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Psicologia da

Aprendizagem
Unidade 1
Fundamentos da Psicologia
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
RAQUEL ELISABETH DUMASZAK
AUTORIA
Raquel Elisabeth Dumaszak
Sou formada em Psicologia, na modalidade Bacharelado
e Licenciatura, e desde então atuo com Psicologia, Educação e
Aprendizagem. Tenho interesse por assuntos que envolvem neurociências,
comportamento e cognição, temáticas que segui na pós-graduação. Fui
convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores
independentes e espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico
e profissional!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do
desenvolvimento houver necessidade
de uma nova de apresentar um
competência; novo conceito;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Origem e influências filosóficas da Psicologia................................ 12
Influências fisiológicas para Psicologia ......................................................................... 18

Psicologia científica: métodos descritivo, correlacional e


experimental ................................................................................................ 23
Método Descritivo............................................................................................................................25

Método Correlacional ..................................................................................................................27

Método Experimental....................................................................................................................28

Psicologia científica: Estruturalismo, Funcionalismo e


Associacionismo ......................................................................................... 31
Estruturalismo..................................................................................................................................... 31

O Funcionalismo...............................................................................................................................35

O Associacionismo......................................................................................................................... 39

Alguns teóricos importantes dessa época............................................... 40

Objeto de estudo da Psicologia ...........................................................46


Psicologia clínica............................................................................................................................. 46

Psicologia social............................................................................................................................... 48

Psicologia organizacional........................................................................................................... 51

Psicologia do desenvolvimento humano.......................................................................54

Psicologia escolar e educacional.........................................................................................55

Psicobiologia ......................................................................................................................................57
Psicologia da Aprendizagem 9

01
UNIDADE
10 Psicologia da Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Prezado aluno,

Seja bem-vindo à Unidade 1 da disciplina Psicologia da


Aprendizagem.

Veremos que a Psicologia é uma ciência aplicável a qualquer cultura,


povo e tempo. Modernizada, presente em diversos campos de atuação e
cada vez mais com uma perspectiva multiprofissional, promete interagir
com outras áreas do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento
humano e social. Como este é um tema extenso, focaremos na relação
entre Psicologia, Educação, Pedagogia, aprendizagem e outras questões
que envolvem esse interesse. Porém, para compreendermos bem e fazer
uso dessa ciência tão valiosa, precisamos conhecer a origem de sua
teoria, para entender suas heranças históricas, filosóficas, fisiológicas e
biológicas, e, assim, compreender essa esfera científica que ampara e dá
subsídio a você, futuro pedagogo! Ao longo desta unidade letiva você vai
mergulhar neste universo!

Vamos começar?
Psicologia da Aprendizagem 11

OBJETIVOS
Caro aluno, o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento
das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de
estudos:

1. Compreender a importância e a história da Psicologia, identificando


suas principais influências filosóficas.

2. Aplicar os métodos descritivo, correlacional e experimental da


Psicologia científica.

3. Entender e aplicar os conceitos do Estruturalismo, Funcionalismo


e Associacionismo, à luz da Psicologia científica.

4. Identificar os objetos de estudo da Psicologia e suas aplicações.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
12 Psicologia da Aprendizagem

Origem e influências filosóficas da


Psicologia
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender a


importância e a história da Psicologia, identificando suas
principais influências filosóficas. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante!

A Psicologia é uma das ciências mais antigas e nasceu a partir da


Filosofia. Seus primeiros registros foram escritos por Aristóteles (384-322
a.C.) e datam de mais de 2.000 anos. Aristóteles escreveu sobre sono,
sonhos, sentidos e memória, e criou conceitos posteriormente usados,
como a catarse e a metafísica.

Os primeiros escritos a dar embasamento à Psicologia são de


teóricos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Eles rompem com a Filosofia
natural determinista e buscam entender o homem como senhor de suas
ações, por meio de sua mente e seus comportamentos, como autor de
sua própria história.

É importante compararmos a Filosofia de Sócrates, Platão e


Aristóteles com a dos filósofos naturais, os pré-socráticos, que observavam
e tentavam compreender o mundo a partir dos fenômenos naturais,
deixando o ser em uma posição determinista, pela qual sua existência e
suas ações são fruto do espaço e tempo (BORGES, 2009).

EXPLICANDO MELHOR:

A ideia de compreender o homem por sua mente e ações


se inicia com Sócrates. Ele inovou tanto o pensamento
metafísico que a Filosofia passou a ser dividida em filósofos
pré e pós-socráticos! Mas, afinal, o que ele disse de tão
inovador?
Psicologia da Aprendizagem 13

Antes de Sócrates, os filósofos eram chamados de “filósofos


naturais”, porque entendiam o homem como parte da natureza, que
ditaria o caminho de seu conhecimento. Esse filósofo é inovador, porque
passou a compreender o homem como um ser independente, autor e
responsável por suas ações.
Figura 1 – Sócrates

Fonte: Wikimedia commons

Platão (428/7-347 a.C.), um de seus discípulos, por sua vez, era


determinista e compreendia o homem como produto do mundo das
ideias, advindas da razão, ou seja, o conhecimento se dá pela razão, e não
pelos sentidos do corpo. Você se lembra do mito da caverna de Platão?
Ele utilizou esta metáfora para dizer que aquelas sombras refletidas nas
paredes da caverna não refletem o mundo como ele realmente é, por
isso cada um deve se libertar das “aparências” e sair da caverna, ou seja, o
homem é dotado de capacidade cognitiva, por isso é responsável por seu
processo de busca do conhecimento.
14 Psicologia da Aprendizagem

Figura 2 – Platão

Fonte: Wikimedia commons

Os estudos de Platão são complexos e pertinentes, porém vemos


tão fortemente a influência das ideias de Aristóteles na formação da
Filosofia Moderna e, posteriormente, da Psicologia

ACESSE:

Para entender melhor o mito da caverna acesse aqui.

Figura 3 - Ilustração da “Alegoria da Caverna” de Platão (428/7-347AC)

Fonte: Blogodorium (2022).


Psicologia da Aprendizagem 15

O Mito da Caverna, também conhecido como Alegoria da Caverna,


foi uma parábola contada por Sócrates aos seus dois irmãos, Gláuco e
Adimanto, e relatada por Platão em “A República” (livro VII).

A imagem do Mito da Caverna de Platão retrata três fases. Na


primeira, os homens observam as sombras de objetos na parede.
Na segunda fase, eles decidem sair da caverna e passam pelo fogo e
pelos objetos autores das sombras. Os homens observam e chegam à
conclusão de que um não corresponde ao outro. Por fim, na terceira fase,
os homens estão no mundo real e se libertaram das sombras.

Aristóteles (384/3-322 a.C.) influenciou a Filosofia do século XVII,


apresentando a ideia de mente e corpo como entidades separadas, que
interagem entre si para provocar sensações. Esse filósofo foi inovador,
porque, além de suas contribuições filosóficas, é considerado o primeiro
grande pesquisador sistemático. Além disso, ele definiu o objeto de
estudo de várias ciências e foi o primeiro a oferecer uma teoria sistemática
sobre a Psicologia (GOMES, 1996).

As tendências filosóficas desta época são retomadas fortemente


pelo filósofo francês René Descartes (1596-1650), que viveu em um
cenário Europeu marcado por conflitos e por uma forte influência religiosa
e do Estado, para comandar o raciocínio e desenvolvimento intelectual.

O interesse primordial de Descartes era aplicar o conhecimento de


caráter científico às questões práticas do cotidiano. Ele sempre buscou
meios para que os cabelos não fossem esbranquiçados e procurou
formas de aperfeiçoar as manobras de uma cadeira de rodas para
deficientes físicos.

Apesar de acreditar na existência de Deus como criador do universo,


Descartes tinha uma visão mais mecanicista e racional do homem, e
foi bastante influenciado por matemáticos como Galileu Galilei (1564-
1642), propondo uma observação fundamentada no mundo físico e em
evidências científicas.

