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Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

PJe - Processo Judicial Eletrônico

11/10/2021

Número: 0707799-95.2021.8.07.0018
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF
Última distribuição : 11/10/2021
Valor da causa: R$ 500.000,00
Assuntos: Cirurgia, Eletiva, Consulta
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL (AUTOR)
DISTRITO FEDERAL (REU)
INSTITUTO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE SAÚDE DO
DISTRITO FEDERAL - IGESDF (REU)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
105642836 11/10/2021 INICIAL ACP CIRURGIA DE CABECA E Petição
18:05 PESCOCO
AO EGRÉGIO JUÍZO DA __ VARA DE FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO
FEDERAL

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CONSULTAS E PROCEDIMENTOS NA


ESPECIALIDADE CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO –
- RISCOS DE DANOS IRREVERSÍVEIS E IRREPARÁVEIS - SERVIÇO
PÚBLICO COM GRAVE DÉFICIT DE OFERTA HÁ MUITOS ANOS –
PEDIDO LIMINAR.

A DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL, instituição essencial à


Justiça, no exercício das suas funções constitucionais (CF/88, art. 134, caput) e legais (LC
80/94 e LC 132/09), pelos defensores públicos que ao final assinam a presente
eletronicamente, vêm respeitosamente perante Vossa Excelência, com base no art. 1º, IV,
e art. 5º, II, da Lei 7.347/1985; art. 4º, VII, da LC 80/94, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido liminar de tutela de urgência

em desfavor do DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, que


deverá ser intimado e citado na pessoa do Procurador-Geral do Distrito Federal, que pode
ser encontrado no SAM, Projeção I, Edifício Sede da Procuradoria-Geral do Distrito
Federal, CEP 70620-000, telefone 3325-3367; e do INSTITUTO DE GESTÃO
ESTRATÉGICA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL – IGESDF, pessoa jurídica
de direito privado, inscrito no CNPJ sob o nº 28.481.233/0001-72, sediado no SHMS
Área Especial, Quadra 101, Bloco A, Brasília-DF, CEP: 70.335-900), pelas razões de fato
e de direito a seguir elencadas.
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Número do documento: 21101118040591200000098363900


https://pje.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21101118040591200000098363900
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SINOPSE

A presente ação leva ao conhecimento desse renomado Juízo o seguinte problema


social:

a) A saúde pública do Distrito Federal enfrenta demanda reprimida de 1.083


consultas iniciais com cirurgiões da especialidade Cirurgia de Cabeça e Pescoço e 1.097
solicitações de procedimentos cirúrgicos nessa especialidade, perfazendo quase 2.200
pessoas aguardando algum tipo de atendimento.
b) Observa-se o aumento expressivo e constante da demanda reprimida e, com isso,
do tempo na fila de espera. Para consultas, as solicitações mais antigas na prioridade
Amarela foram inseridas em 02/09/2020, na Verde, em 05/08/2019 e na Azul, em
23/08/2019. Para cirurgias, as solicitações mais antigas na prioridade vermelha datam
25/08/2021, na Amarela, 03/03/2020, na Verde, 24/12/2018 e na Azul, 29/11/2018. Em
resumo, um paciente que demanda atenção urgente (prioridade amarelo) pode ter de
esperar 1 ano por sua primeira consulta e, depois, 1 ano e meio pela cirurgia, ou seja, o
tempo estimado para tratamento é de 2 anos e meio para prioridade amarela. Um
paciente na prioridade azul, segundo os dados informados, pode esperar até 6 anos!
c) O agendamento da cirurgia, contudo, não é certeza de tratamento, pois, em média,
no ano de 2021, 76% das cirurgias agendadas não foram executadas.
d) A principal consequência dessa situação é o sofrimento físico e psíquico suportado
pelos milhares de cidadãos que possuem alguma patologia a ser tratada por essa
especialidade, correndo risco, inclusive, de agravamento do quadro clínico que pode
levar, na pior das hipóteses, ao risco de morte ou deformidade em razão da mutilação de
partes do pescoço, boca e face.
e) O grave déficit de atendimento tem se refletido no aumento de ações judiciais
propostas por pacientes que exigem respeito ao seu direito à saúde, bem como acesso ao
tratamento adequado. Somente entre janeiro e setembro de 2021, o núcleo especializado
da Defensoria Pública do DF ajuizou 49 ações individuais.

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f) Apesar da situação descrita, cujos números se organizam resumidamente na tabela
abaixo, o Distrito Federal e o IGESDF não têm logrado êxito no planejamento e execução
de políticas públicas voltadas para a regularização do atendimento da especialidade de
Cirurgia de Cabeça e Pescoço.

Demanda reprimida - Cirurgia de Cabeça Pescoço


2018 a 2021
1200

1000

800

600

400

200

0
18

19

20
9

19

20

21
m 9

m 0

m 1
9

1
19

20

21
1

2
/1

/2

/2
/1

/2

/2
v/

v/

v/
l/

l/

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n/

n/

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t/

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ar

ar

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ai

ai

ai
ju

ju

ju
se

se

se
no

no

no
ja

ja

ja
m

m CONSULTAS CIRURGIAS

A Autora da ação postula:

a) A definição de prazos certos para o atendimento da demanda reprimida para


primeira consulta e para realização de procedimentos com especialista em Cirurgia de
Cabeça e Pescoço, observadas as prioridades de atendimento (vermelha, amarela, verde
e azul);
b) A condenação dos réus à manutenção das filas de espera por consultas e cirurgias
em patamares legais, ou seja, que respeitem o princípio da eficiência conforme
prioridades de atendimento e prazo máximo de espera definido pelo Conselho Nacional
de Justiça em seu Enunciado nº 93.

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1) INTRODUÇÃO

A presente ação civil pública tem por objetivo garantir o acesso aos serviços
de saúde pelo Sistema Único de Saúde do Distrito Federal, especificamente àqueles com
indicação médica para consultas e procedimentos cirúrgicos na especialidade de
Cirurgia de Cabeça e Pescoço.

Conforme será demonstrado na presente ação, no âmbito do DF, é crescente o


número de pessoas com indicação médica para consulta e/ou procedimentos na
especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço que não conseguem atendimento dentro
de prazo que atenda às suas necessidades terapêuticas. Esse problema social ocorre há
muitos anos e, infelizmente, a Administração Pública segue a ignorar o crescimento da
demanda reprimida.

Tendo em vista a realidade e longo período na fila de espera por uma simples
consulta ou um procedimento cirúrgico na especialidade mencionada, o volume de
solicitações feitas junto ao Núcleo de Saúde da Defensoria Pública do Distrito Federal
vem crescendo consideravelmente, fato que resulta em diversos requerimentos
administrativos e elevado número de ações judiciais. A instituição Autora não têm
logrado êxito em suas tentativas administrativas de solucionar os conflitos resultantes da
ausência do serviço e tem judicializado individualmente para garantir assistência aos
pacientes que necessitam de tratamento nessa especialidade.

Tais ações judiciais implicam elevado custo para o próprio Distrito Federal,
bem como para o Sistema de Justiça no Distrito Federal, que é acionado reiteradamente
para decidir sobre o acesso da população a esse serviço. Assim, a resolução coletiva ora
proposta atende tanto aos interesses da população que aguarda atendimento, quanto aos
interesses do próprio Estado.

Por meio desta demanda, objetiva-se a adoção de estratégias resolutivas desse


problema que permitam a redução do quantitativo de pacientes atualmente desassistidos,

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apesar da indicação de consulta e de procedimentos na especialidade Cirurgia de Cabeça
e Pescoço.

O meio mais adequado para tal redução é a ampliação do número de


atendimentos (ambulatoriais e cirúrgicos) e a qualificação da demanda existente. Como
consequência, pretende-se obter a diminuição do tempo de espera por consultas para o
prazo máximo tolerável de 14 dias úteis, conforme Resolução no 259 de 17/06/2011 da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ou, ao menos, se efetuar a adequação ao
padrão de eficiência previsto pelo Conselho Nacional de Justiça, que aponta 100 (cem)
dias como prazo máximo de espera por consultas eletivas1. De outro lado, pretende-se
também obter a diminuição do tempo de espera por cirurgias para o prazo máximo
tolerável, que é de 21 dias úteis, conforme Resolução no 259 de 17/06/2011 da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ou, ao menos, se efetuar a adequação ao padrão
de eficiência previsto pelo Conselho Nacional de Justiça, que aponta 180 (cento e oitenta)
dias como prazo máximo de espera por cirurgias eletivas.

A principal decorrência positiva esperada é a melhoria do atendimento à


população. Contudo, também é certo afirmar que solução ampla na assistência dessa
especialidade diminuirá o volume de ações judiciais ajuizadas individualmente.

Para melhor compreender a dimensão do problema apontado e ter condições


de direcionar soluções para o caso, a instituição Autora buscou junto à Secretaria de
Estado de Saúde (SES/DF) dados atualizados da situação da fila de espera dos pacientes
que necessitam de atendimento nessa especialidade, o que será demonstrado de forma
detalhada a seguir.

2) FUNDAMENTOS FÁTICOS DA PRETENSÃO

1 Enunciado n. 93/CNJ: Nas demandas de usuários do Sistema Único de Saúde – SUS por acesso a ações e serviços
de saúde eletivos previstos nas políticas públicas, considera-se excessiva a espera do paciente por tempo superior
a 100 (cem) dias para consultas e exames, e de 180 (cento e oitenta) dias para cirurgias e tratamentos.
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No exercício de sua função de prestar assistência jurídica integral e gratuita
aos necessitados, por intermédio de seu Núcleo de Saúde, a Defensoria Pública do DF
constata que tem sido constante a demanda de assistidos que necessitam de atendimento
de consultas e cirurgias na especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço.

Cirurgia de Cabeça e Pescoço é a especialidade médica que trata,


principalmente, dos tumores benignos e malignos da região da face, fossas nasais, seios
paranasais, boca, faringe, laringe, tireoide, glândulas salivares, dos tecidos moles do
pescoço, da paratireoide e tumores do couro cabeludo.

Dentre as cirurgias mais comumente realizadas pela especialidade, podemos


citar as tireoidectomias, traqueostomias, cirurgias de glândulas salivares (parótida,
submandibular), tumores da boca e da laringe.

A consulta com cirurgião de cabeça e pescoço é a etapa inicial e imprescindível


para diagnóstico de patologia, avaliação da necessidade de cirurgia e realização desta.
Sem a consulta, o quadro clínico dos pacientes pode se agravar, gerando irreversíveis
problemas à saúde, inclusive a perda da chance de cura.

A falta do serviço mais simples que o SUS deve ofertar – a consulta –


simplesmente alija o paciente do mais básico direito decorrente de sua saúde: o
direito a saber de seu diagnóstico e do tratamento necessário para o reestabelecer
sua saúde. Tudo mais é consequência da consulta médica. Exames, cirurgias, tratamentos
e medicações só podem ser indicados a partir da avaliação clínica do especialista médico.

A espera, infelizmente, não termina quando os pacientes finalmente


conseguem se entrevistar com um médico cirurgião de cabeça e pescoço. Isso porque,
após a consulta, os pacientes são inseridos em outra fila igualmente longa e penosa para
realizar o procedimento cirúrgico eventualmente recomendado pelo especialista em
Cirurgia de Cabeça e Pescoço.

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2.1) A Regulação no Sistema Único de Saúde

A Regulação no Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser definida como


ferramenta de gestão do sistema de saúde pública, segundo padrões organizacionais e de
qualidade, que visam promover equidade, eficiência, integralidade e universalidade ao
acesso da população a serviços públicos de saúde.

Para alcançar esses objetivos, conta-se com o implemento de ações diversas,


como o estabelecimento de complexos reguladores, inclusive com utilização de novas
tecnologias na gestão de saúde, como a instalação de serviços informatizados de
regulação.

Uma das ferramentas informatizadas de gestão de saúde introduzidas pela


regulação, que atende à exigência da implantação da Política Nacional de Regulação, é o
SISREG, sistema de informática criado pelo Ministério da Saúde em parceria com o
DATASUS (banco de dados do SUS).

O SISREG – Sistema de Regulação Ambulatorial – é um programa (software)


que funciona conectado à internet, acessado através do sítio eletrônico
sisregiii.saude.gov.br, e tem por objetivo o gerenciamento ambulatorial dos pedidos de
consultas e exames nas mais diversas áreas especializadas da saúde. Entre os
procedimentos regulados está a consulta com especialista em cirurgia em cabeça e
pescoço.
Após o cadastro das solicitações para consultas e/ou exames em algumas
especialidades, o SISREG se encarrega de distribuir as prioridades de acordo com a
urgência previamente indicada pelo médico solicitante. As prioridades se dividem em
Vermelha (Emergência), Amarela (Urgência), Verde (Não Urgente) e Azul (Eletivo).

2.2) O Histórico da Demanda Reprimida na Especialidade de Cirurgia de Cabeça e


Pescoço

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Atualmente, no Sistema Único de Saúde do DF, o atendimento dessa
especialidade dá-se pelas unidades de serviço especializado no Hospital de Base do
Distrito Federal, pertencente à estrutura administrada pelo IGESDF, segundo réu.
Secundariamente, há atendimento, no Hospital Universitário (HUB - EBSERH), embora
em quantitativo muito inferior ao ofertado pelo Hospital de Base.

