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Leitura e Produção

de Texto II

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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO II
Evangelina M.B. Faria
Maria de Fátima Almeida
Maria Regina Baracuhy Leite

Apresentação

Esta disciplina Leitura e Produção Textual II tem como prioridade o


desenvolvimento das habilidades para a escrita. Em LPT I, a ênfase foi dada ao
processo da leitura. Agora voltaremos nossa atenção para a produção da escrita, embora
entendamos que leitura e escrita são processos complementares.
A nossa disciplina está dividida em três unidades temáticas. São elas:

1. A produção da escrita, em que apresentaremos algumas concepções de escrita


, bem como a relação entre escrita e interação;

2. Texto e textualidade, em que discutiremos vários fatores que são fundamentais


na produção de um texto escrito;

3. O trabalho com os gêneros escritos. Neste terceiro momento, aplicaremos


a teoria dos gêneros discursivos em três gêneros do cotidiano: a carta, o artigo de
opinião e a propaganda.

Quanto ao processo de avaliação, ele ocorrerá de forma contínua. Você será


solicitado a fazer exercícios e questionários periódicos; a participar efetivamente dos
debates através do fórum ou on line, o que terá fundamental importância, pois será o
momento de esclarecer dúvidas, dar opiniões e sugestões.
A partir das leituras e pesquisas sobre os temas abordados, você deverá também
produzir textos ao longo do curso, a fim de exercitar suas habilidades escritas.
Um outro momento do processo avaliativo ocorrerá de modo presencial, em
que os conhecimentos serão avaliados por meio de avaliações escritas.
Ao estudar esse material, questione, critique, sugira, opine, sua participação é
fundamental para o sucesso do nosso trabalho. Vai ser muito bom aprendermos juntos
e trocarmos experiências.
Um grande abraço!

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UNIDADE I
A PRODUÇÃO ESCRITA

1.1. Considerações preliminares sobre a escrita

Gostaria de iniciar minha conversa com você sobre a escrita, a partir da fala. É
muito fácil falar. Todos nós, homens e mulheres, gostamos de falar, porém as mulheres
têm uma fama de falar mais. Não sei se é verdade, mas gosto de opinar sobre tudo: nos
serviços da casa, na educação dos filhos, na roupa do marido, na vida política do país,
na educação, nos conflitos religiosos, nas eleições dos Estados Unidos, enfim, em tudo
que o meu olhar leitor encontra. Com a escrita, é diferente, parece que nossa relação só
funciona na escola. Escrevemos como um martírio, só por obrigação. È assim também
com você?
Não deveria. Fomos habituados a criar essa relação com a escrita. Escrever para
alguém corrigir. Essa visão restringe o papel da escrita. Nesse nosso curso, veremos que
a fala e a escrita são duas modalidades do sistema da língua, que hoje são vistas dentro
de um continuum que vai do nível mais informal aos mais formais. Tomamos a fala e a
escrita como atividades de interação. Nessa perspectiva, são atividades cooperativas,
em que pelo menos dois sujeitos agem conjuntamente para a interpretação de um
sentido presente nelas; são contextualizadas, pois se situam em um espaço e em um
tempo e, naturalmente, textuais, pois se materializam em textos orais ou escritos.
Vimos que a escrita é interação, isto é, escreve-se para dizer algo a alguém
num determinado momento. Se prestarmos atenção, nunca fazemos algo sem um
motivo. Assim, na nossa vida, quando falamos ou escrevemos, dizemos algo a alguém
num momento, que inclui tempo e espaço, com um propósito. Simples assim.
Para que essa nova visão de escrita chegue até você e a seus futuros alunos,
esse curso terá como objetivos gerais:

◘ Promover estratégias para que você descubra a escrita como forma de


interação;
◘ Desenvolver suas habilidades de produzir textos de acordo com as condições
de produção: função da escrita, gênero textual, objetivo e interlocutor visado;
◘ Desenvolver suas habilidades para fazer uso de recursos lingüísticos que
permitam a construção de um texto coerente, coeso, informativo e com poder
de argumentação.

São objetivos ousados, você não concorda? E para atingi-los, conheceremos,


um pouco, as perspectivas de estudo sobre a escrita, suas funções, os mecanismos de
textualidade e, por fim, abordaremos a produção de gêneros textuais.
Tenho certeza de você se identificará com esta disciplina, pois sempre temos
muito o que dizer, ou melhor, escrever. Você vai ter oportunidade de expressar sua
maneira de ver o mundo na modalidade escrita. Vamos ver se no final do curso você
mudou sua maneira de conceber a escrita. É também um grande desafio. Quero lembrar-
lhe um frase de Drummond :“ A minha vontade é forte, mas a minha disposição de 117
obedecer-lhe é fraca”. Não deixe que sua disposição o desestimule. Sabemos que
a escrita é uma pedra no meio do caminho de muitos estudantes, porém ainda com
Drummond :
Este poema
está no site: Se procurar bem você acaba encontrando.
http://www. Não a explicação (duvidosa) da vida,
pensador.info/p/ Mas a poesia (inexplicável) da vida.
poesias_de_
carlos_dru-
mond_de_ Acreditamos que há beleza no ato de escrever. Este é o nosso convite: venha
andrade/1/ descobrir! A escrita também possui uma poesia inexplicável.

1. 2. Concepções de escrita

Pensar em escrita envolve lidar com um termo bastante polissêmico. A escrita


pode ser entendida como uma tecnologia, enquanto uma nova habilidade desenvolvida
por algumas sociedades; como uma forma gráfica, e nela entrariam todas as semioses
gráficas produzidas pelas sociedades (cf. OLSON, 2000); como uma modalidade de
realização da língua (cf. MARCUSCHI, 2001).
Diante da diversidade apontada acima, a escola “diante da escrita” se depara
com este objeto que condensa todas estas propriedades. O ponto de vista cria o objeto,
essa frase de Saussure nos mostra que, dependendo da concepção que norteia esse
olhar, a escrita se apresenta de forma diferente. A pergunta é: a partir de que concepção
será tratada a escrita no nosso curso?
Para responder a essa pergunta, precisamos entender que há diferentes e/ou
complementares formas de se abordar o fenômeno lingüístico. A concepção de escrita
está atrelada à concepção de linguagem. Vejamos cada uma delas.
A primeira concepção, a dos gregos, vê a linguagem como expressão do
pensamento. Para essa concepção, as pessoas não se expressam bem porque não pensam.
A expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma
tradução. Essa teoria de expressão repousa num dualismo entre o interno (consciência)
e o externo (ato de expressão), com primazia explícita do conteúdo interior, já que
todo ato de expressão origina-se do interior para o exterior. Essa corrente desenvolve-
se num terreno idealista e espiritualista, em que tudo que é essencial é interior, por
isso coloca em destaque a função expressiva da linguagem em detrimento da função
comunicativa. Centrada no locutor, faz do indivíduo falante o princípio e o fim da
linguagem. A comunicação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo
outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação
acontece. Para essa concepção, o modo como o texto está constituído não depende
em nada para quem se fala, em que situação se fala (onde, como, quando, para que se
fala).
Neves (2000) relata que, neste período, a atividade do gramático era julgar
as obras do passado, procurando as virtudes e os vícios e apontar aos usuários com
a finalidade de oferecer modelos. Essa concepção de gramática como descrição que
permite conhecer o padrão a ser seguido no uso da língua foi transmitida à cultura
ocidental. Aqui, o ensino da língua e da escrita deve iniciar pela apresentação da
gramática, cujo domínio conduzirá à produção escrita.

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Concepção de escrita

Aprendizado da gramática

A segunda concepção, a de Saussure, no início do século XX, vê a linguagem


como instrumento de comunicação, como meio para a comunicação. Nessa concepção,
a linguagem é vista como um código, ou seja, um conjunto de signos que se combinam
segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor
a um receptor. Esse código deve, portanto, ser dominado pelos falantes para que a
comunicação possa ser efetivada. Como o uso do código, que é a língua, é um fato
social, envolvendo conseqüentemente pelo menos duas pessoas, é necessário que o
código seja utilizado de maneira semelhante, pré-estabelecida, convencionada para
que a comunicação se efetive.

Concepção de escrita
O texto é visto como um conjunto de unidades lingüísticas através do qual se pode
expressar um pensamento. Não há um rompimento com o modelo anterior. A escrita
é sempre a mesma e o interlocutor não existe, pois quem comanda é o emissor.
Predominam no ensino da escrita, três atitudes: fazer o aluno encontrar a idéia a
ser desenvolvida, trabalhar a correção da língua, e enriquecer sua capacidade de
expressão. Os modelos trabalhados são: descrição, narração e dissertação.

Nessa perspectiva, toda a situação que cerca a fala e a escrita é secundária, pois
o que está no centro é a estrutura da língua, suas formas. A língua é imanente, isto é,
basta a si mesma. Como implicações dessa visão tem-se uma escrita:

a) de um único sentido, pois o sentido está nas formas colocadas


no papel;
b) solitária, é o produtor que constrói o texto sozinho;
c) como exercício meramente mecânico, em que a repetição
ajuda a fixar as formas;
d) que se apresenta sempre da mesma forma, utilizando a
norma padrão;
e) que se interessa pelo produto final;
f) em que as impropriedades são erros, afastamentos do modelo
ideal.

A terceira concepção proposta por Bakhtin (1995), um filósofo russo, vê a


linguagem como forma ou processo de interação. Nessa concepção, o que o indivíduo
faz ao usar a língua não é tão-somente traduzir e exteriorizar um pensamento, ou
transmitir informações a outro, mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor
(ouvinte/leitor).
Naturalmente, pela linguagem, realizamos muitas ações: interagimos,
influenciamos, construímos pensamentos, etc. Por meio dela damos forma e
compreensão às experiências cotidianas, reavaliando, continuamente, os fatores
externos, modificando-os, numa incessante troca com o outro. Por isso, mais que
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instrumento de transmissão, o papel fundamental da linguagem é o da constituição
de sujeitos. Pela linguagem, o homem se constitui enquanto consciência no auto-
reconhecimento e pelo reconhecimento do outro, numa relação de alteridade.

Concepção de escrita
Escrever constitui um modo de interação entre as pessoas. Quem escreve,
escreve sabendo para que e para quem. Ao escrever, o sujeito enuncia seu
pensamento, com algum propósito, para si ou para o outro.

A língua como instrumento de interação social, com propósitos comunicativos,


é co-determinada pela situação de comunicação. Em outras palavras, a língua não
basta a si mesma, precisa do contexto de produção. Por isso, o olhar da Lingüística
nessa perspectiva envolve dois tipos de sistemas de regras, ambos reforçados pela
convenção social:

i) as regras que governam a constituição das expressões


lingüísticas (regras semânticas, sintáticas, morfológicas e
fonológicas)
ii) as regras que governam os padrões de interação verbal
em que essas expressões lingüísticas são usadas (regras
pragmáticas)

Como se vê, por este ângulo, a interação verbal vai modelar a língua de uma
forma particular e profunda. Como implicações dessa visão, tem-se uma escrita:

a) de vários sentidos, pois o sentido está na interação entre


autor, texto e leitor;
b) compartilhada, produtor e leitor virtual constroem o texto;
c) como produção de sentido, efetivado pelo trabalho cognitivo
baseado em hipóteses;
d) que se apresenta de forma variada, pois vai depender da
situação de interlocução;
e) que se interessa pelo processo e não só pelo produto final;
f) em que as impropriedades são hipóteses, elementos que
mostram o percurso escolhido para a construção de sentido.

