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A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA JUREMA


NA COMPREENSÃO DA HISTÓRIA E DA
CULTURA BRASILEIRA: UMA DISCUSSÃO A
PARTIR DA OBRA “JUREMA” DE RODRIGO
GRÜNEWALD

Antonio de Santana Padilha Neto


Universidade do Estado da Bahia - Uneb

Maria Herbênia Lima Cruz Santos


Universidade do Estado da Bahia - Uneb

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco


Instituto Federal do Sertão Pernambucano -
IFSertãoPE

Juracy Marques dos Santos


Universidade do Estado da Bahia - Uneb

Luciano Sérgio Ventin Bomfim


Universidade do Estado da Bahia - Uneb

'10.37885/230412663
RESUMO

Este trabalho objetiva compreender o debate trazido pela obra “Jurema” de autoria de
Grünewald (2020), com vistas a discutir acerca da polissemia que envolve a história e os
significados da Jurema em seus aspectos culturais, espirituais e sociais. A leitura da obra
se deu por indicação da disciplina Estudos Avançados em Ecologia Humana, cursada no
segundo semestre do ano de 2021 no Programa de Doutorado em Ecologia Humana e
Gestão Socioambiental da Universidade do Estado da Bahia – Uneb. Após a leitura recorreu-
se a construção de uma resenha crítica, visando compreender o rico universo da Jurema.
Após a leitura chegou-se à conclusão de que o estudo da Jurema (Mimosa tenuiflora) é
um fenômeno cultural que tem suas raízes na história do Brasil, e que, ainda hoje, possui
grande relevância para diversos grupos étnicos e religiosos no país. Desde os tempos pré-
coloniais, os povos indígenas já utilizavam a Jurema em rituais e práticas terapêuticas, o que
se ampliou com a chegada dos colonizadores e a mistura de elementos culturais africanos
e europeus. A partir disso, a Jurema se transformou em uma prática religiosa e cultural que
envolve indígenas, quilombolas, brancos e caboclos, e que se tornou uma das expressões
mais marcantes da formação cultural do Brasil.

Palavras-chave: História no Brasil, Polissemia e Cultura, Povos Tradicionais.


INTRODUÇÃO

A Jurema (Mimosa tenuiflora) é uma planta sagrada que possui um papel importante
na cultura e na religiosidade de diversos grupos étnicos no Brasil. A sua história remonta aos
tempos pré-coloniais, quando, povos indígenas já utilizavam as suas propriedades medicinais
e psicoativas para fins terapêuticos e ritualísticos. Com a chegada dos colonizadores, a
Jurema passou a ser utilizada em rituais que mesclavam elementos indígenas, africanos e
europeus, e que hoje são conhecidos como Jurema Sagrada.
Nesse contexto, a planta se tornou um elemento fundamental de diversas práticas
religiosas e culturais, que são transmitidas de geração em geração. Utilizada no Nordeste em
seus rituais místicos, e posteriormente, incorporada dentro do processo de fusão de culturas
e raças para as comunidades indígenas, quilombolas, e consequentemente, chegando ao
branco nas cidades do interior e das capitais do Brasil, a Jurema é cultuada ao longo dos
séculos em nosso país. Neste sentido, Santiago (2008) menciona que:

O culto da Jurema é uma prática religiosa de tradição indígena, especialmente


das tribos do Nordeste, vinculado à árvore do mesmo nome (jurema), a qual
possui seu habitat no agreste e caatinga nordestina. Durante os períodos de
grande estiagem, a jurema se destaca do resto da vegetação nativa pelo fato
de manter-se exuberante, resistente à falta de água (SANTIAGO, 2008, p. 01).

Deste modo, percebeu-se, que o culto da Jurema mesmo sendo um rito religioso
indígena, ainda hoje, faz parte da cultura indígena nordestina. No referencial teórico descreve-
se os tópicos e seus respectivos conteúdos, essencialmente, os que mais provocaram
reflexão e satisfação na leitura deste referencial teórico denominado.
Apesar de ser uma prática religiosa tradicional e valorizada pelas tribos indígenas
do Nordeste do Brasil, o culto da Jurema também tem sido criticado por alguns setores da
sociedade. Algumas pessoas argumentam que a religião é baseada em crenças infundadas
e supersticiosas, e que, a veneração da árvore Jurema é apenas um ritual sem sentido. Além
disso, algumas críticas se concentram na apropriação cultural da prática religiosa pelos não-
indígenas, que muitas vezes, ignoram as tradições e o significado simbólico existente por
trás do culto da Jurema. Essas críticas destacam a importância do respeito e da valorização
às práticas culturais e religiosas de diferentes grupos, enquanto também, se mantém uma
perspectiva crítica e aberta ao debate e à reflexão.
Portanto, o trabalho em questão, teve como objetivo discutir o papel da Jurema como
planta sagrada, sua relação com a espiritualidade e suas influências na cultura brasileira,
bem como, reflexionar acerca das questões históricas e sociais que envolvem o seu culto
e a sua conservação.

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DESENVOLVIMENTO

O campo semântico da Jurema

Soou interessante a ideia do autor, quando logo no início desta obra, relacionou a
ligação da planta Jurema com a indianidade, ou seja, com os povos tradicionais do nosso
país, numa perspectiva ontológica1 no campo da mistificação do homem com a natureza,
desde o início da colonização brasileira. “Jurema é um pau encantado. É um pau de ciência,
que todos querem saber. Mas se você quiser Jurema, eu dou Jurema a você. Mas se você
quiser ciência, José dá ciência a você” (DOMÍNIO PÚBLICO, s.d.).
Nesse sentido, Grünewald citando Bairrão (2003), tenta sintetizar os múltiplos sentidos
da Jurema dentro de sua vasta polissemia. [...] “Jurema é uma árvore, mas são várias as
espécies. Jurema é uma bebida, mas são várias as bebidas – e, como eu vejo, não interessa
saber qual foi uma suposta bebida original, mas percebe que ela passa incessantemente
por diversas transmutações. Jurema é uma variedade de cerimônias religiosas. Jurema é
uma “entidade espiritual” diversamente caracterizada. Jurema são distintos locais de culto e
oração. Conforme o contexto, Jurema é “muito espiritual” ou “plano espiritual”. Ainda, “Jurema
é uma índia metafísica. Atende pelo nome de Jurema uma apresentação antropomórfica do
sagrado florestal”. [...] Assim, habita o sertão, as florestas e até o mar” (BAIRRÃO, 2003, p.
163, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 23-24).
Dessa forma, fica evidente a riqueza do campo de estudo da Jurema e sua diversidade
de possibilidades de pesquisas e conhecimentos sobre esta planta. Isso permite pensar que
o estudo da Jurema não se limita a uma determinada área do saber, pelo contrário, é um
tema transversal que ultrapassa os limites de uma só área. É um tema vasto, plural.
Destarte que Grünewald citando Saniotis (2010), resgata evidências arqueológicas,
quando afirma que:

[...] Sugerindo que o Homo Sapiens tem usado “substâncias psicoativas” desde
a pré-história, quando esses “seres humanos” têm tido uma íntima associação
com vários tipos de substâncias psicotrópicas e alteradoras de humor. Tais
substâncias tem servido a vários propósitos, tal como induzir EAC (estados
alterados de consciência) para fins religiosos ou recreativos, melhora cognitiva,
fortalecimento da identidade do grupo, sucesso reprodutivo e alimentação.
Dada sua atual preponderância, as substâncias psicotrópicas e alteradoras do
humor continuam a ter um considerável impacto sobre o futuro das sociedades
(SANIOTIS, 2010, p. 482, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 28).

