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Bacharelado em Enfermagem

Sociedade Educacional Três de Maio


Componente: Enfermagem no Cuidado Mental Coletivo

História da Saúde
Mental e Reforma
Psiquiátrica

Facilitadora: Dra Silvana Ceolin 1


História da Saúde Mental

ANTIGUIDADE (4.ooo a.C. a 476 d.C.)

Doenças tinha origem sobrenatural, eram castigos dos


deuses, maldições, feitiçaria.

Desequilibro psíquico/agitação psicomotora: castigo divino


Epilepsia: doença sagrada quando acontecia em cultos -
manifestação da posse do corpo por divindades.
Histeria: deslocamento do útero por falta de atividades
sexuais
Intervenções: banhos, laxantes e alimentação especial.
A ‘loucura’ não era vista como algo social, mas individual
ou familiar.
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História da Saúde Mental

IDADE MÉDIA – 4001 a 1500

Eram chamados de lunáticos pois acreditavam


que suas mentes eram influenciadas pelas
fases da lua.

Outrora eram vistos como pecadores, devido a


uma relação defeituosa com Deus, castigo por
faltas morais ou possessão demoníaca.

Tratamentos: fogueiras ou execução em


público
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História da Saúde Mental

IDADE MÉDIA – 4001 a 1500

‘Evolução’ dos
tratamentos:
Laxantes, eméticos,
sanguessugas ou extração
de sangue pela testa na
tentativa de restaurar as
proporções de “equilíbrio
do corpo”.

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História da Saúde Mental

IDADE MÉDIA

Epidemias: eram castigo e a doença a penitência

‘Lepra’: doença impura, paciente deve ser isolado


(Leprosários)

A hanseníase era associada à doenças de pele e


venéreas. Assim, a transmissão pressupunha um contato
corporal, muitas vezes de natureza sexual (pecaminoso).

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História da Saúde Mental

FINAL DA IDADE MÉDIA

Diminuição da Hanseníase >> os leprosários não ficaram


ociosos...

Foram utilizados para “hospedar” pessoas que causassem


a “desordem social” por “perturbação, más condições de
higiene, pobreza (moradores de rua), má conduta”.

A ideia de ‘loucura’ foi construída em associação com:


pobreza, incapacidade de trabalhar, atitudes
divergentes dos padrões sociais, dificuldade de
integração social.

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História da Saúde Mental

IDADE MODERNA - 1453 a 1789

Desvinculação da interpretação mágico-religiosa.


Doença mental associada a falhas morais.

Inicia-se a ideia de prisões e isolamento. Criação


de hospícios (afastados/rurais). “Depósitos
humanos”.

Havia taxa para visitar e ridicularizar os reclusos


(atividade recreativa)

1656 (França) – Hospício Geral de Paris 7


História da Saúde Mental

IDADE MODERNA - 1453 a 1789

Phillippe Pinel (França) e William Tukes (Inglaterra)

Criação do conceito de asilo: espaço para proteção e


não violência.

Criação do conceito de esquizofrenia

Sigmund Freud (Inglaterra)

Estudo das doenças, diagnósticos e tratamentos

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História da Saúde Mental

IDADE CONTEMPORÂNEA – 1789

Desenvolvimento da psicofarmacologia:
Clorpromazina (antipsicótico)
Lítio (estabilizador de humor).

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Histórico da Saúde Mental no Brasil

- 1841, 1852: Hospício Pedro II (RJ) – primeiro hospital


psiquiátrico
- O Brasil foi o primeiro país da América Latina a fundar
um grande manicômio com base no alienismo francês.

Palácio Universitário UFRJ, antiga sede do Hospício Pedro II.


Histórico da Saúde Mental no Brasil

Filme Nise - Centro Psiquiátrico Nacional (Hospício Pedro II)


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Histórico da Saúde Mental no Brasil

Hospital Colônia de Barbacena (1903) - Barbacena, Minas Gerais.


Histórico da Saúde Mental no Brasil

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Choque Cardiazólico e Choque Insulínico

Medicações por via EV em quantidade suficiente


para causar convulsão e/ou coma.