Para o nosso curso, adotaremos uma concepção de escrita voltada para o uso e
construída na interação.

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1.3. Escrita e interação
Essa idéia surge com Bakhtin (1929/1995), para
quem a linguagem é duplamente dialógica. Primeiro,
por direcionar-se sempre para alguém e, segundo,
por estabelecer um diálogo com os outros textos. Os
sujeitos constroem o conhecimento com base em suas
representações, em seus conhecimentos anteriores. Para
Bakhtin (1995: p. 113):

Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela é


determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como
pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente
o produto da interação do locutor e do ouvinte.[...] A palavra é
uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros.

Destacam-se aqui duas molas mestras no pensamento do autor. A palavra, o texto


é sempre dirigido a alguém, não se fala ao vácuo. E esse texto procede de alguém.
Ganha relevo a intertextualidade, esse fator torna-se condição prévia na produção e
recepção de qualquer tipo de texto, pois a relação entre discursos é constitutiva de cada
discurso. Qualquer escrita nasce na fonte de outras vozes.
Outro contributo do mestre russo foi a incorporação da situação interlocutiva.

A situação social mais imediata e o meio social mais amplo


determinam completamente e, por assim dizer, a partir do seu
próprio interior, a estrutura da enunciação. (Bakhtin,1995 p
113)

Isto quer dizer que a situação deve ser considerada na hora da produção ou da
recepção de texto. Para se expressar algo na modalidade oral ou escrita, é necessário
saber o que vai ser dito, onde e para quem. Esses elementos são constitutivos do ato de
expressar-se. Nessa perspectiva, como vimos anteriormente, a escrita é uma atividade
cooperativa, em que pelo menos dois sujeitos atuam para a construção de um sentido;
contextualizada, situada em um espaço e em um tempo e, naturalmente, textual,
que se concretiza em textos escritos. È necessário acrescentar também a atividade
cognitiva, pois, na escrita, lidamos com várias tarefas mentais (ativação da memória,
seleção de palavras, etc). Por tudo isso, pode-se entender que:

a escrita é um evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas,


cognitivas e sociais. (Beaugrande 1997, p 10)

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UNIDADE II
TEXTO E TEXTUALIDADE

Vamos, nesse segundo momento, introduzir a noção de textualidade. Na


disciplina LPT I, vocês discutiram a noção de texto: O texto é um todo significativo, é
uma unidade de sentido que não depende apenas de seu autor, mas da relação entre
leitor-texto – autor. Precisamos agora conhecer alguns princípios de textualidade, isto
é, operações produzidas para a construção de um texto. Vejamos este exemplo:

Este texto foi produzido com um propósito comunicativo, dentro de uma


situação comunicativa, expressando relações com outros textos. Suas informações
estão construídas através do lingüístico, articulado de modo coeso e coerentemente, o
que nos faz aceitá-lo como texto. Em outras palavras, este texto como todo texto deve
apresentar estes sete princípios:

Coesão, Coerência, Intencionalidade, Informatividade, Aceitabilidade,


Situacionalidade e Intertextualidade

Um texto não
Segundo Beaugrande e Dressler (1981), os autores que primeiro falaram sobre verbal também
esses mecanismos, afirmam que eles devem ser entendidos como sinalizadores da segue esses
conexão entre elementos textuais. princípios
Para os autores (1981), a coesão está voltada para aos modos como os
componentes da superfície textual se conectam mutuamente. Essa concepção amplia a Para aprofun-
noção de coesão textual, que antes se firmava apenas em uma lista finita de mecanismos dar, veja o livro
que concorrem para o estabelecimento da coesão. de ANTUNES
A coerência, segundo Beaugrande e Dressler (1981), diz respeito ao modo
como os componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjecentes
ao texto de superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa
configuração veiculadora de sentidos.
A intencionalidade, critério centrado basicamente no produtor do texto, serve
para indicar a ação discursiva pretendida pelo autor, ainda que nem sempre se realize
em sua totalidade, pois vai depender da visão de mundo do leitor.
De acordo com Marcuschi (2008), o critério de intertextualidade caracteriza- 123
se por fazer relações entre dois ou mais textos, encontrados em experiências anteriores
pelo indivíduo que a aplica, com ou sem a mediação de um interlocutor. Partindo
da idéia de “absorção e transformação” de textos, o autor considera que todos os
textos, de certa forma, dialogam com outros textos, desta forma, não existiria um texto
isolado, sem um “aspecto intertextual”. Vemos que ele concerne aos fatores que fazem
a produção e a recepção de um texto depender do conhecimento de outros textos.
Há dois tipos de relações intertextuais: a paródia e a paráfrase. Esta ocorre
quando a relação intertextual tem como objetivo ratificar, confirmar as idéias do texto–
Leitura base. Como exemplos de paráfrase, temos os fichamentos, os resumos, as sínteses, as
Obrigatória: traduções.
A rg u m e n t a ç ã o
Quanto à paródia, ela ocorre quando a relação intertextual tem como objetivo
e diálogo textu- provocar a inversão do(s) sentido(s) do texto-base. Geralmente a paródia visa à denúncia
al. In: CITELLI, social. Segundo Citelli (2003: 54), a paródia pode ser concebida como estratégia “de
Adilson. O texto corrosão dos valores consagrados socialmente, de alteração dos conceitos cristalizados,
argumentativo. sempre sob o domínio do gesto gozador, engraçado, cômico, irônico”. Como exemplos,
3º ed, São Paulo:
Scipione, 2003.
temos as sátiras, as charges.
p.p 45-56 A intertextualidade ainda pode ser de forma e/ou de conteúdo.
A intertextualidade de forma ocorre quando é retomada mesma estrutura do
texto-base: estilo, gênero textual, linguagem.
A intertextualidade de conteúdo , como o próprio nome já diz, ocorre quando
o conteúdo do texto-base é retomado, seja para confirmá-lo ou para invertê-lo.
Podemos entender a intertextualidade como um critério intertextual muito
complexo, na medida em que “abarca” muitos termos na própria Análise do Discurso,
como o dialogismo, interdiscurso, metacognição, entre outros.
Já a situacionalidade “refere-se ao fato de relacionarmos o evento textual à
situação (social, cultural, ambiente etc.) em que ele ocorre” (Marcuschi, 2008: 127;
cf. Beaugrande, 1997: 15). Essa situação pode estar ligada ao contexto mais imediato
da interação ou ao contexto socio-político-cultural em que a interação está inserida.
Segundo Costa Val (2002), a informatividade tem a ver com o grau de
novidade e previsibilidade: quanto mais previsível, menos informativo será o texto
para determinado usuário, porque acrescentará pouco às informações que o recebedor
já tinha. O inverso também acontece: quanto mais cheio de novidades, mais informativo
é o texto para o recebedor. Segundo Beaugrande e Dressler (1981), o ideal seria a
utilização de um grau mediano de informatividade, sendo ela um fator considerado em
função dos usuários e da situação em que o texto ocorre. Segundo Marcuschi (2008),
esse aspecto refere-se à possibilidade de distinção entre a idéia a ser transmitida por
um texto e a idéia que pode ser retirada dele. Progressão e articulação textuais são
pontos essenciais para a articulação entre as partes do texto, sendo indispensáveis
para a manutenção da coerência e infomatividade, pois um texto é coerente porque
desenvolve algum tópico e refere conteúdos.
Finalmente, a aceitabilidade é o aceite do texto enquanto produtor de sentido(s)
para o leitor. Para Marcuschi (2006), está centrada na atitude do leitor, que recebe
o texto como uma configuração aceitável, tendo-o como coerente e coeso, ou seja,
interpretável e significativo.
Para aprofundar melhor esses mecanismos, trazemos para você um texto de
Elizabete, uma menina de sete anos de uma escola do município de João Pessoa.

124
Este texto está
 De nanha transcrito
 Escovar os Dentes como a criança
 Bochecha a Pasta escreveu
 Tonar cafè
 Escova os dentes
 Bochecha a Pasta
 De Tarde
 Almoça
 Toma aguá
 Escova os Dente
 Bochecha a Pasta
 Iso todo Sem pão Sem sal, ovo, chocolate, chiclete

Esse texto é diferente dos demais coletados pelo LAFE*. Como avaliá-lo? Não (*) Laboratório
de Aquisição de
há marcas explícitas dos mecanismos tradicionais da coesão. O que mantém a coesão?
Fala e de Escrita
Lembramos que a coesão também se dá por escolhas lexicais do mesmo campo
(UFPB). Faze-
semântico. O texto está dividido em dois momentos: manhã e tarde. Nos dois blocos, mos pesquisas
essa escolha se dá de forma adequada, são ações que acontecem dentro desse período sobre a cons-
temporal. A conclusão retoma e respeita as implicações lógicas existentes entre as trução da textu-
duas partes explicitando a falta da comida da qual ela gosta. O texto ganha ainda mais alidade na fala
sentido, quando descobrimos que se trata de uma criança em fase de regime, que relata e na escrita de
sua angústia de passar o dia sem se alimentar do que mais gosta. È um texto que tem crianças.
continuidade e continuidade é uma marca de coesão. A continuidade aqui é o fator
de coerência. Cadeias de representações de natureza lógico-semântica e condições
pragmáticas garantem a conectividade e a formação das estruturas textuais.
Hoje de acordo com Costa Val (2000) e Antunes (2005), sabe-se que é impróprio
separar o imanente do situacional, o semântico do pragmático, porque a produção
do sentido do texto, que passa pela construção de sua macroestrutura semântica, está
estreitamente vinculada às condições em que esse processo ocorre e depende das ações
realizadas e interpretadas pelos locutores. A coesão é uma decorrência da própria
continuidade exigida pelo texto, a qual, por sua vez, é exigência da unidade que dá
coerência ao texto (Antunes, 2005). Assim, cada vez que um interlocutor interpreta
um artefato como texto é porque conseguiu aplicar a ele os princípios de textualização,
construindo sua coesão, sua coerência.
Chamando atenção para os aspectos da textualidade, os PCNs se direcionam não
mais para o produto em si, mas para o processo da construção textual, na preocupação
de dar relevo à textualidade e à situação intelocutiva como um todo. Pelo quadro
exposto, é possível deduzir que o aluno para ser capaz de redigir dessa maneira, o
professor deverá explicitar: as condições de produção (finalidade, especificidade do
gênero, interlocutor eleito, etc); os procedimentos para elaboração do texto (tema,
levantamento de idéias, planejamento, revisão), quais mecanismos de coerência e
de coesão textuais, conforme o gênero e os propósitos do texto (manutenção da
continuidade do tema, seleção apropriada do léxico em função do tema, relevância das
informações em relação ao tema e ao ponto de vista adotado, os argumentos elaborados,
adequação dos recursos lingüísticos na construção da textualidade) e a utilização de
marcas de segmentação do texto. 125
Os mecanismos de textualidade induzem uma proposta de trabalho que integra os
eixos de ensino: leitura, produção e análise lingüística.