1 Para Lukács (2018), a ontologia estuda a natureza da existência, a realidade e a existência do ser. Ela se concentra em responder à
pergunta “o que é?” e busca entender a natureza fundamental da realidade, do ser e do conhecimento. A ontologia considera ques-
tões como o que existe, o que é real, o que é possível, a natureza da existência e a relação entre o ser e o mundo.

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Deste modo, fica ainda mais evidente que o ser humano utiliza as plantas para os mais
diversos propósitos, desde o início dos tempos.
Apesar de haver evidências de que o uso de substâncias psicoativas tem sido praticado
desde a pré-história, não podemos ignorar os riscos e consequências negativas associados
a esse comportamento. O abuso de substâncias pode levar a problemas de saúde física e
mental, dependência química, perda de produtividade e danos sociais. Ademais, muitas das
substâncias psicoativas utilizadas na pré-história eram extraídas diretamente da natureza e,
portanto, havia uma limitação em termos de disponibilidade e controle de qualidade.

A Jurema no mundo e no Brasil

Neste ponto do livro, destaca-se o aspecto histórico da pesquisa do autor, quando ele
nos brinda com uma informação, no mínimo, muito interessante. A de que o povo AZTECA
já conhecia a árvore da Jurema durante o período pré-colonial. “Conhecida com o nome
científico de Tepescobuite, deriva do termo Azteca tepus-cabuilt, ‘árvore-metal’, uma
referência à madeira extremamente dura da árvore” (GRÜNEWALD, 2020, p. 36).
Aprofundando cada vez mais na sua pesquisa sobre as origens da Jurema, o Dr.
Grünewald revela em sua obra, que a Jurema consegue sobreviver em outras regiões bem
distantes do Nordeste brasileiro.
Citando Gaujac (2013), Grünewald revela que a Jurema é “nativa de ‘regiões de baixo
índice pluviométrico e sujeitas as secas periódicas, sendo esta planta, encontrada em
abundância no Nordeste do Brasil, sul do México, no norte da Venezuela e da Colômbia, bem
como, em Honduras e El Salvador’” (GAUJAC, 2013, p. 17, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 38).
Destarte que, as condições climáticas e a disponibilidade de uma planta podem mudar
ao longo do tempo e, portanto, seu uso pode se tornar cada vez mais restrito ou até mesmo
desaparecer. Dependendo do modo de cultivo, o uso excessivo de uma planta também pode
levar à sua extinção ou a problemas ecológicos.
Todavia, há uma grande distinção de uso da referida planta no Brasil, em relação a
outras partes do mundo onde encontra-se esta espécie, como fica evidente na pesquisa
do Dr. Grünewald. Segundo ele, no México onde a Mimosa tenuiflora é conhecida como
tepescobuite, “suas cascas secas e moídas são muito utilizadas para cura de feridas e
no tratamento de queimaduras, uma vez que promove rápida cicatrização da pele”. Sua
madeira pode ser usada no México, Honduras, Guatemala, El Salvador, Nicarágua,
Colômbia, Venezuela e Panamá “para se obter um carvão altamente calórico, além da
gestão agroflorestal, construção de cercas etc.” (GAUJAC, 2013; SOUZA, 2008 et al., apud
GRÜNEWALD, 2020, p. 42).

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A Jurema, suas propriedades psicoativas e propensões místicas

Identificamos neste item da leitura uma “conexão” (pelo menos, no Brasil, que
independentemente do culto ou o contexto da utilização, seja no Catimbó, Candomblé,
Umbanda, Xangô, Toré ou Maracatu) mística que deriva entre as propriedades psicoativas,
buscando uma sincronia espiritual na “ciência da Jurema”.
Para Pires (2010), a Jurema é uma planta e culto presente em diversas variações
religiosas, tais como, o catimbó e a umbanda. Entre suas principais características está
tomada do corpo por entidades espirituais como mestres e caboclos. Sua tradição vem de
origens indígenas e sua difusão se deu juntamente com o estabelecimento de outras práticas
e religiões, como a umbanda. Das raízes e casca da planta é produzida uma bebida, o vinho
da Jurema, que é consumido ritualmente durante o culto.
De acordo com Schultes (1976), [...] “referindo-se as raízes da Jurema preta (Mimosa
hostilis) como provedora de uma bebida miraculosa, pouco conhecida e própria das regiões
secas do Nordeste do Brasil” e que teria sido usada por tribos extintas para “navegar em
sonos profundos e se preparar para batalhas, e ainda, por outros povos indígenas não
instintos, mas que, mais recentemente teriam deixado de usar o alucinógeno” (SCHULTES,
1976, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 46).
Nesse contexto, tem-se a percepção de que, a utilização da Jurema permeia sempre o
místico e o sobrenatural para amenizar as dores e inquietações da alma humana. Por isso,
“O cosmo da Jurema Sagrada é amplo, complexo e profundo, tal qual a experiência humana
com a vida em seu sentido polissêmico e holístico” (L’ODÒ, 2017, p. 28).
Um outro aspecto interessante neste tópico da pesquisa do Dr. Grünewald, [...]
“foi a criação da bebida que o autor denomina de análogo da ayahuasca, extraída de
entrecascas da jurema preta com as sementes da Pegamum hamala (Arruda da Síria)”
(GRÜNEWALD, 2020, p. 49). Contudo, segundo o autor, foram encontradas variações da
mesma espécie (com os mesmos princípios ativos e alucinógenos) em plantas similares à
Pegamum hamala (Arruda da Síria) no mar Mediterrâneo, Norte da África, Oriente Médio,
Índia, Mongólia, península do Sinai, região meridional de Israel, além, de Síria e Egito. Essas
são algumas das localidades em que se tem relatos históricos da presença desta planta,
embora a utilização nessas regiões quanto ao “uso” da planta não é muito clara, carecendo,
sobretudo, de mais estudos e pesquisas, além de dados históricos para fins de comprovação
da sua utilização e em que contexto. (...) “todas as populações (grupos sociais, espirituais,
religiões) que utilizam a Jurema, veem nela um veículo divino de contato com o sobrenatural”
(GRÜNEWALD, 2020, p. 52).
Conforme Grünewald (2020), a relação da Jurema com a espiritualidade e o sobrenatural
é destacado, visto que todas as populações que utilizam a planta entendem-na como um fio

