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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ _ ª VARA CÍVEL


DO FÓRUM REGIONAL IV- LAPA- DA COMARCA DE SÃO PAULO/SP

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RAPHAELLA ARANTES ARIMURA, protocolado em 14/12/2020 às 22:35 , sob o número 10145870320208260004.
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1014587-03.2020.8.26.0004 e código CEB837D.
URGENTE - TRATAMENTO CIRURGICO

“TJSP ‐ Súmula 102: Havendo expressa indicação médica, é abusiva a negativa de cobertura de custeio de
tratamento sob o argumento da sua natureza experimental ou por não estar previsto no rol de
procedimentos da ANS”.

"TJSP ‐ Súmula 97: Não pode ser considerada simplesmente estética a cirurgia plástica complementar
de tratamento de obesidade mórbida, havendo indicação médica.

RESP: 1757938

RUTE DE CARVALHO ALVICO (Requerente), brasileira,


casada, ligador, portadora da cédula de identidade RG n° 27729012 SSP/SP,
regularmente inscrita no CPF/MF sob o n°
167.044.888-63, residente e domiciliada na Avenida Felippo Sturba, 1351, cs
01 - Jardim Anhangüera - São Paulo/SP, CEP.: 05267-200, com endereço
eletrônico: Rutealvico@gmail.com, por intermédio de sua Advogada
devidamente constituída conforme procuração anexa vem respeitosamente,
perante vossa Excelência, com fundamento nos artigos 6º; 51; e 84 da Lei
8.078/90 e artigo 497e ss. do NCPC, propor a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA E


EVIDÊNCIA

contra AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA INTERNACIONAL S/A (Requerida), pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 29.309.127/0001-79,
com sede na Rua Arquiteto Olavo Redig de Campos, Nº 105 – 6º ao 21º Andar –
Torre B – Vila São Francisco (Zona Sul) – São Paulo/SP, CEP: 04711-904, pelos
motivos de fato e de direito que passo a expor:
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I) – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RAPHAELLA ARANTES ARIMURA, protocolado em 14/12/2020 às 22:35 , sob o número 10145870320208260004.
Inicialmente declara a Requerente, para fins de justiça

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gratuita, nos termos da Lei 1.060/50, com redação dada pela Lei nº 7.115/83,
artigo 98 do Código de Processo Civil e, inciso LXXIV, do artigo 5º da CF/88, que
atualmente não tem condições financeiras para arcar com às custas e demais
despesas processuais sem o prejuízo de seu próprio sustento e de sua família,
requerendo desta forma, a prestação gratuita do benefício. Para tanto, junta a
competente Declaração, holerite e cópia da CPTS, nos termos da Lei 1.060/50.

II) - DA TRAMITAÇÃO DO PROCESSO EM SEGREDO DE JUSTIÇA

Outro ponto de destaque e que se requer é a tramitação do


processo em segredo de justiça, pois entende que o fato versa sobre questões
sobre a sua vida privada e íntima, caracterizando situação onde é factível a
tramitação do feito sob segredo de justiça, conforme estabelecido no artigo 189,
III, do Código de Processo Civil.

III) - DOS FATOS

A Requerente é segurada no plano de saúde oferecido pela


Requerida, Plano Coletivo Empresarial - matrícula nº 872089126, que
demonstra a efetiva relação jurídica entre partes.

Importante destacar que a Requerente não tem carência a


cumprir.
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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RAPHAELLA ARANTES ARIMURA, protocolado em 14/12/2020 às 22:35 , sob o número 10145870320208260004.
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Ocorre que, a Requerente foi submetida a uma cirurgia de
gastroplastia redutora (cirurgia bariátrica), em razão de sua obesidade
mórbida e comorbidades associadas ao seu sobre peso.

Em decorrência da bem-sucedida cirurgia bariátrica


realizada, a Requerente emagreceu mais de 38 quilos, perdendo uma notável
quantidade de massa corporal.

A grande quantidade de sobra de pele, devido à perda de


mais de 38 quilos, afetou diversas regiões do corpo da Requerente, que
apresenta flacidez, que lhe causa deformidade corporal, além dos transtornos
de ordem psicológica.

Haja vista a realização da cirurgia bariátrica e respectiva


adaptação, perda e estabilização de peso, a Requerente, apta agora a dar
continuidade ao seu tratamento da obesidade mórbida, foi encaminhada pelo
Dr. André Soares Sarmento – Médico Cirurgião Plástico Especialista – CRM/SP
156.600, para internação e realização dos procedimentos cirúrgicos
reparadores não estéticos seguintes: (i) 30602122 – Plástica mamaria feminina
não estética com prótese (2x); (ii) 30101271- Dermolipectomia abdominal pós
cirurgia bariátrica (iii) 30101190 correção de lipodistrofia com lipoaspiração
com enxerto glúteo e Dermolipectomia braquial, dermolipectomia crural (6x) e
(iv) diástase dos retos abdominais.
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Vejamos relatório médico expedido pela médica especialista


Dr. André Soares Sarmento – Médico Cirurgião Plástico Especialista – CRM/SP
156.600, que assiste a Requerente:

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Diante do quadro, em 12/11/2020, via portal (protocolo-
32630520201112009481), a Requerente procedeu ao encaminhamento
administrativo, via e-mail, dos pedidos médicos, visando a concretização das
referidas intervenções cirurgias de caráter não estético, a ser realizada
integralmente pela rede credenciada. Na mesma data o pedido foi recepcionado
pela Requerida.

Sem receber resposta ao e-mail, a Requerente entrou em


contato telefônico com a operadora, e na ocasião foi orientada a passar por
consulta de avaliação com profissional credenciado.

Seguindo as orientações da Requerida, em 26/11/2020 a


Requerente compareceu em consulta com a Dra. Angela Marinell, que informou
que todos os procedimentos estavam negados por não constarem no rol da ANS.

Diante da negativa verbal pela preposta, a Requerente


enviou nova solicitação via portal em 30/11/2020- Protocolo-
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3260520201130027027, cobrando a negativa formal, contudo, permanece sem


retorno até o presente.

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No entanto, Excelência, conforme estabelece a Resolução

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Normativa Nº 319 da ANS, as operadoras de planos de saúde que negarem
autorização aos seus beneficiários para a realização de procedimentos médicos,
devem fazer a comunicação por escrito, sempre que o beneficiário solicitar,
respeitando o prazo de 48 horas. A informação da negativa deverá ser em
linguagem clara, indicando a cláusula contratual ou o dispositivo legal que a
justifique, devendo ser enviada ao beneficiário via correspondência ou por meio
eletrônico, para que assim o beneficiário tenha o direito de conhecer o motivo da
não autorização aos procedimentos solicitados em prazo hábil para que possa
tomar as providências cabíveis.