Precisamos falar sobre esses mecanismos, pois eles estão presentes nos diversos
gêneros textuais. Você já leu sobre os gêneros em LPT I, nosso próximo passo vai ser
conhecer melhor alguns gêneros nesta disciplina.
Bom estudo! Percebeu que saber sobre o escrever é interessante? Agora é a sua
vez!

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UNIDADE III
O TRABALHO COM OS GÊNEROS ESCRITOS

Os escritos de Bakhtin (1992) revolucionaram o ensino de língua em muitos


países da Europa e das Américas. Pela sua influência, muitos pesquisadores viram a
necessidade de o ensino da escrita na escola passar dos tipos aos gêneros.
Desde a década de 80, o texto passa a ser a base do ensino-aprendizagem
da língua portuguesa no Ensino Fundamental no Brasil. Essa constatação trouxe o
texto para o centro da sala de aula, mas, em relação à produção escrita, essa realidade
não mudou muito o processo de ensino, pois o texto continuou sendo dado em suas
tipologias: descrição, narração e dissertação. Algumas críticas surgiram em decorrência
desse fato.
Como lembra ROJO (2004), se muitas dissertações escolares começam
pela afirmação de uma tese que será sustentada por argumentos de diversos tipos
hierarquizados, não é difícil encontrar um artigo jornalístico de opinião que recorra
a outras estratégicas, como iniciar por relatos exemplares ou ironizar, para chegar à
formação da opinião. Portanto, certos textos (crônicas, artigos de opinião, sem falar em
outros que se materializam em linguagens diferentes como HQs, charges, anúncios e
tirinhas e nos textos orais) não apresentavam as propriedades generalizadas ensinadas
na classificação tipológica.
Outra crítica diz respeito às práticas ligadas ao uso, à produção e circulação
dos textos que ficam fora do estudo da sala de aula. Nas redações escolares, não se
menciona o contexto de produção, gerando uma leitura de extração de informação
e abstendo-se de uma formação mais crítica influenciada pelo contexto e finalidade
dos textos. Nessa última, passam a ter importância tanto as situações de produção e
de circulação dos textos como a significação, pois aquelas informações ampliam o
horizonte de sentidos no texto.
Lembramos ainda que, no ensino das tipologias, permanecia a antiga dicotomia
entre fala e escrita. Aquela como o local do erro, do marginal e esta, como o do correto,
da norma. Ora, com os gêneros, essa dicotomia cai por terra, pois encontramos gêneros
escritos bem próximos do oral (e-mail) e fala bem próxima da escrita (exposição
formal). Uma realidade mais concreta de língua e uma dimensão bem mais coerente de
sua constituição. Além do mais, para falar ou para escrever, utilizamo-nos sempre dos
gêneros do discurso. Como diz Bakhtin (1992), a língua materna não a aprendemos
nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos
que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva, que se efetua com 127
os indivíduos que nos rodeiam. Aprender a falar ou a escrever é aprender a estruturar
gêneros.
Por esses e outros motivos, há quase um consenso sobre o ensino de gêneros.
Essa visão já está presente nos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa. Na
página 21, encontramos:

“O discurso, quando produzido, manifesta-se lingüisticamente por


meio de textos. O produto da atividade discursiva oral ou escrita
que forma um todo significativo, qualquer que seja sua extensão, é o
texto, uma seqüência verbal constituída por um conjunto de relações
que se estabelecem a partir da coesão e da coerência. Em outras
palavras, um texto só é um texto quando pode ser compreendido
como unidade significativa global, caso contrário, não passa de um
amontoado aleatório de enunciados. [...] Os textos, como resultantes
da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns
com os outros, ainda que, em sua linearidade, isso não se explicite.
[...] Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função
das intenções comunicativas, como parte das condições de produção
dos discursos. As quais geram novos usos sociais que os determinam.
Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, constituindo
formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura”.
( o grifo é nosso)

Nesse trecho, vê-se claramente uma concepção bakhtiniana da linguagem.


Nessa concepção, a língua é viva, produzida na história e, ao mesmo tempo, produtora
da história dos homens. Ela é constituída nas diversas enunciações que têm lugar nas
diferentes situações sociais, pelos gêneros do discurso.
Tal concepção de língua é diversa e, muitas vezes, oposta àquelas que circulam
nas salas de aula de língua portuguesa, em que o texto é, em geral, utilizado para o
ensino de gramática. Essa perspectiva direciona o papel do ensino que deixa de se voltar
para a ampliação da capacidade de produzir e interpretar textos para o aprofundamento
do conhecimento da norma culta através do enfoque gramatical. Conhecimento que
não garante uma eficácia na produção e recepção de textos.
Lembrando ainda o objetivo do ensino de língua nos Parâmetros: “Desenvolver
no aluno um conjunto de habilidades e comportamentos de leitura e de escrita que lhe
permitam fazer maior e mais eficiente uso possível das capacidades técnicas de ler e
escrever”, nosso propósito não é apenas ensinar a ler e a escrever, mas é, também, e
sobretudo, levar os indivíduos — crianças e adultos — a fazer uso da leitura e da escrita
e a envolver-se em práticas sociais de leitura e de escrita. Essas práticas direcionam
para um letramento. E quando o assunto é letramento, é fundamental abordar o conceito
de gêneros textuais.
“A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e estabilizados em
gêneros textuais para uso em situações concretas” (Marcuschi, 2001).
Nesta proposta, não há lugar para o ensino tradicional da gramática da palavra,
nem da gramática da frase, havendo, sim, uma insistência no exame e na prática de
textos falados e escritos em situação social de comunicação e interação, de textos
autênticos, o que implica o estudo dos gêneros e das condições de produção destes
textos.

128
O que são os gêneros?

Os gêneros, tradicionalmente, eram utilizados pela Retórica e pela Literatura.


Mas foi em Bakhtin (1979) que a noção de gênero encontrou um significado considerável.
Pode-se resumir da seguinte maneira sua visão sobre gêneros:

-cada esfera de troca social elabora tipos relativamente estáveis de enunciados:


os gêneros;
-três elementos os caracterizam: conteúdo temático — estilo — construção
composicional;
-a escolha de um gênero se determina pela esfera, as necessidades da temática,
o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor.

Schneuwly (2004, p.26) destaca três idéias centrais na visão de Bakhtin:

1. Há a escolha de um gênero, em função de uma situação definida por um


certo número de parâmetros: finalidade, destinatários, conteúdo, para dizê-lo na nossa
terminologia. Dito de outra maneira: há a elaboração de uma base de orientação para
uma ação discursiva.
2. Essa base chega à escolha de um gênero num conjunto de possíveis, no
interior de uma esfera de troca dada, num lugar social que define um conjunto possível
de gêneros.
3. Mesmo sendo “mutáveis, flexíveis”, os gêneros têm uma certa estabilidade.
Eles têm uma certa estrutura definida por sua função; eles são caracterizados por aquilo
a que chamamos, um plano comunicacional. Finalmente, eles são caracterizados por
um estilo, que deve ser considerado não como um efeito da individualidade do locutor,
mas como elemento de um gênero.

Isso quer dizer que há um sujeito, o locutor-enunciador, que age discursivamente


(falar/escrever), numa situação definida por uma série de parâmetros, com a ajuda de
um instrumento que aqui é um gênero, um instrumento semiótico complexo, isto é,
uma forma de linguagem prescritiva, que permite, a um só tempo, a produção e a
compreensão de textos.
“Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos; se tivéssemos
de criá-los pela primeira vez no processo da fala; se tivéssemos de construir cada um de nossos
enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível” (BAKHTIN 1953/1979, p. 302).
A escolha do gênero se faz em função da situação. Há, pois, segundo Schneuwly,
uma relação entre meio-fim, que é a estrutura de base da atividade mediada. Portanto,
o gênero é visto como um instrumento que permite a produção e a compreensão dos
textos.
Para facilitar a compreensão, apresentamos o quadro abaixo que mostra a
distinção entre tipo e gênero textual, segundo Marcuschi ( 2003, p 26)

129
Tipo Gênero

1. Constructos teóricos definidos por propriedades 1. Realizações lingüísticas concretas definidas


lingüísticas intrínsecas; por propriedades sócio-comunicativas;

2. Constituem seqüências lingüísticas ou 2. Constituem textos empiricamente


seqüências de enunciados e não são textos realizados cumprindo funções em situações
empíricos; comunicativas;

3. Sua nomeação abrange um conjunto limitado 3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto e
de categorias teóricas determinadas por aspectos praticamente ilimitado de designações concretas
lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo determinadas pelo canal, estilo, conteúdo,
verbal; composição e função;

4. Designações teóricas dos tipos: narração 4. Exemplos de gêneros: telefonemas, sermão,


argumentação, descrição, injunção e exposição. carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete,
aula expositiva, reunião de condomínio,
horóscopo, receita culinária, bula de remédio,
lista de compras, cardápio, instruções de uso,
outdoor, inquérito policial, resenha, edital
de concurso, piada, conversação espontânea,
conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual,
aulas virtuais etc.

È possível ensinar a escrever?

Para alguns autores, entre eles, Scheneuwly e Dolz, Rojo, a resposta está em criar
contextos de produção precisos, para que os alunos se apropriem dos conhecimentos
necessários para o desenvolvimento de suas capacidades de escrita. Esses contextos
são seqüências didáticas, isto é, um conjunto de atividades escolares organizadas de
maneira sistemática em torno de um gênero textual oral ou escrito.
A estrutura de base apresentada é a seguinte:

Apresentação Produção Módulo 1 Módulo 2 Módulo n


da situação inicial

Produção final

A seqüência é concluída com a produção final, que se dá ao longo do processo


da escrita. Os problemas devem ser trabalhados em diferentes níveis: o da situação
de comunicação, da elaboração do conteúdo, planejamento do texto e realização do
texto.Um aspecto importante para assegurar a aprendizagem é iniciar o processo de
produção a partir da observação de gêneros autênticos.
Essas informações são essenciais para a aprendizagem da escrita, por isso
leia o capitulo “Seqüências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um
procedimento” em Gêneros orais e escritos na escola de Schneuwly e Dolz.
Agora que você já aprendeu mais um pouco sobre a teoria dos gêneros, vamos
estudar alguns gêneros escritos como a carta, o artigo de opinião e a propaganda
130 turística.
REFLEXÃO:

Você sabe que não escrevemos da mesma forma uma carta comercial e uma
carta para um tio ou uma avó. Mas quais seriam as diferenças, de forma e de
conteúdo, entre elas? Ambas poderiam chegar até você por e-mail, que é uma
forma moderna de escrever cartas. Vamos aprender, a seguir, um pouco sobre
este gênero tão importante do nosso cotidiano: a carta.

