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Aspectos

Socioantropológicos

Fundamentos das Ciências Sociais e


a Sociologia
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
MAURICIO TINTORI PIQUEIRA
AUTORIA
Mauricio Tintori Piqueira
Sou doutor em Ciências Sociais e mestre em História, pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com experiência
de docência na área de Ciências Humanas de mais de 14 anos. Sou
professor universitário e do Ensino Médio, com atuação como professor
e coordenador do curso de História da Faculdade de Ribeirão Pires
e, docente na Rede Pública do estado de São Paulo. Sou apaixonado
pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que
estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito
feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte
comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Diferenças Entre o senso Comum e o Conhecimento
Científico.......................................................................................................... 10
O Senso Comum e o Conhecimento Científico ........................................................10

O Conhecimento como um Atributo do ser Humano............................................ 11

O Senso Comum............................................................................................................................... 13

O Conhecimento Científico....................................................................................................... 16

É Possível a Convivência entre Ciência e Senso Comum?................................ 18

As Ciências Sociais...................................................................................... 22
As Áreas das Ciências Sociais................................................................................................. 22

Os Objetos de Estudo das Ciências Sociais e suas Metodologias de


Pesquisa................................................................................................................................................. 30

A História da Sociologia............................................................................ 35
Os Antecedentes Intelectuais da Sociologia...............................................................35

As Transformações Sociais Decorrentes da Revolução Industrial.............. 39

Os Primórdios da Sociologia....................................................................................................42

O Surgimento da Sociologia Educacional......................................... 47


Émile Durkheim: O Ideólogo da Educação.................................................................. 48

Karl Marx: A Educação como meio de Conformação e Transformação


Social......................................................................................................................................................... 51

Max Weber e a Educação como Instrumento de “Status Social”.................54


Aspectos Socioantropológicos 7

01
UNIDADE
8 Aspectos Socioantropológicos

INTRODUÇÃO
Você sabia que a Sociologia surgiu com o objetivo de refletir sobre
as rápidas e intensas transformações sociais que ocorriam na Europa,
nas primeiras décadas do século XIX? E que, ainda hoje, os estudos
da área são importantes para a compreensão de uma sociedade cada
vez mais complexa, diversificada e sujeita às mudanças, contradições e
conflitos? A área de Sociologia faz parte das Ciências Humanas, ao lado
da História, da Geografia, da Filosofia e da Antropologia, e se propõe a
analisar, cientificamente, a vida dos seres humanos em sociedade. Seu
compromisso com a cientificidade, geralmente, se contrapõe ao senso
comum, aquela percepção de que os fenômenos existentes no mundo
são “naturais” e “imutáveis”. Nesta unidade, iremos compreender o
desenvolvimento do conhecimento sociológico ao longo da história, além
de sua importância para o desenvolvimento da educação na sociedade
contemporânea. Vamos lá? Ao longo desta unidade letiva, você vai
mergulhar neste universo!
Aspectos Socioantropológicos 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1- Fundamentos das Ciências
Sociais e a Sociologia. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento
das seguintes competências profissionais até o término dessa etapa de
estudos:

1. Discernir sobre as diferenças entre o senso comum e o


conhecimento científico.

2. Identificar as especificidades das Ciências Sociais, conhecendo as


suas diferentes áreas do conhecimento e seus objetivos.

3. Situar o contexto histórico no qual o desenvolvimento do


conhecimento sociológico está inserido.

4. Definir a contribuição do conhecimento sociológico para a análise


do papel da educação na sociedade contemporânea.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Aspectos Socioantropológicos

Diferenças Entre o senso Comum e o


Conhecimento Científico

OBJETIVO:
Ao término desta unidade, você será capaz de entender
a diferença entre o senso comum e o conhecimento
científico. Isto será fundamental para o exercício de sua
profissão docente. As pessoas que tentaram atuar na área,
sem a devida instrução, tiveram problemas ao longo de
sua carreira. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!.

O Senso Comum e o Conhecimento


Científico
A busca pela compreensão do mundo e de seus fenômenos está
presente há milhares de anos nas sociedades humanas. A cada problema
enfrentado por essas sociedades, desde a necessidade de alimentar
os integrantes de um grupo social, até satisfazer as suas necessidades
espirituais, suscitavam a procura por um conhecimento que atendesse
às expectativas de superar esses problemas. Entretanto, no decorrer
da maior parte da história humana, a busca pelo conhecimento estava
delimitada pela crença de que todos os fenômenos existentes eram
“naturais” ou decorrentes da ação dos deuses, sem interferência dos seres
humanos. Ainda na atualidade, muito dessa percepção está presente no
que denominamos de senso comum.

Apenas a partir do período do Renascimento (século XVI) e,


principalmente, da emergência do Iluminismo (século XVIII) no continente
europeu, é que os fenômenos da natureza e sociais começaram a
ser problematizados, vistos como resultado de leis, comprovadas
empiricamente ou como inerentes da própria ação humana. Nesse
contexto, emergiu o que denominamos de conhecimento científico, que
procura explicar e analisar tanto os fenômenos naturais como a vida de
homens e mulheres em sociedade.
Aspectos Socioantropológicos 11

O Conhecimento como um Atributo do ser


Humano
Os seres humanos têm diversos comportamentos similares aos
dos animais. Como qualquer espécie animal, são capazes de se reunir,
conviver, competir, se acasalar e se reproduzir etc., sempre de acordo com
o meio ambiente em que vivem. Dessa forma, todas as espécies animais,
incluindo o ser humano, desenvolvem estilos próprios de comportamento,
permitindo que sobrevivam e se reproduzam, garantindo a existência
de sua espécie no planeta. Dessa forma, homens e mulheres adquirem
hábitos instintivos, ou seja, ações e reações que se desenvolvem de
forma espontânea, como é o caso de andar, respirar e se alimentar. Além
disso, homens e mulheres desenvolveram também genes hereditários
presentes em seu corpo que os tornam capazes de sentir medo, prazer,
frio e de expressar seus próprios sentimentos.

Entretanto, os seres humanos desenvolveram habilidades que não


estão presentes nas demais espécies animais, despertadas devido a
diferentes fatores, como as dificuldades impostas pela própria natureza
e as próprias particularidades da espécie humana. Assim, os grupos
humanos foram capazes de adquirir habilidades e comportamentos
culturais, ou seja, um conjunto de crenças, valores, padrões desses
comportamento, hábitos cotidianos e formas de organização do trabalho
que se desenvolvem coletivamente e são transmitidos de geração em
geração e se transformam, conforme a passagem do tempo.

Como um indivíduo que vive e pensa, de acordo com a sua cultura,


os seres humanos desenvolveram a capacidade de elaborar sistemas
simbólicos necessários para se comunicarem entre si e transmitirem toda
a sua bagagem de conhecimento por meio da socialização, que nada
mais é do que o convívio entre os indivíduos em um grupo social.
Mas, como podemos definir o conhecimento? O conhecimento pode
ser definido como o conjunto de toda a prática adquirida, cuja memória
e transmissão capacita o indivíduo a realizar as tarefas exigidas no seu
cotidiano. Quando um indivíduo age de acordo com a sua experiência de
vida, ele expressa a sua forma de conhecimento do mundo, aprendida
em um contexto social, mas que é assimilada de forma diferente pelo
ser humano. Nas mais variadas situações, os seres humanos aprendem
conhecimentos uns com os outros.
12 Aspectos Socioantropológicos

Figura 1 - Pai ensinando o filho a andar de bicicleta

Fonte: Pixabay

Ao longo de sua história, os seres humanos desenvolveram


diferentes formas de conhecimento. Entre elas, podemos citar o
conhecimento religioso, relacionado à busca da compreensão do
sentido da vida, das formas de encarar a inevitabilidade da morte e o que
poderia ocorrer após ela, a crença em divindades superiores aos seres
humanos que comandariam os fenômenos da natureza e da vida humana
e da necessidade de seguir determinados procedimentos morais para
conquistar a “salvação”, após a morte etc. Também temos o conhecimento
filosófico, que assim como o conhecimento religioso, também busca
uma compreensão do sentido da vida, mas de forma racional e lógica,
apesar de não prescindir de uma verificação empírica, como ocorre com
o conhecimento científico, cujas características veremos adiante.

Além destes, ainda temos outras duas formas de conhecimento


que norteiam a nossa visão de mundo, no caso o senso comum e o
conhecimento científico, ambos presentes no dia a dia da maior parte das
pessoas e que, muitas vezes, entram em conflito, embora estes também
possam, algumas vezes, se complementar.
Aspectos Socioantropológicos 13

VOCÊ SABIA?

Podemos definir religião (palavra originada do latim


religio, cujo significado era “respeito pelo sagrado”) como
um conjunto de crenças e práticas relacionadas à fé na
existência de uma ou mais divindades, que determina os
preceitos morais a serem seguidos por uma comunidade,
influenciando na visão de mundo. Diversas formas de
práticas religiosas estão presentes, na realidade, em todas
as civilizações humanas, desde o início de sua história. Já
a filosofia (palavra originada do grego philossophia, que
significa “amor ou amizade pela sabedoria) trabalha de forma
racional e lógica questões importantes para o ser humano,
como valores morais, estéticos, e do conhecimento em
suas mais variadas vertentes, mas sem ter a pretensão
de construir uma “verdade absoluta” sobre esses temas.
A origem da filosofia remonta ao século VI a.C., na Grécia
Antiga, quando alguns homens aspiraram construir um
conhecimento que se distinguisse tanto da religião (mais
precisamente, da mitologia) quanto do senso comum. Na
realidade, no pensamento grego, ciência e filosofia eram
duas instâncias que não se separavam. Apenas a partir do
Renascimento, entre os séculos XVI e XVII, que a ciência
passou a ter métodos e objetos de estudos específicos,
diferenciando-se assim da filosofia.