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condutor divino para contato com o mundo espiritual. Essa visão está presente em diversos
contextos, como em práticas xamânicas, religiões afro-brasileiras, entre outras. No entanto,
é importante destacar que a utilização da Jurema com fins espirituais e religiosos deve ser
feita com cautela e responsabilidade, respeitando as tradições e rituais envolvidos, e não
deve ser vista como uma forma de mero entretenimento ou experimentação.
Além disso, é necessário que haja mais estudos e pesquisas que aprofundem a relação
entre a Jurema e o mundo espiritual, de forma a compreender melhor o seu uso e seus
efeitos sobre a mente e o corpo humano.

Arqueologia e História

Dificilmente conseguiremos dissociar a Jurema do Nordeste brasileiro!


Desde sua origem, através dos indígenas que viviam nesta região do Brasil, a Jurema
se confunde com esta região específica. Segundo Assunção (2006, p. 86), “estudiosos já
descreviam rituais de Jurema no século XVI no Sertão nordestino. Seus antigos moradores,
os índios, tinham rituais nos quais bebiam, fumavam e manipulavam ervas invocando
seus ancestrais”.
Faz parte da tradição e cultura dos povos indígenas a manipulação de plantas para os
mais diversos fins, como por exemplo: medicinais, espirituais, bem como, para conectar-se
com a “Mãe Natureza ou Mãe Terra”. Importante ressaltar que esse conhecimento sobre
a manipulação das plantas é passado culturalmente de geração para geração ao longo do
tempo, através da oralidade.
Segundo Samorini (2018, p. 34), “El culto de la Jurema es originario del área del
Nordeste de Brasil, perteneciendo a algunas etnias nativas distribuidas principalmente en
los Estados de Pernambuco, Alagoas, Bahía; entre las cuales se hallan los Pankararu,
Tusha, Guegue y Pimenteira”.
Um outro aspecto interessante neste tópico do livro está relacionado a nomes dados
pelos Mestres a planta, no qual, podemos destacar: i) Planta de PODER (na qual possibilita,
segundo os especialistas em Jurema de um contato com as forças poderosas produtora de
conhecimento); ii) Planta PROFESSORA (isso ocorre porque para os Mestres Juremeiros, a
Jurema é “habitada por espíritos”, possuindo poderes sobrenaturais e curativos para o corpo
e alma para quem utiliza a Jurema) e iii) Planta SAGRADA (na qual o menino Jesus fugindo
de Herodes em direção ao Egito, encostou-se na planta tornando-a desde então sagrada).
Seus poderes curativos, no entanto, para os Mestres, advêm dessa ligação com o filho de
DEUS aqui na Terra, tornando a Jurema a planta de todas as plantas.
Ainda na perspectiva histórica, chamou minha atenção para pinturas rupestres muito
antigas que foram encontradas em cavernas com “cenas de árvores, plantas e rituais”. Há uma

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grande probabilidade, relatada por Grünewald (2020), que (...) “nas cavernas, os nossos
ancestrais utilizassem dessa planta para realizarem rituais-cerimoniais, entrelaçando
representações e jornadas visionárias a partir de estados alterados de consciência”
(GRÜNEWALD, 2020, p. 65). Existe a possibilidade que algumas pinturas rupestres tenham
sido influenciadas pelo uso de substâncias psicoativas em rituais cerimoniais.
Embora algumas culturas tradicionais tenham usado plantas sagradas em seus rituais,
isso não significa, necessariamente, que essas práticas sejam seguras ou benéficas para
todos os indivíduos da comunidade.

A Jurema no Brasil colonial

O advento dos colonizadores espanhóis e portugueses nas Américas aventou


imediatamente em “contato com o surpreendente uso nativo de plantas diversas, sendo
algumas de caráter alucinógeno, e cujo efeito, era não só desejado, mas essencial para o
cumprimento dos seus objetivos rituais” (GRÜNEWALD, 2020, p. 68).
De acordo com Albuquerque (2012) pesquisadores já tinham a informação de que os
nativos já faziam uso de plantas para os mais diversos processos, físicos, mentais e espirituais
(para citar somente alguns) muito antes do período colonial no Brasil. “Beberagens à base
vinhos feitos a partir das raízes de plantas e milho, faziam parte do cotidiano desses povos
tradicionais” (ALBUQUERQUE, 2012, p. 19, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 69).
Destarte que a “peleja” entre colonizados e colonizadores, deu-se desde que o segundo
grupo toma consciência “em nome de DEUS” que os nativos “usavam bebidas alucinógenas”
que iam de encontro aos “princípios” do Cristianismo (religião difundida pela igreja Católica
na época da colonização do Brasil pelos portugueses no século XVI).
Nesse sentido, de SAGRADA para os nativos, tornou-se PROFANA para os jesuítas,
que tinham o objetivo de catequisar os nativos dentro de sua doutrina religiosa, ficando claro
o processo de dominação do colonizador frente ao colonizado.