3.1. A carta

Um dos gêneros textuais mais importantes para a história das línguas é a


carta. Hoje tem sido o gênero preferido por muitos para estudos diacrônicos da língua
pela sua suposta proximidade com o oral. O interessante é estudar a evolução desse
gênero textual, a sua função em diferentes épocas e seu papel no desenvolvimento de
outros gêneros. Já na Antiguidade as cartas eram utilizadas pelos letrados e estadistas
para se manterem informados.

As cartas ocupavam então o lugar dos jornais e prestavam


os mesmos serviços. Passavam de mão em mão quando
continham novidade de interesse. Liam-se, comentavam-
se, transcreviam-se as (sic) em que os grandes personagens
expunham seus pontos de vista. Era por meio delas que,
atacado, defendia-se o político diante das pessoas cuja
estima desejava conservar; emudecido o Fórum, como
no período de César, era por meio delas que se procurava
formar num público restrito uma espécie de opinião geral
(20). Certas cartas afixavam-se nas praças ou corriam
em cópias distribuídas pelos destinatários, tornando-se
públicas. (Rizzini, 1977:9).

Na atualidade, o gênero carta se diversificou e cumpre na sociedade várias


funções de acordo com a esfera social em que ele se insere: carta pessoal, carta comercial,
carta ao leitor, carta do leitor, carta circular, entre outras. Mas todos esses subgêneros
têm em comum sua função comunicativa, que é dirigir-se a um interlocutor, geralmente
explicitado no texto, a fim de agir sobre ele de diferentes formas. Comecemos pela
carta do leitor.
Por meio da carta do leitor, pertencente ao domínio midiático ou jornalístico,
o enunciador pode realizar diversos atos de fala: solicitar, criticar, elogiar, agradecer,
opinar, perguntar, etc. Cabe destacar que, dependendo do suporte, o propósito
comunicativo do locutor pode mudar: por exemplo, na Revista Veja, observa-se que os
locutores desejam posicionar-se frente a reportagens, notícias, artigos ou mesmo em
relação à carta ao leitor ou a carta de outros leitores, ao passo que, em revistas dirigidas
a adolescentes, o fim ilocutório é, freqüentemente, o pedido de um conselho ou de uma
orientação, relacionados a sexo, saúde, relacionamento, funcionando essa seção como
uma espécie de correio sentimental. 131
No que se refere à intersubjetividade (protagonistas do discurso), é interessante
observar que, diferentemente de outras cartas, a carta do leitor tem dois interlocutores
(um direto e um indireto): a carta pode ter como sujeito-alvo a própria revista
(interlocutor direto) e, numa segunda instância, ao ser publicada, os leitores da revista;
ou o interlocutor direto é o destinatário ao qual a carta se dirige diretamente, mas,
como é divulgada pela revista, os segundos interlocutores passam a ser os leitores
desta. Portanto, o fim a que visam os textos pertencentes a esse gênero também varia
dependendo dos interlocutores a serem atingidos.
Outro tipo é a carta comercial que nos é enviada pelos poderes políticos ou
por empresas privadas (comunicações de multas de trânsito, mudanças de endereço
e telefone, propostas para renovar assinaturas de revistas, etc.). Este tipo de carta
caracteriza-se por seguir modelos prontos, em que o remetente só altera alguns dados.
Apresentam uma linguagem padronizada (repare que elas são extremamente parecidas,
começando geralmente por “Vimos por meio desta...”) e normalmente são redigidas
na linguagem formal culta. Nesse tipo de correspondência, mesmo que venha assinada
por uma pessoa física, o emissor é uma pessoa jurídica (órgão público ou empresa
privada), no caso, devidamente representada por um funcionário.
As caracteríticas da carta comercial são as seguintes:
a) Boa apresentação: exige-se, portanto, ordem, organização e limpeza.
b) Clareza: a obscuridade do texto impede a comunicação imediata e dá azo a
interpretações que podem levar a desentendimentos e, mesmo, a prejuízos
financeiros.

A linguagem há de ser:
• Simples, evitando-se preocupação com enfeites literários.
• Atual, isto é, inteligível à época presente.
• Precisa, a saber, própria, específica, objetiva.
• Correta, com exata observância das normas gramaticais.
• Concisa, informando com economia de palavras.
• Impessoal, com o máximo de objetividade, pois a carta comercial não é lugar
adequado para manifestações subjetivas e sentimentais.

o Observe o modelo da carta:

MODELO: CARTA COMERCIAL

ESTRUTURA DA CARTA COMERCIAL

DATA

VOCATIVO

CORPO DO TEXTO

FECHO

132 ASSINATURA / FUNÇÃO


Exemplo de Carta Comercial

Para a produção do gênero carta comercial siga as etapas


que se seguem:


1. Local e data:
João Pessoa, 19 de julho de 1994.

(5 espaços)
2. Vocativo:
Prezados Senhores:

(3 espaços)

3. Corpo do texto:
Com referência à sua reclamação, na carta do dia 15 do mês em curso,
levamos ao conhecimento de V. Sas. os necessários esclarecimentos.

(2 espaços)

O atraso na entrega da mercadoria solicitada ocorreu não por falha de


nossos funcionários, mas por incúria da empresa entregadora.
Estamos tomando as devidas providências a fim de que as mercadorias
sejam entregues rapidamente.

(2 espaços)

4. Fecho da carta:
Pedimos desculpas pelo ocorrido e continuamos à disposição de V. Sa.

(3 espaços)

5. Assinatura e função:

João Batista da Silva


Gerente de Vendas

ATIVIDADE:

- Observe a linguagem empregada neste gênero específico. A linguagem


empregada na carta em estudo é formal ou informal? Apresente suas hipóteses
para a utilização dessa linguagem.

- Qual a função da carta comercial? 133


Há também a carta pessoal, que utilizamos para estabelecer contato com amigos,
parentes, namorado (a). Tais cartas, por serem mais informais que a correspondência
oficial e comercial, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem
coloquial. Nesse caso, o remetente é a própria pessoa que assina a correspondência.
Embora você possa encontrar por aí livros que trazem “modelos” de cartas
pessoais (principalmente “modelos de carta de amor”). Os “modelos” se caracterizam
por uma linguagem artificial, surrada, repleta de expressões desgastadas, além de
serem completamente ultrapassados.
Não há regras fixas, nem modelos para se escrever uma carta pessoal; fora
a data, o nome (ou apelido) da pessoa a quem se destina e o nome (ou apelido) de
quem a escreve, a forma de redação de uma carta pessoal é extremamente particular.
No processo de comunicação, e sendo a correspondência uma forma de comunicação
entre pessoas, não se pode falar em linguagem correta, mas em linguagem adequada.
Não falamos com uma criança do mesmo modo que falamos com um adulto.
A linguagem que utilizamos quando discutimos um filme com os amigos é
bastante diferente daquela a que recorremos quando vamos requerer vaga para um
estágio ao diretor de uma empresa. Em síntese: a linguagem correta é a adequada ao
assunto tratado (mais formal ou mais informal), à situação em que está sendo produzida,
à relação entre emissor e destinatário. A linguagem que você utiliza com um amigo
íntimo é bastante diferente da que utiliza com um parente distante ou mesmo com um
estranho. Na correspondência deve ocorrer exatamente a mesma coisa: a linguagem e
o tratamento utilizados vão variar em função da intimidade dos correspondentes, bem
como do assunto tratado. Uma carta a um parente distante comunicando um fato grave
ocorrido com alguém da família apresentará uma linguagem mais formal. Já uma carta
ao melhor amigo comunicando a aprovação no vestibular terá uma linguagem mais
simples e descontraída, sem formalismos de qualquer espécie. O que se determina é a
coerência discursiva, que você considere o seu destinatário e a função comunicativa.

MODELO: CARTA PESSOAL


_____________________________________

____________________________________

_____________________________________________
________________________________________________

_______________________________________________

_____________________________________________
__________________________________________
Uma carta a um parente comunicando um fato
__________________________________________
grave com algué
_____________________________________________
alguém da famí
família apresentará
apresentará uma
__________________________________________
linguagem formal.
...assinatura das pessoas ou entidades
_____________________________________________
__________________________________________ responsá
responsáveis por elas; local e data
_____________________________________________
__________________________________________
Uma carta ao melhor amigo comunicando a (facultativos).
_____________________________________________
__________________________________________
aprovaç
aprovação no vestibular terá
terá uma linguagem Linguagem:
Linguagem: padrão formal, verbos usados
_____________________________________________
__________________________________________
mais simples e descontraí da.
descontraída. predominantemente no presente do
_____________________________________________
__________________________________________ indicativo.
_____________________________________________
na correspondência, a linguagem e o
__________________________________________ Os autores podem se expressar na 1ª

_____________________________________________
__________________________________________
tratamento utilizados vão variar em ou 3ª
3ª pessoa do plural.
_____________________________________________
__________________________________________
funç
função da intimidade dos _____________________________________________
__________________________________________
correspondentes, bem como do assunto
__________________________________________
_____________________________________________
tratado.
__________________________________________ _____________________________________________

João Pessoa, 14 de agosto de 2005.

Mano Gil,

Como vai, cara? Beleza? E cadê o cara que falou que logo no começo das férias
ligava? Já que o “treta” aí não deu sinal de vida, resolvi escrever pra contar as
novidades.
Aqui em Jampa ta tudo calminho como sempre. Sabe como é, cidade pequena é assim
mesmo! A praça do bairro continua. Única opção. Pra dar umas voltas e de vez em
quando pra paquerar. É, mane, pensa que é moleza?
134 Por falar em paquera, a Ba está cada vez mais “totosa” como você diz, mas assim que
ela largou do irmão do Luciano, que ficava com a prima da Tati, que beijou meu irmão
nas férias de julho, ela partiu pra piscina municipal pra pescar um peixão... e pescou.
Lembra do Adriano? Pois é, ele é seu atual namorado. Desiste dela, amigo! Ela até
canta Fagner pra ele! “Quem me dera ser um peixe pra no seu aquário mergulhar”!!!E
mais! No meio da piscina, mete a cabeça na água e diz que faz borbulhas de amor por
ele. Ele adora! Sai dessa, amigo!
Bom Gil, vou ficando por aqui, amigo. Se um dia der certo, passo aí para visita-lo. Vê
se aparece também.
Não vejo a hora de as aulas começarem pra eu ver você e toda a turma.
Abraços,
Filipe

P.S.: Tem visto a Dani? Se por acaso a vir, diz pra ela que to doido, pirado de saudades!
Morro de rir com ela e dela. O que é a gargalhada dela, me diz? Ela é gente fina
mesmo!
( Filipe Stucchi de Souza – 16 anos)

AGORA É COM VOCÊ!

Produza uma carta pessoal a um amigo bem próximo, lembrando de considerar


toda sua estruturação e funcionalidade.

