personalidade

Por causa de mudanças no cérebro, as drogas podem alterar a forma como uma
pessoa se relaciona com o mundo ou a maneira como pensa.

Portanto, pessoas próximas a um viciado notarão como ele se comporta de maneiras


muito diferentes daquelas que são comuns nele.

Transtornos mentais e emocionais

Finalmente, um dos sintomas mais graves envolvendo abuso de drogas é o surgimento


de todos os tipos de transtornos psiquiátricos.

Estes podem variar desde os mais comuns, como depressão ou ansiedade, até os
muito mais graves, como transtornos de personalidade ou esquizofrenia.

De qualquer forma, o surgimento de um transtorno mental pode ser difícil de reverter.


Por isso, é importante reduzir o vício em drogas a tempo. Pessoas próximas a um
viciado devem ajudá-lo a buscar o apoio de um profissional o mais rápido possível.

Tipos

Abaixo você encontrará uma descrição das famílias de drogas mais comuns e alguns
de seus efeitos.
73
Estimulantes

Estimulantes são um conjunto de drogas que causam aumento de energia e euforia.


Entre seus efeitos colaterais mais comuns estão paranoia, ansiedade, problemas
cardíacos e depressão.

Alguns dos estimulantes mais conhecidos são cocaína, anfetaminas e ecstasy.

Depressivos

Depressores do sistema nervoso causam uma sensação artificial de relaxamento e


calma. Alguns deles são usados como medicamentos, mas muitos são abusados na
forma de drogas. Os mais comuns são álcool, maconha e benzodiazepínicos.

Alucinógenos

Drogas alucinógenas não costumam causar vício físico. No entanto, seus efeitos na
mente podem se tornar muito perigosos. São drogas que causam a perda da noção de
realidade em maior ou menor grau.

Algumas das substâncias mais comuns desse tipo são LSD (Dietilamida do Ácido
Lisérgico), cogumelos mágicos, peiote ou ayahuasca. Seus efeitos colaterais podem
incluir paranoia extrema, ansiedade ou alucinações recorrentes. A maconha também
tem certos efeitos alucinógenos.

Dissociativa

Esse tipo de droga faz com que o usuário sinta que se separa do próprio corpo. Assim,
você terá a sensação de se observar de fora. Por outro lado, eles também causam um
certo componente de relaxamento.

Seus efeitos colaterais mais graves são transtornos de humor, tendências suicidas,
evasão social e problemas de fala. Entre os mais conhecidos estão cetamina e PCP
(fenciclidina).

Opioides

74
O grupo opioide contém algumas das drogas mais perigosas do mundo. Seus efeitos de
curto prazo são uma sensação intensa de euforia e redução da dor, seguido por
sintomas extremamente desagradáveis quando a dose é passada.

A mais conhecida delas é a heroína, embora a morfina, uma droga usada no tratamento
de alguns problemas médicos, também pertence a esse grupo.

Seus efeitos colaterais são vício extremo, dor severa, problemas de concentração e
perda de faculdades mentais.

Inalantes

O último grupo de drogas inclui uma série de substâncias que são consumidas pela
sucção dos vapores que liberam. Eles também são conhecidos como "poppers".

Alguns de seus efeitos mais comuns são o aumento da excitação e do prazer sexual, e
uma sensação de relaxamento momentâneo.

A longo prazo, o uso de inalantes pode causar danos cerebrais, desgaste do septo
nasal, alucinações ou perda de memória.

Tratamentos

Existem muitas abordagens que podem ser usadas para tratar o vício em drogas.
Alguns deles envolvem o uso de medicamentos. Em vez disso, outros decidem se
concentrar no tratamento dos aspectos mentais ou sociais do vício em drogas.

Terapia cognitivo-comportamental

A terapia cognitivo-comportamental é uma das mais eficazes no tratamento de todos os


tipos de transtornos. Baseia-se na modificação de certos comportamentos
problemáticos, bem como nos pensamentos que os provocam.

Intervenção social

Uma abordagem muito eficaz para o tratamento do vício em drogas é a intervenção


social. Baseia-se no estudo do ambiente do viciado em drogas, a fim de modificá-lo
para que o uso de substâncias viciantes não faça mais sentido em sua vida.

Medicação

75
Finalmente, em alguns casos, a medicação pode ser usada para aliviar os sintomas
mais graves da síndrome de abstinência de uma droga.

Isso pode ajudar a pessoa a deixar a substância por conta própria. Em outros casos, no
entanto, essa abordagem deve ser acompanhada por algum outro tipo de terapia.

Prevenção

Não existe um modelo ideal e único de programa, e sim diferentes possibilidades de


abordar estas questões. O que se percebe é que terão mais sucesso as ações que
contemplam abordagens multidisciplinares, ou seja, trabalho e estudo de profissionais
de diversas áreas e especialidades.

Em relação à prevenção de novas recaídas, sugere-se que o paciente mantenha


sempre o acompanhamento com profissionais especializados e que sempre avaliem a
proposta terapêutica, verificando a necessidade de ajustes. Ainda, participar de
sessões de psicoterapia (principalmente com abordagens comportamentais) podem
oferecer estratégias para que o indivíduo consiga lidar com situações de alto risco ou
forte desejo de consumir a substancia, além de maneiras de evitar e prevenir recaídas.

EPILEPCIA

A epilepsia é uma doença cerebral que se manifesta por convulsões e perda dos
sentidos devido ao mau funcionamento ou alteração temporária do cérebro (espécie de
curto circuito que acontece no cérebro e se espalha para todo o corpo).