O tema é tão recorrente nos tribunais de justiça de todo o País


que a referida resolução de n° 319 da ANS prevê uma MULTA o qual estipula que
– Se a operadora deixar de informar por escrito os motivos da negativa de
cobertura previstos em lei, sempre que solicitado pelo beneficiário, pagará multa
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). A multa por negativa de cobertura indevida em
casos de urgência e emergência é de R$ 100 mil. A norma entrou em vigor no dia
7/5/2013, 60 dias após a sua publicação no Diário Oficial da União.

Com efeito, importante salientar que a imagem que a


Requerente tem de si, ficou totalmente abalada, haja vista que sua saúde física
da Requerente que sofre com as deformidades corporais dos excessos de pele
que têm como consequência ptose mamária grau IV, excesso de suor e prurido
em dobras cutâneas e dermatites.

Destaca-se que após a realização da cirurgia bariátrica, em


razão do excesso de pele e comorbidades decorrentes da obesidade mórbida,
houve comprometimento de ordem emocional, social e física da Requerente,
que enfrenta depressão, sentindo-se completamente envergonhada de seu
corpo e constante baixa autoestima.
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A Requerente superou a sua obesidade, e agora, a


deformidade resultante acima diagnosticada, causa a ela, além dos problemas
incapacitantes graves de pele, também causa problemas psicológicos que a

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impedem de desenvolver um relacionamento social e afetivo satisfatório,

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consequentemente, a Requerente necessita ser tratada cirurgicamente para
correção de sua grave deformidade.

É certo que há tempos a Requerente busca o tratamento


contra a doença obesidade mórbida, encontrando-se antes, e mesmo após a
cirurgia bariátrica, sob grande fragilidade emocional.

A Requerente entende que os procedimentos cirúrgicos,


conforme indicação médica é procedimento cirúrgico complementar ao seu
tratamento de obesidade mórbida, dessa forma, não tendo caráter estético, e
por isso devendo ser custeada pela seguradora Requerida.

A saúde física e psíquica da Requerente está se deteriorando


a cada dia que passa, e a não realização das cirurgias plásticas reparadoras,
conforme indicação médica, já está causando uma série de transtornos à saúde
da Requerente, e diante da negativa do plano de saúde, vem perante este MM.
Juízo pedir um provimento que obrigue a Requerida a cumprir suas obrigações,
custeando integralmente o tratamento cirúrgico do qual, a Requerente tanto
necessita, preservando, assim, o seu Direito a Vida, a Saúde e a sua Dignidade.

IV) DO DIREITO
IV.I) - Da Relação De Consumo / Do Contrato De Adesão

A relação contratual em tela, de plano/seguro saúde é


tipicamente de consumo – artigo 2º do CDC – tendo por base um contrato de
adesão – artigo 54 da Lei 8.078/90, já vigente na época da contratação.

Devem ser aplicadas, portanto, as regras protetoras do


consumidor, que é, sem dúvidas, a parte mais fraca e vulnerável da relação
contratual.
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Sobre o contrato em tela, pertinente se faz a lição de Cláudia


Lima Marques, in "Contratos no Código de Defesa do Consumidor", in Revista

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dos Tribunais, 3 ed, p. 191:

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"A Lei 9.656/98 expressamente menciona a aplicabilidade do CDC
(art. 3º da referida Lei) e a necessidade de que a aplicação conju
nta do CDC e a lei especial 'não implique prejuízo ao consumi
dor' (§ 2º do art. 35 da Lei 9.656/98). A jurisprudência brasileira
é pacífica ao considerar tais contratos, tanto os de assistência ho
spitalar direta, como os de seguro ‐ saúde, ou de assistência médi
ca prépaga como submetidos às novas normas do CDC."(grifamos)

A aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao presente


caso é estabelecida por meio da Súmula 100 do TJ/SP e Súmula 608/STJ. Assim,
as cláusulas contratuais devem ser interpretadas da forma mais favorável ao
consumidor (art. 47 do CDC).

Vejamos:

“TJSP ‐ Súmula 100 ‐ O contrato de plano/seguro saúde submete‐ se


aos ditames do Código de Defesa do Consumidor e da Lei n.
9.656/98 ainda que a avença tenha sido celebrada antes da
vigência desses diplomas legais”.

“Súmula 608/STJ ‐ 17/04/2018. Consumidor. Plano de saúde.


Aplica‐se o Código de Defesa do Consumidor ‐ CDC. Exceto os
administrados por entidades de autogestão”.

Não restam dúvidas, pois, que as regras de proteção ao


direito do consumidor se aplicam ao caso, com a consequente inversão do ônus
da prova e a interpretação do contrato do modo mais favorável ao
hipossuficiente, o consumidor.

IV.II) - Da Nulidade Das Cláusulas Abusivas


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Como exposto, a Requerente realizou a cirurgia bariátrica, e


em razão da perda de peso, passou a ter problemas de saúde decorrentes do
excesso de pele em todo o seu corpo, necessitando, dessa forma, de intervenção

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cirúrgica não estética, para correção de sua deformidade, conforme taxativa

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indicação médica acostada nos autos.

De acordo com a indicação médica, o problema de saúde da


Requerente é preocupante, pois, ante o excesso de pele das dobras acarreta
desconforto físico, suor excessivo, mau odor, constrangimento, além disso,
forte abalo psicológico.

Embora tenha feito todos os procedimentos administrativos


para tentar obter a cobertura do plano de saúde Requerido sobre a
continuidade do seu tratamento médico, recebeu a negativa com justificativa
vaga apontando, inclusive, limitação prevista no rol da ANS.

Ainda que a Requerida alegue tratar-se de questões


meramente estética, é certo que a Requerente busca, muito, além disso, o
restabelecimento de sua saúde, que inclui o bem-estar físico, mental e social.

É fato incontestável que os procedimentos cirúrgicos


reparadores de caráter não estéticos, são complemento ao tratamento contra a
obesidade mórbida e que deve ser coberto integralmente pela Requerida.

É notório que as operadoras de planos de saúde possuem


um leque tão generalizado de situações previstas em suas cláusulas limitativas
de cobertura, que qualquer tratamento pode vir a ser negado.

