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Desinstitucionalização, Reforma Psiquiátrica e

Política de Atenção à Saúde Mental

Profa. Andreza Lira do Nascimento


Especialista em Atendimento Pré Hospitalar
Especialista em Saúde Mental
Reforma Psiquiátrica
Recapitulando...
 História de um saber e uma prática concebidos e arquitetados no

coletivo, em conexão com outras culturas, tempos e sociedades;

 Os “hospitais” na idade média: instituições de caridade que ofereciam

abrigo, alimentação e assistência religiosa aos marginalizados! Quem


eram os marginalizados?

 Autoridades delegam à Phillipe Pinel (1793) a tarefa de humanizar e

dar sentido terapêutico aos hospitais:

Indivíduos livres das Correntes

versus

Tratamento Asilar
Recapitulando...
 Início dos movimentos sociais para a

Reforma Psiquiátrica:
 Busca pela dispensação de tratamento

diferenciado, em liberdade!

Desinstitucionalização
O Processo da Reforma Psiquiátrica
 O início da Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo da eclosão

do Movimento Sanitário;

 O processo brasileiro tem uma história própria, inscrita num contexto

internacional de mudanças de superação da violência asilar;

 A Reforma Psiquiátrica é o processo político e social complexo,

composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que


incide em territórios diversos:

Governos Serviços de
Federal, Saúde, Movimentos
Universidades
Estadual e Conselhos Sociais
Municipal Profissionais;
Histórico: Crítica ao modelo
Hospitalocêntrico (1978-1991)
 1978: marco do início do movimento
social pelos direitos dos pacientes
psiquiátricos do país:
 Movimento dos Trabalhadores em
Saúde Mental (MTSM): movimento
plural formado por trabalhadores
integrantes do movimento sanitário,
associações de familiares, sindicalistas, Denúncias

membros de associações profissionais e


pessoas com longo histórico de Violência dos Mercantilização
internações psiquiátrica: manicônios da loucura
Histórico: Crítica ao modelo
Hospitalocêntrico (1978-1991)
 Passam a surgir as primeiras propostas e ações de

reorientação da assistência:
 1987: II Congresso Nacional do MTSM (Bauru, SP):

 Lema: Por uma sociedade sem manicônios”

 No mesmo ano acontece a I Conferência Nacional

de Saúde Mental (Rio de Janeiro);

 Criação do 1º Centro de Atenção Psicossocial: São

Paulo;
Histórico: Crítica ao modelo
Hospitalocêntrico (1978-1991)
 1989: processo de intervenção da Secretaria
Municipal de Saúde de Santos em hospital
psiquiátrico (a Casa de Saúde de Anchieta):
 Por quê a intervenção foi considerada inédita?

 Porque era impensável que o poder público intervir e


tomar a direção de um ente privado.

 Possibilidade de construção de uma rede de cuidados

efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico


Histórico: Crítica ao modelo
Hospitalocêntrico (1978-1991)
No mesmo período implanta-se Núcleos de
Atenção Psicossocial (NAPS) 24 horas;

São criadas cooperativas, residências para egressos


do hospital e associações.

Trata-se da primeira demonstração, com grande


repercussão, de que a Reforma Psiquiátrica, não
sendo apenas uma retórica, era possível e
exeqüível.
Histórico: Crítica ao modelo
Hospitalocêntrico (1978-1991)
 Ainda em 1989, dá entrada no Congresso
Nacional o Projeto de Lei do Deputado Paulo
Delgado (PT/MG):
 Propôs a Regulamentação dos direitos da pessoa

com transtornos mentais e a extinção progressiva de


manicônios no país.

Início das lutas do movimento da Reforma


Psiquiátrica nos campos legistlativo e normativo
CONSTITUIÇÃO DE 1988

 Criado o Sistema Único de Saúde:

 Formado pela articulação entre as gestões federal,

estadual e municipal, sob o poder do controle


social.