Causas

As principais causas da epilepsia são:

 Lesão no cérebro (decorrente de uma pancada forte na cabeça acidente ou no


momento do parto);
 Por uma infecção (meningite ou HIV);
 Consumo abusivo de bebidas alcoólicas;
 Malformação durante a gestação;
 Consumo de drogas ou outras substancias;
 As vezes algo que ocorre antes ou durante o parto (falta de oxigénio);

76
 Pode ser de causa desconhecida etc.
Manifestação

Há três tipos de manifestações:


1. Parcial ou complexa - a pessoa anda sem direção (como louco), falando de modo
involuntário, falta de controlo dos atos, alucinações, fazendo movimentos automáticos,
mastigando e depois da crise não se lembra do que aconteceu;

2. Convulsional ou ataque – a pessoa pode cair ao chão, apresenta contrações


musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração
ofegante, perda de consciência, as vezes urina;

3. Ausencial ou Desligamento – a pessoa fica com olhar fixo, perda de contato com
meios por segundos por isso muitas vezes fica desconhecida por familiares e
professores.
Tipos
a) Convulsional ou ataque – a pessoa pode cair ao chão, apresenta contrações
musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração
ofegante, perda de consciência, as vezes urina.

b) Ausencial ou Desligamento – a pessoa fica com olhar fixo, perda de contato com
meios por segundos por isso muitas vezes fica desconhecida por familiares e
professores.

c) Parcial complexa - a pessoa anda sem direção (como louco), falando de modo
involuntário, falta de controlo dos atos, fazendo movimentos automáticos, mastigando e
depois da crise não se lembra do que aconteceu.

Diagnóstico e tratamento

Só o médico pode diagnosticar e tratar a doença. Nem sempre tem cura, porém pode
se tomar os medicamentos por toda a vida. Alguns medicamentos têm sido,
carbamazepina, meprobamato etc. Nunca interromper a medicação.

Aconselhamento (cuidados) a ter em conta antes e durante as crises

Antes da crise

77
 Não é aconselhável passar a noite num quarto com iluminação intensiva e mau
cheiro;
 Não é recomendável cozinhar nem conduzir sem autorização do médico;
 Não ouvir música muito alta ou estar em locais com muito barulho, não usar
auricular; não passar a noite com o rádio a tocar;
 Não ingerir bebidas alcoólicas ou drogas e bebidas energéticas ou com
cafeína…;
 Não usar medicamentos sem a prescrição médica;
 Não frequentar ou permanecer em lugares com luzes coloridas;
 Não frequentar rios, piscina, praia e lugares muito agitados;
 Não suportar altas temperaturas (sol muito ardente);
 Não fazer muita leitura cansando a mente;
 Não ficar em frente da TV longas horas;
 Praticar exercícios físicos ligados ao bom nível de vida ajuda na autoestima;
 Deve se tomar o remédio corretamente (hora certa, quantidade certa, sem parar)
seguindo a orientação do seu médico;
 Ter uma dieta balanceada (muitas frutas, sumos naturais e pouca gordura);
 Dormir o suficiente pelo menos 8 horas por noite evitando perder sono;
 Evitar vida ou ambiente estressante demais. Deve se procurar formas de
descontrair divertir se, passear, realizar atividade úteis de modo a ocupar o
tempo, ser motivado e optar pela inclusão em vez de exclusão;
 Não recorrer a igrejas ou outras situações ligadas a orações porque gritos e
muito barulho além de atrofiar o indivíduo, pode fazer crer a pessoa afetada
sentimentos de pânico relacionado a existência de espírito maligno no
organismo;
 Controlar os níveis de açúcar, peso, colesterol.
Durante a crise

 Durante o ataque não bater, não jogue água sobre ele, não privar os membros,
não dar medicamento, deve estar deitada, deve se proteger a cabeça para não
embater em algum lugar;
 Deve se desabotoar os primeiros botões da roupa para não se sufocar;
78
 Nunca segure a pessoa (deixe – a debater-se) até parar, mas só se for num
lugar livre de objetos. Retirar de perto objetos que podem machuca-lo;
 Deve se colocar a pessoa deitada de costas, deve se colocá-lo num lugar
confortável;
 Caso esteja babando vire a cabeça na posição lateral para evitar sufoco;
 Depois da crise deixe a pessoa a descansar.

Cuidados a se ter com a grávida

 Marcar a primeira consulta pré-natal para dar a conhecer aos especialistas


(medico obstetra, neurologista ou psiquiatra) para um acompanhamento durante
a gestação;
 Evitar ficar ou dormir sozinha sobre tudo no último trimestre de gravidez e
durante a amamentação;
 As crises podem aumentar ou diminuir com frequência no 3 trimestre (próximo do
parto) devido ao aumento do peso, alterações hormonais e aumento do
metabolismo;
 Este tipo de gravidez é de alto risco (para a mãe ou o bebe) porque pode alterar
(afetar) o sistema nervoso por isso deve se monitorar os níveis de estresse;
 A grávida precisa de estar preparada para este desafio, ou seja, estar consciente
desta realidade porque durante a gestação as crises podem aumentar ou
diminuir;
 A tomada de medicamento não pode ser suspensa por causa do medo de afetar
o bebe, mas altera e não se toma sem orientação médica;
 Precisa saber que a doença do bebé não afeta a mãe, mas o medicamento da
mãe pode afetar o bebé por isso é que tem de ser acompanhada;
Exemplo de riscos: perda de oxigénio, problema cardíaco, malformação, baixa peso...;

A ária afetada tem sido o lobo temporal, neocortical.

O ataque tem uma duração de 3 a 5 minutos nem sempre existe premeditações. Não é
contagiosa pode ter contanto com a saliva ou com o paciente.

79
UNIDADE IV - ESTUDO DAS DOENÇAS E DOS DOENTES MENTAIS E SUA
ASSISTÊNCIA

80

Você também pode gostar