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Assim como possuímos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) para
perceber o mundo exterior, possuímos também sentidos que nos permitem estabelecer
contato com o nosso mundo interior, como tratamos no artigo sobre a recorrência. É por
essa razão que conseguimos ouvir nossos pensamentos, ver as imagens mentais que se
formam em nosso espaço psicológico e sentir nossas emoções. Nenhum desses
fenômenos são percebidos com os sentidos externos. A soma de todos os nossos
sentidos internos nos dá a capacidade de percebermos o que ocorre em nosso
mundo interior e chamamos isso de auto-observação.
Algumas pessoas têm mais dificuldade que outras para perceber o que ocorre dentro
delas mesmas. Isso é devido ao estado de completo abandono que relegamos nosso
mundo interior.A auto-observação, portanto, é um sentido que deve desenvolver-se
mediante o exercício contínuo. Em um artigo anterior, exemplificamos através da
analogia de entrar em um quarto escuro, depois de caminhar sob o sol. Logo que a
pessoa entra não enxerga absolutamente nada, porém ao permanecer ali, pouco a pouco
as imagens vão se formando com seus contornos e até com algumas variações de
tonalidade. A mesma coisa ocorre com esse exercício de “olhar para dentro”. Estamos
tão voltados para os nossos sentidos externos que geralmente não percebemos a emoção
que deu início a uma explosão de raiva ou a uma alegria incontida.
Muitas pessoas se perguntam se vão precisar fazer isso o resto da vida – e realmente,
analisando desse ângulo, torna-se algo terrivel, quase que uma prisão perpétua – então a
resposta é que não precisamos fazer isso o resto da vida, pois esse conceito é uma ilusão
da mente. Apenas precisamos fazer isso agora e sustentar esse estado da forma mais
relaxada e alegre possível.
Uma característica importante desse estado é que nós conseguimos perceber o fluxo de
impressões que entram e as reações que surgem dentro de nós, tudo isso visto como se
estivéssemos entre esses dois mundos (exterior e interior) porém como um observador
imparcial, que seleciona as emoções que quer expressar, sem apegar-se àquelas que lhe
são prejudiciais. E nisso está a essência de outra prática que estudaremos mais adiante,
que é a meditação (pois na verdade, são a mesma coisa, porém a auto-observação trata
de atingir um estado de harmonia consigo mesmo no dia-a-dia). Como ensina Chuang
Tzu: “O homem perfeito usa sua mente como um espelho, ele nada aprisiona e nada
recusa, recebe mas não conserva.” Não aprisionar nada nem recusar nada significa
não fazer oposição moral às coisas negativas que surgem dentro de nós. O Cristo
ensinava que não devemos resistir ao mal. E por quê? Pois quando fazemos resistência,
ele cresce, porque encontra algo a dominar. Apenas deixando que não se enraizem em
nós, as emoções negativas, desagradáveis perdem força e se esvaem.