SÁÚDE É DIREITO DE TODOS E DEVER DO


ESTADO
Histórico: Começa a implantação da
rede extra-hospitalar (1992-2000)
 Aprovação das primeiras leis que determinam a

substituiççao progressiva dos leitos psiquiátricos


por uma rede integrada de atenção à saúde
mental;

 Compromisso firmado pelo Brasil: assinatura da

Declaração de Caracas e realização da II


Conferência Nacional de Saúde Mental.
Declaração de Caracas
 VERIFICANDO,

 1. Que a assistência psiquiátrica convencional não permite alcançar

objetivos compatíveis com um atendimento comunitário,


descentralizado, participativo, integral, contínuo e preventivo;

 2. Que o hospital psiquiátrico, como única modalidade assistencial,

impede alcançar os objetivos já mencionados ao:


 a) isolar o doente do seu meio, gerando, dessa forma, maior incapacidade social;

 b) criar condições desfavoráveis que põem em perigo os direitos humanos e civis do

enfermo;

 c) requerer a maior parte dos recursos humanos e financeiros destinados pelos países

aos serviços de saúde mental; e

 d) fornecer ensino insuficientemente vinculado com as necessidades de saúde

mental das populações, dos serviços de saúde e outros setores.


Declaração de Caracas
 CONSIDERANDO,

 1. Que o Atendimento Primário de Saúde é a estratégia adotada pela


Organização Mundial de Saúde e pela Organização Panamericana de
Saúde e referendada pelos países membros para alcançar a meta de
Saúde Para Todos, no ano 2000;
 2. Que os Sistemas Locais de Saúde (SILOS) foram estabelecidos pelos
países da região para facilitar o alcance dessa meta, pois oferecem
melhores condições para desenvolver programas baseados nas
necessidades da população de forma descentralizada, participativa e
preventiva;
 3. Que os programas de Saúde Mental e Psiquiatria devem adaptar-se aos
princípios e orientações que fundamentam essas estratégias e os modelos
de organização da assistência à saúde.
Declaração de Caracas
 DECLARAM

 1. Que a reestruturação da assistência psiquiátrica ligada ao Atendimento

Primário da Saúde, no quadro dos Sistemas Locais de Saúde, permite a


promoção de modelos alternativos, centrados na comunidade e dentro de
suas redes sociais;

 2. Que a reestruturação da assistência psiquiátrica na região implica em

revisão crítica do papel hegemônico e centralizador do hospital


psiquiátrico na prestação de serviços;

 3. Que os recursos, cuidados e tratamentos dados devem:

 a) salvaguardar, invariavelmente, a dignidade pessoal e os direitos humanos e civis;

 b) estar baseados em critérios racionais e tecnicamente adequados;

 c) propiciar a permanência do enfermo em seu meio comunitário;


Declaração de Caracas
 DECLARAM
 4. Que as legislações dos países devem ajustar-se de modo que:

 a) assegurem o respeito aos direitos humanos e civis dos doentes mentais;

 b) promovam a organização de serviços comunitários de saúde mental que garantam seu


cumprimento;

 5. Que a capacitação dos recursos humanos em Saúde Mental e Psiquiatria deve

fazer-se apontando para um modelo, cujo eixo passa pelo serviço de saúde
comunitária e propicia a internação psiquiátrica nos hospitais gerais, de acordo
com os princípios que regem e fundamentam essa reestruturação;

 6. Que as organizações, associações e demais participantes desta Conferência se

comprometam solidariamente a advogar e desenvolver, em seus países, programas


que promovam a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica e a vigilância e defesa
dos direitos humanos dos doentes mentais, de acordo com as legislações nacionais
e respectivos compromissos internacionais.
A Reforma Psiquiátrica (depois da
Lei Nacional: 2001 – 2005)
 Somente em 2001, após 12 anos de tramitação no

Congresso Nacional, que a Lei de Paulo Delgado


é sancionada no país: Lei 10.216:
 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas

portadoras de transtornos mentais e redireciona o


modelo assistencial em saúde mental.
Lei 10.216, de 06 de Abril de 2001
 São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde,
visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de
sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.