Para manter o equilíbrio contratual entre as operadoras de


saúde e a parte mais fraca – os segurados – a jurisprudência já firmou
entendimento no sentido da ilegalidade das restrições contratuais, tal como se
depreende do acórdão abaixo transcrito, de lavra do I. Des. Arthur Del Guércio,
do E. Tribunal de Justiça de São Paulo:

“... o indivíduo, quando busca a contratação de um plano de saúd


e, sai única e tão somente a preservação de sua vida e de seus me
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mbros. Tal decorre do fato que é grave o problema relacionado a


saúde pública em nosso País e com referida contratação, o su
jeito busca e imagina ver garantida a sua integridade física, se ev
entualmente for acometido por doença de graves consequências

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. Em virtude de tal fato, existem empresas especializadas em s
egurar o sujeito com relação à saúde e, consequentemente, exist
em várias formas de se contratar referido seguro, sendo certo q
ue no caso em tela, a hipótese diz respeito a plano de saúde, prest
ado por empresa com fins lucrativos e a estas, não é dado o direit
o de impor limites e restrições ao tipo de tratamento e ao tipo de
doença que eventualmente venha acometer o segurado. A razão r
eside no Código de Defesa do Consumidor que considera tais cláu
sulas injustas e ilegais. Nem se alegue que o mesmo não tem
aplicação em casos como o presente. Isto porque, afora o fato de s
er um contrato de adesão, deve o mesmo ser considerado, també
m como contrato sucessivo e como tal se sujeitará as normas jurí
dicas existentes quando do surgimento do litígio envolvendo as p
artes contratantes. Consequentemente, deve a avença se sujeitar
aos ditames do novel estatuto e ele é claro, em suas normas, espec
ialmente aquelas previstas nos arts. 6º, V; 39 V; 47 e 51, IV, § 1º, I
e III, ao dizer que as cláusulas contratuais, em plano de saúde,
que limitam a forma de prestação dos serviços contratados, é le
onina e, em virtude de tal fato, deve ser considerada não escrita”.
(Recurso nº 010613537.2003.8.26.0000 Apelação - Relator: Arthur
Del Guércio - Data do Registro: 18/04/2006) (grifamos)

Ainda nesse sentindo, dispõe o artigo 51, inciso IV do CDC,


que são nulas as cláusulas que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada.

A negativa de custeio da cirurgia plástica reparadora,


absolutamente necessária para que a Requerente tenha sua saúde física e
mental restabelecida, vai contra a própria natureza do contrato, que é de
serviço de assistência à saúde (artigo 421 do CC).

A necessidade terapêutica da Requerente é evidente, e se a


patologia está coberta, é abusiva a negativa de cobertura do procedimento
cirúrgico indicado pelo médico em razão da natureza da intervenção, dos meios
por ele indicados, deixando de assegurar o tratamento cabível. A negativa viola
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as normas de proteção do consumidor e esvazia a finalidade da avença cuja


natureza é de garantir a assistência à saúde.

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Como se verifica, o direito da Requerente é evidente,

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sobretudo porque a Requerida se vale de interpretação equivocada do
Contrato, para deixar de cumprir suas obrigações, ignorando o direito do
consumidor e, como demonstrado, as cláusulas e/ou condições limitativas
impostas pelas operadoras de seguros são tidas como nulas nos termos do
artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor.

A preservação da saúde do associado contra evento futuro e


incerto é exatamente a finalidade do contrato. E, diante da interpretação da
Requerida com o objetivo de frustrar a finalidade precípua do contrato,
restringindo os seus efeitos jurídicos, fica patente a afronta aos princípios
consagrados pelo CDC.

Nesses termos, deve ser dada correta interpretação do


Contrato, reconhecendo-se as disposições nulas e contrárias à boa-fé contratual
(CDC, artigo 51, parágrafo 1º, incisos II e III).

Assim, é inequivocamente, devida a cobertura INTEGRAL


das cirurgias plásticas reparadoras, conforme determinação médica,
posteriores ao tratamento da obesidade mórbida, por se tratar de intervenção
de caráter terapêutico, sem finalidade estética, constituindo parte integrante
do tratamento da obesidade mórbida, porquanto necessárias à recuperação
física e psicológica da Requerente.

Uma vez verificado que não é válida a negativa da Requerida


com base em interpretação de cláusulas contratuais de modo abusivo,
identifica-se a obrigação da Requerida, em autorizar as despesas para os
procedimentos cirúrgicos completos da Requerente, que é imprescindível para
o restabelecimento de sua saúde física e mental.

A Alegação de que os procedimentos não estão previstos no


rol da ANS (Agência Nacional de Saúde) também não pode prosperar. A
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justificativa é vazia e, caso isso fosse admitida, estaria se colocando em risco o


objeto do contrato, qual seja: A preservação da saúde.

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Tal entendimento já foi pacificado na súmula 102 do TJ/SP,
no qual dispõe que:

“TJSP ‐ Súmula 102: Havendo expressa indicação médica, é abusiva a


negativa de cobertura de custeio de tratamento sob o argumento da
sua natureza experimental ou por não estar previsto no rol de
procedimentos da ANS”. (Grifa-se)

Com efeito, a jurisprudência é torrencial no sentido de que


é abusiva a negativa de cobertura. Vejamos decisão atual (12/02/2019 do STJ
sobre o tema):

“RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. PACIENTE PÓS‐


CIRURGIA BARIÁTRICA. DOBRAS DE PELE. CIRURGIAS PLÁSTICAS.
NECESSIDADE. CARÁTER FUNCIONAL E REPARADOR. EVENTOS
COBERTOS. FINALIDADE EXCLUSIVAMENTE ESTÉTICA.
AFASTAMENTO. RESTABELECIMENTO INTEGRAL DA SAÚDE.
DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. VALOR INDENIZATÓRIO.
MANUTENÇÃO. RAZOABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso
especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs
2 e 3/STJ). 2. As questões controvertidas na presente via recursal
são: a) se a operadora de plano de saúde está obrigada a custear
cirurgias plásticas pós‐bariátrica (gastroplastia), consistentes
na retirada de excesso de pele em algumas regiões do corpo
humano (mamas, braços, coxas e abdômen), b) se ocorreu dano
moral indenizável e c) se o valor arbitrado a título de
compensação por danos morais foi exagerado. 3. A obesidade
mórbida é doença crônica de cobertura obrigatória nos planos de
saúde (art. 10, caput, da Lei nº 9.656/1998). Em regra, as
operadoras autorizam tratamentos multidisciplinares
ambulatoriais ou indicações cirúrgicas, a exemplo da cirurgia
bariátrica (Resolução CFM nº 1.766/2005 e Resolução CFM nº
1.942/2010). Por outro lado, a gastroplastia implica
consequências anatômicas e morfológicas, como o acúmulo de
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grande quantidade de pele flácida residual, formando avental no


abdômen e em outras regiões do corpo humano. 4. Estão excluídos
da cobertura dos planos de saúde os tratamentos com finalidade
puramente estética (art. 10, II, da Lei nº 9.656/1998), quer dizer,

