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Psicologia da

Aprendizagem
Unidade 2
Psicopedagogia
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
RAQUEL ELISABETH DUMASZAK
AUTORIA
Raquel Elisabeth Dumaszak
Olá! Sou formada em Psicologia, na modalidade Bacharelado
e Licenciatura, e desde então atuo com a Psicologia, Educação e
Aprendizagem. Tenho interesse por assuntos que envolvem neurociências,
comportamento e cognição, temáticas que seguí na pós-graduação. Fui
convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores
independentes e espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico
e profissional! Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de se apresentar um
de uma nova novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessária as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido
sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Origem da Psicopedagogia..........................................................................10

Breve histórico da Psicopedagogia....................................................................................10

A Psicopedagogia brasileira ................................................................................................... 13

Concepções Teóricas da Psicopedagogia ...........................................16

Behaviorismo....................................................................................................................................... 16

Humanismo.......................................................................................................................................... 17

Associacionismo............................................................................................................................... 18

Construtivismo................................................................................................................................... 19

A Psicanálise....................................................................................................................................... 20

Psicopedagogia na prática ..........................................................................23

Avaliação e Diagnóstico Psicopedagógico .................................................................25

A Avaliação Psicopedagógica ............................................................................26

O Diagnóstico Psicopedagógico.......................................................................29

Atuação do Psicopedagogo no Mercado .............................................35

O Psicopedagogo Institucional: atuando na escola ..............................................37

Intervenção Psicopedagógica na Instituição........................................... 40


Psicologia da Aprendizagem 7

02
UNIDADE
8 Psicologia da Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Caros Estudantes,

Sejam muito bem-vindos a Unidade II. Na Unidade I vimos à origem da


Psicologia como Ciência, suas ramificações, seus principais pensadores até
chegarmos aos dias atuais.

Nessa Unidade falaremos sobre a história da Psicopedagogia, seus


precursores e teóricos, veremos as práticas e os instrumentos que são utilizados
nos atendimentos psicopedagógicos (institucional e clínico), além de vermos as
diversas formas que o Psicopedagogo pode se inserir no mercado de trabalho.

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento transdisciplinar, que


interage com inúmeras áreas e conhecimentos científicos, sendo eles: Filosofia,
Sociologia, Neurologia. E as principais áreas que contribuíram, e ainda contribuem
diretamente para a Psicopedagogia são a Educação e a Psicologia.

A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem do ser humano, em seus


diferentes aspectos. A aprendizagem é um processo complexo, que é influenciado
por diversas variáveis, como por exemplo: a família, o meio que o sujeito está
inserido, aspectos físicos e biológicos. Desta forma a Psicopedagogia analisa e
interfere no processo de aprendizagem, a fim de entender como ele funciona,
quais são os seus obstáculos e o que fazer para superá-los.

Podemos destacar dois enfoques de atuação psicopedagógica, o terapêutico


e o preventivo. No enfoque preventivo a Psicopedagogia age no sentido de antecipar
possíveis obstáculos para a aprendizagem, fazendo assim com que o processo flua
de uma maneira melhor. No terapêutico, a dificuldade de aprendizagem já está
aparente, os problemas já estão acontecendo. A Psicopedagogia age então no
sentido de auxiliar o indivíduo a pensar em uma solução para tal dificuldade.

A Psicopedagogia, como já foi dito, por ser uma área transdisciplinar, se


insere em diferentes tipos de atuação. Podendo estar presente na escola, em
hospitais, empresas, ONG’s e clínicas de atendimento a saúde de modo geral. A
Psicopedagogia é uma área muito ampla e com atuações diversas na sociedade,
ao longo desta unidade você vai mergulhar neste universo de conhecimento.

Então, preparados? Vamos lá!


Psicologia da Aprendizagem 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:

1. Entender a origem da psicopedagogia, identificando seus


principais marcos históricos.

2. Definir os conceitos segundo as concepções teóricas da


psicopedagogia.

3. Aplicar as técnicas de avaliação e diagnóstico psicopedagógicos.

4. Discernir sobre a atuação do psicopedagogo no mercado.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Psicologia da Aprendizagem

Origem da Psicopedagogia
A Psicopedagogia surgiu da necessidade de se entender mais e
melhor sobre os problemas de aprendizagem. Ela tem se tornado uma área
de conhecimento específico, que tem se difundido principalmente entre
os profissionais da educação e da psicologia, que buscam sistematizar
os conhecimentos não somente sobre as dificuldades de aprendizagem,
mas também – e principalmente - sobre a importância e as nuances do
processo de ensino e aprendizagem. Deste modo, a Psicopedagogia é
um campo de conhecimento multidisciplinar, que atua em duas frentes: a
preventiva e a “curativa”.

Ao longo desta aula iremos discorrer sobre a relevância desse


saber, mostrando o cenário atual deste setor e como é a atuação de seus
profissionais no mercado de trabalho. Dúvidas? Não se preocupe. Recorra
ao fórum de dúvidas e discussões para socializar o seu conhecimento
e esclarecer todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as atividades
e questões sugeridas. Nós estaremos à sua disposição em caso de
dificuldades!

Breve histórico da Psicopedagogia


Em meados do século XIX, surgiram na Europa os primeiros estudos
sobre a criança que não aprendia. Janine Mery, psicopedagoga francesa,
aponta este século como aquele em que teve início o interesse por
compreender e atender portadores de deficiências sensoriais, debilidade
mental e outros problemas que poderiam comprometer a aprendizagem.
Jean Itard, médico francês (1774-1838) estudou sobre a percepção e o
retardo mental. E a partir daí foram surgindo outros pesquisadores e
estudiosos como Johann H. Pestalozzi (1746-1827) educador suíço, Jacob.
R. Pereire, educador francês e Édouard Seguin (1812-1880), médico e
educador francês. Estes educadores foram pioneiros no tratamento das
dificuldades de aprendizagem, contudo, eles se preocupavam com as
deficiências sensoriais e debilidades mentais.
Psicologia da Aprendizagem 11

Figura 1

Fonte: Wikicommons

Na Europa do séc. XX, tínhamos o avanço do capitalismo, avanços


científicos e uma expansão nas concepções teóricas que buscavam
justificar as desigualdades sociais, e aqui os primeiros problemas de
aprendizagem foram verificados.

Em meio a isso, surge na França, além da psicopedagoga Janine Mery,


também George Mauco (1899-1988), que foram pioneiros em utilizar esse
termo – Psicopedagogia – para caracterizar uma ação terapêutica. Mauco
foi o fundador, juntamente com J. Boutonier, do primeiro Centro Médico-
psicopedagógico na França, em 1946. Este Centro Psicopedagógico
tinha como finalidade tratar crianças com comportamentos inadequados
socialmente, com o objetivo de adaptá-los.