Lei 10.216, de 06 de Abril de 2001
 Art. 3o É responsabilidade do Estado o
desenvolvimento da política de saúde mental, a
assistência e a promoção de ações de saúde aos
portadores de transtornos mentais, com a devida
participação da sociedade e da família, a qual será
prestada em estabelecimento de saúde mental, assim
entendidas as instituições ou unidades que ofereçam
assistência em saúde aos portadores de transtornos
mentais;
Lei 10.216, de 06 de Abril de 2001
 Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando

os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes:

 § 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do

paciente em seu meio.

 § 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a

oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais,

incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais,

de lazer, e outros.

 § 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em

instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos

recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos

enumerados no parágrafo único do art. 2o.


Lei 10.216, de 06 de Abril de 2001
 Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o
qual se caracterize situação de grave dependência
institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de
ausência de suporte social, será objeto de política específica
de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob
responsabilidade da autoridade sanitária competente e
supervisão de instância a ser definida pelo Poder
Executivo, assegurada a continuidade do tratamento,
quando necessário.
Lei 10.216, de 06 de Abril de 2001
 Art. 6o A internação psiquiátrica somente será
realizada mediante laudo médico circunstanciado que
caracterize os seus motivos.
 Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de
internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento
do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o
consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.
Lei 10.216, de 06 de Abril de 2001
 Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve
assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de
tratamento.
 Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do

paciente ou por determinação do médico assistente.

 Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico


devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se
localize o estabelecimento.
 § 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser

comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no


qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva
alta.

 § 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou

responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.


Lei 10.216, de 06 de Abril de 2001
 Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo
juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento,
quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

 Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão
comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao
representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo
máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.

 Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser
realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem
a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de
Saúde.

 Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará comissão nacional
para acompanhar a implementação desta Lei.
Histórico Reforma Psiquiátrica
 A partir da Lei, a rede de atenção
diária à saúde se expande;

 Nesse mesmo período, o processo


de DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
de pessoas longamente internadas
é impulsionado, com a criação do
Programa “De volta para casa”:
 Objetivo: contribuir efetivamente
para o processo de inserção social.
Centros de Atenção Psicossocial
Centro de Atenção Psicossocial
 Nessa proposta de reconstrução da assistência psiquiátrica

surgem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS):


 Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002;

 Serviços estratégicos, substitutivos ao modelo manicomial;

 São caracterizados por porte da clientela, recebendo as

seguintes denominações: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i,


CAPS ad;
 Devem estar capacitados para realizar prioritariamente o atendimento

de pacientes com transtornos mentais severos e persistentes.


Recursos Humanos:
CAPS I 1 médico com formação em saúde
mental;
 Capacidade Operacional: cidades 1 enfermeiro,
3 profissionais de nível superior
com população entre 20.000 e (psicólogo, assistente social, TO,
70.000; pedagogo ou outro profissonal
 Serviços: atendimento individual,
necessário ao projeto terapêutico;
4 profissionais de nível médio
atendimento em grupos, oficinas (técnico/aux de enfermagem,
terapêuticas, visitas domiciliares, admnistrativo, educacional e
atendimento à família; artesão.

 Pacientes assistidos em turnos,


durante 5 dias úteis da semana:
 04 horas: recebem uma refeição
Até 20 pacientes por
diária;
turno, tendo como limite
 08 horas: recebem duas refeições máximo 30 pacientes/dia
diárias.
1 médico psiquiátra;
CAPS II 1 enfermeiro com formação em
 Capacidade Operacional: cidades saúde mental;
4 profissionais de nível superior
com população entre 70.000 e 200.000;
(psicólogo, assistente social,
 Serviços: atendimento individual, enfermeiro TO, pedagogo ou outro
atendimento em grupos, oficinas profissonal necessário ao projeto
terapêutico;
terapêuticas, visitas domiciliares, 6 profissionais de nível médio
atendimento à família; (técnico/aux de enfermagem,
admnistrativo, educacional e
 Pacientes assistidos em turnos
artesão.
(durante os 5 dias úteis), de 8:00 às
18:00

 04 horas: recebem uma refeição


Até 30 pacientes por
diária; 08 horas: recebem duas turno, tendo como limite
refeições diárias; máximo 45 pacientes/dia

