POEMAS MBSR

Estamos sempre à espera - Lao Tzu

Estamos sempre à espera
Que outra pessoa tenha a resposta
Que outro lugar será melhor
Que noutra altura tudo aconteça.
É isto:
Ninguém mais tem a resposta
Nenhum outro lugar será melhor
E tudo já aconteceu.
No centro do teu ser
Tens a resposta,
Sabes quem és
E sabes o que queres.
Não há necessidade
De correr para fora
Para veres melhor.
Nem de espreitares da janela.
Em vez disso, permanece no centro do teu ser;
Porque quanto mais te afastas dele, menos aprendes.
Procura no teu coração
E vê
Que o que tens que fazer
É apenas ser.
COMECE BEM PERTO, David Whyte

Comece bem perto

Não dê o segundo passo
nem o terceiro
Comece com a primeira coisa
que está bem perto
que é o passo que você não quer dar.
Comece com o chão
que você conhece
o chão sem brilho
debaixo de seus pés
seu próprio caminho
seu próprio jeito
de começar
a conversa.
Comece com sua própria
pergunta
desista das perguntas
das outras pessoas
não deixe que elas
estraguem algo
tão simples.
Para perceber
a voz do outro,
siga sua própria voz
espere até que
essa voz
acabe se tornando
um ouvido só seu,
para ouvir
o outro.
Comece agora mesmo
dê um pequeno passo
você pode chamá-lo de seu próprio
passo
não siga
os passos heróicos dos outros
seja humilde e tenha foco
não confunda
esse outro com você mesmo
Comece bem perto
não dê o segundo passo
nem o terceiro
Comece com a primeira coisa
que está perto
que é o passo que você não quer dar.
A Casa de Hóspedes
Rumi
O ser humano é uma casa de hóspedes.
Toda manhã uma nova chegada.
A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.
Receba e entretenha a todos
Mesmo que seja uma multidão de dores
Que violentamente varrem sua casa e tira seus móveis.
Ainda assim trate seus hóspedes honradamente.
Eles podem estar te limpando
para um novo prazer.
O pensamento escuro, a vergonha, a malícia,
encontre-os à porta rindo.
Agradeça a quem vem,
porque cada um foi enviado
como um guardião do além.

Poema Consciência
John Astin

Seu olhar é tão constante

Cada movimento nosso
É observado com tanto afeto
Uma vigília incessante
Sem condição
Ou agenda
Silenciosa
Paciente
Inexorável no seu abraço

Há um espaço sem fim

No coração desta amante
Espaço infinito para qualquer
Loucura que podemos
Atirar no seu caminho

Mas ela também é astuta,

Como um ladrão que vai roubar
Tudo o que sempre acarinhamos.
Todas as nossas crenças,
Todas as nossas ideias,

Todas as nossas filosofias,

Até que nada é deixado
Mas, a sua cintilante vigília

Este amor simples

Para o que é!
 Sussumu Hirayama, Casa em Ordem

Sentar em silêncio
é colocar a casa em ordem,
não na ordem que alguém disse
ou que eu desejo,
na ordem que ela é.

Sentar em silêncio
é oferecer atenção a si mesmo,
perceber-se,
compreender-se,
não pelos sentidos ou intelecto,
por ser inteiro.

Sentar em silêncio
é oferecer atenção à vida,
percebê-la,
compreendê-la,
enxergar seus sabores,
armadilhas e saídas.
Sentar em silêncio
é colocar a casa em ordem,
encher-se e esvaziar-se,
libertar-se,
pronta para a plenitude de cada momento

David White, Enough (Basta)

Basta.
Estas poucas palavras bastam.
Se não estas palavras, esta respiração.
Se não esta respiração, este estar sentado aqui.
Esta abertura para a vida
que temos negado
de novo e de novo,
até agora.
Até agora.
Paz é este momento sem julgamento

Achas que paz requer o fim da guerra?

