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Análise do

Discurso
Livro Didático Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ADRIANA FERREIRA SERAFIM DE OLIVEIRA
PATRÍCIA VALÉRIA VIEIRA DA COSTA
AUTORIA
Adriana Ferreira Serafim de Oliveira
Olá. Meu nome é Adriana Ferreira Serafim de Oliveira. Sou Doutora
em Educação pela UNESP - Rio Claro, com foco em inclusão social,
direitos fundamentais e políticas públicas para as mulheres vítimas de
violência de gênero. Estágio doutoral em Psicologia Social com bolsa
PSDE - CAPES na “Universidad Complutense de Madrid - Facultad de
Ciencias Políticas y Sociología” com pesquisas desenvolvidas em Madrid
e cercanias quanto aos serviços públicos de atendimento à mulher vítima
de violência de gênero e quanto à legislação dessa temática a pesquisa
foi desenvolvida com a orientação de professor da “Facultad de Derecho
de la Universidad Complutense de Madrid”. Tem experiência em trabalhar
com a metodologia qualitativa. Mestra em Direitos Fundamentais Difusos
e Coletivos pela UNIMEP de Piracicaba, com foco em Direitos Humanos
e Direito Internacional, com bolsa do programa PROSUP-CAPES. Pós-
graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Bacharel em Direito pela
Instituição Toledo de Ensino de Bauru (ITE). Pós-doutorado em curso pela
FD-UPM. Revisora e parecerista de periódicos qualificados. Professora
universitária. Advogada

Patrícia Valéria Vieira da Costa


Olá. Meu nome é Patrícia Valéria Vieira da Costa. Sou formada
em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, pela Universidade
Estadual da Paraíba, possuo Mestrado em Literatura e Interculturalidade
e atualmente faço Doutorado em Literatura e Interculturalidade, ambos
pela mesma instituição. Tenho experiência docente no ensino básico, por
meio das disciplinas de Literatura e Produção de textos, passando por
turmas do ensino Fundamental II ao ensino Médio. Sou apaixonada pelo
que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão
iniciando em suas profissões.

Por isso fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu


elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do
desenvolvimento houver necessidade
de uma nova de apresentar um
competência; novo conceito;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Sujeito do Discurso: Benveniste, Authier-Revuz, Bakhtin, Ducrot
e Foucault ..................................................................................................... 12
As diversas formas de conceber o sujeito do Discurso ..................................... 12

O Sujeito para Benveniste...................................................................................... 13

O sujeito para Bakhtin .............................................................................................. 16

O sujeito (Polifonia) em Ducrot............................................................................ 16

O Sujeito para Foucault ........................................................................................... 17

Formação Imaginária e Formação Discursiva..................................20


Formação discursiva......................................................................................................................23

Ideologia e Sujeito....................................................................................... 27
A Forma-Sujeito ............................................................................................................................... 31

O sujeito e sua forma histórica............................................................... 34


Subjetividades................................................................................................................................... 39
Análise do Discurso 9

03
UNIDADE
10 Análise do Discurso

INTRODUÇÃO
Você sabia que a Análise do Discurso é uma das mais importantes
para o conhecimento da Língua? Já tivemos um conhecimento introdutório
desse conteúdo na unidade anterior. Neste daremos ênfase a como esse
estudo vê as concepções de Sujeito de acordo com os maiores pensadores
da Análise do Discurso, além de mostrar como funcionam perspectivas
essenciais à essa ciência: A formação Imaginária e a Formação Discursiva.
Além disso, exporemos como funcionam tanto a Ideologia como a História
em relação aos sujeitos constituídos no discurso. Esse será um passeio
maravilhoso no objeto foco de nossa disciplina. Ao longo desta unidade
letiva você vai mergulhar nesse universo!
Análise do Discurso 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar
você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1.Compreender como funciona a questão do Sujeito Discursivo dos


analistas do Discurso mais reconhecidos;

2.Entender como funcionam, dentro do Universo da Análise do


Discurso, a Formação Imaginária, bem como a Formação Discursiva;

3.Identificar, na Análise do Discurso por meio de seus estudiosos,


qual a relação entre Ideologia e sujeitos do discurso;

4.Compreender como para a Análise do Discurso o Sujeito é


entendido em sua forma histórica.

Então? Preparado para dar continuidade ao incrível estudo da


Análise do Discurso? Ao trabalho!
12 Análise do Discurso

Sujeito do Discurso: Benveniste, Authier-


Revuz, Bakhtin, Ducrot e Foucault
OBJETIVO

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


como funcionam as perspectivas de sujeito do discurso
para os principais analistas do Discurso. Para tanto,
descreveremos cada perspectiva, bem como seus pontos
fortes e fracos, que se tornaram marcos no estudo da
linguística. Isso será fundamental para o exercício de
sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

As diversas formas de conceber o sujeito


do Discurso
No universo da Análise do Discurso, existem várias teorias em
relação ao sujeito. Por exemplo, existe aquela que considera o sujeito
enquanto o “eu”, dessa forma, ele seria o centro da comunicação. Outra
teoria coloca um “tu” como o centro, já que ele tem total influência sobre
o “eu”, ou seja, é, portanto, fator principal. Há ainda a que defende o
espaço entre o “eu” e o “tu” enquanto fator central. Dentre essas diversas
perspectivas, Orlandi apud Brandão (2004, p.54, 55) enumera, como forma
de sistematizar as teorias, as principais correntes em relação à noção de
sujeito. Vejamos:
Primeira fase:  em que as relações interlocutivas estão
centradas na ideia da interação, harmonia conversacional,
troca entre o  eu e o tu.  Nessa concepção idealista
enquadram-se, por exemplo, a noção de sujeito de
Benveniste e aquela regida pelas leis conversacionais e
correntes do princípio de cooperação griceano;

Segunda fase:  em que se passa para a ideia do conflito.


Centradas no outro, segundo essa concepção as relações
intersubjetivas são governadas por uma tensão básica
em que o  tu  determina o que o  eu  diz, ocorrendo uma
espécie de tirania do primeiro sobre o segundo. É a
concepção fortemente influenciada pela retórica, presente
Análise do Discurso 13

nos momentos inicias da AD, cujas análises focalizaram,


sobretudo os discursos políticos;

Terceira fase:  em que, reconhecendo, no binarismo


da concepção anterior, uma polarização que impedia
apreender o sujeito na sua dispersão, diversidade, a AD
procura romper com a circularidade dessa estrutura dual,
ao reconhecer no sujeito um caráter contraditório que,
marcado pela incompletude, anseia pela completude,
pela vontade de “querer ser inteiro”. Assim, numa relação
dinâmica entre identidade e alteridade, o  sujeito é
ele mais a complementação do outro. O centro da
relação não está, como nas concepções anteriores, nem
no  eu  nem no  tu,  mas no espaço discursivo criado entre
ambos. O sujeito só se completa na interação com o outro.

•• Caro aluno (a), perceberam como existem várias formas de


conceber o sujeito? Vamos agora conhecer quatro as mais
importantes perspectivas. Preparados?