O Santo Ofício e a perseguição aos Juremeiros

Segundo Grünewald (2020), o Santo Ofício em Portugal foi criado em 1536. Existem
relatos históricos que apontam centenas de brasileiros que foram condenados e dezenas
queimados em Lisboa (Portugal). Com o advento da colonização e a integração entre jesuítas
e nativos brasileiros, o culto a Jurema permaneceu, durante todo esse tempo, dentro desse
processo no qual as pessoas que faziam uso dessa substância, “recebiam entidades” que,
para os ditos cristãos, eram entidades diabólicas ou espíritos malignos que destoavam do
conceito cristão da época, e quando os jesuítas identificavam essas “pessoas possuídas por
essas substâncias”, depressa julgavam e condenavam dentro de um processo inquisitório.
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Logo, os Juremeiros estavam entre esses indivíduos caracterizados “impuros” em função
de suas práticas ritualistas com a Jurema. Nesse sentido, pode-se afirmar que a Jurema foi
alvo de um processo inquisitório no Brasil.
Outro ponto de destaque na obra de Grünewald (2020), é a integração entre as raças
negra e indígena a partir do culto a Jurema, como destaca Wadsworth (2006), que discorre que
foi a partir do convívio entre “indígenas de diversos povos nativos, somando-se a portugueses
e africanos, que foi se construindo e se dando feição a uma nova forma de expressão religiosa
fundada na Jurema, e que vai posteriormente ser geneticamente chamada de Catimbó ou
simplesmente Jurema” (WADSWORTH, 2006, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 82).
Embora a integração entre raças e culturas possa ser vista como uma coisa positiva, é
importante reconhecer que nem sempre é uma relação igualitária ou justa. O contato entre
diferentes grupos pode envolver violência, opressão e apropriação cultural, além, de criar
hierarquias e desigualdades que persistem até hoje.
Além disso, ao valorizarmos a integração cultural como um objetivo em si mesmo,
corremos o risco de homogeneizar e simplificar a diversidade cultural e histórica de
diferentes grupos. É importante entender que diferentes culturas e tradições têm sua própria
complexidade e nuances, e que, a mistura de diferentes práticas e crenças pode ser um
processo complexo, e muitas vezes conflituoso.
Por fim, é importante lembrar que a religião e a espiritualidade são áreas extremamente
pessoais e sensíveis, e que o culto a Jurema é uma prática sagrada para muitas
pessoas. Ao explorar essa tradição, devemos respeitar a diversidade de experiências e
perspectivas dentro e fora da comunidade em questão, e evitar romantizar ou estereotipar
suas práticas. Segundo Grünewald (2020):

No século XIX, se registram ainda de forma mais enfática notícias relativas à


participação de negros, especialmente quilombolas, nos ritos de Jurema nessa
região acima mencionada e que indicam trocas culturais entre esses sujeitos
de origens diversas, mas submetidos ao mesmo processo de dominação, que
provavelmente foram dando feição a religiosidades afro-ameríndias nordestinas
(GRÜNEWALD, 2020, p. 82).

Isso posto, a participação de diferentes grupos étnicos e culturais em práticas religiosas,


pode ser vista, como um sinal de diversidade e tolerância. É importante lembrar que essas
práticas, muitas vezes, ocorrem em contextos de opressão e desigualdade. No caso específico
da participação de negros e quilombolas nos ritos de Jurema, é necessário reconhecer que
essas comunidades foram submetidas a um processo histórico de escravidão, exploração
e marginalização que limitou sua capacidade de escolha e expressão cultural.
Contudo, a troca cultural entre diferentes grupos nem sempre é uma relação equilibrada
ou justa. A apropriação cultural pode ocorrer quando elementos de uma cultura são tomados
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sem respeito ou compreensão da sua origem ou significado, o que pode levar à banalização
ou distorção desses elementos.
Portanto, é importante lembrar que, as religiões e práticas espirituais de diferentes
comunidades são profundamente pessoais e muitas vezes sagradas. A valorização da
diversidade cultural deve ser acompanhada por uma reflexão crítica sobre as relações de
poder e as desigualdades que moldam essas práticas e sua interpretação.

Indígenas e a Jurema no interior do Nordeste

É fato que os indígenas no Brasil sempre viveram em praticamente todos os rincões do


nosso vasto território. Por conseguinte, pode-se afirmar que a relação destes povos com a
região Nordeste é também muito antiga. Parte-se então do pressuposto de que, muito antes
da “descoberta” do homem branco, em relação aos rituais místicos da Jurema entre os povos
indígenas, essas tradições eram mantidas e passadas de geração a geração no processo
de fusão de etnias, deslocamento territorial em busca de melhores locais de caça, pesca e
isolamento (distanciamento), principalmente, do homem branco. De acordo com Grünewald
(2020), a questão da Jurema ganhou visibilidade como “uma bebida de uso característico
dessas populações a partir do final da década de 1930, principalmente, a partir da pesquisa
de Carlos Estevão de Oliveira (1943) no final da década de 1930, mas também, com a
presença da Missão de Pesquisas Folclóricas organizadas por Mário de Andrade em 1938”
(GRÜNEWALD, 2020, p. 89).
Importante destacar o trabalho de pesquisadores e estudiosos que ajudaram
a dar visibilidade a práticas culturais e religiosas, muitas vezes, consideradas
“marginalizadas”. É preciso ter em mente que essa visibilidade, frequentemente, vem
acompanhada de riscos e desafios para as comunidades em questão.
A exposição pública de práticas religiosas pode levar à estigmatização e discriminação
por parte da sociedade dominante, o que pode colocar em risco a segurança e o bem-estar
das pessoas que praticam essas religiões. Além disso, a visibilidade pode levar a uma
apropriação cultural por parte de outros grupos, que podem tirar essas práticas de seus
contextos culturais e desvirtuá-las ou banalizá-las.
Por este motivo, é que as pesquisas acadêmicas envolvendo temas complexos como a
Jurema, devem ser realizadas com sensibilidade e respeito pelas comunidades envolvidas,
visto que, as práticas religiosas e culturais são muitas vezes sagradas e pessoais, e é crucial
buscar o consentimento e a colaboração das pessoas envolvidas, antes mesmo de estudá-
las ou divulgá-las publicamente. Somente dessa forma, a pesquisa deve ser conduzida de
forma ética e responsável, evitando a exploração ou o dano às comunidades estudadas.

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A Jurema entre os indígenas do interior do Nordeste

A relação entre a Jurema e os indígenas do Nordeste brasileiro é ancestral!


Por terem uma conexão direta com a natureza, esses índios, além de conhecerem bem
as plantas, também conhecem seus “segredos” e seus “mistérios”, fazendo uso para os mais
diversificados fins. Os povos indígenas do Nordeste brasileiro foram os responsáveis pelas
primeiras práticas dessa religião, habitavam mais precisamente o Sertão nordestino. “Os
tapuias que habitavam os Sertões da capitania do Rio Grande do Norte e receberam esse
nome pelos colonizadores e missionários”, que quer dizer ‘inimigo’ e “foram eles que deram
início as nações Cariri, Tarairiú e a outras tribos que se expandiram por esta capitania. Esses
povos viviam em terras de muitos rios e pouca água, e migravam sempre, em épocas de
estiagem em busca da subsistência” (COELHO, 2016).
Nesse sentido, para Grünewald (2020, p. 97), não resta dúvidas da conexão Jurema/
Índio, que é “fruto de comunhão étnica, parece-me que a fé incondicional na ciência do
índio seria requisito fundamental para o êxtase, com uso da Jurema, entre os indivíduos
nessas sociedades”.
Apesar da conexão entre a Jurema e as comunidades indígenas ser inegável, é
importante considerar que a utilização da planta e sua relação com o sobrenatural, não se
restringe apenas a essas populações.
Na pesquisa de Gaujac (2013), é possível verificar que a Jurema também é utilizada
em rituais de religiões afro-brasileiras, como o Catimbó e o Candomblé, em que a planta é
considerada sagrada e é utilizada em diversos rituais de cura e conexão espiritual.
Nesse contexto, Kileuy e Oxaguiã (2009) sustentam que:

A palavra “candomblé” parece ter se originado de um termo da nação Bantu,


candombe, traduzido como “dança, batuque”. Esta palavra se referia às
brincadeiras, festas, reuniões, festividades profanas e divinas dos negros
escravos, nas senzalas, em seus momentos de folga, popularizando-se.
Posteriormente, passou a denominar as liturgias que eles trouxeram de sua
terra natal. Este nome se modificou e se secularizou na religião africana que
floresceu no Brasil. Existem outras interpretações etimológicas, mas preferimos
nos ater a esta (KILEUY; OXAGUIÃ, 2009, p. 31).

