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Análise do

Discurso
Livro Didático Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ADRIANA FERREIRA SERAFIM DE OLIVEIRA
PATRÍCIA VALÉRIA VIEIRA DA COSTA
AUTORIA
Adriana Ferreira Serafim de Oliveira
Olá. Meu nome é Adriana Ferreira Serafim de Oliveira. Sou Doutora
em Educação pela UNESP - Rio Claro, com foco em inclusão social,
direitos fundamentais e políticas públicas para as mulheres vítimas de
violência de gênero. Estágio doutoral em Psicologia Social com bolsa
PSDE - CAPES na “Universidad Complutense de Madrid - Facultad de
Ciencias Políticas y Sociología” com pesquisas desenvolvidas em Madrid
e cercanias quanto aos serviços públicos de atendimento à mulher vítima
de violência de gênero e quanto à legislação dessa temática a pesquisa
foi desenvolvida com a orientação de professor da “Facultad de Derecho
de la Universidad Complutense de Madrid”. Tem experiência em trabalhar
com a metodologia qualitativa. Mestra em Direitos Fundamentais Difusos
e Coletivos pela UNIMEP de Piracicaba, com foco em Direitos Humanos
e Direito Internacional, com bolsa do programa PROSUP-CAPES. Pós-
graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Bacharel em Direito pela
Instituição Toledo de Ensino de Bauru (ITE). Pós-doutorado em curso pela
FD-UPM. Revisora e parecerista de periódicos qualificados. Professora
universitária. Advogada

Patrícia Valéria Vieira da Costa


Olá. Meu nome é Patrícia Valéria Vieira da Costa. Sou formada
em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, pela Universidade
Estadual da Paraíba, possuo Mestrado em Literatura e Interculturalidade
e atualmente faço Doutorado em Literatura e Interculturalidade, ambos
pela mesma instituição. Tenho experiência docente no ensino básico, por
meio das disciplinas de Literatura e Produção de textos, passando por
turmas do ensino Fundamental II ao ensino Médio. Sou apaixonada pelo
que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão
iniciando em suas profissões.

Por isso fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu


elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do
desenvolvimento houver necessidade
de uma nova de apresentar um
competência; novo conceito;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
O Intradiscurso, o Interdiscurso e a Memória Discursiva ........... 12
O Intradiscurso .................................................................................................................................. 13

Interdiscurso ....................................................................................................................................... 14

Formações Discursivas ............................................................................................................... 15

A Intertextualidade ....................................................................................20
Intertextualidade: Uma Questão Discursiva ................................................................25

Interpretação Versus Compreensão..................................................................................27

Textualidade e Discursividade .............................................................................................. 31

Tipologias e Relações entre Discursos: Discurso Autoritário;


Discurso Polêmico; Discurso Lúdico.................................................... 34
Discurso Autoritário; Discurso Polissêmico e Discurso Lúdico..................... 38
Análise do Discurso 9

04
UNIDADE
10 Análise do Discurso

INTRODUÇÃO
Você sabia que a Análise do Discurso é uma das mais importantes
para o conhecimento da Língua? Já tivemos um conhecimento
desenvolvemos muito sobre esse conteúdo que está, agora, chegando
ao fim. Neste último capítulo daremos ênfase aos métodos de análise
propostos pela a Análise do discurso, conhecendo primeiramente
a memória discursiva, passando pela intertextualidade para, no fim,
mergulhamos nos dispositivos de análise: Interpretação, compreensão,
textualidade, discursividade e, por fim, os tipos de discurso. Esse será um
passeio maravilhoso no objeto foco de nossa disciplina. Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar nesse universo!
Análise do Discurso 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Compreender como funcionam e como se correlacionam


intradiscurso, interdiscurso e a memória discursiva dentro do campo da
Análise do Discurso;

2. Entender como a intertextualidade se faz presente enquanto


categoria de análise da Análise do Discurso;

3. Identificar outros dispositivos de análise da Análise do Discurso


como a Interpretação, compreensão, textualidade e discursividade;

4. Dominar as relações entre tipologias e discursos por meio da


compreensão do discurso autoritário, polémico e lúdico.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Análise do Discurso

O Intradiscurso, o Interdiscurso e a
Memória Discursiva
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


como funciona o intradiscurso, o interdiscurso e as
Formações Discursivas. Isso será fundamental para uma
compreensão cada vez mais clara sobre a Análise do
Discurso, objeto de nossa disciplina. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

Tanto o intradiscurso quanto o interdiscurso foram conceitos


desenvolvidos por Michel Pêcheux sobre o dinamismo do discurso
no constructo de valores e relações sociais, culturais e políticos. O
foco aqui é entender como surgem os sentidos das coisas: Isso, por
meio do entrecruzamento da linguagem com o contexto em que
está historicamente inserida. Nesse entrecruzamento encontramos
tanto interdiscursos quanto os intradiscursos. Segundo o dicionário de
comunicação social (2018, p.1):
Em sua teoria do discurso, Pêcheux pressupõe a existência
de transversalidades e conflitos culturais no interior e
exterior dos discursos, que afetam os sujeitos desses
discursos e o próprio sentido das palavras. Os conflitos
subjetivos que nascem dessas diferenças discursivas
são sempre o resultado de conflitos sociais coletivos
determinados pela hegemonia política ou pelo poder
capitalista enraizado na sociedade.

Assim, nesse capítulo entenderemos um pouco mais como o


intradiscurso e o interdiscurso funcionam enquanto formações discursivas.
Análise do Discurso 13

O Intradiscurso
Em síntese, o intradiscurso é a maneira como a textualidade se
compromete com a hegemonia política e/ou o poder capitalista. Ele se
caracteriza por possuir dois traços particulares:

1. O pré-construído, traço encontrado em qualquer formação


discursiva, funciona como um posicionamento histórico que é,
geralmente, de conhecimento geral;
2. A articulação, A possibilidade de um sujeito fazer-se como tal por
meio daquilo mesmo que seu discurso constrói.

Aqui, o conceito de ideologia se faz importantíssimo! Enquanto


espaço para o pensamento crítico, marca a existência no discurso de
posicionamentos sociais e políticos que contribuem para a construção da
subjetividade.

O intradiscurso é uma formação discursiva, escrita ou oral, que


comporta diversos conceitos subentendidos em sua própria estrutura
semântica, e que confirmam geralmente uma ideologia dominante e/
ou apontam para uma tendência majorante, atitude de pensamento ou
escola. É por ele que podemos buscar uma coerência argumentativa de
qualquer discurso. Ou seja: como o discurso se coloca frente às nuanças,
matizes e formas de dizer.

Os intradiscursos, dentro da Análise do Discurso, são vistos como


fragmentos de discursos maiores, por vezes autoritários, mas convincentes
para os que o usam, pois existe uma determinada lógica que o sustenta
e o fundamenta.
14 Análise do Discurso

EXPLICANDO MELHOR

O intradiscurso é a ideologia (por vezes oculta até mesmo


para o emissor) presente em determinado discurso. Na
prática, podemos identificar intradiscursos em todas as
falas, mas, como exemplo, percebemos em discursos
políticos de esquerda/ direita; discursos religiosos;
discursos filosóficos, etc. Todos esses possuem uma
ideologia (construção histórica), que os perpassa.

