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Educação

das Relações
Étnico-Raciais
Unidade III
Diversidade cultural
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
GLÓRIA FREITAS
AUTORIA
Glória Freitas
Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, com
mestrado e doutorado na área de educação, com diversas experiências
técnico-profissionais, na área de Educação, desde 1984, percorrendo
inicialmente pela Educação Básica (na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental I) em Escolas, posteriormente lecionando em formações
docentes em Organizações Governamentais e Não Governamentais
(ONG’s e OSCIPs), e a partir de 1990, lecionando os fundamentos e
metodologias de ensino, na Formação Docente Inicial e Pós-Graduação,
no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Particulares, em São
Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço
e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando
em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de apresentar um
de uma nova novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às
diferenças........................................................................................................ 10
Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às diferenças:
questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças nas práticas
pedagógicas........................................................................................................................................10

Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre às diferenças, nas


práticas pedagógicas: diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial,
de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades
especiais, escolhas sexuais, entre outras...................................................................... 13

Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática


Docente............................................................................................................ 23
Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente: Histórias,
pensamentos e conquistas.......................................................................................................23

Aplicando a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente: Refletindo


sobre o futuro do respeito às diferenças........................................................................32

Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o


Outro e suas Semelhanças e Diferenças............................................38
Avaliando a Necessidade de Repensar o Papel do Educador
diante da Diversidade Cultural..............................................................46
Educação das Relações Étnico-Raciais 7

03
UNIDADE
8 Educação das Relações Étnico-Raciais

INTRODUÇÃO
A diversidade é inerente ao ser humano e é uma importante discussão
a ser considerada no trabalho escolar. Nesse sentido, é necessário discutir
inovações nas ações pedagógicas para que a escola pare de reproduzir
sujeitos fragmentados e assuma uma proposta pluricultural para melhor
atender as necessidades dos sujeitos e da sociedade que ele está inserido.

Você estudará na Unidade 3 sobre a Prática Pedagógica que


contemple o Outro em suas semelhanças e diferenças, levando em conta
a Diversidade Cultural.

Preparado? Ao longo deste estudo você vai mergulhar neste


universo!
Educação das Relações Étnico-Raciais 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Refletir sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às


diferenças ambiental ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas
geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais,
escolhas sexuais, entre outras.

2. Entender a Diversidade Cultural Brasileira na Prática Docente.

3. Desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e


suas Semelhanças e Diferenças.

4. Compreender a Necessidade de Repensar o Papel do Educador


diante da Diversidade Cultural.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!Você aprenderá bastante sobre a Prática
Pedagógica que contemple o Outro em suas semelhanças e diferenças,
levando em conta a Diversidade Cultural.
10 Educação das Relações Étnico-Raciais

Refletindo sobre a Diversidade Cultural


e sobre o respeito às diferenças
Ao término deste capítulo você será capaz de compreender o
desenvolvimento de uma Prática Pedagógica que contemple o Outro em
suas semelhanças e diferenças, levando em conta a Diversidade Cultural.
Inicialmente você irá refletir sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito
às relevantes diferenças, como as diferenças ambiental-ecológica, étnico-
racial, de gêneros, entre as faixas geracionais, classes sociais, religiões,
necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras. Em seguida,
você pensará sobre a necessária tarefa de aplicar a Diversidade Cultural
Brasileira na Prática Docente, percorrendo Histórias, pensamentos,
conquistas e refletindo sobre o futuro do respeito às diferenças. Ainda
refletindo sobre a prática pedagógica, você focará em reflexões sobre
como desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e
suas Semelhanças e Diferenças. E, por fim, você vai avaliar a necessidade
de repensar o papel do Educador diante da Diversidade Cultural. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

Refletindo sobre a Diversidade Cultural


e sobre o respeito às diferenças: questões
iniciais e essências sobre diversidade e
diferenças nas práticas pedagógicas
Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre o respeito às
diferenças, você tomará contato com as questões iniciais e essências sobre
diversidade e diferenças, e, tais aprendizagens farão enorme diferença
nas suas futuras práticas pedagógicas, além de fornecer elementos para
refletir sobre erros de algumas atuais práticas pedagógicas que não
levam em conta nem as diversidades culturais e nem as diferenças entre
as pessoas.

Você vai começar esta leitura com uma reflexão sobre a Diversidade
Cultural e sobre o respeito às diferenças, tomando consciência de
questões iniciais e essências sobre diversidade e diferenças, dentro das
Educação das Relações Étnico-Raciais 11

(e nas) práticas pedagógicas. Isso significa que você vai refletir sobre a
Diversidade Cultural e as Diferenças, juntas e dentro das escolas. A
Diversidade Cultural precisa ser vista como a expressão de opostos.

Sobre este tema é possível afirmar que a Diversidade Cultural é


diversa,
[...] ou seja, não se constitui como um mosaico harmônico,
mas um conjunto de opostos, divergentes e contraditórios.
A Diversidade Cultural é cultural e não natural, ou
seja, resulta das trocas entre sujeitos, grupos sociais e
instituições a partir de suas diferenças, mas também de
suas desigualdades, tensões e conflitos.(BARROS, 2008,
p.18)

E, é possível ainda afirmar que a Diversidade Cultural surge como


uma resposta a algo que já era uma indagação, além de significar a
procura decidida de um sujeito, e não exclusivamente uma constatação
antropológica. É o resultado de uma construção deliberada, e não apenas
um pressuposto, um ponto de partida. Um projeto, e não apenas um
inventário (BARROS, 2008, p.19).

Na busca de entender pelo ponto de vista cultural, o que é a


diversidade, os caminhos poderão levar ao entendimento da diversidade
como a construção ao mesmo tempo histórica, cultural e social das
diferenças. Algo é incontestável: A Diversidade Cultural se realiza no
humano, ao longo da História. E é nesse contexto que as relações raciais
se configuram, constroem e reconstroem.

E o que afirmar sobre as diferenças? Existe um encontro entre o


tema da diversidade cultural e das diferenças. E ficará evidente que por
mais que cada comunidade seja distinta da outra, e que seus membros
compartilhem idênticos ou semelhantes atos, festas, comemorações
e modos de sentir e pensar, cada um de seus membros aprenderá
socialmente a pertencer a uma determinada diversidade cultural, e,
assim, carregar suas diferenças.

As mais novas gerações aprendem de mãos dadas com as mais


antigas, seus mestres e com os legados deixados pelos seus antepassados,
12 Educação das Relações Étnico-Raciais

chamados de ancestrais. E como estas pessoas, em seus grupos, com as


suas diversidades culturais, agem nas e com as diferenças?

O Antropólogo Claude Lévi-Strauss, já em 1950, naquele cenário


posterior aos horrores da 2.ª grande guerra, no discurso sobre Raça e
História, para a UNESCO, já havia proposto três principais marcações
conceituais para a compreensão e atuação com a diversidade cultural.
Lévi-Strauss afirmou com relação a diversidade cultural que era
imprescindível que ela fosse realizada de tais formas a permitir diálogos
generosos entre as distintas diversidades culturais (KAUARK; BARROS;
TORREÃO;MIGUEZ, 2015).

Segundo o entendimento do importante estudioso francês e


que morou em São Paulo, na juventude, deu aulas na Universidade de
São Paulo e visitou alguns dos nossos povos indígenas, no Brasil, ele
considerou que era importante uma reflexão sobre a compreensão da
inexistência de uma relação de causa e efeito entre as diferenças culturais
e as diferenças no plano biológico. O que isso quer dizer? Que não
podemos acreditar em inatismo de nossas diferenças que são culturais.
As nossas diferenças biológicas nem as causam e nem produzem efeitos
sobre elas. As diferenças não se limitam a biologia.

Existe desde 2007 uma convenção que trata da garantia da


soberania, relacionada ao respeito às políticas culturais. É a Convenção
da Unesco sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das
Expressões Culturais. E que em sua história vem sendo utilizada como um
instrumento para pressionar diversos governos, na busca da construção
e manutenção de poderosas políticas públicas, capazes de promover
e proteger a diversidade cultural. E neste documento da UNESCO, a
diversidade cultural é vista como um valor universal, repassando uma
ideia que os bens e serviços culturais possuem valores e sentidos que
demandam tratamentos diferenciados, incidindo sobre os nossos direitos
a diversidade cultural.

Quando um Governo, Técnicos Educacionais de uma Secretária


Estadual ou Municipal de Educação, seus conscientes coordenadores
pedagógicos, e ainda, os seus professores reflexivos tomam a iniciativa
de cumprir as legislações relacionadas à educação e que zelam pela
Educação das Relações Étnico-Raciais 13

existência de um planejamento de atividades educacionais, que levem


em conta a diversidade cultural e as diferenças, é necessário louvar
todos estes esforços! O fato é que as existências das legislações, nas
instâncias federal, estadual e municipal não determinam que as práticas
pedagógicas sejam profundamente tocadas e focadas, na Diversidade
Cultural e no respeito às diferenças.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Vídeo -
Brasil: DNA África.Trata da origem dos afrodescendentes
e a importância dos africanos na construção do Brasil. O
projeto está baseado em três eixos: o histórico, o cultural e
o científico. Acessível aqui.

Refletindo sobre a Diversidade Cultural


e sobre às diferenças, nas práticas
pedagógicas: diferenças ambiental-
ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas
geracionais, classes sociais, religiões,
necessidades especiais, escolhas sexuais,
entre outras
Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre às diferenças, nas
práticas pedagógicas faz-se necessário lançar mão de reflexões sobre
as diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas
geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas
sexuais, entre outras.

É necessário comemorar tais práticas pedagógicas e tais políticas


públicas que as amparam, bem como os legisladores que constituíram
estes relevantes marcos legais. É importante que as políticas educacionais
de integração democrática das diversidades, contemplem problemas
comuns à questão do negro e à questão do índio, outras deverão
14 Educação das Relações Étnico-Raciais

contemplar especificidades próprias de cada grupo. E, que, ainda, nossas


políticas educacionais oportunizem uma educação de cultura, através de
campanhas massivas e intensivas de ‘fabricação’ contra-hegemônica de
identidades de negros e índios como atores sociais partícipes do processo
de construção do País.