Lógica do tto: contraturas musculares involuntárias


por todo o corpo e aumento excessivo da atividade
elétrica cerebral >> regulação dos
neurotransmissores e sinapses químicas.

Perda de consciência e diminuição da agitação.

Punição, tratamento de agitação, psicoses.

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Relatos de entrevistas realizadas com profissionais que
trabalharam no Hospital Colônia Santa'Ana, no período de 1941 a
1960
(Borenstein, 2017)

O cardiazol desencadeava uma crise violentíssima, que


chegava até acontecer fratura de maxilar. O paciente tinha
que ser contido. O cardiazol era um remédio para o
coração, mas quando injetado em uma quantia maior,
produzia uma convulsão.
Nunca vi ninguém morrer com o ECT. A insulina era muito
pior. Começava com uma dose baixa e ia aumentando até
provocar a convulsão. Tirava do coma, aplicando glicose
na veia, deixava de cinco a dez minutos. A função da
terapia era apagar o cara por alguns minutos, depois ele
acordava com outro astral. Melhorava bastante!
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Eletrochoque

Passagem de corrente elétrica por meio do crânio


durante um ‘breve’ espaço de tempo. Tempo? Dose?

Induz no circuito neuronal a ‘regulação’ dos


neurotransmissores responsáveis pela transmissão
dos impulsos elétricos.

Baixo custo, fácil aplicação (sem anestesia).

Tratamento de agitação, catatonia, psicoses,


depressão grave.
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Cubículo ou Cela Forte

Espaço de 3 m2 com duas aberturas (uma


superior para observação e uma inferior para a
comida).

Não havia tempo de permanência estabelecido

Castigo, agitação, psicoses.

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Lobotomia frontal

Corte dos feixes nervosos que chegam e saem do


lobo frontal.

Lobo frontal: capacidade de ligação emocional,


julgamento, respostas afetivas, centro da
atividade psíquica e comportamental.

Resultado: pacientes mais


dóceis e fáceis de controlar.

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Praxiterapia

Uso terapêutico do trabalho

Horticultura, suinocultura...

Críticas: Trabalho forçado

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Lençol de contenção e camisa de força

- Substituiu as correntes e algemas


- Pra pacientes agressivos consigo e com os outros
- Camisa: risco de queda
Condições de saúde, higiene, conforto

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Histórico da Saúde Mental no Brasil

- Décadas de 60, 70 e 80 foram construídos


hospitais estatais e federais em todas as grandes
capitais (Pouco investimento de manutenção).

HOSPITAL SÃO PEDRO EM PORTO ALEGRE. Fundado em 13 de maio de 1874. 22


Histórico da Saúde Mental no Brasil

- 1903: Lei Federal de assistência aos alienados:


colônias agrícolas

Diminuir a superpopulação dos hospitais, inserir o trabalho


como terapia para sanear e organizar os espaços;

O isolamento seria medida terapêutica de tratamento moral.


Retiravam-se os ‘alienados’ do convívio social, para lhes
proporcionar a convivência em uma microssociedade
organizada para formar ‘afetos’ e incentivar o trabalho.

Recuperar pelo trabalho agrícola e devolver à comunidade


como “cidadão útil”.

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Reforma Psiquiátrica Brasileira

Final da década de 1950: contestações que


eclodiram no movimento da

Reforma Psiquiátrica (1970/1980).

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Reforma Psiquiátrica Brasileira

Críticas

a) desrespeito aos direitos humanos dos pacientes


(VIOLÊNCIA, TORTURA, ABANDONO, TRABALHO
FORÇADO, DISCIPLINA RIGOROSA);
b) condições de trabalho desfavoráveis para os
PROFISSIONAIS de saúde mental (não havia concurso
público, os trabalhadores tinham contratos ilegais, como
“bolsistas”, o ambiente interno dos hospitais era de
abandono e confinamento);

c) “MEDICALIZAÇÃO da loucura” ou “indústria da loucura”

d) Modelo HOPITALOCÊNTRICO
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Reforma Psiquiátrica Brasileira

Influências - Franco Basaglia

Precursor do movimento da reforma


psiquiátrica Italiana (ITÁLIA = “berço da RP”)

A PSIQUIATRIA DEMOCRÁTICA ITALIANA enfatizou a


desinstitucionalização, com a construção de NOVOS
CENTROS DE SAÚDE MENTAL E NOVAS FORMAS DE
TRATAMENTO.