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre intradiscurso: Acesse https://bit.


ly/3bmDlZf. Disponível no Youtube.

Interdiscurso
O interdiscurso se destaca no processo de subjetivação do discurso,
isso pois um texto nunca pode ser declarado como o “primeiro” pelo
seu autor, antes, é resultado das relações de uso da linguagem com as
formações discursivas. Por definição, Pêcheux coloca que o interdiscurso
é o “discurso de um sujeito”: é a construção de um discurso em relação a
outro já instituído. Em outras palavras, é um conjunto de ideias organizadas
no discurso, que se apropria, tanto implícita quanto explicitamente, de
outros elaborados anteriormente.

REFLITA

Enquanto o interdiscurso é a apropriação de algo já dito,


de um discurso já produzido; o intradiscurso, que se coloca
enquanto uma ideia, matéria linguística, literária, ideológica,
uma imagem já conhecida que qualquer o sujeito pode
reconhecer.
Análise do Discurso 15

Nesse contexto, a hipertextualidade ganha espaço, já que dá


sentido ao interdiscurso. Ela coloca que todo discurso é elaborado em
cima de outro já produzido. O discurso encontra o anterior em todos os
lugares que o levam ao seu objeto, em uma relação viva e intensa um
como o outro. Bakhtin (1998, p.98), no seu discurso dialógico, coloca: “O
homem não possui um território interior soberano, ele está inteiramente e
sempre em uma fronteira, olhando para o interior de si, olha nos olhos do
outro ou através dos olhos do outro”.

Em suma: O interdiscurso é a presença de um outro discurso,


produzido anteriormente, no discurso produzido atualmente. Em síntese,
todo discurso é estabelecido por outro pré-estabelecido: nunca falamos
algo “novo”, tudo o que falamos, de alguma maneira, já foi dito por outrem,
mesmo que sua forma de dizer tenha sido outra.

Formações Discursivas
Já vimos a presença do termo “formações discursivas” nos dois
pontos anteriores. Isso aconteceu porque ambos, intradiscurso e
interdiscurso, só acontecem dentro das formações discursivas. Vamos
conhecê-las?

O conceito de Formação Discursiva (Aqui usaremos a sigla FD) foi


elaborado por Foucault (2010) e desenvolvido por Michael Pêcheux. No
desenvolvimento das concepções teóricas das FD, Pêcheux centraliza
suas pesquisas, colocando em xeque o elemento ideológico, já que esse
se materializa no discurso. Dessa feita, para o estudioso, a FD está, ao
menos em seu início, relacionada à formação ideológica. Assim, Pêcheux
coloca:
Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, em
uma formação ideológica dada, isto é, a partir de uma
posição dada em uma conjuntura dada, determinada pelo
estado da luta de classes, determina “o que pode e o que
deve ser dito”, articulado sob a forma de uma alocução,
de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um
programa, etc. (PÊCHEUX, 1990, p. 160).
16 Análise do Discurso

Assim, após essa concepção, o autor compreende que as diferenças


entre Formações Discursivas se dão pelos elementos ideológicos que as
constituem. Dessa forma, as formações ideológicas comportam, como um
de seus elementos constitutivos, uma ou várias FD que determinam o que
pode e deve ser dito (Articulando sob a estrutura de um sermão, panfleto,
propaganda, etc.) por meio de uma posição dada, em uma dada conjuntura,
ou seja, em uma certa relação de classes dentro de um aparelho ideológico;
na relação entre classes. Podemos observar, aqui, a presença de uma certa
heterogeneidade discursiva na constituição das FD.

Em uma FD, para Pêcheux, coexistem discursos oriundos de outras


FD, o que condiciona o favorecimento da diferença e contradição como
características dessa. Além disso, o autor compreende, que os discursos
se constituem, sempre, dentro de uma FD associada à memória social.
Em outras palavras, Pêcheux defende a ideia de que todo discurso possui,
no seu “domínio associado”, outras FD que ele refuta, repete, transforma,
enfim, que constroem certos efeitos de memória exclusivos. Trata-se,
assim, de inserir na noção de FD a problemática da memória, que abre
margem para discussões sobre lembrança/esquecimento; reiteração/
silenciamento.

Mussalim (2003) sobre isso acresce que uma FD determina o que


deve/pode ser enunciado por meio de determinado espaço social:
Uma formação discursiva determina o que pode/deve ser
dito a partir de um determinado lugar social. Assim uma
formação discursiva é marcada por regularidades, ou seja,
por “regras de formação”, concebidas como mecanismos
de controle que determinam o interno (o que pertence) e o
externo (o que não pertence) de uma formação discursiva
(MUSSALIM & Bentes, 2003, p.119).

Destarte, Mussalim & Bentes (2003) evidencia que as FD sempre se


relacionam a outras FD em sua formação, ou seja, baseiam-se em outras
FD para construírem seu próprio discurso. Sob essa perspectiva, uma
FD é atravessada, sempre, pelo pré-construído, o que é, para Pêcheux,
discursos que surgem de outro lugar e que são incorporados à FD
em uma relação de aliança ou confronto. Nesse sentido, uma FD seria
constituída por paráfrases, já que nela os discursos são tanto retomados
quanto reformulados.
Análise do Discurso 17

Pêcheux (1990) coloca que uma FD é um lugar de ligação entre


língua e discurso. Dessa maneira, expressões, palavras, proposições, só
possuem sentido se consideradas a partir da FD na qual são elaboradas.

Em relação ao sujeito nas FD, esse é concebido como aquele que


pratica diversos papéis de acordo com as posições que ocupa no espaço
interdiscursivo. Apesar disso, esse não é de todo livre, já que sofre coerções
da FD do qual enuncia, já que essa é regulada pela ideologia. Assim, um
sujeito do discurso ocupa o lugar de onde se enuncia, e é exatamente
esse lugar (social, histórico) que determina seu discurso, “Ou seja, este
sujeito, ocupando o lugar que ocupa no interior de uma formação social, é
dominado por uma determinada formação ideológica que preestabelece
as possibilidades de sentido de seu discurso (MUSSALIM & BENTES,
2003, p.133). Nessa perspectiva, para a Análise do Discurso, o sujeito não
se constitui enquanto centro do seu dizer, mesmo que, pelos já estudados
esquecimentos discursivos, sofra a ilusão de ser.

O sujeito se subjetiva ao passo que se projeta de seu lugar para


o mundo por meio de seu discurso. Dessa maneira, sujeito, sentido,
se elaboram imediatamente à articulação de língua e história. Assim,
essa passa a ser conduzido pelo que Courtine (1981) coloca de contra
identificação com o saber da FD, cujos saberes surgem dos interdiscursos
e intradiscursos.

