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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE
PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SERGIPE PROMOTORA DE JUSTIÇA DE ITABAIANA
Bancário Sul, Quadra 01, Bloco “H”, Lote 26/27, Brasília-DF, CEP: 70.070-
110, com e-mail: pu.se@agu.gov.br;
I – DO OBJETO
A presente demanda tem como objetivo obter decisão judicial com a finalidade de
obrigar os demandados a adotarem as medidas necessárias para disponibilização imediata
de vagas para pacientes com doença renal crônica (DRC) dos 23 Municípios que integram
as Regiões de Saúde de Itabaiana e Nossa Senhora da Glória que se encontram
atualmente em fila de espera para admissão no serviço habilitado para realização de
Terapia Renal Substitutiva (TRS) em nível ambulatorial no Município de Itabaiana
(Centro de Nefrologia) e que: a.1) estejam internados em hospitais, já aptos para receber
alta; a.2) estejam em acompanhamento ambulatorial sem receber hemodiálise/diálise.
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II – DOS FATOS
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serviços são prestados por um total de cinco clínicas e com Hospitais de retaguarda pactuados
para as intercorrências dialíticas, bem como com fluxo de acesso regulado pela gestão
municipal, de acordo com pactuação na Programação Pactuada Integrada – PPI.
Os serviços habilitados no Município de Aracaju (Clinese Diaverum – Cirurgia,
Hospital do Rim e a Nefroclínica Diaverum – São José) atendem aos pacientes dos Municípios
que integram as Regiões de Saúde de Aracaju, Lagarto, Nossa Senhora do Socorro e Propriá; o
serviço habilitado no Município de Itabaiana (Centro de Nefrologia/ Clínica do Rim), por
sua vez, atende as Regiões de Saúde de Itabaiana e Nossa Senhora da Glória, enquanto o
serviço habilitado no Município de Estância (Nefroes) atende apenas os Municípios da Região
de Saúde de Estância. Vejamos:
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De acordo com o apurado pelo MPF nos autos do Inquérito Civil n.º
1.35.000.001094.2021-04, essa insuficiência gera a preocupante situação de fila de pacientes
que aguardam vaga para iniciar o tratamento ambulatorial na unidade, sejam aqueles que
já estão em situação de alta hospitalar para iniciar a hemodiálise no atendimento clínico, mas
permanecem internados por falta de vaga, sejam aqueles que se encontram em casa, mas que
também deveriam iniciar, de imediato, o tratamento ambulatorial.
“Olá, boa noite! Venho por meio desta solicitar uma atenção especial para o meu pai que
encontra-se internado no hospital regional de itabaina Sergipe. O meu pai deu entrada
em 23.08 com insuficiência renal e, devido a falta de vaga de leitos para a realização de
hemodialiseem itabaiana-se ( cidade vizinha há que até de O interior de Sergipe) 3
clínicas em Aracaju como: hospital do rim, hospital São José e hospital cirurgia
possuem vagas só que a regulação não permite o recebimento de paciente do interior do
estado. Peço encarecidamente a internediacao de vocês para que o estado providencie a
vaga. Segundo os médicos o meu pai já está de alta porém não podemos remove-lo
porque. As clínicas não
aceitam. Inclusive a medição em pílula meu pai está tomando a que trouxe de casa, pois o
hospital não dispõe deste medicamento.” (grifo nosso)
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“(…)
Existe a demanda de 11 pacientes internados em hospitais aguardando vaga, no
dia 06 e 07 do corrente mês fizemos admissões de 02 pacientes restando 09, os
quais o Centro de Nefrologia possui uma lista por ordem de recebimento de
solicitação enviado ao e-mail da assistente social para começar a realizar
hemodiálise, conforme documento anexo.
Em que pese o Centro de Nefrologia receber recursos do SUS, a defasagem dos
recursos que não se adequam há mais de 4 (quatro) anos e comprometem a diálise
no Brasil, também é uma realidade enfrentada pelo Centro de Nefrologia,
principalmente no cenário pandêmico.
Destaca-se que já encaminhamos ofício circular sob o número 01/2021, conforme
documento anexo, solicitando auxílio às prefeituras dos municípios sergipanos
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Como visto, além da grave situação dos pacientes que permanecem internados
em hospitais, mesmo estando aptos para receber alta, aguardando vaga para hemodiálise/
diálise no âmbito clínico (semanal) para que possam ser desinternados, também é
preocupante a situação dos pacientes que, por falta de vaga no Centro de Nefrologia no
Município de Itabaiana, são realocados em outras regiões de saúde (e até em outros
Estados) para realizar o tratamento. Isso sem contar que, até que surja a vaga em outros
serviços habilitados, tais pacientes permanecem em suas residências sem dar início à
hemodiálise cuja necessidade é imediata.
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Externo n° 2801/2021-SES (DOC. 9). Nesse expediente, a SES/SE informou que a atenção
especializada ambulatorial é atualmente contratualizada pela gestão municipal e que, no caso
do Centro de Nefrologia, localizado no município de Itabaiana, este possui 26 máquinas para
hemodiálise, “sendo que apenas 22 estão em pleno funcionamento, destas 01 é para reserva
técnica para situações de emergência, possibilitando assim o atendimento a 130 pacientes,
atualmente”. Quanto ao ponto, a SES argumentou que a responsabilidade pela manutenção e
conserto das máquinas é exclusiva da clínica contratualizada, que deve providenciar o repara
imediato ou substituição da máquina que apresente defeito.