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de preocupação exclusiva do paciente com o seu embelezamento
físico, a exemplo daqueles que não visam à restauração parcial
ou total da função de órgão ou parte do corpo humano lesionada,
seja por enfermidade, traumatismo ou anomalia congênita (art.
20, § 1º, II, da RN/ANS nº 428/2017). 5. Há situações em que a
cirurgia plástica não se limita a rejuvenescer ou a aperfeiçoar a
beleza corporal, mas se destina primordialmente a reparar ou a
reconstruir parte do organismo humano ou, ainda, prevenir
males de saúde. 6. Não basta a operadora do plano de assistência
médica se limitar ao custeio da cirurgia bariátrica para
suplantar a obesidade mórbida, mas as resultantes dobras de
pele ocasionadas pelo rápido emagrecimento também devem
receber atenção terapêutica, já que podem provocar diversas
complicações de saúde, a exemplo da candidíase de repetição,
infecções bacterianas devido às escoriações pelo atrito, odores e
hérnias, não qualificando, na hipótese, a retirada do excesso de
tecido epitelial procedimento unicamente estético, ressaindo
sobremaneira o seu caráter funcional e reparador. Precedentes.
7. Apesar de a ANS ter apenas incluído a dermolipectomia no Rol
de Procedimentos e Eventos em Saúde para o tratamento dos
males pós‐cirurgia bariátrica, devem ser custeados todos os
procedimentos cirúrgicos de natureza reparadora, para assim
ocorrer a integralidade de ações na recuperação do paciente, em
obediência ao art. 35‐F da Lei nº 9.656/1998. 8. Havendo
indicação médica para cirurgia plástica de caráter reparador ou
funcional em paciente pós‐cirurgia bariátrica, não cabe à
operadora negar a cobertura sob o argumento de que o
tratamento não seria adequado, ou que não teria previsão
contratual, visto que tal terapêutica é fundamental à
recuperação integral da saúde do usuário outrora acometido de
obesidade mórbida, inclusive com a diminuição de outras
complicações e comorbidades, não se configurando simples
procedimento estético ou rejuvenescedor. 9. Em regra, a recusa
indevida pela operadora de plano de saúde de cobertura médico‐
assistencial gera dano moral, porquanto agrava o sofrimento
psíquico do usuário, já combalido pelas condições precárias de
saúde, não constituindo, portanto, mero dissabor, ínsito às
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situações correntes de inadimplemento contratual. 10. Existem


casos em que existe dúvida jurídica razoável na interpretação de
cláusula contratual, não podendo ser reputada ilegítima ou
injusta, violadora de direitos imateriais, a conduta de operadora

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que optar pela restrição de cobertura sem ofender, em
contrapartida, os deveres anexos do contrato, tal qual a boa‐fé, o
que afasta a pretensão de compensação por danos morais. 11. Na
hipótese, além de inexistir dúvida jurídica razoável na
interpretação do contrato, a autora experimentou prejuízos com
o adiamento das cirurgias plásticas reparadoras diante da
negativa da operadora do plano de assistência médica, sobretudo
porque agravou o estado de sua saúde mental, já debilitada pela
baixa autoestima gerada pelas alterações anatômicas e
morfológicas do corpo humano consequentes da cirurgia
bariátrica, sendo de rigor o reconhecimento dos danos morais.
Razoabilidade do valor fixado pelas instâncias ordinárias (R$
10.000,00 ‐ dez mil reais), que não se encontra exagerado nem
ínfimo. Atendimento da razoabilidade e dos parâmetros
jurisprudenciais. Incidência da Súmula nº 7/STJ. 12. Recurso
especial não provido”. (STJ - REsp: 1757938 DF 2018/0057485-6,
Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de
Julgamento: 05/02/2019, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 12/02/2019) – (grifamos)

A matéria sob comento, é tão importante e, no entanto, as


seguradoras tratam as solicitações de seus clientes com tamanho descaso.
Tanto é assim que o E. Tribunal de Justiça de São Paulo editou a súmula 97, no
qual restabelece que:

“TJSP Súmula 97: Não pode ser considerada simplesmente estética


a cirurgia plástica complementar de tratamento de obesidade
mórbida, havendo indicação médica”. (grifamos)

É exatamente o caso da Requerente, que realizou


tratamento contra obesidade mórbida, e que, neste momento, precisa dar
continuidade e complementaridade ao tratamento. Para tanto, há indicação
médica para os procedimentos pleiteados.
fls. 14

Portanto, nitidamente podemos concluir que, tendo as


partes, portanto, firmado contrato com previsão de cobertura de despesas
relativas à assistência médico-hospitalar, sob a égide do Código de Defesa do

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Consumidor, bem como da Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998, que dispõe

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sobre planos de assistência à saúde, não poderia a Requerida negar à
Requerente o custeio dos procedimentos cirúrgicos conforme inequívoca
prescrição médica, sob o argumento de tratar-se de procedimento não previsto
no rol da ANS, ou por não haver previsão contratual.

Com efeito, cabe ao médico que acompanha o paciente, e não


ao plano de saúde, determinar qual o tratamento ou o medicamento utilizado
para a solução da moléstia, de modo que, havendo prescrição médica e sendo a
moléstia abrangida pelo contrato, à recusa da Requerida é ilegal.

Em se tratando de saúde, íntima e intrinsecamente adstrita


à vida, o mais relevante bem juridicamente tutelado, não se pode deixar que as
cláusulas ou eventuais condições do contrato resultem em prejuízo ou avaria a
integridade da parte Requerente.

E, além disso, as cláusulas restritivas nos contratos de


consumo sempre devem ser interpretadas de forma a não levar a situações de
exagero e abusividade em razão de causar desvantagem exagerada. Pela
pertinência, importante trazer à colação a lição de NELSON NERY JÚNIOR onde
bem elucida que:

"Quem quer contratar plano de saúde quer cobertura total, como


é obvio. Ninguém paga plano de saúde para, na hora em que
adoecer, não poder ser atendido. De outro lado, se o fornecedor
desse serviço exclui de antemão determinadas moléstias, cujo
tratamento sabe dispendioso,estará agindo com má-fé, pois quer
receber e não prestar o serviço pretendido pelo consumidor"
(Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, Forense Universitária, 8
a Edição, página 570). (grifamos)

Frise-se, por oportuno, que o rol mínimo da ANS, que muitas


vezes não está atualizado com relação aos tratamentos comprovadamente
fls. 15

eficazes, não pode ser utilizado para afastar a cobertura de tratamento previsto
em contrato.