 Pode ainda comportar um 3º


turno: até às 21 horas.
Recursos Humanos:
CAPS III 2 médicos psiquiatras;
1 enfermeiro com formação em
 Capacidade Operacional: cidades saúde mental;
5 profissionais de nível superior
com população acima de 200.000;
(psicólogo, assistente social, TO,
 Serviços: atendimento individual, pedagogo ou outro profissonal
atendimento em grupos, oficinas necessário ao projeto terapêutico;
terapêuticas, visitas domiciliares, 8 profissionais de nível médio
(técnico/aux de enfermagem,
atendimento à família, acolhimento
admnistrativo, educacional e
noturno , em feriados e finais de artesão.
semana;
 Máximo de 05 leitos, para eventual
repouso e observação
 Serviço ambulatorial de 24 horas: Até 45 pacientes por
turno, tendo como limite
 A permanência de um mesmo paciente
máximo 60 pacientes/dia
no acolhimento noturno se limita a 7
dias corridos ou 10 dias intercalados.
1 médico psiquiatra/
neuro/pediatra com formação em
saúde mental
CAPS i II 1 enfermeiro;
4 profissionais de nível superior
 Destinado para crianças e (psicólogo, assistente social, TO,
pedagogo ou outro profissonal
adolescentes necessário ao projeto terapêutico;
 Capacidade Operacional: cerca de 5 profissionais de nível médio
(técnico/aux de enfermagem,
200.000; admnistrativo, educacional e
 Serviços: atendimento individual, artesão.
atendimento em grupos, oficinas
terapêuticas, visitas domiciliares,
atendimento à família;
Até 15 pacientes por
 Turnos de 4 e 8 horas. turno, tendo como limite
máximo 25 pacientes/dia
1 médico psiquiatra;
1 enfermeiro com formação em
CAPS ad II saúde mental;
1 médico clínico;
4 profissionais de nível superior
 Destinado para pacientes com transtornos (psicólogo, assistente social, TO,
decorrente de uso de álcool e substâncias pedagogo ou outro profissonal
psicoativas; necessário ao projeto terapêutico;
 Capacidade Operacional: superior a 70.000 6 profissionais de nível médio
habitantes; (técnico/aux de enfermagem,
 Serviços: atendimento individual,
admnistrativo, educacional e
atendimento em grupos, oficinas
artesão.
terapêuticas, visitas domiciliares,
atendimento à família, atendimento de
desintoxicação;
 Turnos de 4 e 8 horas, podendo comportar
Até 25 pacientes por
turno até 21 horas;
turno, tendo como limite
 Deve-se manter 2-4 leitos para desintoxicação máximo 45 pacientes/dia
e repouso
Desinstituicionalização
Desinstitucionalização
 Definição: Consiste no processo de
desconstrução de práticas manicomiais e
construção de novos saberes, os quais sejam
capazes de privilegiar a subjetividade e
autonomia do indivíduo, bem como o livre
exercício de sua cidadania.
O processo de Desinstitucionalização
 Redução de Leitos:
 O processo torna-se política pública no Brasil a
partir dos anos 90:
O processo de Desinstitucionalização
 Redução de Leitos:

 A maioria dos leitos eram de instituições privadas e


concentravam-se nos centros de maior desenvolvimento
econômico:
 Várias regiões carentes de atenção à saúde mental.

 Programas envolvidos no processo de Desinstituicionalização:


 Programa Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar/Psiquiatria;

 Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar


Psiquiátrica no SUS;
 Programa de Volta pra Casa;

 Expansão dos CAPS e as Residências Terapêuticas.


Programa Nacional de Avaliação do
Sistema Hospitalar/Psiquiatria
 Criado em 1998 e instituído em 2002;

 Permite a avaliação da qualidade da assistência dos hospitais


psiquátricos conveniados e públicos;

 Indica aos prestadores de serviços os critérios para uma assistência

psiquátrica hospitalar compatível com as normas do SUS;

 Descrendecia aqueles hospitais sem qualquer qualidade na assistência

prestada à sua população;

 Ancorava-se em dois mecanismos:

Supervisões Fiscalização e
hospitalares, Auditoria que
realizadas por atendiam às
supervisores do SUS denúncias
Programa Nacional de Avaliação do
Sistema Hospitalar/Psiquiatria
 Avalia a estrutura física do hospital;

 Avalia a dinâmica de funcionamento de fluxos;

 Avalia os processos e recursos terapêuticos, bem

como a adequação e inserção dos hospitais às


rede de atenção à saúde mental em seu território
e às normas técnicas gerais do SUS.