O Senso Comum
O senso comum corresponde ao conhecimento espontâneo,
aquele que é adquirido por meio das experiências cotidianas nas quais
se procura, autonomamente, resolver os dilemas de sua existência. Não
é um processo que se realiza individualmente, mas sim por meio da troca
de informações com os indivíduos e instituições com quem convive. Tais
conhecimentos também são adquiridos de forma hereditária por meio da
família, que passa de geração para geração.
14 Aspectos Socioantropológicos

Podemos delimitar as características principais do senso comum da


seguinte forma:

•• Ametódico e Assistemático - surge da tentativa dos seres


humanos resolverem seus problemas da vida cotidiana, não se
apresentando de forma sistemática, ou seja, organizada.

EXEMPLO:

O camponês aprende a cultivar a terra a partir das práticas de sua


família, esse conhecimento é transmitido de pai para filho.

•• Empírico: tem como base a experiência do dia a dia das pessoas,


de sua própria vivência.

•• Ingênuo: é um conhecimento acrítico, pois não se coloca como


problema, mas sim como algo “natural”, espontâneo e desprovido
de qualquer reflexão mais aprofundada. É construído, a partir de
uma observação que se prende apenas à aparência do fenômeno,
sem aprofundar uma reflexão sobre as suas causas.

Uma cozinheira sabe que, ao bater uma clara de ovo que ela ficará
esbranquiçada e crescerá, mas desconhece o porquê e como ela fica
dessa forma .

•• Aparente- está preso ao que é observável à primeira vista, o que


pode levar uma pessoa a conclusões equivocadas.

Para quem observa o céu sem telescópio, o Sol parece que gira em
torno da Terra, que aparentemente está estática, posicionada no centro
do Universo. Até o século XVI, a Igreja Católica referenciava tal teoria a
partir do senso comum das pessoas. Entretanto, o uso do telescópio e
os estudos realizados por Nicolau Copérnico (1473-1543) e Galileu Galilei
(1564-1642) desmentiram tal tese de forma científica, constituindo-se a
primeira mostra da oposição entre senso comum e ciência.

•• Fragmentário- não estabelece conexões entre conhecimentos


que poderiam ser complementares, impedindo que o indivíduo
tenha uma visão global de determinados fenômenos.
Aspectos Socioantropológicos 15

O homem comum é incapaz de estabelecer uma relação entre a


queda de um objeto com a lei da gravidade que rege o movimento dos
corpos no planeta.

•• Particular- parte do entendimento de um fenômeno específico


para fazer generalizações com pretensões de universalidade,
ou seja, o que acontece com um indivíduo também acontece da
mesma forma, para todos.

Se uma pessoa passou mal após comer manga, logo todas as


pessoas podem passar mal se comerem da mesma fruta.

•• Subjetivo - depende de juízos individuais a respeito das coisas,


muitas vezes com base em emoções e valores morais de uma
determinada coletividade e que, geralmente, não aceita opiniões
contrárias, impedindo a consolidação de uma visão sustentada no
princípio da alteridade.

O homem comum, geralmente, ao observar o comportamento de


outros indivíduos originários de outras culturas, tende a considerá-los
estranhos, perigosos, atrasados etc., pois só é capaz de julgar o outro a
partir dos valores de sua própria cultura.
Figura 2 - Jean Baptiste Debret (1768-1848) mostra a crueldade cometida contra os
escravos, no Brasil do século XIX, como algo natural

Fonte: Wikimedia
16 Aspectos Socioantropológicos

Devido a tais características, muitos consideram que o senso comum


seria um conhecimento limitado, precário, distorcido e, algumas vezes,
perverso. Por isso, muitos defendem que esse deve ser superado por
meio das formas consideradas mais sofisticadas de conhecimento, como
a filosofia e a ciência. Entretanto, outros acham que, ao desprezar o senso
comum, boa parte da população estaria sujeita à tutela dos “indivíduos
esclarecidos”, o que poderia estabelecer uma forma de dominação.

O Conhecimento Científico
Historicamente, o conhecimento científico é uma recente conquista
da humanidade. Sua origem remonta ao século XVII, inicialmente a partir
das descobertas e inovações do astrônomo italiano Galileu Galilei, tido
como o criador do método científico moderno. Também foram importantes
nesse processo, as contribuições do filósofo e matemático francês René
Descartes (1596-1650), criador do racionalismo cartesiano que pode ser
sintetizado pela famosa frase: “Penso, logo existo”, e pelo Iluminismo do
século XVIII.

Galileu Galilei foi o criador do moderno método científico, em meados


do século XVII. Entretanto, o cientista italiano enfrentou perseguições
promovidas pela Igreja Católica, que via em suas descobertas uma
ameaça aos seus dogmas.
Figura 3 – Galileu Galilei

Fonte: Wikimedia
Aspectos Socioantropológicos 17

O conhecimento científico caracteriza-se pela utilização de métodos


rigorosos, visando atingir um tipo sistemático de conhecimento, objetivo e
universal, capaz de analisar o objeto de estudo, identificar a regularidade
de um fenômeno, permitindo prever acontecimentos e planejar a ação
humana sobre a natureza.

Entre as principais características do conhecimento científico,


podemos citar as seguintes:

•• Particular - há diversos campos delimitados de pesquisa, com


seus próprios métodos que permitem um determinado campo
tornar-se uma disciplina específica.

EXEMPLO:

No campo das ciências, nós temos diversas disciplinas, como


a física, que estuda o movimento dos corpos; a química, cujo objeto é
análise da transformação dos elementos presentes nos corpos etc.

•• Geral - as conclusões de uma pesquisa não são válidas apenas


para os fenômenos observados nela, mas também para todos os
outros com os quais se assemelham.

EXEMPLO:

Quando uma pesquisa afirma que “a água é uma substância


composta de hidrogênio e oxigênio”, essa conclusão é válida para
qualquer porção de água, encontrada pelos seres humanos.

•• Regular- os cientistas ocupam-se em tentar identificar a


regularidade com que determinados fatos acontecem.

EXEMPLO:

Um astrônomo calcula a periodicidade em que ocorrem os eclipses


solares e como esses interferem no planeta.

•• Abstrato - o objeto de pesquisa, geralmente, é isolado para


a realização do estudo e as conclusões são utilizadas para a
elaboração de leis gerais que analisam fenômenos similares.
18 Aspectos Socioantropológicos

EXEMPLO:

A partir da observação da queda de uma maçã, o físico inglês Isaac


Newton (1643-1727) elaborou a teoria geral da gravidade.

•• Objetivo- qualquer cientista pode chegar às mesmas conclusões,


pois estas são construídas de forma racional e metódica, de forma
distanciada, o que evita a subjetividade.

EXEMPLO:

Independentemente da opinião subjetiva do cientista, os


movimentos dos astros podem ser explicados por meio de leis gerais e
imutáveis, consolidada na comunidade científica.

•• Linguagem Rigorosa - os diversos campos e áreas da ciência


utilizam conceitos precisos com o intuito de evitar dúvidas e
ambiguidades.

Entretanto, é importante enfatizar que tais características


correspondem às Ciências Exatas (matemática, física) e Naturais (biologia).
Já as Ciências Humanas (história, geografia, sociologia e filosofia) são mais
permeáveis a algum grau de subjetividade do pesquisador que relativizam
conclusões mais deterministas.

É Possível a Convivência entre Ciência e


Senso Comum?
A relação entre o conhecimento científico e o senso comum é
objeto de vários debates. Podemos considerar que, ao longo da história,
formaram-se dois grupos distintos. De um lado, aqueles que defendem
que a ciência é um conhecimento superior ao senso comum. Do outro,
aqueles que acreditam na possibilidade de estabelecer uma relação
entre cientificidade e senso comum, com um complementando o outro.

A defesa da superioridade da ciência sobre o senso comum surgiu


com o Iluminismo europeu do século XVIII. Os intelectuais iluministas
consideravam o senso comum um conhecimento irracional da realidade,
geralmente, manipulado pelos detentores do poder, na época, a
Monarquia Absolutista e a Igreja Católica. Já a ciência, um conhecimento
Aspectos Socioantropológicos 19

neutro, racional e lógico, desmascararia o caráter supersticioso do senso


comum, possibilitando o progresso da humanidade.

Tal entendimento ganhou força no século XIX, principalmente, com


o surgimento do Positivismo, que defendia não apenas a superioridade
da ciência em relação aos demais tipos de conhecimento, mas também a
considerava o único tipo de conhecimento válido e útil para a humanidade,
a única forma de investigar e conhecer a realidade e resolver todos os
empecilhos que impediam a humanidade de conquistar o tão desejado
progresso.