Esta Defensoria vem atuando extrajudicialmente, de forma coletiva, para


resolução do problema citado desde 2018, quando foi enviado o primeiro ofício ao
Hospital de Base solicitando a estimativa média de solicitações e de pessoas aguardando
na fila para a especialidade. Nos referimos ao ofício n° 12693/2018 encaminhado em
18/11/2018 pelo processo SEI 00401-00023252/2018-31 (processo administrativo no
Anexo I).

O ofício foi respondido pelo Diretor de Regulação da SES/DF em 26 de


novembro de 2018. Na oportunidade, ele informou que o processo de regulação de
cirurgias de cabeça e pescoço acabara de ser iniciado e que:

“Nesse momento há 236 pacientes aguardando marcação de cirurgia


(contudo pacientes ainda estão sendo inseridos), sendo:

0 (zero) pacientes classificados em vermelho (Prioridade Zero).

76 pacientes classificados em amarelo (Prioridade 1).

122 pacientes classificados em verde (Prioridade 2).

38 pacientes classificados em azul (Prioridade 3).”

Como o processo de regulação da especialidade acabara de ser iniciado e o


número fornecido não correspondia ao real volume da demanda, a Defensoria Pública
aguardou por alguns meses e, em fevereiro de 2019, encaminhou nova demanda. Desta
vez, foi expedido o ofício n.º 1952/2019, via processo SEI 00401-00003996/2019-10
(processo administrativo no Anexo II). A resposta à demanda foi encaminhada em 29 de
março de 2019 e indicava:

Número do documento: 21101118040591200000098363900


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“A fila atual de cirurgias de cabeça e pescoço tem 747 (setecentos e quarenta
e sete) solicitações destas, nenhuma com prioridade vermelha, 81 (oitenta e
uma) amarelas, 190 (cento e noventa) verdes e 476 (quatrocentas e setenta e
seis) azuis;

(...)

c) Temos atualmente duas unidades executando os procedimentos de cabeça


e pescoço, Hospital de Base, que oferta 04 períodos de 06h semanais; e o
Hospital Universitário, que oferta 01 período de 06h por semana. Desde o
início do processo regulatório temos os seguintes dados de execução:
novembro e dezembro/2018, 29 procedimentos; janeiro e fevereiro/2019, 45
procedimentos. O HUB iniciou a execução de procedimentos em
janeiro/2019;” (grifo nosso)

Observa-se que, 4 meses após iniciado o processo de regulação, a fila já


indicava a real demanda reprimida naquele momento: 747 pacientes aguardando
atendimento para realizar cirurgias. De outro lado, o Hospital de Base oferecia, nos
melhores meses, apenas 45 procedimentos e não havia dados específicos sobre o Hospital
Universitário de Brasília, apenas a indicação de que dispunha tão somente de 01 período
de 06h por semana para cirurgias.

O acompanhamento do contexto seguiu e, em 10 de maio de 2019, foi


expedido o Ofício n.º 4773/2019 solicitando informações sobre a fila para cirurgias de
cabeça e pescoço (autos SEI 00401-00023252/2018-31, Anexo I, p. 12 e 13). A resposta,
contudo, não se referiu às cirurgias de cabeça e pescoço, mas tão somente às consultas
com cirurgiões de cabeça e pescoço. Ou seja, indicaram a fila inicial para primeira
consulta com o especialista, e não o do procedimento indicado. Ainda assim, eis as
informações prestadas em 13 de maio de 2019 pela Central de Regulação Ambulatorial
(CERA):

Número do documento: 21101118040591200000098363900


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“(a) quantidade estimativa de pessoas aguardando em lista de espera
(prioridades vermelho, amarelo, verde e azul):

vermelho = 41

amarelo = 267

verde = 16

azul = 21 (...)

c) média estimativa da oferta mensal para cada procedimento em cada área


(atendimentos mensais), desde que a regulação de tais procedimentos passou
a ser feita por esta diretoria: 91 vagas/mês”.

Assim, em maio de 2019, além de uma fila de mais de 700 pacientes para
realizar cirurgia, havia uma prévia lista de espera para se lograr acesso a simples
consultas. A fila para consultas já contava com 345 pacientes. No somatório, mais de
1.000 (mil) pessoas aguardavam atendimento no serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço.

Em 07 de fevereiro de 2020, foi encaminhado o Ofício SEI n.º 39/2020 para


solicitar ao Complexo Regulador informações tanto em relação à fila de consulta com
cirurgião de cabeça e pescoço quanto em relação às cirurgias em si (Processo SEI 00401-
00003996/2019-10).

Em resposta, a Assessoria Técnico-Legal do Complexo Regulador


encaminhou uma tabela com diversos dados, conforme se observa na p. 13 do Processo
SEI 00401-00003996/2019-10 (Anexo II). Para facilitar a exposição dos dados,
apresentamos na tabela abaixo as demandas por CONSULTAS:

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Número do documento: 21101118040591200000098363900


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CONSULTAS EM CABEÇA E PESCOÇO

Mês/Ano Consultas realizadas (1ª vaga Demanda


regulada e retorno não regulado) reprimida
Julho 2019 185 447
Agosto 2019 143 518
Setembro 2019 402 sem dados
Outubro 2019 343 616
Dezembro 2019 153 773
Janeiro 2020 343 sem dados
Fevereiro 2020 sem dados 862

Em relação às CIRUGIAS, eis as informações prestadas:

Mês/Ano Cirurgias realizadas Demanda


reprimida
Julho 2019 26 867
Agosto 2019 20 875
Setembro 2019 19 sem dados
Outubro 2019 22 887
Novembro 2019 25
Dezembro 2019 18 993
Janeiro 2020 21 sem dados
Fevereiro de sem dados 770
2020
Março de 2020 sem dados 8452

Importante registrar que a abrupta redução da fila entre dezembro de 2019 e


fevereiro de 2020 se explica, conforme o relatório, pelo fato de 227 solicitações de

2
Informação na página 20, SEI 00401-00003996/2019-10 (Anexo II).
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cirurgias terem sido “devolvidas” em dezembro e mais 2 em janeiro. A devolução faz
parte do processo de “higienização da fila”, ou seja, da retirada da fila de atendimentos
que não são mais necessários, estão não-recomendados ou não estão devidamente
justificados. É o que ocorre, por exemplo, quando uma pessoa falece esperando na fila ou
seu caso evolui para um estágio da doença não mais operável, ou quando o paciente
realiza a cirurgia por meios próprios na iniciativa privada ou em outro estado. Relevante
perceber que a redução da fila nada teve a ver com o aumento da produtividade da
Secretaria de Saúde do DF ou do Hospital de Base.
Outra informação relevante apresentada foi o relatório de produtividade dos
procedimentos cirúrgicos em cabeça e pescoço, que restou juntado entre as páginas 20 e
22 do processo SEI 00401-00003996/2019-10 (Anexo II). Seguem abaixo reproduzidos
os relatórios que foram produzidos pela Central de Regulação de Cirurgias Eletivas
(CERCE):

Relatório de Produtividade Cirurgia de Cabeça e Pescoço - 2019

% não
%
Mês Unidade Autorizados Executados Não executados executado
Executados
s

Base 35 18 51% 17 49%


Janeiro
HUB 14 5 36% 9 64%

Feverei Base
50 19 38% 31 62%
ro
HUB 17 3 18% 14 82%

Base 61 16 26% 45 74%


Março
HUB 12 7 58% 5 42%

Base 29 8 28% 21 72%


Abril
HUB 11 4 36% 7 64%

Base 33 9 27% 24 73%


Maio
HUB 6 1 17% 5 83%

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Base 41 11 27% 30 73%
Junho
HUB 5 4 80% 1 20%

Base 51 19 37% 32 63%


Julho
HUB 6 3 50% 3 50%

Base 60 13 22% 47 78%


Agosto
HUB 8 0 0% 8 100%

Setemb Base 45 7 16% 38 84%


ro HUB 8 1 13% 7 88%

Outubr Base 74 20 27% 54 73%


o HUB 5 5 100% 0 0%

Novem Base 32 7 22% 25 78%


bro
HUB 7 2 29% 5 71%

Dezem Base 47 5 11% 42 89%


bro
HUB 8 0 0% 8 100%

Base 558 152 27% 406 73%


TOTA
HUB 105 34 32% 71 68%
L
TOTAL 663 186 28% 477 72%

O relatório de produtividade chama atenção para a espantosa taxa de não-


execução das cirurgias autorizadas pela CERCE. Em 2019, o Hospital de Base realizou
apenas 27% (vinte e sete por cento) das cirurgias autorizadas e o HUB, apenas 32%
(trinta e dois por cento)!

Em suma, além de enfrentar filas com centenas de pessoas para uma consulta
e, depois, outra ainda mais longa para o procedimento, ainda existe uma chance de
aproximadamente 70% (setenta por cento) de o procedimento não ser realizado pelo
Hospital responsável pela execução da cirurgia!
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Número do documento: 21101118040591200000098363900


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Num. 105642836 - Pág. 13
Foi nessas condições que a Pandemia da COVID-19 encontrou, em março de
2020, o atendimento na especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. O contexto
imposto pela pandemia tornou improdutivo qualquer debate estruturante sobre o
atendimento nessa especialidade, dado que muitos procedimentos eletivos foram
suspensos para direcionar os recursos da saúde para lidar com as consequências da
pandemia.

Ainda assim, para ter conhecimento da situação de atendimento na


especialidade, o Núcleo de Saúde da DPDF encaminhou, em 06 de maio de 2020, o Ofício
n.º 167/2020 tanto à Central de Regulação Ambulatorial (CERA), que organiza a fila para
consultas, quanto para a Central de Regulação de Cirurgias Eletivas (CERCE), que regula
a fila para os procedimentos cirúrgicos.

Em resposta, a CERA apontou que a demanda reprimida, em maio de 2020, já


alcançava 673 solicitações (eram 345 pacientes um ano antes, em maio de 2019).
Chamava a atenção, contudo, o fato de a média estimativa de novas solicitações ser de 62
solicitações e a oferta de 72 vagas/mês. Ou seja, mesmo com oferta supostamente maior
que a demanda, a fila quase dobrou em um ano e pacientes seguiam há anos aguardando
simples consultas. Eis a resposta que consta no processo SEI 00401-00003996/2019-10
(Anexo II), p. 24:

I) Aguardam em lista de espera por consultas na especialidade de


cirurgia cabeça e pescoço em 06/05/2020, 673 solicitações.
II) a média estimativa de novas solicitações mensais por consultas
na especialidade de cirurgia cabeça e pescoço é de 62 solicitações.
III) a média estimativa da oferta mensal das unidades que ofertam
o serviço em 2020 de 72 vagas/mês.
IV) Quanto ao tempo de espera em fila, o sistema SISREG permite-
nos informar a data de inserção dos pedidos mais antigos ainda em espera
por classificação de risco que apresentam-se conforme a seguir: Vermelho,
inserido em 28/11/2019; Amarelo, 31/05/2019, Verde, 19/12/2018 e Azul
17/12/2018.

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Número do documento: 21101118040591200000098363900


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Num. 105642836 - Pág. 14
A CERCE, por sua vez, informou que, em maio de 2020, havia 849
solicitações para Cirurgias de Cabeça e Pescoço (eram 845 em março), e apresentou o
seguinte relatório de produtividade:

Relatório de Produtividade Cirurgia de Cabeça e Pescoço - 2020

%
Autorizado Executado Não % não
Mês Unidade Executado
s s executados executado
s

Hospital de
27 7 26% 20 74%
Janeiro Base

HUB 13 6 46% 7 54%

Hospital de
30 12 40% 18 60%
Fevereiro Base

HUB 17 2 12% 15 88%

Hospital de
31 7 23% 24 77%
Março Base

HUB 6 3 50% 3 50%

O cenário era, portanto, ainda mais grave, pois o percentual de não-execução


permanecia muito alto e as filas somadas para consulta e cirurgia já indicavam 1.522
pessoas aguardando atendimento.

Novo pedido de informações foi encaminhado pelo Núcleo de Saúde da DPDF


em 25 de agosto de 2020, pelo Ofício n.º 512/2020.

Em resposta, a CERA apontou que a demanda reprimida, em agosto de 2020,


já alcançava 728 solicitações (eram 673 pacientes 4 meses antes, em maio de 2020). A
oferta permanecia de 72 vagas/mês, mas não havia mais acesso aos dados do número de
solicitações. Elas, contudo, certamente cresceram, dado o significativo aumento da fila.

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Número do documento: 21101118040591200000098363900


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A CERCE, por seu turno, informou que em agosto de 2020 havia 896
solicitações para Cirurgias de Cabeça e Pescoço (eram 849 em maio), e apresentou novo
relatório de produtividade às fls. 33/35 do processo SEI 00401-00003996/2019-10
(Anexo II). A situação permanecia a mesma: muitas cirurgias autorizadas não eram
realizadas, seja pela ausência de condições clinicas dos pacientes tardiamente atendidos,
seja pelas falhas estruturais de falta de pessoal, leitos ou materiais.