Descartes voltou seu olhar para diversas problemáticas, mas uma


das mais importantes foi a tentativa de resolver o problema mente-corpo,
visando responder à seguinte pergunta: o universo da mente e o mundo
material possuem naturezas diferentes?
16 Psicologia da Aprendizagem

A investigação do comportamento humano passa a ser individual


independentemente de raça, sexo e classe social, e um método também
chamado de reducionista (GOMES, 1996; SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

Então, Descartes defende por meio da sua teoria mente-corpo que a


mente realiza uma influência sobre o corpo, no entanto, a influência deste
sobre a mente possuía uma maior proporção do que se acreditava, não
havendo, assim, uma relação entre eles tida como unilateral, mas sim, mútua.
Figura 4 - René Descartes

Fonte: Wilipedia

Descartes considerava em sua teoria a mente como imaterial, isto


é, ela não possui uma substância física, no entanto, é composta pela
capacidade de pensamento e de outros processos cognitivos. Assim, em
consequência dessa imaterialidade e capacidade, a mente proporciona
para os indivíduos informações com relação ao mundo exterior.

A mente na visão de Descartes, deste modo, possui três tipos de


capacidades fundamentais:
1. Pensamento
2. Percepção.
3. Vontade.

Por meio dessas capacidades, ela influencia o corpo e é


influenciada também por ele.
Psicologia da Aprendizagem 17

SAIBA MAIS:

A catarse (atualmente em desuso) ficou conhecida com


Sigmund Freud (1856-1939) e Joseph Breuer, que aplicavam
esta técnica em pacientes para induzi-los à hipnose, pela
qual liberariam emoções e sentimentos repreendidos, e
aliviariam sintomas psicossomáticos. Aristóteles chamava
o teatro de fenômeno catártico, pois, segundo ele, havia
ali uma capacidade de libertação, já que, à medida que o
indivíduo visse os sentimentos ali representados, libertaria-
-se deles.

VOCÊ SABIA?

Metafísica é o estudo do que não pode ser testado


empiricamente; está além da física.

O cenário da época vivida por Descartes era literalmente


mecanicista. A criação de máquinas industriais, a revolução no trabalho
braçal e esse quadro em todo o contexto social levou esse pensador a
deixar de lado o pensamento naturalista e enxergar o homem também
em suas “peças” menores. Entrávamos na era da Filosofia Moderna
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

As contribuições da Filosofia moderna foram fundamentais para


a Psicologia, pois esta investiga o comportamento, sempre priorizando
o método científico. Além disso, a era industrial influenciou a visão
mecanicista e reducionista do comportamento, na qual podemos
destacar o “arco reflexo”.

Descartes observou que o corpo humano produz movimentos


involuntários (sabemos hoje que são os chamados de arco reflexo)
sem processamento cognitivo, que assim acontecem para ter melhor
resposta do corpo e protegê-lo de estímulos nocivos, como uma
queimadura na mão, por exemplo (CARLSON, 2002).
18 Psicologia da Aprendizagem

Em suma, a teoria do arco reflexo afirma que movimentos


involuntários acontecem sem processamento cognitivo, para ter uma
resposta mais rápida do corpo e protegê-lo de estímulos nocivos
Essa visão mecânica e reducionista influenciou teorias extremamente
importantes e que hoje ainda são fortemente estudadas dentro da
psicologia e de outras áreas de conhecimento.

Essa teoria é fundamentada no movimento mecânico e robotizado


das máquinas francesas do século XIX, o zeitgeist influente em Descartes

EXPLICANDO MELHOR:

Essa visão mecânica e reducionista influenciou teorias


extremamente importantes e que hoje ainda são fortemente
estudadas dentro da Psicologia e de outras áreas de
conhecimento, que serão de grande aplicabilidade para
o pedagogo compreender estímulos influenciadores em
sala de aula, os quais podem contribuir ou prejudicar a
aprendizagem e o desenvolvimento dos trabalhos.

Influências fisiológicas para Psicologia


A partir do estudo do corpo humano, relacionando cérebro e
comportamento, deu-se um importante feito para a ciência psicológica,
a inclusão do estudo fisiológico e sua interação com o comportamento.

Estudos como o de Broca e de Wernicke, por exemplo, foram


fundamentais para a identificação de regiões cerebrais responsáveis pela
linguagem e compreensão.

A investigação reducionista, a retirada de Deus do centro do


universo e a inserção do homem como senhor de suas ações levou a
ciência a buscar respostas para doenças, calamidades e comportamento
humano no próprio homem. Graças a essa mudança histórica, foi possível
haver estudos sobre cognição, desenvolvimento e consciência. A ciência
psicológica passa, então, a receber influências fisiológicas que eram
realizadas desde o século XIX com a pesquisa experimental.
Psicologia da Aprendizagem 19

Como filósofos importantes para a Psicologia temos Descartes, que,


conforme abordamos, entre seus estudos, focou na interação mente-
corpo. Além disso, Descartes trouxe à baila que a mente produz dois tipos
de ideias:

1. Ideias derivadas – são ideias que surgem a partir da aplicação


de forma direta de estímulos externos, por exemplo, a imagem de uma
árvore. Assim, ele concluiu que as ideias derivadas constituem das
experiências dos sentidos.

2. Ideias inatas – ao contrário das ideias derivadas, as inatas são


produzidas pela mente ou pelo consciente, por exemplo, a ideia da
existência de Deus.

Descartes contribuiu com diferentes ideias que serviram como


catalisador das diferentes tendências da Psicologia, entre as quais
podemos citar:

•• O estudo das ideias inatas.

•• A teoria do ato reflexo.

•• Concepção mecanicista do corpo.

•• Localização das funções mentais no cérebro.

•• Interação mente-corpo.

Já Marshall Hall (1790-1857) chegou à conclusão de que existem


diversos tipos de movimentos originados pelo cérebro e sistema nervoso
ou muscular, isto porque os animais decapitados ainda se mexiam. Assim,
ele descobriu que os movimentos nem sempre são modulados pelo
cérebro.
20 Psicologia da Aprendizagem

Figura 5 - Marshall Hall

Fonte: Wikimedia commons

Os estudos feitos por fisiologistas dessa época permitiram


descobertas importantes como a de Paul Broca (1824-1880), um cirurgião
parisiense que, ao atender um paciente que compreendia a linguagem,
porém não falava mais do que a palavra “tam”, buscou investigar o que
podia estar comprometido em seu cérebro, e assim se deu a descoberta
da região cerebral chamada de área de Broca, tão estudada por
fonoaudiólogos e psicopedagogos por ser responsável pela fluência
verbal, compreensão da fala e leitura. O conhecimento a respeito do
funcionamento das regiões cerebrais é importante, pois, no caso da afasia
de Broca, uma pessoa pode compreender muito bem um texto lido, mas
não conseguirá lê-lo (GRIGGS, 2009).
Psicologia da Aprendizagem 21

Figura 3 - Área de Broca e Área de Wernicke

Motor and Sensory Regions of the Cerebral Cortex

Primary motor cortex Primary sensory cortex


(precentral gyrus) (postcentral gyrus)
Somatic motor Somatic sensory
association area association area
(premotor cortex)

Prefrontal Visual
cortex association
area

Broca’s area
(production of
speech)
Visual cortex
Auditory Association
area Auditory Wernicke’s area
cortex (understand speech)

Fonte: Wikimedia commons

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre a funcionalidade dessas regiões


acesse aqui.
22 Psicologia da Aprendizagem

RESUMINDO:

E então, compreendeu tudo que estudamos no decorrer


deste capítulo? Esperamos que sim, no entanto, vamos
revisar um pouco do que foi estudado. Iniciamos nosso
capítulo com o estudo da origem e das influências filosóficas
da Psicologia, compreendendo que a Psicologia nasceu da
Filosofia, tendo seus primeiros escritos feitos por Aristóteles,
datando de mais de 2.000 anos. Em seguida, comparamos
a Filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles com a dos
filósofos naturais, os pré-socráticos, que observavam e
tentavam compreender o mundo a partir dos fenômenos
naturais, deixando o ser em uma posição determinista,
segundo a qual sua existência e ações é fruto do espaço
e tempo. Vimos a importância do estudo de Descartes
para o avanço da Psicologia e, por fim, nossos olhares se
voltaram para as influências fisiológicas para Psicologia,
relembrando a importância de Broca e Wernicke, assim
como de Descartes e Marshall.
Psicologia da Aprendizagem 23

Psicologia científica: métodos descritivo,


correlacional e experimental
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


os métodos descritivo, correlacional e experimental da
Psicologia científica. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Vamos lá. Avante!

A Psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano


e os processos mentais, para que seja possível predizer comportamentos,
interpretar ações, compreender a dinâmica de um grupo etc. A Associação
americana de Psicologia (APA) lista mais de 50 divisões de atuação dentro
da Psicologia.

Porém, para a pesquisa existem apenas quatro, que são as áreas


biológicas e cognitivas, que estudam fatores internos, como o sistema
fisiológico, uso de medicamentos e pensamento, raciocínio etc.; e as
áreas das teorias comportamentais e socioculturais, que estudam
fatores externos, como um melhor tipo de aulas, provas escolares
e comportamentos que acontecem em grupo, como o bullying, por
exemplo, e que podem influenciar uns aos outros. Resumindo, temos:

•• As áreas biológica e cognitiva - estudam fatores internos.

•• As áreas: comportamental e sociocultural - estudam fatores


externos
24 Psicologia da Aprendizagem

Figura 7 – Psicologia cognitiva

Fonte: Elaborada pela autora (2022).

O método científico é uma maneira compartilhada em todo o


mundo para adquirir conhecimento a respeito do mundo que nos rodeia.
A Psicologia segue os pilares para produção de conhecimento que
visam formular uma hipótese, delinear um estudo, mas, para que isso
seja possível, esse estudo deve utilizar um dos três métodos de se fazer
pesquisa, que são o descritivo, correlacional e experimental. Esses
são métodos padrão para que os dados observados sejam coletados
corretamente e que possamos chegar às conclusões do estudo para
posteriormente serem publicadas (HOCKENBURY; HOCKENBURY, 2001).

É importante ter em mente que qualquer pessoa pode produzir


ciência e que qualquer ambiente pode ser propício para o fornecimento
de dados e responder a hipóteses, como no caso de um professor em sala
de aula que investiga uma maneira de despertar interesse nas crianças
para que façam o dever de casa. Ele desenvolve um pensamento crítico
a respeito, que é uma maneira científica de enxergar aquela situação-
problema, sempre optando pela neutralidade e fugindo de qualquer ideia
tendenciosa.
Psicologia da Aprendizagem 25

Assim, ele observa que algumas atitudes em sala motivam as


crianças e a partir daí cria a seguinte hipótese de pesquisa: “colar uma
estrelinha dourada no caderno de um aluno tende a melhorar seu
desempenho escolar”. Assim, o professor precisa começar a investigar
sua hipótese para confirmar se ela é realmente eficaz; caso seja, ele
terá progresso em sala de aula. Vamos agora entender um pouco sobre
a metodologia de pesquisa para auxiliar o professor em seu projeto de
pesquisa.

REFLITA?

Qual método você acredita que seja o mais indicado para


esse estudo? O descritivo, correlacional ou experimental?
Vejamos um por um!

Método Descritivo
O método descritivo exige do investigador uma série de informações
sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os
fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). O método
descritivo é dividido em três tipos:

•• Técnicas observacionais.

•• Estudo de caso.

•• Pesquisa de levantamento.
Quando se diz que uma pesquisa é descritiva, se está
querendo dizer que se limita a uma descrição pura e
simples de cada uma das variáveis, isoladamente, sem
que sua associação ou interação com as demais sejam
examinadas (CASTRO, 1976, p. 66).

Com relação aos três tipos do método descritivo temos que: as


técnicas observacionais apenas observam o comportamento, seja em
seu ambiente natural, como um biólogo que se esconde para observar
pássaros, ou em laboratórios, com situações-problema criadas para
26 Psicologia da Aprendizagem

esse fim. Porém, a observação naturalística é mais indicada, pois sabe-


se que as pessoas modificam seu comportamento em laboratórios, mas
nem sempre ela é possível, pois o pesquisador observador inserido em
um local também pode interferir na dinâmica do grupo (ao pesquisar a
relação entre chefe e subordinado, por exemplo).

Além disso, sua inserção em um local se passando por outra


pessoa que não um pesquisador fere os pressupostos éticos da pesquisa
científica. Há ainda a observação participante, pela qual o observador
realmente se torna membro do grupo e compartilha com esse o mesmo
ofício, sem infringir a ética e o sigilo.

VOCÊ SABIA?

O estudo de caso é muito utilizado na prática clínica,


pois permite estudar um único participante com bastante
profundidade e por um período maior. Geralmente, esse tipo
de estudo relata alguma intervenção clínica e mudanças
no padrão de comportamento do indivíduo. Os dados
coletados com esse tipo de estudo são posteriormente
compartilhados para serem utilizados por profissionais que
encontram casos semelhantes

O último tipo de pesquisa descritiva é a pesquisa de levantamento,


que é a entrevista com os participantes. Esse tipo de pesquisa é muito
utilizada por ser prática e acessível, mas requer mais cuidado do
pesquisador para não analisar os dados tendenciosamente (HOCKENBURY;
HOCKENBURY, 2001).

Por fim, cabe destacarmos exemplos de pesquisas com caráter


descritivo:

•• Análise de documento.

•• Estudos de caso.

•• Pesquisa ex-post-facto.
Psicologia da Aprendizagem 27

Método Correlacional
A preocupação do método correlacional é determinar as relações
existentes entre as variáveis. É importante destacar que não é feita uma
manipulação das variáveis, mas sim uma investigação da extensão onde as
variáveis estão relacionadas. Com esse método, procura-se explorar essas
variações, no entanto, não se dedica à análise da relação causa-efeito.

IMPORTANTE:

O método experimental só poderá ser utilizado após a


utilização do método correlacional, porque, para que haja
a aplicação da relação causa-efeito que é tida no método
correlacional, é necessário antes que se estabeleça quando
duas variáveis são correlatas

Quando é apresentada uma relação entre duas variáveis, dizemos que elas
estão correlacionadas. Lembra-se do exemplo que usamos para mostrar a
prática do pensamento crítico em sala de aula? Outra pesquisa que o nosso
professor poderia fazer é a correlacional. Nela, ele pegaria um número de
alunos com maiores notas e faria uma correlação com o número de estrelas
douradas ganhas, para saber se há correlação entre essas duas variáveis.

EXPLICANDO MELHOR:

O estudo correlacional mede a relação entre duas variáveis,


de modo que a existência de uma pressupõe a existência
de outra, o que se chama correlação positiva. Quando
a existência de uma variável pressupõe a inexistência de
outra, nomeia-se correlação negativa.

Com o método correlacional obtém-se diferentes tipos de


informações, entre eles:

•• Compreender um fenômeno complexo.

•• Desenvolver uma teoria relacionada a um fenômeno


comportamental.
28 Psicologia da Aprendizagem

Figura 8 – Método correlacional

Fonte: Freepik

Por meio do método correlacional é possível:

•• Entender determinados eventos relacionados, condições e


comportamentos.

•• Predizer comportamentos variáveis ou condições futuras levando


em consideração o que se sabe de uma outra variável.

•• Algumas vezes, obter sugestões do que uma variável está


causando em outra.

Método Experimental
O último tipo de pesquisa é a experimental, com a qual o pesquisador
pode manipular as variáveis para saber qual está influenciando para
que haja o resultado. Esse método é bastante utilizado em laboratórios
que testam medicamentos. Um grupo recebe a medicação e o outro o
placebo, assim, fica mais fácil saber se a mediação funciona.

Assim, o método experimental investiga a manipulação de


tratamentos buscando estabelecer a relação causa-efeito, já mencionada
anteriormente nas variáveis investigadas. Há uma manipulação na variável
independente, visando julgar seu efeito sobre uma variável dependente.
Psicologia da Aprendizagem 29

Destaca-se que a relação de causa-efeito não pode ser estabelecida


por meio de técnicas estatísticas, porém apenas pela aplicação de
um pensamento lógico para os experimentos que são delineados
regularmente.