Entretanto, essa crença na infalibilidade da ciência começou a ser


questionada no século XX. As duas guerras mundiais demonstraram que
a ciência poderia, ao mesmo tempo, permitir à humanidade alcançar o
progresso tecnológico, mas a um preço bem alto: a mortandade de
milhões de pessoas, vítimas da utilização das inovações científica para
a fabricação de armas com capacidade destrutiva cada vez maior. Além
disso, muitos intelectuais passaram a valorizar a cultura popular, boa
parte dela embasada no senso comum, identificando no “culto à ciência”
uma forma de impor o poder de um determinado grupo social sobre os
demais. Segundo o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, se
a oposição entre ciência e senso comum era justificável nos séculos XVIII
e XIX, na atualidade não faz mais sentido, pois ao contrário dos séculos
precedentes, é possível popularizar o conhecimento científico, o que
poderia fazer o senso comum tornar-se mais crítico e menos receptivo
a crenças desprovidas de fundamentos racionais, lógicos e objetivos.
Assim, ciência e senso comum se tornariam complementares, deixando
de ser conhecimentos opostos.
20 Aspectos Socioantropológicos

NOTA:
Boaventura de Souza Santos nasceu em Coimbra, Portugal,
no ano de 1940. É especialista em Sociologia do Direito e
grande defensor da relação complementar entre ciência
e senso comum. Ativista, considera importante a atuação
dos movimentos sociais para a superação das crises da
atualidade. O sociólogo defende que o conhecimento
científico e o senso comum são complementares.

Figura 4 – Boaventura de Souza Santos

Fonte: Wikimedia

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o livro Uma


nova ciência para um novo senso comum (LOPES, 2012),
clicando aqui.
Aspectos Socioantropológicos 21

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudo? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que o conhecimento é um atributo do ser humano,
que o diferencia dos demais animais. Entre as diversas
formas de conhecimento, podemos citar o religioso, o
filosófico, o senso comum e o científico. Na atualidade,
persiste o debate sobre a relação do senso comum com o
pensamento científico. Para compreendermos tal debate,
vimos, inicialmente, as características mais marcantes
desses dois tipos de conhecimento e que a ciência
costuma se sobrepor ao senso comum, pois o primeiro é
um saber construído metodicamente, de forma rigorosa e
crítica, enquanto o segundo é influenciado pela vivência
do cotidiano, principalmente, das classes populares. Nas
últimas décadas, alguns intelectuais estão questionando
esse tipo de hierarquização, defendendo a importância de
estabelecer uma relação dialógica entre ciência e senso
comum para efetivar a popularização do conhecimento
científico.
22 Aspectos Socioantropológicos

As Ciências Sociais

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você entenderá que a sociedade


tornou-se um objeto do conhecimento científico, a partir do
Renascimento (século XVI), com a emergência da Ciência
Política, responsável pela desvinculação entre a política
e a ética, comuns nas análises filosóficas sobre o tema.
Em outras palavras, foi nesse contexto em que alguns
intelectuais procuraram analisar um fenômeno social,
a partir da própria dinâmica das relações reais entre os
homens, distanciando-se das especulações filosóficas ou
das justificativas religiosas, manipuladas pelo poder do alto
clero e dos monarcas absolutistas.

Entretanto, a solidificação das Ciências Sociais ocorreu apenas


entre a virada do século XVIII e no decorrer do século XIX, quando as
transformações sociais, políticas e econômicas decorrentes da crescente
hegemonia do modo de produção capitalista no mundo, instigaram
pesquisadores e intelectuais a analisarem, cientificamente, os aspectos
que influenciavam tais mudanças.

Influenciada pelas ciências já estabelecidas, como a física, a


matemática e as Ciências Naturais, as Ciências Sociais adaptaram métodos
dessas ciências para realizar as suas pesquisas e análises. Entretanto, no
decorrer do processo de seu desenvolvimento, tal metodologia começou
a ser questionada, abrindo o espaço para o desenvolvimento de métodos
próprios para a análise da vida em sociedade.

As Áreas das Ciências Sociais


As Ciências Sociais integram as Ciências Humanas, conjuntamente
com disciplinas como História, Geografia e Filosofia. Assim como elas,
as Ciências Sociais tem como objeto de estudo o ser humano, ou mais
precisamente, a vida em sociedade, na qual podem ser observados os
Aspectos Socioantropológicos 23

mais variados tipos de relações sociais. Tal estudo possibilitou que as


Ciências Sociais fossem divididas em três áreas que, geralmente, realizam
um intenso diálogo entre si, construindo uma forma de conhecimento
interdisciplinar que tanto caracteriza essa ciência que estuda o homem
em sociedade.

As três áreas das Ciências Sociais são: Ciências Sociais, Sociologia e


Antropologia, conforme veremos a seguir:

Ciência Política- tem como objeto de estudo e análise os sistemas


políticos existentes nas diversas sociedades espalhadas pelo planeta.
A origem da Ciência Política remonta, ao período do Renascimento
Cultural na Europa Ocidental do século XVI, inicialmente com filósofos
que decepcionados com a opressão de regimes políticos tirânicos,
identificados com as monarquias absolutistas, escreveram livros de ficção
que, partindo das instituições existentes, imaginavam uma sociedade
alternativa na qual o autoritarismo monárquico dava lugar para um mundo
sem tirania e desigualdades sociais. Entre as diversas obras fictícias da
época, teve destaque o livro A Utopia, do filósofo inglês Thomas Morus.

NOTA:
Thomas Morus (1478-1535) foi um filósofo e político inglês,
nascido em Londres. Foi autor de A Utopia, uma obra que
usava a ficção para criticar o sistema político existente na
época. Chegou a ser o principal conselheiro do rei Henrique
VIII. Entretanto, opôs-se ao divórcio do casamento entre o
monarca inglês e a rainha Catarina de Aragão e continuou
fiel à Igreja Católica, recusando-se a jurar fidelidade à
Igreja Anglicana, fundada por Henrique para desafiar o
poder do papa na Inglaterra. Acabou preso a mando do rei,
condenado à morte.
24 Aspectos Socioantropológicos

Figura 5 –Thomas Morus

Fonte: Wikimedia

Entretanto, coube ao filósofo e político italiano Nicolau Maquiavel


realizar as primeiras reflexões mais realistas sobre a política, contidas
principalmente no livro O Príncipe, que se tornou uma espécie de manual
de ação política, colocando como principal objetivo a conquista e a
manutenção do poder. Na obra, Maquiavel faz uma clara e precisa análise
sobre as bases de sustentação do poder político, ainda hoje considerada
básica para o estudo e pesquisa da da política. Muitos estudiosos
consideram O Príncipe como a obra que inaugurou a Ciência Política e
uma das primeiras (senão a primeira) que analisa um fenômeno social
por meio da própria realidade, afastando-se das questões relacionadas à
ética (comuns nas reflexões sobre a política por parte dos filósofos greco-
romanos) e à religião.
Aspectos Socioantropológicos 25

NOTA:
Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi um filósofo, político e
diplomata, nascido na cidade italiana de Florença. Suas
principais obras, como O Príncipe, foram escritas na época
em que estava exilado, devido a divergências com Lourenço
de Médici, o principal estadista e homem mais poderoso de
Florença. É considerado o fundador da Ciência Política.

Influenciada pelas ciências já estabelecidas, como a física, a


matemática e as ciências naturais, as Ciências Sociais adaptaram
métodos dessas ciências para realizar as suas pesquisas e análises.
Entretanto, no decorrer do processo de desenvolvimento das Ciências
Sociais, tal metodologia começou a ser questionada, abrindo o espaço
para o desenvolvimento de métodos próprios para a análise da vida em
sociedade.
Figura 6 –Nicolau Maquiavel

Fonte: Wikimedia
26 Aspectos Socioantropológicos

Sociologia - tem como objeto de estudo a sociabilidade (relações


sociais) e as estruturas sociais. Etimologicamente, a palavra sociologia
significa “estudo da sociedade” (socio – sociedade; logia – estudo). A
sociologia emergiu como uma ciência voltada para o estudo da sociedade
em meados do século XIX, inicialmente na França, com o Positivismo.
Na realidade, ela compunha uma das disciplinas do curso de filosofia
positivista, ministrados por Augusto Comte, e tinha como objetivo analisar
as transformações da sociedade naquele período, visando auxiliar, de
forma científica, as tomadas de decisão por parte do Estado que abrissem
caminho para o progresso. Veremos a história da sociologia no próximo
capítulo desta unidade.

NOTA:

Augusto Comte (1798-1857) foi um filósofo francês fundador


do Positivismo, cujo nome relaciona-se com o terceiro
estágio no qual acreditava que a humanidade deveria
chegar para alcançar o seu estágio de perfeição, o positivo.
Considerava que a humanidade só poderia alcançar
tal estágio se concentrasse esforços para conquistar o
progresso tecnológico. Mas, como haveria grupos que
fariam oposição a tal projeto, acreditava que apenas por
meio da ordem, imposta pelos detentores “esclarecidos”
do poder, seria possível alcançar o progresso desejado.
Muitos estudiosos atribuem a Comte a condição de
criador da Sociologia, inicialmente, uma das disciplinas da
filosofia positiva, cuja função era estudar, cientificamente,
a sociedade com o objetivo de identificar as “leis” que a
regeriam.
Aspectos Socioantropológicos 27

Figura 7 –Augusto Comte

Fonte: Wikimedia

Antropologia - a partir da etimologia da palavra (antro – homem;


logos – estudo), podemos definir a Antropologia como o estudo do
homem, ou tudo o que se refere ao humano. Como definiram Hoebel
e Frost (1981), a antropologia é “a ciência da humanidade e da cultura”.
A partir de tal conceituação, a Antropologia é uma disciplina que tem
como objetivo dar conta de todos os aspectos referentes às sociedades
humanas que não são nem biológicos, nem naturais, transmitidos por
meio da linguagem que constitui o seu universo simbólico.