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vagas para que estes pacientes tenham acesso ao serviço na modalidade de hemodiálise e
diálise peritoneal, provisoriamente.
Observa-se, entretanto, que, além de não esgotar a fila de espera e não eliminar os
atrasos nas admissões, a solução apontada pela Secretaria de Estado da Saúde depende da
“cordialidade” do Município que disponha de vaga na modalidade de TRS solicitada. Por isso,
se trata de medida emergencial e que vem sendo adotada em caráter provisório, ou seja, não
soluciona a situação da insuficiência dos serviços disponibilizados à população das regionais de
Itabaiana e Glória.
Diante das informações prestadas pelos gestores locais do SUS, o MPF oficiou o
Ministério da Saúde, que apresentou resposta através do OFÍCIO Nº 778/2021/SAES/NUJUR/
SAES/MS e Nota Técnica nº 607/2021-DAET/CGAE/DAET/SAES/MS (DOC. 10).
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inclusive feriados, só fecha no domingo. Que do ano passado para cá a situação financeira da
clínica piorou muito com a pandemia, por conta do aumento de alguns insumos da
hemodiálise, chegando a triplicar de valor, a única forma de conseguir alguma negociação é
comprando a vista. Que foi a partir daí que se fez a sugestão do co-financiamento dos
municípios das 2 regionais usuárias dos serviços. Que a clínica não tem condições de
expandir seus serviços, pois está no seu limite financeiro e físico de operação. Que o co-
financiamento serviria para fazer frente a esse aumento do custo, e a empresa necessita
regularizar sua situação até mesmo junto a fornecedores e das máquinas. Que a informação
que tenho de pacientes aguardando atendimento é a mesma dada pela SMS – Itabaiana, são
6 pacientes internados aguardando admissão (eram 9, mas 3 deles serão admitidos essa
semana, um hoje e 2 nos próximos dias). Que a preferência é para pacientes internados pois
estão sob maior risco. Que há uma fila de 19 pacientes em clínicas aguardando. Que a
capacidade instalada atualmente é de 24 máquinas funcionando e atendendo a um total de
135 pacientes. Que com as 2 máquinas que estão em conserto passa-se a 24 (sic)* máquinas
e 139 pacientes. Que atualmente temos 132 pacientes ativos, em tratamento”. (*erro de
digitação, leia-se: 26)
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atenção é que a ausência de vagas leva a situações em que pacientes permanecem internados,
mesmo já estando aptos para alta hospitalar e inicio do tratamento ambulatorial, mas não
podem ser desinternados por ausência de vaga. Chega-se à situação de pacientes que
permaneceram internados por longos períodos, longe de seu domicílio e família, correndo o
risco de infecções, em razão da ausência da vaga para tratamento clínico de terapia renal
substitutiva em Itabaiana,
Logo, é inaceitável que tenhamos pessoas “vivendo” dentro do hospital pela falta
de vagas no procedimento de diálise semanal. Além de tolher direitos fundamentais desses
cidadãos, privados de retornar a sua rotina e convívio familiar, submetendo-os aos risco de
infecções e etc, há também gravames para a Administração Pública, já que mantém gastos com
a manutenção da internação, com alimentação, funcionários, leito, água luz, quando o caso era
de alta hospitalar. Mais que isso, é preciso lembrar que esses leitos hospitalares – ocupados por
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aqueles que não precisam estar internados, mas necessitam da hemodiálise – poderiam estar
sendo usados por outros pacientes que necessitem efetivamente de internação.
É o que vem ocorrendo com diversos pacientes das Regiões de Saúde de Itabaiana/
SE e Nossa Senhora da Glória/SE, reféns da insuficiência dos serviços de terapia renal
substitutiva disponibilizados pela União, Estado e Municípios, como demonstra, a título
meramente exemplificativo, o documento DOC. 13, remetido por um dos hospitais de
retaguarda (Hospital de Cirurgia), após requisição de informações do MPF. Acerca de um dos
pacientes que ali permaneceu internado, informa-se:
Note-se que, mesmo tendo passado 25 dias internado (já estando de alta) enquanto
aguardava vaga para início da hemodiálise ambulatorial – única forma de continuar tendo
acesso ao tratamento dialítico quando não há vaga na Clínica contratada –, ainda assim o
paciente não obteve vaga em sua Regional de Saúde (Itabaiana/SE), e sim na Regional de
Aracaju.
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UTI cardio do Hospital Cirurgia. Que quando ele for desinternar, está preocupada com a
vaga dele para hemodiálise em clínica porque terá que conseguir nova vaga”.
Também nesse relato é possível aferir as agruras enfrentadas pelo paciente renal
crônico (e familiar acompanhante) obrigado a deslocar-se três (quando não mais) vezes por
semana a municípios distantes de sua residência para realizar a necessária hemodiálise.
A análise de todo esse cenário torna evidente a necessidade de abrir mais vagas
para terapia renal substitutiva (TRS), em especial hemodiálise, em nível ambulatorial, para os
2 PREUSS, Lislei Teresinha. A gestão do Sistema Único de Saúde no Brasil e as regiões de fronteira em pauta.
Maio-ago 2018. .Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/Ffp5gVJpjhNKzXyHsSXkdXB/?lang=pt. Acesso em
11/11/2021.