O método experimental tem como objetivo testar as hipóteses do


pesquisador, visando elencar a forma ou por quais causas o fenômeno é
produzido.

Esse método pode ser aplicado na escola, por exemplo, dividindo


as crianças em quatro grupos: grupo que recebeu estrelinha por fazer a
tarefa; grupo que fez a tarefa, mas não recebeu estrelinha; grupo que não
fez a tarefa e recebeu a estrela e grupo que não fez a tarefa e não recebeu
a estrela. O professor poderia comparar o resultado das provas ao final do
semestre, ou dar uma prova após cada estrela colada no caderno de um
grupo, ou ainda inverter os grupos que iriam ganhar a estrelinha (o nome
para este método é delineamento cruzado).

Porém, esse método exige que um protocolo experimental seja


seguido, a fim de que o número de participantes, tempo de pesquisa e
comprometimento ético sejam resguardados.

SAIBA MAIS:

Assista o vídeo disponível aqui para reforçar ainda mais sua


reflexão a respeito da pesquisa científica e, em seguida,
reflita sobre qual método você acredita ser o mais indicado
para o nosso professor do exemplo dado..
30 Psicologia da Aprendizagem

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir o que vimos. A pesquisa científica é um padrão
de coleta e publicação de dados, de modo que qualquer
pesquisador ou profissional da área possa utilizar evidências
e conceitos seguros para sanar dúvidas ou enriquecer seu
conhecimento a respeito de um mesmo assunto. Assim,
estudamos sobre os métodos descritivo, correlacional e
experimental. Compreendemos que o método descritivo
exige do investigador uma série de informações sobre o
que deseja pesquisar e que ele é dividido em três tipos:
técnicas observacionais, estudo de caso e pesquisa de
levantamento. Com relação ao método correlacional,
vimos que ele determina as relações existentes entre as
variáveis e só poderá ser utilizado após a utilização do
método correlacional. Por fim, estudamos sobre o método
experimental, com o qual o pesquisador pode manipular as
variáveis para saber qual está influenciando para que haja o
resultado. Esse método é bastante utilizado em laboratórios
que testam medicamentos. Um grupo recebe a medicação e
o outro o placebo, assim, fica mais fácil saber se a mediação
funciona.
Psicologia da Aprendizagem 31

Psicologia científica: Estruturalismo,


Funcionalismo e Associacionismo
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


e aplicar os conceitos do Estruturalismo, Funcionalismo
e Associacionismo, à luz da Psicologia científica. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá.
Avante!

Estruturalismo
O modo de explicar a mente e o comportamento humano ao longo
da história foi fundamentado na Filosofia, Biologia, Sociologia e Fisiologia.
A Psicologia era um campo de estudo dentro dessas áreas. Estudos a
respeito de estímulos sensoriais e respostas corporais, como o de Pavlov
(1849-1936), técnicas de extirpação de partes do cérebro de animais para
examinar problemas e consequências comportamentais, e dissecação
post mortem foram úteis para avançar no entendimento acerca do
comportamento humano. Mas como, de fato, a Psicologia surgiu como
ciência e disciplina isolada? Vamos ver?

Podemos dizer que a Psicologia como disciplina surgiu de fato


em 1874, na Alemanha, no laboratório do fisiologista, filósofo e psicólogo
Wilhelm Wundt (1832-1920). O laboratório inaugurado por Wundt está
localizado na Universidade de Leipzig, local onde a Psicologia de fato se
iniciou. Esse é o laboratório mais antigo da área, no qual Wundt orientou
mais de 160 pesquisas de doutorado (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
32 Psicologia da Aprendizagem

Figura 9 - Wilhelm Wundt

Fonte: Wikipedia

Wundt utilizou a pesquisa experimental em laboratório para


investigar processos psicológicos básicos, como consciência, sensações
e percepções. Ele queria entender como nossa mente era capaz de
produzir esses processos psicológicos, por exemplo, como uma sensação
de tato se processa. Há um padrão limiar ou tempo de contato para que
a sensação seja causada? Esse tinha por base a experimentação e a
comprovação física, por isso seus estudos fazem parte de uma área de
pesquisa atual da Psicologia chamada de Psicofísica.

A percepção é uma subárea da Psicologia pela qual perpassam


fundamentos da Psicofísica. O estudo da percepção envolve a detecção
de estímulos do ambiente por meio dos órgãos do sentido. Sabemos que
Psicologia da Aprendizagem 33

temos neurônios receptores de sensações, como dor e tato, porém os


primeiros estudos nessa área queriam identificar a intensidade psicológica
das sensações resultantes de estímulos externos. Então, sabemos que os
neurônios nociceptores detectam o estímulo e, em seguida, eles devem
ser diferenciados, por exemplo, quente ou frio? Parece fácil, não é? Mas
agora lhe convido a fazer uma experiência, caro aluno. Afunde sua mão
direita em uma água bem gelada, porém suportável e, em seguida,
afunde essa mesma mão em água morna. Feito isso, afunde agora sua
mão esquerda em uma água natural e após isso em uma água morna.
Acredito que a sua mão direita sentiu a água mais quente se comparada
à outra, não é? Pois bem, assim entramos na terceira parte do estudo, o
reconhecimento do estímulo: sua modalidade e intensidade.

Porém, esse tipo de estudo fica muito sujeito a erros em razão


da subjetividade de cada participante. Como os experimentos eram
introspectivos, não poderia haver um consenso público, o que resultou
em muitas críticas ao método e, mesmo com toda sua importância e
relevância para o avanço da pesquisa, foi uma escola que caiu em desuso
após a morte de seus fundadores.

Os estudos de Wundt se basearam na comprovação da estrutura


da consciência e seus reflexos no corpo humano. Esse método recebeu
o nome de Estruturalismo, nome dado por um de seus mais ilustres
alunos, Edward Bradford Titchener (1867-1927), que, após a conclusão de
seu doutorado foi convidado a trabalhar como professor na Universidade
Cornell nos Estados Unidos, expandindo a Psicologia Experimental para a
América. Vale lembrar que, após o distanciamento físico entre professor e
aluno, algumas de suas ideias também se diferenciaram.
34 Psicologia da Aprendizagem

Figura 10 – Teste introspectivo no laboratório de Wundt

Fonte: Psicoeduca (2022).

DEFINIÇÃO:

Estruturalismo é a mais antiga escola psicológica, que


visava descobrir os processos conscientes e como eles se
conectam com as condições fisiológicas do corpo.

Esta primeira corrente psicológica morreu junto com seus


fundadores, ainda que muito importante para todo o surgimento da
Psicologia experimental. Não resistiu às críticas dos alunos pesquisadores
que sucederam a academia após a morte de seus precursores, porque
as variáveis ali estudadas não poderiam ser observadas, cabendo apenas
ao participante responder a respeito do que sentiu, ou seja, totalmente
introspectivo. Um tipo de experimento realizado naquela época na área
da percepção consistia em saber quanto tempo uma pessoa levaria para
detectar o som de um sino tocando. O participante anotava em um papel
o momento em que ouvisse o sinal e o tempo era medido posteriormente

NOTA:

Sempre que o termo “sensação” for mencionado, estamos


nos referindo aos órgãos dos sentidos e aos seus respectivos
neurônios nociceptores (tato, audição, paladar, olfato e visão).
Psicologia da Aprendizagem 35

O Funcionalismo
Por volta de 1870, um brilhante professor da universidade de Harvard
chamado William James (1842-1910) se interessava e estudava bastante os
escritos de Wundt e, com base neles, em suas obras descrevia a função
de cérebro, hábito, memória, sensação, percepção e emoção (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009).
Figura 11- William James (1842-1910)

Fonte: Wikipedia

Para James, a Psicologia tinha como intenção desvendar a noção


biológica do cérebro sobre a consciência, o que deveria ser analisado em
seu ambiente natural, de uma forma mais sistemática e não fragmentada,
como no Estruturalismo. A proposta, que também era embasada na Biologia
Darwinista, pretendia responder como o ser humano se adaptava ao seu
meio ambiente. Esse método de estudo foi denominado Funcionalismo,
pois pretendia entender o todo do organismo e sua adaptação ao meio
36 Psicologia da Aprendizagem

DEFINIÇÃO:

Funcionalismo – Criado por William James, estudava não


somente os processos e experiências mentais, mas o
propósito deles no comportamento.

