Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de Texto II
113
114
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO II
Evangelina M.B. Faria
Maria de Fátima Almeida
Maria Regina Baracuhy Leite
Apresentação
115
116
UNIDADE I
A PRODUÇÃO ESCRITA
Gostaria de iniciar minha conversa com você sobre a escrita, a partir da fala. É
muito fácil falar. Todos nós, homens e mulheres, gostamos de falar, porém as mulheres
têm uma fama de falar mais. Não sei se é verdade, mas gosto de opinar sobre tudo: nos
serviços da casa, na educação dos filhos, na roupa do marido, na vida política do país,
na educação, nos conflitos religiosos, nas eleições dos Estados Unidos, enfim, em tudo
que o meu olhar leitor encontra. Com a escrita, é diferente, parece que nossa relação só
funciona na escola. Escrevemos como um martírio, só por obrigação. È assim também
com você?
Não deveria. Fomos habituados a criar essa relação com a escrita. Escrever para
alguém corrigir. Essa visão restringe o papel da escrita. Nesse nosso curso, veremos que
a fala e a escrita são duas modalidades do sistema da língua, que hoje são vistas dentro
de um continuum que vai do nível mais informal aos mais formais. Tomamos a fala e a
escrita como atividades de interação. Nessa perspectiva, são atividades cooperativas,
em que pelo menos dois sujeitos agem conjuntamente para a interpretação de um
sentido presente nelas; são contextualizadas, pois se situam em um espaço e em um
tempo e, naturalmente, textuais, pois se materializam em textos orais ou escritos.
Vimos que a escrita é interação, isto é, escreve-se para dizer algo a alguém
num determinado momento. Se prestarmos atenção, nunca fazemos algo sem um
motivo. Assim, na nossa vida, quando falamos ou escrevemos, dizemos algo a alguém
num momento, que inclui tempo e espaço, com um propósito. Simples assim.
Para que essa nova visão de escrita chegue até você e a seus futuros alunos,
esse curso terá como objetivos gerais:
1. 2. Concepções de escrita
118
Concepção de escrita
Aprendizado da gramática
Concepção de escrita
O texto é visto como um conjunto de unidades lingüísticas através do qual se pode
expressar um pensamento. Não há um rompimento com o modelo anterior. A escrita
é sempre a mesma e o interlocutor não existe, pois quem comanda é o emissor.
Predominam no ensino da escrita, três atitudes: fazer o aluno encontrar a idéia a
ser desenvolvida, trabalhar a correção da língua, e enriquecer sua capacidade de
expressão. Os modelos trabalhados são: descrição, narração e dissertação.
Nessa perspectiva, toda a situação que cerca a fala e a escrita é secundária, pois
o que está no centro é a estrutura da língua, suas formas. A língua é imanente, isto é,
basta a si mesma. Como implicações dessa visão tem-se uma escrita:
Concepção de escrita
Escrever constitui um modo de interação entre as pessoas. Quem escreve,
escreve sabendo para que e para quem. Ao escrever, o sujeito enuncia seu
pensamento, com algum propósito, para si ou para o outro.
Como se vê, por este ângulo, a interação verbal vai modelar a língua de uma
forma particular e profunda. Como implicações dessa visão, tem-se uma escrita:
Para o nosso curso, adotaremos uma concepção de escrita voltada para o uso e
construída na interação.