E isso é possível acontecer se existirem, no seio da sociedade,


políticas Públicas inúmeras e potentes, não somente as políticas públicas
educacionais, mas também as políticas afirmativas ostensivas de presença
negra e presença índia nas mídias, de assunção às esferas decisórias, de
cotas de vagas em escolas e, no caso dos negros, de quotas de empregos
nas diversas atividades econômicas.

Assim, antes de pensar nas Práticas pedagógicas é necessário a


luta ou a preservação, a depender do momento histórico que passa o país,
de algumas políticas educacionais, que contemple as especificidades
das populações afro-brasileiras e das populações indígenas. No caso
das populações indígenas, a questão do bilinguismo continua sendo uma
questão crucial. Isso significa manter a língua materna!

Não podemos falar em contemplar a diversidade cultural e as


diferenças étnico-raciais brasileiras, sem pensar em manter as línguas
maternas indígenas. Muitos povos indígenas conservam sua língua, mas
a tendência de perda é cada vez mais acentuada. Isso para falar em um
único seguimento de nossas diferenças, no recorte étnico-racial, com
foco nas línguas. Mas existem muitos outros!

Gersem dos Santos Luciano (2006), Gersem Baniwa, indígena


brasileiro, do Povo Indígena Baniwa, da Amazônia Brasileira, Doutor em
Antropologia, é escritor e professor universitário. Deu e continua dando
grande contribuição ao nosso país nos tempos em que atuou como
Conselheiro no Conselho Nacional de Educação (2006/2008 e 2016 a
2020). É possível aprender com Gersem Baniwa sobre diversidade cultural
e diferença étnico-racial indígena, ou mais apropriadamente diferenças.

Gersem Luciano, do Povo Indígena Baniwa (2008), fala sobre ser


falante de outras línguas, em um país que a maioria só fala uma única língua,
o português do Brasil. Declarando que os povos indígenas enfrentam a
Educação das Relações Étnico-Raciais 15

imposição de padrões, que vão da alimentação à língua. Somos obrigados


a aprender e a falar uma outra língua, muitas vezes abdicando de nossas
línguas, de nossas tradições e assim por diante (LUCIANO, 2008, p. 69).

Neste sentido, refletir sobre as diferenças e as diversidades culturais


visíveis e coexistindo com as intenções educativas dos professores, passam
por mudanças nas mentalidades dos educadores e pela instauração de
novas posturas, tolerantes as diferenças dos alunos. E, caminhar um
pouco mais além, saindo da leve aceitação, desta aparente situação de
tolerância para uma convivência mais partilhada da diversidade. Porque
uma coisa é tolerar alguém; outra coisa é conseguir compartilhar modos
de pensar, valores, conhecimentos e assim por diante.

As diferenças indígenas são representativas das diferentes culturas


dos povos que habitam e constituem o nosso país: olhar a diferença
não como um problema, mas como um valor, um enriquecimento da
sociedade brasileira (um patrimônio nacional).

Tratando das diferenças indígenas, Luciano (2006) defende que


a escola, que foi exaustivamente usada como um dos fundamentais
instrumentos durante a história do contato para descaracterizar e destruir as
culturas indígenas, possa vir a ser um instrumental decisivo na reconstrução
e na afirmação das identidades e dos projetos coletivos de vida.

Como distinguir os Povos Indígenas e suas grandes diferenças?


São povos que representam culturas, línguas,
conhecimentos e crenças únicas, e sua contribuição ao
patrimônio mundial – na arte, na música, nas tecnologias,
nas medicinas e em outras riquezas culturais – é incalculável.
Eles configuram uma enorme diversidade cultural, uma
vez que vivem em espaços geográficos, sociais e políticos
sumamente diferentes. (LUCIANO, 2006, p. 47)

O escritor e indígena Gersem Luciano explica que a diversidade


cultural de cada povo indígena, bem como a história de cada um deles
e os contextos e que vivem desenvolvem dificuldades para reduzi-los ou
enquadrá-los com uma só definição. Talvez exista no imaginário popular,
fruto do preconceito de que índio é tudo igual, servindo para diminuir o
16 Educação das Relações Étnico-Raciais

valor e a riqueza da diversidade cultural dos povos nativos e originários da


América continental (LUCIANO, 2006, p. 40).

Este autor, Gersem Luciano, do Povo Indígena Baniwa, reflete sobre


a realidade brasileira, com relação a diversidade cultural.

Isso explica a diversidade cultural e a diferença de uma das matrizes


do povo brasileiro, que são os Povos Indígenas, além da necessidade de
ouvir deles mesmos sobre eles mesmos e suas diversidades e diferenças.
A seguinte definição deles pode ser até uma lição que podemos usar para
definir a diversidade dos alunos: Eles mesmos, em geral, não aceitam
as tentativas exteriores de retratá-los e defendem como um princípio
fundamental o direito de se auto definirem.

Somente depois da promulgação da Constituição Cidadã, de 1988,


é que um novo tempo foi instituído no Brasil, com relação as garantias e
respeitos as diversidades culturais indígenas. Assim, inicia-se o terceiro
período, do Indigenismo Governamental Contemporâneo – pós 1988
(LUCIANO, 1988). Sendo que o fato acentuado de tal período teria sido,
segundo Luciano, a superação teórico-jurídica do princípio da tutela
dos povos indígenas por parte do Estado brasileiro (entendida como
incapacidade indígena) e o reconhecimento da diversidade cultural e da
organização política dos índio.

Os Povos Indígenas são sujeitos com direitos às diferenças. Mas


nem sempre isso é perceptível. Apesar de existirem 223 povos indígenas
no Brasil. Estes 223 diferentes povos não são idênticos, são povos
diferentes um do outro. Por que é diferente? Porque cada povo tem sua
língua própria, têm suas tradições próprias, sua mitologia própria, sua
cosmologia própria, que se distinguem das demais.

Já desde a largada dos portugueses e espanhóis dos portos


europeus, os planos não constituíam o respeito as diferenças e nem
muito menos à diversidade cultural. O projeto passava pela unificação e
domínio. Constitui-se um:
[...]projeto ambicioso de dominação cultural, econômica,
política e militar do mundo, ou seja, um projeto político
dos europeus, que os povos indígenas não conheciam e
não podiam adivinhar qual fosse. Eles não eram capazes
Educação das Relações Étnico-Raciais 17

de entender a lógica das disputas territoriais como parte


de um projeto político civilizatório, de caráter mundial e
centralizador, uma vez que só conheciam as experiências
dos conflitos territoriais intertribais e interlocais.(LUCIANO,
2006, p. 17)

O que aponta ainda, em pleno século XXI, com relação aos povos
indígenas, é que toda a história da colonização e até os dias atuais,
persiste uma danosa prática histórica, que permanece agindo para
manter a invisibilidade e o preconceito, contestando até os direitos dessas
coletividades indígenas.

Com relação a Diversidade Cultural, as diferenças e os


afrodescendentes, o povo negro brasileiros, os descendentes dos
africanos que viveram no Brasil na condição indigna de escravizados, é
impossível tocar nas suas singularidades sem tratar das relações racistas
produzidas no Brasil, nas quais o povo negro foi duramente atingido em
suas diferenças e identidades.

Este racismo foi sendo alimentado pela reafirmação da ambiguidade


do ser e não-ser, insistentemente presente nas mentes dos que tratam
desta questão, ou seja, da imprecisão de alguns quando tratam sobre a
realidade de racismo que o povo negro vive, no Brasil, entre outros povos
do Brasil que estão imersos na nossa realidade de pluralidade étnica.
Não há como falar sobre a participação do povo negro no
Brasil, a sua presença no complexo leque da Diversidade
Cultural brasileira, as diversas formas por meio das quais
esse grupo étnico-racial constrói sua identidade sem
considerar o contexto do racismo na sociedade brasileira.
(GOMES, 2008, p. 135)

Isso levará você a reflexão sobre as desigualdades que enfrentam


os afrodescendentes no Brasil, neste imenso país construído com os
esforços de seus ancestrais. O fato é que, a população negra do Brasil,
precisa lidar com suas diversidades culturais, com suas diferenças, e com
a persistência do racismo, a não-integração ou integração marginal do
negro na nossa sociedade, a cidadania precária e subalterna que permeia
a vida e a conquista dos direitos. São desigualdades históricas que
caminham lado a lado com a desigualdade socioeconômica, mas cada
18 Educação das Relações Étnico-Raciais

uma tem a sua forma de operar na cultura, na política, na educação, nos


contextos das relações de poder, na vida dos sujeitos sociais.

Algumas pessoas, não negras ou não identificadas com as lutas


em prol de igualdades de oportunidades, de parcela significativa do
povo negro e empobrecido, costumam maldizer as políticas afirmativas,
como as políticas de cotas raciais das universidades. Um dado estatístico,
revelado por pesquisas do IPEA, no fim do século XX, determina reflexões:
No ano de 1999, 98% deles não tinham ingressado na Universidade.

Isso demanda um olhar mais apurado. Com as políticas de Cotas


nas Universidades Públicas brasileiras, o quadro foi amenizado, passando
a ser de 12,8% a presença de jovens negros (pretos e pardos), na faixa
etária entre 18 e 24 anos, entre os que são estudantes matriculados em
instituições de ensino superior no Brasil. Pode representar um número
ainda ínfimo, mas mudanças ocorreram, graças às políticas afirmativas de
cotas.

A presença de estudantes negros, na totalidade da população


brasileira, foi ampliada de negros nas universidades, segundo dados
do ano de 2015, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Isso comprova que a presença nula mudou com a política de cotas, mas
poderá melhor ainda mais. É significativo revelar que, em 2018, no Brasil
mais de 19 milhões de pessoas se declaram pretas, segundo dados de
2019, divulgados pelo IBGE. Somando aos não declarados representam
grande contingente populacional.