SAIBA MAIS:

As ideias de William James foram tão bem aceitas que este


novo jeito de se fazer Psicologia se expandiu rapidamente,
porque ela não se interessava apenas na introspecção e na
função fragmentada de cada região cerebral ou do corpo,
das sensações e dos sentimentos, mas no entendimento
global do organismo e da aplicação da Psicologia para
outros campos, como educação e ambientes de trabalho.

O Funcionalismo não utilizava a Psicologia Experimental e passava


a observar o funcionamento psicológico sistemático de populações de
pessoas saudáveis ou emocionalmente desequilibradas, e até animais.
Também eram utilizadas crianças e seus ambientes escolares, por isso
essa escola psicológica teve um grande impacto na educação normal
e infantil. Um dos alunos de James, chamado John Dewey (1859-1952),
grande referência no campo da educação moderna, afirmava que as
crianças devem aprender no nível para o qual estão preparadas (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009).

É imprescindível citar ainda dois ilustres discípulos de William James,


que são Stanley Hall (1844-1924), conhecido por ser o primeiro psicólogo a
receber o título de Ph.D. nos Estados Unidos, com seus estudos a respeito
da Psicologia do Desenvolvimento e da Adolescência. Além disso, esse
autor fundou a Associação Americana de Psicologia (APA) e o primeiro
jornal americano de Psicologia, que existem até hoje, sendo a APA a maior
instituição de Psicologia no mundo
Psicologia da Aprendizagem 37

Figura 12- Stanley Hall (1844-1924)

Fonte: Wikipedia

Outra ilustre aluna de James foi Mary Whiton Calkins (1863-1930),


que, apesar de ter completado todas as exigências para o recebimento de
seu título de Ph.D. em Psicologia, teve seu título negado pela Universidade
de Harvard em 1890, por ser mulher e essa instituição não era mista. Calkins
passou a lecionar Psicologia para uma universidade feminina, onde criou
seu laboratório de Psicologia. Além disso, foi a primeira presidente da APA
Figura 13 – Estudiosos da psicologia

Fonte: Psicologiaiesgo (2022).


38 Psicologia da Aprendizagem

NOTA:

A primeira mulher do mundo a receber o título de Ph.D. em


Psicologia foi Margaret Floy Washburn (1871-1939), aluna de
Titchener também nos Estados Unidos, com seus estudos
sobre comportamento animal e teoria motora. Além disso,
foi a segunda mulher a presidir a APA.
Figura 14 - Margaret Floy Washburn (1871- 1939)

Fonte: Wikipedia

Apesar de todo o sucesso, a escola funcionalista não ficou livre


de críticas. Psicólogos experimentais como Wundt acreditavam que a
pesquisa fora dos padrões de controle do laboratório seria inconstante e
fora de consenso público, significando um retorno à ciência pura, aquela
fundamentada em ideias (como Platão) e não em evidências científicas
comprovadas, como a Filosofia moderna nos ensina, por isso não a
reconheciam como Psicologia.
Psicologia da Aprendizagem 39

REFLITA:

É importante refletirmos que essa época já é no século


XX. As mulheres lutam para ter direito ao acesso e Freud,
Skinner, Watson e outros teóricos já existiam. A Psicologia
já está formada

O Associacionismo
O Associacionismo teve início no Reino Unido com David Hartley
(1705-1757). Não é uma escola criada como crítica às anteriores,
mas sim uma corrente de pensamento fundamentada em ideias
filosóficas positivistas e empiristas, que, assim como o Estruturalismo e
Funcionalismo, buscava entender os processos mentais. Com base em
teorias Newtonianas e empiristas, essa teoria propunha que a mente
seria produto de ações vibratórias do sistema nervoso que produziriam
sensações, e essas sensações produziriam as ideias. Posteriormente, a
ideia de sensação-ideia foi substituída pela expressão estímulo-reação,
ou seja, estímulo-resposta. Importantes filósofos e psicólogos firmaram
suas teorias com base nessas ideias, que estão presentes e são utilizadas
na Psicologia atual (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

DEFINIÇÃO:

Positivismo - escola filosófica criada pelo francês Augusto


Comte (1798-1857). Para os filósofos positivistas, a ciência
deve ser construída por meio de um protocolo sistemático
de observações empíricas e de fenômenos concretos
passíveis de serem observados e confirmados por
consenso público.

AAs ideias apresentadas nessa corrente de pensamento foram


bastante revolucionárias, pois se aprofundaram na compreensão do
funcionamento cognitivo. Um filósofo que inspirou o Associacionismo foi
o inglês John Locke (1632-1704), que defendia a tese Aristotélica que o
homem nasce sem qualquer conhecimento prévio, ou seja, como uma
40 Psicologia da Aprendizagem

tábula-rasa. Para Locke, o conhecimento é fruto da sensação (experiência


sensorial) e reflexão (cognitiva mental). A sensação e a reflexão formam
as ideias simples, que são elementares e não podem ser reduzidas ou
analisadas. A junção das ideias simples formam as ideias complexas e
estas, sim, podem ser estudadas. A conexão entre essas ideias simples
para formar as complexas recebeu o nome de associação, e esse
processo serve como base para explicar o que atualmente os psicólogos,
pedagogos e psicopedagogos chamam de aprendizagem (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009).

EXPLICANDO MELHOR:

Como já explicamos anteriormente, a sensação deve-se aos


órgãos dos sentidos, enquanto a percepção é a assimilação
da sensação com a subjetividade de cada indivíduo. A
junção dessas duas operações forma a reflexão, ou seja,
quando temos uma experiência sensorial, atribuímos
a ela uma ideia a respeito do que foi vivenciado. Isso é a
associação, e essa percepção a respeito do que está sendo
vivenciado, ou seja, o entendimento interno das operações
da razão, é chamada de reflexão.

O “espírito” intelectual dessa época vinha da influência de filósofos


materialistas como Descartes. A ideia mentalista a respeito da reflexão
afirmava que todo o conhecimento é função de um fenômeno mental
e dependente da pessoa que a vivencia. Assim, o Associacionismo
defendia que o homem não nasce com ideias inatas. O conhecimento é
fruto dos processos fisiológicos subjacentes que, por sua vez, formarão
os processos psicológicos. A doutrina do mecanicismo foi utilizada para
explicar a mente humana, sendo essa passiva e automática, respondente
a estímulos externos.

Alguns teóricos importantes dessa época


Um estudo dessa época e que contribui diretamente para a prática
do pedagogo foram os achados de Hermann Ebbinghaus (1850-1909),
Psicologia da Aprendizagem 41

aluno de Wundt, que em 1885 publicou o resultado de uma pesquisa a


respeito da associação, aprendizagem e memória. Veja o exemplo

EXEMPLO:
Leia o seguinte conjunto de letras:
Ce zl e m sl mrvoso !
Tente lembrar-se de todas daqui a 30 minutos.
Agora tente novamente.
Céu azul e um sol maravilhoso!

Viu só? Isto seria uma breve demonstração de como a associação


de ideias é importante para melhor consolidar a memória. Provavelmente,
você imaginou um céu, um sol, e vieram várias imagens e percepções em
sua mente.

Outro Teórico que contribuiu (acidentalmente) maciçamente para a


Psicologia Experimental foi Ivan Pavlov (1849-1936), um fisiologista russo
que estava realizando um estudo gastrointestinal com um cachorro, que
sempre que ia ser alimentado, um sino era tocado. Pavlov percebeu que
o cão salivava quando o sino tocava, antes de ver a comida.
Figura 15 - Ivan Pavlov (1849- 1936)

Fonte: Wikipedia
42 Psicologia da Aprendizagem

Então, Pavlov fez a seguinte observação: a associação de um


estímulo não condicionado (comida) com a apresentação de um
estímulo neutro (som de uma campainha) pode provocar uma resposta
condicionada (salivação), ou seja, aprendida. Veja o esquema a seguir

FIGURA 16 – Esquema do condicionamento de estímulos Pavloviano

Fonte: 2BP Blosgspot (2022).