Todavia, a utilização da Jurema também tem-se expandido para outras camadas da


sociedade, em especial, a urbana onde há uma crescente busca por terapias alternativas
e práticas espirituais não tradicionais, que utilizam a planta como um instrumento de
conexão com o divino.
Nesse sentido, é importante considerar que a relação entre a Jurema e o sobrenatural
vai além da conexão com as comunidades indígenas, e é influenciada por diversos fatores
históricos, culturais e sociais em nosso país.

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A Jurema entre os indígenas do interior do Nordeste e suas misturas entre indígenas
e regionais

Nesta parte do livro, o autor evidencia as religiosidades que dialogam com os ritos da
Jurema dentro da cultura indígena no Nordeste brasileiro, tendo, em seus rituais, influências
do catolicismo, umbanda, espiritismo, bem como o catimbó.
Enxerga-se aqui uma profunda conexão entre estas duas culturas tão distintas (na qual
provavelmente nunca se conheceram) no que diz respeito, ao rito de preparação da Jurema
pelos Kapinawá (povo indígena da cidade de Buíque no estado de Pernambuco – Brasil),
como descreve Grünewald (2020), “A raiz, como em Atikum, deve ser retirada do lado que
o sol nasce (que traz a “ciência”) e não do lado do poente (que “leva o mal”)”, semelhante
com o rito de passagem para o além descrito no Livro dos Mortos2 do povo egípcio, no qual
Ferreira (1992) descreve que [...] “O ritual de passagem deve seguir uma sequência de
procedimentos, passando desde o pôr do sol (pelas horas mais escuras e sombrias) até o
nascer do sol (nas horas de iluminação e despertar para a eternidade), percorrendo assim,
todo um caminho espiritual de purificação e passagem do mundo dos vivos para o mundo
dos mortos)” (FERREIRA, 1992, p. 36).

Do catimbó à umbanda e a Jurema no litoral do Nordeste

Mais uma vez, faz-se necessário destacar a polissemia do termo Jurema, pois, como
trata Grünewald (2022), a Jurema é muito mais do que uma simples planta do Nordeste
brasileiro. Deste modo, neste tópico do livro, o autor explora a multissemântica da Jurema
nos contextos do catimbó e da umbanda.
Dentro de sua polissemia, é possível destacar a beleza da árvore nos períodos de seca,
a bebida que é extraída de suas raízes, as cidades Encantadas, aos Mestres que conhecem
sua ciência sagrada, dentre outros. Ainda dentro deste contexto polissêmico, Coelho (2016,
p 16), revela que: “Enquanto religião, a Jurema Sagrada não apresenta consenso quanto
a isso, podemos sintetizá-la a partir de autores pertinentes ao tema que vão conceituá-la
a priori como sendo de origem indígena, mas que, no processo de secularização e trocas
culturais apresenta conexões com a Umbanda, obtendo assim traços das religiões afro, do
catolicismo e da magia europeia”.

2 O Livro dos Mortos dos egípcios remonta ao período do Novo Império. Seus textos foram produzidos em rolos de papiro, os quais
eram envolvidos em pedaços do material de que eram elaboradas as múmias. Este livro continha principalmente preceitos mágicos e
ladainhas que versavam sobre o destino dos que morreram. Ele orientava as pessoas quanto aos caminhos a seguir para se atingir
o reino de Osíris (a principal divindade cultuada pelos egípcios, símbolo do renascimento da alma, de sua imortalidade), aos campos
da bem-aventurança. Ao obedecer às instruções contidas neste sagrado manual, o homem tinha condições de atingir um estágio
elevado que o habilitava a se tornar um Espírito Santificado.

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Apesar da polissemia e da riqueza cultural que envolve a Jurema Sagrada, é importante
lembrar que muitas vezes essa diversidade cultural pode ser reduzida e apropriada por
interesses comerciais ou turísticos, sem levar em conta as crenças e práticas sagradas das
comunidades envolvidas.
Todavia, destacamos que a secularização e as trocas culturais mencionadas por Coelho
(2016) nem sempre ocorrem de forma respeitosa e equilibrada.
Muitas vezes, práticas culturais são tomadas de seus contextos originais e transformadas
em produtos de consumo para turistas, ou para a indústria cultural, sem levar em conta as
implicações para as comunidades envolvidas.
Portanto, é importante lembrar que a diversidade cultural não deve ser vista apenas
como uma curiosidade exótica, ou como um objeto de estudo acadêmico. As crenças e
práticas culturais são fundamentais para a identidade e o bem-estar das comunidades, e
devem ser respeitadas e valorizadas como tal.
Na perspectiva histórica, segundo os relatos dos cronistas e missionários do século
XVIII, o Catimbó chamado por eles de “adjunto de jurema” era uma espécie de reunião
entre os índios, realizada em segredo, e que envolvia uma dança com fins religiosos e
curativos, com o uso de bebida preparada com a Jurema e fumo. Também é possível
encontrar estes elementos na pajelança amazônica, “a cerimônia gira em torno do Pajé, que
invoca os mestres com um pequeno maracá, e que é ajudado por pessoa de sua família
que acende os cigarros, ferve a bebida ou defuma o ambiente.” (FIGUEIREDO, 1976, p. 44
apud ASSUNÇÃO, 2010, p. 20).
Importante destacar que, para os povos tradicionais e muitas comunidades espalhadas
pelo Brasil, o culto a Jurema é uma prática viva e em constante transformação, envolvendo
ancestralidade, saberes, religiosidade, cultura, tradição e interação com cada comunidade
que vivencia seus ritos.

