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PSICOFARMACOLOGIA
1.1 Psicologia
A Psicologia tem suas raízes na Filosofia e só mais tarde foi definida como
disciplina isolada, com seu próprio edifício teórico. Cabia à Filosofia estudar a natureza
humana e suas questões mais profundas por meio de especulações e intuições sobre
a natureza da alma. Eram filósofos, a exemplo de Sócrates, Platão e Aristóteles, que
se ocupavam das questões anímicas humanas e de assuntos como processos de
memória, aprendizagem, motivação, pensamento, percepção, comportamentos e suas
alterações (Schultz; Schultz, 2019).
Com o advento da psicologia moderna, o método científico baseado na
experimentação começou a ser aplicado para responder às questões antes
abordadas pela Filosofia. Gradualmente, os métodos de pesquisa foram
sabiamente aplicados no ensino e nas pesquisas. Os laboratórios de Psicologia
inauguraram a psicologia experimental e começaram a se proliferar, sendo o
primeiro em Leipzig (1879), onde se situava a mais antiga universidade da
Alemanha (Schultz; Schultz, 2019).
Wilhelm Wundt, na Alemanha, foi quem marcou a história da Psicologia
nos laboratórios científicos, enquanto Darwin, na Inglaterra, fazia um corte entre
a ciência e o dogma religioso com o evolucionismo. Na França, a influência de
Augusto Comte propunha que se depositasse toda a fé na ciência. Em conjunto,
esses fatos alteraram todo o espírito de uma época e marcaram a visão de
mundo dos pensadores da era (Schultz; Schultz, 2019). Na Áustria, Freud
aplicava a Teoria da Hipnose desde 1887; mais tarde, usou o método catártico
de Breuer e iniciou a Psicanálise, que tomaria um rumo distinto de investigação.
Afetada pelo nazismo, a busca pela verdade do inconsciente psicanalítico
migrou para os Estados Unidos, como muitos outros movimentos da Psicologia
na época de Hitler.
1.2 Farmacologia
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histórico do Papiro de Smith (1600 a. C). Galeno, na Grécia Antiga é, no entanto,
considerado o pai da farmácia e também da psicossomática. Foi ele um dos
primeiros pensadores a refletir sobre os humores humanos e usar o poder
curativo das plantas. Também considerou a necessidade de sistematizar e tratar
os temperamentos, bem como os correlacionou as com doenças do corpo.
A farmacologia consiste no estudo da interação entre substâncias
químicas com organismos viventes, mas, Segundo Whalen et al. (2020), pode
ser definida como a experiência e sistematização teórica no uso de
medicamentos para controle e tratamento de doenças. Os recursos químicos
tendem a ser usados sempre que pacientes apresentam sintomas graves ou
incapacitantes que não possam ser manejados com mudanças
comportamentais. A última estratégia de tratamento seria lançar mão de
métodos invasivos, como cirurgias.
Alguns nomes da fisiologia foram importantes para a aplicabilidade da
farmacologia na área psiquiátrica. Um deles foi o alemão Johannes Müller (1801-
1858), da Universidade de Berlim, que estabeleceu a teoria sobre a energia
específica dos nervos, já introduzindo a visão das transmissões nervosas, tão
importante para a fisiologia e a Psicologia.
A vertente química que se ocupa dos tratamentos dos transtornos mentais
é a psicofarmacologia e cabe a ela o controle dos sintomas e dos transtornos
mentais. Para tal, é necessário conhecer a anatomia e fisiologia do Sistema
Nervoso (SNC), bem como a psicopatologia.
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específicos, como ocorre a incidência sobre as faixas etárias, quais são as taxas
de mortalidade causadas pelos transtornos mentais.
Os transtornos psiquiátricos passaram por uma evolução em suas
nomenclaturas e classificações e foram se transformando pela perspectiva da
doença mental. Até chegar à visão de Emil Kraeplin, que ainda mostra
influências na categorização nosológica das doenças mentais, houve um
universo de sofrimento sem nome.
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pouco tempo atrás, um misto de método punitivo com afastamento de
estressores.