Psicologia da Aprendizagem 43

Figura 17 – Animal experimental utilizado por Pavlov

Fonte: Wikipedia

VOCÊ SABIA?

Um dos animais utilizados por Pavlov encontra-se


embalsamado, e a residência utilizada para experimentos
foi transformada em um museu, na Rússia.

A descoberta de Pavlov foi chamada de reflexo condicionado,


ou seja, quando nosso corpo reage fisiologicamente a um estímulo
condicionado. Essa teoria serviu como base para as pesquisas de Watson
e Skinner, dois importantes psicólogos comportamentais, cujas teorias
são muito utilizadas na pesquisa psicológica e na clínica atual.

Influenciado por Pavlov, John Broadus Watson (1878-1958) foi um


famoso professor de Psicologia americano, considerado o fundador da
Psicologia Comportamental. Aqui nos ateremos apenas à importância
dos achados de Watson, uma escola psicológica que não acreditava na
existência da mente e dizia que apenas o comportamento era passível de
estudo, pois era observável.
44 Psicologia da Aprendizagem

Para Watson, o comportamento humano poderia ser modelado de


acordo com o ambiente. Ele criou um famoso esquema que representava
essa crença: S – R, do inglês stimulus-response, que se tornou a base para a
definição de aprendizagem para sua teoria. Os experimentos de Watson são
famosos e muito comentados ainda hoje, pois contribuíram imensamente
para o conceito da relação entre modelagem comportamental e meio.
Esses experimentos, porém, foram considerados ofensivos para quem
estava participando da pesquisa (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

REFLITA:

Porque o cachorro de Pavlov salivava ao tocar o sino?


Imagino que você responderá algo do tipo “é porque este
animal sabia que a comida viria sempre que o sino tocava”..

Agora pense na prática da pedagogia quanto ao comportamento


dos alunos em relação ao meio (ambiente escolar, professor, amigos,
escola em geral). Como o meio pode refletir no comportamento dos
alunos? Caso você não consiga responder a essa questão, guarde-a
como uma motivação para estudar todo o capítulo.

Ao estudar a história de alguma disciplina, temos a impressão que


um autor pegou o bastão de seu antecessor e seguiu adiante. Porém, o
que estamos vendo na história da Psicologia é uma relação de construção
dinâmica, e de poucos anos atrás. Aqui estamos no século XX, as mulheres
lutam para ter espaço na sociedade, associacionistas e estruturalistas
trabalham cada qual em seu laboratório. Freud e Skinner escrevem suas
teorias durante a mesma época, ou seja, divergências resultaram em muito
crescimento e avanço nas pesquisas, e muita mudança na sociedade em
pouco tempo.

A figura mostra um relato histórico de 1909, ano de aniversário


da Clarck University em Massachusets, onde Freud apresentou cinco
conferências sobre Psicanálise. Na plateia estavam Stanley Hall, William
James, entre outros. Nota-se também ainda a ausência de mulheres nos
registros acadêmicos apesar da participação delas nas aulas, na academia
Psicologia da Aprendizagem 45

e no desenvolvimento das pesquisas. Na fileira da frente estão Freud, à


esquerda, Stanley Hall, no centro, e Carl Jung a direita
Figura 18 – Teóricos da Psicologia reunidos

Fonte: Hockenburry e Hockenburry (2003).

RESUMINDO:

EE então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir algo do que vimos. Você compreendeu
os conceitos do Estruturalismo, Funcionalismo e
Associacionismo, à luz da Psicologia científica.
46 Psicologia da Aprendizagem

Objeto de estudo da Psicologia

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de identificar os


objetos de estudo da Psicologia e suas aplicações. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá.
Avante

Sem dúvida, os objetos de estudo da Psicologia são o comportamento


humano e os processos mentais e cognitivos. Esta ciência surgiu como
uma ramificação das ciências filosóficas que buscavam compreender o
universo e a existência humana.

Ao focar no homem, a ciência passou a investigar cada vez mais


suas estruturas anatômica, fisiológica e neurofuncional. Antes do período
Iluminista, acreditava-se que o homem emitia comportamentos emanados
por forças sobrenaturais.

Com o aprimoramento do estudo neurológico, o cenário mudou,


doenças neurológicas foram descobertas, a relação entre sensação
e cérebro também se aprimorou e o estudo mais compreensível do
comportamento pode ser aplicado a esferas organizacionais, escolares,
industriais, entre outras inúmeras vertentes.

Vamos agora conhecer um pouco do objeto de estudo da


Psicologia e suas aplicações, principalmente no que se aproxima à prática
do pedagogo e do ambiente educacional.

Psicologia clínica
Sem dúvida, a área mais conhecida dentro da Psicologia é a
área clínica, que se dedica à saúde mental, ou seja, a compreensão
dos transtornos mentais e sofrimentos psíquicos do ser humano. Vale
lembrar que os primeiros atendimentos individuais dentro da Psicologia
entram destinados à compreensão de problemas de aprendizagem e
memória, realizados por Wundt e seus alunos, e daí partindo para análises
comportamentais. Porém, a grande explosão da Psicologia e sua fama na
Psicologia da Aprendizagem 47

área clínica para tratar doenças psicológicas deve-se a Freud, que fundou
a teoria psicanalítica, levando essa teoria a quase todo o mundo.
Figura 19 – Tipo de atendimento clínico

Fonte: Pixabay

SAIBA MAIS:

Além da teoria psicanalítica, existem várias outras


abordagens terapêuticas reconhecidas pela ciência.
Alguns teóricos são considerados neofreudianos, porque
estudaram e se basearam na Psicanálise Freudiana para
desenvolver seu método de intervenção, como Carl Jung e
a teoria dos arquétipos e inconsciente coletivo; Erik Erikson,
Karen Horney e Alfred Adler, entre outros

Há ainda a metodologia comportamental que hoje é muito utilizada


em clínica. Essa modalidade de terapia é bastante famosa por estudar
a intervenção de comportamentos traumáticos e estereotipados, como
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno do Espectro Autista
(TEA), fobias e questões de sofrimento psíquico em geral.

Em resposta às duas teorias anteriores, Carl Rogers (1902-1987)


deu início à Psicologia Humanista, uma forma mais positiva e sistêmica
de compreender as questões humanas. Existem também as teorias
que visam ao atendimento grupal e não somente individual, como a
48 Psicologia da Aprendizagem

Gestalt-terapia, por exemplo. Existem outras abordagens também muito


importantes na pesquisa em Psicologia Clínica, que buscam investigar os
transtornos mentais em relação ao ambiente, a evolução deles transtornos,
as novas modalidades de intervenção, entre outros (HOCKENBURRY;
HOCKENBURRY, 2003).

Psicologia social
A Psicologia Social aborda as relações entre os membros de um
grupo social, que não precisa ser coeso, por exemplo, uma fila de pessoas
em um banco se caracteriza como um grupo.

As pessoas tendem a se comportar de forma diferente quando


estão acompanhadas, sendo influenciadas pelos comportamentos de
outros. Desse modo, a Psicologia Social é o estudo de como os indivíduos
pensam, sentem e se comportam em situações sociais.

Engana-se quem acredita que as Psicologias são totalmente


limitadas a uma área de conhecimento. Freud, em sua teoria psicanalítica,
já abordava a importância do meio social para o comportamento humano
e descrevia a família como o primeiro grupo social, que seria transformado
pela vivência da criança em um segundo grupo, a comunidade. Vygotsky
também escreveu sobre a importância do grupo no surgimento da
linguagem, que seria influenciada pela cultura (FADIMAN; FRAGER, 2002).

Porém, essa modalidade surgiu nos períodos de guerra mundial,


quando se tornou imprescindível compreender as razões para alguns
comportamentos de grupos. Kurt Lewin (1890-1947) foi um teórico que
trabalhou sobre essa seara durante a Segunda Guerra, pesquisando o
comportamento e a percepção de pessoas quando estão em grupo, e
desenvolveu a chamada “pesquisa-ação”, um tipo de pesquisa descritiva
e participante.