Entre agosto de 2020 e abril de 2021, o Núcleo de Saúde da DPDF deixou de


requisitar mais informações em razão a da situação aguda do contexto de pandemia.
Passadas a 1ª e a 2ª ondas da pandemia, a Defensoria Pública retomou sua vigilância sobre
o desenvolvimento do serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no âmbito do SUS no DF.
Assim, em maio de 2021 foi solicitada nova atualização dos dados à CERA e à CERCE
pelo Ofício n.º 336/2021 de 26 de maio de 2021.

Em resposta, a CERA apontou que a demanda reprimida, em maio de 2021, já


alcançava espantosas 1043 solicitações (eram 896 pacientes em agosto de 2020). O
aumento da fila parcialmente se explica pelo fato de que a oferta de vagas, que antes era
de 72 vagas/mês, havia sido reduzida para uma média 60 vagas/mês durante 2020 e, em
2021, para apenas 57 vagas/mês. Eis a resposta que consta no processo SEI 00401-
00003996/2019-10 (Anexo II), p. 39:

I) Aguardam em lista de espera por consultas na especialidade de


cirurgia cabeça e pescoço em 27/05/2021: 1043 solicitações.
II) a média estimativa de novas solicitações mensais por consultas
na especialidade de cirurgia cabeça e pescoço: devido as limitações do
SISREG na versão III, no momento, este dado não está sendo possível calcular
e não dispomos de outra ferramenta de apoio.
III) a média estimativa da oferta mensal das unidades que ofertam
o serviço:
- JAN a DEZ de 2020: 60 vagas/mês.
- JAN a DEZ de 2021: 57 vagas/mês.
IV) Quanto ao tempo de espera em fila, o sistema SISREG permite-
nos informar a data de inserção dos pedidos mais antigos ainda em espera
por classificação de risco que apresentam-se conforme a seguir: Vermelho -

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01 solicitação, mais antiga inserida em 26/05/2021; Amarelo – 531
solicitações, mais antiga inserida em 06/02/2020; Verde - 400 solicitações,
mais antiga inserida em 05/08/2019; Azul - 111 solicitações, mais antiga
inserida em 25/07/2019.

A CERCE, por seu turno, informou que em maio de 2021 havia 972
solicitações para Cirurgias de Cabeça e Pescoço (eram 896 em agosto de 2020), e
apresentou novo relatório de produtividade às fls. 41/42 do processo SEI 00401-
00003996/2019-10 (Anexo II). A situação, como esperado, se mantém: muitas cirurgias
autorizadas seguiam sem ser realizadas.

Recentemente, em 12/08/2021, foi encaminhado o Ofício n.º 484/2021, e as


respostas dos órgãos reguladores apontam que a situação continuava muito grave.

Até a data de 30/07/2021, aguardavam na lista de espera, por consulta na


especialidade de Cirurgia Cabeça e Pescoço 1.013 solicitações, o que apontava um
cenário de manutenção da fila em patamar superior a 1.000 pessoas aguardando a primeira
consulta. A média estimativa da oferta mensal das unidades que prestam esse serviço se
manteve em 62 (sessenta e duas) vagas por mês, ou seja, a oferta oferecida continuava
muito abaixo da demanda atual.

A CERCE, por seu turno, informou na p. 47 do processo SEI 00401-


00003996/2019-10 (Anexo II) que em agosto de 2021 havia 1.058 solicitações para
Cirurgias de Cabeça e Pescoço (eram 972 em maio). Além disso, quanto à execução dos
procedimentos, situação se mantinha: muitas cirurgias autorizadas seguiam sem ser
realizadas.

Finalmente, em 04/10/2021, poucos dias antes do ajuizamento da presente


ação, foi encaminhado o Ofício n.º 584/2021 (Anexo II), e as respostas dos órgãos
reguladores apontam que a situação continua muito grave, cada vez mais grave.

Atualmente, em de 05/10/2021, aguardam na lista de espera, por consulta na


especialidade em Cirurgia Cabeça e Pescoço 1.083 solicitações, o que aponta um cenário
de constante crescimento da fila. A média estimativa, de janeiro a setembro de 2021, da

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oferta mensal das unidades que prestam esse serviço é de 62 (sessenta e duas) vagas por
mês, ou seja, o atendimento oferecido continua muito abaixo da demanda atual e tem sido
o principal fator de agravamento da demanda reprimida. Eis a resposta da CERA, que
resume bem o quadro de constante piora da demanda reprimida e estagnação da oferta do
serviço:

I) Aguardam em lista de espera por consultas na especialidade de Cirurgia


Cabeça e Pescoço em

30/12/2020: 867 solicitações.

30/07/2021: 1013 solicitações.

30/09/2021: 1083 solicitações

II) a média estimativa de novas solicitações mensais por consultas na


especialidade de cirurgia cabeça e pescoço: devido as limitações do SISREG
na versão III, no momento, este dado não está sendo possível calcular e não
dispomos de outra ferramenta de apoio.

III) a média estimativa da oferta mensal das unidades que ofertam o serviço
em:

jan à dez de 2020: 60 vagas/mês.

jan à jul de 2021: 62 vagas/mês.

jan à set de 2021: 62 vagas/mês

IV) Quanto ao tempo de espera em fila, o sistema SISREG permite-nos


informar a data de inserção dos pedidos mais antigos ainda em espera por
classificação de risco que apresentam-se conforme a seguir:

- Dez/2020: Vermelho, inserido em 17/06/20; Amarelo, inserido em 02/09/19,


Verde, inserido em 04/07/19 e Azul, inserido em 23/07/19.

- jul/2021: Vermelho, inserido em 12/07/21; Amarelo, inserido em 04/06/20,


Verde, inserido em 05/08/19 e Azul, inserido em 25/07/19.

- set/2021: Vermelho, inserido em 29/09/21; Amarelo, inserido em 02/09/20,


Verde, inserido em 05/08/19 e Azul, inserido em 23/08/19.

Nos casos de não urgência e de consulta eletiva (prioridades verde e azul), um


paciente com indicação para atendimento em consulta na especialidade de Cirurgia
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Cabeça e Pescoço na rede pública do Distrito Federal deve esperar mais de 2 (dois) anos
por uma simples consulta. Ademais, pacientes com casos considerados urgentes -
prioridade amarela – esperam mais de um ano para sua primeira avaliação por um
cirurgião!

E toda essa espera leva a outra “fila”, ainda maior.

Isso porque a CERCE informa na p. 57 do processo SEI 00401-


00003996/2019-10 (Anexo II) que em outubro de 2021 havia 1.097 solicitações para
Cirurgias de Cabeça e Pescoço (eram 1.058 em agosto). Repisa-se, a fila da especialidade,
até 05/10/2021, contava com 1.097 solicitações: 6 na prioridade vermelha, 258 na
prioridade amarela, 284 na prioridade verde e 549 na prioridade azul. Observa-se que,
nos casos de emergência (vermelho), a solicitação mais antiga é de 25/08/2021, nos casos
amarelos, é de 03/03/2020, verdes, 24/12/2018, e azul, 29/11/2018.

Na oportunidade, a CERCE também apresentou o relatório de produtividade a


seguir, marcado pela manutenção de altíssimos níveis de inexecução dos serviços
autorizados: uma média de 76% de cirurgias autorizadas, mas não executadas! Eis os
dados:

CABEÇA E PESCOÇO 2021

%
HOSPITA Autorizado Executado Não % não
MÊS Executado
L s s executados executados
s

HB/IGES
58 16 28% 42 72%
DF
JANEIRO
HUB 14 6 43% 8 57%

TOTAL 72 22 31% 50 69%

HB/IGES
FEVEREI 60 21 35% 39 65%
DF
RO
HUB 9 5 56% 4 44%

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Num. 105642836 - Pág. 19
TOTAL 69 26 38% 43 62%

HB/IGES
73 19 26% 54 74%
DF
MARÇO
HUB 8 2 25% 6 75%

TOTAL 81 21 26% 60 74%

HB/IGES
67 19 28% 48 72%
DF
ABRIL
HUB 9 1 11% 8 89%

TOTAL 76 20 26% 56 74%

HB/IGES
55 10 18% 45 82%
DF
MAIO
HUB 10 3 30% 7 70%

TOTAL 65 13 20% 52 80%

HB/IGES
29 2 7% 27 93%
DF
JUNHO
HUB 8 0 0% 8 100%

TOTAL 37 2 5% 35 95%

HB/IGES
53 8 15% 45 85%
DF
JULHO
HUB 8 3 38% 5 63%

TOTAL 61 11 18% 50 82%

HB/IGES
72 13 18% 59 82%
DF
AGOST
O HUB 8 0 0% 8 100%

TOTAL 80 13 16% 67 84%

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HB/IGESDF 467 108 23% 359 77%
TOTAL
HUB 74 20 27% 54 73%

TOTAL 541 128 24% 413 76%

*Informações fornecidas pelo Complexo Regulador em Saúde da Secretaria de Estado


de Saúde no Processo Administrativo - SEI nº 00401-00003996/2019-10, p. 57/58.

A realidade atual é, portanto, extremamente grave. Aproximadamente


1.083 pacientes aguardam a primeira consulta na especialidade de Cirurgia de
Cabeça e Pescoço e um número ainda maior, cerca de 1.097 pacientes, esperam
agendamento de seu procedimento cirúrgico. Quase 2.200 pessoas esperam por
algum tipo de atendimento na especialidade: o dobro do que observado no cenário
de 2 anos atrás.

Os cidadãos e cidadãs residentes no Distrito Federal e Entorno, hoje, se


necessitarem de atendimento na especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço,
devem aguardar em uma fila de 1 ano a quase 3 anos por uma consulta inicial, e
depois enfrentar outra fila, de 1 a quase 3 anos, para ter sua cirurgia autorizada. E,
ainda, devem conviver com uma chance muito alta - aproximadamente 76% - de
ter seu procedimento cancelado em razão da piora de seu quadro clínico ou por
problemas estruturais do SUS. É uma calamidade pública!

Em verdade, o serviço ofertado pelo Hospital de Base tem conseguido apenas


manter o atendimento adequado às situações de emergenciais (prioridade vermelha) que,
regra geral, são situações de tumores malignos muito agressivos na face, boca ou pescoço
dos pacientes. Todo o mais segue praticamente paralisado.

O Hospital Universitário de Brasília (HUB), por sua vez, pouco contribui com
o atendimento na especialidade em comento. Isso porque, conforme informações da
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CERCE, o HUB oferece apenas 1 turno de 6h por semana, com média de 8 vagas por
mês. No entanto, isso não significa praticamente nenhum suporte à rede SUS do Distrito
Federal, pois o HUB tem apresentado índices altíssimos de não-execução de
procedimentos, chegando a 100% de ineficiência em meses como junho e agosto de 2021.

Como demonstrado, a situação calamitosa é fruto de anos e anos de reiterada


omissão do Poder Público. É clara a intenção de não prestar adequadamente o serviço,
mantendo ou reduzindo a oferta do serviço enquanto uma fila enorme se forma às portas
do Hospital de Base do DF. Isso se for adequado chamar de “fila” uma espera que pode
variar de 2 a 6 anos!

O resultado, infelizmente, não seria outro: manutenção de um mínimo para


atender as emergências e relegar todos os demais à própria sorte.

Em síntese, depreende-se, da análise dos dados apresentados, que o número


de vagas disponíveis na especialidade citada é significativamente inferior ao número de
inserções mensais cadastradas no Sisreg. A inevitável consequência dessa equação
viciosa, aplicada ao longo dos últimos anos, foi o aumento cada vez mais expressivo da
demanda reprimida e do tempo na “fila” de espera para atendimento requisitado. Como a
quantidade de pessoas em espera é muito superior à oferta de vagas, é natural que, com o
passar do tempo, deixe de existir uma “fila” e passe a existir apenas um “depósito” de
pessoas que, de fato, nunca serão atendidas. A fila de acesso à Cirurgia de Cabeça e
Pescoço na SES/DF se desnaturou. É tudo menos uma fila, pois não conduz mais ao
atendimento, mas sim à espera, à dor e à desassistência.

Para regularizar o atendimento na área analisada, a atuação da Administração


Pública deve ser no sentido de disponibilizar número suficiente de consultas e
procedimentos na especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço capaz de atender às
novas solicitações inseridas, bem como superar a enorme demanda reprimida já existente,
caso contrário o problema não será enfrentado.

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Num. 105642836 - Pág. 22
Assim, conclui-se que é cada vez mais crítica a situação dos pacientes que
precisam de atendimento especializado, que tem de esperar em duas filas por anos a fio
para ter uma chance inferior a 30% de ter sua cirurgia agendada e efetivamente realizada.

Por fim, apresenta-se ao gráfico que segue elaborado a partir dos dados acima
indicados sobre a evolução da demanda reprimida por consultas e procedimentos da
especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço.

Demanda reprimida - Cirurgia de Cabeça Pescoço


2018 a 2021
1200

1000

800

600

400

200

0
18

19

20

1
19

20

21
9

19

20

21
m 9

m 0

m 1
/1

/2

/2
1

2
/1

/2

/2
v/

v/

v/
t/

t/

t/
l/

l/

l/
n/

n/

n/
ai

ai

ai
ar

ar

ar
ju

ju

ju
se

se

se
no

no

no
ja

ja

ja
m

CONSULTAS CIRURGIAS

2.3) O crescimento da judicialização da saúde e o alto custo das condenações


judiciais para o Estado

A ausência da prestação célere e adequada dos referidos serviços públicos para


os pacientes que se busca proteger por meio desta ação civil pública tem gerado a
multiplicação de processos individuais objetivando a condenação do DF a realizar o
atendimento indicado e, em muitos casos, ao persistir a omissão do Estado, o consequente
sequestro de verbas públicas.