Dos aldeamentos indígenas ao catimbó

Dentro de suas pesquisas históricas, segundo Grünewald (2020, p. 146), “O município


de Alhandra é a principal referência para a formação do catimbó no Nordeste do Brasil. Nessa
região habitavam indígenas Tabajara antes da colonização”. Em 1585 foi fundada a cidade
de Nossa Senhora das Neves, que posteriormente, veio a se chamar João Pessoa (capital
do estado da Paraíba - Brasil). “Logo depois desse estabelecimento colonial, fundam-se os
aldeamentos indígenas de Arataguy (também referida na literatura como aldeia de Iguaraig)
e Jacoca, que respectivamente, darão origem aos atuais municípios vizinhos de Alhandra
e Conde” (GRÜNEWALD, 2020, p. 146).

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Ainda na perspectiva histórica, Santiago (2008), destaca que: “O culto da jurema
difundiu-se dos sertões e agreste nordestinos em direção às grandes cidades do litoral,
tendo o símbolo sagrado da árvore da jurema, originado na cultura indígena, sincretizando-
se com elementos da magia europeia, do catolicismo e da matriz africana”, conforme já
apontava Cascudo (1978) e Bastide (1985). A partir desse amálgama de tradições, formou-
se o Catimbó na Paraíba, no Recife, em Maceió e em Natal.
De acordo com Nascimento (1994), o Catimbó é considerado “como variante de práticas
mágico-religiosas, cuja origem, se localizaria em processos de transformação cultural,
experimentados por populações indígenas em contato secular com a sociedade envolvente.
Fernandes (1938), tratando sobre a gênesis do Catimbó, evidencia a existência na Paraíba
de práticas feiticeiras de 1740, através de uma ordem régia endereçada ao governador da
capitania, informando que feiticeiros e índios foram presos e mortos por praticarem magias
condenadas pela Igreja Católica”.
Bastide (1985), [...] “destaca que para além da influência indígena, também a influência
negra no catimbó”, tendo assinalado o antagonismo dos negros bantos na Paraíba e em
Pernambuco, que se ambientaram à religiosidade indígena em decorrência da centralização,
como a sua, na descida do deus ao corpo humano e imediata transformação da sua
originalidade. Cascudo (1978), [...] “trata o catimbó como o mais nítido exemplo do processo
de convergência afro-branco-ameríndia”. Destarte que foi esse autor quem assinalou a
influência da bruxaria europeia na religiosidade popular brasileira, perseguida pela inquisição,
tendo aqui encontrado canais de assimilação principalmente junto às populações negras e
índias que também possuíam seus rituais mágicos. Em suas pesquisas, [...] “na descrição
de uma cerimônia de Catimbó, ocorrida na festa do Dia de Reis na Paraíba, Bastide (1985),
faz referência ao uso da jurema (palmeira tóxica do Nordeste) tanto através do chá de sua
raiz - ajuá - como do fumo de suas folhas e raiz dentro de um cachimbo, usado para incensar
os fiéis. Segundo ele, utilizavam o cachimbo ao contrário, isto é, colocavam a parte em que
se põe o fumo na boca, e pelo tubo soprava-se a fumaça em direção ao que se desejava
defumar (a fumaça usada como defumador). Registra, também, o uso do maracá para ritmar
as canções, a aguardente e o fumo, ofertados para os espíritos encarnados nos fiéis, os
quais, eram vistos como entidades caboclas, índias e negras.
Outro marco histórico importante no processo de evidências da difusão do catimbó
foi a missão de pesquisas folclóricas de 1938, organizada por Mário de Andrade, então
chefe do departamento de cultura do município de São Paulo, que possuía uma equipe de
pesquisadores que tinha como objetivo coletar dados sobre a cultura popular no Norte e
Nordeste do país. Essa equipe encontrou na Paraíba um número expressivo de catimbós,
relatando nos seus diários a existência de um forte núcleo catimbozeiro no município de

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Alhandra/PB (CARLINI, 1994). Dentro desse contexto, a nossa hipótese é de que houve um
processo de “migração” do catimbó do interior no Brasil para as cidades litorâneas.
Ademais, o processo de escravização dos indígenas, no qual, foram expulsos de suas
aldeias próximas ao litoral, dado ao processo de expansão colonial. [...] “isso se deu quando
os indígenas do interior sobreviviam ao extermínio, sendo escravizados e levados para tais
aldeias (como a de Alhandra) para servirem de mão-de-obra na atividade canavieira” (LIMA
SEGUNDO, 2015, p. 48, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 147).
Ademais, os indígenas foram escravizados e expulsos de suas aldeias próximas ao
litoral durante o processo de expansão colonial, gerando impactos profundos na economia,
sociedade e cultura das Américas.

O catimbó

Segundo Grünewald (2020), “O catimbó é uma forma de expressão religiosa característica


do Nordeste do Brasil. Essa religiosidade é produto de uma construção espiritual popular que
tem Alhandra-PB como referência para sua gênese, mas que (sobre os mesmos eixos, quer
por difusão ou por outras emergências espontâneas) pode ser encontrada em todo o litoral
do Nordeste, especialmente de Natal (RN) e Maceió (AL), e adentrando expressivamente a
Zona da Mata paraibana e pernambucana”.
Neste pondo do livro, Grünewald (2020), discorre sobre as origens do catimbó, sua
religiosidade e influência de diversidades de variantes da cultura Juremeira no Brasil. Destarte
que foi o poeta e pesquisador Mário de Andrade, quem primeiro registrou os rituais de catimbó
no Brasil. Importante destacar também, os trabalhos de pesquisa sobre o catimbó de Luís
da Câmara Cascudo e Gilberto Freyre em 1937.
L’odò (2017), discorrendo sobre a gênesis do catimbó e os registros históricos que
nortearam a pesquisa sobre esse tema, destaca que a obra mais citada entre os pesquisadores
do tema catimbó até os dias atuais foi lançada em 1951. Trata-se de “Meleagro: Pesquisa
do catimbó e notas da magia branca no Brasil”, de autoria do folclorista Luís da Câmara
Cascudo. Livro de referência sobre os estudos das religiões indígenas no Brasil, a obra traz
consigo importantes informações. Entre outras coisas, ela dá significado ao termo “catimbó”,
explica sobre o uso ritual do cachimbo, e traz lista com os nomes de toadas de antigos
mestres espirituais de Jurema.
De acordo com L’odò (2017), a obra de Cascudo é considerada um marco na pesquisa
sobre o catimbó, pois, foi a primeira a sistematizar informações sobre essa prática religiosa e
seu contexto histórico-cultural. A partir dela, outros estudiosos foram incentivados a pesquisar
o tema, e a produzir novas obras que ampliaram o conhecimento sobre o catimbó e suas
relações com a Jurema. Assim sendo, a obra de Cascudo é utilizada até hoje como fonte de