Segundo Mery a pedagogia curativa que era exercida na França, era


um método que favorecia a readaptação pedagógica do aluno, auxiliando
na aquisição de conhecimento científico e também no desenvolvimento
pessoal. E isso é o que está no cerne daquilo que hoje chamamos de
Psicopedagogia.
12 Psicologia da Aprendizagem

Na América do Sul, a psicopedagogia teve destaque na Argentina,


tendo suas ideias pautadas na literatura francesa. Os estudos argentinos
foram marcados pelos autores franceses, como: Lacan (1901-1981) e
sua Psicanálise Estruturalista; Maud Mannoni (1923-1998), fundadora da
Escola Experimental de Bonneuil-Sur-Marne; Françoise Dolto (1908-
1988), especialista em distúrbios da psicomotricidade e da linguagem;
Janine Mery,ainda viva, que considera o pedagógico e o psicológico no
tratamento de distúrbios de aprendizagem; Michel Lobrot, pedagogo,
psicopedagogo e teórico dos efeitos da autoridade na educação; e
outros mais que foram importantes na fundamentação desse campo de
conhecimento.

A graduação de Psicopedagogia, na Argentina, surgiu em meados


da década de 50, na Universidade de Buenos Aires, junto à escola
de Psicologia, e tinha como eixo central de formação as práticas da
docência, assistência e investigação. Mais tarde, na década de 70,
com a criação dos Centros de Saúde Mental, houve uma mudança, “os
psicopedagogos começam a incluir no seu trabalho o olhar e a escuta da
Psicanálise” (BOSSA, 2000). Assim, passou-se a valorizar a área clínica da
Psicopedagogia, incluindo o diagnóstico e tratamento das crianças que
não aprendem.

Na prática do psicopedagogo argentino está presentes uma série


de testes, como por exemplo: as provas de inteligência (Wisc), as provas
de nível de pensamento (Piaget), a avaliação do nível pedagógico (Eoca),
a avaliação perceptomotora (teste Bender), os testes projetivos (CAT,
TAT, desenho da família, desenho da figura humana e HTP), os testes
psicomotores (provas de estruturas rítmicas e o teste da lateralidade) e o
jogo psicopedagógico (objetos lúdicos). Isso difere muito da atuação no
Brasil, pois a utilização de muitos destes testes somente é permitida para
psicólogos.

A Psicopedagogia argentina é definida então como:

“uma disciplina na qual encontramos a confluência do


psicólogo, a subjetividade, os seres humanos enquanto
tais, como educacional, atividade especificamente
humana, social e cultural, implica uma síntese: os seres
Psicologia da Aprendizagem 13

humanos, seu mundo psíquico individual e grupal, em


relação à aprendizagem e aos sistemas e processos
educativos”. (Muller apud Bossa, 2007).

A Psicopedagogia Argentina influenciou fortemente a


Psicopedagogia no Brasil. Os teóricos que se destacam são: Jorge Visca
(1935-2000) com sua Epistemologia Convergente; Emília Ferreiro, com
seus estudos sobre o processo de alfabetização. Sara Pain, através de
seus estudos que diferenciam os problemas de aprendizagem dos
problemas das instituições e Alícia Fernández (1946-2015), que introduz
a escuta e o olhar psicanalítico nos atendimentos psicopedagógicos
(escuta psicopedagógica).

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar na história da Psicopedagogia,


então recomendamos a leitura de: BOSSA, Nadia A. A
Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.
RS, Artmed, 2007.

A Psicopedagogia brasileira
Como já vimos, no Brasil, a psicopedagogia tem forte influência
das ideias argentinas, pela proximidade geográfica e também pelo fácil
acesso à literatura.

A Psicopedagogia no Brasil pode ser dividida em três momentos


históricos. O primeiro, meados da década de 60, a maneira de se pensar
sobre os distúrbios de aprendizagem sofreu algumas transformações.
Antes a criança era considerada inapta diante do sistema convencional de
educação; a criança então era avaliada e encaminhada para um trabalho
de reeducação, que se utilizava da repetição e treino de exercícios
referentes à dificuldade de aprendizagem. Posteriormente levantaram-
se hipóteses de que essas dificuldades estavam relacionadas à carência
cultural dos brasileiros; o aspecto orgânico foi somado a outros fatores,
principalmente ao manejo inadequado das instituições.
14 Psicologia da Aprendizagem

O segundo momento, por volta das décadas de 70 e 80, a


Psicopedagogia ampliou o seu objeto de estudo, ocupando-se com
a compreensão mais generalizada da aprendizagem humana. Buscou
então fundamentos em outras disciplinas como: a Psicanálise, a
Psicologia Genética, a Linguística, a Neurologia, Sociologia e a Filosofia. A
psicopedagogia passou então para além de prevenir possíveis desajustes
na aprendizagem, otimizar os processos e produzir conhecimento. O
indivíduo passou a ser inserido num contexto, e o olhar da psicopedagogia
passou a considerar suas múltiplas dimensões: aspecto orgânico, aspecto
subjetivo, aspecto sociocultural.

Na década de 70 surgiram os primeiros cursos de especialização em


psicopedagogia, voltados para a formação complementar de psicólogos
e educadores. Na década de 80, começou-se a disseminar teorias sobre o
problema de aprendizagem escolar, que passou a ser chamado também
de “problema de ensinagem”.

Em Porto Alegre – RS, profissionais organizaram um centro de


estudos de psicopedagogia; e em 1970, iniciaram os cursos de formação
na Clínica Médico – Pedagógica com duração de dois anos.

Em 1984 foi realizado em São Paulo o primeiro encontro de


Psicopedagogia, com a presença de Clarissa Golbert e Sonia Kiguel. A
partir deste evento criou-se um grupo de estudos de Psicopedagogia,
que mais tarde se tornaria a Associação de Psicopedagogos de SP, e
posteriormente a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). A
criação da associação foi um marco para a institucionalização da profissão
de psicopedagogo no Brasil.

ACESSE:

Conheça o site da Associação. Lá tem várias informações


sobre eventos, documentos, publicações e novidades
referentes à psicopedagogia. www.abpp.com.br

Em 1979 foi criado o primeiro Curso de Psicopedagogia no Instituto


Sedes Sapientiae em SP, como objetivo de valorizar a ação do educador.
Psicologia da Aprendizagem 15

Começou com o tema da reeducação em Psicopedagogia, depois


assumiu um caráter terapêutico; discutindo também sobre o papel do
psicopedagogo e a sua identidade profissional, e assim as mudanças
continuam refletindo sobre a prática psicopedagógica. A formação em
psicopedagogia atualmente se dá por meio de cursos de graduação e
de pós-graduação em institutos de ensino superior espelhados pelo país.

A atividade de Psicopedagogia somente foi regulamentada no


Brasil em 2014, após anos de tramitação no congresso. Pelo texto do
PLC 31/2010, podem exercer essas atividades profissionais que possuam
diploma de graduação em Psicopedagogia, ou profissionais Psicólogos,
Pedagogos ou Licenciados e Fonoaudiólogos que tenham concluído
curso de especialização em Psicopedagogia. Fonte: Senado

O terceiro momento, ainda muito ligado ao segundo, tem como


foco o processo de construção do sujeito. Sujeito esse que pensa, sente,
se relaciona e tem uma história; ou seja, um sujeito pluridimensional.
Assim, entendemos que a psicopedagogia brasileira ainda é um campo
em construção, em busca de uma identidade formal; mas que nem por
isso é menos estruturada que qualquer outro campo de saber.
16 Psicologia da Aprendizagem

Concepções Teóricas da Psicopedagogia


Desde o surgimento da Psicopedagogia, incontáveis abordagens
teóricas contribuíram para a construção de um saber sobre os processos
de aprendizagem e suas dificuldades. A Psicopedagogia é um campo de
saber interdisciplinar. Suas concepções teóricas têm como fonte principal
a Educação e a Psicologia.