Para entender essa contra identificação é importante retomar o


que Pêcheux (1969) diz em relação ao funcionamento da ideologia que é,
geralmente, a interpelação dos sujeitos e atribui a cada qual sua realidade.
Ao debater os desdobramentos em relação ao sujeito da enunciação
e sujeito universal, Pêcheux coloca que é possível identificar que esse
mesmo desdobramento assume diferentes modalidades:
1. Identificação plena: Sobre essa, Pêcheux (1990) coloca que há
uma superposição entre os sujeitos da enunciação e universal.
Isso revela uma identificação do sujeito do discurso em relação
a forma-sujeito da FD que o atinge, formando-se aí o discurso do
“bom sujeito”;
2. Contra identificação: Nessa, Pêcheux (1990) entende que a
identificação do discurso dos sujeitos no enunciado se volta contra
o sujeito dito universal a partir de uma tomada de posição. Dessa
forma, o sujeito contra identifica a FD que lhe é imposta;
18 Análise do Discurso

3. Desidentificação: Aqui, Pêcheux (1990) coloca que o sujeito, ao se


desidentificar-se de uma FD, desconjunta sua identificação a outra
FD, formando-se assim, enquanto um “mau-sujeito”. É importante
destacar que esse termo é constituído em uma fase bastante
radical dos posicionamentos de Pêcheux.

Após esses desdobramentos, a concepção de Pêcheux sobre


o sujeito vai evoluindo por meio da concepção da tomada de posição,
que origina um desdobramento do sujeito. Aqui, aos poucos a
heterogeneidade do sujeito vai surgindo, culminando na fragmentação do
sujeito em “posições-sujeito”, nomenclatura elaborada por Courtine (1981)
para definir o sujeito polissêmico, heterogêneo, disperso e fragmentado.
Assim, segundo Silva, Efken & Azevedo (2015, p.39):

Assim, as diferentes posições-sujeito são resultado das


contradições, descontinuidades, lacunas presentes em
uma formação discursiva heterogênea, que é materializada
na língua. Trata-se de um movimento inconsciente e que
sofre determinações sócio históricas e ideológicas. É
dentro dessa perspectiva da fragmentação da forma-
sujeito que esse sujeito cindido se desloca para além dos
limites da sua FD na busca de completude e afirmação da
sua identidade.

Dessa maneira, Courtine (1981) não só dá novos contornos à


FD, como essa passa a ser entendida como matriz de sentidos que
condicionam o que o sujeito deve e pode dizer, além do que não pode
nem deve ser dito, o que mostra as instáveis fronteiras das FD, o que
permite suas reconfigurações e deslocamentos. Assim, fica evidente o
processo que formula a heterogeneidade do discurso. Segundo Mussalim
& Bentes (2003), o sujeito recebe sentido em si próprio, entretanto, falar
em identificação do sujeito em uma FD condiciona falar que, ao mesmo
tempo em que ocorre a interpelação em sujeito, outras FD são apagadas
para ele, no contexto das formações ideológicas.

Dessa maneira, o surgimento de um sujeito em dada FD promove


o desaparecimento de outras FD, provocando para esse o efeito de
unicidade. Apreendemos aqui que nada é definitivo, ou seja, o processo
de identificação é inacabado e acompanhado ininterruptamente por
outros processos de identificação.
Análise do Discurso 19

Outrossim, mais do que o desdobramento de “Forma-sujeito” em


“posições-sujeito”, temos essa segunda como uma posição desigual
entre as posições que a formam. Para Courtine (1981) aqui reside uma
contradição: a existência diversa e contraditória instaurada pela entrada
de conhecimentos diferentes e, provavelmente divergentes, no interior
de uma FD. Em outras palavras, os saberes não se originam todos em
uma mesma FD, antes, são provenientes do exterior, em dado momento
histórico. Em síntese, uma FD é perpassada por diversas ideologias
externas a sua formação, e elaborada a partir de discursos pré-formulados
também provenientes de contextos sócio históricos nos quais habita o
sujeito. Assim, as FD são formadas tanto por interdiscursos quanto por
interdiscursos, como podemos observar:

Fonte: A autora

RESUMINDO

Nesse capítulo vimos que enquanto o Intradiscurso é a


ideologia presente em determinado discurso, agindo na
constituição das ideias de discursos políticos, religiosos
e etc.; O intradiscurso é a presença discursiva de um
discurso (pré-construído) em outro. Nessa conjuntura, as
Formações Discursivas são elaborações discursivas que
são formuladas pelo o que é externo ao sujeito: a Ideologia
(sócio histórica, cultural, política), somada a elaborações de
discursos já ditos, reformulados em um novo discurso.
20 Análise do Discurso

A Intertextualidade

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


como funciona a intertextualidade por meio da definição
de alguns dos mais importantes estudiosos da Análise do
Discurso. Aqui, também conseguirá entender as diferenças
entre interdiscurso e intertexto e como, enquanto analista
do discurso, se pode conceber a intertextualidade. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Já conhecemos a intradiscursividade e a interdiscursividade. Agora,


conheceremos a intertextualidade, outro critério da Análise do Discurso
que acompanha as duas anteriores.

A intertextualidade é um critério, segundo Marcuschi (2008), que


subsume relações entre um determinado texto e outros relevantes retirados
de experiências anteriores, mediado ou não. Para o pensador, hoje há um
consenso em relação ao fato de admitir que todos os textos compartilham
de outros textos, ou seja, todo e qualquer texto compartilha de um contato
intertextual, pois nenhum desses se acha solitário ou isolado.

Assim, a intertextualidade é uma “Propriedade constitutiva de


qualquer texto e o conjunto das relações explícitas ou implícitas que um
texto ou um grupo de textos determinado mantém com outros textos”.
Como coloca Marcuschi (2008), essa noção foi primeiro utilizada no âmbito
literário para, só depois, estender-se para a análise do texto em geral.

G. Genette (1982), p. 34 usa o termo “transtextualidade” para definir o


fenômeno mais amplo das diferentes relações transtextuais, que seriam:
• A intertextualidade, que supõe a presença de um texto em outro (por
citação, alusão, etc.);

• A paratextualidade, que diz respeito ao entorno do texto propriamente


dito, sua periferia (Títulos, prefácios, ilustrações, encarte, etc.);

• A arquitextualidade, bastante mais abstrata, que põe um texto em relação


a diversas classes às quais ele pertence (tal poema de Baudelaire se
encontra em relação de arquitextualidade com a classe dos sonetos,
Análise do Discurso 21

com a das obras simbolistas, com a dos poemas, com a das obras líricas,
etc.);

• A hipertextualidade, que recobre fenômenos como paródia, o


pastiche, etc.

EXPLICANDO MELHOR

Aqui nos interessa a definição de Intertextualidade enquanto


presença de um texto em outro, principalmente pela
semelhança com a interdiscursividade. É importante salientar
que a presença da qual nos referimos na interdiscursividade
é, como próprio nome diz, do discurso, está no inconsciente
do sujeito; já a intertextualidade é mais evidente, tratamos
nela da presença textual: trechos, citações, etc.