Visitou Hospital Colônia de Barbacena


Reforma Psiquiátrica Brasileira

O movimento da ANTIPSIQUIATRIA (1960) questionou as


deficiências assistenciais dos asilos/manicômios:

- CRONIFICAÇÃO da doença
- Relação de PODER profissionais e pacientes
- Entendia a “loucura” como fruto da repressão da
sociedade e da família.

Influências:
Michel Foucault
Reforma Psiquiátrica Brasileira

Influências - Nise da Silveira

Psiquiatra que criticava o tratamento em saúde mental. Foi


presa e perseguida.

Revolucionou o tratamento mental no Brasil.


Pet terapia, modelagem e pintura

Psicologia Junguiana: compreensão da psicose por meio da


arte

Museo Imagens do Inconsciente


Reforma Psiquiátrica – fatos importantes

Eventos que discutiram mudanças e formularam propostas:

1979 - Congresso Brasileiro de Trabalhadores de Saúde


Mental

1987- I Conferência Nacional de Saúde Mental

1987- II Encontro Nacional de Trabalhadores de Saúde


Mental
conceito de saúde, participação
popular, inclusões no texto
constitucional, novas
abordagens de tratamento e
reformulação da rede de
assistência.
Reforma Psiquiátrica – fatos importantes

1987 - Inauguração do primeiro Centro de Atenção


Psicossocial do país, o CAPS PROF. LUIZ DA ROCHA
CERQUEIRA (SP). O segundo CAPS foi implantado em
Santos, SP.

Tais inciativas foram importantes porque mostraram que era


possível fechar um hospital psiquiátrico (a Casa de Saúde
Anchieta, 1988) e substituí-lo integralmente por
NAPS/CAPS, além de leitos de saúde mental em HOSPITAL
GERAL.
Reforma Psiquiátrica – fatos importantes

1989 – Encaminhado o Projeto de Lei


para a Reforma Psiquiátrica no país:
propõe a regulamentação dos direitos da
pessoa com transtornos mentais e a
extinção progressiva dos manicômios no
país.

>> Aprovado somente 12 anos após


Reforma Psiquiátrica – fatos importantes

RS: Estado pioneiro na aprovação de uma Lei


de Reforma Psiquiátrica: Lei 9.716, 1992

Início de mudanças significativas no


HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO
Reforma Psiquiátrica – fatos importantes

Período de 1990 à 2000

Redução dos leitos psiquiátricos, a partir de uma


fiscalização mais ativa do SUS (MS)

Expansão dos CAPS é descontínua (financiamento).

No ano de 2000, o país tem em funcionamento 208


CAPS, mas CERCA DE 93% DOS RECURSOS
AINDA ERAM DESTINADOS AOS HOSPITAIS
PSIQUIÁTRICOS.
Reforma Psiquiátrica – fatos importantes

Aprovação da lei n. 10.216, em abril de 2001: LEI DA


REFORMA PSIQUIÁTRICA
Lei n. 10.216/2001

Art. 4º a INTERNAÇÃO, em qualquer de suas


modalidades, só será indicada quando os recursos
extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

§1º o TRATAMENTO visará, como finalidade


permanente, à reinserção social de paciente em seu
meio.
§2º O tratamento em regime de INTERNAÇÃO será
estruturado de forma a oferecer assistência integral à
pessoa portadora de transtornos mentais incluindo
serviços de assistência social, psicológicos,
ocupacionais, de lazer, e outros.
Lei n. 10.216/2001

§3º É VEDADA A INTERNAÇÃO de pacientes portadores


de transtornos mentais em instituições com
características asilares.

Art. 6º A INTERNAÇÃO psiquiátrica somente será


realizada mediante laudo médico circunstanciado que
caracterize os seus motivos.
- Voluntária
- Involuntária
- Compulsória
Lei n. 10.216/2001

INTERNAÇÃO VOLUNTÁRIA: aquela que se dá


com o consentimento do usuário.