É necessário refletir sobre os dados todos acima. Eles revelam que


é necessário investimento em políticas Públicas educacionais que tragam
um contingente cada vez maior de crianças, adolescentes e jovens negros
para dentro das escolas, nos mais diversos níveis da Educação Básica e
para a Universidade. Muitos avanços aconteceram e gigantescos passos
precisarão ser dados para superar todos estes séculos de desigualdade.
O país desafia com seus quadros acentuados de desigualdades, de
desníveis e com as suas precariedades nas políticas educacionais de
caráter universal.
Educação das Relações Étnico-Raciais 19

Elas não conseguem atingir de forma igualitária alguns


grupos específicos da nossa população. Essa situação
desvela uma das falácias do mito da democracia racial
brasileiro, ou seja, a crença de que negros e brancos
encontram-se em situação de harmonia e igualdade no
Brasil. Que harmonia? Que igualdade? O que os dados
estão dizendo? (GOMES, 2008, p. 137)

Sendo assim é muito importante garantir as necessárias e justas


mudanças educacionais e epistemológicas, ou seja, operando nas
formas como construímos o conhecimento, ou que práticas educativas
fazemos para as crianças construírem, e serem suficientemente capazes
de entender, considerar e afirmar, dentro das instituições educacionais,
que as ações dos negros como sujeitos políticos ao longo da História
poderá ser dar visibilidade às práticas culturais, políticas, educacionais e
organizativas do segmento negro da população brasileira.

Refletindo sobre a Diversidade Cultural e sobre às diferenças, nas


práticas pedagógicas, com os olhos nas diferenças étnico-raciais, do
Povo Negro Brasileiro, focando sobre a situação de gênero, pensando na
mulher negra professora, e nos negros que enfrentam suas diferenças
relacionadas as faixas geracionais, ligando com as realidades de
suas classes sociais, e não discriminando aqueles negros que são de
religiões afrodescendentes ou religiões de matriz africana, é necessário
promover seus direitos todos a diversidade cultural e suas diferenças. A
escola brasileira precisará avançar na sua intolerância com as diferenças
religiosas. As crianças sofrem e ainda são obrigadas a assistir aulas que
desconhecem seus cultos sagrados:
[...] Mais do que ‘tolerância religiosa’, o que se reivindica é
o reconhecimento, a aceitação e o respeito da diversidade
religiosa brasileira. As religiões de matriz africana têm
sofrido muitas pressões e discriminações. No entanto, a
organização dos praticantes dos cultos afro-brasileiros
tem ampliado e alcançado algumas vitórias políticas em
diferentes lugares do País.(GOMES, 2008, p. 143).

Sobre as relações entre a diversidade cultural e as diferenças


ambiental-ecológica, apontando como uma estratégia para tempos
difíceis de acentuadas mudanças climáticas, aquecimento global
com relevantes danos para a população mundial, com perspectivas
20 Educação das Relações Étnico-Raciais

de agravamento nas próximas décadas, segundo dados de cientistas


do clima, são necessárias reflexões. Qual seria o papel das práticas
pedagógicas, nas escolas brasileiras?

O mundo já vê estarrecido episódios que demandam novas


significações e novos contatos com a preservação ambiental-ecológica,
em uma aliança com a diversidade cultural e as diferenças dos diversos
povos que habitam o território brasileiro e que necessitam da terra para
produzir, além de alimentos, suas diversidades culturais. É o caso de
indígenas, quilombolas e demais pessoas e comunidades tradicionais
que vivem no Campo.

Recentemente chamaram a atenção nos lamentáveis episódios de


rompimentos de barragens em Minas Gerais (2019), os danos graves às
vidas das comunidades ribeirinhas, pescadores e povos indígenas de Minas
Gerais. Pensando no mundo todo são diversos episódios como incêndios
e mudanças drásticas no clima que criam a categoria de desabrigados
ambientais. Isso demanda reflexões significativas pela preservação dos
nossos ecossistemas, entre eles a Amazônia, onde habitam muitos dos
nossos povos indígenas.

A nossa diversidade cultural e o nosso pluralismo cultural prova


que não somos idênticos, ou seja, não somos iguais, somos diferentes,
carregamos diferenças, que aparecem em diversos formatos, nos
longos séculos de luta contra os projetos de unificação, propostos pelos
colonizadores da nossa América e de nosso Brasil. Já os colonizadores
portugueses não eram únicos, carregavam suas diferenças. Os povos
indígenas eram e são diversos. E os africanos eram idênticos, somente, na
condição indigna de escravização.

É evidente que Governos Federal, Estadual e Municipal, as


legislações eficazes e Políticas Públicas de Educação serão necessárias e
devem ser mantidas, a escola sozinha não pode realizar tão imprescindíveis
tarefas.

Já neste século foi proposto pelo Governo Federal, o Programa


Brasil Plural. Foi praticado pela Secretaria da Identidade e da Diversidade
Cultural, através do Ministério da Cultura, em 2004. É interessante
Educação das Relações Étnico-Raciais 21

analisar os pontos escolhidos para focar em tal programa, figuravam: a


valorização da diversidade das expressões culturais nacionais e regionais,
o fortalecimento da democracia, com igualdade de gênero, raça e etnia
e a cidadania com transparência, diálogo social e garantia dos direitos
humanos. Bem como a garantia de apoio, promoção e intercâmbio aos
grupos e redes de produtores culturais, manterem suas diversificadas
manifestações culturais, salvaguardando as qualidades identitárias (de
identidade, de diferença) por gênero, orientação sexual, grupos etários,
étnicos e da cultura popular.

Além de promover a identificação, preservação e valorização


dos patrimônios culturais brasileiros, assegurando sua integridade,
permanência, sustentabilidade e diversidade. Algo a ser pensado na
escola é uma condição de diferença e de portador de diversidade cultural
da criança ou do jovem com deficiência! As legislações avançaram! Os
educadores precisam entender e garantir a perfeita inclusão das pessoas
com deficiência.Toda uma legislação recente os salvaguarda na escola!

Todos estes elementos devem ser levados em consideração para


a realização de práticas pedagógicas que levem em conta a diversidade
cultural e as diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros,
faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais
(Crianças, adolescentes, jovens e adultos com deficiência), escolhas
sexuais, entre outras.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Vídeo -
Darcy Ribeiro narra no seu livro o Povo Brasileiro, a matriz
indígena. Acessível pelo link: https://www.youtube.com/
watch?v=3wNOuXwvSvk . E a matriz afrodescendente.
Acessível aqui.
22 Educação das Relações Étnico-Raciais

Figura 1: Brasileiros

Fonte: Wikimedia Commons

RESUMINDO:

Você foi capaz de refletir sobre o sobre a Diversidade


Cultural e sobre o respeito às relevantes diferenças,
inicialmente focando nas questões iniciais e essências
sobre diversidade e diferenças, nas práticas pedagógicas.
Por fim, você foi capaz de refletir sobre Diversidade Cultural
e sobre cada uma das seguintes diferenças, a saber,
ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, entre as
faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades
especiais (pessoas com deficiências), escolhas sexuais,
entre outras.
Educação das Relações Étnico-Raciais 23

Aplicando a Diversidade Cultural


Brasileira na Prática Docente
Você será capaz de aplicar a diversidade cultural brasileira
na prática docente, você vai entrar nas especificidades das práticas
docentes, nos saberes e fazeres docentes, sob o foco da presença da
diversidade cultural brasileira, levado pela indagação e como promovê-la,
no cotidiano escolar.

Aplicando a Diversidade Cultural


Brasileira na Prática Docente: Histórias,
pensamentos e conquistas
Quando você refletir sobre a relação entre Diversidade Cultural,
diferença e prática pedagógica, dentro das escolas, procure pensar que
as nossas diferenças e aquelas que aprendemos nas nossas casas, e
vemos desde pequenos, no contato com as nossas comunidades, não
devem ser naturalizados, nem romantizados e muito menos vistos como
ingênuos.

Não devemos aceitar que eles sejam sentidos ou teorizados


como algo que compense os maus tratos e todo o longo processo de
escravização do povo africano ou de desapropriação dos povos indígenas,
duas das nossas importantes matrizes, imersas nas nossas culturas e em
nossa diversidade cultural, demandando respeito aos seus direitos e
visibilidade.

E muito menos devemos amenizar as hibridizações contemporâneas


(algumas misturas que acabam por desqualificar e anular as marcas
constituintes de nossas culturas e de pertencimento dos povos negros
e indígenas brasileiros. Permitir isso impede perspectivas e atitudes mais
efetivas de proteção, promoção e articulação, dos legados de nossos
ancestrais negros, indígenas e europeus. Cada um destes agrupamentos
trouxe contribuições singulares e que devem ser preservadas.

É necessário admitir inicialmente que somente o desvendar desta


necessidade, movida por sentimentos que caminham pela trilha de uma
24 Educação das Relações Étnico-Raciais

reparação histórica de tantos silenciamentos diante de toda a diversidade


cultural brasileira e com as nossas mais distintas diferenças não vão mover
rapidamente a engrenagem que ficou parada e está enferrujada. É preciso
ir bem além da boa vontade, em sala de aula, e estabelecer um caminho,
mesmo que seja longo para desconstruir velhas:
[...] práticas geradas por estruturas de dominação colonial
de longo prazo, de produção da desigualdade a partir das
diferenças socioculturais, estas consideradas como signo
de inferioridade. Tal enunciação prescritiva da busca
de ‘novas posturas’ mal disfarça o exercício da violência
(adocicada que seja), única caução de uma ‘verdade’
também única e totalitária. É preciso ir bem mais adiante.
(LIMA, 2006, p. 13)

Isso fará você retornar a uma questão: o que as escolas e suas


práticas pedagógicas devem e podem fazer pela nossa diversidade
cultural, aliada às nossas diferenças, agindo de uma maneira que não
anulem e jamais destruam as nossas diferenças? E a resposta possível
é a defesa evidente que existe uma grande necessidade de educar para
a diversidade ou de uma educação para a diversidade entendida menos
como uma atitude de respeito passivo e mais como uma forma de estar
no mundo, em que a articulação das diferenças se configura como pré-
requisito ao desenvolvimento humano.