Para Maingueneau (1984) há uma distinção entre intertextualidade e


intertexto. Para o estudioso, o intertexto seria fragmentos discursivos que
surgem, enquanto que intertextualidade seria uma espécie de princípio
geral que rege as formas de as relações entre textos acontecerem, ou seja,
as regras para o intertexto se mostrar, que podem ser diversas tanto dentro
da literatura, quanto na religião, ciência e etc. Ademais, esse estudioso
difere intertextualidade interna de intertextualidade externa, como vemos:

Fonte: A autora
22 Análise do Discurso

Para Marcuschi (2008), a intertextualidade é importante para


estabelecer os tipos e gêneros de texto conforme os distingue e relaciona.
Para Koch (1991, p. 529) a intertextualidade também se relaciona com a
polifonia: “Todo texto é um intertexto; outros textos estão presentes nele,
em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis.”. Assim,
todo texto seria heterogêneo.

Ainda para a autora, em um sentido amplo, a intertextualidade


é “condição de existência do próprio discurso” e equivale à noção de
heterogeneidade e interdiscursividade. Para ela, um discurso remete
a outro, e tudo acontece como se quem pronuncia algo, pronunciasse
sempre baseado em outrem. Partindo de um ponto de vista restrito, Koch
(1991, p. 52) observa que intertextualidade seria “a relação de um texto
com outros textos previamente existentes, isto é, efetivamente produzidos”.

Assim, tratamos aqui da presença de partes de textos dantes


produzidos dentro de um atual texto. Koch (1991) ainda divide a
intertextualidade em modalidades organizadas por Marcuschi (2008, p. 131)
a) A intertextualidade de forma e conteúdo: quando
alguém utiliza, por exemplo, determinado gênero textual
tal como a epopeia em outro contexto não épico só para
obter um efeito de sentido especial;

b) Intertextualidade explícita: como no caso das citações,


discursos diretos, referências documentadas como fonte,
resumos, resenhas;

c) Intertextualidade com textos próprios, alheios e


genéricos: alguém pode muito bem situar-se numa
relação consigo mesmo e aludir a seus textos, bem como
citar textos sem autoria específica como provérbios, etc.

Ainda como coloca Marcuschi (2008), a intertextualidade contribui


para a coerência textual. Hoje ela é significativa exatamente por ter
importância fundamental ao relacionar os discursos entre si.
Análise do Discurso 23

EXPLICANDO MELHOR

Observe os dois poemas abaixo:

Canção do Exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,
Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar – sozinho – à noite –
Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas, Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossas flores têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que eu desfrute os primores
Em cismar – sozinho – à noite – Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá; Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras; Onde canta o Sabiá.
Onde canta o Sabiá.

Canção do Exílio às avessas deve ter custado horrores.


Jô Soares E depois de tanta planta,.Orquídea,
Minha Dinda tem cascatas fruta e cipó,
Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha
Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió.
De voltar pra Maceió. (...)
Minha Dinda tem coqueiros Finalmente, aqui na Dinda,
Da Ilha de Marajó Sou tartado a pão-de-ló.
As aves, aqui, gorjeiam Só faltava envolver tudo
Não fazem cocoricó. Numa nuvem de ouro em pó.
E depoies de ser cuidado
O meu céu tem mais estrelas Pelo PC, com xodó,
Minha várzea tem mais cores. Não permita Deus que eu tenha
Este bosque reduzido De acabar no xilindró.
24 Análise do Discurso

Os poemas acima citados possuem uma separação tanto de


tempo, quando de temática. O primeiro, de Gonçalves Dias, é pertencente
ao Romantismo e trata do saudosismo ufanista da pátria. Já o segundo,
de autoria de Jô Soares, é contemporâneo, e humoriza a relação entre
o homem e seu lugar de pertença. Entretanto, à luz da intertextualidade,
percebemos que ambos possuem uma relação clara. De acordo com as
modalidades definidas por Marcuschi (2008) os poemas possuem uma
associação intertextual “explícita”, já que existem trechos literais entre um
poema e outro.

Em relação à intertextualidade, também tratamos do que Authier-


Revuz nomeou de heterogeneidade mostrada e heterogeneidade
constitutiva. Aqui, podemos dizer que a autora pensa no problema da
presença de “outros” discursos em um dado discurso que emerge de
outras fontes de enunciação, identificáveis ou não (essa definição equivale
a intertextualidade, como coloca Marcuschi (2008)). Marcuschi (2008, p. 132)
elenca alguns aspectos dessa definição dada por Authier-Revuz, são eles:

•• Heterogeneidade mostrada: presença de um discurso em outro


discurso de modo localizável e identificável. Pode aparecer na
forma não marcada (discurso indireto, indireto livre, paráfrase,
pastiche, etc.) ou na forma marcada (discurso direto, com aspas
ou alusão identificada).

•• Heterogeneidade constitutiva. Quando o discurso é dominado


pelo interdiscurso. É o surgimento de um diálogo interno e que não
necessariamente vem do exterior. Assemelha-se ao dialogismo
bakhtiniano. Constitui-se no debate com a alteridade.

Se fossemos analisar os poemas “Canção do Exílio”, de Gonçalves


Dias, e “Canção do exílio às avessas”, de Jô Soares, à luz da concepção de
Authier-Revuz, identificaríamos que a relação de ambos se dá por meio da
heterogeneidade mostrada: a uma relação de discurso identificável, que
se dá de forma marcada por meio da alusão identificada.
Análise do Discurso 25

Em suma, para Marcuschi (2008, p. 132):


O que se pode dizer é que intertextualidade, mais do que
um simples critério de textualidade, é também um princípio
constitutivo que trata o texto como uma comunhão de
discursos e não como algo isolado. E esse fato é relevante
porque dá margem a que se façam interconexões dos
mais variados tipos para a própria interpretação.

Intertextualidade: Uma Questão


Discursiva
Para a vertente sociocognitivista do texto, os sentidos do texto
só são construídos se o leitor ativar diferentes conhecimentos: o de
mundo; o conhecimento linguístico; o conhecimento interacional. Nesses
sistemas estão os conhecimentos que foram previamente produzidos
e são, portanto, a base da intertextualidade. Ou seja, para que haja
intertextualidade o texto que se lê precisa ser reconhecido.