O Sujeito para Benveniste


Só conseguiremos entender como Benveniste compreende o
sujeito se, antes, entendermos de subjetividade. Isso, pois para a teoria
desse estudioso, uma coisa não se dissocia da outra. Assim, para Brandão
(2004, p. 56), Benveniste chama de subjetividade:
A capacidade de o locutor se propor como sujeito do seu
discurso e ela se funda no exercício da língua [...] (ele)
enuncia sua posição no discurso através de determinados
índices formais dos quais os pronomes pessoais
constituem o primeiro ponto de apoio na revelação da
subjetividade na linguagem.

Dessa forma, vemos que o “eu” subjetivo toma uma posição de


vantagem sobre o “tu”, que se torna apenas um receptor. Para Brandão
(2004), Benveniste coloca “eu” e “tu”, ou seja, considera a marca de pessoa.
Porém, apesar de ambos serem protagonistas a enunciação, o “eu” e uma
pessoa subjetiva, enquanto que o “tu” é não subjetiva.

Na verdade, para Benveniste, a noção de sujeito é egocêntrica: o


discurso depende unicamente do “eu”, sem qualquer influência do “tu”.
Como coloca Brandão (2004), Benveniste vê o “ego” como centro da
14 Análise do Discurso

enunciação, esse é o sujeito, já que está no “eu” a capacidade de auto


afirmar-se subjetivamente.

É dessa noção egocêntrica que as controvérsias em relação à


concepção de sujeito em Benveniste surgem, pois o “eu” não constitui
toda a linguagem, sempre existirá outro sujeito que comunicará algo.
A subjetividade é inerente a toda linguagem e sua
constituição se dá mesmo quando não se enuncia o eu.
Os discursos que utilizam de formas indeterminadas,
impessoais como o discurso científico, por exemplo, ou
o discurso do esquizofrênico em que o locutor utiliza o
ele para se referir a si mesmo mostram uma enunciação
que mascara sempre um sujeito. Isto é, nesses tipos de
enunciação, o sujeito enuncia de outro lugar, postando-
se numa outra perspectiva, seja a da impessoalidade
em busca de uma objetivação dos fatos ou de um
apagamento da responsabilidade pela enunciação, seja
a da incapacidade patológica de assunção de um eu.
(BRANDÃO, 2004, p. 57 e 58).

EXPLICANDO MELHOR

O sujeito, para Benveniste, portanto, não é uma teoria


satisfatória, já que desconsidera o “tu” e, principalmente,
a historicidade. Termos, caro aluno (a), que até então em
nossos estudos identificamos como sendo importantes à
Análise do Discurso.

O sujeito para Authier-Revuz


Agora que encontramos a contradição na concepção de sujeito
em Benveniste, conheceremos outras concepções que melhor buscam
entender o sujeito. Dentre elas temos, a de Authier-Revuz, que abandona
o egocentrismo do “eu”, pois considera o “tu” não só na pessoa como
também no tempo e no espaço em que está situado. Para Brandão (2004,
p.59), a concepção de sujeito de Authier-Revuz:
Não está mais centrada na transcendência do  EGO, mas
relativizada no par  EU—TU, incorporando o outro como
constitutivo do sujeito. Disso decorre uma concepção
Análise do Discurso 15

de linguagem também não mais assentada na noção


de homogeneidade.  A linguagem não é mais evidência,
transparência de sentido produzida por um sujeito uno,
homogêneo, todo-poderoso. É um sujeito que divide o
espaço discursivo com o outro.

Percebemos aqui que não há ainda uma concepção de


homogeneidade da linguagem, mas sim, uma discussão em relação à
heterogeneidade discursiva. Inclusive, Authier-Revuz (1982) criou uma
lista com as formas da heterogeneidade, como vemos:

Percebemos então que a homogeneidade também não é bem aceita,


e entraremos nas discussões sob o ponto de vista da heterogeneidade
discursiva.

Authier-Revuz (1982) lista “[...] formas de heterogeneidade que


acusam a presença do outro”, vejamos quais são:

Imagem elaborada pela autora


16 Análise do Discurso

Essas noções revelam um discurso heterogêneo que, inclusive, tem


bases na teoria do discurso bakhtiniana e, principalmente, na noção de
sujeito que emerge dela, como veremos a seguir.

O sujeito para Bakhtin


Para Bakhtin (1978), a língua “[...] não e constituída por um sistema
abstrato de formas linguísticas [...], mas pelo fenômeno social da interação
verbal realizada através da enunciação e das enunciações”. Por meio disso,
Bakhtin deixa claro que o “eu” nem é nem pode ser o centro discursivo,
posto que o sentido do discurso depende da interação entre um “eu” e
um “outro”, estabelecendo assim uma relação que o estudioso chama de
Dialogismo. Ao afirmar que,
[...] não tomo consciência de mim mesmo senão através
dos outros, é deles que eu recebo as palavras, as formas, a
tonalidade que forma a primeira imagem de mim mesmo.
Só me torno consciente de mim mesmo, revelando-me
para o outro, através do outro e com a ajuda do outro
(Bakhtin apud TODOROV, 1981, p. 148).

Bakhtin (1978) evidencia a existência do “tu”, que pode inclusive


transformar e influenciar o sentido do discurso proposto pelo interlocutor.
Isso, pois ao enunciar, o locutor estabelece um diálogo com o enunciado
do receptor, em um jogo de contra discurso. Assim, temos em Bakhtin
uma concepção de sujeito que se faz dialógica: “O sujeito só constrói sua
identidade na interação com o outro.” (BRANDÃO, 2004, p. 76).

O sujeito (Polifonia) em Ducrot


É em 1942 que Ducrot elabora, depois de várias tentativas, sua
teoria da polifonia. Aqui, o estudioso revela a necessidade de se distinguir
locutor de enunciador, seguindo novas diretrizes. Como vemos:
a) O locutor é apresentado como alguém a quem se deve
imputar a responsabilidade pelo enunciado. É a ele que
referem o pronome eu e as demais marcas de primeira
pessoa. b) O locutor, uma ficção discursiva, é diferenciado
do autor empírico, elemento da experiência (1987, p. 187).
Análise do Discurso 17

Aqui Ducrot deixa claro sua recusa em admitir a ideia de um produtor


de fala que se integra ao sentido descritivo do enunciado. Assim, esse
pensador se distancia de outras teorias discursivas posto que o foco não
está na polarização pronominal, mas sim no acontecimento estabelecido
pelo surgimento do enunciado.

Dessa maneira, o locutor recebe duas representações: O


responsável pela enunciação [L]; o locutor como ser no mundo [Y]. Essas
são subdivisões representam o mundo interno do enunciado, portanto,
são seres do discurso. Assim:
[L]- Locutor constituído no nível do dizer, por meio do
enunciado: é ele quem enuncia;

[Y]- constitui-se no nível do dito, é o conteúdo do


enunciado, o ser empírico referido pelo locutor [l].