Dessa forma, a Antropologia considera que a diversidade das


sociedades humanas pode ser explicada por meio da cultura, entendida
como o conjunto de valores e práticas, aprendidos na convivência social,
cuja configuração ocorre a partir das escolhas e experiências históricas,
vivenciadas pelas diversas comunidades, povos e civilizações.
28 Aspectos Socioantropológicos

As origens da Antropologia moderna remontam à Inglaterra,


da segunda metade do século XIX. Em um contexto marcado pelo
neocolonialismo, no qual as potências imperialistas europeias disputaram
o domínio de diversas regiões da África e da Ásia, a disciplina emergiu
com o objetivo de estudar e analisar os hábitos culturais dos povos não
europeus por meio de uma visão etnocêntrica, na qual a cultura europeia
era considerada “superior” às culturas “primitivas” e “selvagens” dos povos
do continente africano e asiático. Tal perspectiva foi fundamentada a
partir do conceito de cultura definido pelo antropólogo britânico Edward
Tylor. Influenciado pelo positivismo e pelo evolucionismo darwinista, Tylor
acreditava que o destino da humanidade era o progresso, mas esse só
seria alcançado pelas civilizações que se mostrassem mais “aptas” para o
desenvolvimento industrial, as “vencedoras” dessa seleção natural. Mas,
se tais ideias são questionáveis na atualidade, o antropólogo britânico
teve o mérito de conceber a cultura como um conjunto de crenças, arte,
moral, leis, costumes e qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos
pelo homem em sua convivência na sociedade.

NOTA:

Edward Tylor (1832-1917) foi um antropólogo britânico cuja


principal obra foi Cultura Primitiva, lançada em 1871, na qual
estabeleceu o conceito moderno de cultura, que influencia
a Antropologia até os dias atuais. Entretanto, ele concebia
as diferenças culturais como resultante dos diferentes
estágios evolutivos das civilizações, considerando a
civilização europeia superior às demais, como um “espelho”
de outras deveriam ser no futuro.
Aspectos Socioantropológicos 29

Figura 8 –Edward Tylor

Fonte: Wikimedia

IMPORTANTE:
O neocolonialismo foi uma nova fase do avanço colonial
das grandes potências europeias (Grã-Bretanha, Alemanha
e França), acrescidas de países industrializados emergentes
como os Estados Unidos e o Japão, que estabeleceram
colônias na África, Ásia e Oceania, com o objetivo de
conquistar mercados de matéria-prima para abastecerem
as suas indústrias e consumidores para os seus produtos
industrializados. O auge desse movimento ocorreu entre,
os anos de 1870 e 1914, uma das causas da I Guerra Mundial
(1914-1918). Nessa época, alguns estudos antropológicos,
de viés evolucionista, serviram como base ideológica
para justificar o avanço imperialista sobre tais continentes.
A Antropologia evolucionista justificava a exploração e o
domínio dos povos africanos e afrodescendentes pela
civilização europeia.
30 Aspectos Socioantropológicos

Figura 8 – Exploração e domínio dos povos africanos na visão de Jean Baptiste Debret
(1768-1848)

Fonte: Wikimedia

Os Objetos de Estudo das Ciências Sociais


e suas Metodologias de Pesquisa
Na área das Ciências Sociais, existem inúmeros conceitos,
interpretações, análises e referenciais teóricos, instrumentalizados
pelos pesquisadores, para a análise de seus objetos de pesquisa. Os
cientistas sociais propõem-se estudar realidades aparentes que, para
uma compreensão mais aprofundada, devem estar em um contexto
social mais amplo. Assim, o conhecimento construído pelo cientista social
é resultado da relação dialética entre as mais variadas formas que os
fenômenos sociais se apresentam na sociedade e a percepção individual
do pesquisador, composta pelo seu capital cultural, visão de mundo,
ideologia, entre outros aspectos.

O cientista social delimita o seu objeto de pesquisa a partir dos


seus próprios valores e concepções que marcam suas escolhas e
problematizações. A metodologia, as hipóteses e os objetivos da pesquisa
Aspectos Socioantropológicos 31

são escolhas individuais do pesquisador, influenciadas pelo seu contexto


social, compostas tanto por indagações presentes na sua própria vivência
quanto por temas relevantes para a comunidade a qual pertence. Em
outras palavras, é o próprio tempo presente que se impõe tanto como
critério como objeto da reflexão do cientista social, e a problemática,
as hipóteses e possibilidades de interpretação estão, diretamente,
relacionadas com o universo de cultura do cientista social. Assim, a
escolha do pesquisador em estudar um aspecto da realidade social (e
não outro) será feita a partir da perspectiva histórica do seu próprio tempo
e do seu lugar na sociedade.

Atualmente, há diversos temas relevantes pesquisados pelas


Ciências Sociais relacionados diretamente à sua vida cotidiana, como
a criminalidade, as questões de gênero, a sociabilidade, a juventude,
o envelhecimento, a violência doméstica, a religiosidade, a saúde e a
afetividade. As análises dessas diversas temáticas servem de subsídio para
a elaboração e planejamento de políticas públicas por parte do estado,
além de instigarem debates na sociedade por meio dos diversos meios
de comunicação, utilizados para a divulgação das pesquisas acadêmicas,
podendo influenciar o senso comum, tornando-o mais crítico.

VOCÊ SABIA?

Podemos citar o exemplo de uma pesquisa que procura


cumprir a sua função social, Juventude, juventudes: o que
une e o que separa, publicada em 2006, pela UNESCO (órgão
das Nações Unidas, dedicado a questões relacionadas à
educação e à cultura). Ela envolveu a participação de dez
mil jovens brasileiros de 15 a 29 anos, cujas informações
foram utilizadas para elaborar questões, hipóteses e
análises, relacionadas a gênero, escolaridade, região e
moradia. A pesquisa tinha como objetivo elaborar políticas
públicas relacionadas à juventude a partir de temas como
inclusão digital, religiosidade, lazer, sexualidade e trabalho.
Além disso, a pesquisa, disponibilizada para o público, foi
importante para alguns jovens analisarem, criticamente,
o seu próprio comportamento e experiência de vida. Para
mais informações, clique aqui.
32 Aspectos Socioantropológicos

Quanto às metodologias de pesquisa em Ciências Sociais, existem


dois tipos de abordagens:

A pesquisa quantitativa - tem como base a análise estatística,


utilizando gráficos, porcentagens, entre outros instrumentos matemáticos
para analisar tendências de comportamento, intenções de voto, opiniões
da sociedade.

Na pesquisa quantitativa, é necessário selecionar uma amostra


de um determinado grupo social (um porcentual de indivíduos a serem
entrevistados, cujo recorte deve ser elaborado, visando representar, em
escala menor, as principais características da totalidade dos indivíduos
do grupo).

A opção pelo método quantitativo de pesquisa exige que seja


utilizado um questionário como principal instrumento do pesquisador, que
deve ser elaborado com questões e alternativas para respostas objetivas.

EXEMPLO:

Na Sociologia, é considerada uma obra pioneira e exemplar


quanto à utilização do método quantitativo de pesquisa, a obra do
sociólogo francês Émile Durkheim, O Suicídio, publicado em 1897. O
autor utilizou dados estatísticos sobre o número de suicídios em vários
países europeus, durante um ano, comparando-os com o número total
de habitantes, estabelecendo uma taxa anual de suicídio para cada 100
mil habitantes. Por meio desses dados, Durkheim chegou à conclusão
de que o número de suicídios aumenta, nos anos de crise econômica,
comprovando a tese defendida por ele de que o suicídio é um fenômeno
social, decorrente da falta de normas sociais suficientes para evitar um
mal-estar insuportável ao indivíduo em um contexto, marcado pela falta
de emprego e, consequentemente, dinheiro para a subsistência.

A pesquisa qualitativa - a principal característica da pesquisa


qualitativa é o contato direto e pessoal do pesquisador com a comunidade
estudada, um método utilizado, inicialmente pela antropologia, que acabou
assimilado pelas demais Ciências Sociais. Entre as diversas técnicas,
destacamos a observação participante, na qual o pesquisador procura o
maior e mais próximo contato possível com o grupo social a ser pesquisado.
Aspectos Socioantropológicos 33

Por meio da inserção do pesquisador, no contexto social, objeto da


pesquisa, torna-se possível para ele identificar as diversas maneiras de
agir, sentir e pensar daquele grupo social. Muitas vezes, chega-se ao ponto
do pesquisador assimilar os hábitos socioculturais daquele grupo social,
afastando-se de uma visão etnocêntrica preconcebida e, muitas vezes,
preconceituosa, adotando uma perspectiva de alteridade diante do objeto
pesquisado. Além disso, a convivência próxima do pesquisador, geralmente,
proporciona que ele, com o tempo, seja recebido com naturalidade pela
comunidade, facilitando ainda mais o processo de pesquisa.

Para utilizar tal método de pesquisa, o pesquisador deve adotar


alguns procedimentos, como se preparar, teoricamente, para ter a
percepção do que realmente irá observar e elaborar hipóteses referentes
a possível conclusões que ele pode chegar no final da pesquisa. Sem tal
preparo, a probabilidade da pesquisa mostrar-se insuficiente e infrutífera
é enorme.