Nos anos 60 e 70 as teorias mais utilizadas na Psicopedagogia eram


o Behaviorismo e o Humanismo. Vejamos a seguir.

Behaviorismo
Figura 2: John B. Watson

Fonte: Wikicommons

No Behaviorismo temos o ensino tradicional, em que o estimulo


da criticidade e da reflexão eram basicamente nulos. O professor era
reconhecido como um instrutor, numa relação vertical com o aluno. O
Psicologia da Aprendizagem 17

psicólogo norte americano Jonh B.Watson (1878-1958), que era um


dos importantes teóricos dessa corrente, afirmava que monitorando
e controlando os estímulos corretos de uma criança, ao longo do seu
crescimento, poderíamos transformá-la no que quiséssemos. Ou seja,
a aprendizagem era entendida como um processo externo, que se
concretizava na equação estímulo-resposta, e controlando as variáveis do
meio externo, teríamos controle sobre a aprendizagem.

ACESSE:

BEHAVIORISMO (1): METODOLÓGICO E RADICAL,


Disponível clicando aqui.

Humanismo
Figura 3: Carl Rogers

Fonte: Wikicommons

O humanismo teve como seu principal representante foi o


psicólogo estadunidense Carl Rogers (1902-1987). Nesta teoria era
valorizada a criatividade do aluno, sua liberdade, com o objetivo de
favorecer a aprendizagem. O professor é considerado aqui um facilitador
desse processo, devendo aguardar que seus alunos assumam o controle
18 Psicologia da Aprendizagem

sobre as suas ações em direção a aprendizagem. Rogers afirmava que, o


indivíduo é responsável pela capacidade de mudança; e que o importante
não é aprender certos conteúdos, mas sim sua autorrealização e o
aprender a aprender.

SAIBA MAIS:

Sobre a terapia não diretiva de Carl Rogers e a tarefa do


professor como facilitador do aprendizado em: Carl Rogers,
um psicólogo a serviço do estudante. Clique aqui para acessar.

Na história mais recente da Psicopedagogia, observa-se que existem


três teorias que são discutidas. Que são: a Psicanálise, o Associacionismo,
e o Construtivismo.

Associacionismo
O principal representante do associacionismo foi Edward Thorndike
(1874-1949). Para esta teoria a aprendizagem se dá por um processo de
associação de ideias, do mais simples para o mais complexo. Assim o
ensino é mais tecnicista, não priorizando as funções cognitivas. Os
conteúdos são aplicados sequencialmente para que o aluno siga um
raciocínio até chegar à resposta correta.

SAIBA MAIS:

Você sabia que a origem do associacionismo remonta


de longa data? Saiba mais, lendo: Como surgiu o
associacionismo, clicando aqui.
Psicologia da Aprendizagem 19

Construtivismo
Figura 4: Jean William Fritz Piaget

Fonte: Wikicommons

Como alternativa ao associacionismo, surgiu então o construtivismo.


Esta teoria não beneficia somente os conteúdos, mas também a construção
do conhecimento, valorizando as interações feitas no processo.

O Construtivismo é inspirado pelos estudos de Jean Piaget,


teórico suíço que representa essa abordagem. Ele acredita que a criança
precisa assimilar o conhecimento para depois acomodá-lo ou não. Cada
conhecimento que é acomodado leva o sujeito a alcançar a adaptação e
a organização de todo conhecimento novo. A aprendizagem acontece
em cada procedimento, não privilegiando nem o início nem o fim do
processo, mas cada passo.

Piaget propôs quatro estágios de desenvolvimento da infância:


Período Sensoriomotor (0-2 anos), Período Pré-Operacional (2-7 anos).
Período Operacional de Concreto (7-11), Período Operacional Formal (11 e
mais, até cerca de 19 anos).
20 Psicologia da Aprendizagem

SAIBA MAIS:

Desenvolvimento Infantil: O Que é? Conheça as 4 Fases de


Jean Piaget. Clique aqui para acessar.

A Psicanálise
A Psicanálise surgiu no início do século XX, através dos estudos
do médico neurologista austríaco, Sigmund Freud (1856-1939). Embora o
objeto da Psicanálise não seja a Educação, ela também contribui para
o arcabouço teórico da Psicopedagogia. Melanie Klein (1882-1960),
psicanalista austríaca e seguidora de Freud, sugere que sempre haverá
um objeto a ser conhecido e alguém que impulsiona para o conhecimento;
e que o vínculo afetivo é como uma ponte, estabelecendo conexões para
que tanto o emocional quanto o intelectual se desenvolvam.
Figura 5: Melanie Klein em 1952

Fonte: Wikicommons

Percebemos que o arcabouço teórico se organizou principalmente


a partir de teorias como a Psicanálise e Psicologia Genética.
Psicologia da Aprendizagem 21

Já vimos que autores como Sara Paín, Jorge Visca e Alicia Fernandez,
foram pioneiros na criação de um modelo de diagnóstico e intervenção
psicopedagógica. De acordo com Fernandez, para fazer o diagnóstico é
importante entender como a criança aprende em diferentes contextos,
seja na família ou no mundo externo. É preciso então, adentrar o mundo
desse sujeito, compreendendo como ele vê o mundo.

NOTA:

Para que isso ocorra precisamos nos atentar a três


estruturas: a biológica, a psíquica e a mental. Nessas
estruturas destacaremos três teóricos da Psicologia que
fazem parte do referencial teórico da psicopedagogia.

A estrutura biológica se refere à maturação ou os danos do Sistema


Nervoso Central – SNC. Em seus estudos Vygotsky apontava para a
importância que a maturação tem nos processos de aprendizagem. Foi
ele também que assinalou a noção de neuroplasticidade, possibilitando
intervenções que podem reverter quadros, aparentemente, irreversíveis.
Vygotsky afirmava que todo ser humano é capaz de aprender no seu tempo.

A estrutura psíquica compreende os aspectos subjetivos do


indivíduo. Destacamos aqui Sigmund Freud, que formulou a teoria do
aparelho psíquico, que na primeira tópica é composto por: Consciente,
Pré-Consciente e Inconsciente, que apontam para o funcionamento
dinâmico do psiquismo; e na segunda tópica: ID, EGO e SUPEREGO, que
são as suas diferentes instâncias. A teoria Freudiana até hoje é fortemente
marcada pela descoberta do inconsciente e suas influências no cotidiano.

A estrutura mental é onde estão os processos mentais que


serão utilizados para a construção de conhecimento. Destaque para
Piaget, que descreveu os estágios do desenvolvimento cognitivo, que
são: Sensório-motor, Pré-operatório, Operatório Concreto e Operatório
Formal. O teórico dizia que o aprendizado de da por meio de desafios que
geram desequilíbrios, e que depois geram equilíbrio novamente; assim
sucessivamente até que se desenvolva o nível operatório formal.
22 Psicologia da Aprendizagem

Também destacamos aqui os estudos da Psicologia Social de Pichon-


Rivière, da Psicologia Institucional de Bleger e da Análise Institucional
de Lapassede, que impulsionaram os estudos da Psicopedagogia
Institucional.