Segundo Barbisam & Teixeira (2002, p. 168):


A identificação de [Y] só é possível através de [L]. [L]
qualifica o que [Y] faz, realizar um ato. Por exemplo, em Eu
desejo, Eu remete a [Y], pois não é enquanto locutor que
se experimenta o desejo, mas enquanto ser do mundo, e
independentemente da asserção que se faz dele.

Ou seja, para a teoria do sujeito de Ducrot, há um duplo de vozes,


uma polifonia, que concretiza o discurso emitido em um enunciado.
Por fim, caro aluno (a), veremos qual a concepção de sujeito para um já
conhecido nosso: Foucault.

O Sujeito para Foucault


Foucault, ao relacionar o sujeito com o poder, dá uma perspectiva
que se diferencia das bases das perspectivas anteriores. Para esse
estudioso, as relações de poder que se liga ao sujeito atuam por completo
em sua constituição. Como coloca Fernandes (2012, p. 7), essas relações
“são sutis, múltiplas, em diversos níveis”.

Em “O Sujeito e o poder”, Foucault (1995) explica que sua intenção


nunca foi analisar o poder em si, mas sim, entender como os seres humanos
se tornam sujeitos. Para isso, o estudioso parte para a objetivação dos
modos, e considera que um deles é a identificação e oposição do sujeito
18 Análise do Discurso

aos discursos do poder. Ao se opor, o sujeito luta não só contra instâncias


autoritárias de poder, como também contra o “Governo da individualidade”,
ou seja, contra o privilégio do saber, bem como aos papéis mistificados
impostos às pessoas. Como coloca Silva & Machado (2016, p. 2003):
Enfim, tais lutas giram em torno da busca de uma
identidade, “de quem somos nós” e recusam os rótulos
impostos pelas instâncias de poder que buscam
determinar quem somos. Nessa luta, existe a formação de
poder que se aplicará à vida comum do indivíduo, na sua
identidade a ser reconhecida pelos outros.

Uma das questões centrais de Foucault é compreender como


surgem novos tipos de sujeitos. Diferentemente do marxismo, que entende
o sujeito enquanto reflexo de suas condições econômicas, esse pensador
entende o sujeito como algo que não é dado previamente. Assim:
Para Foucault, o fato de o sujeito ser um efeito das
relações dos discursos construídos nas relações de
poder, não significa que o mesmo está submetido a um
porvir inevitável. A proposta do pensador é apontar que
não há um sujeito preestabelecido, do qual emanariam
as relações de poder, pelo contrário, os sujeitos são
construídos e/ou produzidos a partir dessas relações, pois,
para este, a própria noção de sujeito tal como é, resulta de
uma produção, visto que “o que chamamos sujeito é um
enunciado social”. (SILVA & MACHADO, 2016, p.2003).

Dessa maneira, os indivíduos podem ser chamados de normais,


loucos, revolucionários, etc., sujeito daquele o desse discurso, daquela
ou dessa ciência. A heterogeneidade volta, então, aos estudos do sujeito,
quando Foucault entende que esse tem sua identidade construída por
um processo constante de produções e transformações, já que é fruto
de um ambiente heterogêneo e permeado por conflitos sociais. Logo, a
identidade de um sujeito é baseada na exterioridade social e constituída
pela sua relação com o outro.

Nesse contexto, o enunciado acaba por revelar a posição social


do sujeito, localizando-o no emaranhado nó das relações de poder. Isso
posto,
O discurso como parte de um jogo de lutas de contradições
e antagonismos referentes à vida dos sujeitos no meio
Análise do Discurso 19

social historicamente produzido, a resistência desses


sujeitos também constitui uma forma de poder nas lutas,
consistindo por esses motivos em uma prática discursiva.
(SILVA & MACHADO, 2016, p.2005).

Em suma, para Foucault, do sujeito emana os discursos que


revelam os jogos de poder sociais, historicamente localizados. Eles são,
dessa maneira, produtores de práticas discursivas que revelam ideologias,
aceitações e inquietações em relação aos diversos tipos de governos
históricos. O sujeito, portanto, está no centro das relações de poder, já
que é por meio dele que confluem as relações sociais, como a resistência
às dominações, por exemplo.

RESUMINDO

Na Análise do Discurso, houve dentre os analistas do


discurso várias formas de conceber o sujeito, desde
Benveniste, que enxerga enquanto o sujeito de maneira
egocêntrica e, por isso, insuficiente à uma Análise do
Discurso satisfatória; passando por Authier-Revuz, que
inclui na noção de sujeito a questão de heterogeneidade;
Bakhtin, que dá grande destaque a existência do “tu”,
que pode inclusive transformar e influenciar o sentido do
discurso proposto pelo interlocutor; Ducrot, que estabelece
a noção de Polifonia para o Sujeito; e, por fim, Foucault,
que coloca o Sujeito como o ser que emana discursos
embasados em contextos sociais e históricos, reveladores
de jogos de poder.
20 Análise do Discurso

Formação Imaginária e Formação


Discursiva
OBJETIVO

Ao fim deste capítulo, esperamos que você compreenda


como funcionam as Formações Imaginária e Discursiva,
à luz dos estudos propostos por Pêcheux, bem como,
como essas inserem-se no contexto maior da Análise do
Discurso, tornando-se importantes meios de análise e
compreensão de textos.

Formação Imaginária
Partindo do conceito proposto por Lacan para o Imaginário, Michel
Pêcheux elaborou o conceito de formações imaginárias para a Análise
do Discurso francesa. Segundo Pêcheux (2001), acontece nos processos
discursivos uma série de formações imaginárias “que determinam o lugar
d A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem
de seu próprio lugar e do lugar do outro (PÊCHEUX, 2001, p. 82). Nesse
contexto, para o autor, existem formações imaginárias, designadas, para
ele da seguinte maneira:

IA (A)-
Imagem do
lugar A para o
sujeito colocado em A:
“Quem sou eu para eu lhe
falar assim?”

IB(B)- Imagem do lugar B para o


sujeito colocado em B: IB(A)-
IA (B)-
Imagem
Imagem “Quem sou eu para que
do lugar de
do lugar de ele me fale assim?”
A para o sujeito
B para o sujeito
(PÊCHEUX, colocado
2011, p.83) Imagem elaborada em B:
pela autora
colocado em A:
“Quem é ele para que eu “Quem é ele para que me
lhe fale assim?” fale assim?”
Análise do Discurso 21

Para Orlandi (2003), as formações imaginárias não fazem referência


a sujeitos e/ou lugares empíricos, antes, às imagens que são resultados
de suas projeções no discurso: “São essas projeções que permitem
passar de situações empíricas-os lugares dos sujeitos- para posições dos
sujeitos no discurso. Essa é a distinção entre lugar e posição.” (ORLANDI,
2003, p.40).

EXPLICANDO MELHOR

Nas formações imaginárias acontece um jogo de imagens


entre os sujeitos, e desses com os lugares que ocupam
nos discursos e na sociedade (Discursos falados, possíveis,
imaginados). Nesse contexto, as formações imaginárias
são resultantes: elas surgem de provessos discursivos
anteriores, mafinestando no discurso relações de força e
sentido.