Há uma alternativa já antiga e conhecida pelos Povos Indígenas


do Brasil. É uma possibilidade de Educação diferenciada, que não
esconde nem nossas diversidades culturais e nem as nossas diferenças.
É a Educação intercultural focada em trazer os diversos elementos de
várias culturas, tais conhecimentos, valores e tradições, que se articulam
e se integram nas práticas cotidianas das pessoas, para o campo das
políticas de divulgação e de valorização da Diversidade Cultural e para
o dia-a-dia das pessoas, bem como das instituições escolares e das
nossas sociedades, mas nem sempre bem utilizadas. É bom destacar que
a interculturalidade não é inverter a relação desigual de discriminado a
discriminador, mas uma superação de qualquer forma de simetria nas
relações culturais entre indivíduos e sociedades.
Educação das Relações Étnico-Raciais 25

Existem pessoas que desconhecem a nossa diversidade cultural


brasileira e, ainda, ignoram e discriminam as nossas mais distintas
diferenças, diferenças ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros,
faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais,
escolhas sexuais, entre tantas outras.Já educadores precisarão conhecê-
las e respeitá-las muito bem!

A realidade social brasileira e nos demais Estados contemporâneos


está vinculada às diferenças socioculturais? Como podemos fazer com que
as escolas sejam espaços de aprender com as diferenças socioculturais e
todas as demais diferenças que brotem dentro das escolas? Como fazer
um cenário pedagógico que permitam dialogar com as diferenças e as
diversidades culturais já existentes, dentro das escolas? Como começar
este caminho? Como vencer os preconceitos e dissipar tanto racismo?

Sempre que uma realidade educacional inspira e respira


democraticamente práticas pedagógicas inclusivas, com respeito
às diferenças e as diversidade cultural, não se pode dizer apenas que
cumprem as legislações. Agem e são justos com a nossa história, ou mais
precisamente as nossas histórias e culturas dos diversos povos, nossas
intensas matrizes do povo brasileiro.

O Brasil não é ou não multicultural? É diverso? É sempre bom refletir


que:
[...] a multicultura brasileira reflete a rica pluralidade que
se manifesta na miscigenação de seu povo, na cor da
pele, nos costumes, na culinária, vestimentas, folclore,
comportamento etc. Todavia (e infelizmente) se reflete
também nas relações de poder e nas desigualdades entre
os privilegiados e os outros – as denominadas de forma
depreciativa ‘minorias’.(FERREIRA, 2015, p. 306)

Refletindo sobre a questão da Diversidade Cultural, das diferenças,


das identidades nas salas de aula, é possível afirmar palavras que remetem
à atualíssimas reflexões sobre estes temas que você está estudando
agora, diferenciando-as de formas antigas, ultrapassadas e superadas.

Depois de fazer suas considerações sobre os cenários desoladores


em que alojaram as nossas diversidades culturais no Brasil, ao longo da
26 Educação das Relações Étnico-Raciais

nossa história, desde a chegada dos portugueses, escondendo-as, assim


como se fosse possível àquilo recalcado, ocultado, não ser perceptível,
este projeto nacional de homogeneização (assim como se fosse fácil
misturar óleo e água), tal projeto de embranquecimento e destituição das
nossas diversidades e diferenças foi chegando às escolas, aos alunos,
montadas dentro das cabeças dos professores, presentes aos currículos,
mantidas como mentiras que parecem verdades nos nosso livros didáticos.
E com quais finalidades?

Para que os futuros professores, não indígenas e que desconhecem


a diversidade cultural e as diferenças dos povos indígenas, possam
falar deles com propriedades e sem preconceitos? Servirá para os que
são muito pouco ou pouco conhecedores da diversidade linguística,
dos modos de vida e das visões de mundo de povos de histórias tão
distintas como os que habitam o Brasil e que compõem um patrimônio
humano inigualável. E para que possamos construir uma escola aberta
às diferenças e a diversidade cultural que tenha por princípio elementar
o respeito à diferença, o cultivo da diversidade, a polifonia de tradições
e opiniões e que se paute pela tolerância, como tantos preconizam no
presente.

Com tais mentiras que pareciam verdades foram surgindo


explicações, que caracterizavam as nossas diferenças como nulas e
parecíamos menos complexos do que somos, menos diversificados
culturalmente do que somos, menos diferentes étnico-racialmente do que
somos. Foram mentindo sobre nós e estas mentiras pareciam verdades
de tanto serem repetidas. Então, uma tarefa surgiu como preponderante.
Era necessário tocar as mentes das pessoas para ver as invisibilidades,
diante de nossa diversidade cultural.

Estes desafios exteriores à sala de aula, são, concomitantemente,


desafios para dentro das salas de aula, relacionados aos temas da
diversidade cultural e das diferenças, que estão fora e dentro da escola.

O que podemos almejar como reconhecimento de nossas


diferenças? E quando falamos em diferenças designamos as individuais
e as coletivas. Queremos ver reconhecidas as nossas diferenças
coletivas e individuais como uma condição de cidadania quando as
Educação das Relações Étnico-Raciais 27

identidades diversas são reconhecidas como direitos civis e políticos,


consequentemente absorvidos pelos sistemas políticos e jurídicos no
âmbito do Estado Nacional.

Não devemos agir nas escolas, com relação aos modos diferentes
de alguns agrupamentos com relação à educação, como educam
seus filhos, com os mesmos parâmetros de análise equivocada dos
colonizadores portugueses. Eles achavam que somente as diferenças
deles eram boas, válidas e certas. E que somente os seus métodos para
educar eram os mais acertados.

A Educação é um direito social e um processo de desenvolvimento


humano, que demanda Políticas Públicas de Educação. Já nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997), a educação escolar corresponde a um
espaço sociocultural e institucional responsável pelo trato pedagógico
do conhecimento e da cultura. Historicamente, esta universalização do
direito à educação foi tardia no Brasil, mesmo depois da Proclamação da
República. O que necessariamente deve ser comemorado como fruto
das lutas populares e que resultaram nos avanços dos marcos legais da
educação Nacional, a partir de 1988, com a nova Constituição Federal,
carinhosa e esperançosamente chamada de Constituição Cidadã. Não
ocorreu sem lutas!

O Grande abolicionista, pensador e escritor negro brasileiro, Luiz


Gama nasceu em 1830, sua mãe Luiza Mahin era africana e estava na
condição de escravizada, Luiz Gama nasceu livre, e posteriormente foi
vendido pelo próprio pai, quando tinha dez anos. Nunca teve um diploma
universitário. Atuou nos tribunais e conseguiu com seus esforços libertar
mais de 500 pessoas negras, em condição de escravizados. Hábil leitor,
ele ia atrás das leis escravistas brasileiras, no século XIX, conseguindo
examinar saídas para a libertação de muitas pessoas, antes do fim da
escravidão, no Brasil.

Em uma carta de importante valor histórico, datada de 1880, um


pouco antes da assinatura do fim da escravidão no Brasil, declarou:
[...] Em 1847, contava eu 17 anos, quando para a casa do
sr. Cardoso, veio morar, como hóspede, para estudar
humanidades, tendo deixado a cidade de Campinas, onde
28 Educação das Relações Étnico-Raciais

morava, o menino Antônio Rodrigues do Prado Júnior, hoje


doutor em direito, ex-magistrado de elevados méritos, e
residente em Mogi-Guassu, onde é fazendeiro.

Fizemos amizade íntima, de irmãos diletos, e ele começou


a ensinar-me as primeiras letras.

Em 1848, sabendo eu ler e contar alguma cousa, e tendo


obtido ardilosa e secretamente provas inconcussas de
minha liberdade, retirei-me, fugindo, da casa do alferes
Antônio Pereira Cardoso, que aliás votava-me a maior
estima, e fui assentar praça.(MOURA; MOURA, 2004, p. 170)

No tempo em que serviu no exército, como praça, ele narra que


se fez copista (fazia cópias); escreveu para o escritório de um escrivão
tornando-se amigo dele. Ordenança dele, narrando que por meu caráter,
por minha atividade e por meu comportamento, conquistei a sua estima e
a sua proteção; e as boas lições de letras e de civismo, que conservo com
orgulho. Sem o direito universal a educação, tendo nascido livre, sendo
filho de uma africana escravizada, os dois eram lideranças da resistência
negra, a mãe e ele, Luiz Gama aprendeu a ler e as tarefas ligadas a um
exercício intelectual e unido as letras, graças aos amigos que foi fazendo
pela vida. Sua vida é exemplar da falta que as políticas públicas podem
fazer!

Lá pelo ano de 1856, ainda longe estava à abolição, após ter


servido no cargo de escrivão diante de muitas autoridades policiais,
conta fui nomeado amanuense da Secretaria de Polícia, onde servi até
1868, época em que ‘por turbulento e sedicioso’ fui demitido a ‘bem do
serviço público’, pelos conservadores, que então haviam subido ao poder.
(MOURA; MOURA, 2004, p.170).

Assim, por pura perseguição política e não por algum grave delito
no exercício de sua profissão. “Desde que me fiz soldado, comecei a ser
homem; porque até os 10 anos fui criança; dos 10 aos 18, fui soldado.
Fiz versos; escrevi para muitos jornais; colaborei em outros literários e
políticos, e redigi alguns”.(MOURA; MOURA, 2004, p. 170). Um renovado
intelectual brasileiro, do século XIX, Luiz Gama lutou muito pelos direitos
dos afrodescendentes.
Educação das Relações Étnico-Raciais 29

Uma escola pública que aplicasse a Diversidade Cultural Brasileira


na Prática Docente, fez falta à vida do menino Luiz Gama, lá no século
XIX!O fato é que no decorrer das últimas décadas o século XX e das
duas primeiras décadas do século XXI, a sociedade civil organizada e os
Governos Federal, Estaduais e Municipais brasileiros organizaram pujante
conjunto de marcos legais e de políticas públicas, focadas nas diferenças
étnico-raciais e na diversidade cultural brasileira. Para que as escolas
e as práticas docentes possam ser inclusivas e não ocultar ou insultar
as nossas diferenças e nossas diversidades culturais, serão necessárias
mudanças íntimas (na subjetividade de cada educador) e também
externas ou sociais nos currículos, nas metodologias, na avaliação e na
relação com a comunidade em seu entorno, na formação docente, entre
tantas outras questões.