Acreditou-se durante muito tempo que crises epilépticas eram
incompatíveis com sintomas mentais graves advindos da esquizofrenia. Por
conta dessa incompatibilidade, instalou-se o tratamento por coma induzido. Isso
era feito por meio da insulina ou pela febre provocada por contaminação pela
malária. Este último método rendeu um Prêmio Nobel, em 1927, a Julius Wagner
von Jauregg; ele colocou sangue contaminado de um soldado em pacientes com
estado avançado de demência sifilítica.
A cadeira bergônica foi a precursora da eletroconvulsoterapia (ECT) e seu
registro é da época da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O princípio
funcional era o mesmo da indução de convulsões, como o chamado
eletrochoque, que em seus moldes computadorizados recebe o nome de
eletroconvulsoterapia. A contenção no leito manteve-se até o século passado e a
exposição ao sereno era um modo de inibir o sono para induzir o fim de um
episódio depressivo com hiperestimulação cerebral.
O movimento da psicocirurgia corria em paralelo e, em 1935, surgiu a
lobotomia frontal ou leucotomia. O médico Português Egas Moniz mostrou que
perfurar o crânio frontalmente e aplicar uma injeção de etanol destruiria as fibras
que conectavam o lobo frontal com outras partes do cérebro. Com esse
procedimento os sintomas incontroláveis de agressividade e rebeldia se
dissipavam. Esse método veio ao Brasil e foi largamente combatido pela
psiquiatra Nise da Silveira, história retratada no filme Nise – o coração da
loucura, de 2016. O Dr. Egas Moniz, no entanto, recebeu um Prêmio Nobel
(1947) por furar o cérebro de esquizofrênicos com um picador gelo (Shorter,
1997; Caponi, 2012).
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Mais tarde, outras tentativas foram feitas com cocaína e heroína, mas
com resultados também ineficientes. O interessante é observar que muito antes
de serem descobertas as morfinas endógenas e os receptores opioides no
cérebro, bem como receptores nicotínicos e muscarínicos, alcaloides já estavam
sendo testadas para alterar o funcionamento dos neurônios. Em 1912, surgiu o
fenobarbital, com o nome comercial de Luminal, um remédio aceito pela clínica,
e usado como medicação para convulsão de forma eficaz. Foi somente no início
dos anos 1920 que Otto Loewi, professor de Farmacologia da Universidade de
Graz, isolou o primeiro neurotransmissor. E apenas em 1926 foi descoberto o
papel da acetilcolina na transmissão de um impulso nervoso. Tudo era testado
com base em experimentação e observação dos efeitos químicos sobre
respostas comportamentais.
O azul de metileno, que mais tarde deu origem à fenotiazina usada como
antipsicótico, já havia sido desenvolvido como corante desde 1883, e o lítio já
utilizado como tranquilizante desde 1922. Os anti-histamínicos surgiram em
1937 e foram experimentados com poucos resultados em pacientes psicóticos
(Shorter, 1997; Caponi, 2012). Assim, seguiram-se as descobertas até 1956,
quando a primeira droga de ampla fama foi desenvolvida e recebeu o nome de
Miltown®, o meprobamato. Ele foi vendido para tratar a ansiedade, com efeito
hipnótico, sedativo e propriedades relaxantes musculares. Muitos efeitos
colaterais foram precipitados e a nova medicação não apresentou vantagens
sobre as já existentes na época, os barbitúricos.
Somente no ano de 1963 a indústria farmacêutica Roche investiu fortunas
no desenvolvimento do Valium: foram oito anos de pesquisas e gastos que
superaram os 17 milhões de dólares para desenvolver um ansiolítico, relaxante
muscular e anticonvulsivante. Valium tornou-se uma das medicações mais
vendidas, como se a ansiedade tivesse sido fabricada com ele (Shorter, 1997;
Aguiar; Ortega, 2017; Slater, 2018).
2.1.2 Diagnósticos
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publicou a primeira versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças
Mentais (DSM-I). Nele havia 106 categorias diagnósticas.