No Brasil, a Psicologia Social é marcada por diferentes tendências,


como a abordagem mais empirista e experimental-cognitiva, e uma
Psicologia mais ligada à sociologia, que estuda conceitos de comunidade,
exclusão, inclusão social, estigmas entre outros.
Psicologia da Aprendizagem 49

São conceitos importantes para essa área a cognição social e


a influência social. A Cognição Social é o processo de formação de
impressões a respeito de outras pessoas, como interpretamos o significado
do comportamento delas e como o nosso comportamento é afetado por
nossas atitudes, ou seja, é um estudo sobre como o ser humano recebe,
processa e armazena a informação advinda do mundo. O estudo das
emoções e da cognição faz parte do estudo da Cognição Social e, como
diz Hamilton et al. (1994) apud Garrido, Azevedo e Palma (2011).
O poder explicativo dos modelos cognitivos adoptados
em cognição social prende-se, principalmente, com a sua
capacidade em descrever de forma precisa os mecanismos
gerais da aprendizagem e do pensamento, subjacentes a
uma variedade de áreas. Os primeiros desenvolvimentos da
cognição social ficaram assim marcados pela investigação
dos fundamentos cognitivos dos fenómenos sociais
através do modelo do processamento da informação,
assumindo que o indivíduo no contexto social é alguém
que se encontra virtualmente embrenhado nalguma
forma de processamento de informação. Isto aplica-se
quer a pessoa esteja a formar uma impressão, a dirigir
uma reunião, a pensar na sua escola primária, a lidar com
uma doença ou a decidir que marca de desodorizante
comprar. Em qualquer uma destas circunstâncias a pessoa
dá atenção e codifica informação do contexto social,
interpreta e elabora essa informação através de processos
avaliativos, inferenciais e atribucionais e representa esse
conhecimento em memória para que mais tarde possa
ser recuperado e, subsequentemente utilizado, em
processos de pensamento e julgamento, e para guiar o
comportamento. (HAMILTON et al., 1994 apud GARRIDO;
AZEVEDO; PALMA, 2011, n.p.)

A Influência Social estuda como nosso comportamento é afetado


por situações e por outras pessoas. Essas influências seriam, por exemplo,
a importância atribuída a uma figura de autoridade ou o fato de ajudarmos
ou não um estranho. Ainda neste campo, há o estudo sobre o fenômeno
da Dissonância Cognitiva, que ocorre quando o indivíduo se esforça para
manter a coerência (consonância) com suas crenças. Veja o exemplo a
seguir:
50 Psicologia da Aprendizagem

EXEMPLO:

•• Indivíduo fumante.

•• Relação de Consonância Cognitiva - sabe que é prejudicial,


reconhece e decide parar de fumar.

•• Relação de Dissonância Cognitiva - indivíduo fuma e sabe que é


prejudicial, tem um discurso voltado para o não fumar, mas por
fim, decide continuar fumando. Neste caso, seu comportamento
não reforça suas crenças e ele pode tentar justificar esse
comportamento criando novas crenças para manter uma
consonância, por exemplo, “Sim, eu fumo, mas eu me exercito
bastante, portanto quem não se exercita e se alimenta mal, está
pior que eu!”.

SAIBA MAIS:

Assista o vídeo disponível aqui. Ele tem uma explicação e


aplicação bem didática e atual para a dissonância cognitiva.

Estudos sobre o comportamento social são bastante investigados na


Psicologia social, um deles, muito famoso, é o estudo da obediência, que
foi desenvolvido por Stanley Milgran (1933-1984) nos Estados Unidos. Uma
de suas investigações propunha entender o comportamento excessivo
de guardas que serviram ao exército nazista, cometendo atrocidade, na
maioria das vezes, fora de um combate, estando a vítima indefesa e sem
apresentar qualquer indício de ataque. Após o final da guerra, quando
estes guardas eram questionados a respeito de suas atrocidades, apenas
respondiam que estavam cumprindo ordens.
Psicologia da Aprendizagem 51

SAIBA MAIS:

O experimento de Milgram é considerado importantíssimo


para a pesquisa do comportamento de grupos, porém não
pode ser repetido por ser considerado exagerado para os
padrões éticos da pesquisa, por causar perturbação aos
seus participantes. Essa história se tornou filme com título
“Experimenter – die Stanley Milgram Story” dirigido por
Michael Almereyda em 2015.

Psicologia organizacional
A Psicologia Organizacional e do trabalho se iniciou ainda no século
XIX com a Revolução Industrial, pois com o avanço da tecnologia, as
máquinas revolucionaram o esquema de trabalho, horários e rotatividade
de funcionários, por isso também é chamada de psicologia industrial. Ela
tem o intuito de aumentar a lucratividade e a produtividade, utilizando
conhecimentos da Psicometria (BASTOS; GALVAO-MARTINS, 2019).

A Psicologia Organizacional estuda o clima organizacional e qualidade


de vida no trabalho, a saúde e bem-estar do funcionário, ergonomia, poder
e conflito, utilizando dinâmicas de grupo, desenvolvimento de equipes e
estudos sobre liderança. A pesquisa nessa área é importante para manter
uma relação saudável entre empresa, funcionários e trabalho, além de
tentar compreender novas possibilidades de atuação, garantir a inclusão
social e interesses individuais de cada empresa.
52 Psicologia da Aprendizagem

IMPORTANTE:

Um importante teórico dessa área é Abraham Maslow (1905-


1970), considerado o fundador da Psicologia Humanista,
que se baseou em conceitos do Behaviorismo, Psicanálise
e Gestalt. Seus estudos são significativos para lidar com
organizações, porque defende a ideia de que a satisfação
profissional e o crescimento do funcionário e da empresa
são apenas as consequências de um bom delineamento
de autossatisfação, que será trabalhado individualmente e
no grupo organizacional. Maslow representou isto em uma
pirâmide, a chamada pirâmide de Maslow.

FIGURA 20 – Pirâmide de Maslow

Fonte: Wikipedia
Psicologia da Aprendizagem 53

NOTA:

De acordo com a pirâmide de necessidades, o indivíduo


busca primeiro o que é essencial para sua sobrevivência
e, à medida que conquista um nível, o outro passa a
ser seu objetivo. O topo da pirâmide torna o indivíduo
realizado, ou melhor dizendo, conforme a definição desse
autor, o indivíduo conquista a auto atualização, que seria
a oportunidade e capacidade de explorar os talentos,
potencialidades etc

A observação de Maslow a respeito da hierarquia das necessidades


nos mostra que o homem muda sua concepção a respeito do que
realmente lhe importa. Quando o indivíduo enxerga o que é importante
para o desenvolvimento de seu Self (termo utilizado tanto por Maslow
quanto pelos psicólogos da abordagem humanista para se referir ao nosso
Eu, nossa psique), ele se sente motivado intimamente, “com necessidades
de autorrealização” (FADIMAM; FRAGER, 2002). Maslow chamou isso de
Metamotivação e, para ele, as pessoas metamotivadas têm tendência à
auto atualização, pois sua base da pirâmide está contemplada
É inteiramente verdadeiro que o homem vive apenas de
pão – quando não há pão. Mas o que acontece com os
desejos do homem quando há muito pão e sua barriga
está cronicamente cheia? Imediatamente emergem
outras (e superiores) necessidades e são essas, em vez
de apetites fisiológicos, que dominam seu organismo. E
quando elas, por sua vez, são satisfeitas, novamente novas
(e ainda superiores) necessidades emergem e assim por
diante. (MASLOW, 1970, p. 38)

Um sujeito auto atualizado não é aquele livre de problemas, mas sim


aquele que utiliza toda sua capacidade, seus talentos e suas forças, para
perceber com mais eficiência a realidade e realizar fatos mais satisfatórios
para si. No campo afetivo, esse indivíduo aceita melhor a si e aos outros,
cultiva a espontaneidade, simplicidade e naturalidade, concentra-se no
problema, e não no Ego, entre outros aspectos
Autoatualização representa um compromisso a longo
prazo com o crescimento e o desenvolvimento máximo
54 Psicologia da Aprendizagem

das capacidades, e não um acomodamento no mínimo por


causa de preguiça ou falta de autoconfiança. O trabalho de
autoatualização envolve a escolha de problemas criativos e
valiosos. Maslow escreve que indivíduos autoatualizadores
são atraídos por problemas mais desafiantes e intrigantes,
por questões que exigem os maiores e mais criativos
esforços. Estão dispostos a enfrentar a incerteza e a
ambiguidade e preferem o desafio a soluções fáceis.
(FADIMAN; FRAGER, 2002, p. 267)

Maslow incluiu algumas pessoas em seu estudo que foram


considerados por ele como autoatualizados, entre eles Tomas Jefferson,
Albert Einstein, Aldous Huxley e Abraham Lincoln.