É parte deste processo de avaliação, a realização de “entrevistas de


satisfação” com pacientes longamente internados e pacientes às
vésperas de receber alta hospitalar.
Serviços Residenciais Terapêuticos
 Surgem como componentes decisivos da política de saúde mental do

Ministério da Saúde;

 Constituem-se como alternativas de moradia para um grande


contigente de pessoas ques estão internadas há anos em hospitais
psiquiátricos por não contarem com suporte adequado na comunidade,
bem como de suporte familiar e social;

 São casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder as

necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais


graves, instituicionalizadas ou não;

 Cada residência deve estar referenciada a um Centro de Atenção

Psicossocial.
Programa de Volta Para Casa
 É um dos instrumentos mais efetivos para a reintegração social
das pessoas com longo histórico de hospitalização;

 Objetivo: contribuir efetivamente para o sucesso de reinserção


social, incentivando a criação de uma rede ampla e diversificada
de recursos assistenciais e de cuidados;

 Regulamentação: Lei 10.708 de 2003, Portaria nº 2.077 de 2003,


Portaria nº 2.078 de 2003.
Lei 10.708 de 2003
 Art. 1o Fica instituído o auxílio-reabilitação psicossocial para assistência, acompanhamento e integração social, fora de

unidade hospitalar, de pacientes acometidos de transtornos mentais, internados em hospitais ou unidades

psiquiátricas, nos termos desta Lei.

 Parágrafo único. O auxílio é parte integrante de um programa de ressocialização de pacientes internados em

hospitais ou unidades psiquiátricas, denominado "De Volta Para Casa", sob coordenação do Ministério da Saúde.

Art. 2o O benefício consistirá em pagamento mensal de auxílio pecuniário, destinado aos pacientes egressos de

R$ 412,00
internações, segundo critérios definidos por esta Lei.

 § 1o É fixado o valor do benefício de R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais), podendo ser reajustado pelo Poder

Executivo de acordo com a disponibilidade orçamentária.

 § 2o Os valores serão pagos diretamente aos beneficiários, mediante convênio com instituição financeira oficial,

salvo na hipótese de incapacidade de exercer pessoalmente os atos da vida civil, quando serão pagos ao

representante legal do paciente.

 § 3o O benefício terá a duração de um ano, podendo ser renovado quando necessário aos propósitos da

reintegração social do paciente.


Lei 10.708 de 2003
 Art. 3o São requisitos cumulativos para a obtenção do benefício
criado por esta Lei que:
 I - o paciente seja egresso de internação psiquiátrica cuja duração tenha
sido, comprovadamente, por um período igual ou superior a dois anos;
 II - a situação clínica e social do paciente não justifique a permanência em
ambiente hospitalar, indique tecnicamente a possibilidade de inclusão em
programa de reintegração social e a necessidade de auxílio financeiro;
 III - haja expresso consentimento do paciente, ou de seu representante
legal, em se submeter às regras do programa;
 IV - seja garantida ao beneficiado a atenção continuada em saúde mental,
na rede de saúde local ou regional.
Portaria nº 2.840, de 29 de Dezembro
de 2014
 Cria o Programa de Desinstitucionalização integrante do componente Estratégias de
Desinstitucionalização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS), e institui o respectivo incentivo financeiro de custeio mensal.