Ou que tigres comam apenas vegetais?
Será que paz requer a ausência do teu chefe,
do teu parceiro, de ti? ...
Achas que paz virá nalgum outro sítio que não aqui?
Nalgum outro tempo que não Agora?
Nalgum outro coração que não o teu?
Paz é este momento sem julgamento.
Isso é tudo. Este momento no espaço-Coração
onde tudo o que é é bem-vindo.
Paz é este momento sem pensar
que deviar ser de outra forma,
que tu devias sentir outra coisa,
que a tua vida deveria desdobrar-se de acordo com os teus planos.
Paz é este momento sem julgamento,
este momento no espaço-coração onde
tudo o que é é bem-vindo.

Dorothy Hunt

Permissão
Danna Faulds
Não há vida a ser controlada.
Tente encurralar um relâmpago, conter um tornado.
Tente reter um riacho e ele criará um novo fluxo.
Resista e a corrente o arrastará para longe.
Permita e a graça o levará para o lugar seguro.
A única segurança está em deixar que tudo seja –
na loucura e na fraqueza –
medos, fantasias, fracassos e sucessos.
Quando a perda arrombar as portas do coração
ou quando a tristeza turvar sua visão com o desespero,
a prática se transformará na simples sustentação da verdade
Ao escolher desapegar-se do seu jeito conhecido de ser,
o mundo inteiro se revelará ao seu novo olhar.
VIVER, EXISTIR E SER

Está, na sensação de viver

A essência da vida
De sentir, nos momentos vividos
Todo o encanto de existir, de ser
E de saber que ser é bem mais do que existir
Que ser é viver plenamente
Uma vida sentida!

Walmir Becker

Não Tenho Pressa

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

No silêncio
Barbara Hurd

O silêncio impede a fuga, de forma que no seu refúgio

a necessidade de fugir do caos do ruído diminui.
Deixamos o mundo aproximar-se lentamente, caímos de joelhos,
como se fosse para deixar o coração, qual pequeno animal,
pousar as pernas no chão.
 Direito a Despertar
Mark Nepo

Desperdiçamos tanta energia a tentar esconder o que somos

quando debaixo de cada atitude está a necessidade de sermos amados,
e debaixo de cada irritação está uma ferida para curar,
e debaixo de cada tristeza está o medo de poder não haver tempo suficiente.
Quando hesitamos em sermos diretos,
Sem nos darmos conta, estamos a colocar uma camada de proteção
Que nos impede de sentir o mundo.
Muitas vezes, essa fina cobertura é o início da solidão
que, se não for abandonada, diminui as nossas oportunidades de sermos felizes.
É com usar luvas de cada vez que tocamos alguma coisa,
E depois, esquecermo-nos que pisemos as luvas,
e queixarmo-nos de que nada parece muito real.
O nosso desafio em cada dia não é vestirmo-nos para enfrentar o mundo
mas tirarmos as luvas para sentirmos fria a maçaneta da porta
e húmido o manípulo da porta do carro,
e para que o beijo de despedida seja sentido como os lábios de outro ser,
suaves e irrepetíveis.

Quero ignorado, e calmo

Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.

Aos que a riqueza toca

O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.

Aos que a felicidade

É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato.
Ricardo Reis

A vida é uma série de mudanças naturais e espontâneas.

Não lhe resistas.
Deixa a realidade ser realidade.
Deixa as coisas fluírem naturalmente pelo caminho que elas seguirem.
Simplicidade, paciência e compaixão,
São os três maiores tesouros que podes ter na vida e na mente
Com simplicidade nas ações e pensamentos,
Regressas ao núcleo e à essência.
Com paciência, tanto com os amigos quanto com os inimigos,
Vives em harmonia com o universo.
Com compaixão por ti mesmo,
Reconcilias todos os seres do mundo.
Quando abres mão do que és,
Tornas-te no que poderias ser.
Se queres acordar a humanidade
Abre os olhos e vê
Se queres aliviar o sofrimento do mundo
Ouve e acolhe o teu
A maior dádiva que podes dar ao mundo
É a tua auto-transformação
É sentires amor,
Na cabeça, no coração e nos sentidos!

Lao Tzu
Colhe o dia, porque és Ele,

Uns, com os olhos postos no passado,

Veem o que não veem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto

A segurança nossa? Este é o dia,

Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora

Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

Ricardo Reis, in “Odes”