Na terceira revisão do DSM, lançado em 1980, o número de categorias
diagnósticas subiu para 265 – todas fundamentadas em critérios na medicina
baseada em evidências, que foca sempre o paciente, mas é baseada em
estudos com metodologia científica, análise dos resultados obtidos e
comprovação da aplicabilidade prática desses resultados. A ênfase era na
descrição de entidades nosológicas e o direcionamento sempre para o
tratamento farmacológico do sofrimento humano (Lopes, 2000). O marketing
passou a investir em publicações de psiquiatras de renome patrocinados por
laboratórios, termos específicos da área científica e amostras grátis distribuídas
entre os profissionais para angariar pacientes.
Atualmente, o DSM está em sua quinta edição, mas ainda mantém seus
fundamentos nas características e critérios diagnósticos dos transtornos
mentais. As informações fornecidas pretendem apontar para diagnósticos que
indiquem tratamentos e decisões de manejo dos quadros apresentados.
Ocorreram mudanças substanciais em relação à última versão, de 2000, que
apresentava o diagnóstico multiaxial já desde a terceira edição, referente aos
três primeiros eixos referentes à doença clínica-psiquiátrica: Eixo I – Síndromes
da clínica psiquiátrica; Eixo II – Transtornos de personalidade e o retardo mental;
Eixo III – Perturbações orgânicas; Eixo IV – Estressores psicossociais; Eixo V –
Funcionamento adaptativo antes do diagnóstico.
Na versão mais recente, de 2013, a abordagem é uniaxial, espectral e
com novas categorias incluídas. Algumas nomenclaturas caíram em desuso para
priorizar a visão do continuum das doenças. Outra novidade é a possibilidade de
graduar a gravidade do diagnóstico por meio de gráficos, como o Gráfico de
Dimensões da Severidade dos Sintomas da Psicose apresentado em escala
likert de cinco pontos. Também aborda assuntos culturais relacionados a
diagnósticos e lista traços de personalidade patológica.
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transtornos de personalidade esquizofreniforme, esquizotípica e esquizoafetiva;
também inclui os transtornos psicóticos induzidos por substâncias ou por outras
condições médicas. O grupo das ansiedades abarca a ansiedade de separação
e o mutismo seletivo, as fobias, a ansiedade social, o pânico, a agorafobia, a
ansiedade generalizada, a ansiedade quando induzida por medicações ou
substâncias e outras ansiedades não especificadas.
Cada transtorno descrito é abordado por meio de itens que facilitam a
conduta diagnóstica, prognóstica e terapêutica do consultante. São eles: critérios
diagnósticos que identificam presença do transtorno; características diagnósticas
que fundamentam e explicam critérios detectados; características associadas ao
transtorno e que apoiam o diagnóstico, como história familiar e adaptações
individuais às características do transtorno; características do desenvolvimento
da doença e do curso evolutivo do problema; indicação dos fatores de risco que
predispõem o desenvolvimento do transtorno; prognóstico, isto é, possibilidades
de evolução com tratamento adequado e curso da doença sem tratamento;
diagnóstico diferencial da doença em relação a outras similares e que podem
conduzir a tratamentos e condutas equivocadas; e as possíveis comorbidades
entre um transtorno e outro. Existem, porém, dificuldades diagnósticas que serão
abordadas no item 2.1.5. Os manuais descritivos estão sempre em estado de
revisão e construção e suscetíveis às influências culturais e sociais.
Nos últimos 25 anos, importantes mudanças da interação cérebro-
máquina têm ocorrido. São os resultados do contato íntimo das crianças com a
internet, as mídias sociais e a inteligência artificial. Alterações nas relações
interpessoais mudaram a forma com que o cérebro processou informações,
pensamentos, afetos e condutas e parece ter piorado quadros psicopatológicos
já existentes como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e autismo.
Além disso, o atraso na maturação necessária do cérebro predispõe à
desregulagem emocional e à falta de controle Inibitório que dependem do córtex
do lobo pré-frontal. Esses fatos estão prestes a criar um novo diagnóstico:
transtorno por uso de internet, ou algo do gênero (Browne et al., 2021).