Outro procedimento básico para a realização de uma pesquisa


qualitativa é a utilização de um diário de campo, no qual o pesquisador
irá anotar todas as experiências e impressões adquiridas no processo de
convivência com o grupo social pesquisado. Tais anotações servem como
autêntica matéria-prima para a realização da análise do pesquisador.

EXEMPLO:

Para a realização de uma pesquisa qualitativa sobre a relação dos


jovens com a política, o pesquisador deve, inicialmente, fazer um recorte
no qual define o campo a ser pesquisado (o local da pesquisa, que
poderia ser um shopping center ou a saída de uma escola) e se haverá
mais de um campo no qual os dados serão levantados (importante,
se o pesquisador quiser analisar as diferenças de opinião a partir das
perspectivas de classe social, faixa etária, etnia etc.). Entretanto, não se
deve iniciar a pesquisa, sem antes estabelecer as hipóteses e os objetivos
que o pesquisador deseja alcançar. É apenas no final da pesquisa, e não
antes, que o pesquisador terá a certeza de que as hipóteses e os objetivos
estabelecidos foram confirmados e alcançados.
34 Aspectos Socioantropológicos

Figura 9 – Pesquisas em Ciências Sociais

Fonte: Pixabay

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo


Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em
Ciências Sociais (LOPES, 2012), clicando aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo
o que vimos. Você viu que as Ciências Sociais se originaram
no período do Renascimento cultural e artístico europeu
(século XVI), mas que ganhou um impulso, principalmente,
em um contexto marcado por intensas transformações
sociais, decorrentes do avanço do capitalismo industrial
(século XIX). As Ciências Sociais são compostas por três áreas:
a Ciência Política (cujo objeto de pesquisa são as relações, as
estruturas e as instituições políticas), a Sociologia (que analisa
a vida em sociedade) e a Antropologia (estuda os aspectos
culturais dos mais variados grupos sociais). Na atualidade, as
Ciências Sociais desenvolvem pesquisas nos mais variados
temas, considerados relevantes para a vida cotidiana como
questões, envolvendo as relações entre as classes sociais,
gênero, etnias, violência e boa parte destas servem como
subsídio para o planejamento de políticas públicas. Tais
pesquisas são desenvolvidas por meio de dois tipos de
métodos: o quantitativo (levantamento de dados estatísticos)
e qualitativo (pesquisa de campo). Mas, independentemente,
da metodologia adotada, o que prevalece nas Ciências Sociais
é o rigor com o qual as pesquisas devem ser desenvolvidas,
visando atender às suas expectativas.
Aspectos Socioantropológicos 35

A História da Sociologia

OBJETIVO:

Nesse item você verá o contexto histórico no qual o


desenvolvimento do conhecimento sociológico ocorreu e
será fundamental para o exercício de sua profissão docente.
As pessoas que tentaram atuar na área, sem a devida
instrução, tiveram problemas ao longo de sua carreira.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!.

Reflexões sobre a vida social são tão antigas quanto a própria


humanidade. Entretanto, a Sociologia, como uma área delimitada do
conhecimento científico, só emergiu na Europa de meados do século
XIX. Para compreender esse processo, é necessário entender o amplo
quadro de mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorreram no
continente europeu, com implicações em todo planeta, a partir do século
XVI, e as correntes de pensamento filosófico que se tornaram a base
ideológica da modernidade – o racionalismo, o empirismo e o Iluminismo.

Nesse período, a Europa passou por um contexto marcado pela


instabilidade, representada nas diversas formas de crises (econômica,
social, cultural, religiosa e moral). Foi em meio a essa turbulência que
surgiu a Sociologia, um modo de interpretar o “caos”, vivenciado por uma
sociedade em constante processo de transformação.

Os Antecedentes Intelectuais da Sociologia


Até o século XVIII, a maioria dos campos de conhecimento
eram considerados integrantes dos grandes sistemas filosóficos, uma
tradição que vinha desde a Antiguidade greco-romana. A constituição
do atual conceito de ciência e da constituição de disciplinas específicas
do conhecimento ocorreram em um contexto, marcado por intensas
transformações, vivenciadas na Europa que contribuíram para mudar essa
concepção de longa duração.
36 Aspectos Socioantropológicos

Um dos momentos importantes de tal processo foi a Reforma


protestante, iniciada no século XVI, pois tal movimento contestou a
autoridade da Igreja Católica que monopolizava a interpretação dos textos
sagrados e a absolvição dos pecados dos fiéis. Na realidade, o movimento
iniciado pelo monge agostiniano alemão Martinho Lutero deslocou
para o indivíduo a responsabilidade pelos seus próprios atos e por sua
consciência diante deles, um aspecto importante para a disseminação do
individualismo e da concepção de que o destino do homem depende de
si mesmo, e não da “vontade divina” ou das “forças da natureza.”

NOTA:

Martinho Lutero (1483-1546) foi um monge agostiniano


alemão que se opôs às práticas e dogmas da Igreja
Católica de sua época, condenando principalmente a
venda de indulgências, ou seja, a compra do perdão dos
pecados (segundo a Igreja, poderia ser concedido pelo
clero católico) por parte de homens ricos, arrependidos de
seus atos. Lutero foi o precursor do princípio de que a fé em
Deus é manifestada de forma individual, no qual o próprio
indivíduo é responsável tanto por suas atitudes como pelo
verdadeiro arrependimento dos pecados cometidos.

Figura 10-Martinho Lutero

Fonte: Wikimedia
Aspectos Socioantropológicos 37

Dessa forma, fortaleceram-se as concepções que começaram a


ter relevância entre os intelectuais do Renascimento cultural e artístico,
cujo processo histórico ocorria, quase concomitantemente, com o início
da Reforma protestante. Emergia assim o racionalismo, a crença de que
a razão é capaz de captar as dinâmicas existentes no mundo material,
abalando as velhas crenças que sustentavam o poder da Igreja Católica
e das monarquias absolutistas europeias. Com essa base, tornou-se
possível o surgimento do empirismo e do racionalismo cartesiano, além
do avanço das ciências experimentais. Com isso, alicerçavam-se os
princípios da ciência moderna.

Nesse processo, no século XVIII, tivemos o surgimento do movimento


filosófico conhecido como Iluminismo, no qual um de seus princípios
era a confiança na razão e no conhecimento como impulsionadores do
progresso da humanidade, possibilitando a conquista definitiva da natureza
pelo homem, essencial para a conquista da felicidade universal e terrena.
Tal perspectiva possibilitou um enorme impulso para a investigação e a
interpretação da realidade social. É importante ressaltar que o Iluminismo
tornou-se a base ideológica da burguesia europeia, que acreditava no
racionalismo como instrumento para trazer ordem ao mundo, superando
a desordem e o atraso resultantes da dominação do Antigo Regime,
sustentado pelas elites decadentes, compostas pelo alto clero católico e
pela nobreza. Para os iluministas e burgueses que apoiavam o movimento,
seria possível, com a vitória dos valores iluministas, educar as massas
(cuja maioria era relegada pela antiga ordem ao analfabetismo) e tornar
todos os seres humanos, independente da classe social, bons e iguais.

A busca por explicações realistas, racionais e concretas sobre a


origem, a natureza e os possíveis rumos de uma sociedade em constante
processo de transformação fez com que temas como a liberdade, a moral,
as leis, o direito, as obrigações, a autoridade e a desigualdade social
fossem importantes objetos de pesquisa por parte de diversos filósofos
iluministas que tornaram-se precursores do pensamento sociológico.
38 Aspectos Socioantropológicos

NOTA:

Entre os filósofos iluministas, podemos citar dois que


influenciaram o conhecimento sociológico: o Barão de
Montesquieu (1689-1755) que utilizou dos seus próprios
conhecimentos históricos e de dados empíricos para
fundamentar a validade de suas teses sobre os sistemas
políticos e a necessidade de dividir os poderes para aplacar
o poder absoluto dos reis, o que resultou na teoria da divisão
desses poderes em três instâncias (Executivo, Legislativo
e Judiciário). Também, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
pioneiro na análise das causas da desigualdade social
presentes na obra Discurso sobre a desigualdade, na qual
atribui ao conceito de propriedade privada, a causa principal
das diferenciações entre as classes sociais. Rousseau, ao
abordar tal temática, influenciou, posteriormente, a Sociologia.

Figura 11- Jean-Jacques Rousseau

Fonte: Wikimedia
Aspectos Socioantropológicos 39

As Transformações Sociais Decorrentes da


Revolução Industrial
A emergência do conhecimento científico foi importante para a
introdução de diversas inovações tecnológicas, inicialmente na Grã-
Bretanha, que estimularam e impulsionaram importantes transformações
sociais em um processo que ficou conhecido como Revolução Industrial,
que instigaram o surgimento da Sociologia, cuja proposta inicial era,
justamente, analisar e compreender, cientificamente, tais transformações.