Passemos agora à carta de apresentação. Ela deve ser simples e breve. É uma
forma de fazer a sua promoção pessoal. Dirige-se a um empregador, oferecendo
espontaneamente os seus serviços e deve estar acompanhada do Curriculum Vitae.
Todos os dados aqui apresentados são fictícios e este modelo dá apenas
indicações de elaboração. Redija o seu de uma forma pessoal e original para motivar
o empregador

MODELO: CARTA DE APRESENTAÇÃO


Isabel Cristina Matos
Av. 5 de Outubro, nº XX 1050 Lisboa
Telefone: 21 XXX XX XX

Exmoº Senhor
Director dos Recursos Humanos
da Sociedade de Informática de Portugal
Rua das Avenidas, nº XX, 1200 Lisboa.

Acabo de receber o meu diploma de Informática, na Universidade Lusófona. Tenho


conhecimento de que a vossa empresa lidera o mercado neste ramo de atividade, o
que me dá garantias de ser o melhor local para poder desenvolver as competências
que adquiri na minha formação.

Gostaria de, numa entrevista pessoal, poder prestar outras informações que penso
serem de mútuo interesse.

Subscrevo-me, com a mais elevada consideração.


135
Isabel Cristina Matos

Anexo: Currículo

ATENÇÃO: Há muitos modelos e estruturas de cartas, dentro desse gênero

! existem características inerentes a cada função sócio-histórica. Devemos


considerar as especificidades de cada situação.

SUGESTÕES: Observar as peculiaridades de carta comercial, pessoal, do


leitor e de recomendação.

ATIVIDADE:
- A carta é um gênero que costuma apresentar uma estrutura padrão que
determinam sua função social. Quais as características estruturais que marcam
a carta de apresentação?
-Qual a finalidade de uma carta de apresentação?
- Coloque em prática seus conhecimentos e construa uma carta de apresentação,
direcionada a uma determinada empresa de nome nacional. Procure deixar bem
claro seu objetivo no texto.

MODELO E-MAIL

E-mail é um sistema de transmissão rápida via Internet em que os usuários se


comunicam em questão de segundos. O correio eletrônico, ou seja, a página da Internet
é o suporte e o gênero é o e-mail.
O e-mail surgiu em 1971 e seu criador foi Ray Tomlinson que enviou sua
primeira mensagem. Ele criou o SNDMSG para transmissão do e-mail e o READMAIL
para a leitura ou recepção do mesmo.
Aqui no Brasil a Internet chegou em 1988 numa ação conjunta entre o Ministério
da Ciência e Tecnologia, CNPQ e outros. E hoje muitos estudantes do ensino superior,
médio e até fundamental que têm acesso a Internet. Esse é um dos instrumentos que
possibilitam a aprendizagem do nosso curso.
É conhecido o quanto a comunicação via Internet revolucionou o circulo de
relações humanas e interligou todos numa grande rede de entretenimentos, cultura,
lazer, noticias e educação.

DICA DE SITE PARA A SUA PESQUISA!

http://www.vocesabia.net/ curiosidades/ como-surgiu-o-e-mail/

136
Para concluir, gostaríamos de apresentar a primeira carta escrita no Brasil

O primeiro registro do gênero carta no Brasil é o documento histórico da


carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei de Portugal, informando sobre as novas
descobertas, ano de 1500. Esse gênero, nesse caso, tem caráter informativo, devido a
sua funcionalidade naquele contexto, suas características sócio-históricas.

• Ver texto da carta, na integra, no site www.literaturabrasileira.ufsc.br,


observando as características inerentes a esse gênero discursivo, no momento
histórico específico. Podemos, a partir dessas observações, perceber algumas
evoluções neste gênero no decorrer do tempo.

AGORA É COM VOCÊ!

Com suas palavras, disserte sobre a evolução do gênero carta, como suas
variantes podem apresentar-se no tempo. Não esqueça de ressaltar qual a
influência de fatores sócio-históricos nessa evolução ou variação de gênero.

3.2. O artigo de opinião

O gênero “artigo de opinião” evidencia questões educacionais amplas


e se apresenta como objeto imprescindível de análise. Ele é um gênero de discurso
marcado pelo objetivo de convencer o outro de sua idéia, visando influenciar, bem como,
transformar concepções e comportamentos. Tal gênero é reconhecido, principalmente,
por apresentar um discurso argumentativo, mostrando-se a favor de uma determinada 137
posição e colocando-se diante de posições diferenciadas. Um dos objetivos deste
gênero é informar e formar.

É fundamental, na produção de um artigo de opinião, a presença de


um ponto de vista a ser discutido, concernente a um tema específico que vislumbre a
circulação de idéias em determinados contextos sociais.

3.2.1. Características do gênero artigo de opinião:

Nesse gênero, evidenciamos características do ponto de vista lingüístico, da


progressão temática e de suas características discursivas. Do ponto de vista lingüístico,
podemos ressaltar que:

 A organização do discurso é, normalmente, em terceira pessoa;

 A apresentação dos argumentos e contra-argumentos;

 A presença de citações é, também, uma possibilidade.

Do ponto de vista da progressão temática, observamos as possibilidades de


organização distinta, de acordo com a análise de textos distintos, seja do mesmo autor
ou de autores diferentes. Diante disso, podemos observar que:

 A organização e a ordem do tema, dos argumentos, contra-argumentos


e da conclusão;

 A apresentação dos argumentos de maior ou menor ênfase;

 A organização do gênero “artigo de opinião”.

Do ponto de vista discursivo, podemos apontar:

 a localização da presença da opinião pessoal do escritor;

 identificação da questão em debate;

 reconhecimento da posição defendida pelo autor;

 identificação da opinião à qual o autor se opõe;

 as formas de sustentação de opinião apresentadas.

3.2..2. As condições de produção:

1. definição do possível leitor do texto a ser escrito;


138
2. explicação do objetivo do texto;
3. definição do lugar de produção e circulação do texto;

Passemos agora a um exemplo de Artigo de opinião:

Com que corpo eu vou?

Que corpo você está usando ultimamente? Que corpo está representando você
no mercado das trocas imaginárias, que imagem você tem oferecido ao olhar alheio
para garantir seu lugar no palco das visibilidades em que se transformou o espaço
público no Brasil? [...] Fique atento, pois o corpo que você usa e ostenta vai dizer
quem você é. Pode determinar oportunidades de trabalho. Pode significar a chance
de uma rápida ascensão social. Acima de tudo, o corpo que você veste, preparado
cuidadosamente à custa de muita ginástica e dieta, aperfeiçoado por meio de modernas
intervenções cirúrgicas e bioquímicas, o corpo que resume praticamente tudo o que
restou do ser é a primeira condição para que você seja feliz.
Não porque ele seja, o corpo, a sede pulsante da vida biológica. Não porque
possua uma vasta superfície sensível ao prazer do toque – a pele, esse invólucro tenso
que protege o trabalho silencioso dos órgãos. Não pela alegria com que experimentamos
os apetites, os impulsos, as excitações, a intensa e contínua troca que o corpo efetua
com o mundo. O corpo-imagem que você apresenta ao espelho da sociedade vai
determinar sua felicidade não por despertar o desejo ou o amor de alguém, mas por
constituir o objeto privilegiado do seu amor-próprio: a tão propalada auto-estima, a
que se reduziram todas as questões subjetivas na cultura do narcisismo.
Nesses termos, o corpo é ao mesmo tempo o principal objeto de investimento
do amor narcísico e a imagem oferecida aos outros – promovida, nas últimas décadas,
ao mais fiel indicador da verdade do sujeito, da qual depende a aceitação e a inclusão
social. O corpo é um escravo que devemos submeter à rigorosa disciplina da indústria
da forma (enganosamente chamada de indústria da saúde) e um senhor ao qual
sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos e o que sobra de
nossas suadas economias.

(Folha de São Paulo, 30 jun 2002. Mais! P. 18. Maria Rita Kehl)

3.3. A propaganda 

3.3.1. Propaganda e Mídia


139
A propaganda é um dos gêneros discursivos que mais influencia nosso
comportamento social. Estudá-la é sempre instigante, pois a sociedade capitalista nos
bombardeia constantemente com anúncios vários, seja por meio impresso: jornais,
revistas, seja por meio eletrônico, para quem tem acesso à internet, e ainda por meio
do rádio e da televisão. Desse modo, a propaganda invade nosso dia-a-dia e nos torna
ávidos consumidores dos produtos ofertados, não tanto pelo valor material que eles
possuem, mas principalmente, pelo status que eles representam socialmente. Por isso,
a maioria das pessoas não se contenta em obter uma mercadoria qualquer.
Se a mídia dita que para serem chiques, é preciso adquirir a calça jeans da
marca X ou Y, muito mais caras do que as que se encontram nas lojas populares, ainda
que seja o mesmo material utilizado, as pessoas sentem a necessidade de comprá-la por
uma questão de visibilidade social, ou seja, não é preciso apenas ter, o indispensável
é mostrar que podem ter o bem de consumo
Os limites entre propaganda e publicidade são tênues, sendo esses termos
usados, muitas vezes, como sinônimos, por isso é necessário estabelecer delimitar as
fronteiras que os separam. De acordo com S’antanna (1998):

Embora usados como sinônimos, os vocábulos publicidade


e propaganda não significam rigorosamente a mesma coisa.
Publicidade deriva de público (do latim publicus) e designa a
qualidade do que é público. Significa o ato de vulgarizar, de
tornar público um fato, uma idéia.

Nessa concepção, que também se encontra no Dicionário Novo Aurélio


— Século XXI, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o termo publicidade, no
português, é utilizado para venda de produtos e serviços. Já o termo propaganda,
segundo o dicionário inglês Webster´s, foi traduzido pelo papa Clemente VII, em
1597, quando fundou a Congregação da Propaganda, com o intuito de propagação
da fé cristã. Etimologicamente, a palavra “propaganda” deriva do feminino do caso
ablativo singular do gerundivo latino, cujo masculino é propagandus, que exprime a
idéia de dever, necessidade, significa “aquilo que deve ser propagado”. Em português,
o termo propaganda é mais genérico do que publicidade e diz respeito a todo o processo
de difusão da mensagem por parte de um anunciante, mediante compra de espaço na
mídia. Entretanto, muitas vezes, propaganda é utilizada como sinônimo de anúncio, a
mensagem em si, e também no sentido de publicidade, no sentido de tornar público,
um bem de consumo.
Sendo o homem eminentemente social, a produção e o intercâmbio de
informações e de conteúdo simbólico são atividades presentes em todas as sociedades.
Para Thompson (1998:19):

