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Origens da psicopatologia

Professora Bruna Rafaele Milhorini Greinert


Concepções mágicas

Doença: objeto de investigação desde os


primórdios da existência humana.

1. As concepções mágicas;
2. As concepções médico-filosóficas;
3. O nascimento da clínica psiquiátrica;
4. Os primórdios da psiquiatria.
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Concepções mágicas

Povos primitivos (também ainda hoje): doenças


mentais apresentavam-se como inexplicáveis;
Explicações comuns: causa exterior ou influência
malévola de um ser sobrenatural;
O espírito e/ou o corpo se encontra possuído,
enfeitiçado, contaminado; geralmente pela
influência de uma entidade, uma substância ou um
feiticeiro.
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Concepções mágicas

São explicações irracionais, baseadas no imaginário e


em crenças;
Na atualidade, não incomum quando para casos de
câncer, epilepsia e doenças mentais;
O tratamento com relação ao doente depende de
aspectos socioeconômicos e culturais: pode ser tratado
como um possuído, um castigado ou mesmo temido
e/ou respeitado como possuidor de poderes.
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Concepções mágicas

As formas de lidar com a doença são também mágicas:


exorcismos, rituais, simpatias, orações. Alguns bastante
danosos à pessoa doente;
Essas práticas e explicações persistem até os dias de
hoje.

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Concepções médico-filosóficas

Práticas e explicações baseadas em sistemas filosóficos


(ainda não-científicos);
São explicações mais racionais, porém, ainda
permanecem muito no domínio da magia e/ou da
religião;
Ainda assim, muito contribuíram com o
desenvolvimento histórico da noção de psicopatologia.

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Concepções médico-filosóficas

Antiguidade – idade média: início com a medicina e


filosofia grega;
A doença era concebida como um desequilíbrio interno,
de acordo com uma visão cósmica e empírica da
observação do corpo e das doenças;
Hipócrates O ser humano era estudado como um microcosmo,
Século IV a III
regido pelos quatro elementos - fogo, ar, água e terra, a
a. C.
que, no corpo, correspondiam quatro humores –
sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra.
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Concepções médico-filosóficas

Organismo: composto de partes sólidas, recipientes dos


líquidos (humores);
Os fenômenos vitais seriam manifestações da regulação
destes humores;
Qualquer desequilíbrio entre os líquidos poderia gerar
um adoecimento – inclusive a doença mental;
Por exemplo: epilepsia produz-se quando um fluxo de
fleuma invade a cabeça.
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Concepções médico-filosóficas

Teoria humoral e os temperamentos de Hipócrates e


Galeno: sanguíneo, fleumático, colérico e melancólico –
uso comum até os dias de hoje; - predisposição à
doenças

“Teorias hipocráticas introduziram uma ordem racional na


patologia, que pode ser explicada de acordo com leis
físicas, baseando-se na observação sistemática, mas o
raciocínio permaneceu muito analógico, prestando-se a
interpretações sobrenaturais das leis físicas” (p. 11) 9
Concepções médico-filosóficas

Galeno iria sistematizar diversos sistemas médico-


filosóficos desde Hipócrates, introduzindo a noção de
pneuma (força vital) e sistemas do organismo
(considerando já uma faculdade psíquica). Porém, a
vida mental era reduzida a um funcionamento orgânico;
Galeno
Século I a II
d. C. Com o declínio do império, a medicina greco-romana
entra em declínio, voltando a predominarem
concepções místicas e religiosas.
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Concepções médico-filosóficas

Idade média – século XVI: medicina derivada da


romana, dando maior importância a questão do espírito
(noção derivada do pneuma, ou força vital);
A loucura interessava os teólogos: termo insânia ligada
às paixões, vistas como pecado;
Segregação de leprosos e loucos – séculos XII – XIV
primeiros “asilos” para loucos, “pobres de Deus”;
Doença assimilada ao mal, loucura à possessão.

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Concepções médico-filosóficas

A partir da renascença, a medicina contava com


correntes de médicos e anatomistas que se pretendiam
científicas;
Contudo eram comuns visões ligadas à alquimia, magia
e teseosofia (sabedoria religiosa que se pretende
científica);
Explicações demoníacas eram cada vez mais comuns,
principalmente para doenças desconhecidas. Período
de caça às bruxas – século XV.
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Concepções médico-filosóficas

Obra de médicos influenciados pela inquisição,


relacionava psicopatologias e comportamentos
“desviantes” às influências demoníacas e femininas,
tiveram influência até o século XVIII.
Os primórdios da psiquiatria nasceriam como uma
reação a esse contexto de tratamento aos loucos, pelo
século XVI, a doença mental começava a entrar no
domínio médico. O renascimento traria de volta a
discussão médica da antiguidade e procuraria superá-
lo. 13
Concepções médico-filosóficas

Renascimento – século XIX: período fecundo para o


desenvolvimento da medicina e anatomia;
Metafísica e etiologias galênicas foram substituídas por
teorias químicas e/ou mecânicas;
Observações rigorosas eram feitas antes de serem
dadas explicações acerca das doenças;
Histeria: descrita em 1618, reconhecendo nela fatores
psicológicos e cerebrais.