120
1.3. Escrita e interação
Essa idéia surge com Bakhtin (1929/1995), para
quem a linguagem é duplamente dialógica. Primeiro,
por direcionar-se sempre para alguém e, segundo,
por estabelecer um diálogo com os outros textos. Os
sujeitos constroem o conhecimento com base em suas
representações, em seus conhecimentos anteriores. Para
Bakhtin (1995: p. 113):
Isto quer dizer que a situação deve ser considerada na hora da produção ou da
recepção de texto. Para se expressar algo na modalidade oral ou escrita, é necessário
saber o que vai ser dito, onde e para quem. Esses elementos são constitutivos do ato de
expressar-se. Nessa perspectiva, como vimos anteriormente, a escrita é uma atividade
cooperativa, em que pelo menos dois sujeitos atuam para a construção de um sentido;
contextualizada, situada em um espaço e em um tempo e, naturalmente, textual,
que se concretiza em textos escritos. È necessário acrescentar também a atividade
cognitiva, pois, na escrita, lidamos com várias tarefas mentais (ativação da memória,
seleção de palavras, etc). Por tudo isso, pode-se entender que:
121
122
UNIDADE II
TEXTO E TEXTUALIDADE
Um texto não
Segundo Beaugrande e Dressler (1981), os autores que primeiro falaram sobre verbal também
esses mecanismos, afirmam que eles devem ser entendidos como sinalizadores da segue esses
conexão entre elementos textuais. princípios
Para os autores (1981), a coesão está voltada para aos modos como os
componentes da superfície textual se conectam mutuamente. Essa concepção amplia a Para aprofun-
noção de coesão textual, que antes se firmava apenas em uma lista finita de mecanismos dar, veja o livro
que concorrem para o estabelecimento da coesão. de ANTUNES
A coerência, segundo Beaugrande e Dressler (1981), diz respeito ao modo
como os componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjecentes
ao texto de superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa
configuração veiculadora de sentidos.
A intencionalidade, critério centrado basicamente no produtor do texto, serve
para indicar a ação discursiva pretendida pelo autor, ainda que nem sempre se realize
em sua totalidade, pois vai depender da visão de mundo do leitor.
De acordo com Marcuschi (2008), o critério de intertextualidade caracteriza- 123
se por fazer relações entre dois ou mais textos, encontrados em experiências anteriores
pelo indivíduo que a aplica, com ou sem a mediação de um interlocutor. Partindo
da idéia de “absorção e transformação” de textos, o autor considera que todos os
textos, de certa forma, dialogam com outros textos, desta forma, não existiria um texto
isolado, sem um “aspecto intertextual”. Vemos que ele concerne aos fatores que fazem
a produção e a recepção de um texto depender do conhecimento de outros textos.
Há dois tipos de relações intertextuais: a paródia e a paráfrase. Esta ocorre
quando a relação intertextual tem como objetivo ratificar, confirmar as idéias do texto–
Leitura base. Como exemplos de paráfrase, temos os fichamentos, os resumos, as sínteses, as
Obrigatória: traduções.
A rg u m e n t a ç ã o
Quanto à paródia, ela ocorre quando a relação intertextual tem como objetivo
e diálogo textu- provocar a inversão do(s) sentido(s) do texto-base. Geralmente a paródia visa à denúncia
al. In: CITELLI, social. Segundo Citelli (2003: 54), a paródia pode ser concebida como estratégia “de
Adilson. O texto corrosão dos valores consagrados socialmente, de alteração dos conceitos cristalizados,
argumentativo. sempre sob o domínio do gesto gozador, engraçado, cômico, irônico”. Como exemplos,
3º ed, São Paulo:
Scipione, 2003.
temos as sátiras, as charges.
p.p 45-56 A intertextualidade ainda pode ser de forma e/ou de conteúdo.
A intertextualidade de forma ocorre quando é retomada mesma estrutura do
texto-base: estilo, gênero textual, linguagem.
A intertextualidade de conteúdo , como o próprio nome já diz, ocorre quando
o conteúdo do texto-base é retomado, seja para confirmá-lo ou para invertê-lo.
Podemos entender a intertextualidade como um critério intertextual muito
complexo, na medida em que “abarca” muitos termos na própria Análise do Discurso,
como o dialogismo, interdiscurso, metacognição, entre outros.
Já a situacionalidade “refere-se ao fato de relacionarmos o evento textual à
situação (social, cultural, ambiente etc.) em que ele ocorre” (Marcuschi, 2008: 127;
cf. Beaugrande, 1997: 15). Essa situação pode estar ligada ao contexto mais imediato
da interação ou ao contexto socio-político-cultural em que a interação está inserida.