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Nesta direção é o v. Acórdão prolatado pela 9ª Câmara de

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Direito Privado a seguir transcrito:

“Ocorre que, muito embora o referido rol sirva como parâmetro


para a cobertura obrigatória a ser oferecida pelas operadoras de
plano de saúde ou como “referência básica”, como pontua a
própria apelante -, deve ser levado em consideração que a
autarquia não é capaz de atualizar o instrumento na velocidade
em que a ciência médica coloca novos procedimentos à
disposição dos pacientes. Aliás, essa mesma dificuldade é
encontrada pelo legislador que, na elaboração das leis, não
consegue acompanhar a evolução das transformações sociais que
ocorrem dia após dia. Todavia, mormente em razão da natureza
da prestação de serviço contratada, tem-se firmado
entendimento no sentido de que, impedir que os consumidores
de planos de saúde tenham acesso a métodos de tratamento mais
eficientes apenas porque ainda não previstos em lista não
atualizada, é impor-lhes desvantagem exagerada, o que
caracteriza abusividade, nos termos do art. 51, inc. IV e § 1º, inc. II,
do CDC. Aliás, os reajustes anuais aplicados aos contratos também
visam abarcar eventuais aumentos de custos das operadoras com
a cobertura de tratamentos mais recentes inexistindo
desequilíbrio contratual na determinação. No caso sob análise, o
profissional que acompanha o tratamento da apelada esclareceu,
por meio do atestado de fls. 23, que o método prescrito propicia
melhor recuperação, menos dor no pós-operatório e menos
tempo de afastamento do trabalho, o que é suficiente para
reconhecer o direito da consumidora em realizá-lo.” (Apelação nº
9084459- 64.2009.8.26.0000, Relator GRAVA BRAZIL, julgado em
19.06.12). (grifamos)

Importante salientar que, se cabe à Requerida, na condição


de contratada para prestar serviços médico-hospitalares, proporcionar a
Requerente, na condição de contratante, o que for necessário para propiciar-lhe
tratamento para sua moléstia, é inadmissível que ela se sirva de verdadeiro
fls. 16

sofisma para se sobrepor, à determinação médica, terminando por impedir que


a Requerente receba tratamento prescrito que vise à melhora de sua saúde.

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Destarte, há que se reconhecer a ilegalidade da postura

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adotada pela Requerida, pois contraria o direito fundamental à saúde, à vida e,
inclusive ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, direitos
abrangidos na cobertura do plano de saúde contratado, que, sinale-se, têm por
objeto, dentre outros, disponibilizar o devido tratamento médico.

Deve ser destacado que é pacífica a jurisprudência que


rotula de abusiva a não cobertura de cirurgias reparadoras a pacientes
submetidos a tratamento para combater a obesidade mórbida:

Ementa: Apelação Cível. Plano de saúde – Ação de obrigação de


fazer cumulada com danos morais – Sentença de procedência –
Apelo da ré – Negativa de cobertura de cirurgias plásticas
reparadoras prescritas em continuidade a tratamento de
obesidade mórbida – Alegação de exclusão contratual, eis que os
procedimentos são estéticos e não constam no Rol da ANS –
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor – Caráter
terapêutico, e não meramente estético, das cirurgias plásticas
reparadoras requisitadas, uma vez que visam a preservar a saúde
psicológica da autora e complementar o tratamento de obesidade
– Rol da ANS que não pode ser considerado taxativo – Agência
reguladora que não pode limitar direito de forma a tornar inócuo
o tratamento – Reconhecida defasagem entre regulamentações
administrativas e avanço da medicina – Tratamento indicado por
possuir a técnica mais atualizada – Escolha que cabe tão‐somente
ao médico responsável e ao paciente – Limitação abusiva –
Súmulas nº 97 e 102 deste Egrégio Tribunal de Justiça – Dever de
cobertura ao tratamento – Danos morais configurados – Recusa
injustificada – Dano in re ipsa – Indenização arbitrada em R$
10.000,00 quantia reputada razoável. Nega‐se provimento ao
recurso”. (grifamos). (TJ/SP, Apelação n. 1007818-
65.2019.8.26.0019 , Relatora Christine Santini, 1ª Câmara de Direito
Privado, julgado em 14/09/2020) (grifamos)

Ementa: Apelação Cível. Plano de saúde – Ação de obrigação de fazer


cumulada com danos morais – Sentença de procedência parcial –
fls. 17

Apelo da ré – Negativa de cobertura de cirurgias plásticas reparadoras


prescritas em continuidade a tratamento de obesidade mórbida –
Alegação de exclusão contratual, eis que os procedimentos são
estéticos e não constam no Rol da ANS – Aplicação do Código de

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Defesa do Consumidor – Caráter terapêutico, e não meramente
estético, das cirurgias plásticas reparadoras requisitadas, uma vez
que visam a preservar a saúde psicológica da autora e complementar
o tratamento de obesidade – Rol da ANS que não pode ser considerado
taxativo – Agência reguladora que não pode limitar direito de forma a
tornar inócuo o tratamento – Reconhecida defasagem entre
regulamentações administrativas e avanço da medicina –
Tratamento indicado por possuir a técnica mais atualizada –
Escolha que cabe tão-somente ao médico responsável e ao
paciente – Limitação abusiva – Súmulas nº 97 e 102 deste Egrégio
Tribunal de Justiça – Dever de cobertura ao tratamento – Danos
morais configurados – Recusa injustificada – Dano in re ipsa –
Indenização arbitrada em R$ 9.980,00 quantia reputada razoável.
Nega-se provimento ao recurso.” (Apelação nº 1001002-
43.2019.8.26.0609, Rel. Des. Christine Santini, j. 14/09/2020)
(grifamos)

Assim, conforme orientação da jurisprudência e


determinação da ANS, o tratamento da Requerente deve ser custeado pela
seguradora para que se restabeleça a sua saúde, arcando com todas as despesas
médicas e hospitalares necessárias para o restabelecimento de sua saúde.

Por todo exposto, considerando o teor genérico das


cláusulas restritivas dos direitos da Requerente e considerando a
imprescindibilidade da intervenção cirúrgica tal como indicada por
profissional habilitado, a Requerida deve ser compelida a cumprir com sua
função social do contrato autorizando a cobertura integral das despesas
médicas hospitalares que a Requerente necessita, sendo tais procedimentos
sem fim estéticos.

V) - DA TUTELA DE URGÊNCIA DE CARATER ANTECIPATÓRIO


fls. 18

Inicialmente, cumpre o dever de enfatizar que é


perfeitamente cabível a antecipação dos efeitos da tutela de mérito pelo
magistrado, nos termos do artigo 497 e 300 do Código de Processo Civil.

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A urgência da medida almejada é para que a Requerida
custeie integralmente as despesas médico-hospitalares dos procedimentos
prescritos à Requerente, no que se refere a (i) 30602122 – Plástica mamaria
feminina não estética com prótese (2x); (ii) 30101271- Dermolipectomia
abdominal pós cirurgia bariátrica (iii) 30101190 correção de lipodistrofia com
lipoaspiração com enxerto glúteo e Dermolipectomia braquial, dermolipectomia
crural (6x) e (iv) diástase dos retos abdominais.

Já foram expostos os fatos que norteiam a demanda. A


Requerente realizou a cirurgia bariátrica e obteve sucesso ao conseguir
eliminar mais de 38 quilos, no entanto, agora, no momento que a Requerente
precisa concluir a segunda etapa de seu tratamento, lhe é negada a cobertura,
deixando a mesma à mercê da própria sorte.

A indicação médica apresentada é taxativa. O médico


responsável que a assiste a Requerente recomendou a cirurgias reparadoras
pleiteadas a fim de garantir a integridade física e mental da paciente.