No caso das práticas pedagógicas é necessário se debruçar


sobre todas as ausências como, por exemplo, a ausência do negro no
livro didático, a ausência de mulheres negras na política, a ausência dos
negros nos cargos de poder, entre outros, são formas de exclusão e de
não-existência ativamente. Estas ausências do povo negro, com sua
diversidade cultural e suas diferenças foram, perversamente, produzidas,
dentro da realidade brasileira e nos contextos histórico, político, cultural
e educacional. Ou seja, elas foram produzidas conquanto tais. Essas
ausências também podem ser encontradas no campo epistemológico,
como, por exemplo, na própria produção do conhecimento.

Quanto à questão da diversidade cultural dos povos indígenas, a


Constituição Federal de 1988 representou um divisor de águas de um
processo longo de exclusão das diversidades culturais e diferenças entre
os mais de 200 povos indígenas brasileiros. Isso operou uma ruptura com
um modelo excludente, já existente desde o início da República brasileira
(1889), baseada em uma política extremamente etnocida (voltada a
exterminar os povos indígenas), repressiva e genocida.

O que operava era uma política determinada de negação e de


banimento dessa Diversidade Cultural. Passamos mais de quatro séculos
em que a política oficial dos dirigentes, seja no período colonial ou pós-
30 Educação das Relações Étnico-Raciais

colonial, distinguia negativamente essas pessoas e grupos, física e


culturalmente.

Uma primeira iniciativa neste sentido foram os Parâmetros


Curriculares Nacional (1997), diversidade cultural figura entre os temas
transversais. De lá para cá, as demandas para a escola que levem em
conta a diversidade cultural e a diferença de cada povo indígena passa
por vê-la, a escola, como um ‘contexto’:
[...] um lugar onde a relação entre os conhecimentos
tradicionais e os novos conhecimentos científicos e
tecnológicos deverão articular-se de forma equilibrada,
além de ser uma possibilidade de informação a respeito da
sociedade nacional, facilitando o ‘diálogo intercultural’ e a
construção de relações igualitárias – fundamentadas
no respeito, no reconhecimento e na valorização das
diferenças culturais – entre os povos indígenas, a
sociedade civil e o Estado. (LUCIANO, 2006, p. 148)

Os Parâmetros curriculares Nacionais/PCN’s representaram apenas


um ponta pé em uma história de silenciamentos e exclusões as matrizes
dos povos brasileiros. Pois nem existe uma só cultura, existem diversas
culturas e elas se encontram dentro da escola. Além da escola e o currículo
dela assumirem que as crianças representam muitas culturas diferentes,
é preciso ir além. É necessário reconhecer a cultura docente, do aluno e
da comunidade, a presença da cultura escolar, mas não questiona o lugar
que a diversidade de culturas ocupa na escola. Mais do que múltiplas, as
culturas diferem entre si.

Refletindo sobre a aplicação da Diversidade Cultural e das


diferenças, nas práticas pedagógicas, com os olhos nas diferenças étnico-
raciais, do Povo Negro Brasileiro, discutindo as questões de gênero,
pensando na exclusão da mulher negra ou do homossexual de qualquer
etnia, e nos desafios geracionais dos negros, na velhice da população
negra, ou nos desafios dos adultos e idosos que vão aprender a escrever
e ler, nas salas de Educação de Jovens e adultos, entendendo o desejo
do jovem negro de chegar na universidade, entendendo-os de dentro de
suas realidades sociais e classes sociais, e não perseguindo os negros
que são de religiões afrodescendentes ou religiões de matriz africana,
muitos avanços precisarão acontecer nas escolas.
Educação das Relações Étnico-Raciais 31

E isso configurou campos de lutas antigas dos negros, nos seus


debates sobre a diversidade cultural, no campo minado das desigualdades
brasileiras, a ponto de transformar e re-semantizar suas reivindicações,
hoje, em políticas de ações afirmativas. Faz-se necessário compreender o
caráter radical e emancipatório de tais políticas.

Refletir sobre as aplicações da diversidade nas práticas pedagógicas


para o povo negro é se deparar com:
[...] um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter
compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com
vistas ao combate à discriminação racial, de gênero e
de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos
presentes da discriminação praticada no passado, tendo
por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade
de acesso a bens fundamentais como educação e
emprego.(GOMES, 2001, p. 40)

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: As
Dimensões da Diversidade Cultural Brasileira. Acessível aqui.

Figura 2: Encontro Afro-latino em Salvador

Fonte: Wikimedia Commons


32 Educação das Relações Étnico-Raciais

Aplicando a Diversidade Cultural


Brasileira na Prática Docente: Refletindo
sobre o futuro do respeito às diferenças
Aplicando a diversidade cultural brasileira na prática docente, você
poderá perceber as conquistas das lutas e o que poderá ser fruto no
futuro. E o que mudou e com ainda poderá mudar para ser mais justo?
Já existem muitas iniciativas e muitas outras precisarão continuar sendo
aplicadas. E que avancemos com políticas Públicas Educacionais e com
práticas inclusivas!

Diferentes daquelas políticas antidiscriminatórias, que atendem a


criança, o jovem, a mulher, o homem, o idoso, ou ainda o membro de
uma comunidade de Religião de Matriz Africana, baseadas em lei de
conteúdo meramente proibitivo, que se singularizam por oferecerem
às respectivas vítimas tão somente instrumentos jurídicos de caráter
reparatório e de intervenção, tão recorrentes na televisão e nos jornais, de
fatos tão devastadores, racistas, intolerantes e que acabam na frente de
um delegado de polícia, com o simples pagamento de uma fiança.

Ir além é preciso! O que a escola deverá buscar, conquistar e


efetivar são as ações afirmativas. E o que são ações afirmativas? As ações
afirmativas
[...]têm natureza multifacetária e visam evitar que a
discriminação se verifique nas formas usualmente
conhecidas – isto é, formalmente, por meio de normas de
aplicação geral ou específica, ou através de mecanismos
informais, difusos, estruturais, enraizados nas práticas
culturais e no imaginário coletivo. (Gomes 2001, p. 41)

A questão a ser considerada é se as Práticas Pedagógicas também


foram transformadas essencialmente. O que é necessário refletir é se as
práticas Pedagógicas aplicam a Diversidade Cultural Brasileira, e isso faz
sentido nas práticas dos educadores de crianças, adolescentes e jovens
que chegam na escola, fora da faixa etária determinada para cursar os
seus primeiros anos escolares, sem os discriminar por suas diferenças e
levando em conta as suas diversidades culturais? As práticas Pedagógicas
Educação das Relações Étnico-Raciais 33

que se intitulam como iguais para todos seriam ou não mais ou menos
discriminatórias? Segundo Gomes acabariam por ser mais discriminatórias.
Essa afirmação pode parecer paradoxal, mas, dependendo do discurso e
da prática desenvolvida, pode-se incorrer no erro da homogeneização em
detrimento do reconhecimento das diferenças.

É fundamental entender que a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação/LDBEN Nacional determina um cenário de garantias legais
para aplicar a diversidade cultura, nas práticas docentes. Caso professor
queira? Caso ele não tenha nenhuma oposição a esta lei? Não! É um
marco legal a ser respeitado!

O fato é que já escorridos tantos anos, desde a homologação da


LDBEN (BRASL, 1996), apresenta-se um desacerto entre a lei e as práticas
docentes. Muitos educadores continuam sem entender que as diversidades
culturais, em sala de aula, dependem da boa vontade deles. E isso implica
em abandonar práticas docentes retrógradas, conservadoras e centradas
nas construções de cultura e de diversidade que permeiam o grupamento
social ao qual determinados educadores pertencem, que parece anular
as necessidades de emancipação, e de oferecer experiências educativas
que impulsionem os alunos para o futuro, passando pelos legados dos
seus antepassados. As matrizes indígena e negra é de todos nós!

O professor deve aplicar a Diversidade Cultural Brasileira na Prática


Docente, a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais, de iniciativas do
Conselho Nacional de Educação/CNE e do Ministério da Educação/MEC,
para promover a Educação das Relações Étnico-Raciais, que poderá
acontecer em iniciativas, firmadas em marcos legais, como no Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e indígena, apoiados em
princípios como Socialização e visibilidade da cultura negro-africana e
indígena.

Passando, inicialmente, pela sensibilização dos professores para


a importância de aplicar a diversidade cultural brasileira, que envolve
a Formação de professores com vistas à sensibilização e à construção
de estratégias para melhor equacionar questões ligadas ao combate
às discriminações racial e de gênero e à homofobia. Ainda que tais
34 Educação das Relações Étnico-Raciais

diversidades não sejam familiares aos educadores, mas é bom lembrar


que são reais aos diversificados alunos que encontram pelo caminho.

Aplicando a diversidade cultural brasileira na prática docente, vai


demandar a construção de material didático-pedagógico que contemple
a diversidade étnico-racial na escola. Perpassando pela importante
valorização de diversificados saberes, construídas no âmbito da
diversidade cultural dos povos que constituíram o povo brasileiro. O que
passa pela Valorização das identidades presentes nas escolas, sem deixar
de lado esse esforço nos momentos de festas e comemorações. Isso
significa abrir a escola para a vida comunitária, onde podem estar muitos
grupos diversificados e artísticos que dançam ou encenam elementos
constitutivos da nossa memória oral brasileira, chamados por alguns
como folclóricas, parte integrante da nossa vibrante diversidade cultural
tradicional. Isso traz elementos suficientes para compor um cotidiano
escolar com pesquisa, aprendizagem e envolvimento das crianças.