A luta por acesso aos serviços de Cirurgia de Cabeça e Pescoço é contada em


centenas de ações ajuizadas pela Defensoria Pública do DF em demandas individuais.

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Num. 105642836 - Pág. 23
Somente no ano de 2021, até setembro, foram 49 ações individuais para acesso a consultas
ou a procedimentos cirúrgicos na referida especialidade. Eis um quadro completo:

MÊS NÚMERO DO PROCESSO PROCEDIMENTO

Janeiro 0701961-80.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Janeiro 0700162-93.2021.8.07.0018 PAROTIDECTOMIA EM ONCOLOGIA

Janeiro 0703574-38.2021.8.07.0016 GLOSSECTOMIA PARCIAL EM


ONCOLOGIA

Janeiro 0703860-16.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Janeiro 0704624-02.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Janeiro 0705007-77.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Janeiro 0704359-97.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Janeiro 0704825-91.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

24

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Num. 105642836 - Pág. 24
Fevereiro 0705288-33.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE
CABEÇA E PESCOÇO

Fevereiro 0706671-46.2021.8.07.0016 PAROTIDECTOMIA TOTAL

Fevereiro 0706974-60.2021.8.07.0016 EXCISÃO E SUTURA DE LESÃO NA


PELE COM PLÁSTICA EM Z OU
ROTAÇÃO EM RETALHO

Fevereiro 0707447-46.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Fevereiro 0708763-94.2021.8.07.0016 MANDIBULECTOMIA PARCIAL EM


ONCOLOGIA

Março 0711220-02.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Março 0711363-88.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Março 0711441-82.2021.8.07.0016 CIRURGIA DE LARINGECTOMIA


TOTAL

Março 0716392-22.2021.8.07.0016 MANDIBULECTOMIA PARCIAL EM


ONCOLOGIA

25

Número do documento: 21101118040591200000098363900


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Num. 105642836 - Pág. 25
Abril 0720395-20.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE
CABEÇA E PESCOÇO

Maio 0726894-20.2021.8.07.0016 GLOSSECTOMIA PARCIAL EM


ONCOLOGA

Maio 0727453-74.2021.8.07.0016 PAROTIDECTOMIA PARCIAL EM


ONCOLOGIA

Maio 0728699-08.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABECA E PESCOCO

Maio 0728699-08.2021.8.07.0016 LARINGECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Maio 0728741-57.2021.8.07.0016 GLOSSECTOMIA PARCIAL EM


ONCOLOGIA

Maio 0728796-08.2021.8.07.0016 PELVEGLOSSECTOMIA ESQUEDA


COM ESVAZIAMENTO CERVICAL
BILATERAL

Maio 0728927-80.2021.8.07.0016 PARATIREOIDECTOMIA

Maio 0729089-75.2021.8.07.0016 PELVIGLOSSOMANDIBULECTOMIA


EM ONCOLOGIA

26

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Num. 105642836 - Pág. 26
Maio 0729338-26.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE
CABEÇA E PESCOÇO

Junho 0731988-46.2021.8.07.0016 MANDIBULECTOMIA PARCIAL EM


ONCOLOGIA

Junho 0732460-7.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Junho 0733003-50.2021.8.07.0016 LARINGECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Junho 0733024-26.2021.8.07.0016 RESSECÇÃO DE TUMOR DE PARTES


MOLES EM ONCOLOGIA

Junho 0733617-55.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Julho 0735296-90.2021.8.07.0016 CONSULTA CIRURGIA DE CABEÇA


E PESCOÇO

Julho 0736287-66.2021.8.07.0016 RESSECÇÃO DE TUMOR DE PARTES


MOLES EM ONCOLOGIA

Julho 0738718-73.2021.8.07.0016 CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

Julho 0739135-26.2021.8.07.0016 MAXILECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

27

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Num. 105642836 - Pág. 27
Julho 0739312-87.2021.8.07.0016 RESSECÇÃO DE GLANDULA
SUBMANDIBULAR EM ONCOLOGIA

Julho 0739577-89.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL

Julho 0739931-17.2021.8.07.0016 PARATIREOIDECTOMIA

Julho 0740620-61.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Agosto 0743684-79.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Agosto 0744161-05.2021.8.07.0016 PARATIREOIDECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Agosto 0744195-77.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Agosto 0745005-52.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL EM


ONCOLOGIA

Agosto 0745474-98.2021.8.07.0016 RESSECÇÃO DE LESÃO MALIGNA


DE MUCOSA BUCAL EM
ONCOLOGIA

Agosto 0746144-39.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL COM


ESVAZIAMENTO GANGLIONAR

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Num. 105642836 - Pág. 28
Agosto 0747088-41.2021.8.07.0016 TIREOIDECTOMIA TOTAL COM
ESVAZIAMENTO GANGLIONAR

Setembro 0747429-67.2021.8.07.0016 CONSULTA EM CIRURGIA DE


CABEÇA E PESCOÇO

Setembro 0749318-56.2021.8.07.0016 PELVIGLOSSOMANDIBULECTOMIA


EM ONCOLOGIA

Total 49 ações

É de se notar o progressivo aumento de causas em que, mesmo condenado a


providenciar o atendimento, o DISTRITO FEDERAL não cumpre a ordem judicial,
sujeitando-se ao custeio do tratamento junto à rede privada. Tal proceder, rotineiro e
reiterado, tem severa repercussão para o tratamento dos pacientes, pois a realização de
atendimento fora do sistema SUS simplesmente expele o paciente da rede pública de
saúde, lançando-o ao atendimento privado de saúde que, como se sabe, não atua como
rede articulada. Ademais, não se pode deixar de acentuar que a necessidade de realizar
sequestro de verbas públicas para atendimento no setor privado provoca expressivo
dispêndio ao erário, pois o custeio do tratamento ao preço de mercado é bastante superior
ao custo do tratamento por meio da prestação direta do serviço pelos hospitais públicos
ou por meio de convênios com hospitais da rede privada (com remuneração tendo por
base a Tabela SUS).

O prejuízo financeiro, contudo, é um problema secundário se observado o


severo comprometimento da saúde, do bem-estar e até da vida dos pacientes que, muitas
vezes, sofrem anos a fio aguardando tratamento ou, comumemente, perdem a chance de

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Num. 105642836 - Pág. 29
receber atendimento curativo ou tem sua face desfigurada em cirurgias mais invasivas em
razão da progressão dos tumores.

Cite-se, como exemplo, o caso de um paciente portador de Neoplasia Maligna


de Língua com necessidade de realização de cirurgia oncológica de GLOSSECTOMIA
PARCIAL e ESVAZIAMENTIO CERVICAL SELETIVO, que após várias tentativas
administrativas frustradas em obter o tratamento indicado, tendo em vista a gravidade da
sua patologia, ajuizou ação pleiteando a cirurgia por meio do Processo n° 0759992-
64.2019.8.07.0016 com trâmite no 3° Juizado Especial da Fazenda Pública do Distrito
Federal. Contudo, devido ao longo decurso do tempo para a prestação do tratamento
indicado, já não se fazia mais necessária a cirurgia, passando a ter indicação apenas para
radioquimioterapia, conforme relatório médico da especialista em cirurgia de cabeça e
pescoço, Dra. Marina Azzi Quintanilha – CRM/DF 14859 (documentos em anexo). A
situação desse paciente é apenas um exemplo do drama de inúmeros pacientes que perdem
a possibilidade de cura pela falta de atendimento adequado.

Quanto aos valores bloqueados a título de sequestro para dar cumprimento às


ordens judiciais emanadas, é imperativo destacar que os valores cobrados pelas
instituições privadas para a realização do atendimento pleiteado em Juízo são
significativamente superiores ao valor da tabela SUS, utilizada como referência para a
realização de contratos administrativos com instituições privadas de saúde.

Não há dúvida de que a prestação direta da assistência à saúde pelo Poder


Público representa melhor atendimento aos pacientes e expressiva economia de recursos
do orçamento da saúde pública, especialmente quando os custos são comparados com os
valores praticados no mercado privado.

Portanto, esta demanda tem o propósito de viabilizar atendimento mais eficaz,


mais célere e mais econômico para a população usuária do Sistema Único de Saúde no
Distrito Federal, de modo a regularizar de forma definitiva a situação daquelas pessoas
que precisam do atendimento na especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço,

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determinando-se ao Distrito Federal e ao IGESDF que disponham de todas as medidas
administrativas ao seu alcance.

3. FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA PRETENSÃO:

3.1) Direito das pessoas pobres serem tão cidadãs quanto àquelas que possuem
planos de saúde privados ou de autogestão (ou Do direito das pessoas pobres à
eficiência nos serviços de saúde do SUS)

As pessoas pobres têm direito à eficiência no acesso aos serviços de saúde


pública, pois são sujeitos de direitos e pessoas detentoras de direitos humanos.
Infelizmente, no momento atual, apenas as pessoas das classes média e alta - com seus
planos de saúde ou de autogestão – de fato podem exercer tal direito.

No ordenamento jurídico pátrio a demora na prestação de determinado serviço


público remete às ideias de eficiência ou de ineficiência. O atendimento eficiente nos
serviços públicos é (ou deveria ser) direito do cidadão brasileiro, independente de sua
classe social. Nesse sentido, a eficiência é princípio basilar da Administração Pública,
conforme disposto no artigo 37, caput, da Constituição. Ademais, o direito à eficiência
dos serviços públicos também está previsto nos artigos 5º, inciso VIII da Lei nº 13.460,
de 26 de junho de 2017 (Código de Defesa do Usuário de Serviço Público), e 22 do
Código de Defesa do Consumidor3.

Para alcançar a definição, em cada caso concreto, se determinado serviço


público está ou não sendo ofertado com a devida eficiência, é essencial a criação de

3.Art. 5º O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, devendo os agentes públicos
e prestadores de serviços públicos observar as seguintes diretrizes: VIII - adoção de medidas visando a proteção à
saúde e a segurança dos usuários.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma
de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,
contínuos.
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critérios para objetivamente avaliar tal condição. Descumprido o critério estabelecido, a
situação é ilícita e passível da ação de órgãos de controle ou do controle judicial.

No campo da saúde pública, contudo, há séria dificuldade para encontrar tais


parâmetros, simplesmente porque praticamente não existem. A legislação federal é
omissa no que tange ao estabelecimento de critérios de eficiência na prestação dos
serviços públicos de saúde à população. A própria lei orgânica da saúde (Lei nº 8.080, de
19 de setembro de 1990) cala-se quanto a essa questão. O artigo 7o da referida lei,
responsável por enumerar os princípios e diretrizes do SUS, não traz a mais vaga menção
à prestação de serviços de forma eficiente. Mesmo as normas e atos infralegais da gestão
do SUS são silentes quanto aos prazos adequados para oferta de cirurgias ou de qualquer
outro serviço, urgente ou eletivo.

Talvez o único critério de eficiência vigente na saúde pública é aquele


estabelecido na recente Lei federal nº 12.732, de 22 de novembro de 2012, que garante
ao usuário do SUS com câncer o primeiro tratamento em até 60 dias depois de firmado o
diagnóstico4 (artigo 2o).

Em verdade o Sistema Único de Saúde, simplesmente, não quis estabelecer


critérios de eficiência temporal para atendimento de seus usuários.

Muito diferente é a situação das pessoas de classe média e alta que podem
acessar os planos de saúde disponíveis no sistema de saúde suplementar. A saúde
suplementar possui regulação específica dos prazos para atendimento estabelecida
na Resolução no 259 de 17/06/2011 da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS). O regulamento define prazos máximos para consultas, exames, cirurgias e todos
os procedimentos com cobertura contratual. O prazo máximo existente, que é

4 Art. 2o O paciente com neoplasia maligna tem direito de se submeter ao primeiro tratamento [cirurgia, radioterapia
ou quimioterapia] no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60 (sessenta) dias contados a partir do dia em
que for firmado o diagnóstico em laudo patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso
registrada em prontuário único.
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estabelecido para realização de atendimento em consulta em especialidades é de
apenas 14 dias úteis e para realizar atendimentos em internação (cirurgias) a espera
máxima é 21 dias, conforme se pode conferir abaixo:
“Art. 3º A operadora deverá garantir o atendimento integral das coberturas
referidas no art. 2º nos seguintes prazos:
I – consulta básica - pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e
obstetrícia: em até 7 (sete) dias úteis;
II – consulta nas demais especialidades médicas: em até 14 (quatorze) dias
úteis;
III – consulta/sessão com fonoaudiólogo: em até 10 (dez) dias úteis;
IV – consulta/sessão com nutricionista: em até 10 (dez) dias úteis;
V – consulta/sessão com psicólogo: em até 10 (dez) dias úteis;
VI – consulta/sessão com terapeuta ocupacional: em até 10 (dez) dias úteis;
VII – consulta/sessão com fisioterapeuta: em até 10 (dez) dias úteis;
VIII – consulta e procedimentos realizados em consultório/clínica com
cirurgião-dentista: em até 7 (sete) dias úteis;
IX – serviços de diagnóstico por laboratório de análises clínicas em regime
ambulatorial: em até 3 (três) dias úteis;
X – demais serviços de diagnóstico e terapia em regime ambulatorial: em até
10 (dez) dias úteis;
XI – procedimentos de alta complexidade - PAC: em até 21 (vinte e um) dias
úteis;
XII – atendimento em regime de hospital-dia: em até 10 (dez) dias úteis;
XIII – atendimento em regime de internação eletiva: em até 21 (vinte e um)
dias úteis; e
XIV – urgência e emergência: imediato.
§ 1º Os prazos estabelecidos neste artigo são contados a partir da data da
demanda pelo serviço ou procedimento até a sua efetiva realização”.