É inequívoco que a cada dia que passa, os problemas físicos


e psicológicos da Requerente se agravam, causando-lhe danos irreparáveis ao
seu bem-estar.

A cobertura para a cirurgia plástica reparadora em


complemento ao tratamento de obesidade mórbida é acolhida pela
jurisprudência dominante e, por fim, o perigo de dano irreversível é evidente,
pois como visto, o protelamento da cirurgia causará danos graves, constantes e
irreversíveis à Requerente. Constatação esta, realizada por mais de um
profissional da saúde.
fls. 19

Assim, a Requerente não pode esperar todo o trâmite do


processo para obtenção do provimento somente ao final da ação. Até lá, sua
saúde física e psicológica estará totalmente prejudicada.

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Vale mencionar, ainda, que a tutela de urgência sob
comento, é medida totalmente reversível, pois, caso, mais adiante, resolva-se
pela sua revogação, o que se admite apenas para argumentar, os pagamentos
poderão ser cobrados da Requerente.

Em outras palavras, para a Requerente, a tutela de urgência


significa muito: o seu bem-estar e sua qualidade de vida restabelecida, por outro
lado, para a Requerida, que vem recebendo a mensalidade anos a fio, este valor
quase nada representa.

Haja vista a incontroversa dos autos, referente à relação


entabulada entre as partes, na qual a Requerente figura como beneficiária de
plano de saúde administrado pela Requerida. Evidente e incontestável também,
a existência de prescrição médica para realização dos procedimentos
reparadores, claramente descrito pelo médico cirurgião plástico especialista.

Desta feita, estando presente o requisito da probabilidade


do direito, é figurado como abusiva, a negativa da Requerida, segundo a qual os
procedimentos não ostentam cobertura contratual por não estarem previstos
no rol editado pela ANS. Devendo ser aplicado o entendimento consolidado na
Súmula nº 102 do Tribunal de Justiça de São Paulo:

“Havendo expressa indicação médica, é abusiva a negativa de


cobertura de custeio de tratamento sob o argumento da sua
natureza experimental ou por não estar previsto no rol de
procedimentos da ANS”.

Ademais, à míngua de qualquer elemento probatório em


sentido contrário, nada há de afastar a convicção de que tais intervenções são
complementares ao tratamento de obesidade mórbida, afastando-se a natureza
meramente estética, alegada.
fls. 20

Nesse sentido, prevalece a Súmula 97 do TJSP:

“Não pode ser considerada simplesmente estética a cirurgia


plástica complementar de tratamento de obesidade mórbida,

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havendo indicação médica”.

Importante salientar também, o inequívoco quadro de


periculum in mora a lastrear a tutela pretendida, ou seja, a não realização do
procedimento médico pode ensejar verossímil dano irreparável ao quadro de
saúde da Requerente tendo em vista a grave perda de peso decorrente do ato
cirúrgico anterior, que chegou a 38 quilos, sem contar seus reflexos no espectro
psicológico. Vejamos:

Conforme se pode verificar o Requerente, apresenta


sintomas de danos emocionais e físicos, sofrendo após a acentuada
redução de peso advindo da realização da cirurgia bariátrica, em razão do
excesso de pele e comorbidades decorrentes da obesidade mórbida,
tornando-se imprescindível a correção plástica reparadora, sob pena de
acarretar danos irreparáveis à sua saúde.

A concessão da tutela de urgência antecipada, nos termos do


artigo 300 do Código de Processo Civil é medida que se impõe, pois estão
presentes os pressupostos necessários, isto é, a probabilidade do direito e o
perigo de dano irreparável e risco ao resultado útil do processo. Os laudos em
questão são bem detalhados e mostram de forma criteriosa o abalo psicológico
que a Requerente vem sofrendo.
fls. 21

Em casos semelhantes, já decisão o Egrégio Tribunal de


Justiça de São Paulo. Vejamos:

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“Ementa: Agravo de Instrumento. Plano de saúde – Tutela de

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urgência – Cobertura de cirurgia reparadora após a realização de
cirurgia bariátrica – Configuração em parte do pressuposto da
probabilidade do direito – Agravante que realizou
cirurgia bariátrica com perda maciça de peso e necessita de
procedimentos cirúrgicos reparadores com implantação de
prótese – Aplicação das Súmulas n° 97 e 102 deste Egrégio
Tribunal de Justiça – Reforma parcial da R. Decisão agravada para
que a agravada, providencie a cobertura de todas as cirurgias em
hospital e com profissionais credenciados, no prazo de 20 (vinte)
dias, sob pena de multa diária já fixada pelo MM. Juízo "a quo",
anotando‐se que, caso a autora, aqui agravante, opte pela
utilização de profissionais e hospital não credenciados, a
cobertura será devida no limite do valor que seria pago em
serviços credenciados. Dá‐se provimento em parte ao recurso”
(Agravo de Instrumento nº 2143432-48.2020.8.26.0000, Rel.
Christine Santini, j. 15.10.2020). (grifamos)

De tudo que consta nos autos, resta claro que a conduta da


Requerida além de ferir as normas pertinentes e deveres de boa-fé, caracteriza-
se também pelo inadimplemento contratual, e principalmente de garantia à
saúde da Requerente, restando imprescindível a concessão da tutela
antecipada com vistas à urgente continuidade do tratamento da obesidade
mórbida, com a realização dos procedimentos cirúrgicos ora requeridos e
avalizados por profissionais médicos especializados.

Além disso, caracterizado esta pelas provas inequívocas e a


verossimilhança do alegado, o fundado receio de dano irreparável e de difícil
reparação, uma vez que o transcorrer do tempo é de suma importância, que em
face de negativa da Requerida em autorizar a cirurgia, podem causar sequelas
físicas e psíquicas irreparáveis a Requerente, vide laudos médicos (docs.
anexos), que demonstram o estado físico dela e, atestam da extrema
necessidade da realização da cirurgia reparadora, indicada por profissional
médico habilitado.
fls. 22

A Lei nº 7.347/85, em seu artigo 12 prescreve:

“Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem

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justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”. (grifamos)

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Ainda, a aplicabilidade do Codecon na relação de consumo,
como no caso em testilha, prescrevendo em artigo 84, parágrafo 3º:

“Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação


de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da
obrigação ou determinará providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao do adimplemento.

3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo


justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado
o réu.” (grifamos)

Nesse contexto Excelência, verifica-se que a situação da


Requerente atende perfeitamente a todos os requisitos esperados para a
concessão da medida antecipatória, RELEVANTE FUNDAMENTO DA
DEMANDA e RECEIO DE INEFICÁCIA DO PROVIMENTO FINAL, que já está a
sofrer de vários males causados pelo excesso de pele, conforme atestado por
laudos médicos que instruí os autos.

VI) - DO DANO MORAL

É legitimo o requerimento da condenação na parte


Requerida no pagamento de indenização por danos morais, pois não há como
se ignorar que a Requerente passou por situação traumática e desgastante, que
fugiu da esfera do mero aborrecimento, quando teve o pedido de sua cirurgia
negado.