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pacientes das Regionais de saúde de Itabaiana e Glória, uma vez que os serviços contratados e
disponibilizados já não se mostram suficientes para atender à demanda gerada pela população
dos 23 municípios que as integram.
De igual modo, questionou-se, para o caso de não ter sido ainda publicada a citada
portaria, quais seriam as medidas alternativas que estavam sendo tomadas pelo Ministério para
preservar a saúde e a vida dos pacientes que atualmente se encontram na fila
aguardando o início do tratamento dialítico essencial para sua condição. (DOC. 15).
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funciona como ‘município-sede’, de referência, que está apto a oferecer um elenco de serviços
de média e alta complexidade), não demonstrou ter exigido do prestador do SUS (Clínica do
Rim) o funcionamento completo das máquinas que deveriam estar disponíveis para
atendimento, já que 2 delas se encontram quebradas, reduzindo ainda mais a oferta de vagas e
dificultando a admissão de novos pacientes. Além disso, diante de eventual impossibilidade de
ampliação do serviço pelo prestador já contratado, cabe-lhe buscar a contratação de um novo
serviço ou a pactuação com outras regiões de saúde para atendimento de sua demanda
excedente, eliminando as filas, Em efetivo, é necessário criar um fluxo regular de atendimento
para esse excedente, mediante criação de novas vagas (habilitação de novo serviço) ou através
de pactuações interfederativas, com a coordenaçao, planejamento e co-financiamento do
Estado de Sergipe, assim como, especialmente, de financiamento federal.
Por fim, considerando-se a impossibilidade de resolução da demanda por meio das vias
extrajudiciais, aliada à urgência de se conferir atendimento aos pacientes com doenças renais crônicas
que se encontram em fila de espera para o atendimento em TRS ambulatorial devido ao risco à vida e à
saúde, submete o Ministério Público Federal os fatos narrados à apreciação judicial.
III – DO DIREITO
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Nos termos do art. 109, I, da CF/88, compete a Justiça Federal processar e julgar as
causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, réus, assistentes ou oponentes. No caso em tela, a própria União Federal,
figura no polo passivo da ação, além do próprio MPF no polo ativo, cuja presença já indica a
presença de interesse federal a ser tutelado.
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Assim sendo, cabe à União, aos Estados e aos Municípios financiar e executar as
políticas de saúde, com controle e fiscalização de aplicação de verbas e implementação de
políticas. Neste sentido também dispôs a Lei nº 8.080/90 (Lei do SUS) que a direção do
Sistema Único de Saúde (SUS) é única, sendo exercida no âmbito da União, pelo Ministério da
Saúde (art. 9, inciso I).
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Patente, pois, a legitimidade passiva da UNIÃO para que seja compelida a cumprir
as obrigações pleiteadas nesta demanda, proporcionando o financiamento necessário para o
custeio da abertura de novas vagas em serviços de Atenção Especializada em DRC (Doença
Renal Crônica).
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Ora diante do fato de que na presente demanda discute-se, como causa de pedir, a
insuficiência dos serviços habilitados no Município de Itabaiana em Atenção Especializada em
DRC para atender à população das regionais de Itabaiana e Glória, conforme pactuações em
CIB e no âmbito da PPI, evidente a legitimidade passiva do Estado de Sergipe, eis que lhe cabe,
como dito adotar as providências necessárias para organizar e implantar de forma suficiente e
adequada, as redes estaduais de assistência em nefrologia na alta complexidade. Uma vez
constatada a insuficiência dos serviços, tal como organizados, bem como o prejuízo direto aos
usuários do SUS, sobressai a responsabilidade do ente estadual pela não adoção de medidas que
supram essa carência.
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Além disso, compete à gestão estadual, através das Secretarias de Saúde dos
Estados, o acompanhamento, controle e avaliação das redes hierarquizadas do SUS no que
tange à assistência prestada a pessoas portadoras de doenças crônicas, consoante estabelecido
pela Portaria nº 483, de 1º de abril de 2014, do Ministério da Saúde:
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A garantia do direito à vida está inscrita na Constituição Federal, no caput do art. 5º, como
direito fundamental e cláusula pétrea. Muito além de assegurar a vida enquanto preservação da
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existência, quer a Constituição garantir que ela seja mantida com dignidade, devendo-se interpretar
sistematicamente o caput do art. 5º com o art. 1º, III, da Carta Maior.
Nesse contexto, o direito à saúde assume papel fundamental, como meio de promoção e de
manutenção de uma vida digna. Por tal razão, o Constituinte de 1988 inseriu o direito à saúde no rol dos
direitos fundamentais socais, reconhecendo-lhe formalmente a relevância.
Nenhum bem da vida apresenta tão claramente unidos o interesse individual e o interesse social,
como o da saúde, ou seja, do bem-estar físico que provém da perfeita harmonia de todos os
elementos que constituem o seu organismo e de seu perfeito funcionamento. Para o indivíduo
saúde é pressuposto e condição indispensável de toda atividade econômica e especulativa, de
todo prazer material ou intelectual. O estado de doença não só constitui a negação de todos estes
bens, como também representa perigo, mais ou menos próximo, para a própria existência do
indivíduo e, nos casos mais graves, a causa determinante da morte. Para o corpo social a saúde de
seus componentes é condição indispensável de sua conservação, da defesa interna e externa, do
bem-estar geral, de todo progresso material, moral e político. [grifamos]
Por isso, visando garantir às pessoas uma vida com dignidade, a Constituição Federal de
1988 insere a saúde como um direito coletivo, dispondo, em seu artigo 196, que a saúde é direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.