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consulta para pesquisadores, estudantes e praticantes do catimbó, o que mostra a importância
de se preservar e valorizar o patrimônio cultural imaterial do país.
Para Neto (2007), “o catimbó é originado de uma mistura de cultos
degenerados. As degenerações da pajelança associadas aos rituais Congo-Angolanas,
aliadas às práticas de bruxaria e feitiçaria de todos os tempos, compõem o dito catimbó.
Sofreu também fortes influências do catolicismo e kadercismo. Embora suas finalidades
sejam a cura dos males físicos e os de ordem astral, há também os trabalhos para o bem e
para o mal, todos debaixo de uma grosseira e violenta corrente vibratória. Seus sacerdotes,
quase sempre homens, são chamados de Mestres e as Entidades evocadas são os Mestres
de Linhas” (NETO, 2007, p. 262-263).
Ampliando um pouco mais a discussão, destacamos aqui algumas considerações
de Neto (2007) sobre as origens do catimbó que geram divergências entre estudiosos do
assunto. Para alguns pesquisadores, o catimbó não pode ser caracterizado como uma
prática religiosa degenerada, mas sim, como uma manifestação cultural e religiosa legítima,
que tem raízes históricas e culturais profundas na sociedade brasileira. Contudo, muitos
afirmam que a influência do catolicismo e do candomblé no catimbó não deve ser vista
como uma degeneração, mas sim, como uma forma de sincretismo religioso que ocorre em
muitas culturas e épocas diferentes. Enquanto para outros pesquisadores, o catimbó deve
ser estudado em sua complexidade, levando em consideração as diversas dimensões que
envolvem essa prática religiosa, tais como, sua origem histórica, seus aspectos culturais e
sociais, suas relações com outras práticas religiosas, e assim por diante.

A Jurema de umbanda

Nesse questão do livro, o professor Dr. Rodrigo Grünewald, traz uma abordagem
histórica também sobre a religião denominada umbanda e suas relações com os rituais
da Jurema. Segundo o referido autor, “as relações sociais da época (século XIX), eram
muito tensas e complicadas com o negro, sua cultura e seus cultos marginalizados pela
sociedade da época”, como por exemplo, o registro em jornais e ou matérias dedicadas,
chamando a atenção da população branca para com os negros escravos. “Também não
faltavam acusações de crimes de feitiçaria, curandeirismo, charlatanismo e exercício ilegal da
medicina, acrescido das denúncias de práticas de espiritismo e cartomancia” que perduraram
no período da República no Brasil, entrando as primeiras décadas do século XX. Destarte
a grande influência do espiritismo europeu branco e com proposta de ciência positiva de
Allan Kardec, que predominaria sobre os mitos populares (GRÜNEWALD, 2020, p. 160-161).
Ainda segundo Grünewald, [...] “foi justamente na passagem do século XIX para o
século XX que, segundo Fry (1982), ‘grupos religiosos afro-brasileiros’ foram primeiramente

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descritos. Embora com diferenças essas ‘pequenas comunidades’ constituídas ‘por negros
sob a liderança de um pai ou mãe-de-santo’, eram chamadas de candomblé em Salvador e
macumba no Rio de Janeiro” (Fry, 1982, p. 23). A formação desses líderes religiosos requeria
vários ritos de passagem. Devido a conflitos, novas lideranças foram se estabelecendo, sem
necessariamente, passarem por tais ritos e dando maior fluidez e plasticidade aos cultos.
Além dos elementos de origem africana, surgiram também os caboclos, representando os
espíritos dos indígenas brasileiros, ou os pretos ou pretas-velhas, que passariam a representar
os espíritos dos negros que, em vida, passaram pela escravidão no Brasil. A aproximação
desses elementos ao kardecismo – ou seja, à doutrina espírita cristã reencarnacionista
formulada no século XIX por Allan Kardec, teria dado origem à umbanda, nascida com
esse nome na cidade do Rio de Janeiro (RJ)” (FRY, 1982, p. 23, apud GRÜNEWALD,
2020, p. 160-161).
Foi justamente desta “fusão” de religiosidades que nasceu a umbanda no Brasil. Em 1939
foi fundada a primeira federação de umbanda e, em 1941, foi realizado o Primeiro Congresso
do Espiritismo de Umbanda em nosso país.
Segundo Ortiz (1991), precisamos entender que a umbanda – diferentemente do
candomblé, kardecismo, catolicismo ou protestantismo – “tem consciência de sua brasilidade,
ela se quer brasileira” (ORTIZ, 1991, p. 17). Ou seja, quando falamos em umbanda, “não nos
encontramos mais na presença de um sincretismo afro-brasileiro, mas diante de uma síntese
brasileira, de uma religião endógena” (ORTIZ, 1991, p. 17, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 162).
Ainda segundo Grünewald (2020), “foi o pesquisador Vandezande (1975) quem situou
Alhandra-PB como o local de surgimento de nova religiosidade então conhecida como
catimbó, foi ele também quem primeiro mostrou seu processo de umbandização. Além disso,
esse pesquisador também explorou como o catimbó (tido como feitiço) foi deixando de ser
considerado crime e, em processo de umbandização, foi tornando-se legal” (VANDEZANDE,
1975, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 163).
Grünewald relata em sua obra que a “adesão dos juremeiros à umbanda só teria se dado
com avanço da umbanda no Nordeste, quando os catimbozeiros (imaginados como feiticeiros)
se beneficiariam da legalidade da umbanda para, dentro dela, continuarem praticando seus
ritos”. Contudo, como em todos os outros lugares desde o Rio Grande do Norte a Alagoas,
“o catimbó incorporou os elementos da umbanda, sem, no entanto, deixar de praticar uma
tradição de jurema, que ganharia lugar entre os orixás e demais entidades da umbanda”.
Muitas dessas casas religiosas guardam lugares distintos para os ritos da umbanda e da
jurema (GRÜNEWALD, 2020, p. 165).
Por fim, a jurema de umbanda se faz presente nos mais diversos rituais das mais distintas
matizes religiosas/culturais, passando desde o Xangô, Cavalo Marinho, Caboclinho, Maracatu

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Rural, sem obviamente, esquecer do Catimbó, Candomblé, Umbanda, Espiritismo e claro, da
Jurema. O professor Dr. Grünewald, (...) “destaca que em função do processo de migração
dos nordestinos, a jurema se difundiu para vários estados do país, mas principalmente, para
o sudeste. No Rio de Janeiro, por exemplo, se registram casas de umbanda com jurema
umas mais ou menos fiéis ao catimbó jurema originário” (GRÜNEWALD, 2020, p. 187).