São inúmeras teorias que influenciaram e ainda influenciam as


concepções psicopedagógicas. Dado o seu caráter transdisciplinar
devemos também reconhecer as áreas de conhecimento que foram e são
responsáveis pela composição desse campo de saber. São elas: a Filosofia,
a Neurologia, a Sociologia, a Linguística, a Psicologia, e principalmente a
Educação.
Psicologia da Aprendizagem 23

Psicopedagogia na prática
A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, entendendo
que tal aprendizagem ocorre de forma processual e contextualizada. Isso
quer dizer que a Psicopedagogia entende que a aprendizagem envolve o
sujeito como um todo: seus aspectos físico-biológicos, afetivo/emocionais
e também sócio/culturais; sendo que estes aspectos se influenciam e são
influenciados a todo o momento pelo meio que o sujeito está inserido.

A partir disso, podemos fazer os seguintes questionamentos:


Como se aprende? Como essa aprendizagem varia gradativamente e
está condicionada por vários fatores? Como se produzem alterações na
aprendizagem? Como reconhecê-las tratá-las e preveni-las? Não temos
todas as respostas. Mas, disso se trata a prática e o objeto de estudo da
psicopedagogia; compreender que esse objeto é um sujeito, complexo,
que adquiri características específicas a depender da sua vivência e
maneira de perceber o mundo.

A aprendizagem está sempre relacionada com o sujeito que


aprende o que ou quem ensina o meio que ocorre esse aprendizado. Isso
significa que o psicopedagogo deve estar comprometido com qualquer
tipo de aprendizado e de ensino, não somente o que é exercido na escola.

Diante desse objeto de estudo a psicopedagogia há duas formas,


principais, de atuação, seja no âmbito clínico ou institucional: a preventiva
e a terapêutica.

Na atuação preventiva, ele atua junto à equipe técnica envolvida


no processo; os professores; familiares; comunidade; de vários modos.
Destacamos aqui algumas formas de atuação de forma preventiva:

• Participar das dinâmicas das relações da comunidade educativa,


com o objetivo de favorecer processos de integração e troca.

• Promover reflexão e orientação metodológica, a fim de encontrar


soluções mais acessíveis.

• Realizar processos de orientação educacional, ocupacional, em


grupo ou individualmente.
24 Psicologia da Aprendizagem

• Proporcionar momentos de reflexão sobre o papel da escola para


a comunidade.

• Proporcionar reflexão sobre habilidades, princípios e estratégias


que são importantes para a aprendizagem.

• Auxiliar a equipe escolar na determinação, escolha e elaboração


dos objetivos educacionais, das estratégias de ensino e dos
instrumentos de avaliação.

Na prática terapêutica, entendemos que o psicopedagogo irá atuar


principalmente com o sujeito ou instituição que demanda uma atenção
específica. O enfoque terapêutico tem como premissa a identificação,
análise, elaboração de uma metodologia diagnóstica e tratamento das
dificuldades no processo de aprendizagem.

Destacamos também algumas atividades na prática terapêutica,


que são:

• Discutir, preparar e ajudar o professor no encaminhamento


de alunos para atendimento psicopedagógico em grupo ou
individualmente.

• Participar do diagnóstico de distúrbios de aprendizagem.

• Atendimento clínico de demandas de transtornos e distúrbios de


aprendizagem.

• Auxiliar o professor a compreender o problema ou bloqueio do


aluno, levando alternativas para a solução dos mesmos.

A prática da psicopedagogia, seja preventiva ou terapêutica, deve


ser pensada num enfoque transdisciplinar, analisando sempre as bases
do processo de aprendizagem. Estas bases estão presentes na existência
do homem, na sua constituição, no seu modo de aprender e/ou ensinar,
nas diferenças e singularidades que existem. A transdisciplinaridade
implica em um modo de entender o processo de aprendizagem como
complexo plural, que considera as capacidades humanas, e suas diversas
maneiras de elaborar, simbolizar, captar, crias, mostrar e expressar algum
conhecimento.
Psicologia da Aprendizagem 25

A Psicopedagogia lida com o processo de aprendizagem de


forma completa, considerando todos os aspectos que o influenciam:
físico/biológico, afetivo/emocional e sócio/cultural. Atuando diante
desses aspectos de forma preventiva: se antecipando aos problemas de
aprendizagem; ou de forma terapêutica: identificando, analisando e dando
alternativas para a minimização das dificuldades de aprendizagem.

ACESSE:

Recomendamos que veja o vídeo da Psicopedagoga Nadia


Bossa para aprofundar mais seu conhecimento sobre a
Psicopedagogia. Clique aqui para assistir.

Avaliação e Diagnóstico Psicopedagógico


O objeto da psicopedagogia é como temos afirmado, o processo
de aprendizagem do sujeito em questão. Dito isto, entendemos que
a sua prática se insere nesse contexto: levar aqueles que têm alguma
dificuldade de aprendizagem por um caminho que os conduza a uma
melhor execução desse processo, e também que resgate o prazer de
adquirir novos conhecimentos.

Há vários fatores que interferem na aprendizagem. Por isso a


importância de identificar quais são esses fatores, para então poder
minimizar a sua interferência nesse processo. Assim como existem várias
dificuldades diferentes, há também várias formas de identificá-las, avaliá-
las, diagnosticá-las e de tratá-las. Cada psicopedagogo possui um estilo
para fazer tal avaliação, de acordo com a sua formação, seus referenciais
teóricos, sua forma de compreender o indivíduo.

Apresentaremos aqui alguns aspectos da avaliação e diagnóstico


psicopedagógico, mas de uma forma generalista. Lembrando sempre
que este processo deve ser feito de forma ampla, considerando todas as
dimensões do sujeito, auxiliando na busca por um caminho que o leve a
desconstrução dos bloqueios e das dificuldades no aprendizado.
26 Psicologia da Aprendizagem

Figura 6: Atendimento Psicopedagógico

Fonte: Freepik

A Avaliação Psicopedagógica
A avaliação psicopedagógica é a forma de iniciar uma investigação
dos componentes do processo de aprendizagem. Nela busca-se coletar
dados e informações que servirão de base para fundamentar as decisões
para prevenção ou solução dos problemas, dificuldades e bloqueios do
sujeito.

A avaliação é um processo dinâmico, que tem como objetivo


entender a origem da dificuldade e/ou distúrbio apresentado na queixa.
Ela inclui a entrevista inicial com os pais, com a criança e também com
a escola; análise de material escolar; utilização de recursos como: testes,
atividades e instrumentos de avaliação de desenvolvimento, áreas de
competência e dificuldades apresentadas.
Psicologia da Aprendizagem 27

Algumas etapas da avaliação psicopedagógica:

a. Identificação dos fatores responsáveis pelas dificuldades da criança.

b. Levantamento do repertório infantil relativo as habilidades


acadêmicas e cognitivas.

c. Identificação de características emocionais da criança.

Na primeira etapa descrita, o psicopedagogo deve distinguir se


trata de um transtorno de aprendizagem ou de uma dificuldade advinda
por outros fatores (emocionais, cognitivos, sociais). São coletados
dados referentes à dificuldade da criança, e investiga-se a existência de
quadros neurológicos, psicológicos, psiquiátricos, condições familiares e
ambiente escolar. Para que essa investigação tenha maior credibilidade, é
necessária uma equipe multidisciplinar, com Psicólogos, Neuropediatras,
Fonoaudiólogos e outros que sejam adequados ao caso; além de se ter
uma boa parceria e cooperação com a escola.