Segundo Costa Val (2002), a informatividade tem a ver com o grau de
novidade e previsibilidade: quanto mais previsível, menos informativo será o texto
para determinado usuário, porque acrescentará pouco às informações que o recebedor
já tinha. O inverso também acontece: quanto mais cheio de novidades, mais informativo
é o texto para o recebedor. Segundo Beaugrande e Dressler (1981), o ideal seria a
utilização de um grau mediano de informatividade, sendo ela um fator considerado em
função dos usuários e da situação em que o texto ocorre. Segundo Marcuschi (2008),
esse aspecto refere-se à possibilidade de distinção entre a idéia a ser transmitida por
um texto e a idéia que pode ser retirada dele. Progressão e articulação textuais são
pontos essenciais para a articulação entre as partes do texto, sendo indispensáveis
para a manutenção da coerência e infomatividade, pois um texto é coerente porque
desenvolve algum tópico e refere conteúdos.
Finalmente, a aceitabilidade é o aceite do texto enquanto produtor de sentido(s)
para o leitor. Para Marcuschi (2006), está centrada na atitude do leitor, que recebe
o texto como uma configuração aceitável, tendo-o como coerente e coeso, ou seja,
interpretável e significativo.
Para aprofundar melhor esses mecanismos, trazemos para você um texto de
Elizabete, uma menina de sete anos de uma escola do município de João Pessoa.
124
Este texto está
De nanha transcrito
Escovar os Dentes como a criança
Bochecha a Pasta escreveu
Tonar cafè
Escova os dentes
Bochecha a Pasta
De Tarde
Almoça
Toma aguá
Escova os Dente
Bochecha a Pasta
Iso todo Sem pão Sem sal, ovo, chocolate, chiclete
Esse texto é diferente dos demais coletados pelo LAFE*. Como avaliá-lo? Não (*) Laboratório
de Aquisição de
há marcas explícitas dos mecanismos tradicionais da coesão. O que mantém a coesão?
Fala e de Escrita
Lembramos que a coesão também se dá por escolhas lexicais do mesmo campo
(UFPB). Faze-
semântico. O texto está dividido em dois momentos: manhã e tarde. Nos dois blocos, mos pesquisas
essa escolha se dá de forma adequada, são ações que acontecem dentro desse período sobre a cons-
temporal. A conclusão retoma e respeita as implicações lógicas existentes entre as trução da textu-
duas partes explicitando a falta da comida da qual ela gosta. O texto ganha ainda mais alidade na fala
sentido, quando descobrimos que se trata de uma criança em fase de regime, que relata e na escrita de
sua angústia de passar o dia sem se alimentar do que mais gosta. È um texto que tem crianças.
continuidade e continuidade é uma marca de coesão. A continuidade aqui é o fator
de coerência. Cadeias de representações de natureza lógico-semântica e condições
pragmáticas garantem a conectividade e a formação das estruturas textuais.
Hoje de acordo com Costa Val (2000) e Antunes (2005), sabe-se que é impróprio
separar o imanente do situacional, o semântico do pragmático, porque a produção
do sentido do texto, que passa pela construção de sua macroestrutura semântica, está
estreitamente vinculada às condições em que esse processo ocorre e depende das ações
realizadas e interpretadas pelos locutores. A coesão é uma decorrência da própria
continuidade exigida pelo texto, a qual, por sua vez, é exigência da unidade que dá
coerência ao texto (Antunes, 2005). Assim, cada vez que um interlocutor interpreta
um artefato como texto é porque conseguiu aplicar a ele os princípios de textualização,
construindo sua coesão, sua coerência.