No mesmo sentido, têm-se os seguintes julgados deste


Egrégio Tribunal de Justiça:
fls. 23

“Ementa: Apelação cível. Plano de saúde. Cobertura para


medicamento Stivarga, destinado a tratamento de
câncer. Danos morais. Sentença de parcial procedência. Recurso
de ambas as partes. 1.Rol da ANS. DUT. Negativa indevida.

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Relação de consumo. Contrato que deve ser interpretado em
favor do consumidor. Pacta sunt servanda não é absoluto e deve
ser interpretado em consonância com as normas de ordem
pública, com os princípios constitucionais e, na presente
hipótese, com o escopo de preservar a natureza e os fins do
contrato. Boa-fé objetiva e função social do contrato (arts. 421 e
422, CC). Interpretação dos arts. 10, §4º e 35-F, da Lei 9656/98.
Cláusula que limita tratamento prescrito pelo médico fere a boa-
fé objetiva e desnatura a própria finalidade do contrato. Se a
doença tem cobertura contratual, os tratamentos disponíveis
pelo avanço da medicina também terão. Aplicação das Súmulas
96 e 102 desta Corte de Justiça. Havendo expressa indicação
médica, é abusiva a negativa de cobertura e custeio de
tratamento, sob o argumento de natureza experimental ou por
não estar previsto no rol de procedimentos da ANS. As limitações
contratuais podem até abranger rede de atendimento hospitalar,
laboratorial e tipo de acomodação, mas em nenhuma
circunstância o tratamento que tenha por objetivo restabelecer a
saúde da contratante. Com mais evidência quando o tratamento
requisitado é o único meio de cura. Precedente citado não tem
caráter vinculante e não se aplica ao caso dos autos.
2.Caracterização de dano moral. Ilícito que consistiu na indevida
recusa. Abusividade da negativa já reconhecida. Negativa
agravou a situação de aflição psicológica e de angústia.
Indenização arbitrada em R$ 10.000,00 corrigidos nos termos da
Súmula 362 do STJ, com incidência de juros de mora de 1% ao
mês, a contar da citação. 3.Sucumbência integral da ré. Apelação
da ré não provida. Provido recurso adesivo dos autores (9ª
Câmara de Direito Privado, Apelação nº 1005196-19.2020.8.26.0114,
Relator Edson Luiz de Queiróz, j. Em 15.10.2020, publicação
15.10.2020)(grifamos)

Não é demais enfatizar, ainda, que a postura da Requerida


no episódio em foco contraria, frontalmente, o direito fundamental à saúde, à
vida e, inclusive, ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana,
direitos abrangidos na cobertura do plano de saúde contratado.
fls. 24

Portanto, forçoso convir que a indenização no valor de R$


15.000,00 (quinze mil reais) é adequado, visto que se encontra dentro dos

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limites razoáveis da reparação, que se de um lado deve se prestar a inibir a

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reiteração do ato ilícito, de outro não pode se constituir em instrumento de
enriquecimento sem causa, cumprindo acrescentar, apenas, que como já
judiciosamente decidiu o Egrégio Superior Tribunal de Justiça, citada verba
“não pode contrariar o bom senso, mostrando-se manifestamente
exagerado ou irrisório” (RT 814/167).

No presente caso Excelência, a conduta da Requerida em


negar a autorização dos procedimentos cirúrgicos reparatórios, está causando
grande angustia a Requerente, pois, após anos de luta contra a obesidade
mórbida, viu-se abandonada quando da necessidade da continuidade do
tratamento via procedimento reparatório, acometida de graves problemas de
depressão, vide laudos médicos acostados aos autos, tendo que socorrer-se do
poder judiciário, o que, por si só, já caracteriza ofensa a sua saúde psíquica e
consequentemente também caracterizando o dano moral.

Nesse sentido, prescreve o Codecon:

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) VI – a efetiva


prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos” (grifamos)

A moral é reconhecida como bem jurídico, recebendo dos


mais diversos diplomas legais a devida proteção, inclusive amparada pelo
artigo 5º, inciso V, da Carta Magna de 1988: V – é assegurado o direito de
resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem.

Outrossim, o artigo 186 e o artigo 927, do Código Civil:

“Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. (grifamos)
fls. 25

“Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará‐lo.” (grifamos)

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RAPHAELLA ARANTES ARIMURA, protocolado em 14/12/2020 às 22:35 , sob o número 10145870320208260004.
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1014587-03.2020.8.26.0004 e código CEB837D.
No caso em testilha, a Requerente firmou convênio com a
Requerida, realizou o tratamento que tanto almejava com fito de tratar a doença
de obesidade mórbida e depois se vê abandonada, a mercê de meia prestação de
serviços, já que as cirurgias pleiteadas são reparadoras e de continuidade do
seu tratamento.

Portanto, não restam dúvidas de que resta caracterizado o


dano moral, a expectativa frustrada pela negativa da Requerida em autorizar os
procedimentos necessários e complementares ao seu tratamento, causando
sofrimento físico e psicológico comprovado nos autos, devendo a indenização
nesse sentido, de caráter reparatório, para que a Requerida não mais cometa
ilegalidades que, com certeza, como no caso em testilha, deixa sequelas
profundas ao ofendido, e quiçá, irreparáveis face ao processo de tratamento
interrompido não havendo se falar em mero aborrecimento. Nesse sentido:

“Ementa: Apelação. Plano de saúde. Obrigação de fazer cumulada


com pedido de indenização por danos morais. Recusa de
cobertura para custeio de cirurgias de "correção de Lipodistrofia
de dorso; plástica mamária feminina não estética com prótese
(2x); lipoaspiração/dermolipectomia lateral de tórax (2x);
dermolipectomia de coxas + correção de Lipodistrofia de coxas
(2x)", subsequentes à cirurgia bariátrica anteriormente
realizada, além de honorários da equipe médica. Cirurgias
plásticas complementares de tratamento de obesidade. Sentença
de procedência parcial, acolhido o pedido cominatório.
Inconformismos recíprocos. Não provimento do apelo da ré,
provimento do apelo da autora. Sentença reformada. 1. Apelo da
parte ré desprovido. 1.1. Quanto ao pedido cominatório, não
pode ser considerada simplesmente estética a cirurgia plástica
complementar de tratamento de obesidade mórbida, havendo
indicação médica (Súmula 97 TJSP). Pedido para cobertura de
cirurgias reparadoras necessárias deve ser acolhido,
independentemente de não estar previstas no rol de
procedimentos da ANS (Súmula 102 TJSP). Recusa abusiva. 2.
Apelo da parte autora provido. 2.1. Indenização por dano moral.
fls. 26

Dá-se prevalência à orientação jurisprudencial que


reconhece dano moral indenizável em virtude de negativa
indevida de cobertura por parte das operadoras de plano de
saúde. Inegável que a demora na realização da cirurgia, bem