Entretanto, para a questão discursiva da intertextualidade, esse


quesito não é fundamentalmente necessário. Se levarmos em conta o
que coloca Bakhtin assunto (segundo KOCH, BENTES & CAVALCANTE,
2007; KOCH & ELIAS, 2009), todo enunciado torna-se um elo na cadeia
discursiva, não é necessário que todo interlocutor necessite reconhecer
o texto fonte para que haja intertextualidade, ela já existe por si só, como
coloca Koch & Elias (2009, p.30):
Recorrer ou não ao texto fonte que é retomado pode
ser uma tarefa que se impõe ao interlocutor, que, pela
interação, conduz a leitura em busca de sentido a partir
das pistas linguísticas e não linguísticas deixadas no texto.
Isso significa que conceber a intertextualidade como se
fosse o pico de uma montanha a ser escalada é focalizar
no leitor um processo de interação que o antecede, sob
o risco de se perder em abismos de possibilidades de
leituras, inclusive as não autorizadas. Escalado ou não, o
pico da montanha permanece pico; alcançada ou não, a
intertextualidade permanece materializada no texto. Não
se trata de impor um sentido, nem uma única possibilidade
de leitura, previamente estabelecida pelo autor –
discussão, aliás, já vencida (essa sim) nos estudos da
Linguística Textual balizada pelas concepções de sujeito,
26 Análise do Discurso

texto e sentido; nossa proposta enfatiza outro aspecto: a


necessidade de se entender os processos que permitem a
organização intertextual.

Assim, é necessário repensar a noção Intertextualidade como


uma existência que não depende do sujeito, ela está, ela é, mesmo que
identificável ou não. Discursivamente posta, há nela um constructo de
ideias que estão postas, daí a entender ou não cabe ao interlocutor.

RESUMINDO

Como vimos, vários estudiosos da Análise do Discurso


debruçaram-se sobre o estudo da Intertextualidade.
Ora defendida como intertextualidade, ora como
heterogeneidade mostrada e/ou constitutiva, fica claro que
a essa é a relação textual da presença de um texto em outro,
produzido anteriormente. Além disso, é importante pensar
que, discursivamente, a intertextualidade existe por si só,
ou seja, independe se algum interlocutor irá interpretá-la
ou não.
Análise do Discurso 27

Dispositivo de Análise: O lugar da


Interpretação-Interpretação Versus
Compreensão; Textualidade e Discursividade

OBJETIVO:

Neste capítulo você terá a oportunidade de conhecer os


dispositivos de análise de textos disponibilizados pela a
Análise do Discurso. Esse conhecimento se faz fundamental
principalmente para os docentes da área de Letras, já que
esses estão em constante contato com o texto, buscando
promover em seus alunos a capacidade de interpretação e
compreensão, fatores que são melhor entendidos por meio
da ciência da textualidade e discursividade. Preparados?
Avante!

Interpretação Versus Compreensão


Para entender esses dois critérios, Orlandi (1996) propõe uma
distinção em termos teóricos entre inteligibilidade, interpretação e
compreensão. Para a autora, a inteligibilidade seria aquilo que se refere
no sentido da língua, ou seja, é quando dois sujeitos conseguem se
comunicar através da língua. Por exemplo:

Onde fica a cidade de São Paulo?

No enunciado acima, basta que meu interlocutor fala a mesma


língua que eu para que a leitura seja clara. Assim, teríamos acima um
enunciado inteligível. Se esse mesmo interlocutor fosse chinês e não
dominasse a língua portuguesa, não haveria no diálogo o estabelecimento
de uma comunicação plena, constituindo, portanto, uma ininteligibilidade.

Já a interpretação, para Orlandi (1996), é aquilo que, por meio dos


elementos do texto, pode estabelecer sentidos com outras frases e até
mesmo com o contexto imediato. Imaginemos o seguinte exemplo:

Eu estou há horas dentro desse circo, todos já estão acomodados e o


espetáculo não começa. Que absurdo!
28 Análise do Discurso

Podemos, por meio da interpretação, formular o seguinte sentido:


Há alguém (EU), que está no circo, com certa irritação, porque já esperou
muito pelo início do espetáculo.

Esse sentido ainda pode se desdobrar em outros: “O ‘eu’ tem toda


razão”; “O ‘eu’ está fazendo um escândalo desnecessário”; “De fato, o
espetáculo poderia já ter começado”. Em suma: Interpretar é mobilizar
informações que estão explícitas e poder investigar outras.

Aparentemente, temos a ilusão de, ao tomar uma palavra, já


estarmos interpretando. Entretanto, ao assumirmos uma ou outra
posição por meio de nossa interpretação, já estamos automaticamente
sendo afetados por uma ilusão de “estabilidade do referencial”. Em
outras palavras, quando interpretamos de determinada posição, temos
a sensação de que há uma ligação direta entre o texto e aquilo que
ele possivelmente significa. Porém, no momento em que lemos, nossa
posição de sujeito (leitor) funciona por meio dos sentidos em relação ao
que estamos lendo. É importante lembrar que os sentidos estão sempre
relacionados, nunca são literais, não estão presos ao texto muito menos
dependem das intenções do sujeito.

É exatamente por isso que, na Análise do Discurso “objetiva-se


sempre compreender o funcionamento ideológico que determina nossa
posição e também a do autor de um enunciado ou de um texto”. (ORLANDI,
1996, p. 117). Isso porque uma interpretação nunca estará no texto, mas
no que o sujeito entende e significa dele, baseado em suas ideologias e
posicionamentos sociais.

Ou seja, em relação à leitura, segundo Orlandi (1996), não só quem


escreve significa, mas, sobretudo, quem lê. E é exatamente esse sujeito
da leitura que não interpreta de maneira abstrata. Antes, por meio de
condições sócio históricas determinadas. Aqui fica claro a importância da
diferenciação entre interpretação e compreensão.

Compreender, do ponto de vista da Análise do Discurso proposta


por Orlandi, é mais do que interpretar, é mais do que dar sentido por meio
de uma posição. É ir para além da interpretação imediatista, isso, pois
a compreensão pede uma análise criteriosa. Dito de outra forma, para
Análise do Discurso 29

compreender determinado texto se faz importante colocar em xeque os


processos de significação que um texto engendra. Compreender, para
a autora, é saber COMO pinturas, músicas, textos, enunciados, estão
produzindo sentidos.

Assim, para Orlandi (1996), compreender tem relação com conhecer


o funcionamento da interpretação, essa que automaticamente realizamos
ao estarmos presos a determinados sentidos.

Como exemplo, tomemos as eleições presidenciais em 2014. Dilma


Rousself e Aécio Neves estavam em um confronto bastante acirrado.
Após um debate ocorrido em 03/10/2014, observe dois títulos de notícias
sobre o mesmo fato:

Debate da Globo: Aécio finalmente venceu de lavada. Veja vídeos e


notas do último confronto do primeiro turno (Por Felipe Moura Brasil).
Fonte: https://bit.ly/3beymtw.

Dilma vence o debate da T V Globo e pode ganhar no 1º turno (Por


Tarso Cabral Violin.)
Fonte: https://bit.ly/3gQlpHz

Atente para os enunciados acima. Esses materializam


interpretações diferentes para o mesmo debate. Ao ler os enunciados,
outros leitores também interpretam, além de serem influenciados ou
não pela interpretação já lida, produzindo sentidos por meio de seus
posicionamentos ideológicos. Nesse interim, compreender, entretanto,
requer um ofício de análise para reconhecer que nenhuma interpretação
é neutra, para, por meio disso, explicitar que cada posicionamento
acima possui um viés ideológico de que o escreveu. Para Orlandi (1996),
ademais, o leitor necessita, para a compreensão, problematizar sua
posição, relacionando-se com essa de maneira crítica.