Desta forma, a garantia da saúde, enquanto direito público subjetivo e bem jurídico
constitucionalmente tutelado, é dever do Estado, em sentido lato. Diz o Constituinte Originário que a
forma de garantia desse direito subjetivo é a efetivação de políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para a promoção, proteção e recuperação da saúde. Em sendo assim, não obstante o caráter
programático da norma do art. 196, reconhece-se que esta possui força normativa, sendo este um dos
pilares do novo constitucionalismo. Aliás, o próprio Supremo Tribunal Federal assim reconhece desde o
ano 2000, quando da prolação do histórico voto do Min. Celso de Melo, no RE 271.286-AgR:
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“O direito à saúde – além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas
– representa consequência constitucional indissociável do direito à vida. O Poder Público,
qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federativa
brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de
incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. A
interpretação da norma programática não pode transformá-la em promessa constitucional
inconsequente. O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política – que tem
por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização
federativa do Estado brasileiro – não pode converter-se em promessa constitucional
inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele depositadas pela
coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um
gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental
do Estado.” - RE 271.286-AgR - RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 12-9-
2000, Segunda Turma, DJ de 24-11-2000. Destaques de nossa autoria.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(…)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
Cumpre ainda ressaltar que a Lei nº 8.080/90, que dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes, além de outras providências, em consonância com os artigos 196 e 197 da
Constituição Federal, também dispõe, em seu artigo 2°, sobre o dever do Poder Público de garantir o
direito à saúde, e ainda dispõe como princípio do SUS a integralidade e assistência:
Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º. O dever do Estado de garantir a saúde consiste na reformulação e execução de políticas
econômicas e sociais que visem a redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. [grifamos]
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Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que
integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas
no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de
complexidade do sistema;
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As incumbências comuns aos três entes estão previstas no art. 15 da Lei 8.080/90,
in verbis:
Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu
âmbito administrativo, as seguintes atribuições:
I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização
das ações e serviços de saúde;
II - administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada
ano, à saúde;
III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das
condições ambientais;
(...)
XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e de
atendimento emergencial.
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(…)
III - definir e coordenar os sistemas:
a) de redes integradas de assistência de alta complexidade;
(...)
XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para
a saúde;
XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional;
XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas e para os
Municípios, dos serviços e ações de saúde, respectivamente, de abrangência
estadual e municipal;
XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas
as competências estaduais e municipais;
Por sua vez, em razão do art. 17 da referida lei, o gestor estadual tem diversas
incumbências, dentre as quais:
“(…)
II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de
Saúde (SUS);
III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente
ações e serviços de saúde;
IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas
públicos de alta complexidade, de referência estadual e regional;”
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(...)
X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e convênios com
entidades prestadoras de serviços privados de saúde, bem como controlar e avaliar
sua execução;
XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde;
XII - normatizar complementarmente as ações e serviços públicos de saúde no seu
âmbito de atuação.”
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24. O gestor estadual é responsável pela gestão da política de alta complexidade/custo no âmbito do
estado, mantendo vinculação com a política nacional, sendo consideradas intransferíveis as funções
de definição de prioridades assistenciais e programação da alta complexidade, incluindo:
a - a macroalocação de recursos orçamentários do Limite Financeiro da Assistência do estado para
cada área de alta complexidade;
b - a definição de prioridades de investimentos para garantir o acesso da população a serviços de
boa qualidade, o que pode, dependendo das características do estado, requerer desconcentração
ou concentração para a otimização da oferta de serviços, tendo em vista a melhor utilização dos
recursos disponíveis, a garantia de economia de escala e melhor qualidade;
c - a delimitação da área de abrangência dos serviços de alta complexidade;
d - a coordenação do processo de garantia de acesso para a população de referência entre
municípios;
e- a definição de limites financeiros municipais para a alta complexidade, com explicitação da parcela
correspondente ao atendimento da população do município onde está localizado o serviço e da parcela
correspondente às referências de outros municípios;
f - a coordenação dos processos de remanejamentos necessários na programação da alta complexidade,
inclusive com mudanças nos limites financeiros municipais;
g - os processos de vistoria para inclusão de novos serviços no que lhe couber, em conformidade
com as normas de cadastramento do MS;
h - a coordenação da implementação de mecanismos de regulação da assistência em alta complexidade
(centrais de regulação, implementação de protocolos clínicos, entre outros);
i - o controle e a avaliação do sistema, quanto à sua resolubilidade e acessibilidade;
j - a otimização da oferta de serviços, tendo em vista a otimização dos recursos disponíveis, a garantia
de economia de escala e melhor qualidade."
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26. As ações de alta complexidade e as ações estratégicas serão financiadas de acordo com Portaria
do Ministério da Saúde.
27. O Ministério da Saúde, definirá os valores de recursos destinados ao custeio da assistência de alta
complexidade para cada estado.