•• Daí, caro aluno, vem a pergunta: O que seria essa relação de


forças?

A relação de força faz referência ao lugar onde o sujeito está ao emitir


seu discurso. Para Orlandi (2001), as palavras não possuem significado
sozinhas, há de existir um sujeito que as falam, em um determinado
lugar ocupado, já que todo falante, bem como todo ouvinte, ocupa um
determinado lugar na sociedade. Sendo assim, o sentido do que foi dito é
resultado do que A e B colocam em lugares determinados na organização
social. Dessa forma, o sujeito fala por meio do lugar de A, e suas palavras
possuiriam um significado diferente caso ele estivesse as pronunciando
no lugar de B.

Na relação de sentidos não existe discurso que não esteja


relacionado com o outro. Os efeitos de sentido que surgem dessa relação
funciona da seguinte maneira:
Um discurso aponta para outros, o sustentam, assim
como para dizeres futuros. Todo discurso é visto como um
estado de um processo discursivo mais amplo, contínuo.
Não há, desse modo, começo absoluto nem ponto final
para o discurso (ORLANDI, 2003, p.39).
22 Análise do Discurso

Outrossim, o discurso se relaciona não só com outros já ditos, mas


também, com os imaginados, possíveis.

Como dissemos, as formações imaginárias antecedem o discurso.


Esse mecanismo de antecipação nada mais é do que a projeção do
locutor considerando seu lugar, em relação ao lugar do seu interlocutor.
Há, aqui, o estabelecimento de estratégias discursivas, que visam os
efeitos que seus enunciados podem gerar sobre seu receptor, regulando
a argumentação para pronunciar da maneira almejada. “Como se trata, por
hipótese, de antecipações, deve-se observar que esses valores precedem
eventuais ‘respostas’ de B, vindo sancionar as decisões antecipadoras de
A”. (PÊCHEUX, 2001, p. 84). Assim, os elementos estruturais das condições
de produção discursivas (Relação de sentido, força e antecipação) formam
os processos de significação dos discursos.

•• Já sabemos como os protagonistas intervém nas condições de


produção dos discursos. Agora fica a dúvida: Como o referente
participa da situação?

Para Pêcheux (2001), o referente é um objeto imaginário, ou seja, ele


é o ponto de vista do sujeito, não a realidade física desse. Observemos
como explica Pêcheux (2001, p. 84): “ IA(R)- ‘Ponto de vista’ de A sobre R:
‘De que lhe falo assim? (...) IB(R)- ‘Ponto de vista’ de B sobre R: ‘De que ele
me fala assim’ ”.

Segundo Orlandi (2003), os mecanismos de um processo discursivo


resultam do que é material, institucional do mecanismo do imaginário.
Esse imaginário, nesse contexto, produz imagens de quem fala e do
objeto de seu discurso dentro de um contexto sócio histórico. Portanto,
temos a imagem do lugar de quem fala (o locutor), do lugar de quem
escuta (o interlocutor) e o referente “é pois todo um jogo imaginário que
preside a troca de palavras” (ORLANDI, 2003, p.40). Assim, para Coelho &
Pereira (2011, p.7):
Nesse jogo imaginário, a maneira como dizer significa
de um modo determinado, não está relacionada com os
sujeitos empíricos que discursam, mas sim com o lugar
que esses ocupam no discurso. É dessa froma que as
condições de produção se fazem presentes nos processos
Análise do Discurso 23

de identificação dos locutores, interlocutores e referente


presentes no discurso.

Orlandi (2003) coloca que é pensando nas condições de produção


de discursos, sob a perspectiva das formações imaginárias, que
poderemos ter várias possibilidades regidas pela forma como a formação
social se insere na história. Dito isso, podemos concluir que a Análise do
Dsicurso desvenda a produção de sentidos e, também, o imaginário que
os condiciona, pois “Os sentidos não estão nas palavras elas mesmas.
Estão àquem e além delas.” (ORLANDI, 2003, p. 42).

•• Caro aluno(a), acabamos de compreender como funcionam as


formações imaginárias. Preparados para conhecer as formações
discursivas? Vamos lá!

Formação discursiva
A primeira concepção de Formação Discursiva foi elaborada por
Michel Foucault, quando afirmou:
Se puder descrever, entre um certo número de enunciados,
semelhante sistema de dispersão, e no caso em que
entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos,
as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade
(uma ordem, correlações, posições e funcionamentos,
transformações), diremos, por convenção, que se trata de
uma formação discursiva. (FOUCAULT, 2012, p.47).

Iluminado pela perspectiva Foucaultiana, Pêcheux desenvolveu


sua própria perscpectiva, alinhada ao materialismo dialético. Para esse
pensador, as formações discursivas são componentes correlacionados
diretamente às formações ideológicas.

NOTA

Formações ideológicas são um conjunto de atitudes e de


representações que não se constituem nem “individuais”,
muito menos “universais”. Antes, se relacionam diretamente
as posições de classes em disputa umas com as outras ,
em que a conjuntura ideológica as caracteriza enquanto
uma formação social em dado momento.
24 Análise do Discurso

Para Pêcheux, cada formação ideológica traz uma ou mais


formações discursivas interligadas. Essas determinam
O que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma
arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição,
de um programa, etc.) a partir de uma posição dada numa
conjuntura dada: o ponto essencial aqui é que  não se
trata apenas da natureza das palavras empregadas, mas
também (e sobretudo) de construções nas quais essas
palavras se combinam […] as palavras “mudam de sentido”
ao passar de uma formação discursiva a outra. (PÊCHEUX,
1995, p.196).

Acima, temos o primeiro conceito de Formação Discursiva elaborado


por Pêcheux. Em um segundo momento, esse estudioso relaciona
Formação Discursiva com o Interdiscurso, ou seja, liga o conceito a um
outro capaz de iluminá-lo ainda mais, já que a interdiscursividade é a
formação dos interstícios: a Formação discursiva enquanto uma rede de
complexos discursos ideológicos que se tocam, correlacionam-se:
Próprio de toda formação discursiva dissimular, na
transparência do sentido que nela se forma, a objetividade
material contraditória do interdiscurso, que determina essa
formação discursiva como tal, objetividade material essa
que reside no fato de que “algo fala” (ça parle) sempre
“antes, em outro lugar e independentemente”, isto é, sob
a dominação do complexo das formações ideológicas.
(PÊCHEUX, 1995, p.162).

Nesse sentido, o interdiscurso se faz enquanto um todo dominante


das Formações Discursivas, portanto, é aquilo que caracteriza: a diferença
entre elas; situa os pontos de relação e troca. Em outras palavras,
o Interdiscurso é o complexo de discursos ideológicos, regras que
determinam as Formações discursivas.