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Num. 105642836 - Pág. 33
É evidente a disparidade de tratamento da massa de pessoas pobres que dependem
exclusivamente do SUS quando é realizado o cotejo com o direito das pessoas de classe
média e alta que podem pagar os preços do setor privado da saúde.5 Enquanto usuários
do SUS podem passar meses ou mesmo anos na espera indefinida por atendimento, os
consumidores de plano de saúde privados tem garantia de obterem consultas no prazo
máximo de 14 dias úteis e cirurgias eletivas no prazo de, no máximo, 21 dias úteis.

Toda a iniquidade dessa situação pode ser resumida em uma simples constatação: o
cidadão abastado que pode pagar tem sempre dia certo para ser atendido; o usuário
do SUS, pobre, pode esperar indefinidamente por anos e aguentar as consequências
disso. Em suma, fica evidente que:

“as debilidades no funcionamento das instituições públicas de saúde se


afinam com a desigualdade social, reproduzindo-a, o que significa que na
prática elas contradizem os preceitos constitucionais pelos quais o Sistema
Único de saúde, o SUS, foi criado, não favorecendo a proposta idealizada em
seu bojo de propiciar cidadania inclusiva e igualitária”.6

A demora contumaz em prestar atendimento às demandas dos usuários do SUS


surge em nosso cenário atual como mais uma espécie de “doença da pobreza”, ou seja,
outra consequência das iniquidades da sociedade brasileira.

Apesar da ausência de regulamentação nesse sentido para os pacientes da rede


pública de saúde, em uma tentativa de suprir essa lacuna normativa, o Enunciado n° 93
do Conselho Nacional de Justiça, aprovado em 18/03/2019 na III Jornada de Direito da
Saúde do CNJ, prevê o tempo que seria considerado razoável para espera do paciente que
aguarda por procedimentos no SUS, in verbis:

5 LUNA, L.. Fazer viver e deixar morrer: a má-fé da saúde pública no Brasil. In: SOUZA, J. (Org.). A Ralé
Brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte, UFMG, 2009, p. 306.
6 LUNA, L.. Fazer viver e deixar morrer: a má-fé da saúde pública no Brasil. In: SOUZA, J. (Org.). A Ralé

Brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte, UFMG, 2009, p. 306..


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Num. 105642836 - Pág. 34
“ENUNCIADO Nº 93
Nas demandas de usuários do Sistema Único de Saúde – SUS por acesso a
ações e serviços de saúde eletivos previstos nas políticas públicas, considera-
se excessiva a espera do paciente por tempo superior a 100 (cem) dias para
consultas e exames, e de 180 (cento e oitenta) dias para cirurgias e
tratamentos”.

Tem-se, portanto, tomando por base o enunciado supracitado, que é inaceitável


e excessiva a espera de um paciente que supere o lapso de 100 (cem) dias para acesso a
uma simples consulta ou de 180 (cento e oitenta) dias para uma cirurgia eletiva. Ocorre
que, conforme exaustivamente demonstrado, o tempo de espera de um paciente do SUS
que precisa de uma consulta na especialidade de cabeça e pescoço pode superar 2 (dois)
anos a depender de sua priorização clínica, e o prazo para uma cirurgia, ainda mais que 2
(dois) anos.

3.2. Da Legitimidade do Controle Jurisdicional das Políticas Públicas de Saúde: a


necessidade de o Judiciário atuar em prol do acesso à saúde

A constitucionalização de direitos fundamentais, segundo o magistério de


Inocêncio Mártires Coelho, transmuda a natureza das constituições, que deixam de ser
apenas “catálogos de competências” ou “leis fundamentais do Estado” e se convertem em
“Cartas de Cidadania” 7 . A gradual submissão das decisões políticas à exigência de
garantia de direitos fundamentais permite que a política possa, em certa medida, se
desacoplar “de injunções particularistas, oriundas de grupos sociais específicos, e

7COELHO, I. M.. Intepretação Constitucional. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1997, pp.
97-98.
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Num. 105642836 - Pág. 35
abrindo-se à inclusão de interesses e aspirações de um público mais variado de
indivíduos”8.

No Brasil, a despeito da influência histórica e profunda do constitucionalismo,


é apenas na Constituição de 1988 que são lançadas as bases para o processo descrito por
Werneck Vianna como “judicialização da política e das relações sociais”. Isso porque,
dentre vários avanços na reforma da tradição republicana brasileira, a Carta Cidadã criou
bases mais sólidas para o exercício dos direitos civis de cidadania e para o direito de
acesso à Justiça, consagrou o instituto das Ações Civis Públicas, recriou o Ministério
Público, deu destaque à sociedade organizada, dispôs sobre a Defensoria Pública, previu
a criação dos juizados especiais.

Tal processo de judicialização alcançou tanto o campo político quanto as


relações sociais. A judicialização da política pode ser observada no acesso ao Judiciário
por meio de ações diretas para controle de constitucionalidade, situação que ganhou
destaque e se tornou “escoadouro do conflito entre sociedade e Estado” 9 . Tais
instrumentos, além de servirem à clássica defesa de minorias, também passaram a ser
utilizados como “recurso institucional estratégico de governo” 10. A judicialização das
relações sociais tomou corpo, por exemplo, com a constitucionalização dos juizados
especiais (art. 98, inciso I, CF) que, ao facilitar o acesso à Justiça, criou novo canal de
expressão para o processo de democratização social.11

No campo das políticas sociais, como a política de saúde, abre-se também um


novo campo de atuação do Sistema de Justiça, movimento comumente denominado de

8 DUTRA, Roberto; CAMPOS, Mauro Macedo. Por uma sociologia sistêmica da gestão de políticas
públicas. Conexão Política, Teresina, v. 2, n. 2, pp. 11-47, ago. dez., 2013, p. 34.
9 VIANNA, Luiz Werneck; BURGOS, Marcelo Baumann; SALLES, Paula Martins. Dezessete anos de

judicialização da política. Tempo Social, São Paulo, v. 19, n. 2, pp. 39-85, nov. 2007, p. 43.
Vale destacar que a pesquisa mencionada concentra sua análise empírica tão somente nas Ações
Diretas de Inconstitucionalidade (ADINs), ou seja, não abarca outros instrumentos de controle abstrato
de constitucionalidade.
10 Ibidem, p. 44.
11 VIANNA, L. W. et al. A judicialização da política e das relações sociais no Brasil. Rio de Janeiro:

Revan, 2a ed., 2014, p. 43.


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Num. 105642836 - Pág. 36
“judicialização das políticas públicas”12, que se torna viável a partir da construção, na
jurisprudência e na doutrina constitucional, do entendimento de que as prestações
relativas a direitos sociais são direitos exigíveis na condição de direitos subjetivos13. Tal
construção jurídica veio ao encontro dos anseios de dar efetividade aos direitos sociais
conquistados na nova ordem constitucional de 1988. A necessidade de atuação estatal
mais ostensiva na seara social, de fato, se fazia presente, especialmente quando observada
a forma mais rápida como os direitos sociais foram positivados no Brasil, vis-à-vis o
processo desenvolvido no ocidente europeu.14

Assim, com base na Constituição e nas normas que ampliam o rol de


comprometimento com direitos concretamente definidos, o plano da política ficou
obrigado a executar as políticas públicas “com as quais se compromete por meio do
processo de legislativo”15. A proteção jurídico-constitucional dos direitos sociais ganhou
relevância como instrumento para veicular reivindicações relativas à concepção das
políticas públicas, bem como para exigir prestações específicas nas hipóteses em que as
políticas estão ausentes, são insuficientes ou mesmo descumpridas. Tal proteção, assim
utilizada, passou a proporcionar o “empoderamento” dos cidadãos no plano individual e
no coletivo, ainda que a ação concreta exigida não se mostre idealmente a mais efetiva.16

Nesse contexto, a judicialização das políticas públicas também se


consubstancia em instrumento da proteção do próprio regime democrático, que,
conforme argumentamos, segue comprometido pelo “bloqueio” ao efetivo exercício
da cidadania. Como destaca Ingo Sarlet, a proteção aos direitos sociais em sua condição
subjetiva tem servido para “imprimir à noção de cidadania um novo contorno e conteúdo,

12 MENICUCCI, T.; MACHADO, J. Judicialization of health policy in the definition of acess to public
goods: Individual Rights versus Collective Rights. Revista Brasileira de Ciência Política, v. 4, n. 1, pp.
33-68, 2010, p. 33.
13 SARLET, Ingo W.. Direitos Fundamentais a Prestações Sociais e Crise: Algumas Aproximações.

Espaço Jurídico Journal of Law, Editora UNOESC, Joaçaba, v. 16, n.2, pp. 459-488, jul. dez. 2015,
p. 461-462.
14 SANTOS, Boaventura de S.. Para uma Revolução Democrática da Justiça. São Paulo: Cortez,

2007, p. 20.
15 DUTRA, R.; CAMPOS, M. M.. Por uma sociologia sistêmica da gestão de políticas públicas.

Conexão Política, Teresina, v. 2, n. 2, pp. 11-47, ago./dez., 2013, p. 34.


16 SARLET, Ingo. W., op. cit., p. 483.

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potencialmente mais inclusivo e solidário”17. Empoderamento do indivíduo e crescimento
socialmente inclusivo, vale lembrar, são os dois elementos mais relevantes no
desenvolvimento de uma nação.18

A judicialização das políticas públicas tem alcançado, assim, várias políticas


sociais, a exemplo da educação pública19 e da assistência social20, todavia, é na seara da
saúde que encontra desenvolvimento mais acentuado, seja pela repercussão alcançada no
âmbito da Administração Pública, seja pela receptividade que o Poder Judiciário deu à
questão. Conforme cediço, a denominada judicialização da saúde tem se intensificado, e
a ela têm-se atribuído significativas consequências sociais, institucionais e orçamentárias.

O acesso à justiça para a proteção da saúde tem sido percebido como um


exercício democrático e legítimo dos direitos sociais de titularidade dos cidadãos21. Isso
porque o acesso às instâncias judiciais passou a ser compreendido como uma forma de
garantia dos direitos à saúde22. João Biehl ainda acrescenta a partir de pesquisa empírica
realizada no estado do Rio Grande do Sul, que a judicialização no âmbito da saúde é,
sobretudo, um movimento pelo qual pessoas de baixa renda e pessoas idosas se fazem
ouvidas pelo ato de “entrar na justiça” 23. Pela judicialização, tais indivíduos agem como
sujeitos políticos em face do Estado, de forma a responsabilizá-lo e a expor as
consequências da “Realpolitik” praticada pelo Executivo e Legislativo24.

17 Ibidem, p. 483.
18 UNGER, R. M. The Left Alternative. Nova Iorque: Verso, 2009, p. 65.
19 Para estudo sobre a judicialização das políticas públicas educacionais, conferir: MIGUEL

FERREIRA, L. A.; JAMIL CURY, C. R.. A judicialização da educação. Revista CEJ, v. 13, n. 45, p. 32-
45, 2009.
20 Para um amplo estudo da judicialização no âmbito da assistência social, conferir: MINISTÉRIO DA

JUSTIÇA. As relações entre o Sistema Único de Assistência Social - SUAS e o Sistema de


Justiça. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL): IPEA, 2015.
21 Boaventura de Souza Santos, ao se deparar com a judicialização, assevera que “as pessoas, que

têm consciência dos seus direitos, ao verem colocadas em causa as políticas sociais ou de
desenvolvimento do Estado, recorrem aos tribunais para as protegerem ou exigirem a sua efectiva
execução” (SANTOS, B. S.. Para uma Revolução Democrática da Justiça. São Paulo: Cortez, 2007,
p. 29).
22 DUTRA, R.; CAMPOS, M. M., op. cit., loc. cit..
23 BIEHL, J.. Patient-Citizen-Consumers: Judicialization of Health and Metamorphosis of

Biopolitics. Lua Nova, n. 98, pp.77-105, 2016, p. 94.


24 Ibidem, p. 94.

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Nesse passo, a judicialização é essencialmente uma reação ao contexto de
exclusão social que se manifesta de diversas formas, mas que conduz aos mesmos
resultados de iniquidade na distribuição dos cuidados e na precarização dos serviços de
saúde ofertadas às classes populares (pessoas pobres) – quando não à completa negativa
de acesso. Tal situação é subproduto tanto do descompasso entre normas e práticas
institucionais, quanto da dubiedade governamental, que produz políticas de saúde pública
inspiradas em um modelo universalista e políticas econômicas e regulatórias desenhadas
para estimular outro modelo – privatizado e segmentado. A insurgência contra tais
iniquidades historicamente construídas é ato de afirmação da cidadania e do regime
democrático, afinal, o caminho escolhido pelo Brasil a partir de 1988 claramente não é o
da exclusão25. O uso do direito e do Sistema de Justiça para dar braços e armas a esta
insurgência é tão legítimo e democrático quanto a consagrada mobilização política
oriunda da participação social.