Psicologia do desenvolvimento humano


A Psicologia do desenvolvimento é uma grande área de estudo,
pois acompanha as mudanças psicológicas ao longo da vida e abrange
como as pessoas mudam fisicamente, mental, e socialmente ao longo
da vida em todas as idades e estágios (primeira infância, velhice etc.).
Os psicólogos do desenvolvimento investigam a influência de fatores
múltiplos no desenvolvimento, incluindo os biológicos, ambientais, sociais
e culturais.

A Psicologia do desenvolvimento estuda a relação entre o genótipo


(informações hereditárias de um organismo contidas em seu código
genético) e o fenótipo (genética do organismo somada à influência de
fatores ambientais e da possível interação entre os dois). Assim, doenças
genéticas e características físicas e psicológicas são objetos de pesquisa.
O desenvolvimento da criança desde a formação da linguagem até a
velhice, estando ou não em condições genéticas típicas, é de interesse
dessa área (HOCKENBURRY; HOCKENBURRY, 2001).

Jean William Fritz Piaget (1896-1980) é um dos teóricos importantes


dessa área de pesquisa que se interessou pela formação da inteligência, a
construção do conhecimento infantil e seu desenvolvimento cognitivo. Ele
dividiu a aprendizagem infantil em estágios de desenvolvimento naturais
e intrínsecos, que se desenvolvem como etapas para a construção do
conhecimento. Lev Semyonovich Vygotsky (1896-1934) também estudou o
Psicologia da Aprendizagem 55

desenvolvimento intelectual das crianças e priorizou as interações sociais


e condições de vida do indivíduo para o desenvolvimento cognitivo.

IMPORTANTE:

A Psicologia do Desenvolvimento ainda conta com


diversos autores dedicados unicamente a investigar o
comportamento do adolescente, do adulto e do idoso,
visto que uma série de mudanças físicas, hormonais e
psicológicas ocorrem no corpo humano ao longo da vida,
bem como a mudança no comportamento dinâmico social.
É notável que em cada idade há um desenvolvimento
moral diferente e uma devolutiva social diferente em cada
fase (HOCKENBURRY; HOCKENBURRY, 2001).

Psicologia escolar e educacional


A Psicologia Escolar e Educacional investiga os processos de
ensino-aprendizagem. Alguns teóricos a chamam de Psicologia escolar,
porque o psicólogo atua dentro da escola, sempre focado no aprendizado
do aluno, mas ela também é chamada de Psicologia Educacional, pois,
para outros teóricos, o aprender não acontece apenas no ambiente
escolar e engloba também a participação de outros ambientes educativos
e participações- chave, como a família, por exemplo.

A atuação é tanto na aplicação profissional quanto na pesquisa,


sempre dentro das perspectivas emocional, cognitiva e social. A
Psicologia atua em parceria com outras áreas do conhecimento humano,
como Antropologia, Pedagogia, Filosofia e Fonoaudiologia, para entender
as causas do fracasso escolar, da desmotivação e, principalmente,
de transtornos e dificuldades de aprendizagem. A partir de uma visão
sistêmica, age em duas frentes: a preventiva e a que requer ajustes ou
mudanças.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças


Mentais - DSM 5 (APA, 2014), os Transtornos de Aprendizagem são
inabilidades específicas, nas áreas da leitura, escrita ou matemática,
provocadas por disfunções ou sequelas cerebrais que comprometem a
56 Psicologia da Aprendizagem

região responsável pelo aprendizado, ou seja, as causas são pontuais,


necessitando de um diagnóstico, para que se pense na intervenção
profissional. Assim, será desenhado um método diferente de ensino e
acompanhamento, e, quando necessário, haverá o acompanhamento
médico regular para intervenção medicamentosa. Os transtornos de
aprendizagem são frequentemente confundidos com dificuldades de
aprendizagem, porque a má produção escolar do aluno é muito parecida,
resultando em diagnósticos incorretos.

As causas das dificuldades de aprendizagem são extrínsecas,


subjetivas e técnicas, como falta de oportunidade de aprender,
principalmente nos primeiros estágios de desenvolvimento, mudanças
de escola que podem resultar na descontinuidade do aprendizado,
comprometimento na inteligência global (pois nesse caso não se
espera um desempenho acadêmico assim como em outros casos),
comprometimentos visuais ou auditivos não corrigidos, além de
questões emocionais que comprometem a saúde mental da criança,
como problemas em casa, bullying, má relação com o professor, má
alimentação, sono ruim etc.

O psicólogo também realiza ações de prevenção, avaliação,


diagnóstico, acompanhamento e orientação psicológica aplicada dentro
de um contexto institucional, e não ao aluno individualmente. Porém, para
casos que necessitam, realizam-se encaminhamentos clínicos.

ACESSE:

Você sabe a diferença entre dificuldade e transtorno de


aprendizagem, ou quer aprofundar um pouco mais o seu
conhecimento? Então, acesse o material disponível aqui.
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Psicobiologia
É uma área do conhecimento que busca compreender o
comportamento por meio de suas bases biológicas, ou seja, utilizam-
se estudos fisiológicos e genéticos, para compreender a interação
entre sistema nervoso e comportamento. Também conhecida como
Neurociência Comportamental, é uma área dentro do campo das
Neurociências, na qual estão inseridos diversos tipos de profissionais,
como o Neuropsicólogo e Neuropsicopedagogo, além das áreas que
relacionam seus problemas de pesquisa com as hipóteses neuronais,
como o Neuromarketing, por exemplo, que é uma área nova dentro deste
campo (GRIGGS, 2009).

As Neurociências estão crescendo bastante. Com o avanço da


tecnologia, foram criados equipamentos que permitem mapear o cérebro
e verificar suas áreas ativas ou comprometidas, facilitando o diagnóstico
e prognóstico do paciente. O resultado de um exame de imagem ajuda
muito os profissionais a confirmarem uma área lesionada no cérebro. O
Neuropsicólogo, por exemplo, poderá trabalhar na reabilitação dessa área
dentro dos limites da plasticidade cerebral. Já o Neuropsicopedagogo
poderá realizar um trabalho de reabilitação cognitiva ou de aprendizagem
para uma criança mais rapidamente, pois, por meio de um exame de
imagem pontual, o profissional saberá se o dano está na região cerebral
responsável pela memória, linguagem ou outra (GRIGGS, 2009).

DEFINIÇÃO:

Plasticidade cerebral é a capacidade de o cérebro mudar


ao longo da vida. O SNC (Sistema Nervoso Central) modifica
sua organização estrutural e funcional em resposta às
experiências (estímulos ambientais). Desse modo, a
estimulação profissional possibilita a reativação de algumas
áreas inativas. Isso acontece porque o estímulo externo
faz com que surjam novas conexões entre os chamados
neurônios, que estariam “adormecidos” (GRIGGS, 2009).
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SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar na relação entre Psicologia e Pedagogia?


Recomendamos o acesso ao artigo “Voltando o olhar para
o professor: a Psicologia e pedagogia caminhando juntas”,
disponível aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir o que vimos. Você aprendeu a identificar os
objetos de estudo da Psicologia e suas aplicações.
Psicologia da Aprendizagem 59

REFERÊNCIAS
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e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. São Paulo: Artmed Editora,
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BLOGODORIUM. Alegoria da Caverna de Platão. Disponível em:


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platao/. Acesso em:  04  Mar.  2019. 

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GARRIDO, M.V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T. Cognição social:


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