Na segunda etapa, é importante que o profissional tenha


conhecimento sobre as habilidades que a criança já possui, ou que já
teve a oportunidade de adquirir. Para isso, indica-se que seja feito um
levantamento do conteúdo acadêmico, da proposta pedagógica da
escola que a criança está inserida; investigação da atenção, hábitos de
estudo, solução de problemas, psicomotricidade, desenvolvimento da
linguagem; avaliação de requisitos que facilitem a aprendizagem; padrões
de raciocínio; déficits e preferências da criança.

A terceira etapa envolve a investigação de estímulos e reforçadores


ao qual a criança responde ou não. Além de entender qual a interação com
as exigências e expectativas escolares e familiares que recaem sobre ela.

Para que essas etapas sejam concluídas podem ser realizadas


diversas atividades, tudo vai depender da forma com que o psicopedagogo
vai conduzir o processo de avaliação e também da sua criatividade. Muitas
vezes a queixa trazida pelos pais ou pela escola, já indica o caminho
inicial para a investigação; além de indicar também a forma com que eles
compreendem a dificuldade da criança e qual é o lugar que ela ocupa isso
também é uma informação importante para a avaliação da queixa inicial.
28 Psicologia da Aprendizagem

Podem ser realizadas atividades matemáticas, provas de nível de


pensamento e outras funções cognitivas, leitura, escrita, desenhos e
jogos. Outros instrumentos que também podemos destacar são: escrita
livre e dirigida, que avaliam a grafia, ortografia e produção de texto; leitura,
que avalia a decodificação e compreensão; provas de avaliação de nível
de pensamento e funções cognitivas como a atenção; cálculos; jogos
simbólicos e jogos com regras; desenho e análise de grafismo.

Há ainda outros recursos, como os testes psicométricos. Mas, no


Brasil, estes são de uso exclusivo dos profissionais da psicologia.

Depois de coletadas as informações e dados necessários,


o psicopedagogo elabora uma intervenção que busca solucionar
minimamente os problemas de aprendizagem. A avaliação também
serve para reorganizar a vida escolar e doméstica da criança. A avaliação
nada mais é do que a localização das dificuldades e o comprometimento
com a sua superação. Esse comprometimento tem de partir de todos
os envolvidos na questão: criança, família, escola, e profissional
psicopedagogo.

IMPORTANTE:

Ressaltamos que a avaliação deve ser um processo


breve, e que o diagnóstico, em muitos casos, somente
é concluído no decorrer do tratamento. Além disso, é
importante dizer que, nem todos que se submetem
a uma avaliação psicopedagógica, irão necessitar ou
continuar num atendimento nessa área. As dificuldades
avaliadas e identificadas durante o processo– salvo em
casos de transtorno de aprendizagem, ou uma questão
mais grave – podem se solucionar por outras vias, como
por exemplo: um programa de assistência ao aluno na
escola; encaminhamento para outro profissional (psicólogo,
fonoaudiólogo, etc...).

A avaliação psicopedagógica irá fornecer informações importantes


e necessárias em relação às dificuldades do aluno, bem como de seu
contexto escolar, familiar e social. Com tais informações, justifica-se a real
necessidade de intervir, gerando modificações na proposta educacional
Psicologia da Aprendizagem 29

que a criança está inserida; no seu meio social; e nas suas funções
cognitivas. Esta avaliação pode ou não dar início a um atendimento
psicopedagógico, pois algumas dificuldades de aprendizagem podem
ser solucionadas em outros contextos, como a escola, atendimentos
psicológicos, assistência à família; daí a fundamental importância de se
ter uma equipe multidisciplinar disponível no momento da avaliação.

ACESSE:

Nesse vídeo Nádia Bossa relata um caso de atendimento


psicopedagógico no que se refere ao atendimento inicial,
avaliação e processo diagnóstico. Clique aqui para assistir.

O Diagnóstico Psicopedagógico
Figura 7: Diagnóstico Psicopedagógico

Fonte: Freepik

Estabelecer um diagnóstico é uma tarefa difícil, para tanto é


necessária à participação de uma equipe multidisciplinar e, também, a
utilização de recursos variados, a fim de se fazer uma investigação e um
levantamento de hipóteses que serão testadas ao longo do processo.
30 Psicologia da Aprendizagem

Acreditamos que o diagnóstico não é um dado concreto e vitalício, mas


é um conjunto de informações e dados referentes a um dado momento
do sujeito. Isso significa dizer que, um diagnóstico deve ser revisto e
atualizado periodicamente, não servindo de rótulo para essas crianças.

O diagnóstico psicopedagógico é uma investigação que abre os


caminhos para uma intervenção mais precisa, dando início ao processo
de superação das dificuldades. O objetivo do diagnóstico é entender
qual o obstáculo no processo de aprendizagem, e quais são os caminhos
para superá-lo. É uma forma de se analisar a situação do aluno, seja no
contexto escolar, da sala de aula, familiar ou social.

Durante esse processo, é importante que o psicopedagogo


esteja atento ao discurso, a postura, a atitude do paciente e também
dos envolvidos com a queixa. Pois esses comportamentos dão dicas
importantes a respeito das questões que devem ser avaliadas. Ter esse
olhar e escuta atentos possibilita lançar mão das primeiras hipóteses
sobre o indivíduo. Esses dados que chegam através da percepção do
profissional, muitas vezes ultrapassam os dados relatados; cabe ao
profissional buscar nas entrelinhas, na emoção e na elaboração do
discurso, informações que estão implícitas e às vezes inconscientes.

O diagnóstico, para ser mais preciso, envolve ao menos três áreas


profissionais: neurologia, psicopedagogia e psicologia. Estes campos de
conhecimento possibilitam a identificação das causas do problema, além
de descartar possíveis fatores que não são importantes ou hipóteses
infundadas.

O objetivo é compreender de forma global a forma que o indivíduo


aprende e quais os desvios que ocorrem durante o processo. Isso levará a
um encaminhamento e prognóstico mais acertado para cada caso.

Os dados obtidos em relação aos diferentes aspectos do indivíduo


são organizados de forma particular e individualizados. Nesse momento
o psicopedagogo deve interagir com as partes envolvidas na queixa e
no processo de aprendizagem: aluno, família e escola. O diagnóstico
deve ser um trabalho conjunto, onde os envolvidos participem de fato
do processo. Ele não aponta somente para as manifestações aparentes
Psicologia da Aprendizagem 31

das dificuldades escolares, mas implica numa investigação profunda,


onde são identificadas questões que interferem no desenvolvimento do
aluno, e sugerem-se atividades adequadas para compreensão e correção
dessas dificuldades.

É importante dizer que, o diagnóstico é tão relevante quanto o


tratamento, devendo ser conduzido com muito cuidado, observando a
criança e suas mudanças de comportamento. É necessário também que
o profissional se atente para o significado do sintoma no âmbito familiar e
escolar, não analisando apenas como um recorte.

O diagnóstico não pode ser considerado um momento estático. Ele


deve ser visto como um momento transitório, uma fase a ser concluída
entre a avaliação e a intervenção. Para isso deve seguir alguns princípios,
como: análise do contexto e identificação do sintoma; análise de fatores
coexistentes ao sintoma; bloqueio de ordem do conhecimento, de
ordem da interação, da ordem do funcionamento e da estrutura; análise
da origem do sintoma e suas causas históricas; diferenciação dos
parâmetros aceitáveis de desenvolvimento; levantamento de hipóteses
de confirmação futura; indicações e encaminhamentos.