O DSM-5 tem em média 297 doenças, em que se encontram apenas 10
tipos de transtornos de personalidade, em 3 grupos baseados em características
semelhantes. Também foram alteradas algumas nomenclaturas em relação ao
DSM-IV-R e acrescentou outros diagnósticos. Já foi amplamente criticado o fato
de que ao criar um diagnóstico, cria-se uma legião de pessoas doentes e um
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mercado de venda para a indústria farmacêutica – um ciclo que se retroalimenta
positivamente. Assim foram as epidemias de depressão; transtorno bipolar;
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e autismo (Rezende, Pontes e
Calazans, 2015).
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compulsivos, transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados, nos
quais estão desde a intensidade mais leve até a mais pronunciada das doenças
com as mesmas características (Câmara e Câmara, 2017). Nessa categoria,
encontram-se o transtorno obsessivo-compulsivo, que pode ser ou não
relacionado a tique; o transtorno dismórfico corporal, que pode ou não estar
relacionado à dismorfia muscular; o transtorno de acumulação, que pode
apresentar-se com ou sem aquisição excessiva; a tricotilomania (transtorno de
arrancar o cabelo) e tantos outros.
Dada a semelhança entre as categorias e a inclusão de sintomas
semelhantes, é perfeitamente considerável que o profissional confunda os
critérios, bem como tenda a classificar como obsessivo-compulsivo ou transtorno
relacionado, qualquer pessoa que tenha nuances de rituais, organização e gosto
por compras, acompanhado de algumas preocupações. Por outro lado, a
ressonância magnética funcional mostrou que áreas cerebrais são
compartilhadas por alguns transtornos e que é fato que eles se sobrepõem,
mesmo fazendo parte de categorias diferentes. Teremos que aguardar, mas não
passivamente, novas versões do DSM.
2.1.6 Tratamento
TEMA 3 – PSICOTERAPIA
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nas pesquisas qualitativas, e verificou que existiam padrões de pensamentos
que se repetiam. Constatou que havia interação entre a percepção e a formação
da cognição, ou seja, a interpretação que cada cliente fazia de suas experiências
de vida. Também observou o quanto pensamentos intrusivos e emoções
apareciam quase simultaneamente diante de situações gatilho e que eram esses
os determinantes do comportamento emitido. Ao reconhecer a possibilidade de
alterar o comportamento pela alteração da cognição, Aaron Beck deu início ao
movimento de abordagem cognitiva (Knap, 2004).
TEMA 4 – FARMACOTERAPIA
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o comportamento. A psicofarmacoterapia aplica essas substâncias com fins
terapêuticos (Whalen, Finkel e Panavelil, 2016).
Amitriptilina Carbamazepina
(Triptanol, Neurotrypt) (Tegretol) Trans. disrrup.
Dor/distr. simpática intermitente
reflexa/nevr. do trigêmeo
Desipramina Oxcarbazepina
(Norpramin) (Trileptal)
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Nortriptilina Lamotrigina
(Pamelor) (Lamictal)
Doxepina Topiramato
(Aponal, Sinequal) (Amato, Topamax) Enxaqueca,
álcool, tabaco, alimentação
Trazodona Pregabalina
(Donaren) (Lyrica, Proleptol)
Sono, sexualidade Dor
Agomelatina Gabapentina
(Valdoxan) (Neurontin)
Dor neuropática
Figura 1 – IMAOS
Duloxetina Clorpromazina
® ®
(Cymbalta , Cymbi ) (Amplictil®)
Fluvoxamina Haloperidol
® ®
(Zoloft , Revoc ) (Aldol®)
Mirtazapina Fenotiazinas
(Remeron®, Menelat®) (Exercem efeito sedativo e miorrelaxante, bloqueiam a
neurotransmissão de serotonina e dopamina no SNC)
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Reboxetina Flufenazina
(Prolift®) (Permitil®, Prolixim®)
Vortioxetina Pimozida
(Brintellix )®
(Orap®) Tique – não usar com recap. de serotonina
Bupropiona Clorpromazina
(Wellbutrim®, Seth®) Sedativo
Quetamina Zuclopentixol
®
(Esketamine ) Clopixol (Lundbeck);
Clopixol Acuphase (Lundbeck)
Vilazodona Amisulprida
(Viibryd®) Sedativo
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4.3 Estimulantes do sistema nervoso
Segunda escolha: caso o primeiro estimulante não tenha obtido o resultado esperado, deve-se
tentar o segundo estimulante.