Desde as mais antigas formas de comunicação gestual e de


uso da linguagem até os mais recentes desenvolvimentos na
tecnologia computacional, a produção, o armazenamento e
a circulação de informação e conteúdo simbólico têm sido
aspectos centrais da vida social. (...) De uma forma profunda
e irreversível, o desenvolvimento da mídia transformou a
natureza da produção e do intercâmbio simbólicos no mundo
moderno.
140
A globalização, fenômeno-símbolo da modernidade, foi uma dos responsáveis
por essa transformação. Ela desterritorializou fronteiras, interligando os lugares
mais remotos a redes globais de conexão e com isso, tornou o mundo “uma aldeia
global”. Também permitiu que a troca de informações e produtos fosse acessível,
simultaneamente, em vários espaços reais e virtuais do globo terrestre, provocando
uma disjunção entre espaço e tempo (por exemplo, vários eventos sendo mostrados
ao mesmo tempo, apesar de acontecerem em lugares distintos) e possibilitando o
surgimento de fenômenos como a hibridização cultural ou o multiculturalismo, isto
é, a convivência ou fusão de culturas diversas em um mesmo momento social.Essas
mudanças no campo social acarretam novas práticas, instituem novas formas de
comportamento social. Uma das formas mais poderosas de difusão dessas mudanças,
em nossa sociedade de consumo, é a rede midiática.
O desenvolvimento da mídia, desde as formas mais antigas de impressão aos
mais recentes desenvolvimentos no campo da tecnologia digital, tem se baseado na
exploração comercial das inovações técnicas. Essa exploração é um processo que
ocorre no interior das estruturas institucionais que continuam a determinar os caminhos
operacionais da mídia até hoje.
Para Thompson (1998:33), uma das características da comunicação de massa
(em que se inclui a propaganda), é a “mercantilização das formas simbólicas”. Para ele,
as formas simbólicas se submetem a dois tipos de valorização: a valorização simbólica
e a econômica. A primeira refere-se ao valor afetivo que os objetos possuem em virtude
da estima, da indiferença ou do desprezo dos indivíduos. Enquanto a valorização
econômica diz respeito ao processo de “mercantilização” das formas simbólicas em
virtude do qual elas se tornam mercadoria, ou seja, transformam-se em objetos que
podem ser comprados ou vendidos no mercado por um determinado preço. Todos os
objetos produzidos pelas instituições da mídia passam pelo processo de valorização
econômica.
A venda dos espaços para propaganda nos meios impressos e eletrônicos
tem sido de fundamental importância para a valorização econômica, determinando,
inclusive, uma série hierárquica de preços de acordo com o horário e o tempo de
exibição (no caso das transmissões de rádio e de televisão) ou ainda conforme o lugar
de exposição (em jornais e revistas) do produto anunciado.
Outra característica dos veículos da mídia refere-se ao modo de circulação das
formas simbólicas. Os produtos midiáticos têm caráter público, uma vez que estão
disponíveis para uma pluralidade de destinatários, embora cada gênero midiático
tenha seu público-alvo específico. Desse modo, qualquer indivíduo que possua os
meios técnicos, as habilidades instrumentais e os recursos financeiros, pode adquiri-
los.Todavia, a recepção dos produtos oferecidos pela mídia envolve uma relação de
poder-saber. Não são todos os indivíduos que têm acesso a esses produtos, mas apenas
aqueles que, dentro de um determinado contexto histórico, têm as condições (físicas,
materiais, sociais) de obtê-los.
O conteúdo dos textos expostos na mídia é de domínio público, o que acarreta
uma série de problemas como, por exemplo, a apropriação indevida de textos que
circulam pela internet ou ainda, a falta de definição das regras sociais, que controlem
a circulação das informações no universo virtual.
Com o avanço tecnológico, a mídia alterou a nossa compreensão do mundo.
Se essa antes decorria de nossa experiência/vivência pessoal e de nosso lugar/posição
social dentro do mundo, a mídia criou o que Thompson denominou de “mundanidade
mediada”, quer dizer, o processo de leitura do mundo é mediado pelos veículos 141
midiáticos. São eles que fornecem um conjunto de representações simbólicas que
permitem reconstituir o passado, construir o presente e entrever o futuro.
Na visão de Thompson, muitos indivíduos nas sociedades ocidentais conhecem
os principais acontecimentos históricos do passado através de livros, revistas, filmes;
dificilmente por relatos de testemunhas ou de interação face a face, a história do
presente também é mediada pela mídia, que a todo instante nos mostra, pelas suas
lentes, os principais acontecimentos do planeta. Até mesmo o futuro é prenunciado nos
filmes e nas reportagens da televisão.
Se, por um lado, ampliam-se nossos horizontes cognitivos e espaciais, por
outro lado, o processo de interpretação da realidade pela mídia influencia nossa prática
cotidiana, modelando nossas condutas sociais. O lugar, por excelência, da produção
do acontecimento não é mais o do discurso da história, mas o da mídia, como assinala
Nora (1995: 181):

É à mídia de massa que se deve o reaparecimento do monopólio


da história. De agora em diante esse monopólio lhes pertence.
Nas nossas sociedades contemporâneas é por intermédio deles
e somente por eles que o acontecimento marca a sua presença
e não nos pode evitar. (...) Imprensa, rádio, imagens não agem
apenas como meios pelos quais os acontecimentos seriam
relativamente independentes, mas como a própria condição
de sua existência. A publicidade dá forma a sua própria
produção.

A mídia é uma instituição disciplinar, que impõe práticas cotidianas. Inúmeros


exemplos podem ser apontados: torna premente a necessidade de o indivíduo manter-
se informado pela leitura de revistas e jornais, de vestir-se conforme as tendências da
moda ditada pelos veículos midiáticos ou ainda de viajar para lugares indicados pelas
revistas especializadas em turismo, como por exemplo, para as praias “paradisíacas” do
Nordeste. Por serem naturalizadas pela mídia como atividades de rotina, essas práticas
são automatizadas pelos indivíduos, que geralmente não percebem o jogo de poder
que as determina. Saliente-se, porém, que os indivíduos não são títeres à mercê das
instituições midiáticas. Para Foucault (1999: 91-92), a resistência é inerente ao poder.
Se a mídia, assim como a propaganda, traz como benefícios, atender às
necessidades de consumo e melhorar a qualidade de vida do indivíduo por meio
das informações globalizadas, por outro lado, é preciso refletir sobre os perigos da
alienação e acirramento de preconceitos a que a mídia induz.
A propaganda não somente retrata um momento social, sobretudo, ela o
interpreta. Desse modo, não há uma relação transparente entre o homem, o mundo
e a linguagem, mas essa tríade inseparável é construída no discurso da propaganda.
Tal construção é materializada em textos, nos quais se observa como a linguagem da
propaganda é elaborada, sinuosa, repleta de estratégias de sedução. Para interpretá-
la, é preciso sempre extrapolar o nível da superfície textual e buscar os sentidos no
diálogo com o outro: outros textos, outros discursos, enfim, com a dimensão sócio-
histórica que os constitui.
Para aplicarmos a teoria dos gêneros, resolvemos nos deter no enfoque da
propaganda turística nordestina, vez que permite uma reflexão sobre o espaço onde
vivemos.
142
1.1.2. A propaganda turística é um gênero do discurso?


A importância de discutir se a propaganda turística é um gênero do discurso, na
acepção que o filósofo russo Mikhail Bakhtin emprega o termo, é mostrar que há um
jogo de regras que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais. Por
isso, não se pode dizer o que se quer quando se quer, pois os discursos são socialmente
organizados, inserem-se numa ordem enunciativa e são regulados, moldados pelos
gêneros que os constituem. Como salienta Bakhtin (1997: 302):

Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira


que a organizam as formas gramaticais (sintáticas). (...) Se não
existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos,
se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala,
se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a
comunicação verbal seria quase impossível.

Para você responder à questão com que iniciamos esse tópico, vamos analisar
algumas propagandas turísticas, a partir dos três elementos que compõem um gênero
do discurso: o conteúdo temático, o estilo e o modo de construção composicional
Quanto ao conteúdo temático, o conjunto de enunciados que compõem os
textos de propaganda refere-se aos estados do Nordeste que eles anunciam. Por estarem
inseridos em uma conjuntura capitalista, os dizeres da propaganda turística visam a
transformar o espaço nordestino em um bem de consumo, uma mercadoria que ofereça
prestígio, status social e, conseqüentemente, poder a quem a adquire.
Objetivando vender esse espaço como destino ideal para viagens com
finalidades turísticas e de lazer, a propaganda redimensiona o Nordeste, num processo
metonímico, em que se toma a parte (Litoral) pelo todo (região).
Para descreverem os atrativos turísticos da costa litorânea nordestina — foco
temático da propaganda —, os enunciados, em sua maioria, se ancoram no mito do
paraíso tropical, que é constantemente ressignificado na materialidade textual da
propaganda. Essa perspectiva ufanista, em que o litoral aparece somente como sinônimo
de oásis, fartura, e “reino da diversão”, mascara a realidade social do Nordeste, onde
riqueza e pobreza convivem dialeticamente. Todavia, a produção de um dado discurso
ocorre em condições de possibilidade específicas, logo, ele se insere em uma ordem: a
ordem do enunciável, que delimita o “que pode e o que deve ser dito”.
Não seria compatível, na ordem enunciativa da propaganda turística, a exposição
das mazelas sociais, uma vez que a finalidade maior desse discurso é fazer o público-
alvo comprar o produto anunciado.
Há, portanto, regras e restrições sociais que regem os gêneros — formas
materiais dos discursos sociais. Como sintetiza Brait (2001: 32): “O gênero discursivo
diz respeito às coerções estabelecidas entre as diferentes atividades humanas e os usos
da língua nessas atividades, ou seja, as práticas discursivas implicam necessariamente
coerções”.
Sendo o texto da propaganda turística, submetido à voz institucional, que se
marca em diversas posições enunciativas, as coerções desse dizer delimitam a atividade
turística na região, instituindo para o Nordeste, rotas turísticas orientadas quase em
sua totalidade para as capitais litorâneas, e apagando, silenciando outros caminhos 143
possíveis, como as regiões do Brejo, Cariri e Sertão, como analisa Cruz (2000: 210):

O litoral nordestino, uma estreita faixa de, aproximadamente,
3.300 quilômetros de extensão, é o território eleito nesta região
pelo e para o turismo, ou seja, para se especializar como
território turístico receptivo. Este Nordeste turístico, repleto
de diferenças e contradições, esconde, por outro lado, um
Nordeste que o turismo e o turista não vêem, um território onde
pobreza e concentração de renda são elementos importantes do
processo de construção do lugar.

Em se tratando de estilo, podemos dizer que os enunciados, dos textos de


propaganda turística, caracterizam-se pelo jogo com as formas do sistema lingüístico,
pela constante utilização de recursos expressivos, como figuras de linguagem, que
configuram uma polissemia enunciativa.
Um dos slogans da propaganda turística oficial do estado do Maranhão dizia o
seguinte:

“ Maranhão. O segredo do Brasil”.

Neste enunciado, o vocábulo “segredo” é extremamente opaco, podendo


significar de diversas maneiras, de acordo com a situação enunciativa em que ele se
insere. Ele tem como referência próxima o topônimo Maranhão, o que possibilita
relacioná-lo a todo o estado.
Mas qual é o segredo do Maranhão? Esse enigma o leitor somente descobre
ao ler o restante da propaganda, pois o “segredo” pode ser a Festa de São João, tal
qual ela ocorre na capital maranhense, com “Bois de Matraca, Zabumba e Orquestra,
numa sinfonia ‘única de alegria e paixão”, ou o “segredo” pode estar no Parque dos
Lençóis Maranhenses, “onde impossível é não voltar”, ou ainda para entender por que o
Maranhão é “uma terra inesquecível”, o “segredo” é ler as poesias do “romancista José
Sarney”. Enfim, a eficácia do vocábulo segredo, na cadeia enunciativa, decorre de sua
opacidade, a qual possibilita a multiplicidade dos sentidos no slogan e atesta a natureza
fugidia dos sentidos, que ora se escondem (na própria acepção do vocábulo segredo
como “aquilo que não pode ser revelado”), ora se deixam entrever na materialidade
sintático-lexical da propaganda. Por isso, para Bakhtin, a palavra é sempre plural e
inacabada.