Aos que pretendem aplicar a diversidade cultural na prática docente


na educação Infantil, em que currículos, bases e parâmetros curriculares
já focam no Cuidar e Educar, é necessário planejar e ao mesmo tempo
questionar as escolhas pautadas em padrões dominantes que reforçam
os preconceitos e os estereótipos. Isso vai exigir que sejam elencados,
construídos ou recuperados princípios para os cuidados embasados em
valores éticos, nos quais atitudes racistas e preconceituosas não podem
ser admitidas. Nessa direção, a observação atenciosa de suas próprias,
o que requer um desejo e um cuidado em promover práticas e atitudes
podem permitir às educadoras rever suas posturas e readequá-las em
dimensões não-racistas.

É interessante que o educador infantil, embutido na tarefa de aplicar


a diversidade cultural na sua ação docente, que ele queira aprender sobre
as construções epistemológicas dos diversos grupamentos que formaram
o povo brasileiro (destacando duas matrizes bem importantes, o negro e o
indígena). Como eles definem o processo de aprender? Como os grupos de
manifestações da cultura popular tradicional costumam ensinar aos seus
novos membros dos grupos? Que metodologias estão contidas nelas? E
aprender com eles! É bom lembrar que para aprender é necessário que
Educação das Relações Étnico-Raciais 35

alguém mais experiente, em geral mais velho, se disponha a demonstrar,


a acompanhar a realização de tarefas, sem interferir, a aprovar o resultado
ou a exigir que seja refeita.

Talvez seja necessário, no combate aos racismos e preconceitos,


trazer as manifestações da diversidade cultural daqueles que são atingidos
por vitimizações, sejam por preconceitos étnico-raciais, ou outros
relacionados a origem e até ao fato de viver em uma família incomum
aos modelos burgueses, como grande parte das crianças brasileiras, que
vivem em uma sociedade ainda submetida a um acentuado machismo,
com maioria de votantes mulheres e grande número delas são as chefes de
família. Bem como as famílias que surgem em casamentos entre pessoas
do mesmo sexo. É necessário vencer os preconceitos embutidos em sua
postura, linguagem e prática escolar; reestruturar seu envolvimento e se
comprometer com a perspectiva multicultural da educação. O professor,
atento às diferenças, deverá buscar na história e na cultura de cada criança
e poderá responder suas indagações sobre como agir.

É necessário que o professor entenda e aceite as diversidades!

Na recente e homologada Base Nacional Comum Curricular/BNCC


(2018), configura como uma das Competências da Educação Básica (para
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio):
[...] Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais
e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe
possibilitem entender as relações próprias do mundo
do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício
da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade,
autonomia, consciência crítica e responsabilidade (BRASIL,
2018, p.09).

Na Educação Infantil, a BNCC recomenda que a escola precisa


conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/
diversidade cultural das famílias e da comunidade. Já no Ensino
Fundamental, a BNCC recomenda uma atenção mútua, imbricada à
questão dos multiletramentos, essa proposta considera, como uma de
suas premissas, a diversidade cultural. A BNCC ressalta sobre a temática
da diversidade cultural o fato de mais de 250 línguas são faladas no país.
Indígenas, de imigração, de sinais, crioulas e afro-brasileiras, além do
36 Educação das Relações Étnico-Raciais

português e de suas variedades. Esse patrimônio cultural e linguístico é


desconhecido por grande parte da população brasileira. E, ainda, indica
para considerar a temática diversidade cultural, abrangendo formas e
produções de expressão várias e distintas, a literatura infantil e juvenil, o
cânone, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, as
culturas juvenis etc., de forma a garantir ampliação de repertório, além de
interação e trato com o diferente.

Do 1.º ao 5.º ano do Ensino Fundamental, no ensino da Língua


Portuguesa, a BNCC (BRADIL, 2018) recomenda, no Campo Artístico-
Literário, vinculado a leitura, a fruição e produção de textos literários e
artísticos, uma atenção a textos que bem representem a diversidade
cultural e linguística, que favoreçam experiências estéticas. Alguns
gêneros deste campo: lendas, mitos, fábulas, contos, crônicas, canção,
poemas, poemas visuais, cordéis, quadrinhos, tirinhas, charge/cartum,
dentre outros.

Configurando ainda, no Ensino da Geografia no 4.º ano, o tema


Território e diversidade cultural, e no 5.º ano, Diferenças étnico-raciais e
étnico-culturais e desigualdades sociais. Na área de Ciências Humanas,
no Ensino Fundamental configura a valorização e temas como os direitos
humanos, respeito ao ambiente e à coletividade, fortalecendo os valores
sociais, tais como a solidariedade, a participação e o protagonismo
voltados para o bem comum; e, sobretudo, a preocupação com as
desigualdades sociais. Sendo assim a atuação do pedagogo, nas escolas,
fará obrigatoriamente encontros com o tema da diversidade cultural.

E, configura como competência específica de Ciências Humanas


para todo o Ensino Fundamental, refletir sobre atividades que façam o
aluno compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma
a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os
direitos humanos.

Assim, esta última e as demais demandas da BNCC (BRASIL, 2018)


configuram um foco em aplicar a Diversidade Cultural Brasileira na Prática
Docente, aberta a aplicação da diversidade cultural nas escolas. Isso
não se deu por simples decisão dos seus elaboradores, foi fruto de lutas
constantes da sociedade civil organizada, dos povos negros, indígenas,
Educação das Relações Étnico-Raciais 37

que vivem nos campos e nas comunidades mais empobrecidas e


historicamente excluídas dos antigos currículos, desde a colonização até
a república. O futuro é a diversidade cultural, assim como já era o nosso
silenciado passado para a grande maioria da população brasileira. Sendo
assim ser contemplada!

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o


acesso às seguintes fontes de consulta e aprofundamento:
Artigo:Educação, diferença, diversidade e desigualdade
(páginas 13 a 15). Acessível pelo link:http://estatico.cnpq.
br/portal/premios/2014/ig/pdf/genero_diversidade_
escola_2009.pdf Vídeo:A Invenção do Brasil genética,
técnica e simbólica continua. Acessível aqui.

RESUMINDO:

você foi capaz de focar sobre a aplicação da Diversidade


Cultural na Prática pedagógica, propiciando importantes
aprendizagens de como conciliar as Diversidades
Culturais Brasileiras em sala de aula, não discriminando-
as, e promovendo-as. Neste percurso foi possível
percorrer algumas Histórias, pensamentos e conquistas.
Conquistando, assim, um futuro de respeito às diferenças.
38 Educação das Relações Étnico-Raciais

Desenvolvendo uma Prática Pedagógica


que contemple o Outro e suas Semelhanças
e Diferenças
Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e
suas Semelhanças e Diferenças, isso significa lidar com o singular e as
singularidades, com aquilo que é ou nos parece ser intraduzível (sem
tradução para nossos sentimentos e pensamentos).

E, também, com aquilo que toca na nossa capacidade e na


capacidade do Outro de diferir, no direito de diferir, bem como a expressão
do universal, de uma ética e de um conjunto de direitos humanos.
Simultaneamente uma coisa e outra, é nessa tensão de opostos que sua
realidade se revela rica, dinâmica e desafiadora.

E diferir (em português) é originada da palavra difere, que podemos


traduzir como ‘dispensar’ e ainda ‘Ser diferente’. Sendo assim está a se
tratar sobre a diferença. Bem como do nosso direito de sermos diferentes
uns dos outros. E de sermos divergentes um do outro e de possuirmos
opiniões diversas.
E mais: somos desafiados pela própria experiência humana
a aprender a conviver com as diferenças. O nosso grande
desafio está em desenvolver uma postura ética de não
hierarquizar as diferenças e entender que nenhum grupo
humano e social é melhor ou pior do que outro. Na
realidade, somos diferentes. (GOMES, p.22)

A história brasileira é uma luta constante de tais grupos para terem


suas diversidades culturais e diferenças respeitadas, em espaços como a
escola, a educação nacional é excludente às diferenças e a diversidade
cultural desde a chegada dos primeiros jesuítas.

Pensar na diversidade cultural, no respeito as diferenças, com a


responsabilidade de desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple
o Outro e suas Semelhanças e Diferenças demanda o reconhecimento
das diferenças é, acima de tudo, uma condição para o diálogo, e, portanto,
para a construção de uma união mais ampla de pessoas diferentes.
Educação das Relações Étnico-Raciais 39

Pensar em como desenvolver uma Prática Pedagógica que


contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças é assegurar
que o educador seja visto como o Sujeito do processo educacional, e
concomitantemente, seja visto como o aprendiz da temática e mediador
entre o/a aluno/a e o objeto da aprendizagem, no caso, os conteúdos
da história e cultura afro-brasileira e africana, bem como a educação das
relações étnico-raciais, bem como estudar a história e cultura indígena
e dos povos europeus e asiáticos que vieram viver no Brasil, a partir do
século XVI.

As práticas pedagógicas devem ser desenvolvidas, objetivando


que os educandos sejam capazes de sentir e entender o outro, naquilo
que ele é diferente ou semelhante a ele mesmo. O que se deve querer é
o diálogo salutar entre as diferenças e as semelhanças, nunca deverá ser
a indiferença com a dessemelhança do outro. Nem a zombaria, escárnio
e discriminação em sala de aula. A escola deverá ser o lugar dos diálogos
das diferenças!