Ocorre que, além de legítima e democrática, a judicialização da saúde tem


sido, para muitos indivíduos e grupos, alternativa mais viável e efetiva do que os
mecanismos atuais de participação social, em que pese o histórico engajamento e os
avanços obtidos por Instituições de Participação, como o Conselho Nacional de Saúde.
Além das limitações gerais já destacadas, a participação social na seara da saúde, no que
tange aos interesses das classes populares, esbarra exatamente na dificuldade desse grupo
de excluídos de se organizar adequadamente em grupos de interesse e, assim, exercer a
pressão política e articular os lobbies tão característicos do funcionamento do sistema
político brasileiro. A participação é limitada, ainda, pelo desinteresse das elites
econômica e burocrática e, notadamente, da própria classe média pelo fortalecimento do
SUS, tendo em vista a acomodação de seus interesses na organização segmentada ofertada
pelo mercado privado – parcialmente subsidiada pelo Estado, não olvidemos. Telma
Menicucci bem resume essa situação:

25SARLET, I. W.; FIGUEIREDO, M. F.. Algunas consideraciones sobre el derecho fundamental a la


protección y promoción de la salud a los 20 años de la Constitución Federal de Brasil de 1988. In:
COURTIS, C.; SANTAMARÍA, R. (Orgs.). La Protección judicial de los derechos sociales. Quito:
Ministério de Justicia y Derechos Humanos, 2009, p. 256.
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A ausência de suporte político por parte de grupos sociais relevantes e pelos
principais afetados positivamente por uma política de saúde inclusiva demonstra também
a inexistência de um consenso societário pela publicização efetiva da assistência à saúde,
entendendo-se por isso a incorporação de todos os cidadãos ao Sistema Único de Saúde
(SUS), legalmente garantida nos princípios constitucionais, mas de fato negada na
realidade da assistência tal como ela tem se efetivado no país.26

Nesse cenário, o suporte político mais relevante – ou a falta dele – é aquele


representado pela classe média. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a
disposição política da classe média é essencial para o sucesso da adoção de sistemas de
saúde universais. Nos países onde a classe média tem buscado cobertura e tratamento por
intermédio de planos de saúde ou mediante gastos privados, os esforços para estabelecer
o acesso universal à saúde têm sido frustrados, uma vez que há redução dos incentivos
para que se estendam os benefícios aos outros segmentos sociais.27

Os fatos recentes têm denotado redução do engajamento da classe média


brasileira pelo fortalecimento do modelo público. Nesse sentido, vale salientar que,
enquanto inciativas de desfinanciamento do SUS (Novo Regime Fiscal) e de expansão do
mercado privado (regulamentação dos planos “acessíveis”) seguem sendo
implementadas, praticamente não se debatem as isenções fiscais irrestritas aos gastos com
saúde no mercado privado, que têm aumentado ano após ano, ou os benefícios de saúde
pagos com recursos públicos a determinados segmentos do funcionalismo público. Tais
comportamentos do governo e da classe média, longe de serem imprevisíveis, seguem
exatamente o caminho politicamente mais “seguro” e ameno, que é a adoção de
estratégias conservadoras e excludentes na defesa de interesses28.

26 Nesse sentido: MENICUCCI, T. M. G.. Público e privado na política de assistência à saúde no


Brasil: atores, processos e trajetória. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007, p. 292.
27 BRITNELL, M. In Search of the Perfect Health System. Londres/Nova Iorque: Macmillan

Education/Palgrave, 2015, p. 157.


28 UNGER, R. M.. Democracia realizada: a alternativa progressista. São Paulo: Boitempo, 1999, pp.

17-18.
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Não à toa, a tendência observada em âmbito internacional indica que as
reduções de investimento público em saúde geram resistências políticas menores do que
eventuais restrições da co-participação estatal no financiamento das escolhas dos
consumidores29. Em suma, no cenário de austeridade atual, a redução de custos com saúde
encontra menos resistência política se feita nos recursos do SUS do que nos benefícios
ofertados aos consumidores dos planos de saúde.

Assim, na ausência de expectativas de maiores transformações advindas dos


atuais mecanismos de participação social institucionalizados ou da mobilização política
das classes populares ou da classe média, é razoável afirmar que o movimento de intensa
judicialização da saúde permanecerá sendo utilizado como instrumento de
concretização do direito à saúde. A regulamentação dos planos acessíveis tende a
reforçar essa tendência, uma vez que os atualmente existentes já têm impulsionado o
processo de judicialização 30 . Daí a importância central de se dar atenção especial à
questão da judicialização da saúde.

Há amplo reconhecimento de que a atuação do Sistema de Justiça é


instrumento legítimo para dar eficácia material ao direito à saúde, previsto na
Constituição31, mas ela mesma não oferece os critérios para decidir os exatos contornos
desse direito, tarefa que fica reservada aos órgãos políticos competentes para “definição
das linhas gerais das políticas na esfera socioeconômica” 32. Em decorrência disso, há
acirrado e complexo debate em torno da determinação de qual conteúdo pode ser
depreendido do texto constitucional e, por conseguinte, exigido por intermédio dos

29 TUOHY, C. et al. How Does Private Finance Affect Public Health Care Systems? Marshaling the
Evidence from OECD Nations. Journal of Health Politics, Policy and Law, Duke University Press, v.
29, n. 3, pp.359-396, 2004, p. 388.
30 BAHIA, Ligia et al. Private health plans with limited coverage: the updated privatizing agenda in the

context of Brazil's political and economic crisis. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 32, n. 12, 2016,
p. 3.
31 Para um exemplo, conferir: DALLARI, S. G. NUNES JÚNIOR, V. S. Direito Sanitário. São Paulo:

Verbatim, 2010, p. 93.


32 SARLET, I. W.. Direitos Fundamentais a Prestações Sociais e Crise: Algumas Aproximações. In

Espaço Jurídico Journal of Law, Editora UNOESC, Joaçaba, v. 16, n.2, p. 459-488, jul. dez. 2015, p.
471.
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instrumentos jurídicos33. Em articulação com esse debate, há, ainda, ampla reflexão sobre
o escopo de qual tutela judicial deve ser assumida, se individual ou coletiva.

O grande volume de ações e o significativo impacto na gestão da saúde têm


conduzido à intensificação das reflexões no âmbito da pesquisa acadêmica, da mídia, da
Administração Pública e do Legislativo. Nesse contexto, são constantes as assertivas em
prol da valorização da tutela coletiva em relação à tutela individual34, que é exatamente o
que se pretende na presente ação civil pública – transformar os problemas tratados em
dezenas de ações individuais em uma solução coletiva para todos. Dessa forma, a busca
do sistema de justiça por garantir efetivo acesso à saúde se mostra uma alternativa
relevante – senão a única – em face da iniquidade e da exclusão decorrentes da
desnaturação do modelo público de saúde brasileiro. Dessa forma, fortalecer esse
instrumento de afirmação da cidadania é combater os problemas estruturais que
comprometem a organização do sistema de saúde: a exclusão no acesso, o
desfinanciamento do SUS, a segmentação do cuidado, a precarização dos serviços
públicos, etc.

3.3. Da Inaplicabilidade do Argumento da Reserva do Possível

A missão institucional do Poder Judiciário impõe o compromisso de fazer


prevalecer os direitos fundamentais da pessoa, dentre os quais avultam, por sua inegável
precedência, o direito à vida e o direito à saúde.

Tais direitos não se expõem, em seu processo de concretização, a avaliações


meramente discricionárias da Administração Pública nem se subordinam a razões de puro
pragmatismo governamental. Subtrair as políticas públicas na área da saúde ao controle

33 SARLET, I. W.; FIGUEIREDO, M. F.. Algunas consideraciones sobre el derecho fundamental a la


protección y promoción de la salud a los 20 años de la Constitución Federal de Brasil de 1988. In:
COURTIS, C.; SANTAMARÍA, R. (Orgs.). La Protección judicial de los derechos sociales. Quito:
Ministério de Justicia y Derechos Humanos, 2009, p. 252.
34 CIARLINI, A. L. de A. S.. Direito à Saúde: paradigmas procedimentais e substanciais da

Constituição. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 22-23.


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jurisdicional apenas contribuiria para agravar o presente quadro de violação massiva e
persistente de direitos fundamentais.

De fato, “seria uma distorção pensar que o princípio da separação dos


poderes, originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos fundamentais,
pudesse ser utilizado justamente como óbice à realização dos direitos sociais, igualmente
fundamentais. Com efeito, a correta interpretação do referido princípio, em matéria de
políticas públicas, deve ser a de utilizá-lo apenas para limitar a atuação do judiciário
quando a administração pública atua dentro dos limites concedidos pela lei. Em casos
excepcionais, quando a administração extrapola os limites da competência que lhe fora
atribuída e age sem razão, ou fugindo da finalidade a qual estava vinculada, autorizado
se encontra o Poder Judiciário a corrigir tal distorção restaurando a ordem jurídica
violada” (STJ, REsp 1041197/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 25/08/2009, DJe 16/09/2009).

Fixadas essas premissas normativas, é imperioso salientar que, como já


afirmou o Supremo Tribunal Federal, a ineficiência administrativa, o descaso
governamental com direitos básicos do cidadão, a incapacidade de gerir os recursos
públicos, a incompetência na adequada implementação da programação orçamentária em
tema de saúde pública, a falta de visão política na justa percepção, pelo administrador, do
enorme significado social de que se reveste a saúde, a inoperância funcional dos gestores
públicos na concretização das imposições constitucionais estabelecidas em favor das
pessoas carentes não podem nem devem representar obstáculos à execução, pelo Poder
Público, notadamente pelo Estado, das normas inscritas nos arts. 5º e 196 da Constituição
da República (cf. RE 581.352 AgR).

Não se ignora que a destinação de recursos públicos, muitas vezes escassos,


faz instaurar situações de conflito, quer com a execução de políticas públicas definidas
no texto constitucional, quer, também, com a própria implementação de direitos sociais
assegurados pela Constituição da República, daí resultando contextos de antagonismo que
impõem, ao Estado, o encargo de superá-los mediante opções por determinados valores,

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em detrimento de outros igualmente relevantes. Nessas situações, o Poder Público, em
face dessa relação, pode ser compelido pela insuficiência de disponibilidade financeira e
orçamentária a proceder a verdadeiras “escolhas trágicas”.

Todavia, a cláusula da “reserva do possível” – ressalvada a ocorrência de justo


motivo objetivamente aferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de
exonerar-se, dolosamente, do cumprimento de suas obrigações constitucionais,
notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação
ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido de
essencial fundamentalidade, como também já afirmou o Supremo Tribunal Federal (cf.
ADPF 45).

A reserva do possível não configura carta de alforria para o administrador


insensível à degradação da dignidade da pessoa humana, já que é impensável que possa
legitimar ou justificar a omissão estatal capaz de matar o cidadão de fome ou por negação
de apoio médico-hospitalar. A escusa da "limitação de recursos orçamentários"
frequentemente não passa de biombo para esconder a opção do administrador pelas suas
prioridades particulares em vez daquelas estatuídas na Constituição e nas leis, sobrepondo
o interesse pessoal às necessidades mais urgentes da coletividade. O absurdo e a aberração
orçamentários, por ação ou omissão, por ultrapassarem e vilipendiarem os limites do
razoável, as fronteiras do bom-senso e até políticas públicas legisladas, são plenamente
sindicáveis pelo Judiciário, não compondo, em absoluto, a esfera da discricionariedade
do Administrador, nem indicando rompimento do princípio da separação dos Poderes. "A
realização dos Direitos Fundamentais não é opção do governante, não é resultado de um
juízo discricionário nem pode ser encarada como tema que depende unicamente da
vontade política. Aqueles direitos que estão intimamente ligados à dignidade humana
não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é fruto das escolhas do
administrador" (REsp. 1.185.474/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 29.4.2010) (REsp 1068731/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 17/02/2011, DJe 08/03/2012).

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Precisamente por essa razão, a jurisprudência hegemônica reconhece o direito
de acesso ao tratamento mais adequado e eficaz, apto a ofertar ao enfermo maior
dignidade de vida e menor sofrimento, ainda que seja alto o custo do insumo ou complexo
o procedimento médico indicado ao paciente.

Cabe ao Poder Público, por meio da rede pública de saúde, auxiliar todos
aqueles que necessitam de tratamento, disponibilizando profissionais, equipamentos,
hospitais, materiais, acesso a exames indicados e remédios prescritos, já que os cidadãos
pagam impostos para também garantir a saúde aos mais carentes de recursos, sendo dever
do Estado colocar à disposição os meios necessários, mormente se para prolongar e
qualificar a vida e a saúde do paciente em conformidade com os pareceres dos médicos
especialistas.

É isso o que se pretende, em favor dos pacientes que necessitam de


atendimento na especialidade de cabeça e pescoço, por meio desta causa.

3.4 Da Garantia Constitucional do Direito à Saúde

A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime
democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos
e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos,
de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso
LXXIV do art. 5º da Constituição Federal.