144
Além disso, a atividade turística no Maranhão não é tão intensa quanto a de outros
estados nordestinos como o Ceará e a Bahia. Por isso, para muitos turistas do Brasil e
do exterior, ainda há, no Maranhão, inúmeros “segredos” que eles desconhecem. Com
o propósito de atrair riquezas por intermédio do turismo, o governo do estado procura
instigar a curiosidade do turista para descobrir o que o texto de propaganda anuncia,
ou seja, os roteiros turísticos do estado e assim, conseguir o seu intento: implementar
a vinda de turistas e conseqüentemente lucrar com o turismo local.
Seguindo a mesma estrutura formal do slogan maranhense, temos:

“Aracaju. A novidade do Nordeste.”

Novamente, observamos a polissemia do vocábulo “novidade”, que à semelhança


do slogan maranhense, objetiva atrair a atenção do público, fazê-lo interessar-se em A palavra polis-
adquirir o produto à venda. Esse jogo, de/com os sentidos na estrutura enunciativa, semia é composta
por dois radicais:
caracteriza o estilo do texto publicitário, em geral, e da propaganda turística, em
particular, pois é um procedimento recorrente em todos os textos que compõem o Poli = muito
corpus dessa pesquisa. Ferreira esclarece que semia = signifi-
cado
isso acontece porque a língua é um sistema sintático
Portanto, uma pa-
intrinsecamente passível de jogo. E dentro desse espaço
lavra pode apre-
de jogo, as marcas significantes da língua são capazes de sentar diferen-
deslocamentos, transgressões, de rearranjos. É isso que faz tes significados
com que um determinado segmento possa ser ele mesmo ou dependendo dos
outro, através da metáfora, da homofonia, da homonímia, dos usos lingüísticos
que dela se faz.
lapsos da língua, dos deslizamentos sêmicos, enfim, dos jogos
de palavra e da dupla interpretação de efeitos discursivos.
(2000:108)

O uso de empréstimos lexicais, provenientes em sua maioria, da língua inglesa,


como o anglicismo point, é verificado em vários enunciados que compõem os texto
de propaganda turística. A propaganda oficial do estado da Bahia (publicada na revista
Caminhos de Salvador) afirma que “Salvador é o novo point do Brasil”; mas a revista
internacional Condé Nast Traveler indica o Ceará como “um dos points mais quentes
do milênio” e na Paraíba, “o point mais festejado na orla, no entanto, é Tambaú, com
seus hotéis de luxo, restaurantes internacionais e regionais, bares, boates, mercados de
artesanato, barraquinhas de comidas típicas e vendedores de frutas tropicais”.
Essa técnica de construção dos enunciados, utilizando-se de terminologia estrangeira,
revela a ideologia capitalista que regula o discurso da propaganda oficial. Vender
uma mercadoria é a grande finalidade do discurso publicitário e o turismo é uma das
atividades econômicas mais rentáveis do mundo
O discurso da propaganda turística sobre o Nordeste — instância da materialidade
ideológica — visa a atrair turistas do exterior, como também os “de casa”, sendo essa
uma das justificativas para o uso de empréstimos lexicais em sua estrutura enunciativa.
Para os turistas internacionais, o uso de anglicismos surte um efeito de identificação pela
empatia lingüística e conseqüentemente atrai o seu interesse para o produto enunciado,
já em relação ao turista brasileiro, os vocábulos estrangeiros — Beach Park, show-
room, point — funcionam como símbolos de status e riqueza, que despertam nele, o 145
desejo de obter a mercadoria anunciada.
Além disso, o fato de a voz estrangeira agregar um valor material à estrutura
simbólica, evidencia a superioridade econômica do país importador do vocábulo
(geralmente os Estados Unidos) sobre o Brasil e o domínio sócio-cultural americano,
que se difunde, sobremaneira, pelos veículos da mídia nacional, como é o caso da
propaganda turística oficial, influenciando condutas lingüísticas e determinando
valores sociais. Essa relação constitutiva entre linguagem e ideologia já inquietava
Bakhtin. Em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (publicada na Rússia em
1929), o pensador russo afirma que:

A palavra é o signo ideológico por excelência; ela registra


as menores variações das relações sociais, mas isso não vale
somente para os sistemas ideológicos constituídos, já que a
‘ideologia do cotidiano’, que se exprime na vida corrente,
é o cadinho onde se formam e se renovam as ideologias
constituídas. (1992: 16)

A linguagem coloquial — caracterizada pelo uso de termos e expressões do


cotidiano, bem como por pequenos desvios da variante culta da língua — é outro traço
estilístico da propaganda turística oficial. Por exemplo, a utilização do verbo “ter” no
sentido de “haver”, a forma sincopada da preposição para: “pra”, a questão da regência
do verbo ir: “ir em” ao invés da variante culta “ir para” são casos de uso extremamente
produtivos na fala do cotidiano e na escrita informal. O enunciado abaixo ilustra bem
esse tipo de linguagem:

“Tem coisas que só indo no Ceará pra entender como é bom.”

Também a utilização de gírias, como o verbo curtir, é um recurso de persuasão


utilizado para causar um efeito de empatia com o público-alvo, criando um tom de
conversa informal, íntima, para fazer o consumidor sentir-se “em casa”, diminuindo a
distância entre enunciador e enunciatário; dissimulando, assim, o eventual receio de se
estar em terra estranha, desconhecida, na “casa do outro”. A propaganda do estado da
Bahia assim convida seu leitor(a):

Venha para Salvador e descubra todos os encantos da primeira capital do Brasil.


Salvador está de cara nova, muito mais bonita. Aqui, você curte de tudo: folclore,
festas populares, música, dança, comidas típicas, os banhos noturnos com águas
mornas e cristalinas, shows e novíssimas atrações.

Já o sujeito enunciador da propaganda do Ceará avisa:

Quem curte a agitada vida noturna de Fortaleza e descobre o rico artesanato, a


culinária deliciosa e todo o conforto da bem estruturada rede hoteleira cearense,
fica ligado para sempre ao Ceará. Uma terra de gente hospitaleira e bem-
humorada com um jeitinho de falar que cativa na hora.

146 A ênfase no registro da linguagem cotidiana, informal, da propaganda está


diretamente relacionada com a imagem do povo nordestino que se quer construir nesse
gênero: pessoas de hábitos simples, alegres, hospitaleiras, como enfatiza a propaganda
do Rio Grande do Norte: “os nativos desse belo e riquíssimo litoral são simples,
amigos, hospitaleiros”. Segundo Ferreira (2000: 114):

A linguagem publicitária em seu propósito de atrair a atenção do


público (cliente em potencial) explora, não raro com bastante
eficácia, recursos expressivos contidos na própria estrutura
significante do sistema lingüístico. Dessa forma, realiza, em
algumas formulações, um trabalho do sentido com o sentido,
incorporando o caráter oscilante e paradoxal que perpassa a
língua no registro do cotidiano.

Observa-se, ainda, na linguagem da propaganda, o uso de recursos expressivos


como a utilização de figuras de linguagem. No folder distribuído pela Prefeitura
Municipal de Lucena, praia localizada no litoral norte da Paraíba, lê-se na capa:

“Lucena, um lugar chamado Liberdade”.

O animismo, prosopopéia ou personificação é um tipo de metáfora que


“humaniza” esse espaço geográfico, acenando para o leitor-alvo com a ilusória utopia Animismo, Pro-
de ele gozar ali, a liberdade, de forma plena. Ao jogar com a natureza simbólica da sopopéia ou
palavra “liberdade”, a propaganda ativa a fantasia e o desejo do turista de conhecer/ Personificação é
descobrir um lugar ideal para o lazer. Dessa maneira, a propaganda municipal um tipo de me-
redimensiona o espaço real, transformando–o em sonho possível. Na compreensão de táfora que fun-
ciona como uma
Castoriadis (1982: 152):
projeção de sen-
sações, havendo
um deslocamen-
A sociedade constitui seu simbolismo, mas não dentro de uma to de sentido
liberdade total. O simbolismo se crava no natural e se crava que consiste em
no histórico (ao que já estava lá); participa, enfim, do racional. transferir algo
(...) Nem livremente escolhido, nem imposto à sociedade inerente ao uni-
considerada, nem simples instrumento neutro e medium verso humano
transparente, nem opacidade impenetrável e adversidade para o mundo
irredutível, nem senhor da sociedade, nem escravo flexível da dos seres inani-
funcionalidade, nem meio de participação direta e completa em mados ou irra-
cionais, a fim de
uma ordem racional, o simbolismo determina aspectos da vida
fazer as coisas
da sociedade (e não somente os que era suposto determinar) “falarem e sen-
estando ao mesmo tempo, cheio de interstícios e de graus de tirem”
liberdade.

Ainda em relação ao estilo da propaganda oficial, podemos apontar o uso de


regionalismos (o uso do verbo “arribar”, por exemplo, na propaganda do Ceará), que
conferem um efeito de identidade a esse gênero.
Por ter um caráter essencialmente persuasivo, o foco do processo enunciativo,
no discurso publicitário, é o outro. Por isso, o destinatário aparece inscrito no fio
do discurso, tanto de forma direta, pelo dêitico você (que, na linguagem coloquial,
funciona como um pronome do caso reto), quanto indiretamente, pelo verbo na terceira
pessoa do singular, ou ainda, expresso pelo pronome relativo quem. Observem-se os 147
exemplos, a seguir:
“O sol, o mar e a nossa tranqüilidade estão esperando por você”. (propaganda de
Sergipe)

“Siga as trilhas da natureza”. “Respeite a sinalização do Parque” (propaganda do


Piauí)

“Quem não gosta de beleza, do bom e do melhor sem gastar muito? ” (propaganda
do Rio Grande do Norte)

Em seu livro Estética da Criação Verbal (1997), Bakhtin assegura que

ter um destinatário, dirigir-se a alguém, é uma particularidade


constitutiva do enunciado, sem a qual não há, e não poderia
haver, enunciado. As diversas formas típicas de dirigir-se a
alguém e as diversas concepções típicas do destinatário são
as particularidades constitutivas que determinam a diversidade
dos gêneros do discurso.