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Art. 3º São princípios da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas:
(…)
V - articulação entre os diversos serviços e ações de saúde, constituindo redes de saúde
com integração e conectividade entre os diferentes pontos de atenção;
(…)
VIII - articulação interfederativa entre os diversos gestores de saúde, mediante atuação
solidária, responsável e compartilhada;
(…)
XIII - regulação articulada entre todos os componentes da Rede de Atenção à Saúde das
Pessoas com Doenças Crônicas.
“(...)
I - garantir que todos os estabelecimentos de saúde que prestam atendimento às
pessoas com doenças crônicas possuam infraestrutura e tecnologias adequadas,
recursos humanos capacitados e qualificados, recursos materiais,
equipamentos e insumos suficientes, de maneira a garantir o cuidado
necessário;
II - garantir o financiamento tripartite para o cuidado integral das pessoas
com doenças crônicas, de acordo com suas responsabilidades;
(...)”
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Art. 1° Instituir a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal a ser
implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de
gestão.
Art. 2° Estabelecer que a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal
seja organizada de forma articulada entre o Ministério da Saúde, as Secretarias de
Estado da Saúde e as Secretarias Municipais de Saúde, permitindo:
I - desenvolver estratégias de promoção da qualidade de vida, educação, proteção e
recuperação da saúde e prevenção de danos, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a
eqüidade de indivíduos e coletividades;
II - organizar uma linha de cuidados integrais (promoção, prevenção, tratamento e
recuperação) que perpasse todos os níveis de atenção, promovendo, dessa forma, a
inversão do modelo de atenção;
III - identificar os determinantes e condicionantes das principais patologias que levam à
doença renal e ao desenvolvimento de ações transetoriais de responsabilidade pública, sem
excluir as responsabilidades de toda a sociedade;
IV - definir critérios técnicos mínimos para o funcionamento e avaliação dos serviços
públicos e privados que realizam diálise, bem como os mecanismos de sua monitoração
com vistas a diminuir os riscos aos quais fica exposto o portador de doença renal;
V - ampliar cobertura no atendimento aos portadores de insuficiência renal crônica
no Brasil, garantindo a universalidade, a eqüidade, a integralidade, o controle social e
o acesso às diferentes modalidades de Terapia Renal Substitutiva (diálise peritoneal,
hemodiálise e transplante);
VI - ampliar cobertura aos portadores de hipertensão arterial e de diabetes mellitus,
principais causas da insuficiência renal crônica no Brasil;
VII - fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos que visem ao estudo do custo-
efetividade, eficácia e qualidade, bem como a incorporação tecnológica do processo da
Terapia Renal Substitutiva no Brasil;
VIII - contribuir para o desenvolvimento de processos e métodos de coleta, análise e
organização dos resultados das ações decorrentes da Política Nacional de Atenção ao
Portador de Doença Renal, permitindo que a partir de seu desempenho seja possível um
aprimoramento da gestão, disseminação das informações e uma visão dinâmica do estado
de saúde das pessoas com doença renal e dos indivíduos transplantados;
IX - promover intercâmbio com outros subsistemas de informações setoriais,
implementando e aperfeiçoando permanentemente a produção de dados e garantindo a
democratização das informações; e
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Além disso, a citada Portaria define que a Política Nacional de Atenção ao Portador
de Doença Renal deve ser instituída a partir dos seguintes componentes fundamentais:
Art. 3° Definir que a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal, de que
trata o artigo 1º desta Portaria, deve ser instituída a partir dos seguintes componentes
fundamentais:
(...)
Observa-se, assim, que os demandados devem articular políticas, planos, ações, estratégias,
recursos humanos, materiais e logísticos voltados à assistência a pacientes renais.
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É certo que compete à Atenção Básica a atuação na prevenção dos fatores de risco e
proteção para a doença renal crônica. Os profissionais de saúde desse nível de atenção devem
estar preparados para identificar, por meio da anamnese e do exame clínico, os casos com
suspeita e referenciá-los para a Atenção Especializada para investigação diagnóstica definitiva
e tratamento5.
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9 Ministério da Saúde. Diretrizes Clínicas para o Paciente com Doença Renal Crônica – DCR no Sistema Único
de Saúde (PCDT). Brasília, 2014. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_clinicas_cuidado_paciente_renal.pdf.
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11 https://clinicaenne.com.br/estagios-da-insuficiencia-renal-cronica
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estão em processo de diálise, sob sua responsabilidade (inciso I) e ofertar uma ou mais das
modalidades de diálise (inciso II).
Art. 75. Para a habilitação dos estabelecimentos de saúde como Atenção Especializada em
DRC, as Secretarias Estaduais de Saúde deverão encaminhar ao Ministério da Saúde,
por meio do Sistema de Apoio à Implementação de Políticas de Saúde - SAIPS, as
seguintes informações:
I - Resolução da Comissão Intergestores Bipartite - CIB - ou, no caso do Distrito Federal,
do Colegiado de Gestão da Secretaria de Saúde - CGSES/DF, ou da Comissão
Intergestores Regional - CIR, conforme deliberação em CIB, contendo:
a) tipo de habilitação com o respectivo código de habilitação, nome do estabelecimento de
saúde e CNES; e
b) valor do impacto financeiro mensal e anual segundo os valores dos procedimentos da
Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses/Próteses e Materiais Especiais do SUS,
anexando a memória de cálculo;
II - relatório de vistoria realizado pela vigilância sanitária local, onde conste a estrita
observância da RDC nº 11, de 13 de março de 2014, e cópia da licença de funcionamento; e
III - formulário para habilitação em Atenção Especializada em DRC, disponível via SAIPS.