Ademais, é por meio do Interdiscurso que há o funcionamento da


Ideologia como um todo, que se concretiza por meio da interpelação entre
indivíduos e sujeitos. Como coloca Siqueira (2017, p. 4), “O interdiscurso
constitui aquilo que determina o discurso do sujeito e, no processo
discursivo, é reinscrito no próprio sujeito.”
Análise do Discurso 25

Desse modo, para Siqueira (2017, p. 6) em “Semântica do Discurso”,


Pêcheux acrescenta duas características importantes à questão do
conceito de Formação Discursiva:

1- A relação: Formação Discursiva e Interdiscurso

Estabelece a noção de que os sentidos de uma Formação Discursiva


dependem do Interdiscurso, já que é nele que se constituem os
objetos dos quais os falantes se apropriam para construir seus
enunciados, bem como a articulação entre eles.

2- A relação: Intradiscurso e interdiscurso

Em outras palavras, a relação entre o sistema linguístico e a


discursividade. Aqui Pêcheux considerou a impossibilidade de
entender o discurso enquanto uma máquina lógica. Nesse sentido,
as fronteiras entre o interdiscurso e o intradiscurso não são fixas:
são móveis e colocam o Outro no centro, dividindo esse lugar com
o mesmo.

Como coloca Siqueira (2017, p. 9):


Até agora entendemos que as formações discursivas,
que determinam o que pode e deve ser dito, são
delimitadas pelo interdiscurso. É no interdiscurso que os
objetos apropriados pelo sujeito do discurso surgem e se
articulam, portanto, é ali que a coerência constitutiva de
uma formação discursiva é completa.

Portanto, o interdiscurso é fundamental para a compreensão das


formações discursivas, já que é o complexo dominante dessas. Desse
modo, ele se situa em um local tenso, em fronteiras instáveis, como o
outro no discurso. Como coloca Pêcheux (8): “Uma Formação Discursiva
é atravessada por várias Formações Discursivas […] toda Formação
Discursiva é definida a partir de seu interdiscurso”.

Por fim, é interessante compreender como a noção de Formação


Discursiva insere em sua constituição as noções de ideologia e história
e, dessa maneira, esclarece as circunstâncias pelas quais existem
das condições de produção de discurso e, também, de impressões
imaginárias, elaboradas pelos sujeitos. As Formações Discursivas não só
26 Análise do Discurso

partem de um conjunto de regras específicas, como também delimita o


que os sujeitos podem dizer, ordenam o que eles devem enunciar.

Dessa feita, o outro ganha um papel de destaque. Com a


heterogeneidade discursiva enquanto constituinte do discurso, a
alteridade passa a ser fundamental para a Análise do Discurso e, em
particular, para as formações tanto imaginárias quanto discursivas.

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre as Formações Discursivas? Acesse


Formação Discursiva https://bit.ly/34GkhDH. Disponível
no Youtube.

RESUMINDO

Nesse capítulo, compreendemos como funcionam


as Formações Imaginárias e Discursivas. Enquanto as
Formações Imaginárias antecedem o discurso projetando
ao locutor que tem consciência de seu lugar imagético
(social, econômico, etc.) em relação ao lugar do seu
interlocutor; as Formações Discursivas partem de um
conjunto de regras regidas ideologogicamente para
delimitar interdiscursivamente o que os sujeitos podem e/
ou devem enunciar.
Análise do Discurso 27

Ideologia e Sujeito
OBJETIVO

Ao fim desse capítulo esperamos que você compreenda


como, para a Análise do Discurso, tanto os conceitos
de Ideologia quando os de sujeito se tocam, com vistas
a entender que ambos formam um mecanismo de
subjetividade que direciona os discursos estabelecidos nos
contextos históricos, sociais, culturais, etc.

No campo da Análise do Discurso, a linguagem não é transparente,


muito menos neutra. Ela é carregada de simbologia e é através dessa que
nos confrontamos com o mundo, com outros sujeitos, com os sentidos
históricos (contribuindo, questionando, aceitando ou transformando
esses). Para a Análise do discurso, a linguagem só existe porque faz
sentido, e só faz sentido pois está inserida na história. Nesse sentido,
chegamos ao ponto central desse capítulo: o Sujeito (que faz uso da
linguagem) e a Ideologia (as concepções histórico-sociais que regem
suas escolhas).

Um dos aspectos mais relevantes à Análise do Discurso é o significado


dado à ideologia por meio da consideração da linguagem. Aqui, temos
uma noção discursiva de Ideologia, ou, por assim dizer, a compreensão
de que essa “é a condição para a constituição do sujeito e dos sentidos”
(ORLANDI, 1999, p.46). Isso, pois diante dos objetos simbólicos, o homem
é impulsionado a buscar sentidos, interpretar. Assim, podemos dizer que
não há sentido sem ideologia e, portanto, não temos como escapar da
presença dela enquanto sujeitos. “Assim considerada, a ideologia não é
ocultação, mas função da relação necessária entre linguagem e mundo”
(ORLANDI, 2003, p.47).

Stuart Hall é outro pensador que articula sujeito (que aqui


entendemos enquanto linguagem) e Ideologia. Para esse pensador, a
linguagem é “multirreferencial”, pois permite que uma mesma relação
social possa ser representada ou construída diferentemente:
28 Análise do Discurso

Por ideologia, refiro-me às estruturas mentais – as


linguagens, os conceitos, as categorias, imagens do
pensamento e os sistemas de representação que diferentes
classes e grupos sociais desenvolvem com o propósito de
dar sentido, definir, simbolizar e imprimir inteligibilidade ao
modo como a sociedade funciona (HALL, 1996, p.26).

VOCÊ SABIA?

Existe, na formulação da relação entre Sujeito e Ideologia


em Hall, a presença do pensamento altusseriano
para a compreensão da “Ideologia” como sistema de
representações. Para Althusser, os sujeitos são recrutados
pela ideologia, na tentativa de explicar que a subjetividade
pode ser entendida pelas estruturas sociais e simbólicas. Ao
procurar entender a ideologia, o estudioso alertou para seu:
Caráter necessário [...] como uma estrutura essencial
à vida histórica das sociedades”, destacou seu
caráter eterno, “onipresente”, “trans-histórico”, no
mesmo “sentido em que Freud formulou uma teoria
do inconsciente em geral” e apontou ainda para sua
“história própria” como “sistema de representações”,
ou seja, sistema simbólico (ALTHUSSER, 1974, p.76).

SAIBA MAIS

Quer saber mais sobre a concepção Althusseriana de


Ideologia? Acesse https://bit.ly/2EA4LP9 Disponível no
Youtube.

Em contrapartida, Hall coloca que:


É precisamente porque a linguagem, o meio de
pensamento e cálculo ideológico, é ‘multiacentuada’ como
Volosinov colocou, que o campo do ideológico é sempre
um campo de ‘cruzamento de ênfases’ e de ‘cruzamento
de interesses sociais diferentemente orientados’ (HALL,
1996, p.40).
Análise do Discurso 29

Nesse meio, ocorre certos equívocos. Por exemplo, pela linguagem


somos levados a entender, enquanto sujeitos, que os discursos nascem
em nós quando, na verdade, só reproduzimos. Aqui retomamos o já
estudado “esquecimento ideológico”: nós, como sujeitos sociais, temos a
impressão de pronunciar exatamente o que queremos no sentido exato que
queremos dar. Além do esquecimento ideológico, temos o esquecimento
do discurso, na ordem da enunciação, que nos dá a sensação de que o
que dizemos só pode ser dito da forma como escolhemos.