A hipótese diagnóstica não deve se fundamentar apenas nas


dificuldades e problemas, mas indicar também, e principalmente, as
potencialidades do indivíduo. Não somente as características e habilidades
que o sujeito já possui que são importantes, mas também o que ainda
está por se desenvolver, aquilo que o sujeito pode se tornar, deve ser tão
ou mais valorizado.

Ao pensar nos instrumentos para o diagnóstico, o psicopedagogo


pode utilizar como recursos: a entrevista com a família, e com a escola;
investigar o motivo da queixa; conhecer a história da criança, fazendo a
anamnese; entrevistar o aluno, contatar a escola e outros profissionais;
realizar encaminhamentos quando necessário.

Como dissemos no tópico anterior, existem também os testes.


Provas de inteligência (WISC), testes projetivos (HTP); avaliação
perceptomotora (Teste de Bender); Teste de apercepção infantil (CAT),
teste de apercepção temática (TAT). Mas estes são de uso exclusivo dos
32 Psicologia da Aprendizagem

profissionais psicólogos, sendo necessária uma formação específica e o


registro no conselho profissional para sua utilização.

Mas o psicopedagogo pode utilizar de outros instrumentos, como


as provas Piagetianas, desenhos, e testes que mencionam o nível de
pensamento e de escolarização. Além de usar da criatividade para criar
atividades que possibilitem as mesmas observações feitas nos testes. Ou,
como já afirmamos também, ter disponível uma equipe multidisciplinar,
para que se faça uma avaliação mais completa e segura.

Os jogos, tanto os simbólicos quanto os jogos com regras, são


importantes recursos também. Pois através deles o sujeito manifesta
sua visão de mundo, seus mecanismos de defesa, e seus desejos. Nos
jogos também podem ser simulados problemas reais e cotidianos,
apresentando desafios e possibilitando observar como a criança age em
determinadas situações.

Elencamos aqui algumas etapas do diagnóstico psicopedagógico.


Lembrando que, aqui estas etapas estão descritas de modo generalista;
cada psicopedagogo atua de forma única e singular de acordo com as
suas vivências, suas experiências e sua concepção teórica.
Quadro 1. Etapas do diagnóstico psicopedagógico

Etapa Descrição

Tem como objetivo compreender a queixa


no âmbito da escola e da família. Entender
as relações e expectativas referentes à
Entrevista familiar aprendizagem escolar, e em relação ao
psicopedagogo. Perceber o engajamento
do paciente e da família no processo, e
esclarecimento de possíveis dúvidas.
Psicologia da Aprendizagem 33

Colher dados sobre a história do sujeito na


família: história presente, passada e projeções
para o futuro. Nesta etapa são levantados
dados sobre as primeiras aprendizagens,
desenvolvimento geral, histórico clínico,
histórico familiar, e histórico escolar. É
importante também descobrir em que medida
a família possibilita o desenvolvimento
cognitivo da criança. Nos aspectos gerais
de desenvolvimento infantil (controle de
Anamnese esfíncteres, aquisição de hábitos, linguagem,
etc...) é interessante saber se ocorreram na
faixa normal de desenvolvimento ou se houve
defasagem. Também é importante investigar
a histórica clínica: doenças, como foram
tratadas, possíveis sequelas, laudos e etc...; e
também a história escolar: quando começou
a frequentar a escola, como foi à adaptação,
se houve rejeição ou entusiasmo, troca de
escolas, enfim, tudo que envolva positiva ou
negativamente o sujeito em questão.

São fundamentais para entender todos os


aspectos que já mencionamos anteriormente.
Neste tipo de atendimento, observamos o
Sessões lúdicas
sujeito como um todo, pois na brincadeira
estão implicados o seu funcionamento
cognitivo, motor e suas emoções.

Podem e são utilizados para especificar o


nível pedagógico, cognitivo e/ou emocional.
Provas e testes O seu uso não é obrigatório, mas é uma forma
complementar que funciona estimulando e
provocando variadas reações e respostas.
34 Psicologia da Aprendizagem

É a resposta mais direta a queixa inicial. É o


momento em que a hipótese é formulada
Síntese diagnostica a partir da análise dos dados obtidos. É a
síntese que aponta um prognóstico, uma
indicação ou um possível encaminhamento.

É o encerramento do processo de
diagnóstico. Um encontro entre
psicopedagogo, sujeito e família, que tem
como objetivo relatar os resultados e dar
o devido encaminhamento à questão.
Procurando sanar dúvidas, afastando
rótulos, e delegando responsabilidades
Devolução e aos envolvidos no processo. É importante
encaminhamento ressaltar os pontos positivos do aluno, para
que este se sinta valorizado e não inviabilize
novas conquistas. Ao mencionar os aspectos
negativos, que interferem na aprendizagem,
devem ser mencionadas também as
recomendações para sua superação. O
encaminhamento para outros profissionais
também pode ser feito neste momento.
Fonte: MORAES, 2010

RESUMINDO:

O diagnóstico psicopedagógico é um processo de


investigação. Consiste na coleta de dados sobre a
criança em seus diversos aspectos, desde o seu
desenvolvimento físico, motor, aquisição de linguagem,
até o desenvolvimento no âmbito social e escolar; além
de todas as relações que o cercam. Nesse processo de
avaliação, encontramos algumas etapas, como: entrevistas
com a família e escola, anamnese, sessões lúdicas,
aplicação de testes, levantamento de hipóteses, e então o
encaminhamento para o tratamento adequado, que pode
ou não ser um atendimento psicopedagógico. É importante
ter uma equipe de apoio que seja multidisciplinar, para
que sejam descartadas hipóteses infundadas e seja uma
avaliação mais assertiva.
Psicologia da Aprendizagem 35

Atuação do Psicopedagogo no Mercado


Mercado de trabalho é o nome que se dá a relação que existe entre
a oferta de trabalho e a procura por trabalhadores; onde há negociação de
preços, quantidades e serviços. Nesse campo estão incluídas, empresas
públicas e privadas, de economia mista, pessoas físicas, e outros tipos de
prestação de serviços.

A Psicopedagogia se insere no mercado de trabalho com


basicamente duas formas de atuação: clínica e institucional. Essas duas
formas podem se subdividir, atuando em diversos campos e ambientes.

A Psicopedagogia Clínica é o modo terapêutico de atuação. O


profissional atende em um consultório, a fim de descobrir o porquê
de o sujeito não aprender, para então iniciar um processo terapêutico,
auxiliando na superação das suas dificuldades. Estes atendimentos são
realizados normalmente em centros de saúde ou clínicas especializadas,
de forma individual, podendo também ocorrer em grupo.

Neste tipo de atendimento clínico é mais comum a prática da


avaliação e diagnóstico de transtornos de aprendizagem. Na avaliação
psicopedagógica é feita a investigação da queixa e, indicam-se os
caminhos para a intervenção.