§ 1º O processo de habilitação deverá ser formalizado pela Secretaria Estadual de
Saúde.
§ 2º O respectivo gestor público de saúde estadual analisará a necessidade e os
critérios estratégicos e técnicos dispostos e dará início ao processo de habilitação.
§ 3º A ausência da análise de que trata o § 2º impede a sequência do processo de
habilitação.
§ 4º Após a emissão do parecer favorável à habilitação pelo gestor público de saúde
estadual, o processo com a documentação comprobatória ficará na posse do gestor do SUS,
disponível ao Ministério da Saúde para fins de supervisão e auditoria. " (NR)
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Ademais, consoante previsto no art. 3º, inciso VI, da citada Portaria, a regulação, a
fiscalização e o controle das ações de atenção ao portador de doença renal são de
competência das três esferas de governo.
Nesse aspecto, há que se destacar, mais uma vez, que tramita no Ministério da
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Saúde (MS) proposta de habilitação do Hospital Nossa Senhora da Conceição como Atenção
Especializada em DRC com Hemodiálise (15.04), localizado no município de Lagarto/SE e sob
gestão estadual, e que já foi, inclusive, aprovada no âmbito da Coordenação-Geral de
Assistência Especializada do Ministério da Saúde. Todavia, conforme informado pelo
próprio MS, a solicitação encontra-se sobrestada desde 13/09/2021 na Coordenação-Geral de
Controle de Serviços e Sistemas aguardando orçamento.
Conforme pontuado pelo Estado de Sergipe nos documentos acostados aos autos do
Inquérito Civil, a habilitação do referido Hospital como Serviço de Atenção Especializada em
DRC, ainda que apenas para a modalidade hemodiálise e voltada ao atendimento dos pacientes
da Regional de Saúde de Lagarto, seria de grande importância para liberar vagas nos serviços
habilitados no Município de Aracaju (que atualmente é a responsável pelo atendimento dos
pacientes dos Municípios que integram a Regional de Saúde de Lagarto). Com isso, a
Secretaria de Estado da Saúde sustenta que haveria um impacto positivo no que toca à
saturação do atendimento dos pacientes renais crônicos pelo Centro de Nefrologia (Clínica do
Rim), já que, havendo disponibilidade de vagas nos serviços habilitados em Aracaju, seria
possível uma repactuação, no âmbito da PPI, entre os entes federativos, de modo a direcionar as
demandas excedentes das Regionais de Itabaiana e/ou Glória à capital sergipana. Isso porque,
conforme afirmando pela própria Secretaria de Estado da Saúde, mais de 90% da demanda dos
pacientes na fila de espera é para a modalidade hemodiálise e o serviço, uma vez habilitado,
atenderá cerca de 100 pacientes clínicos por mês, extinguindo as atuais filas de espera.
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13 https://www.camara.leg.br/noticias/556048-debatedores-reclamam-de-defasagem-nos-valores-da-
tabela-do-sus/
14 https://www.anahp.com.br/noticias/noticias-do-mercado/ministerio-da-saude-congela-tabela-do-sus-
para-dialise/
15 https://oglobo.globo.com/epoca/brasil/covid-19-acentua-crise-do-setor-de-hemodialise-140-mil-brasileiros-
correm-risco-sem-tratamento-24934888
16 https://portalhospitaisbrasil.com.br/dia-d-da-dialise-2021-reivindica-reajuste-de-46-na-tabela-sus-2/
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e Municípios à população das Regionais de Saúde de Itabaiana e Glória há, também, uma
verdadeira deficiência sistêmica na prestação do serviço de saúde ao paciente portador de
doença renal crônica no âmbito do Sistema Único de Saúde, seja em razão da insuficiência dos
serviços habilitados, contratados e pactuados pelos gestores do SUS para atendimento da
demanda, seja em razão da falha na promoção da saúde através da coordenação e planejamento
da Rede Estadual de Cuidados aos pacientes com doenças crônicas, assim como na regulação
dos pacientes que se encontram em fila de espera, seja em função do subfinanciamento do SUS,
decorrente da defasagem dos recursos repassados pelo Ministério da Saúde para o custeio da
TRS.
Assim, não há dúvida quanto ao dever das três esferas de gestão do SUS
(Federal, Estadual e Municipal) de fornecer os serviços de Terapia Renal Substitutiva, em
especial hemodiálise, para todos aqueles que necessitam semanalmente sem que, para isso,
– por exemplo – tenham que permanecer internados em hospitais a fim de garantir o seu lugar,
em constante e desnecessário contato com o ambiente contaminado e utilizando um leito que
poderia ser utilizado por outro paciente, que realmente dele necessite naquele momento.
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Diante de toda a argumentação trazida, resta claro que o Sistema Público de Saúde
brasileiro foi criado para oferecer um atendimento adequado à população, devendo
proporcionar os tratamentos de saúde indicados para atender a demanda da coletividade.