Estabelecendo fronteiras para a produção e circulação dos dizeres sociais, o
gênero discursivo delineia a estrutura do enunciado, o qual é definido por Bakhtin
como “um elo na cadeia da comunicação verbal, que não pode ser separado dos elos
anteriores que o determinam, por fora e por dentro, e provocam nele reações-respostas
imediatas e uma ressonância dialógica” (1997: 320).
Por fim, quanto ao modo de construção composicional, a propaganda turística
enquadra-se na categoria de gênero complexo, secundário. Como vimos, os enunciados
que constituem o discurso da propaganda turística são bastante complexos, pois
se por um lado, a linguagem utilizada é a do cotidiano, com palavras e expressões
amplamente usadas no dia-a-dia, portanto próxima da oralidade primária. Por outro
lado, ao ser deslocada para o discurso publicitário, essas formas coloquiais passam por
um processo de acabamento estético, que as diferenciam na situação enunciativa do
discurso em pauta.

ATIVIDADE:

Selecione um texto de propaganda turística do estado em que você vive. Em


seguida, produza um pequeno texto, em que você analise um dos três elementos
que constituem um gênero discursivo: o conteúdo temático, o estilo ou o modo
de construção composicional.

Para encerrar nossa discussão sobre o gênero propaganda turística, vamos tratar
de alguns suportes que abrigam os textos de propaganda turística sobre o Nordeste.

1.1.3. Os suportes textuais da propaganda turística: o folder, a revista e o site


eletrônico.
148
Você sabia que todos os gêneros discursivos necessitam de uma materialidade
para fazer circular os seus dizeres? No caso da propaganda turística oficial sobre
o Nordeste, são os folders turísticos, as revistas e os sites eletrônicos dos órgãos
institucionais de turismo que constituem os suportes materiais que abrigam os sentidos
dos textos da propaganda turística oficial.
Cada um desses suportes textuais assemelha-se quanto à finalidade: divulgar
produtos e serviços do trade turístico estadual, e quanto ao conteúdo temático,
constituem-se por imagens e textos verbais que versam sobre roteiros turísticos,
informações sobre datas de festas e eventos turísticos, como também indicam como
chegar, onde ir e onde comer. Em outras palavras, encontra-se, nos folders, a localização
de rodovias, aeroportos, praias, rede hoteleira e restaurantes que compõem a infra-
estrutura turística do município ou estado nordestino. No entanto, esses suportes
diferenciam-se quanto ao público-alvo, forma de circulação e formato estrutural.
De acordo com o Dicionário de Comunicação (1978: 210), folder é uma
palavra originária da língua inglesa (to fold = dobrar). Ele é definido como “um folheto
publicitário, constituído de uma só folha impressa, com duas, três ou mais dobras”.
SOUZA & CORRÊA (2000) acrescentam que o folder é um impresso, de circulação
não-periódica, que se constitui de informações referentes a uma oferta, seja produto ou
serviço.
O folder turístico não apresenta o período ou a data de divulgação do texto
impresso; é pela presença obrigatória do slogan estadual ou municipal (marca da gestão
administrativa oficial) que se deduz, aproximadamente, o tempo de circulação desse
tipo de folheto publicitário. Composto por uma única folha com várias dobras, esse
formato estrutural do folder possibilita um amplo leque de informações (históricas,
econômicas, sócio-culturais) sobre a cidade ou estado que ele anuncia.
Esse tipo de suporte textual exibe um número de informações turísticas bem
maior do que um texto de propaganda inserido em uma revista semanal, como a
VEJA; por outro lado, a sua forma de distribuição e o meio de circulação são mais
restritos. A distribuição do folder é local, ou seja, ele é entregue diretamente ao turista
que está eventualmente visitando a cidade. Geralmente, os folhetos circulam apenas
nos espaços destinados a divulgar o turismo da cidade, por isso ele é encontrado nos
balcões das agências de viagens, hotéis, nos órgãos oficiais de turismo e em eventos
turísticos locais.
Há, também, as publicações turísticas institucionais como as revistas. Assim
como os folders, elas não têm uma periodicidade definida e não contêm o período ou
data de impressão e/ou divulgação. Igualmente têm distribuição direta ao turista (leitor-
alvo) e circulam de forma local e restrita aos órgãos ligados ao turismo estadual ou
municipal. Entretanto, esse tipo de revista é usualmente financiado pelo órgão oficial
de turismo em nível estadual, enquanto o folder, até mesmo pelo custo mais barato, é
publicado tanto pelo estado como pelos municípios.
Outra diferença entre a revista e o folder reside no formato estrutural. A revista
constitui-se de reportagens que divulgam as festas e eventos turísticos realizados ou a se
realizarem no circuito estadual, como os “carnavais fora de época” que acontecem em
diversas capitais nordestinas: MICAROA, CARNATAL, RECIFOLIA, FORTAL,
dentre outros. Os textos também discorrem minuciosamente sobre as potencialidades
turísticas da região. Além disso, as revistas apresentam, em suas páginas, propagandas
de hotéis e propagandas turísticas oficiais do estado, estas sempre em destaque, seja
na capa posterior, como o faz a revista Caminhos de Salvador, seja em folha dupla 149
ou na parte central da publicação, como acontece em Trade News, revista turística
oficial de Pernambuco. Esse suporte impresso serve ainda para divulgar as ações que
a instituição responsável pelo turismo em âmbito estadual (EMPETUR, PIEMTUR,
PBTUR, por exemplo) está desenvolvendo.
A propaganda eletrônica dos órgãos estaduais de turismo, divulgada nos sites
turísticos oficiais, tem em comum com os demais suportes textuais, o conteúdo temático
e a função: divulgar os atrativos turísticos do estado sob a perspectiva institucional.
Todavia, na migração dos textos, das páginas impressas para o computador, muitas
diferenças são observadas. Uma delas é a relação com o público-leitor. Enquanto os
folders e as revistas de turismo se destinam ao turista empírico, a abrangência do
público-leitor dos sites eletrônicos de turismo é bem maior, pois qualquer indivíduo
que possua ou tenha disponível um computador pode “navegar” na página da internet
e tornar-se um turista virtual.

Se a propaganda impressa em revistas ou folhetos é exposta ao olhar público,


podendo ser dobrada, amassada, levada para casa, lida em ônibus, o texto eletrônico
localiza-se distante dos corpos e dos hábitos coletivos, estando reservado ao olhar
exclusivo do leitor virtual, que precisa dominar a técnica de captação de dados via
internet para poder ter acesso às informações do site turístico.
Também muda a materialidade do texto, que não mais é o impresso,
mas a tela do computador e com isso, modifica-se o modo de leitura da propaganda.
Para Chartier (1998: 92): do códex à tela, os novos dispositivos formais dos textos
eletrônicos modificam as condições de recepção e compreensão do leitor. A respeito
dessa “revolução” da leitura do objeto impresso para o texto eletrônico, comenta
Chartier (1998: 100):

A revolução do texto eletrônico será ela também uma revolução


de leitura. Ler sobre uma tela não é ler sobre um códex. Se abre
possibilidades novas e imensas, a representação eletrônica
dos textos modifica totalmente a sua condição: ela substitui
a materialidade do livro pela imaterialidade de textos sem
lugar específico; às relações de contigüidade estabelecidas no
objeto impresso ela opõe a livre composição de fragmentos
indefinidamente manipuláveis; à captura imediata da totalidade
da obra, tornada visível pelo objeto que a contém, ela faz
suceder a navegação de longo curso entre arquipélagos textuais
sem margens nem limites.

O formato estrutural do site eletrônico turístico difere bastante dos textos de


propaganda impressos. Esse ciberespaço apresenta menus, submenus, ícones para
orientar o leitor/turista a fim de ele conseguir as informações desejadas. Ao invés de
páginas, o site possui links, que permitem uma leitura “verticalizada” ou “em camadas”
de vários textos não-visíveis na página principal. Além disso, os links do texto eletrônico
estabelecem uma rede intertextual através de interconexões, que disponibilizam para o
leitor, informações diversas sobre turismo no interior do espaço virtual em que ele se
encontra ou em outros lugares do universo virtual. (GREGOLIN: 2000)
Na maioria dos sites turísticos oficiais, encontram-se, na página principal,
imagens dos roteiros turísticos oferecidos pelo estado. Elas podem aparecer em lugares
150 fixos na página de abertura, como no site oficial do estado de Alagoas (www.visitealagoas.
com.br), ou ainda as imagens são exibidas através de flashes em movimento, como no
site da Bahiatursa (www.bahiatursa.ba.gov.br), órgão do governo da Bahia, em que elas
aparecem na parte inferior da página principal, emolduradas por uma película preta,
simulando um trailler de filme, através do qual se vislumbram alguns dos principais
points turísticos do estado. As imagens também podem se localizar na faixa superior
da tela, como acontece no site do governo estadual do Piauí (www.piemtur.pi.gov.br).
Graças ao avanço tecnológico, as imagens dos sites eletrônicos de turismo, associadas
à linguagem verbal, criam impactantes efeitos de referencialidade, fazendo o leitor
acreditar na possibilidade de “viver” a realidade virtual.
Além das imagens, o site eletrônico oficial apresenta uma coluna central, onde
figura um texto escrito, em geral, versando sobre os principais atrativos turísticos do
estado e “convidando” o turista para conhecê-los. Na lateral esquerda, geralmente
aparece um índice das seções que você pode acessar para saber mais sobre os assuntos
nele elencados. Essa estrutura organizacional confere ao site, um caráter didático,
pois oferece várias opções de leitura em seu universo virtual, possibilitando ao leitor
“recortar”, “colar”, imprimir, “anexar”, enfim, interagir diretamente com os textos que
lhe convier. Por outro lado, a leitura no site obedece a uma ordem específica e está
organizada pelos dispositivos técnicos, visuais e físicos que direcionam o modo de ler
eletrônico.
Assim como acontece nos textos impressos de propaganda turística, os sites são
espaços virtuais destinados a implementar as atividades do órgão institucional, que se
auto-promove ao divulgar as potencialidades turísticas do estado. Por isso, todos eles
apresentam o nome do governo do estado e seu logotipo, bem como o slogan turístico
que particulariza a gestão administrativa vigente.
Em relação ao gênero propaganda turística, podemos concluir que a estrutura
enunciativa, que a compõe, é complexa por possibilitar:

— os vários discursos no interior de um único discurso,

— os deslocamentos de sentido (retomadas, apagamentos e os jogos semânticos


que exibem o trabalho com as formas verbais e não-verbais),
— a alteridade do sujeito enunciador, que se apresenta disperso em toda a
cena enunciativa, ora explicitando, ora mascarando, no discurso publicitário, a voz
institucional que regulamenta seus dizeres.
Concluímos que o conceito de gênero bakhtiniano, ao articular os usos da
língua às diversas esferas da atividade humana, revela a indissociabilidade entre as
práticas discursivas (instituídas através do processo de interação verbal) e as práticas
sociais, ou em sentido lato, a relação constitutiva entre a língua e a vida. Nas sábias
palavras do mestre russo: “A língua penetra na vida através dos enunciados concretos
que a realizam, e é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na
língua”. (1997: 282)

PARA VOCÊ APRENDER MAIS SOBRE ESTE ASSUNTO, LEIA:

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2 ed., São Paulo, SP: Martins
Fontes, 1997.p.p. 277- 326.
151
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BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2 ed., São Paulo, SP: Martins Fontes,
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______.Bakhtin e a natureza constitutivamente dialógica da linguagem. In: BRAIT,


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