O esquecimento, nesse contexto, apesar de equivocado, é


estruturante, já que está na constituição dos sujeitos. Assim, ele é uma
necessidade para que a linguagem funcione e para que os sujeitos
estabeleçam sentidos, como vemos:
Os sujeitos “esquecem” que já foi dito (...)
para, ao se identificarem com o que dizem,
se constituírem em sujeitos. É assim que
(...) retomando palavras já existentes como
se elas se originassem neles (...) sentidos e
sujeitos estão em movimento, significando
sempre de muitas e variadas maneiras.
Sempre as mesmas, mas, ao mesmo tempo,
sempre outras. (ORLANDI, 2003, p.36).
Ao considerar essa questão, a Análise do discurso “inclui (...) o
sujeito, ao mesmo tempo em que o descentra, isto é, não o considera
fonte e responsável do sentido que produz, embora o considere como
parte desse processo de produção” (ORLANDI, 2003, p.29).

Dessa maneira, o estudo das manifestações subjetivas traz


um saber prático, ou seja, entendem o sujeito enquanto gerador de
comportamentos e expectativas. Assim, há uma relação entre sujeito e
discurso. Para Martín-Barbero o discurso possui volume histórico,
Um discurso não é jamais uma mônada, mas o lugar de
inscrição de uma prática cuja materialidade está sempre
atravessada pela de outros discursos e outras práticas.
Intertextualidade diz, nesse caso, não só das diferentes
dimensões que num discurso fazem visível e analisável
a presença e o trabalho de outros textos, [...] mas diz,
também, da materialização no discurso de uma sociedade
e de uma história (MARTÍN-BARBERO, 1978, p.137).
30 Análise do Discurso

O que Martín-Barbero coloca de “materialização no discurso de uma


sociedade e de uma história” constitui o que para a Análise do Discurso
é o interdiscurso: Um agrupamento de concepções construídas ao longo
da história, “vivas” na memória da sociedade e que determinam o que os
sujeitos pensam, dizem, fazem. Portanto, falar em memória e discurso
condiciona a falar em interdiscurso, ou seja, tudo já referenciado em
outros momentos e que, mesmo aparentemente esquecidos, regula o que
dizemos “Para que minhas palavras tenham sentido é preciso que elas já
façam sentido. E isto é efeito do interdiscurso...” (ORLANDI, 1999, p.33).

Dito de outro modo, os sujeitos possuem uma memória discursiva.


Como coloca Brandão (2004), essa concepção coloca o sujeito em uma
posição de privilégio, na qual a linguagem é lugar de construção de
subjetividade. Isso indica que a Análise do Discurso continuamente articula
estrutura e agência, graças ao reconhecimento de que nem sujeitos nem
sentidos são fixos e/ou absolutamente livres, antes, determinados pelas
memórias institucionais, ideológicas.

Assim, podemos compreender que, para a Análise do discurso, na


construção da subjetividade há uma tríade de conceitos que funcionam
em conjunto:

Imagem elaborada pela autora


Análise do Discurso 31

O sujeito, enquanto um “reconstrutor” de discursos de outrem, é


compreendido pela Análise do Discurso:
Entre um paradigma da objetividade, que o ignorava, e
um outro subjetivista que, ao superestimar sua dimensão
criadora, esquece e faz esquecer sua dimensão mediadora
entre uma polifonia que precede a ele e a uma manifestação
discursiva dela decorrente” (BARROS; MARTINO, 2003,
p.48-49).

Podemos concluir, até então, que não há discurso sem sujeito,


muito menos sujeito sem ideologia. O sujeito é, naturalmente, um ser
social e ideológico. Não há dúvidas de que todo homem traz uma carga
social, cultural, ideológica. Esse sujeito do qual falamos é um sujeito que
fala de um preciso lugar social, bem como de uma precisa posição. Isso
conduz dizer que, enquanto sujeitos, somos permeados pelas Formações
Discursivas e suas ideologias, e fazemos esses discursos transitarem pela
sociedade.

Materializada, a linguagem se torna alicerce de ideologias, as quais


evidenciam que o sujeito não é neutro (mesmo que queira): para Orlandi
(2008, p. 35): “a linguagem é a materialidade do discurso, e o discurso se
define como materialidade específica da ideologia”.

A Forma-Sujeito
REFLITA

Caro aluno (a), retomando as ideias anteriores, vimos que


os sujeitos são interpelados por formações ideológicas, ou
seja, elas os constituem. Todo sujeito é determinado pelas
ideologias das quais faz parte. Fica, então, a pergunta: que
tipo de ideologias podem perpassar os sujeitos?

Geralmente nós, sujeitos, somos marcados por inscrições de


ideológicas de instituições sociais e/ou aparelhos do Estado. Pêcheux
(2014, p.131) sobre esses, afirma: “[...] é pela instalação dos aparelhos
ideológicos do Estado, nos quais essa ideologia [a ideologia de classe
dominante] é realizada e se realiza, que ela se torna dominante.” Que
32 Análise do Discurso

aparelhos seriam esses? O próprio Governo, as várias vertentes de religião


e ciência, bem como filosofia, além de vários outros. Olhe ao seu redor!
Tudo é ideológico!

Se tudo é ideológico, e os discursos são materializados pelo


discurso, para Gallo (1995, p.24) “o sujeito do discurso é, então, uma Forma-
Sujeito”. Ou seja, todo indivíduo só pode pertencer a um meio em forma
de sujeito, mais precisamente, por meio de sua forma histórica, enquanto
agente de práticas sociais. Como coloca Silva (2017, p.33):
Sobre a questão de que todo indivíduo humano é social,
não resta dúvida de que o índio vivia em sociedade,
pois ele tinha sua forma social própria de viver naquele
contexto histórico do contato com o europeu, mas para
os colonizadores, na forma-sujeito do colonizador para
se representar uma pátria, na forma europeia, de um
capitalismo, ele, o índio precisava se reverter de uma forma
de sujeito capitalista, religioso, sujeito de direito, sujeito
ideológico foi representado nos dizeres de Caminha e no
texto de Gândavo.