O psicopedagogo precisa estar atualizado com relação aos


conhecimentos e pesquisas científicas da sua área. Bem como, dos
manuais internacionais de diagnóstico, que são o CID-10 e o DMS-V. Estes
manuais devem ser de conhecimento do psicopedagogo não apenas no
que diz respeito aos transtornos de aprendizagem, mas também com
relação às outras síndromes e transtornos que podem ser associados. A
consulta dos manuais auxilia no estabelecimento de critérios e hipóteses
diagnósticas mais precisas, além de favorecer a comunicação com outros
profissionais de outras áreas.

A Psicopedagogia institucional tem caráter preventivo, e pode


se inserir em vários contextos: família, escola, hospital, empresas,
organizações assistenciais, ONG’s, no setor público. O objetivo da
atuação nesses contextos pode ser: analisar as relações interpessoais;
36 Psicologia da Aprendizagem

os conhecimentos que circulam e como circulam; pensar alternativas


para conflitos. Assim, por exemplo, no trabalho hospitalar, pode ser
oferecido oficinas ou trabalhos lúdicos para os internos. Com as famílias
pode ser oportuno um trabalho sobre a importância das funções materna
e paterna, resgatando-se o papel educacional da família, hoje tão
esquecido. Na escola, o psicopedagogo pode analisar a identidade da
instituição, os papéis e as funções na dinâmica relacional, os conceitos de
aprendizagem, ensino, inclusão; o diálogo com as famílias, etc...

Portanto, nesses diferentes contextos da escola, da empresa, da


família, do hospital, para cada situação conflitiva diagnosticada pelo
psicopedagogo, torna-se imprescindível pensar, planejar, pesquisar e
executar, com o grupo envolvido, um plano de intervenção que possa
ressignificar o que atrapalha o bem-estar. Nesse caso, o papel do
psicopedagogo é o de facilitador, mediador, ou de auxiliador na busca
por alternativas para determinada situação.

No artigo “Um olhar psicopedagógico sobre a velhice” os autores


Bortolanza, Krakl e Biasus, fazem uma reflexão sobre o papel do
psicopedagogo após experiências que tiveram junto a grupos de idosos.
Os autores relatam que o papel do psicopedagogo nesses grupos é o
de mediador na construção e reconstrução do conhecimento, interagindo
com os idosos no sentido de superar as dificuldades tanto de aprendizagem
como na dinâmica do grupo. Para isso é necessário transpor os conceitos
e pré-conceitos existentes sobre a velhice, reconhecendo o seu valor,
sua experiência e sabedoria, investindo nas potencialidades e no poder
modificador do afeto. Os autores concluem afirmando que “deu-se início a
uma ação-reflexão sobre o saber-fazer psicopedagógico junto ao idoso [...].
O psicopedagogo tem papel importante na inclusão do idoso nos grupos
de convivência, facilitando a interação do mesmo com o conhecimento e
com seus pares [...].” (BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS, 2005)
Psicologia da Aprendizagem 37

O Psicopedagogo Institucional: atuando na escola


Sabemos que quando se fala em Psicopedagogia, o primeiro
campo de atuação que pensamos é a escola. Sem dúvidas que a escola
é a instituição que mais requisita a presença do psicopedagogo, seja
na sua forma de atuar clínica ou institucional. Neste momento, como já
falamos bastante da prática clínica, avaliação, diagnóstico, recursos e
outros aspectos; iremos agora destrinchar sobre a prática institucional,
privilegiando a instituição escolar.

A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana em seus


diversos aspectos: físico/biológico, afetivo/emocional, sócio/cultural.

A Psicopedagogia Institucional é um campo que tem crescido


e se desenvolvido com foco de ação preventiva aos problemas de
aprendizagem. Mas é também vista como ameaçadora, pois tem como
objetivo fortalecer a identidade do grupo e transformar a realidade escolar,
e para que isso ocorram mudanças naquilo que já está estabelecido como
cultura institucional.

Bossa (2007) afirma que:


[...] pensar a escola à luz da Psicopedagogia, significa
analisar um processo que inclui questões metodológicas,
relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista
de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a
participação da família e da sociedade.

IMPORTANTE:

A primeira coisa que o psicopedagogo pode e deve fazer


numa instituição escolar é o diagnóstico institucional.
Observando as características organizacionais, a história
da escola e a cultura institucional. O psicopedagogo deve
conhecer os documentos que regem a escolar e que dão
o perfil de identificação para a unidade escolar. Exemplos
desses documentos são o regimento escolar e o Projeto
Político Pedagógico – PPP. O PPP é um documento
obrigatório, e pode ser considerado o coração da escola. É
ele que comanda a energia e a vida da escola.
38 Psicologia da Aprendizagem

É um documento que deve ser elaborado, preferencialmente,


com a participação de toda a equipe escolar; mas sabemos que juntar
pensamentos e ideias diferentes para a construção de um documento
é difícil. Por isso algumas equipes gestoras, acabam contratando uma
consultoria de fora para a elaboração do documento, ou acabam por
construí-lo sozinhas. Mas os professores precisam conhecê-lo; para
entender a história e os fundamentos da escola, e também para saber
com o que estão concordando, já que todos assinam o documento.

O psicopedagogo na instituição vai questionar. Questionar


basicamente tudo e todos os aspectos da instituição. Começando pela
gestão da escola. Se existe democracia como flui as relações de trabalho,
são aspectos que o psicopedagogo institucional deve observar. A cultura
da instituição é uma rede de comportamentos, e o psicopedagogo é
chamado, normalmente, quando algo nesta rede não está funcionando.
Assim, o processo de diagnóstico institucional serve para viabilizar
caminhos e propor mudanças organizacionais. Mudanças estas que
podem ser entendidas de forma positiva ou negativa.

O psicopedagogo é chamado para entender, qual o motivo de a


rede de comportamentos e de relações dentro da empresa não estar
funcionando na sua melhor forma. O desafio do psicopedagogo é mobilizar
a equipe para refletir sobre as suas ações, e entender que é preciso que
haja esse movimento, para que a mudança possa ocorrer.

Em qualquer instituição, e na escola não é diferente, existem


algumas manifestações de comportamento que são identificadas e
retratam o ambiente institucional. As manifestações verbais e conceituais,
que são: os heróis e os mitos, ou seja, algo ou alguém que pode ser bom
ou ruim e que é de certa forma inatingível. E as narrativas, que marcam
o ambiente escolar, ditando os comportamentos e as regras implícitas.
Na observação da instituição, o psicopedagogo deve identificar essas
crenças e narrativas, e no decorrer do processo saber lidar com elas.

Um exemplo dessas manifestações: quando alguém chega até


o psicopedagogo e afirma que “quando for falar com o diretor, deve ir
bem preparado”. Observamos aqui o mito – o diretor, e a narrativa – uma
advertência.
Psicologia da Aprendizagem 39

Quando alguém está na posição de mito ou de herói a atuação


dentro da instituição fica limitada e inviabilizada. Esses são os dados que
o psicopedagogo deve entrar em contato, deve se manter atento. Desse
modo, pode auxiliar o grupo a desconstruir os mitos e as crenças, e entrar
em contato com a realidade e com novas crenças.

Também existem as manifestações visuais e simbólicas, que são os


elementos que podem ser observados de forma concreta. São os murais,
painéis, exposições e cartazes feitos pelos alunos. Tem também algumas
manifestações comportamentais, que influenciam na atuação das pessoas
envolvidas na organização escolar. Que são: atividades normais da escola
e como são desempenhadas; as normas e regulamentos internos; os
rituais e cerimônias que fazem parte da vida da escola (acolhida, oração
e outros).