As buscas devem ser centradas em desenvolver Práticas


Pedagógicas que contemple o Outro e suas Semelhanças e Diferenças,
modificando-os neste contato, em sala de aula, fazendo-os melhores
pessoas com as suas semelhanças e diferenças, que nunca podem ser
vistas como muros que separam as pessoas. O importante é desenvolver
Práticas Pedagógicas que não coloquem nenhum aluno na situação de
invisibilidade ou escárnio, por qualquer tipo de diferença que habite em
sua subjetividade, interioridade e exterioridade, e que promovam e:
[...] reverenciem o princípio da integração, reconhecendo
a importância de se conviver e aprender com as
diferenças, promovendo atividades em que as trocas
sejam privilegiadas e estimuladas. Que reconheçam
a interdependência entre corpo, emoção e cognição
no ato de aprender. Que privilegiem a ação em grupo,
com propostas de trabalho vivenciadas coletivamente
(docentes e discentes), levando em conta a singularidade
individual. Que rompam com a visão compartimentada dos
conteúdos escolares. (BRASIL, 2006, p. 68)

Isso deverá acontecer no âmbito das mais diversas práticas


escolares. Haverá sempre algo a aprender com as dessemelhanças do
40 Educação das Relações Étnico-Raciais

outro e a ensinar com as nossas diferenças. E, sempre é possível descobrir


semelhanças por sermos todos membros de uma só raça, a raça humana.

Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e


suas Semelhanças e Diferenças, nem sempre foi fácil no Brasil e continua
representando um campo tremendo de lutas contra estereótipos, contra
preconceitos e contra o desconhecimento da maioria da população brasileira
sobre a real formação do povo brasileiro. Por isso, desde a redemocratização,
nas últimas décadas do século XX muitos agrupamentos travaram suas
grandes batalhas, entre eles negros, indígenas e homossexuais. Esta história
de mobilização afetou a sala de aula, tornado a escola como espaço de
inclusão e repensar de nossas intolerâncias e preconceitos.

O que foi conquistado até o fim das duas primeiras décadas do


século XXI apontam para o repensar dos currículos e a necessidade
de repensar as formações docentes iniciais e continuadas, além de
transformar o cotidiano da sala de aula, nas suas práticas pedagógicas
que precisarão ser intensamente inclusivas, na sociedade movida pela
diversidade cultural que é o Brasil. Foi necessário redescobrir os sujeitos
e valorizá-los.
Um bom caminho para repensar as propostas curriculares
para infância, adolescência, juventude e vida adulta
poderá ser uma orientação que tenha como foco os
sujeitos da educação. A grande questão é: como o
conhecimento escolar poderá contribuir para o pleno
desenvolvimento humano dos sujeitos? Não se trata de
negar a importância do conhecimento escolar, mas de
abolir o equívoco histórico da escola e da educação de
ter como foco prioritariamente os ‘conteúdos’ e não os
sujeitos do processo educativo.(GOMES, 2007, p. 33)

Desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple o Outro e


suas Semelhanças e Diferenças, demandou que a diversidade cultural
brasileira indagasse os currículos, escolas, professores e suas práticas
sobre muitas questões. Entre elas configurou o ordenamento temporal.
Existem realidades distantes das grandes cidades em que eventos
significativos de uma cultura mobilizam forças coletivas e a presença
das crianças na escola precisa ser equacionada em tais ocasiões. São
festividades dos povos indígenas ou dos quilombolas, entre outros povos
Educação das Relações Étnico-Raciais 41

que vivem no campo. São tempos de colheitas no campo! Repensar


ordenamentos temporais garante o direito de todos à educação. As
pesquisas educacionais mostram que a rigidez desse ordenamento é
uma das causas do abandono escolar de coletivos sociais considerados
como mais vulneráveis.

Além disso, esta prática pedagógica exigiu que além do currículo,


escola, lógicas, organização espacial e temporal, também mudassem as
pessoas todas que fazem a escola: Professores, diretores, coordenadores,
alunos, funcionários e a relação com os mais varados grupos que estão
localizados no entorno da escola e que são significativos em aprendizagem
sobre as semelhanças e diferenças dos povos brasileiros. São frutos da
inter-relação entre escola, sociedade e cultura e, mais precisamente, da
relação entre escola e movimentos sociais.

Isso não se faz somente nas festas mais significativas do povo


brasileiro e assumidas pelos mais diversos grupos, muitas vezes
localizados tão próximos da escola e desconhecidos dentro dela. Mas
também nas festas! Trazê-los para apresentações dentro da escola,
entrevistá-los com os alunos, promovê-los em muitas ocasiões e escrever
suas histórias representam tomar posições contra as diversas formas de
dominação, exclusão e discriminação. É entender a educação como um
direito social e o respeito à diversidade no interior de um campo político.

É necessário levar em conta que as Práticas Pedagógicas não devem


impedir o diálogo com o desconhecido outro, em suas Semelhanças e
nas Diferenças. Muitas vezes o aluno vive em uma família muito distinta da
família de seus colegas e da professora. Existem crianças com diversidade
de credos religiosos, de comportamentos e de filosofias de vida. Diferentes
arranjos familiares e afetivos são cada vez mais presentes. Situações que,
por não sabermos lidar, acabam causando angústias e incompreensões.

Isso precisa levar para adiante do impasse e ser revertido por


práticas inclusivas e que estabeleçam o diálogo entre as diferenças e
semelhanças. O salutar exercício da escuta e da tolerância do ‘outro’ é um
aprendizado que nunca acaba, mas, para começar, precisamos nos dispor
a ouvir antes de emitir nossos julgamentos, antes de rotular, classificar
e ter um pouco mais de cautela antes de afirmar que algo é errado ou
42 Educação das Relações Étnico-Raciais

certo, conveniente ou inapropriado. Em muitas ocasiões, será necessário


que o professor abra mão de suas certezas e ideais de criança, jovem
e adulto, para ver somente outros tipos de configurações familiares e
modos singulares de vestir, de arrumar o cabelo, de coloridas roupas, de
cultos e de vinculações culturais tão distintas daquela professora e que
merecem ser respeitadas.

Um aluno que se comporta de uma maneira diferente é somente


um ser que demanda um tratamento na condição de igualdade diante
dos outros, ou seja, uma igualdade que se orienta pelo direito de ser
diferente (diverso), e não desigual. E isso remete a que não se confunda
diversidade com desigualdade, já que a primeira diz respeito à qualidade
de organizar-se de forma particular, e a segunda, às mazelas produzidas
por uma sociedade desigual.

É importante garantir que os encontros entre as nossas diferenças


e semelhanças, nas horas das práticas Pedagógicas, possam contribuir
para que cada criança solidifique as suas identidades, não que elas sejam
inaudíveis, ou sejam caladas. A identidade se constrói dentro do próprio
grupo e se faz a partir de uma relação de alteridade. Ou seja, ela necessita
do ‘outro’ para poder se definir, é como se identifica um perfil identitário:
pelos opostos. Isso configura a necessidade da criação e atividades, no
cotidiano escolar que mostrem as identidades mais diferenciadas que
compõem a escola, de um modo festivo, comemorativo e vistos todos
com respeito e a consideração que eles trazem nas suas construções.
Uma boa tarefa é catalogar as diferenças, nos seus modos de comer,
festejar, existir e resistir.

Algo bem importante é não alimentar dualismos, dos bons contra


os maus, do bem contra o mal, nas práticas pedagógicas, que devem
dialogar comas diferenças e semelhanças, lutando contra uma concepção
das relações de gênero em que o polo masculino sempre detém o poder
e o feminino é desprovido de poder — daí a necessidade de ‘fortalecer’ ou
de ‘dar poder’ às mulheres(LOURO, 2003, p. 115). É preciso ter consciência
que os casos de feminicídio vem aumentando no Brasil. No final da década
passada, no 1.º semestre de 2019 aumentou em 44%, no estado de São
Paulo, segundo dados amplamente divulgados pela imprensa. Os anos de
Educação das Relações Étnico-Raciais 43

escolaridade poderão ser positivos na construção de convivência pacífica


e construtiva com as nossas diferenças múltiplas sejam de gênero, étnica,
de origem e outras.

As meninas e mulheres representam já uma considerável maioria nas


escolas. A grande maioria das professoras da Educação infantil e Ensino
Fundamental são mulheres. Isso deverá ser mais um elemento motivador
de um cuidado para não impor discursos retrógrados, sexistas, machistas
e que discriminam as meninas, dentro das práticas pedagógicas.

Outro fator relevante é não criar práticas pedagógicas que


discriminem os homossexuais e bissexuais (reconhecidamente vitimados
pela homofobia). As desigualdades só poderão ser percebidas — e
desestabilizadas e subvertidas — na medida em que estivermos atentas/
os para suas formas de produção e reprodução.

Desenvolvendo uma Prática Pedagógica que contemple o


Outro e suas Semelhanças e Diferenças, requer que os educadores e
as educadoras inventem e solicitem a participação das meninas e dos
meninos para que apareçam:
[...] formas novas de dividir os grupos para os jogos ou
para os trabalhos; promovendo discussões sobre as
representações encontradas nos livros didáticos ou nos
jornais, revistas e filmes consumidos pelas/os estudantes;
produzindo novos textos, não-sexistas e não-racistas;
investigando os grupos e os sujeitos ausentes nos relatos
da História oficial, nos textos literários, nos ‘modelos’
familiares; acolhendo no interior da sala de aula as culturas
juvenis, especialmente em suas construções sobre gênero,
sexualidade, etnia, etc. Aparentemente circunscritas ou
limitadas a práticas escolares particulares, essas ações
podem contribuir para perturbar certezas, para ensinar a
crítica e a autocrítica (um dos legados mais significativos
do feminismo), para desalojar as hierarquias.(LOURO, 2003,
p. 124)

Aos educadores e educadoras caberá o desafio de fazer com


que as diferenças geracionais entre eles e as crianças, adolescentes,
matriculados nas instâncias da Educação Básica, e ainda aqueles, jovens
que estão matriculados na Educação de Jovens e Adultos, não sejam
empecilhos para um diálogo saudável, respeitoso e construtivo, entre as
44 Educação das Relações Étnico-Raciais

antigas e as contemporâneas formas, entre os diferentes modos de pesar


das gerações dos professores e professoras e das novas gerações sobre
os significados antigos e as novas construções, mais contemporâneas,
trazendo novas concepções sobre gênero, sexualidade e etnia. É relevante
lembrar que as crianças e adolescentes com deficiências precisarão ser
atendidos em suas diferenças e com intenções e práticas inclusivas,
nunca com exclusões.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


às seguintes fontes de consulta e aprofundamento: Artigo:
Módulo IV: Relações Étnico-Raciais | Unidade III | Texto
I | Escola sem cor, num país de diferentes raças e etnias.
Acessível aqui.