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Dispõe o artigo 12 da Lei da Ação Civil Pública que o juiz pode conceder mandado
liminar, antecipando os efeitos da tutela pretendida, nos termos do artigo 300 do Código de
Processo Civil, observado o artigo 19 da Lei n.º 7.347/85, com ou sem justificação prévia,
desde que exista prova inequívoca dos fatos, diante da verossimilhança das alegações e fundado
receio de dano irreparável.
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Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade
nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente
ou compatível, independentemente de requerimento do autor.
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão
sujeita a agravo.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução
real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder
oferecê-la.
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo
de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
No presente caso, resta evidente a atuação deficiente dos réus em garantir aos
pacientes com doença renal crônica o direito fundamental à saúde, consubstanciado no acesso
aos serviços de atenção especializada, em especial as terapias renais substitutivas (TRS),
consisentes em hemodiálise e diálise peritoneal, em nível ambulatorial, aos pacientes dos 23
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Isso porque, como detalhado nos itens anteriores, a inexistência de vagas no único
serviço habilitado para atender a essas 2 regionais de saúde faz com que diversos pacientes
que se encontravam internados em hospitais, mas que já estão com alta médica, sejam
mantidos internados por diversos dias (em alguns casos, mais de mês) apenas para que lhe
possa ser garantido o acesso à hemodiálise. Com isso, dezenas de pacientes ao longo dos
meses permaneceram e permanecem internados por longos e desnecessários períodos, longe de
seu domicílio e família. Nem é preciso lembrar que a manutenção de um paciente em regime de
internação, sem que tal situação seja imprescindível, aumenta desnecessariamente o grau de
exposição a inúmeros agentes patológicos sabidamente existentes no ambiente hospitalar
(risco de infecções).
Logo, é inaceitável que tenhamos pessoas “vivendo” dentro do hospital pela falta
de vagas no procedimento de diálise semanal. Além de tolher direitos fundamentais desses
cidadãos, privados de retornar a sua rotina e convívio familiar, submetendo-o ao risco de
infecções e etc, há também gravames para a Administração Pública, já que mantém gastos com
a manutenção da internação, com alimentação, funcionários, leito, água luz, quando o caso era
de alta médica. É de bom alvitre lembrar, ainda, que esses leitos hospitalares – ocupados por
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aqueles que não precisam estar internados, mas necessitam da hemodiálise – poderiam estar
sendo usados por outros pacientes que necessitem efetivamente de internação.
Há, também, a situação dos pacientes renais crônicos que não estão internados mas
recebem prescrição médica de início imediato da hemodiálise semanal. Quanto a estes, o
tratamento vem sendo simplesmente adiado até que ocorra o surgimento de vaga.
Além disso, a atual insufiência dos serviços gera a preocupante a situação dos
pacientes que, por falta de vaga no Município de Itabaiana (seu Município de Referência, de
acordo com as pactuações interfedereativas na PPI), são realocados em outras regiões de saúde
(e até em outros Estados) para realizar o tratamento de que necessitam de forma imediata. Essa
situação leva esses pacientes a realizar viagens longas e desgastantes várias vezes na semana
para ter acesso à hemodiálise, quando deveriam estar ao menos realizando o tratamento dentro
de sua regional de saúde, ainda que fora de seu Município, reduzindo, assim, as distâncias a
serem percorridas.
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Nesses termos, deve-se ponderar que, a despeito do teor do art. 300 do CPC, as
circunstâncias acima narradas são demasiados gravosas para que se impute integralmente aos
pacientes renais crônicos o ônus do tempo do processo. Assim, a irreversibilidade da tutela de
urgência debe ser ponderada, nesse caso, sob pena de tornar permanentes danos gravíssimos e
também irreversíveis à vida e à saúde dessas pessoas.
Não podemos deixar de chamar atenção para o fato de que, no último expediente
(DOC. 12), encaminhado pela SMS – Itabaiana ao MPF, em 19/10/2021, contendo em anexo
tabela discriminando a fila de pacientes à espera de vagas, contava-se 31 (trinta e um)
pacientes aguardando admissão para tratamento em nível ambulatorial no Centro de
Nefrologia, no município de Itabaiana, sendo que 9 estavam internados em Hospitais
(mesmo estando aptos para alta hospitalar), 3 em acompanhamento ambulatorial (sem
realizar hemodiálise) (ou seja, aguardavam em casa) e 19 pacientes haviam sido
remanejados para tratamento ambulatorial em outras regionais de saúde, como a de
Aracaju, e até em outros Estados, como São Paulo e Pernambuco.
Não é demais lembrar que o fluxo de pacientes para acesso aos serviços de alta
complexidade, como é a atenção especializada em DRC por meio das Terapias Renais
Substitutivas (TRS), deve ocorrer de forma regionalizada, conforme previsto na NOAS-SUS
n. 01/2002 (editada pela Portaria GM/737, de 27/2/2002 quando prescreve, inclusive, o acesso
dos cidadãos aos serviços de saúde o mais próximo possível de sua residência, bem como o
acesso de todos os cidadãos aos serviços necessários à resolução de seus problemas de
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A análise de todo esse cenário torna evidente a necessidade de abrir mais vagas
para terapia renal substitutiva (TRS), em especial hemodiálise, em nível ambulatorial,
para os pacientes das Regionais de saúde de Itabaiana e Glória, uma vez que os serviços
contratados e disponibilizados já não se mostram suficientes para atender à demanda gerada
pela população dos 23 municípios que as integram. É evidente que mesmo nos casos daqueles
que conseguem “encaixes” para realizar hemodiálise/diálise em outras regionais de Saúde,
como Aracaju, estão ocupando a vaga de pacientes renais crônicos de outras regionais (que
possuem Aracaju como referência), cuja criação, mediante habilitação dos respectivos serviços
de atenção especializada em DRC, deu-se com base em determinados critérios demográficos e
de saúde pública. Assim, o simples direcionamento dessa demanda a outras regionais, de
forma emergencial e provisória, não soluciona o problema ora exposto. Ademais,
conforme demonstrado, não elimina a fila de espera, nem a situação dos pacientes
internados apenas para receber hemodiálise.