Essas manifestações são singulares e particulares de cada instituição.


Cada instituição possui seus rituais, seu modo de funcionamento, seu
regulamento, então, cabe ao psicopedagogo observar estes elementos,
e ponderar sobre possíveis modificações. A escola é um espaço social,
que é composto por uma trama de relações sociais e materiais que
gerenciam o cotidiano das pessoas que por ali circulam. Por este motivo,
deve ser entendida e analisada como uma organização, assim como seria
analisada uma pequena indústria ou uma empresa.

No diagnóstico institucional, o psicopedagogo faz uma leitura:


das narrativas; do currículo aparente e oculto; da dinâmica das relações
entre os atores da escola; das possibilidades e abertura para mudanças;
da necessidade de ajuda; dos trabalhos já realizados; das dificuldades
detectadas; dos vínculos estabelecidos dos comportamentos e atitudes;
tudo relacionado com a instituição escolar.

É a partir do diagnóstico que o psicopedagogo pode propor e


executar um plano de intervenção. Na intervenção psicopedagógica,
o objetivo é a construção de uma nova identidade para a instituição.
Trabalhando sempre em corresponsabilidade com a equipe da instituição,
com enfoque interdisciplinar e sempre disposto às trocas e diálogos.
40 Psicologia da Aprendizagem

O diagnóstico institucional tem caráter preventivo no sentido de


reconstruir processos, redefinir papéis, valorizar novos conhecimentos,
novas forma de aprender e de pensar, e também novas pessoas,
processos, produtos, objetivos.

O psicopedagogo observa todos os aspectos da instituição, e tenta


detectar os elementos que necessitam de mudança. Assim, ele identifica
como funciona a cultura institucional e sua rede de comportamentos, e
quais são as expectativas da instituição com relação a sua avaliação; para
então propor e executar uma intervenção, um plano de mudança nos
aspectos que necessitam.

SAIBA MAIS:

sobre a diferença entre Psicopedagogia Clínica e a


Institucional clicando aqui.

Intervenção Psicopedagógica na Instituição


De acordo com o dicionário Aurélio, intervenção significa: ato
de exercer influência em determinada situação na tentativa de alterar
o seu resultado. Ação de expressar, um ponto de vista, acrescentando
argumentos ou ideias. E ainda: intervenção pedagógica: interferência
feita por um especialista com o objetivo de melhorar o processo de
aprendizagem do aluno.

O psicopedagogo não deve confundir intervir com interferir. Intervir


tem como meta ajudar a pensar nos caminhos para se chegar a uma
resposta. O interferir não. Aqui entendemos que há a manipulação da ação
do outro, e não é este o trabalho do psicopedagogo.

O objeto de estudo da psicopedagogia é o sujeito aprendente.

O processo de aprendizagem envolve o sujeito que aprende o


sujeito que ensina o meio que estão inseridos, tudo isso se relaciona de
forma sistemática. Na escola, o psicopedagogo tem como objetivo de
intervenção resgatar ou fortalecer a identidade da instituição, sua história,
ao mesmo tempo em que procura pareá-la com a realidade e o momento
Psicologia da Aprendizagem 41

histórico atual, adequando as demandas sociais e ao contexto ideal de


aprendizagem.

O trabalho do psicopedagogo institucional é a prevenção dos


problemas de aprendizagem. Para isso é seu dever: analisar a formação
dos professores; o currículo, que está sendo utilizado na escola, se está
sendo adequado às necessidades dos alunos; se os professores estão
preparados para atender os alunos, inclusive alunos que tenham alguma
necessidade especial. O psicopedagogo vai intervir nestes aspectos, a fim
de orientar a equipe pedagógica para que o processo de aprendizagem
ocorra de forma mais produtiva.

REFLITA:

O psicopedagogo analisa a formação de professores e


supervisores. Há casos que o professor tem uma formação
que possibilita que ele esteja mais bem preparado que o
seu supervisor. Ora, como o supervisor pode coordenar um
trabalho pedagógico específico, junto aos professores, se
o mesmo não tem o conhecimento necessário para tanto?

O psicopedagogo vai então, após analisar todos estes aspectos,


propor mudanças no currículo, no projeto político pedagógico, na
metodologia de ensino, nas formas de aprender e de ensinar. Ele
também pode contribuir na melhora da comunicação interna da escola,
e na comunicação da escola com a família, favorecendo uma relação de
confiança. O psicopedagogo pode auxiliar os atores que dão vida à escola,
a retornarem as origens, aos princípios fundamentais que regem a escola.

A intervenção é pautada nos recursos que promovem a operatividade


da instituição. Fazendo com que o movimento de aprender nunca cesse,
sempre acompanhando o momento histórico e prevenindo a cristalização
de crenças que dificultam o desenvolvimento.

O psicopedagogo deve trabalhar as questões que servem de


obstáculo para o ensinar e o aprender; interagindo, integrando, se
vinculando, articulando conhecimentos, e cuidando das relações.
42 Psicologia da Aprendizagem

Compreendemos que o psicopedagogo na escola, ou em qualquer


instituição tem papel fundamental na criação e no aperfeiçoamento
do clima e das relações dentro da instituição. Na escola, entre os
professores, alunos, funcionários, famílias e comunidade. Desmistificando
a manifestação de crenças e de narrativas que limitam e inviabilizam
o desenvolvimento e o progresso da aprendizagem; examinando
aspectos destrutivos que são arraigados nas relações interpessoais;
diagnosticando e intervindo nos sintomas e discursos que se repetem e
não colaboram para o crescimento do grupo. Damos ênfase ao fato de
que, o Psicopedagogo pode fazer muita diferença numa instituição, com
sua escuta e olhares atentos e sensíveis as demandas da equipe, dos
alunos, das famílias e da sociedade.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:
Livro: SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o
problema escolar e de aprendizagem. 2ª ed. Petrópolis-RJ:
Vozes, 1994.

Assim terminamos essa unidade. Esperamos que este contato com a


psicopedagogia possa fazer com que reflitam sobre a interdisciplinaridade
e a transdisciplinaridade entre a psicologia e as áreas afins.
Psicologia da Aprendizagem 43

REFERÊNCIAS
BORTOLANZA, M. L.; KRAHL, S.; BIASUS, F. Um olhar Psicopedagógico
sobre a velhice. Revista Psicopedagogia, v. 22, n 68, p. 162 – 170, 2005.

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: construção a partir da


prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da


prática. RS, Artmed, 2007.

MORAES, D. N. M. Diagnóstico e avaliação psicopedagógica.


Revista de Educação do IDEAU. V 5, n 10, p. 2 – 15, jan-jun 2010.
Disponível em: <https://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/
revistasartigos/203_1.pdf> Acesso em: 03/03/2019.

PONTES, I. A. M. Atuação psicopedagógica no contexto escolar:


manipulação, não; contribuição, sim. Revista Psicopedagogia, n 27, v84,
p. 417 – 427, 2010. Disponível em <http://www.revistapsicopedagogia.
com.br/detalhes/196/atuacao-psicopedagogica-no-contexto-escolar--
manipulacao--nao--contribuicao--sim>Acesso em 03/03/2019

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