Chamando atenção para os aspectos da textualidade, os PCNs se direcionam não
mais para o produto em si, mas para o processo da construção textual, na preocupação
de dar relevo à textualidade e à situação intelocutiva como um todo. Pelo quadro
exposto, é possível deduzir que o aluno para ser capaz de redigir dessa maneira, o
professor deverá explicitar: as condições de produção (finalidade, especificidade do
gênero, interlocutor eleito, etc); os procedimentos para elaboração do texto (tema,
levantamento de idéias, planejamento, revisão), quais mecanismos de coerência e
de coesão textuais, conforme o gênero e os propósitos do texto (manutenção da
continuidade do tema, seleção apropriada do léxico em função do tema, relevância das
informações em relação ao tema e ao ponto de vista adotado, os argumentos elaborados,
adequação dos recursos lingüísticos na construção da textualidade) e a utilização de
marcas de segmentação do texto. 125
Os mecanismos de textualidade induzem uma proposta de trabalho que integra os
eixos de ensino: leitura, produção e análise lingüística.
Precisamos falar sobre esses mecanismos, pois eles estão presentes nos diversos
gêneros textuais. Você já leu sobre os gêneros em LPT I, nosso próximo passo vai ser
conhecer melhor alguns gêneros nesta disciplina.
Bom estudo! Percebeu que saber sobre o escrever é interessante? Agora é a sua
vez!
126
UNIDADE III
O TRABALHO COM OS GÊNEROS ESCRITOS
128
O que são os gêneros?
129
Tipo Gênero
3. Sua nomeação abrange um conjunto limitado 3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto e
de categorias teóricas determinadas por aspectos praticamente ilimitado de designações concretas
lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo determinadas pelo canal, estilo, conteúdo,
verbal; composição e função;
Para alguns autores, entre eles, Scheneuwly e Dolz, Rojo, a resposta está em criar
contextos de produção precisos, para que os alunos se apropriem dos conhecimentos
necessários para o desenvolvimento de suas capacidades de escrita. Esses contextos
são seqüências didáticas, isto é, um conjunto de atividades escolares organizadas de
maneira sistemática em torno de um gênero textual oral ou escrito.
A estrutura de base apresentada é a seguinte:
Produção final
Você sabe que não escrevemos da mesma forma uma carta comercial e uma
carta para um tio ou uma avó. Mas quais seriam as diferenças, de forma e de
conteúdo, entre elas? Ambas poderiam chegar até você por e-mail, que é uma
forma moderna de escrever cartas. Vamos aprender, a seguir, um pouco sobre
este gênero tão importante do nosso cotidiano: a carta.
3.1. A carta
A linguagem há de ser:
• Simples, evitando-se preocupação com enfeites literários.
• Atual, isto é, inteligível à época presente.
• Precisa, a saber, própria, específica, objetiva.
• Correta, com exata observância das normas gramaticais.
• Concisa, informando com economia de palavras.
• Impessoal, com o máximo de objetividade, pois a carta comercial não é lugar
adequado para manifestações subjetivas e sentimentais.
DATA
VOCATIVO
CORPO DO TEXTO
FECHO
1. Local e data:
João Pessoa, 19 de julho de 1994.
(5 espaços)
2. Vocativo:
Prezados Senhores:
(3 espaços)
3. Corpo do texto:
Com referência à sua reclamação, na carta do dia 15 do mês em curso,
levamos ao conhecimento de V. Sas. os necessários esclarecimentos.
(2 espaços)
(2 espaços)
4. Fecho da carta:
Pedimos desculpas pelo ocorrido e continuamos à disposição de V. Sa.
(3 espaços)
5. Assinatura e função:
ATIVIDADE:
____________________________________
_____________________________________________
________________________________________________
_______________________________________________
_____________________________________________
__________________________________________
Uma carta a um parente comunicando um fato
__________________________________________
grave com algué
_____________________________________________
alguém da famí
família apresentará
apresentará uma
__________________________________________
linguagem formal.
...assinatura das pessoas ou entidades
_____________________________________________
__________________________________________ responsá
responsáveis por elas; local e data
_____________________________________________
__________________________________________
Uma carta ao melhor amigo comunicando a (facultativos).
_____________________________________________
__________________________________________
aprovaç
aprovação no vestibular terá
terá uma linguagem Linguagem:
Linguagem: padrão formal, verbos usados
_____________________________________________
__________________________________________
mais simples e descontraí da.
descontraída. predominantemente no presente do
_____________________________________________
__________________________________________ indicativo.
_____________________________________________
na correspondência, a linguagem e o
__________________________________________ Os autores podem se expressar na 1ª
1ª
_____________________________________________
__________________________________________
tratamento utilizados vão variar em ou 3ª
3ª pessoa do plural.