Figura 3: Congada em Silvanópolis, Minas Gerais

Fonte: Wikimedia Commons


Educação das Relações Étnico-Raciais 45

RESUMINDO:

você foi capaz de refletir sobre como desenvolver uma Prática


Pedagógica que contemple o Outro e suas Semelhanças e
Diferenças, levando em conta e abrigando em sala de aula as
diversificadas culturas infantis, adolescentes e juvenis, bem
como suas novas formas e próprias as suas gerações de
significar e construir novas e contemporâneas concepções
sobre gênero, sexualidade, etnia
46 Educação das Relações Étnico-Raciais

Avaliando a Necessidade de Repensar o


Papel do Educador diante da Diversidade
Cultural
Avaliando a necessidade de repensar o papel do educador diante
da diversidade cultural, você será capaz de refletir sobre as mudanças
necessárias na figura do educador e da educadora para que a educação
como uma prática de diversidade cultural aconteça plenamente.

O ponto de largada, na reflexão sobre as mudanças necessárias


no Papel do Educador, diante da Diversidade Cultural e promovendo-a
em sala de aula, passa pela própria formação inicial e pelas formações
posteriores da saída deste educador da universidade e de suas vivências
em sala de aula.
A formação de professores/as para a diversidade não
significa a criação de uma ‘consciência da diversidade,
antes, ela resulta na propiciação de espaços, discussões e
vivências em que se compreenda a estreita relação entre
a diversidade étnico-cultural, a subjetividade e a inserção
social do professor e da professora, os quais, por sua vez,
se prepararão para conhecer essa mesma relação na
vida de seus alunos e alunas.(GOMES e GONÇALVES e
SILVA,2003, p. 28)

Avaliando a necessidade de repensar o papel do educador, diante


do seu compromisso necessário com a Diversidade Cultural dentro
da escola e em sala de aula, é necessário pensar na formação deste
profissional que a legislação afirma como o responsável pelos primeiros
anos da chegada das crianças nas escolas, na Educação Infantil e na 1.ª
parte do Ensino Fundamental. O que devemos almejar é que a formação
dos futuros pedagogos contemple e faça emergir melhores e mais
conscientes educadores e que sejam capazes de examinar e refletir
sobre suas práticas, desejosos de modificá-las. E possam fazer esforços
para conscientizar seus educandos sobre a diversidade cultural presente
na sociedade brasileira, além de criar oportunidades para que sejam
questionadas as relações de poder entrelaçadas, dentro da construção
de tal diversidade.
Educação das Relações Étnico-Raciais 47

Será muito importante que a formação inicial dos professores já


propicie uma sólida formação relativa ao papel do educador, diante do
seu compromisso necessário com a Diversidade Cultural. Isso já adiantará
o processo e impedirá novos esforços e inovadoras avaliações sobre a
Necessidade de Repensar o Papel do Educador diante da Diversidade
Cultural.

Todos os que fazem a escola precisam compreender,


principalmente as professoras e os professores, que as crianças e suas
famílias não representam um todo harmônico, chamado povo brasileiro.
As histórias e as culturas das diferentes matrizes que formaram o povo
brasileiro contestam tal pensamento ingênuo. Tais descendentes destas
matrizes chegam às escolas e são nomeados como alunos. Eles estão em
busca de alguém para ensiná-los, ou seja, oferecerem signos. Com eles
chegam as evidências de que somos todos diversificados culturalmente,
etnicamente e somos marcados por nossas reais diferenças de gênero.

A escola e seus professores precisarão agir com as melhores


práticas pedagógicas política, suficientemente capazes de operar em
prol das diferenças, da cidadania de todos, com projetos democratas,
republicanos e emancipatórios. Sempre que houver a necessidade de
repensar o papel das educadoras e dos educadores, diante da Diversidade
Cultural, àqueles e àquelas que já atuam nas escolas, as formações
continuadas deverão dar conta, exemplarmente. Cada educador e cada
educadora precisam ter clareza da dimensão de seus papéis de agentes
da educação em uma sociedade diversificada, multicultural e com todos
os desafios.

Na Formação Docente e nas suas futuras práticas não poderão faltar


temas como a importância das desigualdades étnico-raciais e reflexões
sobre uma mentira que parece verdade, aquela falsa e propagada ideia
de que o Brasil é o paraíso democracia racial. Sendo necessário discutir
as relações raciais, para além de denominarem-nas como problemas
particulares de negros e índios.

Não são vitimizações exacerbadas como alguns,


preconceituosamente, rebatem-nos. Existem e causam danos antigos e
socialmente construídos, uma delas é a histórica mania do brasileiro de
48 Educação das Relações Étnico-Raciais

embranquecer sua história e seus ancestrais. Insistindo em um parente


português e branco. Os antepassados negros e indígenas são ocultos ou
desconhecidos. Hoje existe um recurso poderoso ofertado pela ciência,
que são os testes de DNA.

Na Formação Docente e nas suas futuras práticas não poderão


carecer temas como as histórias, as culturas, os conflitos, as formas de
luta e as resistências do povo negro e dos povos indígenas, importantes
matrizes do povo brasileiro. Bem como a inclusão do corte étnico-racial
nas leituras, nas análises da realidade e nas experiências concretas. E,
ainda, do corte étnico-racial (da presença da discussão étnico-racial) nas
releituras e nas reanálises dos materiais didáticos e da literatura utilizados
na sua escola.

Cada educador precisa ter clareza do impacto do racismo e suas


combinações com outras formas de discriminação no currículo escolar,
abrindo-se a ouvir o outro caso não seja nem negra ou julgue que não
tenha antepassados negros e nem indígena, ou tenha certeza vaga de
algum ascendente indígena ou negra.

Ele deve estar preparado para criar Estratégias de combate a


atitudes preconceituosas e discriminatórias na sociedade e no espaço
escolar, tendo clareza de que deve estar preparado para constituir um
perfeito e consistente Plano de ação para inclusão do tema étnico-racial
no espaço escolar (CEPESC;SPM, 2009, p.248).

Os educadores e as educadoras devem abster-se de negar a


oportunidade de ouvir e aprender sobre diversidade cultural, educando-
se contra o ódio e a repulsa aos diferentes, aos ‘outros’ tão distintos
quanto humanos, tal qual eles são. Todos são humanos, demasiadamente
humanos! Sempre haverá algo humano a ouvir, e aprender ou entender,
com as pessoas que fazem parte de diversos movimentos, como
feministas, movimento LGBT, Movimento Negro e das organizações dos
povos indígenas, entre outros.
Educação das Relações Étnico-Raciais 49

Assim, existirá sempre, novos e importantes saberes que eles


poderão ensinar aos professores e professoras, serão encontradas
semelhanças e possibilidades de dialogar com as diferenças. Os
Professores podem aprender sobre conhecimentos significativos aos
seus alunos, diferentes deles e com quem terão que dialogar sobre suas
diferenças e suas diversidades culturais, com temas como combate ao
machismo, ao homofobismo, ao racismo e ao etnocentrismo, sensibilizar
mais pessoas, educadores/as, a fim de que engrossem o bloco dos que
lutam por políticas públicas na medida certa, nas cores, nos desejos,
afinal todos devem lutar para que o mundo seja melhor, mais justo e mais
inclusivo, com a diversidade cultural atuando para juntar os diferentes e
as diferenças.

Avaliando a Necessidade de Repensar o Papel do Educador diante


da Diversidade Cultural é necessário entender que serão os professores
que operarão as mudanças educativas necessárias em suas práticas,
tornando-as inclusivas. É evidente que as mudanças não se fazem apenas
através da reação ao que está dado, ao ‘currículo oculto’, mas também
pela proposição de novos currículos. Fica a esperança de que juntos/as
possamos fazer a escola que sonhamos. Juntos e acreditando!

Nada será possível se as velhas e ultrapassadas práticas docentes


impedirem os professores e as professoras de ouvirem seus alunos e
seus desejos de aprender, dissociados as cores diferentes e reais das
suas peles, as verdadeiras histórias e culturas de seus antepassados,
comemorando o viver com as suas danças favoritas e diversificadas,
que devem coexistir na escola, sendo respeitados (mas que tolerados)
nas suas distintas religiões de origem africana ou indígena, respeitadas
as diversidades de gênero e de sexualidade, nos seus modos impares
de amar, sentir, pensar, agir e aprender. Seremos todos mais felizes. Vale
muito a aposta!
50 Educação das Relações Étnico-Raciais

Figura 4

Fonte: Wikimedia Commons

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


às seguintes fontes de consulta e aprofundamento: Vídeo:
História da Educação no Brasil - Aula 23 - A feminização
do magistério.Acessível pelo link:https://www.youtube.
com/watch?v=Yz5WuZ7iG_g .Vídeo: A discussão crítica e
histórica das questões de gênero e sexualidade na escola.
Acessível aqui.
Educação das Relações Étnico-Raciais 51

RESUMINDO:

Neste capítulo você foi capaz de compreender o


desenvolvimento de uma Prática Pedagógica que
contemple o Outro em suas semelhanças e diferenças,
levando em conta a Diversidade Cultural. Inicialmente
você refletiu sobre a Diversidade Cultural e sobre o
respeito às relevantes diferenças, como as diferenças
ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, entre as
faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades
especiais, escolhas sexuais, entre outras. Em seguida, você
focou na necessária tarefa de aplicar a Diversidade Cultural
Brasileira na Prática Docente. Ainda pensando sobre a
prática pedagógica, você focalizou em reflexões sobre
como desenvolver uma Prática Pedagógica que contemple
o Outro e suas Semelhanças e Diferenças. E, por fim, você
foi capaz de avaliar a Necessidade de Repensar o Papel do
Educador diante da Diversidade Cultural.
52 Educação das Relações Étnico-Raciais

REFERÊNCIAS
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