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como a insegurança quanto à possibilidade de sua realização,
gerou aborrecimentos psicológicos desmesurados à parte
autora. Montante indenitário (R$ 15.000,00) fixado dentro de
padrões de razoabilidade, atento à gravidade da conduta ilícita e
à compensação do dano sofrido. 3. Recurso da ré desprovido;
recurso da autora provido.” (9ª Câmara de Direito Privado, Apelação
nº 1001195-10.2020.8.26.0161, Relator Piva Rodrigues, j. em
09.10.2020, publicação 09.10.2020) (grifamos)

Quando falamos de dano não patrimonial, entendemos


referir-se de dano que não lesa o patrimônio da pessoa. O conteúdo deste dano
não é o dinheiro nem uma coisa comercialmente reduzível em dinheiro, na il
dolore, o sofrimento, a emoção, o defeito físico ou moral, em geral uma dolorosa
sensação sentida pela pessoa, atribuindo-se à palavra dor o mais amplo sentido.

“Mas não há quem possa negar que a dor, o sofrimento e o


sentimento deixam sequelas, trazem sulcos profundos, abatendo a
vítima, que se torna inerte, apática, indiferente a tudo e a todos,
causando‐lhe sérios danos morais e o desprazer de viver...” (Apud
Augusto Zenun, Dano Moral e Sua Reparação, Ed. Forense). (grifamos)

Conceitua bem o dano moral o magistério da jurisprudência


oriunda do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, quando proclama verbis:

“Dano moral é todo sofrimento humano resultante de direito da


personalidade. Seu conteúdo é a dor, o espanto, a emoção, a
vergonha, em geral, uma dolorosa sensação experimentada pela
pessoa”. (REsp, 3º t., Rel. Min. Nelson Neves, j.em 25.8- 1992, RSTJ
47/159) (grifamos)

Cumpre, ab initio, perquirir-se a acepção da palavra DANO.


Consoante á assertiva propalada por José de Aguiar Dias: “O conceito de dano é
único, e corresponde à lesão de um direito” (Da Responsabilidade Civil. Rio de
Janeiro: Forense, 1995).
fls. 27

Destarte, DANO MORAL exprime sofrimento, “dor”, definida


esta por Aurélio Buarque de Holanda como: “Sensação desagradável, variável
em intensidade e em extensão de localização, produzida pela estimulação de

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terminações nervosas especializadas em sua recepção” ou, ainda, “Sofrimento

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moral; mágoa; pesar; aflição”.

Assim, diante da vasta jurisprudência que se assemelha ao


caso em baila, ampara a Requerente, na melhor forma de direito, sua pretensão,
DENTRO DA TEORIA DO VALOR DE DESESTÍMULO, seja condenada a
Requerida, À TÍTULO DE DANOS MORAIS, a ser determinado e ARBITRADO
POR VOSSA EXCELÊNCIA, nos termos da Jurisprudência predominante, que,
desde já pede vênia para sugerir o valor equivalente a R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) decorrente da ilicitude praticada, valor equivalente aos procedimentos
negados pela Requerida, face ao comportamento da Requerida que negou a
Requerente o próprio direito a saúde plena, com a negativa de continuidade do
tratamento.

VII) - DOS PEDIDOS

Diante do acima exposto, requer-se:

a) a concessão da tutela de urgência, determinando-se que a


Requerida, autorize e custeie integralmente a realização das cirurgias plásticas
reparadoras não estéticas de: (i) 30602122 – Plástica mamaria feminina não
estética com prótese (2x); (ii) 30101271‐ Dermolipectomia abdominal pós
cirurgia bariátrica (iii) 30101190 correção de lipodistrofia com
lipoaspiração com enxerto glúteo e Dermolipectomia braquial,
dermolipectomia crural (6x) e (iv) diástase dos retos abdominais,
exatamente conforme determinação médica, sendo tais procedimentos sem fim
estéticos, a serem realizadas em rede credenciada pela Requerida e sob a
responsabilidade de equipe médica credenciada, no prazo de 48 (quarenta e
oito) horas cominado liminarmente e inaudita altera parte (sendo que na
hipótese de não haver equipe médica conveniada especializada para realização
das cirurgias, fica a Requerida obrigada a contratar e custear integralmente
fls. 28

honorários de médicos particulares da confiança da Requerente), bem como


todos os procedimentos necessários e relacionados ao seu tratamento, sejam
exames, drenagens e outros diretamente ligados às cirurgias reparadoras ora

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requeridas, necessárias à recuperação da saúde da Requerente sob pena de

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multa cominatória fixada em R$ 3.000,00 (três mil reais) por dia de
descumprimento. Que a decisão que conceder o pedido liminar sirva de oficio.

b) subsidiariamente a tutela de evidência;

c) A concessão do benefício da Gratuidade de Justiça, tendo em


vista que atualmente a Requerente não tem condições de arcar com as custas
judiciais sem colocar em risco sua subsistência, conforme declaração e
documentos acostados aos autos;

d) A inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º


inciso VIII, da lei consumerista, que ora se requer;

e) Após a concessão da tutela de urgência, seja a Requerida


citada para que, perante esse Juízo, apresente a defesa que tiver, dentro do
prazo legal, sob pena de confissão quanto à matéria de fato ou pena de revelia,
devendo ao final, ser julgada PROCEDENTE a presente para

(i) Confirmar a antecipação dos efeitos da tutela, tornando


definitiva a obrigação da Requerida em realizar os
procedimentos cirúrgicos reparadores para dar
continuidade ao tratamento da obesidade mórbida, com
todos os procedimentos necessários e relacionados à plena
e eficaz solução dos problemas de saúde da Requerente;

(ii) Condenar a Requerida ao pagamento de uma


indenização de cunho compensatório e punitivo, pelos
danos morais causados a Requerente, tudo conforme
fundamentado, em valor pecuniário justo e condizente com
o caso apresentado em tela, qual seja, amparado em
pacificada jurisprudência e ao arbítrio de Vossa Excelência,
fls. 29

que ora apenas sugere que seja R$ 15.000,00 (quinze mil


reais);

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(iii) A condenação da Requerida nas custas do processo e

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honorários advocatícios arbitrados em 20% do valor da
condenação;

Por fim, protesta pela produção de todas as provas


admissíveis em juízo, juntada de novos documentos, perícia médica, bem como,
pelo depoimento pessoal do representante legal da Requerida, ou seu preposto
designado, sob pena de confissão, oitiva testemunhal, para todos os efeitos de
direito.

Nos termos da lei, a Requerente informa que não tem


interesse na audiência de conciliação.

Dá-se à causa o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

Termos em que,
pede deferimento.

São Paulo, 11 de dezembro de 2020.

Raphaella Arantes Arimura


Advogada
OAB/SP 361.873

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