O debate jurídico da questão controvertida nesta causa pressupõe o


reconhecimento de que a Constituição Brasileira garante aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput) e, além disso, impõe
ao Poder Público assegurar a saúde a todos, mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (art. 196).

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Esses deveres objetivam ao atendimento do direito humano à saúde, previsto
no art. 25, item I, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nos seguintes termos:
“Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua
família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem
direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou
noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua
vontade”.

O direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível de saúde física e


mental, por meio da criação de condições que assegurem a todos assistência médica e
serviços médicos em caso de enfermidade, também está consignado no art. 12 do Pacto
Internacional de Proteção dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais.

No âmbito da União, o art. 4º, inciso VII, da Lei Complementar nº 80, de 1994,
assevera que são funções institucionais da Defensoria Pública, entre outras: “promover
ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda
puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes;”.

No âmbito do Distrito Federal, a Lei Orgânica desse ente federativo é clara em


afirmar a responsabilidade desse ente político em garantir o direito à saúde de todos,
objetivando o bem-estar físico, mental e social do indivíduo e da coletividade, à
redução do risco de doenças e outros agravos e o acesso universal e igualitário às ações
e serviços de saúde, para sua promoção, prevenção, recuperação e reabilitação (art. 204,
incs. I e II).

Bem por isso, de acordo com a jurisprudência dessa Corte de Justiça “cabe ao
Distrito Federal, por meio da rede pública de saúde, auxiliar todos aqueles que
necessitam de tratamento, disponibilizando profissionais, equipamentos, hospitais,
materiais, acesso a exames indicados e remédios prescritos, já que os cidadãos pagam
impostos para também garantir a saúde aos mais carentes de recursos, sendo dever do
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Estado colocar à disposição os meios necessários, mormente se para prolongar e
qualificar a vida e a saúde do paciente diante dos pareceres dos médicos especialistas”
(TJDFT, Acórdão n.1026103, 20140111760427RMO, Relator: ANGELO PASSARELI
5ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 21/06/2017, Publicado no DJE: 05/07/2017.
Pág.: 315/317).

Essa orientação jurisprudencial está em absoluta conformidade com dois dos


princípios que regem as ações e serviços públicos de saúde: I - universalidade de acesso
aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; e II - integralidade de
assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os
níveis de complexidade do sistema (art. 7º da Lei Federal n. 8.080/1990, que dispõe sobre
as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes).

O reconhecimento jurídico do direito à saúde como direito humano


fundamental, no plano jurídico-objetivo, proíbe a ingerência dos poderes públicos na
esfera jurídica individual da parte, e, no plano jurídico-subjetivo, implica no poder de
exercer positivamente esse direito (liberdade positiva) e de exigir dos poderes públicos
que evitem ações e omissões lesivas a tais direitos (liberdade negativa), segundo leciona
J.J. Gomes CANOTILHO (Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993, p. 541).

O acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e


recuperação da saúde constituem diretrizes de políticas públicas revestidas de conteúdo
programático, mas que possuem caráter cogente e vinculante, como já afirmou o Supremo
Tribunal Federal, em diversos julgamentos (entre os quais destacam-se: ADPF 45, STA
175, RE 367.432-AgR, RE 543.397, RE 556.556 e RE 574.353).

4. CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA:

As ações de responsabilidade pela reparação de danos morais e patrimoniais


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causados a qualquer interesse difuso e coletivo são reguladas pela Lei da Ação Civil
Pública (Lei Federal n. 7.347/85), de conformidade com a regra do art. 1º, inc. IV, da
referida Lei.

A Lei da Ação Civil Pública, em seu art. 21, afirma: “aplicam-se à defesa dos
direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos
do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor”.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal n. 8.078/90), em seu artigo


81, esclarece que a defesa coletiva pode ser exercida quando houver lesão a interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos:

“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código,


os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste


código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os


decorrentes de origem comum”.

Na espécie, a ação civil pública é instrumento apropriado para a defesa de


interesses coletivos das pessoas que realizam tratamento de saúde no Distrito Federal, por
meio do SUS, e que precisem de atendimento em consulta e/ou cirurgia na especialidade
de cabeça e pescoço. Cuida-se, majoritariamente, de pessoas em situação de alta
vulnerabilidade econômica e social.

Nesse cenário, a ação civil pública apresenta-se como eficaz instrumento de


inclusão jurisdicional da população em condição de vulnerabilidade, permitindo uma
defesa eficaz e transindividual dos direitos tutelados por meio desta demanda.

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Os efeitos da coisa julgada nas ações coletivas são condizentes com o processo
de massa e propiciam o acesso coletivo à justiça. Nesse sentido, o art. 16 da Lei da Ação
Civil Pública estabelece que “a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites
da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova”.

Por outro lado, o artigo 103 do Código de Defesa do Consumidor prevê, de


acordo com o direito transindividual em questão, efeitos erga omnes ou ultra partes,
conforme o resultado do julgamento ou o resultado da prova, visando a beneficiar todas
as pessoas ameaçadas ou lesadas em seus direitos por determinado acontecimento.

O microssistema processual de tutela coletiva decorre da percepção da


insuficiência e da inadequação das normas do processo civil clássico para prevenir,
reprimir e compensar a lesão a direitos de massa, sob a influência das ondas renovatórias
do acesso à justiça. As ondas renovatórias visaram não somente à reforma das regras
processuais, mas à mudança de mentalidade da sociedade e dos agentes públicos, à
implementação de uma cidadania participativa solidária e, consequentemente, à
realização dos objetivos fundamentais do Estado Social e Democrático de Direito.

5. LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA PROPOSITURA DA


AÇÃO CIVIL PÚBLICA:

A legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de ações civis


públicas é conferida pelos seguintes dispositivos constitucionais e legais:

(a) pelo art. 134, da Constituição Brasileira, com a redação que lhe foi dada
pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014, o qual afirma ser a Defensoria Pública
“instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,
como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos

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necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal”;

(b) pelo art. 114, da Lei Orgânica do DF, segundo o qual “a Defensoria
Pública é instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Es-tado,
incumbindo-lhe fundamentalmente, como expressão e instrumento do regime
democrático, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa judicial
e extrajudicial, em todos os graus, dos direitos individuais e coletivos de forma integral
e gratuita aos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal”;

(c) pelo artigo 5º, inciso II, da Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal nº 7.347,
de 1985, com a redação dada pela Lei Federal nº 11.448, de 2007), que confere
legitimidade à Defensoria Pública para ajuizar ações civil públicas, cuja
constitucionalidade já foi afirmada pelo STF (ADI 3943, Relator(a): Min. CÁRMEN
LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 07/05/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-154
DIVULG 05-08-2015 PUBLIC 06-08-2015);

(d) pelo artigo 4º, inciso VII, da Lei Complementar Federal nº 80, de 1994,
que atribui à Defensoria Pública a função de “promover ação civil pública e todas as
espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos
ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de
pessoas hipossuficientes”;

(e) pelo artigo 4º, inciso VIII, da Lei Complementar Federal nº 80, de 1994,
que atribui à Defensoria Pública a função de “exercer a defesa dos direitos e interesses
individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos direitos do consumidor,
na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal”; e

(f) pelo art. 2º, inc. IV, da Lei Complementar Distrital n. 828/2010, que
assegura a prestação de assistência jurídica, por intermédio da Defensoria Pública do DF,
“para proteger quaisquer direitos difusos, coletivos e individuais dos necessitados,
inclusive aqueles assegurados pela legislação de proteção à criança e ao adolescente, à
mulher vitimada pela violência doméstica, ao idoso, ao negro, aos portadores de

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necessidades especiais ou de transtornos mentais, à vítima de crimes, ao condenado, ao
preso provisório, ao consumidor, ao usuário de serviço público, ao administrado e ao
contribuinte”.

Cumpre ressaltar que, ao julgar o Recurso Extraordinário n. 733.433, com


repercussão geral reconhecida, o Supremo Tribunal Federal assentou a tese de que “a
Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública que vise a
promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese,
pessoas necessitadas” (RE 733.433, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno,
julgado em 04/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-063 DIVULG 06-04-2016 PUBLIC 07-04-2016).

Ademais, conforme reconheceu o Superior Tribunal de Justiça, as recentes


modificações constitucionais e legais inspiram novo significado à expressão
'necessitados' (prevista no art. 134, caput, da Constituição):

“A expressão, que qualifica, orienta e enobrece a atuação da Defensoria


Pública, deve ser entendida, em sentido amplo, de modo a incluir, ao lado dos
estritamente carentes de recursos financeiros - os miseráveis e pobres, os
hipervulneráveis (isto é, os socialmente estigmatizados ou excluídos, as
crianças, os idosos, as gerações futuras), enfim, todos aqueles que, como
indivíduo ou classe, por conta de sua real debilidade perante abusos ou
arbítrio dos detentores de poder econômico ou político, 'necessitem' da mão
benevolente e solidarista do Estado para sua proteção, mesmo que contra o
próprio Estado" (STJ, EREsp 1.192.577-RS, Corte Especial, Rel. Min. Laurita
Vaz, julgado em 21/10/2015, DJe 13/11/2015).

Em maio de 2015, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar improcedente a Ação


Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3943, ajuizada pela Associação Nacional dos
Membros do Ministério Público (Conamp), afirmou a constitucionalidade de atribuição
da Defensoria Pública em propor ações coletivas para a proteção dos necessitados.

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Nesse julgado, a eminente Ministra Carmem Lúcia, relatora do julgamento,
citando o parecer da professora Ada Pellegrini Grinover, adotou o entendimento de que
o conceito de necessitado, para fins de atuação da Defensoria Pública, abrange um caráter
econômico e um organizacional. Confira-se:

“Nesse amplo quadro, delineado pela necessidade de o Estado propiciar


condições, a todos, de amplo acesso à justiça evidencia [a importância d]a
garantia da assistência judiciária. E ela também toma uma dimensão mais
ampla, que transcende o seu sentido primeiro, clássico e tradicional. Quando
se pensa em assistência judiciária, logo se pensa na assistência aos
necessitados, aos economicamente fracos, aos "minus habentes". E este, sem
dúvida, o primeiro aspecto da assistência judiciária: o mais premente, talvez,
mas não o único.

Isso porque existem os que são necessitados no plano econômico, mas também
existem os necessitados do ponto de vista organizacional.

Ou seja, todos aqueles que são socialmente vulneráveis: os consumidores, os


usuários de serviços públicos, os usuários de planos de saúde, os que queiram
implementar ou contestar políticas públicas, como as atinentes à saúde, à
moradia, ao saneamento básico, ao meio ambiente etc.

E tanto assim é, que afirmava, no mesmo estudo, que assistência judiciária


deve compreender a defesa penal, em que o Estado é tido a assegurar a todos
o contraditório e a ampla defesa, quer se trate de economicamente
necessitados, quer não. O acusado está sempre numa posição de
vulnerabilidade frente à acusação.

Dizia eu: "Não cabe ao Estado indagar se há ricos ou pobres, porque o que
existe são acusados que, não dispondo de advogados, ainda que ricos sejam,
não poderão ser condenados sem uma defesa efetiva. Surge, assim, mais uma
faceta da assistência judiciária, assistência aos necessitados, não no sentido

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econômico, mas no sentido de que o Estado lhes deve assegurar as garantias
do contraditório e da ampla defesa.

Em estudo posterior, ainda afirmei surgir, em razão da própria estruturação


da sociedade de massa, uma nova categoria de hipossuficientes, ou seja a dos
carentes organizacionais, a que se referiu Mauro Cappelletti, ligada à questão
da vulnerabilidade das pessoas em face das relações sócio-jurídicas existentes
na sociedade contemporânea.

Da mesma maneira deve ser interpretado o inc. LXXIV do art.5º da CF: "O
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos" (grifei). A exegese do termo constitucional não deve
limitar-se aos recursos econômicos, abrangendo recursos organizacionais,
culturais, sociais.

(...)

Assim, mesmo que se queira enquadrar as funções da Defensoria Pública no


campo da defesa dos necessitados e dos que comprovarem insuficiência de
recursos, os conceitos indeterminados da Constituição autorizam o
entendimento - aderente à ideia generosa do amplo acesso à justiça - de que
compete à instituição a defesa dos necessitados do ponto de vista
organizacional, abrangendo portanto os componentes de grupos, categorias
ou classes de pessoas na tutela de seus interesses ou direitos difusos, coletivos
e individuais homogêneos”.

Em seu douto voto, a Ministra Relatora salientou que, além de constitucional,


a inclusão taxativa da defesa dos direitos coletivos no rol de atribuições da Defensoria
Pública é coerente com as novas tendências e crescentes demandas sociais de se garantir
e ampliar os instrumentos de acesso à Justiça.

No presente caso, a população protegida por meio desta ação civil pública é
dotada de altíssima vulnerabilidade, por constituir população usuária do serviço público
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de saúde e por apresentar tumores na cabeça e/ou pescoço que comprometem gravemente
o seu estado de saúde, ocasionando risco de óbito e exigindo tratamento adequado por
parte do Poder Público.

6. DA TUTELA DE URGÊNCIA:

O art. 12 da Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal n. 7.347/85) afirma que o
juiz poderá conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão
sujeita a agravo. Cuida-se da previsão do cabimento da tutela de urgência.

O art. 300, do CPC/2015, afirma que a tutela de urgência será concedida


quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano
ou o risco ao resultado útil do processo.

