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REFERÊNCIAS TÉCNICAS

PARA ATUAÇÃO DO
PSICÓLOGO EM VARAS DE
FAMÍLIA
por Larissa Vargas e Naila Garcia
A ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS(OS) NO
SISTEMA DE JUSTIÇA
Em especial no Poder Judiciário, é uma prática recente no Brasil, afeita
à Psicologia Jurídica reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia
(CFP) como uma área especializada da Psicologia em 2000, por
delimitar um campo de saber próprio de atuação da(o) psicóloga(o) no
âmbito das questões e dos problemas jurídicos.

O recorte nas varas de família foi uma resposta à crescente demanda de consultas e processos éticos
em torno da atuação das(os) psicólogas(os) neste âmbito, embora muitas questões extrapolam a
matéria do Direito de Família e dialoguem com concepções e conceitos advindos de conflitos humanos
relacionados à vida em família, tais como encontradas nas varas da infância e da juventude, nas varas
especiais de crimes contra a criança e adolescente e de crimes contra a mulher, entre outras
instâncias.
ÁREAS
ABORTADAS Questões jurídicas
Questões de sexualidade

Questões de raça e etnia


Questões de divórcio e guarda dos filhos
Peritos e Assistentes Sociais

Lei Maria da Penha nas varas de família


QUESTÕES JURÍDICAS
A(o) psicóloga(o) é chamado para assessorar as decisões
judiciais, isto é, emprestar o seu saber para que os problemas
endereçados ao Poder Judiciário possam ter respostas
singularizadas e justas;

Em comum, as(os) profissionais, sentiam a necessidade de


referências técnicas que pudessem nortear uma prática
consistente, para a garantia de direitos humanos, priorizando as
crianças e adolescentes envoltos nas questões judiciais;

A(o) psicóloga(o) planeja a intervenção viável para cada caso,


utilizando-se das ferramentas da disciplina, do conhecimento na
área e, principalmente, da compreensão dos limites de suas [...]Toda e qualquer ação não é
ações neste campo, ressaltando que sua atuação não fica neutra e tem consequências.
restrita ao modelo pericial estrito senso;
A elaboração do laudo ou do relatório psicológico, deve ser o registro analítico e ético
das demandas psicológicas, endereçadas aos operadores do direito e também às pessoas
que participam do processo como partes interessadas na resolução do conflito;
Toda e qualquer atuação psicológica, deve ser respaldada pelos princípios éticos da
profissão;
Cabe à(ao) psicóloga(o) desenvolver as intervenções possíveis para garantir clareza na
análise das relações de cuidado e sócioeducação e, também, na promoção de medidas
saneadoras das dificuldades encontradas nos litígios (BERNARDI, 2010, p. 27);
Recomenda-se que o uso de testes psicológicos, ou qualquer outra intervenção, ocorra
quando o profissional considerar necessário e não com o objetivo único de dar
legitimidade ao laudo ou relatório psicológico;
Destaca-se o Código de Ética Profissional do Psicólogo que deve balizar a atuação da(o)
profissional, explicando em seu local de trabalho, a necessidade de resguardar sigilo nos
atendimentos, indicando artigo do Código de Ética que aborda o tema e solicitando
providências devidas.
[...]caso não haja privacidade nos atendimentos o profissional poderá estar incorrendo
em falta ética, situação que merece encaminhamento ao Conselho Regional de Psicologia.
QUESTÕES DE
SEXUALIDADE
Reconhecer a fluidez da sexualidade e seu
caráter de composição histórica, política e não
essencialista é uma tarefa que deve ser
empreendida por todas as áreas da psicologia;

Resolução nº 01/1999 veta que as (os)


profissionais da Psicologia exerçam qualquer
atividade que favoreça a patologização de
Resolução CFP 01/2018, orienta os profissionais da
comportamentos ou práticas homoeróticas.
Psicologia a atuar, no exercício da profissão, de modo
Proíbe, ainda, adotar ação coercitiva que
que as travestilidade e transexualidade não sejam
busque orientar homossexuais para
consideradas patologias.
tratamentos não solicitados.
QUESTÕES DE RAÇA
E ETNIA
A realidade das relações raciais no Brasil é uma
peculiaridade que existe e resiste. Nas questões judiciais é
necessário observar os princípios éticos da profissão
contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão
sobre o preconceito e eliminação do racismo;
Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça
a discriminação ou preconceito de raça ou etnia;
Não serão coniventes e nem se omitirão perante o crime
do racismo;
Não se utilizaram de instrumentos ou técnicas
psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos,
estigmas, estereótipos ou discriminação racial.
QUESTÕES DE DIVÓRCIO
E GUARDA DOS FILHOS
No campo da Psicologia Jurídica qualquer tema
relacionado às famílias é indissociável do contexto
em que elas se encontram;
A(o) psicóloga(o) não deve incorrer em julgamento ou, através da avaliação, ter pretensão de
definir um arranjo de guarda ou uma regulamentação de convivência, cuja atribuição é
exclusivamente do juiz;
"Se o processo judicial é o de guarda, a avaliação psicológica buscará as potencialidades e as
dificuldades de cada um dos genitores à luz do relacionamento e das necessidades específicas
do(a) filho(a) em questão” (SHINE, 2017, p. 3);
Ressalta-se que devem escutar ambas as partes do processo, não sendo admissível que dispensem
a escuta de uma das partes por dispor de gravações, cartas ou outros recursos que lhes foram
encaminhados;
Não é aconselhável, também, que se fixe, a priori, número máximo de atendimentos para
cada caso, estes devem ocorrer de acordo com a necessidade e com a dinâmica de cada
situação.