A Jurema sagrada

A crença na Jurema Sagrada pode ser compreendida “através de duas vertentes,


uma delas dos fiéis-frequentadores ligados a alguma ‘casa de santo’, ‘terreiro’ ou ‘templo’,
a estes lhes atribui o papel de médium”, que servem de elo de comunicação para que os
espíritos possam incorporar e realizarem seus desígnios, e “outra forma de percepção são
dos fiéis, pessoas que recorrem ocasionalmente às casas de culto para resolução de alguns
problemas, das mais distintas formas e soluções”, que vão desde o aconselhamento até
resoluções amorosas e problemas de saúde, etc. (FERREIRA, 2011, p. 48).
De acordo com Ferreira (2011), “a Jurema Sagrada é uma prática religiosa presente
em diversos estados brasileiros, sobretudo na região Nordeste, e se apresenta como um
elemento importante na vida espiritual de muitas pessoas” (FERREIRA, 2011, p. 48). A autora
destaca que, além da crença em entidades espirituais, a prática da Jurema Sagrada envolve
o uso de plantas, especialmente a Jurema, que é considerada uma planta sagrada e utilizada
para diversos fins. Ademais, ressalta que a Jurema Sagrada tem sido alvo de preconceito e
estigmatização, o que tem gerado dificuldades para sua preservação e difusão.
Segundo Grünewald (2020), a jurema sagrada estava, de certa maneira, caracterizada
na cidade de Alhandra na Paraíba, mais precisamente, na casa da Mestra Jardecilha, e que
os “crentes” queriam derrubar. No dia 30 de setembro de 2009 é aprovado o tombamento
do Sítio Acais, como foi notícia no Jornal da Paraíba de 03 de outubro de 2009, cuja
manchete de reportagem dizia: “Solo Sagrado da Jurema: IPHAEP aprova tombamento do
Sítio Acais”. Um verdadeiro marco para história do Estado que até então só tinha tombado
prédios ligados à igreja católica. Os juremeiros comemoravam muito. L´Omi LÓdó (2011),
busca discutir uma possível “teologia da Jurema Sagrada, religião tida pelos juremeiros e
juremeiras como a ‘religião primaz do Brasil’ e, também, como de ‘matriz indígena’, sobretudo
etnicamente tupi, em suas diversas etnias”, pertencente a grande parte do Nordeste brasileiro,
principalmente, a Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará (L´OMI
LÓDÓ, 2011, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 195).
Atualmente, existe uma certa reorganização das entidades da umbanda nas atuais
linhas da jurema, compostas de Caboclo e Índio (povo da mata), Mestre e Preto-velho, não

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se restringe somente aos Caboclos, Boiadeiros, Ciganos e Exus que foram reagrupados
como Mestre (SANTIAGO, 2008).
Desse modo, percebe-se que para “quase todos os lados”, da religiosidade
brasileira, tem-se a Jurema Sagrada como um dos pontos de referência, evidenciando
dessa maneira sua importância em diversas manifestações e cultos religiosos
espalhados pelo Brasil (grifo nosso).

Jurema e o psiconautismo contemporâneo

Neste tópico do livro, o autor destaca a perspectiva alucinógena e/ou psicotrópica das
plantas na história do homem, e correlaciona estas características à jurema, bem como, as
plantas similares a ela.
Desse modo, objetivando dar conta dessas questões, o autor cita Mckenna (1995a),
quando este pesquisador sustenta a tese que [...] o papel dos alucinógenos foi fundamental
na evolução da consciência humana. Para ele, “a espécie humana atingiu a sua condição de
domínio através do uso de alucinógenos que ocorreu naturalmente em nosso mundo, e não
ultrapassará o seu atual primitivismo nem atingirá novas dimensões de consciência evoluída
sem o uso adicional desses meios naturais de expansão da consciência” (MCKENNA, 1995
b, p. 24, apud GRÜNEWALD, 2020, p. 209).
O termo psiconauta, inaugurado por Ernst Jünger (1970), tem sua origem do grego
(psiché e naútés) e significa literalmente, viajante da alma ou mente (JÜNGER, 1970, apud
GRÜNEWALD, 2020, p. 211).
Destarte também o aparecimento de “novas variações da jurema” em outras
regiões (como por exemplo na região Amazônica), como é o caso da juremahuasca
que é consumida em rituais dentro de comunidades cristãs no estado brasileiro do
Acre no norte do Brasil (grifo nosso).
Uma outra variação da jurema é conhecida como “judaime”, consumida no “santuário
ecológico” Vale da Esperança e Lua em Alto Paraíso no estado de Goiás – Brasil.

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Figura 1. Instrumentos e oferendas utilizados para o ritual da jurema.

Fonte: Domínio Público (2023).

Portanto, o autor no final do seu livro, faz um alerta sobre os riscos de pessoas “sem
nenhuma preparação”, manipular e até comercializar a jurema e suas misturas na internet,
movimentando um “comércio” clandestino e extremamente perigoso para os potenciais
consumidores desavisados, e que querem a praticidade da rede mundial de computadores,
bem como, as redes sociais para adquirirem este tipo de produto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje em dia o pensamento do mundo moderno tem suas raízes fortemente ligadas a
todo um passado de reflexão que precisa ser revivido na conexão com a natureza, desde os
tempos mais remotos da humanidade. O homem precisa voltar a se conectar com a natureza
urgentemente! Essa conexão é fruto de todas as referências do pensar, do pesquisar, do
questionar que guiaram desde sempre o homem na busca do sentido da vida e do universo.
Somente desta maneira, aos poucos, podemos juntar os tesouros das experiências
vividas e de novas descobertas em comunhão com a natureza, tendo consciência de sua
pequenez enquanto espécie e finitude dos recursos naturais que o cercam.
Finalmente, diante das reflexões que são proporcionadas nesta obra denominada
“JUREMA”, recomendamos sua leitura para a ampliação da percepção sobre o ser
humano e suas relações com a natureza, bem como, com sua ancestralidade, fazendo
uma verdadeira imersão na cultura dos povos originários do Brasil, seus saberes e sua
cultura, dentro dos mistérios de suas crenças e religiosidade que os acompanham desde
os primórdios da humanidade.
Sugerimos esta prazerosa leitura da Jurema e seus mistérios para todas as pessoas
e ou profissionais que estão ligados direta ou indiretamente com a Ecologia Humana, bem

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como, com a agricultura e a botânica, ao tempo em que, esperamos que esta obra possa
ampliar a visão do leitor sobre a vida do homem e sua relação com os mistérios que o cercam
em sua comunhão com a natureza.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental


(PPGEcoH) da Universidade do Estado da Bahia - Uneb.

REFERÊNCIAS

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Direito, Meio Ambiente e Ecologia Humana: contribuições para a sustentabilidade socioambiental - ISBN 978-65-5360-316-5 - Vol. 1 - Ano 2023 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br

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