No decorrer do século XVIII, diversas invenções estimularam a


produção da indústria manufatureira britânica que, desde meados do
século XVII, passava por um processo de crescimento, decorrente da
conquista do monopólio do comércio internacional de tecidos por parte
da Grã-Bretanha. Entre estas invenções, podemos citar a lançadeira,
construída por John Kay, em 1733; o tear mecânico, inventado por John
Kay e Lewis Paul, em 1738; e a máquina a vapor, criada por James Watt,
entre os anos de 1761 e 1768. Inicialmente, tais inovações multiplicaram
a capacidade de produção da indústria têxtil britânica que seriam
adaptadas para outros ramos da produção industrial e, em meados do
século XIX, para os meios de transporte e comunicação, possibilitando
que o comércio se tornasse, cada vez mais globalizado, importante para
o avanço do modo de produção capitalista, sob a hegemonia do capital
industrial, por todo o planeta.

Esse avanço do modo de produção capitalista desestruturou a


ordem social tradicional da Europa Ocidental de forma rápida, profunda e
intensa, influenciando transformações nas bases da vida cotidiana, material
de todos os indivíduos em todos os seus aspectos, abalando crenças e
princípios morais, religiosos, jurídicos e filosóficos que sustentavam o
Antigo Regime. O feudalismo e sua ordem social apoiada no princípio
da ordem “natural e divina”, presente nos estamentos (a forma como a
sociedade francesa era dividida hierarquicamente desde a Idade Média),
nos quais estavam garantidos os privilégios da nobreza e do alto clero
que mantinham sua posição por meio do seu monopólio do exercício
do poder político (no qual a emergente burguesia estava excluída) e na
40 Aspectos Socioantropológicos

servidão dos camponeses, vigente desde o período medieval, desabou


rapidamente com as revoluções inglesas de meados do século XVII e,
principalmente, com a Revolução Francesa, ideologicamente influenciada
pelo Iluminismo, no final do século XVIII, movimento propagado por toda
a Europa por meio das guerras napoleônicas (1799-1815).

Uma nova ordem social emergiu, a partir das ruínas do feudalismo.


Nas primeiras décadas do século XIX, já eram perceptíveis as mudanças
na paisagem das cidades europeias. Surgiram grandes fábricas cujas
chaminés começaram a despejar fumaça pelos céus e que empregava
uma mão de obra relegada ao desalento com o desaparecimento das
antigas propriedades comunais, obrigadas a abandonar o campo e
migrar para as cidades para garantir a sua sobrevivência, além de serem
obrigados a trabalhar nas fábricas para evitar punições severas previstas
por leis, redigidas pela nova classe dominante: a burguesia. Assim, nas
grandes cidades europeias, enquanto as famílias burguesas começavam
a ostentar o seu poder e riqueza em mansões e palacetes, construídos
nas partes centrais de Londres e Paris, uma nova classe, o proletariado
(também conhecido como classe operária ou classe trabalhadora)
começava a morar em bairros periféricos, desprovidos de higiene e
saneamento básico, tornando-se vulneráveis a todo tipo de doenças.
Além disso, a classe operária estava sujeita à fome, devido aos baixos
salários pagos pelos proprietários das fábricas, além de serem obrigados
a exercer longas jornadas de trabalho em um ambiente insalubre, que
chegava a 12 e até 16 horas diárias. A tais precárias condições de trabalho
estavam sujeitos não apenas os homens, mas também mulheres e
crianças, que recebiam salários menores do que os já baixos salários
dos homens. Muitas vezes, todos os membros de uma família proletária
empregavam-se nas fábricas para obterem rendimentos que garantissem
o mínimo para a sua sobrevivência.
Aspectos Socioantropológicos 41

EXPLICANDO MELHOR:

Os efeitos contraditórios das transformações sociais,


vivenciadas na Europa no decorrer do século XIX, podem
ser percebidos, a partir de alguns dados referentes à
expectativa média de vida na França. Enquanto apenas 7%
da população tinha a expectativa de chegar aos 60 anos,
nas primeiras décadas do século XIX, 44% da população
tinha a expectativa de chegar apenas aos 20 anos.

Figura 12 – A casa de uma família proletária

Fonte: Wikimedia

Houveram também mudanças profundas, nos aspectos culturais


da emergente sociedade burguesa europeia do século XIX. O antigo
patriarcalismo começou a ser questionado pelas mulheres (inicialmente,
nas famílias burguesas) que começaram a reivindicar por direitos
sociais mais igualitários e justos em relação aos homens. Além disso,
as crianças foram reconhecidas como seres humanos em formação, e
não mais como adultos em miniaturas que deveriam auxiliar os adultos
nas tarefas cotidianas, algo que impulsionou mudanças profundas na
42 Aspectos Socioantropológicos

área da educação. Há que se destacar, também, que com relação aos


casamentos, os indivíduos das elites foram conquistando autonomia para
tentarem concretizar o seu imaginário de “amor romântico”, ou seja, de
contraírem matrimônio com as pessoas que eles escolhessem e pelas
quais teriam afeto, não aceitando mais, passivamente, a velha tradição
dos casamentos combinados pelos pais, visando à manutenção das
riquezas e do status social.

Foi nesse contexto de intensas transformações sociais, nas mais


variadas áreas da vida cotidiana, que impulsionaram estudos e análises
que permitiram o surgimento da ciência cujo objeto é, justamente, as
relações sociais e as mudanças decorrentes destas: a Sociologia.

Os Primórdios da Sociologia
As origens da Sociologia tiveram ligação direta com o ativismo
político de Claude Henri de Rouvroy, o conde de Saint-Simon. Ele foi
um dos primeiros a fundamentar uma análise da sociedade, a partir dos
conflitos entre as classes sociais. Uma de suas principais obras, Parábola,
publicada em 1819, apontava que a nova sociedade moderna (capitalista),
na França, era marcada pelos conflitos entre o que denominava de
“classe industrial”, que segundo o autor era formada pela junção entre
a burguesia industrial e a classe operária, que seriam o conjunto de
produtores, e a elite ociosa, formada pela nobreza, alto clero e a alta
burocracia estatal. Para Saint Simon, a “classe industrial” representava o
”progresso”, enquanto a elite ociosa era o atraso e o retrocesso, uma forte
barreira para o desenvolvimento de seu país. Para ele, o destino já havia
reservado a vitória para a “classe industrial”, que voltaria toda sua produção
de indústria e agrária para a satisfação das necessidades de todos os
membros da sociedade. Assim, todos deveriam cooperar para a felicidade
social, enquanto os ociosos deveriam ser excluídos da sociedade. Mais
tarde, Saint Simon reviu algumas de suas posições, uma delas a fé na
burguesia industrial, rebaixada para a classe ociosa, enquanto apenas os
trabalhadores teriam condições de assegurar o progresso social.

Tal concepção era a base, segundo Saint Simon, de uma nova


ciência: a Fisiologia Social. O objeto de estudo deveria ser a ação humana
que, incessantemente, transforma o meio social, enquanto a metodologia
Aspectos Socioantropológicos 43

de pesquisa deveria ser o método positivo, trazido das Ciências Físicas


e Naturais. A base da sociedade seria a produção material, a divisão
do trabalho e a propriedade privada, enquanto as vidas individuais
corresponderiam a meras engrenagens cuja função era contribuir para o
progresso da humanidade.

A Fisiologia Social de Saint-Simon, portanto, era uma ciência social


“positiva”, cuja principal tarefa seria revelar as leis do desenvolvimento
da história da sociedade, algo de suma importância para organizar,
racionalmente, a vida social.

NOTA:

Claude Henri de Rouvroy, mais conhecido como conde


de Saint-Simon (1760-1825), foi um filósofo e economista
francês socialista, que teve grande atuação na cena política
francesa por um longo período, que vai da Revolução
Francesa até a restauração Bourbon. Sua obra influenciou
duas correntes antagônicas do conhecimento social: o
positivismo e o materialismo histórico.

Figura 13 – O conde de Saint-Simon

Fonte: Wikipedia
44 Aspectos Socioantropológicos

A Fisiologia Social de Saint-Simon foi a base do que seria a


Sociologia, termo utilizado pela primeira vez, por Augusto Comte. para
designar a disciplina do positivismo, dedicada ao estudo da sociedade. Na
realidade, Comte havia sido secretário de Saint-Simon e, posteriormente,
acabou usando muitas de suas ideias para elaborar os fundamentos da
filosofia positivista. Entretanto, Comte deu um viés mais conservador aos
conceitos, elaborados inicialmente por Saint-Simon. Isso foi decorrente do
fato de que o criador do positivismo considerava que a sociedade de sua
época vivia um tempo turbulento de caos e desordem que, fatalmente,
impediria o progresso da sociedade francesa. Assim, fazia-se necessária
uma autoridade que defendesse o coletivo, que colocasse seus interesses
acima do indivíduo e de seus desejos, considerados mesquinhos. Em
outras palavras, que uma autoridade disposta a impor a “ordem” em prol
do “progresso”.

A Sociologia de cunho positivista considerava que as diversas


sociedades poderiam ser classificadas em estágios diferentes de
progresso, com algumas delas, sobressaindo-se às outras. Tais aspectos
foram reforçados por meio da influência do evolucionismo, com base
nas descobertas do britânico Charles Darwin e sua Teoria das Espécies.
Ele defendia a existência de estágios diferentes de desenvolvimento
dos animais, com os mais “aptos” sobrevivendo às dificuldades impostas
pela natureza, enquanto os demais encontravam maiores barreiras para
sobreviverem em um ambiente hostil. Um dos sociólogos que ficaram
marcados pela miscigenação entre positivismo e evolucionismo foi o
britânico Herbert Spencer, considerado um dos principais difusores
do chamado darwinismo social que se tornou a base para justificar
injustiças e barbaridades sobre os povos da Ásia e da África, cometidas,
descaradamente, pelas grandes potências industriais.