 Objetivos:

 apoiar e desenvolver ações de desinstitucionalização de pessoas com sofrimento ou


transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras
drogas em situação de internação de longa permanência em hospitais psiquiátricos no
âmbito do SUS;
 apoiar e desenvolver ações e estratégias nos processos de reabilitação psicossocial no
território das pessoas desinstitucionalizadas, favorecendo-se os percursos de produção
de autonomia e da contratualidade social, de forma a garantir seus direitos e a efetiva
participação e inclusão social, fortalecendo a RAPS
Portaria nº 2.840, de 29 de Dezembro de
2014
 Art. 5º Compete à Equipe de Desinstitucionalização:

 I - apoiar as equipes profissionais de hospital psiquiátrico e realizar,


quando necessária, a avaliação clínica, psiquiátrica e psicossocial das
pessoas em situação de internação de longa permanência em hospitais
psiquiátricos, objetivando a elaboração de Projeto Terapêutico
Singular (PTS);
 II - apoiar as equipes na transformação da organização institucional,
com vistas à reabilitação psicossocial, garantindo-se o respeito aos
direitos humanos das pessoas internadas;
 III - apoiar as equipes na reestruturação do funcionamento técnico
operacional da instituição, com implementação e fortalecimento do
trabalho em equipe multiprofissional;
Portaria nº 2.840, de 29 de Dezembro de
2014

 IV - apoiar as equipes no desenvolvimento de estratégias ou ações


que favoreçam a construção de protagonismo das pessoas internadas,
tais como assembleias, espaços coletivos de encontros e trocas,
reapropriação do uso dos objetos pessoais;
 VI - desenvolver ações nos contextos dos projetos terapêuticos
singulares que viabilizem a obtenção de documentação e o acesso a
benefícios previdenciários e assistenciais, assim como o auxílio-
reabilitação psicossocial do Programa De Volta Para Casa;
 VII - identificar situação de curatela e procurações existentes com o
devido acionamento dos órgãos competentes para as providências
necessárias;
Portaria nº 2.840, de 29 de Dezembro de
2014
 VIII - desenvolver estratégias de rearticulação de vínculos
familiares e/ou sociais e de promoção da participação dos
familiares e/ou pessoas das redes sociais das pessoas internadas
no processo de desinstitucionalização, tais como atenção
familiar, visita domiciliar, reunião de familiares, assembleias,
além de ações conjuntas com os familiares e as pessoas
internadas;
 IX - desenvolver ações que propiciem a interação das pessoas
internadas com seus familiares e pessoas da cidade, com criação
de espaços para promoção de encontros dentro do hospital e nos
territórios da cidade;
Portaria nº 2.840, de 29 de Dezembro de
2014

 X - articular recursos, instituições e pontos de atenção da RAPS no


território para acolhimento, cuidado e reabilitação psicossocial de
acordo com os seguintes critérios:
 a) retorno à família, quando houver possibilidade de coabitação e
convivência, de acordo com projetos terapêuticos singulares;
 b) inserção nos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); e

 c) para as pessoas com deficiência, quando indicado,


encaminhamento para as residências inclusivas, estabelecidas pela
Portaria Interministerial nº 03/MDS/MS, de 21 de setembro de 2012;
Portaria nº 2.840, de 29 de Dezembro de
2014

 XI - desenvolver estratégias para educação permanente dos atores institucionais e


comunitários implicados no projeto;

 XII - avaliar os casos de internação psiquiátrica compulsória ou em cumprimento


de medida de segurança e articular com os órgãos competentes para abordagem
destas situações; e

 XIII - compor as equipes multiprofissionais dos pontos de atenção das RAPS,


visando à qualificação das ações e estratégias desenvolvidas nestes pontos de
atenção, em especial o apoio aos processos de reabilitação psicossocial no
território das pessoas desinstitucionalizadas, favorecendo-se os percursos de
produção de autonomia e de fortalecimento da contratualidade social, de forma a
garantir seus direitos e efetiva participação e inclusão social.
Portaria nº 2.840, de 29 de Dezembro de
2014

 Art. 6º A Equipe de Desinstitucionalização poderá ser de duas modalidades:

MODALIDADE A B
MÉDICO 1 1
PSICÓLOGO 1 3 (de preferência um
ASSISTENTE SOCIAL de cada)
TERAPEUTA
OCUPACIONAL

ENFERMEIRO - 1

CARGA HORÁRIA Total: 50 h/semana Total: 170h/semana


*Médico – 10h/semana *Médico e enfermeiro
no mínimo – 20 h/semana no
mínimo
CARGA HORÁRIA / DIA 8 h – segunda a sexta 8 h – segunda a sexta
Política de Atenção Nacional à
Saúde Mental
O cuidado em saúde mental: como é
o seu trabalho na Atenção Básica
 Atenção Básica: Porta de entrada para o sistema