Outrossim, a “forma-sujeito” é, de fato, a existência histórica dos


indivíduos que viva em sociedade. Portanto, o sujeito materializa-se pelo
seu discurso histórico, ideológico: é assim que ele faz parte de um meio
social. Entretanto, a interpelação pela ideologia nunca é uma, fechada.
Vejamos:
O sujeito que foi interpelado pela ideologia, mas que essa
interpelação nunca é fechada, deixando assim falhas na
constituição, permite que o sujeito seja atravessado por
novas formações ideológicas. Assim, o sujeito está sempre
sendo interpelado por novas formações discursivas
em cada contexto cultural, mas ele ali, também deve
manifestar suas ideologias seja por meio da linguagem.
Trocando em miúdos, uma criança ao nascer em uma
família cristã, a família batiza o filho na sua crença e, a
partir daí a criança crescerá segundo os princípios que
essa religião apresenta como verdade. Só que o sujeito
numa sociedade, ele vive em meios a muitas ideologias,
apesar de ele já está inscrito nas formações discursivas e
formações ideológicas da família, com a convivência social
ele também será atravessado por tantas outras formações
ideológicas, o que faz com que esse indivíduo seja um
Análise do Discurso 33

sujeito e essa inscrição faz com que esse sujeito não seja
uno e nem transparente. (SILVA, 2017, p.36).

Dessa maneira, podemos perceber que um sujeito pode ser


influenciado por determinada ideologia e, no decorrer da vida, fazer parte
de outras tantas.

Cabe, portanto, ao analista do discurso identificar nos discursos dos


sujeitos a materialidade das ideologias, considerando que todo sujeito é
constituído, de forma transparente ou não, por elas. Assim, é importante
perceber os deslocamentos, variações, mudanças que possibilitam o
movimento das identidades subjetivas dos sujeitos; o que faz com eles, a
todos instantes, estejam se subjetivando.

RESUMINDO

Nesse capítulo vimos que só existe discurso por que há


sujeito, é só existem ambos graças à Ideologia. Assim,
aprendemos que o sujeito é naturalmente ideológico
e social, já que carrega consigo as marcas da cultura,
economia, e sociedade como um todo. Vimos também
que esse sujeito fala de determinado lugar social, portanto,
posiciona-se, fazendo com que seu discurso transite
socialmente e atinja o (s) outro (s).
34 Análise do Discurso

O sujeito e sua forma histórica


OBJETIVO

Nesse último capítulo desta unidade, pretendemos, caro


aluno (a), discutir sobre os processos de formação do
sujeito na sua forma histórica. Para isso, elencaremos
as perspectivas do estudioso Eni P. Orlandi, que, por
meio do capitalismo, explica como se dá o processo de
assujeitamento do indivíduo a partir dos mecanismos do
Estado; bem como esse processo pode ser paradoxal, se
esse mesmo sujeito considerar as construções simbólicas
e ideológicas que o constituem. Preparado para encerrar
essa unidade? Avante!

Como vimos acima, o indivíduo é considerado aquele que é


interpelado em sujeito graças a Ideologia. Para Orlandi (2007) é exatamente
esse sujeito atravessado pela ideologia que resulta na forma de sujeito
histórica. Em particular, trataremos aqui, para maior esclarecimento, do
sujeito do capitalismo. Segundo Orlandi (2007, p.1),
O sujeito se submete à língua mergulhado em sua
experiência de mundo e determinado pela injunção a
dar sentido, a significar-se. E o faz em um gesto, um
movimento sócio historicamente situado, em que se
reflete sua interpelação pela ideologia. A ordem da língua
e a da história, em sua articulação e seu funcionamento,
constituem a ordem do discurso.

Dessa maneira, observamos que o discurso é formado pela língua


e história, articulados. Nesse sentido, Orlandi (2007) propõe a seguinte
reflexão: Como os sujeitos concebem a materialidade dos lugares
enquanto algo que dispõe suas vidas? De onde surgem os sujeitos
que constituem outras posições e materializam novos lugares? Como
acontece à resistência a materialidades já impostas?

•• Caro aluno (a), é importante lembrá-lo (a) que quando nos referimos
à materialidade, estamos, em outras palavras, mencionando os
lugares históricos instituídos socialmente.
Análise do Discurso 35

O percurso para essas respostas está no aprofundamento da


compreensão do sujeito e sua forma histórica. Sabemos que o sujeito
da contemporaneidade –Capitalista- faz emergir a lógica, o direito e a
identificação. Para esse sujeito contemporâneo, não há separação entre
sua subjetividade e o meio social, o que, já sabemos, se constitui enquanto
ilusão discursiva:
A de que ele é origem de seu dizer (logo ele diz o que
quer) e a da literalidade (aquilo que ele diz só pode ser
aquilo) como se houvesse uma relação termo a termo
entre linguagem/pensamento/mundo.” (ORLANDI, 2007,
p. 3).

A compreensão dessas noções articuladas mostra, para Orlandi


(2007), como a subjetividade encaminha o sujeito o equívoco de acreditar
que se origina em si mesmo. Equívoco esse pautado no desconhecimento
da compreensão do duplo movimento que constitui os sujeitos. Segundo
Orlandi (2007, p.4) esse movimento se assenta em dois momentos:

Imagem elaborada pela autora

No primeiro movimento, retomamos, caro aluno (a) perspectivas já


mencionadas nessa unidade que são fundamentais para a compreensão
do segundo movimento. No primeiro momento, temos uma forma de
assujeitamento, que, para Orlandi (2007) em qualquer momento histórico,
mesmo que moldado de diferentes maneiras, é parte significativa para
que o indivíduo, afetado simbolicamente, seja sujeito, ou seja, se subjetive.
36 Análise do Discurso

É assim que podemos dizer que o sujeito é ao mesmo


tempo despossuído e mestre do que diz. Expressão de
uma teoria da materialidade do sentido que procura levar
em conta a necessária ilusão do sujeito de ser mestre de
si e de sua fala, fonte de seu dizer. Temos acesso assim
ao modo como, pela ideologia, afetado pelo simbólico o
indivíduo é interpelado em sujeito. A forma-sujeito, que
resulta dessa interpelação pela ideologia é uma forma-
sujeito histórica com sua materialidade. (ORLANDI, 2007,
p.8).

Ou seja, a ilusão de que o indivíduo é “senhor” do que diz se faz


necessária, paradoxalmente, para que ideologia e o simbólico lhe afetem
de modo que esse se torne sujeito. Dessa maneira, o indivíduo toma para
si sua forma histórica, a forma-sujeito. Essa compreensão nos leva ao
segundo movimento: a transformação do estatuto do sujeito em relação
às individualizações desse em relação ao Estado.

Esse é um movimento novo em relação aos processos de


construção indenitária e subjetivação já que coloca o Estado, com suas
relações materializadas e instituições, no constructo do sujeito. Assim,
para Orlandi (2007, p.9):
Em um novo movimento em relação aos processos
indenitários e de subjetivação, é agora o Estado, com
suas instituições e as relações materializadas pela
formação social que lhe corresponde que individualiza a
forma-sujeito histórica, produzindo diferentes efeitos nos
processos de identificação, leia-se de individualização do
sujeito na produção dos sentidos. Portanto o indivíduo,
nesse passo, não é a unidade de origem, mas o resultado
de um processo, um constructo, referido pelo Estado.

Enquanto sujeito interpelado ideologicamente em um processo


simbólico, o indivíduo, que agora é sujeito, é determinado pelo como na
história, terá concreta sua forma individual.
Análise do Discurso 37

EXPLICANDO MELHOR

No processo de compreensão do sujeito e sua forma


histórica, caro aluno (a), pode parecer confuso, mas a
constituição de sujeito se dá no processo de: Indivíduo-
sujeito pela interpelação ideológica- Indivíduo (com
consciência de sujeito) concreto, materializado.