NOTA:

Herbert Spencer (1820-1903), sociólogo britânico,


influenciado pelo positivismo comteano e pela teoria
evolucionista darwinista, mesclando as duas escolas
em uma teoria social que teve relevância no século XIX,
denominada “darwinismo social”, usado muitas vezes para
justificar a política imperialista das nações industrializadas.
Aspectos Socioantropológicos 45

Figura 14 – Herbert Spencer

Fonte: Wikimedia

A partir do final da década de 1840, em um contexto marcado pelas


revoluções sociais que ocorreram em boa parte da Europa, em 1848, uma
nova abordagem de análise da sociedade, mais crítica quanto à realidade
social do capitalismo industrial e reivindicando o status de ciência, emergiu
dos trabalhos conjunto dos filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels,
conhecido como materialismo histórico dialético. Tal teoria é considerada
pelos sociólogos como uma das abordagens clássicas da disciplina,
ao lado do funcionalismo e do método compreensivo. Veremos mais
detalhadamente o materialismo histórico e as demais teorias clássicas da
Sociologia.

Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do XX, a Sociologia


tornou-se uma disciplina acadêmica, conquistando, oficialmente, a
condição de conhecimento científico. Nesse processo, foram importantes
as contribuições do sociólogo francês Émile Durkheim, seguidor do
positivismo e fundador da Escola Funcionalista, e do alemão Max Weber,
criador do Método Compreensivo, que com o Marxismo, como também
é conhecido o materialismo histórico, constituem as teorias clássicas da
Sociologia.
46 Aspectos Socioantropológicos

No decorrer do século XX e início do XXI, a Sociologia vem


contribuindo para a compreensão e análise de diversas questões complexas
que estão presentes na sociedade moderna. Mas, tais contribuições não
se restringem à teoria, pois as hipóteses e considerações, produzidas em
inúmeros trabalhos, auxiliam diversos agentes sociais no planejamento
de suas ações e na busca de resoluções e compromissos, visando a
construção de uma sociedade mais justa e solidária.

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo O


futuro das Ciências Sociais – A sociologia em questão
(LOPES, 2012), clicando aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudo? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir
tudo o que vimos. Você viu alguns aspectos da história da
Sociologia. Vimos que o conhecimento científico sobre a
sociedade passa a ser buscado em um contexto de intensas
transformações econômicas, sociais e culturas na Europa
e, posteriormente, no mundo, decorrente da expansão
do modo de produção capitalista. A partir do século XVIII,
com o Iluminismo, alguns pensadores como Montesquieu
e Jean-Jacques Rousseau fizeram reflexões sobre a
sociedade europeia, relacionadas à concentração do poder
nas mãos da monarquia e as causas da desigualdade social.
Já no início do século XIX, com a Revolução Industrial, a
constituição da ordem social burguesa, sob as ruínas do
mundo feudal, estimulou intelectuais como Saint-Simon
a refletirem sobre o contexto social, visando encontrar
caminhos para construir uma sociedade mais condizente
com a modernidade que emergia no horizonte. As ideias
de Saint-Simon influenciaram diversas teorias sociológicas,
como o positivismo e o materialismo histórico dialético.
Outras teorias sociológicas de impacto da época foram
o darwinismo social e o já citado materialismo histórico,
que com o funcionalismo e o método compreensivo,
constituem as teorias clássicas da Sociologia.
Aspectos Socioantropológicos 47

O Surgimento da Sociologia Educacional

OBJETIVO:

Chegamos ao quarto item desta unidade. Nela você será


capaz de refletir sobre a contribuição do conhecimento
sociológico para a análise do papel da educação na
sociedade contemporânea. Isso será fundamental para
o exercício de sua profissão docente. As pessoas que
tentaram atuar na área, sem a devida instrução, tiveram
problemas ao longo de sua carreira, pois tiveram dificuldade
de compreender a influência da realidade social em sua
prática pedagógica. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então vamos lá. Avante!.

A Educação é um dos principais objetos de pesquisa da Sociologia,


desde o seu surgimento como conhecimento científico. Os teóricos
clássicos da disciplina (Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx) abordaram
o tema, apesar de apenas Durkheim ter realizado estudos específicos que
resultaram em obras consideradas pioneiras do que seria denominada
Sociologia Educacional.

Na realidade, como o ser humano capacita-se a exercer inúmeras


atividades, além de formar a sua consciência e de tornar-se um ser
social, por meio da educação, ela tornou-se um objeto prioritário tanto de
pesquisas quanto de projetos com o objetivo de reproduzir ou transformar
hábitos culturais da sociedade. Entretanto, na sociedade capitalista, a
educação foi direcionada para a formação de mão de obra para o mundo
do trabalho, e boa parte dos sociólogos concebem uma educação que
vá além dos interesses do capital, tendo como objetivo a formação plena
do cidadão, observando, principalmente, os aspectos relacionados à
capacidade do indivíduo conviver em uma sociedade, cada vez mais,
diversificada e complexa.
48 Aspectos Socioantropológicos

Figura 15 – Educação e sociedade

Fonte: Pixabay

Émile Durkheim: O Ideólogo da Educação


Émile Durkheim deu uma atenção especial à educação em sua
obra. Foi o primeiro autor a afirmar que a educação é um processo social,
e, como tal, deve ser objeto de estudo e análise da Sociologia. Não por
acaso, Durkheim é considerado o fundador da Sociologia da Educação.
Para o sociólogo francês, o sistema educacional tem a função de
perpetuar os valores da coletividade. Em outras palavras, a educação deve
integrar os indivíduos à sociedade, convencendo-os de que devem seguir
as normas determinadas por ela. Dessa forma, a educação teria como
função a perpetuação da ordem social, reproduzindo essa organização
para as novas gerações. Assim, a escola teria um papel tanto de formar as
crianças como de impedir o caos social (denominada por ele de anomia)
que ameaça a coesão social. Nas palavras de Durkheim (apud LOPES,
2012, p.6):
Aspectos Socioantropológicos 49

“A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança um


certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a
sociedade no seu conjunto e o meio ao qual se destina particularmente”.

Percebe-se aqui uma forte influência do positivismo, do qual


Durkheim, como já colocado, era um seguidor e continuador das teorias
de Augusto Comte.

Durkheim defende que a escola deve ser pública e laica, embora


não seja contrário às iniciativas privadas na área, mas desde que estejam
submetidas aos interesses da sociedade, representados pela ação
do estado. Max Weber e Karl Marx abordaram o tema, apesar de que
apenas Durkheim realizou estudos específicos que resultaram em obras,
consideradas as pioneiras do da Sociologia Educacional.

A educação, segundo Durkheim, deve atuar para a consolidação da


coesão social, enfatizando na mediação de conhecimentos relacionados à
formação moral, à qualificação profissional e à aprendizagem da estrutura
social e o papel que o indivíduo deve exercer nessa engrenagem social,
ou seja, o indivíduo deve se submeter aos interesses da sociedade.

Para Durkheim (apud LOPES, 2012, p.6), a educação é uma ação


exercida pelos pais e professores sobre a criança, que deve ocorrer de
forma ininterrupta, formando-a tanto como indivíduo quanto como um ser
social, embora o principal foco seja “perpetuar e reforçar a homogeneidade
entre os membros de uma sociedade, fixando com antecedência na alma
da criança as similitudes que a vida coletiva exige”. Assim, a educação é
um processo ininterrupto de socialização do indivíduo, com a finalidade de
fazer do aluno um ser realmente humano, pois para o sociólogo francês,
um homem só é plenamente humano se for um ser social. Entretanto,
isso não o deve afetar a sua formação como um indivíduo com interesses
particulares, pois indivíduo e sociedade se complementam, na visão do
fundador da sociologia funcionalista.

O sistema educacional, proposto por Durkheim, deve ser


meritocrático, no qual as individualidades mais capacitadas são premiadas.
Além disso, a educação, a partir de certa idade, não deve ser a mesma
para todos, deve ser direcionada a partir daí para a especialização, visando
50 Aspectos Socioantropológicos

a formação do aluno para uma sociedade, marcada pela divisão social do


trabalho, na qual esse irá ser formado nas profissões que a sociedade
mais necessita. Segundo Durkheim (apud LOPES, 2012, p.7):

“É a sociedade que, para poder subsistir, precisa que o trabalho


se divida entre os seus membros [...]. É por isso que prepara com suas
próprias mãos, pela via da educação, os trabalhadores especializados de
que precisa.”

O papel do professor, segundo Durkheim (LOPES, 2012, p.7), é


representar os interesses da sociedade, interpretando e transmitindo
“as grandes ideias morais do seu tempo e de seu país”. Entretanto, tais
ideias variam, conforme o contexto histórico, sofrendo mudanças com a
passagem do tempo. Para ele, educação e pedagogia são coisas distintas.
A primeira é a relação entre os educadores (pais e professores) e as
crianças, que deve ser voltada para a formação das novas gerações nas
normas sociais, visando a sua integração e a consequente reprodução
dos valores hegemônicos de uma determinada sociedade. Já a segunda,
seria a reflexão sobre os fatos que envolvem a educação, como uma
ciência que deve contribuir para o próprio desenvolvimento do processo
educativo.