A probabilidade do direito está respaldada pelas disposições


constitucionais e legais que afirmam claramente a responsabilidade do Poder
Público em prover os cuidados de saúde demandados pelos pacientes. Ademais, a
própria Constituição Federal consagra o princípio da eficiência como pilar da
atuação da Administração Pública.

De outro lado, os documentos anexos demonstram, à exaustão, a existência de


déficit nas consultas e procedimento na especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
no Distrito Federal e a violação aos preceitos constitucionais e legais que asseguram o
direito à saúde da coletividade.

De forma inequívoca, evidenciada está a necessidade de ampliar e regularizar


a oferta de serviços de saúde no Distrito Federal para assegurar, aos usuários do SUS, o
tratamento adequado e tempestivo.

O risco de dano grave e irreparável aos pacientes caracteriza-se pela


necessidade de obtenção do tratamento de conformidade com os ditames normativos e
com as boas práticas internacionais, bem como pelos riscos de agravamento do quadro
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clínico de saúde dos pacientes, decorrentes da demora no atendimento que, como
observado, pode conduzir a uma espera superior a 4 anos – situação que implica,
muitas vezes, perda da chance de tratamento.

O prejuízo dos pacientes do SUS com o excessivo tempo de espera ao qual


estão submetidos é claro e inquestionável, especialmente porque não se garantiriam
prazos máximos de espera para os consumidores de planos de saúde sem que tal garantia
fosse, de fato, um meio essencial para proteger a saúde dessas pessoas. Se os cidadãos e
cidadãs de classe média e alta que podem acessar os planos de saúde disponíveis no
sistema de saúde suplementar necessitam de tal garantia de eficiência no serviço,
certamente ainda mais essencial será essa proteção para os cidadãos oriundos das classes
populares de nossa sociedade. Assim, se a saúde suplementar possui regulação específica
dos prazos para atendimento estabelecida na Resolução no 259 de 17/06/2011 da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e tal regulamento define prazos máximos para
consultas, por analogia tais prazos devem ser estendidos aos pacientes do SUS até que
norma específica venha dispor sobre a questão. Como cediço, O prazo máximo
existente, que é estabelecido para realização de atendimento em consulta em
especialidades é de apenas 14 dias úteis e para realizar atendimentos em internação
(cirurgias) a espera máxima é 21 dias, conforme se pode conferir abaixo:
“Art. 3º A operadora deverá garantir o atendimento integral das coberturas
referidas no art. 2º nos seguintes prazos:
I – consulta básica - pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e
obstetrícia: em até 7 (sete) dias úteis;
II – consulta nas demais especialidades médicas: em até 14 (quatorze) dias
úteis;
(...)
XIII – atendimento em regime de internação eletiva: em até 21 (vinte e um)
dias úteis; e
XIV – urgência e emergência: imediato.
§ 1º Os prazos estabelecidos neste artigo são contados a partir da data da
demanda pelo serviço ou procedimento até a sua efetiva realização”.
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Ainda que esse renomado Juízo entenda que não é possível utilizar por
analogia a norma citada de forma a garantir igualdade entre cidadãos consumidores de
planos de saúde e cidadãos usuários exclusivos do SUS, é necessário considerar que
qualquer lacuna normativa foi suprimida pelo o Enunciado n° 93 do Conselho Nacional
de Justiça, aprovado em 18/03/2019 na III Jornada de Direito da Saúde do CNJ, prevê o
tempo que seria considerado razoável para espera do paciente que aguarda por
procedimentos no SUS, in verbis:

“ENUNCIADO Nº 93

Nas demandas de usuários do Sistema Único de Saúde – SUS por acesso a


ações e serviços de saúde eletivos previstos nas políticas públicas, considera-
se excessiva a espera do paciente por tempo superior a 100 (cem) dias para
consultas e exames, e de 180 (cento e oitenta) dias para cirurgias e
tratamentos”.

Além dos claros e presumidos prejuízos à saúde da população em geral e à


saúde de cada paciente em específico, a ausência de prestação de serviços adequados e
tempestivos na especialidade de cabeça e pescoço provoca, diretamente, um impacto
nefasto aos cofres públicos, como já foi demonstrado anteriormente.

Tem-se, portanto, tomando por base ou a Resolução Normativa ou o


Enunciado supracitados, que é inaceitável e excessiva a espera de um paciente para acesso
a uma simples consulta que supere o lapso de 14 (quatorze) dias, se usado o parâmetro
mais benéfico aos pacientes, ou mesmo de 100 (cem) dias, se utilizado um parâmetro
menos benéfico. Ocorre que, conforme exaustivamente demonstrado, o tempo de espera
de um paciente do SUS que precisa de uma consulta e/ou cirurgia na especialidade de
Cirurgia de Cabeça e Pescoço pode se aproximar de 6 anos (3 anos em cada fila) a
depender de sua priorização clínica.

É necessário, portanto, dar ao presente caso tratamento semelhante ao que foi


atribuído a outro problema social grave: a demanda reprimida por cirurgias

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oftalmológicas de vitrectomia. Para garantir o direito à saúde dos pacientes com
retinopatias, o Juízo Especializado da 5ª Vara da Fazenda Pública e da Saúde Pública
proferiu sentença nos autos da ação n. 0712573-13.2017.8.07.0018 que assim
determinou:

“Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE em parte o pedido para condenar


o Distrito Federal a obrigação de fazer, consubstanciada no dever de:
I – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia de vitrectomia com
classificação de risco “vermelha” e esgotar a fila de espera no prazo de 45
dias, bem como manter tal classificação de risco com lista de espera máxima
de cinco dias;
II – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia de vitrectomia com
classificação de risco “amarela” e esgotar a fila de espera no prazo de 60
dias, bem como manter tal classificação de risco com lista de espera máximo
de 10 dias;
III – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia de vitrectomia com
classificação de risco “verde” no prazo de 80 dias, e manter tal classificação
de risco com lista de espera máxima de 20 dias;
IV – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia de vitrectomia com
classificação de risco “azul” no prazo de 100 dias, e manter tal classificação
de risco com lista de espera máxima de 30 dias.”

Ao tomar tal medida, este Tribunal de Justiça cotejou o princípio da eficiência


com a necessidade prática de atendimento da população e traçou critérios claros, justos e
objetivos para atendimento dos cidadãos do Distrito Federal. Assim, absolutamente
adequado que entendimento semelhante seja aplicado ao presente caso.
Por todo o exposto, pede-se a concessão da tutela de urgência conforme
pedidos relacionados abaixo.

7. DOS PEDIDOS

Com essas considerações, pede-se:

(1) a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária, com fulcro no art. 18


da Lei da Ação Civil Pública;
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(2) a concessão da tutela de urgência para que seja emitida ordem judicial
para impor aos Réus, solidariamente, obrigação de fazer quanto à especialidade de
Cirurgia de Cabeça e Pescoço consistente em:

(2.1) – manter o atendimento dos pacientes com classificação de risco


vermelha para consulta com tempo máximo de espera máxima de 10 (dez)
dias;

(2.2) – atender a todos os pacientes regulados para consulta com classificação


de risco “amarela” e esgotar a fila de espera no prazo de 180 dias, bem como
manter tal classificação de risco com lista de espera máximo de 30 dias;

(2.3) – atender a todos os pacientes regulados para consulta com classificação


de risco “verde” no prazo de 270 dias, e manter tal classificação de risco com
lista de espera máxima de 60 dias;

(2.4) – atender a todos os pacientes regulados para consulta com classificação


de risco “azul”, caso existam, no prazo de 360 dias, e manter tal classificação
de risco com lista de espera máxima de 100 dias (prazo máximo previsto no
Enunciado n. 93 do CNJ);

(2.5) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação


de risco “vermelha”, no prazo de 60 dias, e manter tal classificação de risco
com lista de espera máxima de 30 dias;

(2.6) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação


de risco “amarela” e esgotar a fila de espera no prazo de 180 dias, bem como
manter tal classificação de risco com lista de espera máximo de 60 dias;

(2.7) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação


de risco “verde”, no prazo de 270 dias, e manter tal classificação de risco com
lista de espera máxima de 100 dias;

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(2.8) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação
de risco “azul”, no prazo de 360 dias, e manter tal classificação de risco com
lista de espera máxima de 180 dias (prazo máximo previsto no Enunciado n.
93 do CNJ);

(3) a intimação pessoal do senhor Secretário de Estado da Saúde do Distrito Federal


(SES/DF) e do senhor Presidente do Instituto de Gestão Estratégica do Distrito Federal
(IGESDF) para a tomada de todas as providências necessárias ao fiel cumprimento da
decisão judicial, sob pena de cominação de multa diária a ser arbitrado por esse Juízo (art.
11, da Lei nº 7.347/85) para o caso de eventual descumprimento de cada uma das
determinações acima;

(4) a publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir
no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de
comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor (art. 94, do CDC);

(5) a intimação do Ministério Público, para atuar como fiscal da lei ou como litisconsorte
ativo (art. 5º, §1º, da Lei da Ação Civil Pública);

(6) a produção das provas, por todos os meios juridicamente cabíveis, a serem
oportunamente especificados;

(6) Seja julgado procedente o pedido para condenar os Réus, solidariamente, na


obrigação de fazer relativa à especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço consistente
em:

(6.1) – manter o atendimento dos pacientes com classificação de risco


vermelha para consulta com tempo máximo de espera máxima de 10 (dez)
dias;

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(6.2) – atender a todos os pacientes regulados para consulta com classificação
de risco “amarela” e esgotar a fila de espera no prazo de 180 dias, bem como
manter tal classificação de risco com lista de espera máximo de 30 dias;

(6.3) – atender a todos os pacientes regulados para consulta com classificação


de risco “verde”, caso existam, no prazo de 270 dias, e manter tal classificação
de risco com lista de espera máxima de 60 dias;

(6.4) – atender a todos os pacientes regulados para consulta com classificação


de risco “azul”, caso existam, no prazo de 360 dias, e manter tal classificação
de risco com lista de espera máxima de 100 dias (prazo máximo previsto no
Enunciado n. 93 do CNJ);

(6.5) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação


de risco “vermelha”, no prazo de 60 dias, e manter tal classificação de risco
com lista de espera máxima de 30 dias;

(6.6) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação


de risco “amarela” e esgotar a fila de espera no prazo de 180 dias, bem como
manter tal classificação de risco com lista de espera máximo de 60 dias;

(6.7) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação


de risco “verde”, no prazo de 270 dias, e manter tal classificação de risco com
lista de espera máxima de 100 dias;

(6.8) – atender a todos os pacientes regulados para cirurgia com classificação


de risco “azul”, no prazo de 360 dias, e manter tal classificação de risco com
lista de espera máxima de 180 dias (prazo máximo previsto no Enunciado n.
93 do CNJ);

(7) a intimação pessoal do senhor Secretário de Estado da Saúde do Distrito Federal


(SES/DF) e do senhor Presidente do Instituto de Gestão Estratégica do Distrito Federal
(IGESDF) para a tomada de todas as providências necessárias ao fiel cumprimento da

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decisão judicial, cominando multa diária (art. 11, da Lei nº 7.347/85), para o caso de
eventual descumprimento de cada uma das determinações acima;

(8) por fim, a condenação das partes demandadas ao pagamento das verbas sucumbenciais
conforme Art. 85, § 2º do CPC e nos termos do art. 4º, XXI, da Lei Complementar n.
80/94;

(9) Sejam observadas as prerrogativas institucionais de intimação pessoal e prazos


processuais em dobro, nos termos do art. 44, I, da LC n. 80/94 e art. 186, caput e parágrafo
1º, do CPC/2015.

8. VALOR DA CAUSA:

Atribui-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

A Câmara de Uniformização do TJDFT, no julgamento do Incidente de


Resolução de Demandas Repetitivas nº 2016.00.2.024562-9, firmou a tese de que as ações
que têm como objeto o fornecimento de serviços de saúde, inclusive o tratamento
mediante internação, encartam pedido cominatório, e, por isso, o valor da causa deve ser
fixado de forma estimativa. No entanto, caso o entendimento desse Juízo divirja quanto
ao valor dado à causa, pede-se que este seja corrigido de ofício, nos termos do art. 292,
§3º, do CPC/2015.

Termos em que se pede deferimento.

Brasília-DF, 11 de outubro de 2021.

GABRIELA TOMÉ
Analista Judiciária – DPDF

KELEN CRISTINA DE OLIVEIRA


Analista Judiciária – DPDF

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CELESTINO CHUPEL
Defensor Público do Distrito Federal

MÁRCIO ROGÉRIO LICERRE


Defensor Público

PATRÍCIA ALBUQUERQUE TAVARES


Defensora Pública
Ramiro Nóbrega Assinado de forma digital por
Ramiro Nóbrega Santana
Santana Dados: 2021.10.11 17:50:54 -03'00'
RAMIRO NÓBREGA SANT’ANA
Defensor Público

DOCUMENTOS JUNTADOS AOS AUTOS PARA INSTRUÇÃO

ANEXO I – Processo SEI 00401-00023252/2018-31


ANEXO II – Processo SEI 00401-00003996/2019-10
ANEXO III - Procedimentos em Cirurgia de Cabeça e Pescoço conforme Tabela
SIGTAP (Tabela SUS)

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