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Concepções médico-filosóficas

A descrição médica até o século XVIII da loucura e


afecções psicológicas não tiveram avanço significativo
em relação aos tratamentos, mas contribuíram
significativamente para distanciar de explicações
“mágicas” e religiosas;
Ainda assim, os doentes mentais comumente eram
associados aos “vagabundos” e internados em
instituições higienizadoras, casas de correção e
hospícios.
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Concepções médico-filosóficas

“A essa população somavam-se os libertinos, os


dissipadores, os debochados, mas também os
alienados e os dementes.” (p. 19)

Ao mesmo tempo, surgia um sentimento filantrópico: a


sociedade deveria reparar seus erros. Pelo fim do
século XVIII, instituições específicas para o abrigo de
doentes mentais foram criadas: Bicêtre e Salpétrière
(onde trabalhou Charcot).
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Concepções médico-filosóficas

Franz Joseph Gall – frenologia, possibilidade de julgar o


caráter em função do formato do crânio. Prefigurava
teorias de localizações cerebrais;

Franz Mesmer – magnetismo animal e mesmerismo,


cerimônias terapêuticas. Antecipava o papel da
sugestão e da catarse em práticas terapêuticas.

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Nascimento da clínica psiquiátrica

Philippe Pinel (1745-1826) - libertação dos doentes


mentais (1793 - Bicêtre) / tratamento com humanidade.

Os doentes devem ser tratados como doentes e não


como criminosos ou representantes de animalidade.

Baseou-se numa visão clínica de observação e partia


dos sintomas para chegar a um quadro clínico.
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Nascimento da clínica psiquiátrica

Propôs uma classificação simples das neuroses e, entre


elas, das alienações, baseando-se na observação dos
comportamentos e das funções psicológicas.
Etiologia: física, hereditariedade, educação,
irregularidades na maneira de viver, paixões, etc.
Tratamento: regras de vida, exercício físico, supressão
da agressão, do uso da água fria, das medidas de
vigilância, das restrições às comunicações.

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Nascimento da clínica psiquiátrica

Depois de Pinel, a clínica desenvolveu-se nas mesmas


bases: observação sistemática, concepção
psicodinâmica das relações entre o físico e o moral, não
sendo a alienação mais que um desvio do normal,
descrição das síndromes sem que fossem
necessariamente determinadas por uma etiologia
orgânica única;

Discípulo de Pinel: Esquirol – deu continuidade, cunhou


o termo “alucinação”. 20
Nascimento da clínica psiquiátrica

Muitas observações permanecem até hoje: alucinação,


delírio geral e parcial (mania e hipomania), “idiotia”
(síndrome psicótica);

Mas chama atenção que suas observações se limitaram


aos hospitais psiquiátricos, ou seja, casos agravados.

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Nascimento da clínica psiquiátrica

A escola alemã: - psiquiatria alemã no contexto do


romantismo;
Defendia o aspecto irracional, o sentimento de contato
com a natureza, os valores individuais;
Para além da razão: a empatia e a visão de mundo;
Reil: primórdio da psicoterapia, primeiro uso do termo
psiquiatria. Utilizava estimulações, teatro e música.

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Nascimento da clínica psiquiátrica

Prenúncio das descobertas psicanalíticas. Enfatizava as


particularidades do indivíduo em conflito com suas
fontes irracionais, em busca de um equilíbrio;
Patogênese da doença mental: remetendo à infância, à
sexualidade, aos impulsos reprimidos, ao conflito moral
interno;
Ideias podiam ser simbolizadas em reações
psicossomáticas. Criação dos termos psicose e neurose.

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Primórdios da Psiquiatria

Segunda metade do século XIX – a psiquiatria foi


institucionalizada como ramo da medicina;
Criação de estabelecimentos psiquiátricos;
Desenvolveu-se uma corrente marcada pelo
organicismo e apoiada na nosografia;
Doença mental – alteração orgânica;
Uso da hipnose.

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Primórdios da Psiquiatria

No final do século XIX, o ponto de vista puramente


localizador e anatômico pôde ser superado. Jackson e
Pavlov adotaram um ponto de vista psicopatológico,
sobre uma base orgânica;
A teoria da degenerescência: alguns clínicos (Morel),
embora conservando o ponto de vista científico e
organicista da época, insistiam no lado afetivo e
evolucionista da personalidade;
Introduziram as noções de mudança, de evolução, de
influência do meio. 25
Primórdios da Psiquiatria

Os clínicos: um certo número de clínicos prosseguiu em


seus trabalhos de descrição de entidades clínicas sem
ter referências teóricas precisas;
Paralelamente a esse movimento científico e racional,
continuava existindo a corrente irracional – hipnose;
Charcot – estudou a histeria / contribuiu para
desenvolver o interesse pelos fatores psicológicos.

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Nascimento da psicopatologia

Nasceu no início do século XX, na França, no momento


em que a psicologia, enquanto disciplina científica,
começou a separar-se da filosofia;
Ribot: síntese de diversas correntes / cria a psicologia
patológica;
Os transtornos mentais apresentavam-se como
fenômenos mórbidos que mereciam um estudo
científico particular.

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Referências

História da psicopatologia – Beauchesne (1989)

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