Em relação aos dispositivos de análise, é assim que um analista


do discurso se posiciona diante do objeto que tem em mãos, como os
discursos acima, por exemplo. É exatamente esse ponto de vista proposto
pela Análise do Discurso que pode contribuir com as práticas docentes,
30 Análise do Discurso

por exemplo, indicando percursos que podem ser necessários para o


trabalho com leitura e produção de textos em sala de aula.

Percursos esses que têm como base a noção da relação de


determinado objeto simbólico com os processos de leitura, interpretação
e compreensão, sendo esse último o modo como um objeto produz
sentidos, como ele está sobrecarregado de significância por e para os
indivíduos. Essa compreensão, por sua vez, implica em explicitar como o
texto organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido.
Produzem-se assim novas práticas de leitura (ORLANDI, 1996, p. 27).

A Análise do Discurso desloca a posição do leitor (sujeito), levando-o


a se tornar um analista. Um descolamento que evidencia a esse as diversas
leituras que se podem produzir por meio de um dispositivo teórico, posto
que os discursos não são
Apenas mensagens a serem decodificadas. São efeitos de
sentidos que são produzidos em condições determinadas
e que estão de alguma forma presentes no modo como se
diz, deixando vestígios que o analista tem de apreender.
São pistas que ele aprende a seguir para compreender os
sentidos aí produzidos, pondo em relação ao dizer com
sua exterioridade, suas condições de produção. Esses
sentidos têm a ver com o que é dito ali, mas também em
outros lugares, assim como com o que não é dito, e com o
que poderia ser dito e não foi. (ORLANDI, 1996, p. 30)

No processo da compreensão, a objetividade deve ser pensada


como “efeito de objetividade” (ORLANDI, 1996). Na prática, não se pode
levar em conta apenas o que está no texto, mas sim, é necessário
mergulhar no imaginário que o constitui. Além disso, o analista precisa ir
além do que está no texto, para entender o não dito que o constitui. Esse
movimento que o analista do discurso faz
Considerar o movimento de interpretação inscrita no
sujeito do discurso, naquele que fala, e que deixa pistas
no próprio dizer. O trabalho do analista é, em grande
medida, situar (compreender) - e não refletir- o gesto de
interpretação do sujeito na produção do dizer e expor seus
efeitos de sentido (ORLANDI, 1996, p.83)
Análise do Discurso 31

Trabalhar com essas incompletudes requer fazer uso dos


conhecimentos da ideologia, por exemplo, elemento que estudamos no
decorrer de nossa disciplina.

Textualidade e Discursividade
Para Marcuschi (2008, p. 88) “O texto é a unidade máxima de
funcionamento da língua”. Essa definição, para o autor, trata da unidade
funcional (discursiva), da língua. Isso não quer dizer que, para se ter um
texto, deva ter determinado tamanho, ou seja, a textualidade não está no
tamanho, antes, na função que exerce. Observemos o exemplo abaixo:

Fonte: A autora

Acima, temos um texto de uma só palavra, como uma placa,


mas poderíamos ter uma enciclopédia inteira. A extensão do texto não
interfere na noção do texto. O que faz ele ser o que é está no âmbito da
sua textualidade, dos efeitos de sentido que provoca, na discursividade e
articulação que ele engendra.

Um texto também o é quando operam em contextos sócio


comunicativos, o que o caracteriza enquanto língua em funcionamento.
Em suma, para se ter textualidade, para um texto poder ser texto, ele
precisa se adequar ao seguinte esquema:
(1) em primeiro lugar, os três grandes pilares da
textualidade que são produtor (autor), um leitor (receptor)
e um texto (o evento). Nosso interesse centra-se, aqui, no
texto enquanto processo (um acontecimento) e não um
produto acabado;

(2) E segundo lugar, há dois lados a observar:


32 Análise do Discurso

a) o acesso cognitivo pelo aspecto mais estritamente


linguístico representado pelos critérios de textualidade
(o intratexto), que exige por sua vez e de modo particular
os conhecimentos linguísticos e as regras envolvidos no
sistema, bem como operacionalidade e

b) o acesso cognitivo contextual (situacional, social,


histórico, cognitivo, enciclopédico) exigindo mais
especificamente conhecimento de mundo e outros
(sociointerativos);

(3) Em terceiro lugar, os critérios de textualização


(coesão e coerência) & (Aceitabilidade, informatividade,
situcionalidade; Intertextualidade, Intencionalidade). (...)
Não esqueçamos que os sete critérios são contextuais
(numa noção de contexto que não se fixe na distinção entre
‘situação física’ e extratexto’ versus ‘situação intratextual’.
(MARCUSCHI, 2008, p. 96)

Os sete critérios de textualidade, como posto acima, formam


acessos à produção de sentidos. Para Marcuschi (2008) eles não possuem
o mesmo peso, bem como não possuem uma distinção tão clara. É
importante, ao analisar a textualidade de determinado texto, como, no fim,
ele pode produzir sentidos.

Já em relação à Discursividade, trazemos aqui as concepções de


Bakhtin. Para esse estudioso, o estudo da língua deve começar por meio
do contexto social em que essa está inserida e na qual esse estabelece
múltiplas relações. Assim, o sujeito discursivo se constrói nas relações
sociais, posto que, para o autor, o discurso é um “enunciado vivido”. Nesse
contexto, o território discursivo é entendido como um fenômeno humano
que se estabelece em decorrência da relação intrínseca entre o locutor e
o interlocutor (BAKHTIN, 1992, p. 113).

Nesse âmbito, Bakhtin propõe a ideia de interação verbal. “A


interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua”
(BAKHTIN, 1992, p.123). Dessa maneira, se o discurso é resultado da
interação verbal, logo é possível interpretar que, para o autor, é por meio
da palavra que há mudanças na sociedade. Em outras palavras, a palavra
possui capacidade discursiva, ou, discursividade, para agir como signo
ideológico.
Análise do Discurso 33

Outro fator importante para compreender a discursividade é a


influência da filosofia. Para Silva (2012, p.5):
Como filósofo de formação, Bakhtin também fez uso
constante de alguns aportes de caráter especificamente
filosófico na construção de sua análise do discurso. Dentre
esses, destaca-se a presença marcante do “socialismo
cientifico” ou marxismo. Por marxismo entenda-se o
conjunto de ideias filosóficas elaboradas no século
XIX pelos pensadores alemães Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895). Em resumo, trata-se da
tentativa de estabelecer certa leitura da História e da vida
social, como consequência de uma típica e ferrenha luta
de classes. Para os principais protagonistas, a denominada
luta de classe se expressa nos territórios econômicos,
ideológicos e políticos.

Assim, para Bahktin (1992), a filosofia da linguagem reconhece o


signo linguístico enquanto determinado pelas situações sociais concretas.
Dessa maneira, a discursividade é presença de ideologias nos textos. “O
conceito de discursividade como signo ideológico torna-se o principal
instrumento da interação entre os homens”. (BAKHTIN, 1992, p. 48).