Por tais razões, em sede liminar, é preciso alocar e criar vagas, ainda que
emergenciais, aos pacientes que compõe a demanda excedente das Regionais de Saúde de
Itabaiana e Nossa Senhora da Glória. Tal demanda excedente, de acordo com o último
expediente ( (DOC. 12), encaminhado pela SMS – Itabaiana ao MPF, em 19/10/2021, pode ser
estimada em 30% da capacidade atual do serviço habilitado pelo Ministério da Saúde e
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contratado pelo Município de Itabaiana (que atende 130 pacientes/mês), já que a tabela anexa
discriminando a fila de pacientes à espera de vagas, contava-se 31 (trinta e um) pacientes
aguardando admissão para tratamento em nível ambulatorial no Centro de Nefrologia,
no município de Itabaiana.
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dificultando ainda mais a admissão de novos pacientes. Além disso, diante de eventual
impossibilidade de ampliação do serviço de TRS pelo prestador contratado, cabe-lhe buscar,
junto ao Estado, que viabilize junto ao Ministério da Saúde a habilitação de um novo serviço ou
buscar, sob coordenação estadual, a pactuação estável com outras regiões de saúde para
atendimento de sua demanda excedente, eliminando as filas,
V. DOS PEDIDOS
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b) Caso a vaga disponibilizada nos termos do item “a” esteja localizada em Município
diverso daquele em que resida ou esteja internado o paciente, que seja fornecido transporte, caso
necessário (sem prejuízo de posterior compensação entre os entes federativos e o Município de
residência do paciente);
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(Doença Renal Crônica) com hemodiálise (código 15.04), CNES nº 2421518, CNPJ:
13.366.414/0001-80, requerida pelo Estado de Sergipe (SAIPS proposta n. 148795), já aprovada
no âmbito da Coordenação Geral de Atenção Especializada, do Ministério da Saúde, de modo a
viabilizar o surgimento de vagas nos serviços de TRS habilitados no Município de Aracaju e,
assim, a pactuação para absorção da demanda excedente das Regionais de Saude de Itabaiana e
Nossa Senhora da Glória/SE;
e) que seja determinado à União que efetue o aporte de recursos federais necessários
ao custeio da disponibilização de vagas requerida no item “a”, bem como à ampliação requerida no
item “c”, nos mesmos prazos requeridos em cada um dos itens citados, através do aumento do
repasse dos recursos do FAEC (Fundo de Ações Estratégicas e Compensação) em prol do ente
público que realize a correspondente contratação/ prestação dos serviços;
g) que seja ordenada, para cumprimento da decisão, a critério desse Juízo, a intimação
pessoal/por telefone/correio eletrônico, mediante certidão, dos demandados, tendo em vista a
extrema urgência da matéria;
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h) caso não sejam cumpridas as determinações acima, que seja arbitrada multa diária
por descumprimento para cada ente público, a ser revertida ao Fundo Federal de Proteção aos
Direitos Difusos ou aplicada a outra destinação social para resolução de demanda de saúde pública,
V.2. Requer a citação dos réus para contestar, querendo, a presente ação, no prazo
legal, sob pena de revelia;
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e) determinar aos réus que apresentem, no prazo de 10 dias após o decurso do lapso
mencionado no item anterior, a demonstração da efetiva operacionalização do referido plano de
gestão através da indicação precisa da sistemática, fluxo de absorção da demanda, lista de pacientes
das Regionais de Saúde de Itabaiana e Nossa Senhora da Glória regulados e referenciados, rol de
todos os procedimentos realizados, prova da execução dos serviços e da existência de capacidade
instalada resolutiva;
V.4. Para fins de atendimento do art. 319, VI, do CPC, o Ministério Público Federal
manifesta o propósito de produzir todos os meios de prova admitidos em nosso ordenamento
jurídico e que vierem a se fazer necessários no curso do processo, notadamente a juntada de
documentos novos, realização de perícias, inspeções, oitivas de testemunhas, apresentando, desde
logo, todos os elementos de prova coligidos nos autos do Inquérito Civil nº
1..35.000.001094.2021-04;
V.5. para fins de atendimento do art. 319, VII, do Código de Processo Civil, informa a
parte autora que, embora já tenha tentado a resolução extrajudicial da lide, possui interesse na
realização de audiência de conciliação visando à composição, caso manifestem interesse todas ou
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Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), apenas para efeitos fiscais.
70
Processo: 0800589-53.2021.4.05.8501
Assinado eletronicamente por:
MARTHA CARVALHO DIAS DE FIGUEIREDO - Gestor 21111117425606200000005405081
Data e hora da assinatura: 11/11/2021 18:07:51
Identificador: 4058501.5390663
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