A pessoa que solicita voluntariamente a própria


internação, ou que a consente, deve assinar, no momento
da admissão, uma declaração de que optou por esse
regime de tratamento. O término da internação se dá por
solicitação escrita da pessoa ou por determinação do
médico responsável. Uma internação voluntária pode,
contudo, se transformar em involuntária e a pessoa,
então, não poderá sair do estabelecimento sem a prévia
autorização.
Lei n. 10.216/2001

INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA: aquela que se dá sem


o consentimento do usuário e a pedido de terceiro.

Geralmente, são os familiares que solicitam a


internação da pessoa, mas é possível que o pedido
venha de outras fontes. O pedido tem que ser feito por
escrito e aceito pelo médico psiquiatra.
A lei determina que, nesses casos, os responsáveis
técnicos do estabelecimento de saúde têm prazo de 72
horas para informar ao Ministério Público do estado
sobre a internação e os motivos dela.
Lei n. 10.216/2001

INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA: aquela determinada pela


Justiça.

Nesse caso não é necessária a autorização familiar. A


internação compulsória é sempre determinada pelo juiz
competente, depois de pedido formal, feito por um
médico, atestando que a pessoa não tem domínio sobre
a própria condição psicológica e física.
III Conferência Nacional de Saúde Mental

Reuniu gestores do sistema público, privados,


representantes de instituições de ensino, de entidades
de trabalhadores, representação dos movimentos
sociais, profissionais de saúde, USUÁRIOS E
FAMILIARES, representantes da OPAS e da OMS

Avaliação da reforma psiquiátrica

Resultado da Conferência (2001)


foi a formulação da
POLÍTICA NACIONAL DE
SAÚDE MENTAL
Política Nacional de Saúde Mental

ESTRATÉGIAS:

- Fortalecer a articulação entre os CAPS, a Atenção


Básica e serviços de base comunitária.
- Desenvolvimento de estratégias ativas de inclusão
social: escolarização, lazer, esporte, arte

- Planos municipais de saúde que contemplem atenção


aos usuários de álcool e outras drogas;

- Ênfase em ações de promoção e prevenção;


- Adoção e estratégias de redução de danos;
- Atendimento integral realizado por equipe
multidisciplinar
Para além do hospital psiquiátrico...
COMUNICAÇÃO como principal ferramenta de abordagem em
saúde mental

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Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Atenção Básica. Saúde mental. Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Cadernos de Atenção Básica, n.
34)

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Atenção à Saúde.


Legislação em saúde mental: 1990-2004. Ministério da Saúde, Secretaria-
Executiva, Secretaria de Atenção à Saúde. 5. ed. Brasília: Ministério da Saúde,
2004.

Lei 10.216/2001 (Lei da Reforma Psiquiátrica)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro de Ciências da Saúde.


Curso de Atualização em Álcool e Outras Drogas, da Coerção à Coesão.
Políticas de saúde mental e direitos humanos. Florianópolis : Departamento de
Saúde Pública/UFSC, 2014. 95 p.
Referências

BATISTA, Micheline Dayse Gomes. Breve história da loucura, movimentos


de contestação e reforma psiquiátrica na Itália, França e no Brasil. Revista
de Ciências Sociais, n. 40, Abril de 2014.

GUIMARAES, Andréa Noeremberg et al . Tratamento em saúde mental no


modelo manicomial (1960 a 2000): histórias narradas por profissionais de
enfermagem. Texto contexto - enferm.,  Florianópolis ,  v. 22, n. 2, p. 361-
369,  June  2013 .   

ROLEMBERG FIGUEIRÊDO, M. L.; DELEVATI, D. M.; MARCELO G. T.


Entre loucos e manicômios: história da loucura e a reforma psiquiátrica no
Brasil. Ciências humanas e sociais. Cadernos de Graduação, v. 2, n.2, p.
121-136, nov 2014.

VIDEBECK, Sheila, L. 2012. Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria.


5ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.

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