_____________________________________________
__________________________________________
funç
função da intimidade dos _____________________________________________
__________________________________________
correspondentes, bem como do assunto
__________________________________________
_____________________________________________
tratado.
__________________________________________ _____________________________________________
Mano Gil,
Como vai, cara? Beleza? E cadê o cara que falou que logo no começo das férias
ligava? Já que o “treta” aí não deu sinal de vida, resolvi escrever pra contar as
novidades.
Aqui em Jampa ta tudo calminho como sempre. Sabe como é, cidade pequena é assim
mesmo! A praça do bairro continua. Única opção. Pra dar umas voltas e de vez em
quando pra paquerar. É, mane, pensa que é moleza?
134 Por falar em paquera, a Ba está cada vez mais “totosa” como você diz, mas assim que
ela largou do irmão do Luciano, que ficava com a prima da Tati, que beijou meu irmão
nas férias de julho, ela partiu pra piscina municipal pra pescar um peixão... e pescou.
Lembra do Adriano? Pois é, ele é seu atual namorado. Desiste dela, amigo! Ela até
canta Fagner pra ele! “Quem me dera ser um peixe pra no seu aquário mergulhar”!!!E
mais! No meio da piscina, mete a cabeça na água e diz que faz borbulhas de amor por
ele. Ele adora! Sai dessa, amigo!
Bom Gil, vou ficando por aqui, amigo. Se um dia der certo, passo aí para visita-lo. Vê
se aparece também.
Não vejo a hora de as aulas começarem pra eu ver você e toda a turma.
Abraços,
Filipe
P.S.: Tem visto a Dani? Se por acaso a vir, diz pra ela que to doido, pirado de saudades!
Morro de rir com ela e dela. O que é a gargalhada dela, me diz? Ela é gente fina
mesmo!
( Filipe Stucchi de Souza – 16 anos)
Passemos agora à carta de apresentação. Ela deve ser simples e breve. É uma
forma de fazer a sua promoção pessoal. Dirige-se a um empregador, oferecendo
espontaneamente os seus serviços e deve estar acompanhada do Curriculum Vitae.
Todos os dados aqui apresentados são fictícios e este modelo dá apenas
indicações de elaboração. Redija o seu de uma forma pessoal e original para motivar
o empregador
Exmoº Senhor
Director dos Recursos Humanos
da Sociedade de Informática de Portugal
Rua das Avenidas, nº XX, 1200 Lisboa.
Gostaria de, numa entrevista pessoal, poder prestar outras informações que penso
serem de mútuo interesse.
Anexo: Currículo
ATIVIDADE:
- A carta é um gênero que costuma apresentar uma estrutura padrão que
determinam sua função social. Quais as características estruturais que marcam
a carta de apresentação?
-Qual a finalidade de uma carta de apresentação?
- Coloque em prática seus conhecimentos e construa uma carta de apresentação,
direcionada a uma determinada empresa de nome nacional. Procure deixar bem
claro seu objetivo no texto.
MODELO E-MAIL
136
Para concluir, gostaríamos de apresentar a primeira carta escrita no Brasil
Com suas palavras, disserte sobre a evolução do gênero carta, como suas
variantes podem apresentar-se no tempo. Não esqueça de ressaltar qual a
influência de fatores sócio-históricos nessa evolução ou variação de gênero.
Que corpo você está usando ultimamente? Que corpo está representando você
no mercado das trocas imaginárias, que imagem você tem oferecido ao olhar alheio
para garantir seu lugar no palco das visibilidades em que se transformou o espaço
público no Brasil? [...] Fique atento, pois o corpo que você usa e ostenta vai dizer
quem você é. Pode determinar oportunidades de trabalho. Pode significar a chance
de uma rápida ascensão social. Acima de tudo, o corpo que você veste, preparado
cuidadosamente à custa de muita ginástica e dieta, aperfeiçoado por meio de modernas
intervenções cirúrgicas e bioquímicas, o corpo que resume praticamente tudo o que
restou do ser é a primeira condição para que você seja feliz.