Terceira escolha
Atomoxetina Strattera
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para congressos. Essas permutas por conta da medicalização de pessoas não
existem na Psicologia, que pouco se beneficia em atribuir faixas com
nomenclaturas aos seus clientes (CFP, 2012).
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Na década de 1960 o padrão de beleza era Twiggy Lawson, a mulher magra,
loura e com roupas soltas. Com ela inaugurou-se uma geração de anorexia e bulimia
nervosas em prol do corpo perfeito. Mais tarde, as fórmulas emagrecedoras uniriam
numa só capsula estimulantes derivados de anfetamina e o famoso Diazepam: foi uma
geração lotada de magras adictas ou com transtorno alimentar.
O risco de adição aos benzodiazepínicos fez com que muitos médicos
endocrinologistas ou não começassem a substituir o Diazepam pela Fluoxetina
na década de 1980. Esta última, o famoso Prozac®, era a pílula da felicidade,
tirava a ansiedade e havia surgido no mercado como tratamento para a bulimia
nervosa. Pouco se sabia sobre o transtorno do comer compulsivo, e fórmulas e
mais fórmulas foram vendidas com psicofármacos associados, mas nunca com
objetivo de tratar uma psicopatologia e, sim, com foco na estética corporal.
Hoje, mais antidepressivos e anticonvulsivantes são usados of label, isto
é, fora da recomendação da bula, com o intuito de controlar a ingesta alimentar.
Assim, a Bupropiona (originalmente lançada para auxiliar a cessação ao
tabagismo) e o Topiramato (originalmente uma medicação anticonvulsivante)
começaram a ser prescritos por clínicas de emagrecimento, clínicas de
tratamento e cirurgia bariátrica e psiquiatras. A mesma Bupropiona também veio
com a promessa de menor chance de virada maníaca em bipolares e melhora da
libido. No campo da aprendizagem e memória, o metilfenidato começou a ser
usado por crianças que davam trabalho na escola e não se concentravam na
aula. Mas muitos candidatos a concursos passaram a fazer uso da droga para
aumentar a carga horária de estudo.
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celulares e videogames, jovens e crianças estão hiper-reativos, não
desenvolvem habilidades sociais e estratégias de regulagem emocional.
Paralelamente ao contexto favorável, diagnósticos psiquiátricos da
infância e adolescência começaram a ser explorados e divulgados e laboratórios
desenvolveram medicações mais específicas e mais caras para cada transtorno
descrito nos compêndios de psiquiatria. Segundo Amarante (2017), o DSM-5
introduziu o transtorno disruptivo de desregulação do humor. Ele ocorre em
crianças a partir dos seis anos de idade e seus sintomas incluem ataques de
raiva frequentes e graves, desproporcionais à situação, com atitudes destrutivas
ou agressivas a pertences de outros. Para o autor, não demorará a acontecer o
que ocorreu com TDAH ou bipolaridade, que tiveram um boom de vendas
farmacêuticas.
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5.3 Medicalização e marketing
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REFERÊNCIAS
LOPES, A. A. Rev. Ass. Med. Brasil. 2000. v. 46, ano 3, p. 285-288. Disponível
em: <https://www.scielo.br/pdf/ramb/v46n3/3089.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2021.
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LOPES, C. DSM-5: a decomposição da psiquiatria da subserviência. 2013. Hora
do Povo. Disponível em: <https://horadopovo.com.br/dsm-5-a-decomposicao-
da-psiquiatria-da-subserviencia/>. Acesso em: 25 abr. 2021.SHORTER, E. A.
History of Psychiatry. From the Era of Asylum to the Age of Prozac. 1997.
MONTAG et al. Journal of Behavioral Addictions JBA. 2020, v. 9, ano 4, jan. 2021.
p. 920-923. Disponível em: <https://akjournals.com/view/journals/2006/9/4/article-
p920.xml>. Acesso em: 25 abr. 2021.
SLATER, L. The Drugs That Changed Our Minds: the history of psychiatry in
ten treatments. Simon & Schuster. London, 2018.
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