IMPORTANTE:

A Sociologia Educacional de Émile Durkhein influenciou


as práticas pedagógicas, consideradas tradicionais e
que ainda estão presentes em várias salas de aulas, em
diversas partes do mundo. A disposição das carteiras em
fileiras e a postura do docente como “mestre do saber”,
hierarquicamente superior aos alunos, são exemplos de
uma organização do espaço escolar, influenciada pelas
perspectivas durkheimianas.
Aspectos Socioantropológicos 51

Figura 16 – A sala de aula tradicional

Fonte: Wikimedia.

Karl Marx: A Educação como meio de


Conformação e Transformação Social
Karl Marx, diferentemente de Émile Durkheim, não escreveu
nenhuma obra, especificamente, sobre educação, mas abordou o tema ao
longo de suas obras críticas em relação à sociedade capitalista. Segundo
o materialismo histórico dialético, a educação faria parte da superestrutura
da sociedade (assim como a política, a cultura e a legislação) como um
instrumento de legitimação do modo de produção capitalista, de sua
divisão social do trabalho e de formação de mão de obra. Além disso, ela
teria, também, a função ideológica de legitimar e transmitir a ordem social
capitalista, com a escola exercendo um papel central nesse processo.

Na sociedade burguesa, o professor assumiria o papel de transmitir


a ideologia das classes dominantes para os alunos, principalmente, os
da classe operária, que acabariam formando uma “falsa consciência
de classe” ao assumir para si os valores burgueses, considerando a sua
própria exploração algo “natural”.
52 Aspectos Socioantropológicos

Para romper com tal quadro de coisas -algo que só seria possível,
segundo o materialismo histórico, apenas por meio da revolução socialista
que colocaria um fim na história do capitalismo - e transformar o sistema
educacional de instrumento de dominação de classe para um mecanismo
de emancipação social, Marx sugere algumas medidas importantes que
deveriam ser tomadas. São elas:

•• Educação pública e gratuita para todos - a educação se tornaria


um direito dos cidadãos, ou seja, qualquer homem ou mulher
poderiam ter acesso a ela nas escolas, mantidas pelo Estado, sem
nenhum custo para as famílias. Curiosamente, essa reivindicação
marxista acabou assimilada-e adaptada, de acordo com o espírito
conservador do positivismo- por Émile Durkheim, comum em
quase todos os países a existência de um sistema educacional no
qual a escola tem gratuidade e universalidade.

•• Educação voltada para a formação do indivíduo como um


trabalhador - para Marx, é a partir do trabalho que o homem
construiu a sociedade e, dessa forma, tal atividade tem uma
centralidade na história humana. Pensando na superação do
capitalismo e a constituição de uma sociedade socialista, o
pensador alemão concebeu uma formação integral do aluno
que abrangeria três aspectos: 1 - a educação intelectual
(historicamente, restrita às elites, até então); 2 - a educação
corporal (a Educação Física, composta por exercícios de ginástica
e até exercícios militares); 3 - a educação tecnológica, o ensino
da ciência, da produção industrial e iniciação ao manuseio de
máquinas, utilizadas na produção industrial. Nesse modelo de
educação, todos seriam capacitados para exercer mais de uma
profissão, rompendo-se a barreira que existia entre o trabalho
intelectual e o manual, um dos fatores que estabeleciam a divisão
social do trabalho e a sociedade de classes. Paradoxalmente, esse
foi outra proposta de origem marxista que acabou assimilada pelo
sistema educacional da sociedade capitalista e utilizada para os
seus fins de gerar lucro e formar mão de obra.
Aspectos Socioantropológicos 53

EXEMPLO:

As escolas de ensino profissionalizante e de tempo integral são


exemplos da influência das propostas de Karl Marx para a educação,
apesar da finalidade atual dessas estarem distantes das perspectivas do
fundador do materialismo histórico, mais voltada para a formação de uma
sociedade sem classes sociais.
Figura 17– O ensino integral profissionalizante

Fonte: Pixabay

A abordagem do materialismo histórico assume que a educação


tem uma função social política, que revertida para a construção de uma
sociedade sem dominação e exploração de uma classe social sobre a
outra, pode ser um instrumento de emancipação dos indivíduos, algo
essencial para a construção de uma nova sociedade, segundo Karl Marx.

EXEMPLO:

Em países socialistas, como China e Cuba, parte das perspectivas


dos fundadores do materialismo histórico estão presentes em seus
respectivos sistemas educacionais.
54 Aspectos Socioantropológicos

Figura 18 – Alunos cubanos

Fonte: Pixabay

Max Weber e a Educação como


Instrumento de “Status Social”
Assim como Karl Marx, Max Weber também considera a educação
como um instrumento de dominação na sociedade capitalista. Entretanto,
Weber analisa outros aspectos dessa dominação, pois essa não se
restringiria à exploração de uma classe social sobre a outra ou à formação
de mão de obra para o mundo do trabalho, mas seria um instrumento que
legitimaria o monopólio dos empregos e cargos mais valorizados para os
portadores de diplomas universitários, ou seja, na perspectiva weberiana,
a universidade exerceria não apenas o papel de formar, mas de realizar
provas, visando selecionar os indivíduos mais aptos para exercerem
ocupações privilegiadas na sociedade e, dessa forma, conquistarem
“status social”. Assim, a educação torna-se um meio para o indivíduo
conquistar ascensão social, prestígio e maiores salários na sociedade
capitalista.
Aspectos Socioantropológicos 55

Inserida na estrutura burocrática do estado, a escola, segundo


Weber, seria um local também marcado, como outras instituições,
pelas relações de poder. Como tais relações resultam em três tipos de
dominação (a carismática, a humanística e a racional-burocrática), cada
uma delas resultam em três tipos diferentes de educação:

1. Educação carismática - estaria relacionada a despertar o


“talento natural” do indivíduo, associada, simbolicamente, com as
“qualidades heroicas” ou com “dons mágicos”.

EXEMPLO:

Nesse tipo de educação, emergem as pessoas que aparentemente


tem um “talento nato” para exercerem tal atividade, destacando-se das
demais. Seriam os casos de Mozart ou Beethoven, na música clássica.

2. Educação humanística - direcionada para a formação intelectual


do indivíduo. Aqueles que demonstram maiores aptidões na
assimilação do conhecimento, destacam-se sobre os demais.

EXEMPLO:

É na educação humanística que se revelam os intelectuais de todas


as áreas, que se destacam pelo seu conhecimento em uma ou várias
áreas do conhecimento filosófico e científico. Nessa área, podemos citar a
capacidade intelectual de Freud ou de Einstein.

3. Educação racional-burocrática - é aquela voltada à especialização


do indivíduo, no qual aquele que se formar especialista em uma
determinada função, terá mais possibilidades de ascensão na
estrutura burocratizada das instituições da sociedade capitalista.

EXEMPLO:

Esse é o caso daqueles que conseguem os diplomas universitários


e, ao exercerem cargos, hierarquicamente, superiores na estrutura
burocrática do estado ou das empresas privadas, destacam-se sobre os
demais, conquistando status e ascensão social.
56 Aspectos Socioantropológicos

Figura 19 – Diploma e status social

Fonte: Pixabay

SAIBA MAIS:

Caso queira se aprofundar no assunto, acesse o artigo


Educação, Sociologia da Educação e Teorias Clássicas
(LOPES, 2012), clicando aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você estudou sobre
o surgimento da Sociologia da Educação. As primeiras
reflexões estão presentes nas obras dos três autores
clássicos da Sociologia: Émile Durkheim, Karl Marx e Max
Weber. O primeiro foi o único desses a escrever obras
específicas sobre a área, considerado o “ideólogo da
educação”. Para Durkheim, a principal função da educação
era manter a coesão social, conscientizando os alunos obre
as normas sociais existentes, visando a sua formação como
cidadão e trabalhador, sabendo e aceitando o seu lugar
na estrutura social. Tais ideias influenciaram a concepção
tradicional de escola.
Aspectos Socioantropológicos 57

Já Karl Marx concebia que a educação, no modo de produção


capitalista, estaria direcionada para a legitimação da dominação de
classe e formação de mão de obra. A possibilidade de mudança efetiva
da educação seria possível apenas com a transformação revolucionária
da sociedade, na qual a educação passaria a exercer uma formação
libertária e que capacitasse o aluno nas mais diversas áreas. Tais ideias
influenciaram a formação de escolas intelectuais e técnicas em diversas
partes do mundo, embora com objetivos, completamente, diferentes
daqueles imaginados pelo fundador do materialismo histórico. Max
Weber, também, compreendia a educação como um instrumento de
legitimação da dominação, mas também considerava que essa exercia,
na sociedade racional burocratizada capitalista, a função de formar
indivíduos especializados, aptos para exercerem profissões e cargos de
prestígio e poder na sociedade e, dessa forma, conquistarem status e
ascensão social.
58 Aspectos Socioantropológicos

REFERÊNCIAS
COSTA, C. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São
Paulo: Editora Moderna, 2010.

LOPES, P. C. Educação, Sociologia da Educação e Teorias


Sociológicas Clássicas. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/
lopes-paula-ducacao-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf. Acesso em:
23 jun 2019.

MARCONI, M. de A.; PRESOTTO, Z.M. Antropologia - uma introdução.


São Paulo: Editora Atlas, 2013.

QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. de O.; OLIVEIRA, M. G.M. de.


Um toque de clássicos: Marx, Durkheim, Weber. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2009.

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