Não porque ele seja, o corpo, a sede pulsante da vida biológica. Não porque
possua uma vasta superfície sensível ao prazer do toque – a pele, esse invólucro tenso
que protege o trabalho silencioso dos órgãos. Não pela alegria com que experimentamos
os apetites, os impulsos, as excitações, a intensa e contínua troca que o corpo efetua
com o mundo. O corpo-imagem que você apresenta ao espelho da sociedade vai
determinar sua felicidade não por despertar o desejo ou o amor de alguém, mas por
constituir o objeto privilegiado do seu amor-próprio: a tão propalada auto-estima, a
que se reduziram todas as questões subjetivas na cultura do narcisismo.
Nesses termos, o corpo é ao mesmo tempo o principal objeto de investimento
do amor narcísico e a imagem oferecida aos outros – promovida, nas últimas décadas,
ao mais fiel indicador da verdade do sujeito, da qual depende a aceitação e a inclusão
social. O corpo é um escravo que devemos submeter à rigorosa disciplina da indústria
da forma (enganosamente chamada de indústria da saúde) e um senhor ao qual
sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos e o que sobra de
nossas suadas economias.
(Folha de São Paulo, 30 jun 2002. Mais! P. 18. Maria Rita Kehl)
3.3. A propaganda
A importância de discutir se a propaganda turística é um gênero do discurso, na
acepção que o filósofo russo Mikhail Bakhtin emprega o termo, é mostrar que há um
jogo de regras que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais. Por
isso, não se pode dizer o que se quer quando se quer, pois os discursos são socialmente
organizados, inserem-se numa ordem enunciativa e são regulados, moldados pelos
gêneros que os constituem. Como salienta Bakhtin (1997: 302):
Para você responder à questão com que iniciamos esse tópico, vamos analisar
algumas propagandas turísticas, a partir dos três elementos que compõem um gênero
do discurso: o conteúdo temático, o estilo e o modo de construção composicional
Quanto ao conteúdo temático, o conjunto de enunciados que compõem os
textos de propaganda refere-se aos estados do Nordeste que eles anunciam. Por estarem
inseridos em uma conjuntura capitalista, os dizeres da propaganda turística visam a
transformar o espaço nordestino em um bem de consumo, uma mercadoria que ofereça
prestígio, status social e, conseqüentemente, poder a quem a adquire.
Objetivando vender esse espaço como destino ideal para viagens com
finalidades turísticas e de lazer, a propaganda redimensiona o Nordeste, num processo
metonímico, em que se toma a parte (Litoral) pelo todo (região).
Para descreverem os atrativos turísticos da costa litorânea nordestina — foco
temático da propaganda —, os enunciados, em sua maioria, se ancoram no mito do
paraíso tropical, que é constantemente ressignificado na materialidade textual da
propaganda. Essa perspectiva ufanista, em que o litoral aparece somente como sinônimo
de oásis, fartura, e “reino da diversão”, mascara a realidade social do Nordeste, onde
riqueza e pobreza convivem dialeticamente. Todavia, a produção de um dado discurso
ocorre em condições de possibilidade específicas, logo, ele se insere em uma ordem: a
ordem do enunciável, que delimita o “que pode e o que deve ser dito”.
Não seria compatível, na ordem enunciativa da propaganda turística, a exposição
das mazelas sociais, uma vez que a finalidade maior desse discurso é fazer o público-
alvo comprar o produto anunciado.
Há, portanto, regras e restrições sociais que regem os gêneros — formas
materiais dos discursos sociais. Como sintetiza Brait (2001: 32): “O gênero discursivo
diz respeito às coerções estabelecidas entre as diferentes atividades humanas e os usos
da língua nessas atividades, ou seja, as práticas discursivas implicam necessariamente
coerções”.