único de saúde;

 Ações desenvolvidas em território


geograficamente conhecido.
O território como conceito
estratégico
 Diversas experiências de sofrimento, de violência,

abuso sexual e dependência acontecem em territórios


determinados: na família, na comunidade, nos
universos existenciais das pessoas;

 Daí que os processos de produção de saúde mental

devem ser gerados nestes territórios


A Política Nacional de Atenção
Básica
 A atenção básica deve ser o contato preferencial dos usuários e centro

de comunicação da Rede de Atenção à Saúde;

 Orienta-se pelos princípios:

 Universalidade;

 Acessibilidade;

 Vínculo;

 Continuidade do cuidado;

 Integralidade;

 Responsabilização;

 Humanização;

 Equidade;

 Participação social.
A Política Nacional de Atenção à
Saúde Mental
 Abrange a atenção a pessoas com
necessidades relacionadas a Propõe-se a
implantação de
transtornos mentais como: uma Rede de
 depressão, ansiedade, esquizofrenia, serviços aos
usuários que seja
transtorno afetivo bipolar, transtorno plural e que
obsessivo-compulsivo, incluindo promovam
assistência
aquelas com quadro de uso nocivo e integral para
dependência de substâncias diferentes
demandas.
psicoativas (álcool, cocaína, crack e
outras drogas).
A Política Nacional de Atenção à
Saúde Mental
Integração
social

Fortalecer a Participação
autonomia Indivíduo social

Protagonismo
A Política Nacional de Atenção à
Saúde Mental
 Reorientação do modelo assistencial em saúde mental

 Redução e progressiva desativação de leitos


hospitalares psiquiátricos

 Substituição dos hospitais psiquiátricos por uma rede


de serviços comunitários de atenção diária articulados
à atenção básica

 Construção de uma rede de atenção à saúde mental:


serviços e recursos do território

 Construção de projetos de inclusão social:


intersetorialidade.
Considerações sobre a reorientação
do modelo assistencial
Diagnóstico e
Intervenção

 Deslocamento da doença para a pessoa;

 Produção de projetos terapêuticos singularizados;

 Substituir a internação psiquiátrica como forma de


tratamento;
 Constituir um conjunto diversificado de intervenções
terapêuticas e projetos de inclusão social e autonomia para
a vida.
Considerações sobre a reorientação
do modelo assistencial
Continuidade da
atenção

 disponibilidade e agilidade na resposta aos pedidos


de auxílio;
 assistência contínua para usuários e familiares de
acordo com as necessidades apresentadas;
 garantia de proteção e/ou continência;

 coordenação das ações dos profissionais de um


mesmo serviço, entre serviços e outros recursos.
Considerações sobre a reorientação
do modelo assistencial
Criação de condições para atuar
junto à comunidade de origem do
usuário

 Articulação com serviços;

 Recursos territoriais/ rede social;

 Recursos familiares e de vizinhança;

 Agenciar os recursos comunitários com a finalidade

de promover aumento de participação social.


Considerações sobre a reorientação
do modelo assistencial
Prioridade aos projetos
de vida

 Estabelecimento de ações intra e extra institucionais;

 Ampliar projetos coletivos que atendam as demandas


de moradia, geração de renda, direitos, trabalho,
cultura e lazer;
 Valorização dos processos de trocas e intercâmbios
sociais.
Considerações finais da Reforma
Psiquiátrica Brasileira
 Epistemológica: questões teórico-conceituais e produção de

novos conhecimentos no campo da saúde mental.

 Técnico-assistencial: modelo assistencial para abordar o sujeito

em sua existência e em relação às condições concretas de vida.

 Jurídico-política: produção de novas relações sociais e civis em

termos de cidadania, direitos humanos e sociais.

 Cultural: estratégias e intervenções que propiciem novas


relações entre a sociedade e a pessoa em sofrimento psiquíco.
 OBRIGADA!

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