Um indicador importante é o direito à convivência familiar e comunitária, que deve ser


garantido a toda criança ou adolescente, inclusive nos casos de dissolução conjugal;

Em seu artigo 1.584, o CFC de 2002 dispõe que a guarda dos filhos deveria ser atribuída
àquele que revelasse melhores condições de exercê-la, ressaltando-se a importância de
se garantir o acesso da criança tanto à linhagem materna como à linhagem paterna.

Quando não houver acordo entre os genitores quanto à guarda do filho, encontrando-se
ambos aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se
um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
ALIENAÇÃO
PARENTAL
Segundo a lei nº 12.318, a definição da
síndrome de alienação parental, segundo
psiquiatra Richard Gardner, seria um
distúrbio infantil, atingindo crianças e É preciso cuidado entre o direito das crianças
adolescentes em situações de disputa de serem ouvidas nesses processos e o fato de que
guarda, onde sofreram uma “lavagem deve ser privilegiada a palavra de uma criança.
cerebral” ou uma “programação’ no filho [...]não caberia à(ao) psicóloga(o) a tarefa de
para que rejeite o outro genitor; inquirir a criança para que ela respondesse com
A Lei n.º 12.318/2010 dispõe no artigo quem deseja permanecer.
sexto, que diferentes medidas podem ser [...]Hoje, deve ser preocupação das(os)
aplicadas nos casos em que se comprove psicólogas(os) avaliar se mesmo após o
a alienação parental, dentre elas a rompimento conjugal dos genitores estão sendo
determinação de acompanhamento proporcionadas à criança a filiação materna e
psicológico e/ou biopsicossocial e a paterna.
inversão da guarda;
A prática de ato
de alienação
parental constitui
abuso moral
contra a criança
ou adolescente e
fere o direito
fundamental de
convivência
familiar saudável;
SOBRE PERITOS E
ASSISTENTES SOCIAIS
Psicólogas(os) e assistentes sociais que atuam nas
políticas públicas não devem ser convocados para
realizar perícias judiciais e/ou trabalho de assistente
técnico;
O assistente técnico é psicólogo com a função de
complementar e/ou argumentar acerca do estudo
psicológico desenvolvido pelo perito no processo judicial,
devendo estar habilitado para orientar e esclarecer sobre
as questões psicológicas que dizem respeito ao conflito;
[...]este pode questionar os procedimentos e técnicas
utilizados, os dados levantados e a conclusão da
avaliação feita pelo perito, além de colaborar com o
patrono da parte na formulação de quesitos a serem
encaminhados ao perito.
Resolução CFP n.º 8/2010, em 30 de junho de 2010: O psicólogo assistente técnico
não deve estar presente durante a realização dos procedimentos metodológicos que
norteiam o atendimento do psicólogo perito e vice-versa, para que não haja
interferência na dinâmica e qualidade do serviço realizado;
Conforme a especificidade de cada situação, o trabalho pericial poderá contemplar
observações, entrevistas, visitas domiciliares e institucionais, aplicação de testes
psicológicos, utilização de recursos lúdicos e outros instrumentos, métodos e
técnicas reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia;
Em julho de 2012 a Resolução CFP 10/2010 foi suspensa em todo o território
nacional, esta vedava à psicóloga(o) o papel de inquiridor.
[...]a escuta especializada realizada por psicólogas e psicólogas(os) na rede de
proteção tem como objetivo o acolhimento, permitir o relato livre, com perguntas
estritamente necessárias para que a proteção e o cuidado sejam prestados, não se
configurando como relato para a produção de prova;

[...]não se considera pertinente incluir nas atribuições da(o) psicóloga(o) o


acompanhamento de diligências para a busca e apreensão de crianças;

[...]a(o) psicóloga(o) não participa da inquirição de crianças por meio do depoimento


especial, considerando que existem diferenças conceituais e metodológicas entre
inquirição judicial e escuta psicológica;

[...]a utilização da técnica denominada Constelação Familiar, não é reconhecida pelo


CFP;
SOBRE O DESDOBRAMENTO DA LEI MARIA
DA PENHA NAS VARAS DE FAMÍLIA:
No âmbito das varas de família, os fenômenos de violência
doméstica contra mulheres, crianças e adolescentes se expressam
os processos judiciais, muitas vezes, como o motivo principal para a
dissolução conjugal e, outras, como o pano de fundo de inúmeras
queixas embutidas nos pedidos de guarda, incluindo vitimizações
físicas, psicológicas e sexuais, também, para com os filhos menores.

A resolução CFP nº 008/2010 estabelece em seu artigo 10:


[...]é vedado ao psicólogo que esteja atuando como psicoterapeuta das partes envolvidas em um litígio;
I- atuar como perito ou assistente técnico de pessoas atendidas por ele e/ou de terceiros na mesma situação
litigiosa;
II- produzir documentos advindos do processo psicoterápico com a finalidade de fornecer informações a
instância judicial acerca das pessoa atendidas, sem o consentimento formal das mesmas;
https://youtu.be/2botIn1GS1g

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