Sendo o texto da propaganda turística, submetido à voz institucional, que se
marca em diversas posições enunciativas, as coerções desse dizer delimitam a atividade
turística na região, instituindo para o Nordeste, rotas turísticas orientadas quase em
sua totalidade para as capitais litorâneas, e apagando, silenciando outros caminhos 143
possíveis, como as regiões do Brejo, Cariri e Sertão, como analisa Cruz (2000: 210):
O litoral nordestino, uma estreita faixa de, aproximadamente,
3.300 quilômetros de extensão, é o território eleito nesta região
pelo e para o turismo, ou seja, para se especializar como
território turístico receptivo. Este Nordeste turístico, repleto
de diferenças e contradições, esconde, por outro lado, um
Nordeste que o turismo e o turista não vêem, um território onde
pobreza e concentração de renda são elementos importantes do
processo de construção do lugar.
144
Além disso, a atividade turística no Maranhão não é tão intensa quanto a de outros
estados nordestinos como o Ceará e a Bahia. Por isso, para muitos turistas do Brasil e
do exterior, ainda há, no Maranhão, inúmeros “segredos” que eles desconhecem. Com
o propósito de atrair riquezas por intermédio do turismo, o governo do estado procura
instigar a curiosidade do turista para descobrir o que o texto de propaganda anuncia,
ou seja, os roteiros turísticos do estado e assim, conseguir o seu intento: implementar
a vinda de turistas e conseqüentemente lucrar com o turismo local.
Seguindo a mesma estrutura formal do slogan maranhense, temos:
“Quem não gosta de beleza, do bom e do melhor sem gastar muito? ” (propaganda
do Rio Grande do Norte)
Em seu livro Estética da Criação Verbal (1997), Bakhtin assegura que
ATIVIDADE:
Para encerrar nossa discussão sobre o gênero propaganda turística, vamos tratar
de alguns suportes que abrigam os textos de propaganda turística sobre o Nordeste.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2 ed., São Paulo, SP: Martins
Fontes, 1997.p.p. 277- 326.
151
152
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Assis, Machado de (1979). Obra Completa. 4a.. ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova
Aguilar.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2 ed., São Paulo, SP: Martins Fontes,
1997.
_____ (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais
do método sociológico na ciência da linguagem. Trad. de Michel Lahud e Yara
Frateschi Vieira. 6 ed., São Paulo: Hucitec, 1992.
Béda, Rigaux (1964). Paulus und Seine Briefe. München, Köse Verlag (aus der
Französischen).
_______. O discurso sob o olhar de Bakhtin. IN: GREGOLIN, M.R. & BARONAS, R.
(orgs.) Análise do Discurso: as materialidades do sentido. São Carlos, SP: Claraluz,
2001. p.19-35.
CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. O Nordeste que o turismo (ta) não vê. IN: RODRIGUES,
Adyr Balastreri. (org.). Turismo. Modernidade. Globalização. 2 ed., São Paulo:
Hucitec, 2000. pp. 210-218.
Folha de São Paulo, 30 jun 2002. Mais! P. 18. Maria Rita Kehl.
FREYRE, Gilberto (1990). Ordem e Progresso. 4a. ed. Rio de Janeiro, Record.
GREGOLIN, M.R. Da teia à tela do jornal on line. In: RIOLFI, Claudia Rosa;
BARZOTTO, Valdir Barzotto (orgs.). Nexos. Ano IV. n.6. São Paulo: Editora Anhembi-
Morumbi, 2000.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo:
Contexto, 1990. (Repensando a língua portuguesa)
LAZARILO DE TORMES (1997). Edición de Francisco Rico. 12a. ed. Madrid, Letras
Hispánicas .
RIZZINI, Carlos (1977). O Jornalismo antes da Tipografia. São Paulo, Cia. Ed.
Nacional.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 2 ed.
Petrópolis: Vozes, 1998.
VAL, Maria da Graça Costa. Repensando a textualidade. IN: AZEREDO, José Carlos
de. Língua Portuguesa em debate. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000
155
156