No caso do capitalismo, temos o indivíduo responsável e livre de


coerções, com deveres e direitos diante dele mesmo, do Estado e de
outros sujeitos. O sujeito do capitalismo, para Orlandi (2007), é o indivíduo
que, crente de suas decisões e vontades, oculta inconscientemente
sua constituição simbólica, ideológica. “Temos o sujeito individualizado,
caracterizado pelo percurso bio-psicossocial”. (ORLANDI, 2007, p.10)

Ou seja, o sujeito já individualizado pelos processos históricos como


o capitalismo, por exemplo, deixa de fora justamente o que lhe constitui: o
histórico, o simbólico, a ideologia, fatores importantes para a consciência
de sujeito. Desse modo, Orlandi (2007, p.10) coloca:
Penso que é de maneira complexa que podemos pensar a
questão do sujeito, da ideologia e, agora sim, da resistência
como algo que não se dá apenas pela disposição
privilegiada de um sujeito que então poderia ser livre e só
não o é por falta de vontade. Há, pois, o caráter irrecorrível
do assujeitamento e a possível resistência do sujeito aos
modos pelos quais o Estado o individualiza. Esses dois
momentos do processo não estão separados de modo
estanque, mas são distintos.

Em outras palavras, Orlandi (2007) expressa o perigo do


assujeitamento no processo de individualização. Assim, fica-nos a
pergunta: Pode o sujeito, resistindo aos processos de individualização,
atingir a forma histórica do sujeito e, por esse meio, retornar a compreensão
da interpelação simbólica e ideológica?
38 Análise do Discurso

Orlandi (2007) acredita que pode haver ambos os processos: o do


sujeito que se submete à individualização do Estado; e outro que traz a
resistência ao Estado.

EXPLICANDO MELHOR

Fato é que todo sujeito se submete à linguagem, buscando


significar-se, em um movimento sócio historicamente dado.
Assim, as formações discursivas representam um lugar de
construção de sentido e identificação do sujeito. Trazemos
à tona novamente a formação discursiva pois é nela que
o sujeito adquire unidade, especificidade e consegue
se distinguir dos outros, dentro ou fora, consciente o ou
inconscientemente, dos processos de interpelação.

Como coloca Orlandi (2007, p. 1): “A ordem da língua e a da história,


em sua articulação e funcionamento, constituem a ordem do discurso”.
Como exemplo ele traz:
É em relação às formações discursivas que podemos dizer
que a palavra “terra”, por exemplo, significa diferentemente
para os índios, para os grandes proprietários rurais, para
o MST, etc. Isto porque eles estão em posições sujeitos
inscritos em diferentes formações discursivas que, em
última instância, refletem, no discurso, as posições
ideológicas e determinam seus sentidos. (ORLANDI, 2007,
p.2).

Assim, a materialidade (histórica) das condições de vida e produção


dos sujeitos dispõe a vida desses e, ao mesmo tempo, materializa
resistências, criando outros lugares materializados. Ou seja, quando
Orlandi (2007) propõe dois processos disponíveis ao sujeito no contexto
capitalista, ele quer dizer que
É isso que significa a determinação histórica dos sujeitos
e dos sentidos: nem fixados  ad eternum, nem desligados
como se pudessem ser quaisquer uns. É porque é histórico
(não natural) é que muda e é porque é histórico que se
mantém. Os sentidos e os sujeitos poderiam ser sujeitos
ou sentidos quaisquer, mas não são. Entre o possível e o
historicamente determinado é que trabalha a análise de
Análise do Discurso 39

discurso. Nesse entremeio, nesse espaço de interpretação.


A determinação não é uma fatalidade mecânica, ela é
histórica. (ORLANDI, 2007, p. 4).

A determinação histórica, nesse meio, não se dá de maneira


igualitária nos diferentes momentos da história, ela possui uma forma
concreta distinta nos diferentes formatos sociais. No contexto da
contemporaneidade, por exemplo, temos para Orlandi (2007), um sujeito
moderno paradoxal: livre e submisso, determinado e determinador:
essa é a condição de sua responsabilidade (...) e de sua coerência (não-
contradição) que lhe garantem, em conjunto, sua impressão de unidade e
controle de/por sua vontade. (ORLANDI, 2007, p. 6).

Subjetividades
Por meio dessas reflexões, podemos concluir que, mesmo que a
subjetividade parta de mecanismos específicos, só eles são insuficientes
para defini-la. Para não cometer o equívoco de ter sobre a subjetividade
uma concepção intemporal, a-histórica, é preciso entendê-la por meio
da historicidade. É aqui que podemos compreender a ambiguidade da
noção de sujeito que, mesmo que “determine” o que diz, seja também
determinado pela história, na construção de sentidos.

Para Orlandi (2007, p. 8), pensar o sujeito é construir uma reflexão


complexa:
É dessa maneira complexa que devemos pensar a questão
do sujeito, da ideologia e da resistência como algo que
não se dá apenas pela disposição privilegiada de um
sujeito que, então, poderia ser “livre” e só não é por falta
de vontade. O que há (...) é o irrecorrível assujeitamento
do indivíduo pela ideologia. Sem submeter-se a língua,
pela ideologia, o indivíduo não se constitui em sujeito.
Já no segundo momento, na individualização do sujeito
pelo Estado, pode sim ocorrer a resistência. Há possíveis
deslocamentos do sujeito aos modos pelos quais o
Estado o individualiza, deslocamentos que afetam os
modos como o sujeito, com sua forma histórica, relaciona-
se com as instituições e isso pode resultar em rupturas,
transformações no processo de sua individualização.
40 Análise do Discurso

Podemos assim, concluir, que quando pensamos na questão da


determinação histórica e do assujeitamento, não há um posicionamento
essencialista, mas sim, a importante contradição que há na forma histórica
do sujeito e seu no processo de individualização, movimentos abertos ao
equívoco, deslocamento, falha e, principalmente, transformação.

RESUMINDO

Nesse capítulo, pudemos compreender como se dá a


relação do sujeito e sua forma histórica. Entendemos
que o indivíduo é aquele interpelado pela ideologia e
pelo simbólico, o que faz o que exista um sujeito em sua
formação histórica. Esse sujeito, para Orlandi, é movido
por dois momentos: Um primeiro, em que o indivíduo é
interpelado pela Ideologia; e um segundo, no qual surgem
as formas de individualização pelos mecanismos do Estado.

Em meio aos paradoxos da formação do sujeito, concluímos


que todo ele se submete à linguagem, e que essa submissão
sempre será dada em um movimento sócio historicamente
pontuado. Por fim, vale salientar que quando pensamos
na questão da determinação histórica e assujeitamento,
não buscamos um movimento homogêneo, antes, a
valorização da importante contradição que leva o sujeito ao
deslocamento, falha e, principalmente, transformação.
Análise do Discurso 41

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