RESUMINDO

Nesse capítulo tivemos a oportunidade de conhecer os


mecanismos de análise da Análise do Discurso. Entendemos
que a interpretação são os sentidos que podem emergir
de determinado texto. Enquanto isso, a compreensão é a
análise dos processos de significação que determinado
texto engendra. Em relação à textualidade, descobrimos
que ela é o mecanismo criterioso de produção de um texto,
enquanto que a discursividade é a presença ideológica
elementos sócio histórico e culturais nos textos produzidos.
34 Análise do Discurso

Tipologias e Relações entre Discursos:


Discurso Autoritário; Discurso Polêmico;
Discurso Lúdico
OBJETIVO:

Nesse último capítulo entenderemos quais são as tipologias


discursivas, bem como são definidos os discursos base
da Análise do discurso, a saber: O discurso autoritário, o
discurso polêmico e o discurso lúdico. Preparados para
essa construção de conhecimento e, ao mesmo tempo,
para se despedir da disciplina? Avante!

Caro aluno (a), nessa última etapa do nosso estudo conheceremos


as diversas tipologias e relações entre discursos. Para Assunção (2018),
p. 28, existem sete possíveis tipologias elegidas pelos mais importantes
aportes teóricos em relação aos estudos da linguagem, são eles:
1. As tipologias discursivas e situacionais- da AD francesa,
cujo papel preponderante reside nas formações
discursivas;

2. As tipologias baseadas nos gêneros de discurso-


Fundamentadas nos gêneros discursivos literários e
sociais de base interacional;

3. As tipologias baseadas nos objetivos da enunciação-


Classificadas em cima das funções de linguagem (Buhler,
Jakobson) ou dos atos de fala (Austin, Searle);

4. As tipologias de base enunciativa- deduzidas da relação


discurso-relato (Benveniste, Bakhtin);

5. As tipologias de base semântica- instauradas em


critérios semânticos: textos ficcionais e não ficcionais;

6. As tipologias de base textual- baseadas em critérios


pragmáticos e proposicionais, buscam a globalidade dos
textos em sua instância e ocorrência;

7. As tipologias de base sequencial- discriminam em


princípio não tipos, mas protótipos de sequências
coerentes.
Análise do Discurso 35

Em relação às tipologias e seus constructos com os discursos,


Orlandi elenca diversos critérios que constituem as tipologias na teorização
da Análise do Discurso. Para Assunção (2018, p. 3) “Essas tipologias
compreendem categorizações distintas que é interessante explicitar de
início para evitar confusões futuras e para uma melhor compreensão da
proposta”.

É importante entender que, geralmente, tomamos o termo “tipo” por


diferentes formas de tratamento dos discursos (sejam eles jornalísticos,
políticos, religiosos, etc.), e que se dividem em variáveis (como o didático,
terapêutico); também em disciplinas (matemática, História); em estilos
(Renascentista, barroco) e, por fim, em gêneros (narrativa, descrição, etc.)

De maneira simples, observemos como Assunção (2018, p.5)


categoriza as tipologias discursivas:

1. Tipos: lúdico, polêmico, autoritário;

2. Gêneros: carta, outdoor, depoimento policial, classificados, e-mail,


telefonema, telegrama, pronunciamento parlamentar, receita
culinária, sinopse de filme, cordel, história em quadrinho, propaganda,
editorial, ensaio científico etc.;

3. Domínios discursivos: jurídico, político, religioso, sindical, midiático,


feminista, sexista, pornográfico, cinematográfico, artístico, literário,
humorístico, senso comum etc.

Como coloca Orlandi (1996, p. 35): “a noção de tipo é necessária


como princípio de classificação para o estudo do uso da linguagem, ou
seja, do discurso”. Nesse interim, a noção de tipo torna-se um aparato
metodológico para classificar e analisar textos.

A classificação tipológica, para o analista do discurso, relaciona-


se aos objetivos de análise do analista, e embasa os recortes discursivos
necessários. Sendo assim, sua aplicação é condicionada por esses
recursos.
36 Análise do Discurso

Para Orlandi (1996, p.100), por exemplo, para analisar o discurso


pedagógico
Estabeleci uma tipologia que não derivava de critérios
presos diretamente à noção de instituição, ou seja, a
normas institucionais, como é definido o discurso religioso
em relação ao jornalístico, jurídico etc. Também não me
interessava uma distinção cujo critério fosse as diferenças
entre os domínios de conhecimento como os que existem
entre discurso científico, discurso literário, discurso teórico
etc. Interessava-me características que já  estivessem
pressupostas no interior de cada um desses tipos. Por outro
lado, ainda que possuindo certo grau de generalidade, não
me atraía a distinção de tipos como dissertação, descrição,
narração, conquanto partissem de características formais,
estruturais etc.

Ou seja, na exemplificação de Orlandi (1996) percebemos que esse,


enquanto analista do discurso, optou por um recorte que se privilegia
suas necessidades, dentro do campo das tipologias. Para além da
generalidade das tipologias, Orlandi (1996) se interessa também pelas
dimensões históricas e funcionamentos sociais. Para a autora, entender
os tipos textuais e compreender que todos possuem seus processos
internos de constituição de discurso, condição de produção, etc.

Considerando essas premissas, Orlandi (1996) acredita que a


tipologia discursiva dá conta da relação entre linguagem e contexto
(condições de produção determinadas sócio historicamente). Assim, a
tipologia trata a linguagem por meio de seus contextos de produção.

Vale observar que a tipologia discursiva está pautada na função


de algo inerente à linguagem e seus contextos de produção. Nesse
mesmo âmbito, ela vincula-se a outros níveis de variação, a saber, sujeitos
(interação e reversibilidade); sentidos (polissemia). Para Orlandi (1996), um
tipo discursivo é resultante do funcionamento do discurso, sendo esse
definido enquanto meio estruturante de determinado discurso, para
determinado interlocutor, com específicas finalidades.

Nesse contexto, o termo “determinado” não faz referência nem


ao número, nem a pessoa, nem a situação objetiva. Trata-se, antes,
Análise do Discurso 37

das formações imaginárias, ou seja, do posicionamento dos sujeitos no


discurso. Como coloca Assunção (2018, p.20):

[...] Vemos isso através do meio social que nos rodeia.


Pressupomos certa esfera social típica e estabilizada para
a qual se orienta a criatividade ideológica [polissemia] de
nossa própria época e grupo social. [...] Consideramos, além
disso, que a atividade de dizer é tipificante: todo falante
quando diz algo a alguém estabelece uma configuração
para seu discurso [que se define na própria interação].
[...] Porém, enquanto resultados, enquanto produtos, os
tipos são cristalizações de funcionamentos discursivos
[domínios] distintos. Há, pois, relação entre a atividade e
produto do dizer e assim os tipos passam a fazer parte das
condições de produção do discurso.

Após esses esclarecimentos, Orlandi (1996) mostra a distinção


tipológica base da Análise do discurso, a saber: O discurso lúdico, o
discurso polêmico e o discurso autoritário. Para a autora, esses critérios
surgem do que já citamos acima: a interação e a polissemia.

A interação surge da maneira como interlocutores se veem, por


meio das relações imaginárias entre ambos. Nesse contexto, torna-se
importante, posto que é esse mecanismo que determina a dinâmica
interativa dentro do discurso: “segundo o grau de reversibilidade
(interação), haverá uma maior ou menor troca de papéis entre locutor e
ouvinte, no discurso”. (ORLANDI, 1996, p.115)

Já a polissemia relaciona-se com a questão dos interlocutores


e seu objeto discursivo (O tema, assunto ou informação): “O objeto de
discurso é mantido como tal e os interlocutores se expõem a ele; ou está
encoberto pelo dizer e o falante o domina; ou se constitui na disputa entre
os interlocutores que o procuram dominar. ” (ORLANDI, 1996, p. 154). É
por meio desse funcionamento que surge a polissemia. Nos discursos
pode haver maior ou menor carga polissêmica, dependendo da forma e
funcionamento desse.

Dito de outra maneira, Orlandi (1996) cria um critério para a distinção


de diferentes modos de organização e funcionado dos tipos do discurso
que embasam a Análise do discurso. Esses, conheceremos agora.
38 Análise do Discurso

Discurso Autoritário; Discurso Polissêmico


e Discurso Lúdico
Discurso autoritário:
Nesse, a polissemia é contida, isso pois o locutor apaga seu
relacionamento com o interlocutor. Aqui, não há troca de papéis: o locutor
é exclusivo “O exagero é a ordem no sentido militar, isto é, o assujeitamento
ao comando”. (ORLANDI, 1996, p.130).

Discurso polêmico:
Nesse, a polissemia é controlada. Entretanto, a relação de suposta
disputa pelo é tensa entre os interlocutores. Em relação à troca de
papéis, essa acontece sob determinadas condições propostas pelos
interlocutores.

Discurso Lúdico:
Nesse, a polissemia se faz aberta e os interlocutores interagem aos
efeitos dessa presença, sem regular a suas relações com os sentidos. Em
relação à troca de papéis, essa é plena entre interlocutores.

Assim, temos:

Fonte: A autora
Análise do Discurso 39

É importante ter em mente que esses critérios não são juízos de


valor, mas sim descrições de funcionamento discursivo em relação
às suas determinações históricas, ideológicas e sociais. Como já foi
dito, essas tipologias não se caracterizam como o centro da Análise do
Discurso, elas são, antes, internas ao funcionamento do discurso, bem
como essas podem ser hibridas dentro de determinado discurso. Dessa
maneira, elas servem para conhecer um pouco mais a fundo os traços
formais que constroem um discurso.

Para Orlandi (1996), o discurso lúdico é contraponto entre os dois


outros, isso porque em nossa sociedade é comum que o lúdico represente
o que é desejável, ou seja, o prazer, o encanto no uso da linguagem, o que
é completamente o oposto do uso hierárquico, prático, os constituintes
do discurso autoritário e polêmico. Dessa maneira, não há espaço para
o lúdico na sociedade em que vivemos, já que estamos sempre focados
no imediatismo, na prática, na hierarquia, etc. O lúdico é desvio, ruptura.

Assim, sobre a questão da verdade da informação veiculada nos


discursos, temos, segundo Assunção (2018, p. 7):

a) no lúdico, temos a carga informacional com valor menos relevante.


Em seu funcionamento polissêmico e interacional interessam mais o seu
caráter poético e fático, não a sua referencialidade informacional, pois até
o “non sense” é possível;

b)  no polêmico, a referencialidade informacional é importante e


respeitada: a verdade é disputada pelos sujeitos interlocutores;

c) no autoritário, a relação com a verdade é assimétrica, hierárquica,


ou seja, determinada pelo locutor (de cima para baixo): a verdade é
imposta.

Ainda para Orlandi (1996, p. 135):


Em relação à tensão entre os dois grandes processos
– a paráfrase (o mesmo) e a polissemia (o diferente) –
que consideramos ser o fundamento da linguagem,
diríamos que o discurso lúdico é o polo da polissemia (a
multiplicidade de sentidos), o autoritário é o da paráfrase
(a permanência do sentido único, ainda que nas diferentes
formas) e o polêmico é aquele em que melhor se observa
40 Análise do Discurso

o jogo entre o mesmo e o diferente, entre um e outro


sentido, entre paráfrase e polissemia. Dada a tensão,
o jogo, entre o processo parafrástico e o polissêmico,
que estabelece uma referência para a constituição da
tipologia, cada tipo não se define em sua essência, mas
como tendência, isto é, o lúdico tende para a polissemia, o
autoritário tende para a paráfrase, o polêmico tende para o
equilíbrio entre polissemia e paráfrase.

No entanto, Orlandi (1996) adverte que os tipos de discurso acima


expostos não obrigatoriamente existem em sua forma homogênea, pura.
Há, geralmente, uma mistura de tipo e, também, um jogo de dominâncias
entre eles que varia a cada uso discursivo. Assim, para a estudiosa, no
discurso há também múltiplas relações de múltiplas naturezas: relações
de inclusão, exclusão, oposição, sustentação mútua, etc.

Outrossim, é importante considerar o funcionamento discursivo


para entender a dinâmica desses tipos:
Às vezes todo o texto é de um tipo, às vezes sequências se
alternam em diferentes tipos, outras vezes um tipo é usado
em função de outro, outras vezes eles se combinam etc.
(ORLANDI, 1996, p.136)

Dessa forma, a noção estável de tipo não funciona para um analista


do discurso e, estagná-la metodologicamente pode significar perder
sua mobilidade enquanto possibilidade de conhecimento. O trabalho
do analista do discurso nesse contexto é procurar as formas discursivas
materiais, e não as formas marcadas. Na Análise do Discurso, a linguística
é próxima, já que essa relaciona em sua análise a questão, também usada
pela Análise do Discurso, dos fatores históricos e sociais pertencentes às
ciências sociais.

Por fim, para Pêcheux, uma Análise do Discurso só acontece de


fato é necessário que observar o próprio objeto em sua materialidade
discursiva: é preciso ler o enunciado e, por meio dele, começar uma
investigação que gerará interpretação, compreensão, etc.
Análise do Discurso 41

RESUMINDO

Neste último capítulo estudamos as tipologias discursivas


e entendemos como elas funcionam dentro da Análise do
Discurso. Além disso, compreendemos como funcionam
os discursos mais enfocados pela Análise do discurso,
sendo eles o Discurso autoritário, em que temos uma
polissemia contida; o discurso polêmico, em que temos
uma polissemia controlada e, por fim, o discurso mais ideal,
o lúdico, em que temos uma polissemia aberta.
42 Análise do Discurso

REFERÊNCIAS
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Análise do Discurso 43

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